O documento discute a importância da afetividade, sexualidade e amor na civilização humana. Argumenta que a afetividade, inteligência e vontade devem caminhar juntas para uma ação ética, e que a sexualidade é fundamental para a personalidade e relacionamentos, não se limitando à genitalidade. Defende que o amor é a força mais poderosa e distintiva dos seres humanos, sendo essencial para a humanidade.
4. A AFETIVIDADE
A afetividade é a inclinação por alguém, podendo essa inclinação manifestar-se de diversas formas
e
em
diferentes
graus:
afeição, ternura, carinho, amizade, amor, paixão, enamoramento, gratuidade…
A afetividade é uma riqueza extraordinária que nos permite emocionarmo-nos com um espetáculo
bonito ou com o sofrimento de alguém, que nos faz vibrar de prazer perante uma obra de arte ou
com a alegria de um amigo. Mas entregue às suas próprias iniciativas, a afetividade, só por
si, pode reduzir o ser humano a um estado selvagem.
A afetividade, a inteligência e a vontade devem caminhar juntas para que a ação humana seja
eticamente boa. Isoladas, conduzem a pessoa a um beco sem saída. A afetividade humana, a
inteligência e a capacidade de autodomínio, isto é, a vontade, são três dimensões
importantíssimas. Assim, a afetividade, bem orientada pela inteligência, torna o ser humano
capaz de amar e de ajudar os outros.
5. A
sexualidade
é
uma
energia
que
nos
motiva
a
procurar
amor, contacto, ternura, intimidade. Manifesta-se no modo como nos
sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo
tempo sexual. Ela influencia os nossos sentimentos, ações e interações e contribui
para a nossa saúde física e mental.
Organização Mundial de Saúde
A sexualidade afeta todos os aspetos da pessoa humana, na unidade do seu
corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afetividade, à capacidade de
amar e de procriar, e, à aptidão a criar laços de comunhão com outrem.
Catecismo da Igreja Católica, 2332
6. O ser humano nasce sexuado: é um ser masculino ou feminino predisposto a
estabelecer relação com um outro ser que se lhe apresenta como complementar.
Cada pessoa estabelece relação com os outros através do seu próprio ser: a
atração dos sexos é um apelo que surge na interioridade de cada um; é um
poderoso dinamismo que leva a comprometer-se com o outro.
Esta força biológica, psicológica e espiritual tem o alcance de uma entrega e
generosidade que torna o ser humano um «ser com».
A sexualidade é uma componente fundamental da personalidade, é um modo de
ser, de sentir e de comunicar com os outros; é a nossa maneira de sermos
homens ou mulheres.
A sexualidade permite-nos estabelecer laços, dar e receber afetos; manifesta-se
em todas as relações: na camaradagem, na amizade, no namoro, no
matrimónio, no celibato. As relações interpessoais não são necessariamente
sexuais, mas são, inevitavelmente, sexuadas.
7. Sexualidade e Genitalidade não são sinónimos.
A Genitalidade é apenas um dos muitos aspetos da sexualidade: a sua
dimensão física.
A Sexualidade é espaço aberto para o amor e nele encontra o seu sentido;
pressupõe a vivência da beleza e da exigência de uma relação de amor onde
cada um é dom para o outro e ambos são dom para a realização de um projeto
aberto à vida; enquanto força dinâmica, a sexualidade humana orienta-se para a
maturidade e a construção do EU; abre-se à pessoa e ao mundo do TU numa
relação interpessoal que culmina num projeto de vida; alarga-se ao NÓS dentro
de um clima de relações interpessoais de aceitação e doação.
9. O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual ou diferente.
O homem não é um animal.
É uma carne inteligente,
embora às vezes doente.
Fernando Pessoa
10. «O amor é a mais universal, mais formidável e mais misteriosa das energias
cósmicas. É uma reserva sagrada de energia, o próprio sangue da evolução
espiritual. O amor é uma conquista aventureira. Só se mantém e desenvolve
mediante uma descoberta contínua».
(Teilhard de Chardin).
O amor é a força mais poderosa do ser humano. Na sua forma superior, é aquilo
que caracteriza a pessoa e a distingue de todos os outros seres vivos. Mesmo a
atividade racional está sujeita à energia do amor: é o querer saber, é o gostar de
ir mais além… é o prazer da descoberta.
A dedicação, a entrega de si próprio ao outro é o ato mais nobre que motiva
cada homem e mulher a sentir-se parte integrante da humanidade… sem amor a
humanidade morreria!
11. É a arte do amor que transporta o coração e a mente humana para a aventura
da vida, do bem e do belo. Se por um lado continuamos prisioneiros de vontades
egoístas, por outro lado somos a presença do dom do amor nos gestos heroicos
e libertadores a favor de pessoas e de causas.
Não é fácil definir o amor. Mas também não é difícil exprimir o que é amar. Amar
pode ser simpatizar com uma pessoa, encontrar afinidades com ela e entrar em
sintonia. Amar pode ser gostar tanto de alguém que se quer saborear a sua
constante presença. Mas amar é, sobretudo, querer o bem do outro e agir de
acordo com esta vontade.
No limite, amar é ser capaz de se sacrificar pela felicidade de quem se ama.
Muito mais do que apenas um sentimento, o amor é uma decisão; é uma
deliberação pessoal que envolve não só as emoções, mas também a razão e a
vontade.
12. URGENTEMENTE
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas.
É urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer.
Eugénio de Andrade