O documento descreve uma competição urbana chamada Merrell Urban Side Portugal 2011, na qual equipes de 3 pessoas correm pela cidade completando desafios em 2 horas. A família Infante participou na prova em Viseu com os filhos gêmeos de 14 anos. Eles desfrutaram da experiência diferente e cansativa, apesar de não terem ficado entre os 3 primeiros. O coordenador da competição espera popularizar este formato de corrida em mais cidades.
1. miúdos
Brincar
P
edalar, fazer um de vários locais da cidade,
batido de frutas, houve a exploração de questões
correr, descobrir ambientais, ponto de honra da
um monumento, iniciativa: “Tivemos de descobrir
na cidade
declamar um as toneladas de material
poema para uma reciclado no ano de 2010.”
esplanada cheia, atravessar a Também visitaram os bombeiros
passadeira em jeito de Charlot, municipais e fizeram um vídeo,
com bengala e chapéu de coco, que a mãe dos rapazes adorou:
tudo pode acontecer a quem “Um filme mudo depois de uma
participa no Merrell Urban Side prova em que tivemos de fazer
(MUS) Portugal 2011. Não precisa uns escudos e umas espadas de
Jogos urbanos para menores e maiores de ser atleta nem atlético, mas material reciclado. Ficou muito
(mas não muito…). O MUS Portugal ajuda… Obrigatório mesmo é
estar disponível para se divertir.
giro.”
2011 é uma aventura à descoberta A aventura dura duas horas e as
equipas são de três elementos,
Tempo curto
Agora fala o Bernardo,
da cidade, numa mistura de peddy com 14 anos ou mais. É sempre aparentemente o mais
assim: marca-se encontro num descontraído: “Soubemos da
paper com challenge trophy. Próxima local central da cidade escolhida, prova por uns amigos do râguebi.
distribuem-se os materiais e “toca Convidaram-nos, fomos ao site
paragem: Bragança (9 de Julho). a andar”. Melhor, “toca a correr”. e inscrevemo-nos.” Para ele,
Último destino: Lisboa (dia 16). Para a “O mais difícil para mim foi
acompanhar o ritmo de corrida
o mais difícil foi lutar contra o
tempo. E conta um pouco da
finalíssima, há que subir em latitude, dos meus filhos. Já não estou
habituada a estas aventuras.
prova: “Começámos na ponte de
São Jerónimo. Davam-nos pistas
para chegar aos EUA. Mas foram espectaculares, para os locais onde tínhamos
houve uma altura em que eram de nos dirigir e depois faziam-
Texto Rita Pimenta eles que me empurravam”,
conta Maria Antónia Infante (42
nos perguntas.” E conclui:
“Duas horas para fazer tudo não
anos), que participou na prova chegaram. Não ficámos nos três
de Viseu, com os seus filhos primeiros lugares, mas valeu a
Bernardo e Ricardo (gémeos de pena.”
14 anos), praticantes de râguebi. Segue-se o Ricardo, anunciado
Habituados portanto a exercício como o mais tímido, mas
físico. “Para a próxima, temos sem qualquer problema de
de arranjar um elemento mais comunicação: “Gostei. Foi uma
competitivo”, diz Ricardo à tarde diferente, para bem. Se
Pública, “era para ser o meu pai, pudermos, vamos participar nas
mas ele estava a trabalhar nesse próximas.” Com a mesma equipa?
dia”. A irmã de 12 anos (há mais “Como é para competir, levava
uma, de quatro) também queria outra vez o meu irmão; a minha
A família Infante, Maria ir, mas ainda não tem idade. mãe, não.” Para ele, o râguebi
Antónia (mãe), Bernardo e Mãe e filhos são unânimes ajudou, “temos mais capacidade
Ricardo (14 anos, gémeos) em declarar que foi um dia para aguentar a corrida e
participaram na prova de “diferente e divertido” e que o mais espírito de equipa”. No
Viseu, a 11 de Junho repetiam. “Tive um dia excelente, próximo ano lectivo, os rapazes
ficou na nossa recordação vão separar-se na escola: “É a
familiar”, diz a mãe. Antes, o primeira vez desde o infantário.
pai, António Infante, já tinha Agora, no 10.º ano, escolhemos
defendido a iniciativa. “É claro cursos diferentes: vou para
que nós incentivamos os nossos Artes e o meu irmão para
filhos para este tipo de coisas. A Científicos.” A mãe, professora
equipa era de três e eu estava a de Artes, especifica: um seguirá
trabalhar, por isso foi a mãe. Fez Arquitectura e outro ingressará
bem. Regressaram satisfeitos e na Academia Militar.
sobretudo... cansados.” Ricardo (o tímido!) quer ainda
Chegou sã e salva? “Sim, só dizer ao mundo: “Participem
que fiquei dois dias quase sem porque é bom. Mesmo que não
caminhar. É que percorremos a ganhem, vale a pena.”
cidade inteira em duas horas.Mas Para a organização, “tem valido
valeu a pena.” a pena de sobremaneira”, nas
Em Viseu, além da identificação palavras de Bruno Costa, c
2. É preciso enraizar esta
modalidade e esta forma de
conhecer a cidade, diz Bruno
Costa, coordenador da prova
3. miúdos
Provas em Évora poemas para uma esplanada do mundo de material de
Aveiro e Porto. cheia de gente ou atravessar outdoors”, nomeadamente,
Cada cidade por a passadeira caminhando ‘à calçado. Por isso há provas como
onde o Merrell Charlot’, com bengala e chapéu “fazer instrumentos musicais
Urban Side 2011 de coco, ou ainda andar de com materiais reutilizados e o
passou contou carrossel e terem de se filmar incentivo ao uso da bicicleta
com a participação a andar nesse carrossel.” e dos transportes públicos no
de uma média de Outra possibilidade é a de centro da cidade”.
21 equipas (com tentar acertar numa tabela de Nesta linha ecológica, também
três elementos basquetebol, mas com uns óculos acontecem perguntas do tipo
cada). Os desafios que não deixam ver nada, ou “que espécie de árvore é esta?”e
só são conhecidos ainda apanhar balões de água, outras relacionadas com o
no momento da por trás de um muro, atirados habitat local.
corrida. Uma pelos colegas de equipa. Há também uma vertente
aventura O MUS 2011, programado para social importante, que Maria
dez cidades, já passou por Faro, Antónia Infante já tinha
Beja, Évora, Castelo Branco (em valorizado: “O lado solidário,
Maio), Coimbra, Viseu, Aveiro, com contributos para a
Porto (em Junho) e Braga (ontem Associação Cais.” O apoio
mesmo). Bragança será a 9 de faz-se de quatro formas: por
Julho e Lisboa a 16. O grande cada pessoa que se inscreve,
vencedor irá participar na Oyster a associação recebe 5 euros;
Racing Series nos Estados Unidos por cada like no Facebook MUS
da América, prova em que esta Portugal, recebe 0,10; por cada
se inspira. chamada recebida na linha de
A escolha das cidades apoio criada, obtém 0,30; por
procurou garantir “uma último, se as equipas decidirem
cobertura equilibrada Norte- comprar pistas (que podem
Sul / interior-litoral. E optámos ser de 50 euros), para ficarem
por centros urbanos que fossem em vantagem, o seu valor vai
bons para iniciar a modalidade. integralmente para a Cais.
Conseguimos chegar a dez A escolha desta associação,
distritos este ano”, diz o explica Bruno Costa, resulta
coordenador. de esta “operar no território
E espera que em Lisboa, no de jogo. É na cidade que esta
Marquês de Pombal, a adesão instituição faz o seu trabalho.
seja forte. “É uma prova que Nos centros urbanos, é onde se
coordenador-geral da MUS precisa de ser cultivada e de encontra a maior parte dos sem-
Portugal, “tendo em conta que crescer espontaneamente. Não é abrigo e a Cais melhora a vida
é um tipo de corrida a que não propriamente uma maratona que dessas pessoas”. No distrito de
estamos habituados aqui”. as pessoas sabem que vão correr Coimbra e de Castelo Branco,
“Tínhamos o objectivo máximo do ponto A ao ponto B. É preciso foram também convidados (e
de 30 equipas (de três elementos enraizar esta modalidade e esta participaram) jovens e monitores
cada) por cidade. Estamos com forma de conhecer a cidade tão dos Centros Educativos da
uma média de 20/21 equipas.” diferenciada.” Direcção-Geral de Reinserção
Este número (30) tem que Para este gestor de empresas, Social do Ministério da Justiça.
ver com questões logísticas e uma das razões da satisfação das Como atractivo suplementar
de funcionalidade, para não pessoas no final prende-se com para o final da tournée, Bruno
obrigar os participantes a longos o facto de o conceito da corrida Costa explica o que se irá passar
momentos de espera, até porque “mexer com elementos básicos no Marquês de Pombal. “Temos
a prova tem de terminar em duas do ser humano: a descoberta, um sistema de transformar
horas. o caminho a seguir, o ter de energia humana em eléctrica
Mas afinal que prova é esta? encontrar novas pistas e cumprir (a 220 volts), pedalando. À
“A tipologia de prova é um misto tarefas dentro do prazo”. semelhança dos dínamos das
de peddy paper com challenge Há sempre um grande bicicletas. Com este sistema,
trophy.” Em português livre, secretismo sobre as provas a que estamos a promover um
provas pedestres de orientação serão sujeitas, pelo que o desafio concurso de DJ — em conjunto
e desafios para vencer. A que é ainda maior, acredita Bruno com a estação de rádio Antena 3
acresce, continua o coordenador, Costa, 35 anos. — em todas as cidades. Nesse dia,
“uma vertente de diversão A vertente ambiental tem um 16 de Julho, será a final.” Música
muito própria”. E dá exemplos peso muito forte, “inscrito no a pedal. a
de alguns desafios: “As equipas ADN da marca que a patrocina”,
podem ser chamadas a declamar a Merrell, “a maior fabricante rpimenta@publico.pt