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Correspondência | Correspondence: 
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Av. Brasil, 4.365 
Pav. Leônidas Deane, sala 308 
21045-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil 
E-mail: guaratiba@ioc.fiocruz.br 
Recebido: 28/5/2007 
Revisado: 28/1/2008 
Aprovado: 16/6/2008 
Comunicação Breve | Brief Communication 
Tuberculose e parasitismo 
intestinal em população 
indígena na Amazônia brasileira 
Tuberculosis and intestinal parasitism 
among indigenous people in the 
Brazilian Amazon region 
RESUMO 
O objetivo do estudo foi estimar as freqüências de tuberculose e parasitoses 
intestinais na em comunidades indígenas da localidade de Iauareté (AM), em 
2001. Estudo transversal (n=333) visando à obtenção de dados demográficos e 
amostras biológicas para exames de escarro e fezes. Dentre os 43 sintomáticos 
respiratórios, seis foram positivos na pesquisa de bacilos álcool–ácido 
resistentes no escarro. As parasitoses intestinais apresentaram freqüência 
significativamente maior entre a população Hüpda do que entre os índios que 
habitam os demais bairros (37,5% vs. 19,3% para Ascaris lumbricoides, 32,4% 
vs. 16,3% para Trichuris trichiura, 75% vs. 19,3% para ancilostomídeos, 
75% vs. 35,4% para Entamoeba histolytica⁄dispar e 33,3% vs. 10,7% para 
Giardia lamblia). Conclui-se que a tuberculose e o parasitismo intestinal são 
freqüentes nessas comunidades, exigindo medidas de controle e melhorias na 
assistência à saúde. 
Descritores: População Indígena. Tuberculose, epidemiologia. 
Doenças Parasitárias, epidemiologia. Estudos Transversais. Brasil. 
ABSTRACT 
The objective of the survey was to estimate the frequencies of tuberculosis 
and intestinal parasitosis in indigenous communities at the locality of 
Iauareté, Northern Brazil, in 2001. This was a cross-sectional survey (n=333) 
aimed at obtaining demographic data and biological samples for sputum and 
feces examinations. Among the 43 individuals with respiratory symptoms, 
six presented alcohol/acid-fast bacilli in sputum. Intestinal parasitosis was 
significantly more frequent among the Hüpda population than among the Indians 
living in other districts (37.5% vs. 19.3% for Ascaris lumbricoides, 32.4% vs. 
16.3% for Trichuris trichiura, 75% vs. 19.3% for hookworms, 75% vs. 35.4% 
for Entamoeba histolytica⁄dispar and 33.3% vs. 10.7% for Giardia lamblia). 
It is concluded that tuberculosis and intestinal parasitism are frequent in these 
communities, thus requiring control measures and better medical care. 
Descriptors: Indigenous Population. Tuberculosis, epidemiology. 
Parasitic Diseases, epidemiology. Cross-Sectional Studies. Brazil.
Rev Saúde Pública 2009;43(1):176-8 177 
INTRODUÇÃO 
A caracterização das condições de saúde das popula-ções 
indígenas brasileiras tem se mostrado um desafio 
crescente. Os processos de colonização e expansão das 
fronteiras econômicas, ainda em curso na Amazônia 
brasileira, têm sido acompanhados de importante deterio-ração 
das condições de saúde das populações indígenas, 
conduzindo a graus de depopulação. No perfil epidemio-lógico 
destes processos percebe-se, historicamente, forte 
presença das doenças infecciosas e parasitárias.4 
Nas regiões do Alto e Médio Rio Negro, situadas no 
noroeste amazônico, cerca de 90% da população é 
indígena. Habitam a área cerca de 35 mil pessoas, dis-tribuídas 
em 732 povoações e alguns centros urbanos, 
como as sedes municipais de São Gabriel da Cachoeira, 
Santa Isabel do Rio Negro e o povoado de Iauareté 
(AM). Dez etnias indígenas estão representadas na 
população de Iauareté, constituída por aproximada-mente 
2.300 pessoas: Tariana e Baniwa, pertencentes 
ao tronco lingüístico Arawak; Tukano, Desana, Kubeo, 
Tuyuca, Pira-tapuya, Arapaso e Wanana, do grupo 
Tukano Oriental e Hüpda, da família lingüística Maku. 
Entre os bairros do povoado, a Vila de Fátima apresenta 
características diferenciadas, uma vez que é habitada 
majoritariamente por índios da etnia Hüpda. 
O objetivo do presente estudo foi estimar as freqüências 
de tuberculose e parasitoses intestinais em indígenas. 
MÉTODOS 
Foi realizado um estudo transversal em julho de 2001 
no município de Iauareté. Para o inquérito copro-parasitológico, 
o tamanho amostral para a sede do 
município foi estipulado estimando-se prevalência de 
50% e erro aceitável de 5%. Em amostragem aleatória 
sistemática, foram selecionados 54 dos 402 domicí-lios 
da sede municipal, totalizando 313 indivíduos 
estudados. A Vila de Fátima, por apresentar pequena 
população, teve todos os domicílios incluídos (20 
indivíduos). Forneceram-se coletores para exame pa-rasitológico 
das fezes, o qual foi realizado por meio do 
método Coprotest® (NL Diagnóstica, Brasil). Não foi 
observada diferença significativa entre as distribuições 
etárias da Vila de Fátima e demais bairros. 
A coleta de escarro para pesquisa de bacilos álcool-ácido- 
resistentes (BAAR) foi realizada em todos os 
sintomáticos respiratórios identificados no processo de 
amostragem por conglomerado familiar, ou em busca 
ativa realizada previamente pela Organização Não-Go-vernamental 
(ONG) Saúde Sem Limites, responsável 
pela assistência à saúde na região. Foi realizado um 
exame por indivíduo. 
As freqüências das parasitoses intestinais nas vilas da 
sede e na Vila de Fátima foram comparadas por meio 
do teste do qui-quadrado, com nível de significância de 
5%. Foram calculadas as odds ratios (OR) relativas e 
respectivos intervalos de confiança de 95%. 
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa 
do Instituto de Pesquisas Evandro Chagas (IPEC-Fiocruz) 
e autorizado pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). 
Todos os moradores foram incluídos após a obtenção de 
termo de consentimento livre e esclarecido. 
RESULTADOS 
Seis exames de escarro para pesquisa de BAAR foram 
positivos, em 43 sintomáticos respiratórios identifica-dos. 
Com relação às características de amostra de 333 
pessoas incluídas no inquérito parasitológico, 22% 
(n=74) apresentavam até cinco anos de idade, 29% 
(n=98) tinham entre seis e 16 anos e 49% (n=161) eram 
maiores de 16 anos. Metade das famílias nas vilas da 
sede não possuía renda, percentual que atingiu 100% 
entre os Hüpda da Vila de Fátima. Entre os morado-res 
maiores de 18 anos das vilas da sede e da Vila de 
Fátima, 5% e 35% eram analfabetos, respectivamente. 
Pessoas pertencentes às etnias Tariana, Tukano e Pira-tapuya 
predominaram na sede municipal, com 33%, 
22% e 19% respectivamente. As comparações das 
freqüências das parasitoses intestinais nas vilas da sede 
(n=313) e na Vila de Fátima (n=20) são apresentadas na 
Tabela. Observaram-se freqüências significativamente 
maiores (p<0,05) de infecção por Ascaris lumbricoi-des, 
Trichuris trichiura, ancilostomídeos, Entamoeba 
histolytica⁄Entamoeba dispar e Giardia lamblia entre 
os moradores da Vila de Fátima. 
Tabela. Freqüência das parasitoses intestinais. Iauareté, São Gabriel da Cachoeira (AM), 2001. 
Espécie Vilas da sede (n=313) Vila de Fátima (n=20) p OR (IC 95%) 
Ascaris lumbricoides 47 (19,3) 9 (37,5) 0,04 2,50 (1,03;6,06) 
Trichuris trichiura 53 (16,3) 11 (32,4) 0,02 2,45 (1,12;5,33) 
Ancilostomídeos 47 (19,3) 18 (75) <0,001 12,51 (4,7;33,24) 
Entamoeba histolytica⁄dispar 86 (35,4) 18 (75) <0,001 5,47 (2,09;14,31) 
Giardia lamblia 26 (10,7) 8 (33,3) 0,001 4,17 (1,62;10,69)
178 Tuberculose e parasitismo intestinal em indígenas Bóia MN et al 
DISCUSSÃO 
As doenças infecciosas têm exercido significativo 
impacto sobre as populações indígenas das Américas.4 
Buchillet & Gazin1 (1998), em estudo retrospectivo de 
registros de internação hospitalar em São Gabriel da 
Cachoeira entre 1977 e 1990 relatam, uma média anual 
de 23 casos de tuberculose. Os autores ponderam que 
a ausência de um sistema de busca ativa faz com que 
a freqüência da tuberculose no Alto Rio Negro seja 
estimada de maneira imperfeita. 
A busca ativa realizada no presente estudo mostra o 
quão sub-dimensionada pode ser a tuberculose na re-gião. 
Seis pessoas apresentaram pesquisa de BAAR no 
escarro positiva, o que gerou, em um mês, significativo 
incremento na incidência da doença na localidade. A 
tuberculose é reconhecidamente uma doença de ele-vada 
prevalência na região, sendo foco de interesse 
prioritário das autoridades de saúde locais. Entretanto, 
os programas de controle da doença têm sido prejudi-cados 
por dificuldades operacionais significativas, que 
incluem o isolamento das populações e a baixa adesão 
ao tratamento, relacionada também a aspectos culturais. 
Entre as pessoas incluídas no presente estudo, a vaci-nação 
com BCG estava completa em 64% dos menores 
de cinco anos e em apenas 21% nos maiores de 16 
anos. Coimbra Jr. & Basta3 (2007), em recente revisão, 
sugerem que as taxas de incidência da tuberculose em 
populações indígenas podem ser até dez vezes maio-res 
que na população brasileira em geral; e os índios 
amazônicos possuem um risco desproporcionalmente 
alto de adoecimento e morte pela doença. 
Com relação às parasitoses intestinais, observamos um 
quadro mais desfavorável em relação aos Hüpda. Infec-ções 
por A. lumbricoides, T. trichiura, ancilostomídeos, 
E. histolytica⁄E. dispar e G. lamblia foram significa-tivamente 
mais freqüentes entre os habitantes da Vila 
de Fátima, o que sugere um maior grau de contamina-ção 
ambiental por formas infectantes. Os resultados 
são compatíveis com os dados das características da 
amostra, que sugerem um quadro socioeconômico 
mais desfavorável entre os Hüpda. Reconhecemos, 
entretanto, que as OR relativas podem superestimar os 
resultados em delineamento transversal. 
Freqüências elevadas de infecção por parasitas intes-tinais 
têm sido observadas em populações indígenas 
sul-americanas, como relatado por Santos et al5 (1995) 
entre os Xavánte de Mato Grosso e por Carme et al2 
(2002) entre os Wayampi da Guiana Francesa. 
O presente estudo foi realizado em população indígena 
vivendo em processo de urbanização, o que limita as 
possibilidades de comparação com as prevalências 
observadas em comunidades residentes am aldeias, 
submetidas a diferentes cenários socioambientais. 
A disseminação de doenças relacionadas à pobreza e 
à degradação das condições de vida é decorrente dos 
processos de urbanização e aglomeração populacional 
na região, conduzidos sem planejamento para o supri-mento 
de serviços básicos de saúde. 
Em conclusão, a tuberculose e as parasitoses intes-tinais 
são condições freqüentes em Iauareté. Um 
modelo eficaz de atenção primária à saúde, adaptado 
à região, tem sido o objetivo perseguido pelo sistema 
de Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Neste 
sentido, muitos desafios têm se colocado, dadas as 
peculiaridades da região. Infra-estrutura para o aten-dimento 
a comunidades isoladas, gastos elevados com 
combustível (a viagem de Iaureté até São Gabriel da 
Cachoeira dura 12 horas em lancha) e dificuldades para 
obtenção de recursos humanos estão entre as principais 
dificuldades. O sistema conta com a participação de 
agentes indígenas de saúde, pertencentes às próprias 
comunidades. Um aperfeiçoamento do modelo de 
atenção – enfatizando ações preventivas, educação 
para a saúde e participação da comunidade – conduzido 
pelas autoridades sanitárias locais, incluindo ONGs e 
gestores municipais, deveria ser perseguido visando 
uma melhor atenção à saúde para a população indígena 
que vive em Iauareté. 
1. Buchillet D, Gazin P. A situação da tuberculose na 
população indígena do Alto Rio Negro (Estado do 
Amazonas, Brasil). Cad Saude Publica. 1998;14(1):181- 
5. DOI: 10.1590/S0102-311X1998000100026 
2. Carme B, Motard A, Bau P, Day C, Aznar C, Moreau 
B. Intestinal parasitoses among Wayampi Indians from 
French Guiana. Parasite. 2002;9(2):167-74. 
3. Coimbra Jr CE, Basta PC. The burden of tuberculosis 
in indigenous peoples in Amazonia, Brazil. Trans 
R Soc Trop Med Hyg. 2007;101(7):635-6. DOI: 
10.1016/j.trstmh.2007.03.013 
4. Ribeiro D. Convívio e contaminação. Efeitos 
dissociativos da depopulação provocada por epidemias 
em grupos indígenas. Sociologia. 1956;18(1):3-50. 
5. Santos RV, Coimbra Jr CE, Flowers NM, Silva JP. 
Intestinal parasitism in the Xavánte Indians, central 
Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 1995;37(2):15-8. 
DOI: 10.1590/S0036-46651995000200009 
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Tuberculose e parasitismo entre indígenas na Amazônia brasileira

  • 1. Rev Saúde Pública 2009;43(1):176-8 Márcio Neves BóiaI,II Filipe Anibal Carvalho-CostaIII Fernando Campos SodréIV Beatriz Elena Porras-PedrozaV Eduardo César FariaV Gustavo Albino Pinto MagalhãesII,V Iran Mendonça da SilvaV I Laboratório de Doenças Parasitárias. Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Rio de Janeiro, RJ, Brasil II Departamento de Medicina Interna. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil III Laboratório de Sistemática Bioquímica. IOC-Fiocruz. Rio de Janeiro, RJ, Brasil IV Departamento de Patologia. Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro, RJ, Brasil V Curso de Pós-graduação em Medicina Tropical. Fiocruz. Rio de Janeiro, RJ, Brasil Correspondência | Correspondence: Filipe Anibal Carvalho Costa Av. Brasil, 4.365 Pav. Leônidas Deane, sala 308 21045-900 Rio de Janeiro, RJ, Brasil E-mail: guaratiba@ioc.fiocruz.br Recebido: 28/5/2007 Revisado: 28/1/2008 Aprovado: 16/6/2008 Comunicação Breve | Brief Communication Tuberculose e parasitismo intestinal em população indígena na Amazônia brasileira Tuberculosis and intestinal parasitism among indigenous people in the Brazilian Amazon region RESUMO O objetivo do estudo foi estimar as freqüências de tuberculose e parasitoses intestinais na em comunidades indígenas da localidade de Iauareté (AM), em 2001. Estudo transversal (n=333) visando à obtenção de dados demográficos e amostras biológicas para exames de escarro e fezes. Dentre os 43 sintomáticos respiratórios, seis foram positivos na pesquisa de bacilos álcool–ácido resistentes no escarro. As parasitoses intestinais apresentaram freqüência significativamente maior entre a população Hüpda do que entre os índios que habitam os demais bairros (37,5% vs. 19,3% para Ascaris lumbricoides, 32,4% vs. 16,3% para Trichuris trichiura, 75% vs. 19,3% para ancilostomídeos, 75% vs. 35,4% para Entamoeba histolytica⁄dispar e 33,3% vs. 10,7% para Giardia lamblia). Conclui-se que a tuberculose e o parasitismo intestinal são freqüentes nessas comunidades, exigindo medidas de controle e melhorias na assistência à saúde. Descritores: População Indígena. Tuberculose, epidemiologia. Doenças Parasitárias, epidemiologia. Estudos Transversais. Brasil. ABSTRACT The objective of the survey was to estimate the frequencies of tuberculosis and intestinal parasitosis in indigenous communities at the locality of Iauareté, Northern Brazil, in 2001. This was a cross-sectional survey (n=333) aimed at obtaining demographic data and biological samples for sputum and feces examinations. Among the 43 individuals with respiratory symptoms, six presented alcohol/acid-fast bacilli in sputum. Intestinal parasitosis was significantly more frequent among the Hüpda population than among the Indians living in other districts (37.5% vs. 19.3% for Ascaris lumbricoides, 32.4% vs. 16.3% for Trichuris trichiura, 75% vs. 19.3% for hookworms, 75% vs. 35.4% for Entamoeba histolytica⁄dispar and 33.3% vs. 10.7% for Giardia lamblia). It is concluded that tuberculosis and intestinal parasitism are frequent in these communities, thus requiring control measures and better medical care. Descriptors: Indigenous Population. Tuberculosis, epidemiology. Parasitic Diseases, epidemiology. Cross-Sectional Studies. Brazil.
  • 2. Rev Saúde Pública 2009;43(1):176-8 177 INTRODUÇÃO A caracterização das condições de saúde das popula-ções indígenas brasileiras tem se mostrado um desafio crescente. Os processos de colonização e expansão das fronteiras econômicas, ainda em curso na Amazônia brasileira, têm sido acompanhados de importante deterio-ração das condições de saúde das populações indígenas, conduzindo a graus de depopulação. No perfil epidemio-lógico destes processos percebe-se, historicamente, forte presença das doenças infecciosas e parasitárias.4 Nas regiões do Alto e Médio Rio Negro, situadas no noroeste amazônico, cerca de 90% da população é indígena. Habitam a área cerca de 35 mil pessoas, dis-tribuídas em 732 povoações e alguns centros urbanos, como as sedes municipais de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e o povoado de Iauareté (AM). Dez etnias indígenas estão representadas na população de Iauareté, constituída por aproximada-mente 2.300 pessoas: Tariana e Baniwa, pertencentes ao tronco lingüístico Arawak; Tukano, Desana, Kubeo, Tuyuca, Pira-tapuya, Arapaso e Wanana, do grupo Tukano Oriental e Hüpda, da família lingüística Maku. Entre os bairros do povoado, a Vila de Fátima apresenta características diferenciadas, uma vez que é habitada majoritariamente por índios da etnia Hüpda. O objetivo do presente estudo foi estimar as freqüências de tuberculose e parasitoses intestinais em indígenas. MÉTODOS Foi realizado um estudo transversal em julho de 2001 no município de Iauareté. Para o inquérito copro-parasitológico, o tamanho amostral para a sede do município foi estipulado estimando-se prevalência de 50% e erro aceitável de 5%. Em amostragem aleatória sistemática, foram selecionados 54 dos 402 domicí-lios da sede municipal, totalizando 313 indivíduos estudados. A Vila de Fátima, por apresentar pequena população, teve todos os domicílios incluídos (20 indivíduos). Forneceram-se coletores para exame pa-rasitológico das fezes, o qual foi realizado por meio do método Coprotest® (NL Diagnóstica, Brasil). Não foi observada diferença significativa entre as distribuições etárias da Vila de Fátima e demais bairros. A coleta de escarro para pesquisa de bacilos álcool-ácido- resistentes (BAAR) foi realizada em todos os sintomáticos respiratórios identificados no processo de amostragem por conglomerado familiar, ou em busca ativa realizada previamente pela Organização Não-Go-vernamental (ONG) Saúde Sem Limites, responsável pela assistência à saúde na região. Foi realizado um exame por indivíduo. As freqüências das parasitoses intestinais nas vilas da sede e na Vila de Fátima foram comparadas por meio do teste do qui-quadrado, com nível de significância de 5%. Foram calculadas as odds ratios (OR) relativas e respectivos intervalos de confiança de 95%. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Pesquisas Evandro Chagas (IPEC-Fiocruz) e autorizado pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Todos os moradores foram incluídos após a obtenção de termo de consentimento livre e esclarecido. RESULTADOS Seis exames de escarro para pesquisa de BAAR foram positivos, em 43 sintomáticos respiratórios identifica-dos. Com relação às características de amostra de 333 pessoas incluídas no inquérito parasitológico, 22% (n=74) apresentavam até cinco anos de idade, 29% (n=98) tinham entre seis e 16 anos e 49% (n=161) eram maiores de 16 anos. Metade das famílias nas vilas da sede não possuía renda, percentual que atingiu 100% entre os Hüpda da Vila de Fátima. Entre os morado-res maiores de 18 anos das vilas da sede e da Vila de Fátima, 5% e 35% eram analfabetos, respectivamente. Pessoas pertencentes às etnias Tariana, Tukano e Pira-tapuya predominaram na sede municipal, com 33%, 22% e 19% respectivamente. As comparações das freqüências das parasitoses intestinais nas vilas da sede (n=313) e na Vila de Fátima (n=20) são apresentadas na Tabela. Observaram-se freqüências significativamente maiores (p<0,05) de infecção por Ascaris lumbricoi-des, Trichuris trichiura, ancilostomídeos, Entamoeba histolytica⁄Entamoeba dispar e Giardia lamblia entre os moradores da Vila de Fátima. Tabela. Freqüência das parasitoses intestinais. Iauareté, São Gabriel da Cachoeira (AM), 2001. Espécie Vilas da sede (n=313) Vila de Fátima (n=20) p OR (IC 95%) Ascaris lumbricoides 47 (19,3) 9 (37,5) 0,04 2,50 (1,03;6,06) Trichuris trichiura 53 (16,3) 11 (32,4) 0,02 2,45 (1,12;5,33) Ancilostomídeos 47 (19,3) 18 (75) <0,001 12,51 (4,7;33,24) Entamoeba histolytica⁄dispar 86 (35,4) 18 (75) <0,001 5,47 (2,09;14,31) Giardia lamblia 26 (10,7) 8 (33,3) 0,001 4,17 (1,62;10,69)
  • 3. 178 Tuberculose e parasitismo intestinal em indígenas Bóia MN et al DISCUSSÃO As doenças infecciosas têm exercido significativo impacto sobre as populações indígenas das Américas.4 Buchillet & Gazin1 (1998), em estudo retrospectivo de registros de internação hospitalar em São Gabriel da Cachoeira entre 1977 e 1990 relatam, uma média anual de 23 casos de tuberculose. Os autores ponderam que a ausência de um sistema de busca ativa faz com que a freqüência da tuberculose no Alto Rio Negro seja estimada de maneira imperfeita. A busca ativa realizada no presente estudo mostra o quão sub-dimensionada pode ser a tuberculose na re-gião. Seis pessoas apresentaram pesquisa de BAAR no escarro positiva, o que gerou, em um mês, significativo incremento na incidência da doença na localidade. A tuberculose é reconhecidamente uma doença de ele-vada prevalência na região, sendo foco de interesse prioritário das autoridades de saúde locais. Entretanto, os programas de controle da doença têm sido prejudi-cados por dificuldades operacionais significativas, que incluem o isolamento das populações e a baixa adesão ao tratamento, relacionada também a aspectos culturais. Entre as pessoas incluídas no presente estudo, a vaci-nação com BCG estava completa em 64% dos menores de cinco anos e em apenas 21% nos maiores de 16 anos. Coimbra Jr. & Basta3 (2007), em recente revisão, sugerem que as taxas de incidência da tuberculose em populações indígenas podem ser até dez vezes maio-res que na população brasileira em geral; e os índios amazônicos possuem um risco desproporcionalmente alto de adoecimento e morte pela doença. Com relação às parasitoses intestinais, observamos um quadro mais desfavorável em relação aos Hüpda. Infec-ções por A. lumbricoides, T. trichiura, ancilostomídeos, E. histolytica⁄E. dispar e G. lamblia foram significa-tivamente mais freqüentes entre os habitantes da Vila de Fátima, o que sugere um maior grau de contamina-ção ambiental por formas infectantes. Os resultados são compatíveis com os dados das características da amostra, que sugerem um quadro socioeconômico mais desfavorável entre os Hüpda. Reconhecemos, entretanto, que as OR relativas podem superestimar os resultados em delineamento transversal. Freqüências elevadas de infecção por parasitas intes-tinais têm sido observadas em populações indígenas sul-americanas, como relatado por Santos et al5 (1995) entre os Xavánte de Mato Grosso e por Carme et al2 (2002) entre os Wayampi da Guiana Francesa. O presente estudo foi realizado em população indígena vivendo em processo de urbanização, o que limita as possibilidades de comparação com as prevalências observadas em comunidades residentes am aldeias, submetidas a diferentes cenários socioambientais. A disseminação de doenças relacionadas à pobreza e à degradação das condições de vida é decorrente dos processos de urbanização e aglomeração populacional na região, conduzidos sem planejamento para o supri-mento de serviços básicos de saúde. Em conclusão, a tuberculose e as parasitoses intes-tinais são condições freqüentes em Iauareté. Um modelo eficaz de atenção primária à saúde, adaptado à região, tem sido o objetivo perseguido pelo sistema de Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Neste sentido, muitos desafios têm se colocado, dadas as peculiaridades da região. Infra-estrutura para o aten-dimento a comunidades isoladas, gastos elevados com combustível (a viagem de Iaureté até São Gabriel da Cachoeira dura 12 horas em lancha) e dificuldades para obtenção de recursos humanos estão entre as principais dificuldades. O sistema conta com a participação de agentes indígenas de saúde, pertencentes às próprias comunidades. Um aperfeiçoamento do modelo de atenção – enfatizando ações preventivas, educação para a saúde e participação da comunidade – conduzido pelas autoridades sanitárias locais, incluindo ONGs e gestores municipais, deveria ser perseguido visando uma melhor atenção à saúde para a população indígena que vive em Iauareté. 1. Buchillet D, Gazin P. A situação da tuberculose na população indígena do Alto Rio Negro (Estado do Amazonas, Brasil). Cad Saude Publica. 1998;14(1):181- 5. DOI: 10.1590/S0102-311X1998000100026 2. Carme B, Motard A, Bau P, Day C, Aznar C, Moreau B. Intestinal parasitoses among Wayampi Indians from French Guiana. Parasite. 2002;9(2):167-74. 3. Coimbra Jr CE, Basta PC. The burden of tuberculosis in indigenous peoples in Amazonia, Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2007;101(7):635-6. DOI: 10.1016/j.trstmh.2007.03.013 4. Ribeiro D. Convívio e contaminação. Efeitos dissociativos da depopulação provocada por epidemias em grupos indígenas. Sociologia. 1956;18(1):3-50. 5. Santos RV, Coimbra Jr CE, Flowers NM, Silva JP. Intestinal parasitism in the Xavánte Indians, central Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 1995;37(2):15-8. DOI: 10.1590/S0036-46651995000200009 REFERÊNCIAS