[1] O documento analisa criticamente o Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares, discutindo sua pertinência e desafios de implementação. [2] A autora acredita que o modelo é útil, mas sua aplicação requer o envolvimento de toda a comunidade escolar para além do professor bibliotecário. [3] Ela destaca os esforços necessários para motivar diferentes estruturas da escola e coletar sistematicamente evidências que apoiem a melhoria contínua.
1. Forum 2
Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares
Introdução
Esta reflexão pretende responder à proposta de trabalho para a semana de 01 a 08 de
Novembro denominada como Tarefa 2. Teve como suporte a literatura recomendada no Guia
da Unidade e uma reflexão pessoal sobre os pontos a desenvolver.
A primeira reflexão que me apraz fazer prende-se com o facto de ter iniciado esta formação
em auto-avaliação das Bibliotecas Escolares antes de me ter sido proporcionada a hipótese
de formação, a este nível, ou seja, oficina de formação, nos diferentes domínios da BE a
serem avaliados. Como só este ano assumi as funções de professora bibliotecária não
sei se o meu caso é um caso isolado ou a regra.
A multiplicidade de competências do professor bibliotecário (Texto da sessão, ponto 6),
que ultrapassam em larga medida as atribuídas a qualquer docente, implicam uma
auto-formação exaustiva que lhe permita lançar-se em todos estes arrojados desafios.
De qualquer forma, considero que o Modelo está bem elaborado e parece ser de grande
utilidade enquanto processo pedagógico regulador, que fomenta o reconhecimento do valor e
missão da BE na escola.
O auto-avaliação é um processo que conduz à reflexão e origina mudanças concretas no
caminho a seguir com vista à melhoria, centrada essencialmente no impacto qualitativo da
BE.
Pertinência de um Modelo deAvaliação para as bibliotecas escolares
Ao longo dos anos, a avaliação das bibliotecas tem-se baseado apenas em dados estatísticos,
os quais, na maioria das vezes, identificavam apenas a quantificação do serviço prestado.;
baseava-se nos “inputs” (colecção existente, recursos humanos, verbas utilizadas) e nos
“outputs” ( número de empréstimos, número de utilizadores).
O Modelo de Auto-Avaliação baseia-se na necessidade de medir o impacto qualitativo da BE
nos utilizadores, isto é, a aferição das modificações positivas que a utilização dos recursos,
equipamento e espaço da BE tem nas atitudes, valores e conhecimentos dos utilizadores.
Na minha opinião, é importante que a avaliação seja pautada pelo rigor e objectividade, não
descurando o seu carácter formativo, que permite a identificação de necessidades e pontos
fracos, tendo sempre em vista “a melhoria da melhoria”.
A apresentação de resultados que a aplicação do Modelo de Auto-Avaliação, modelo
regulador, baseado na recolha sistemática de evidências, permite, não só definir estratégias
com vista à melhoria da qualidade dos serviços da BE, ou seja, da sua eficácia, mas também
identificar o sucesso e o impacto dos seus serviços e os “gaps” condicionantes desse
sucesso e ainda prestar contas do impacto dos seus serviços na comunidade educativa.
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Omodelo enquanto instrumento pedagógico e de melhoria de melhoria.
Conceitos implicados.
“Pedagogia que tem a construção do conhecimento e a aprendizagem da
investigação no seu centro, onde através do acesso a múltiplas fontes e formatos de
informação e tecnologia da informação, os alunos adquirem as matrizes intelectuais
para se envolverem com múltiplas perspectivas, fontes e formatos de informação,
para serem capazes de construir o seu próprio entendimento” Todd Ross
O modelo de avaliação permite dotar as bibliotecas escolares de um quadro de referência e
de um instrumento que lhes permite a melhoria contínua da qualidade.
A avaliação é um processo, não constitui um fim: “ A auto- avaliação deve ser encarada como
um processo pedagógico e regulador, inerente à gestão e procura de uma melhoria contínua
da biblioteca escolar”.
O processo passa pela recolha de evidências – identificação de necessidades (pontos fortes e
fracos), áreas de sucesso e as que requerem maior investimento – plano de melhoria –
definição de objectivos e prioridades – que deve facultar informação de qualidade capaz de
apoiar uma tomada de decisão interligada com a avaliação da escola e inflexão de práticas
Conceitos implicados
Na sequência das leituras realizadas, permito-me destacar alguns conceitos:
A noção de valor: sendo a Biblioteca Escolar uma estrutura capaz de contribuir para
a concretização dos objectivos do Projecto Educativo da Escola, deve a Escola
reconhecer o seu impacto na vida escolar dos alunos.
A Missão e eficácia da Biblioteca Escolar passa pelo impacto da BE na melhoria das
aprendizagens através dum desenvolvimento curricular adequado que conduza ao
sucesso educativo dos alunos. O trabalho da e na Biblioteca Escolar permite o
desenvolvimento de competências e capacidades de pensar, viver e trabalhar.
Novas estratégias de abordagem à realidade e ao conhecimento - O aluno é o
construtor do próprio conhecimento.
Introdução das TIC permite a introdução de novos ambientes de disponibilização da
informação, de trabalho, de construção do conhecimento, desenvolvimento das
literacias da informação e aprendizagem contínua ao longoda vida.
Prática baseada na recolha sistemática de evidências A abordagem holística da
prática baseada em evidências envolve três dimensões: para a prática, na prática e da
prática. A quantidade e qualidade de recolha de evidências fornece informações sobre
determinada situação, encaminhando-a para a melhoria.
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A prática baseada em evidências coloca ênfase nos resultados da aprendizagem dos
alunos: indicadores mensuráveis para esses resultados e “feedback” para a
comunidade educativa da consecução desses indicadores
Práticas de pesquisa-acção: a avaliação permite validar o que fazemos, como
fazemos, onde estamos e até onde queremos ir.
Metodologias de controlo.
A minha curta experiência na área das bibliotecas escolares leva-me a considerar que a
implementação deste modelo não será fácil, visto que, a sua operacionalização não depende
apenas da vontade e do desempenho do professor bibliotecário e da equipa pedagógica da
biblioteca escolar, mas também da colaboração das restantes estruturas pedagógicas e,
fundamentalmente, do envolvimento de toda a comunidade escolar.
Assim, o professor bibliotecário e a restante equipa da BE, deverá envidar todos os esforços
para cativar e motivar os outros docentes e estruturas para um trabalho mais colaborante
com a Biblioteca Escolar.
Como forma de tentar melhorar esta colaboração, foi resolvido que este ano o domínio a
avaliar será o apoio ao desenvolvimento curricular. Assim, neste momento, estão a ser
criados instrumentos e rotinas que permitam a recolha sistemática de evidências neste
domínio. Sinto que estou a iniciar uma caminhada, feita de pequenas vitórias e
constrangimentos que necessitam de tempo e persistência para serem ultrapassados.
Organização estrutural e funcional
O Modelo de Auto-Avaliação pretende avaliar a qualidade e eficácia da BE, no seu
contexto, isto é: “este documento aponta para uma utilização flexível, com adaptação à
realidade de cada escola e de cada BE”Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas
Escolares.
Este pressuposto parece-me correcto, no entanto, o facto do modelo pretender que “
o processo de auto-avaliação mobilize toda a escola, melhorando através da acção
colectiva as possibilidades oferecidas pela BE” parece-me desejável mas de difícil,
senão impossível, concretização. Como envolver e “comprometer” toda a comunidade
educativa?! Espero que a minha experiência como Professora Bibliotecária me traga a
resposta a esta questão!
De momento, parece-me um documento muito complexo e de difícil aplicação, dada a
realidade das escolas em que cada estrutura pedagógica se preocupa essencialmente
com o seu campo de acção. Como mobilizar e responsabilizar todas as estruturas
pedagógicas da escola e todos os agentes de educaçãO? Parece-me um desafio
bastante aliciante mas demasiado arriscado para ser levado a cabo apenas por um
professor bibliotecário e um grupo de alguns professores(cerca de 10% do total dos
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docentes da escola) que, nas suas horas não lectivas (entre 90 e 180 minutos por
semana) se dedicam ao desenvolvimento de actividades/ projectos da/na BE!
Contudo, considero que a aplicação do modelo poderá ser uma oportunidade para a
comunidade educativa reconhecer o contributo da BE no sucesso educativo dos
alunos, enquanto processo de contínua melhoria.
As áreas nucleares em que se deverá processar o trabalho da/com a BE foram
agrupadas, no documento Modelo de Auto-Avaliação em quatro domínios e
respectivos subdomínios., conforme referido na página 3, Modelo de Auto-Avaliação
das Bibliotecas Escolares.
Tenho algumas dificuldades em perceber as razões que levaram à introdução de
determinados factores críticos de sucesso ou acções para a melhoria em determinado
domínio e não noutro, talvés porque entenda que todos os domínios se interligam uns
com os outros.
Consequentemente, também não concordo muito com a metodologia sugerida –
avaliação de um dos domínios por ano lectivo, porque considero pouco “natural”
“isolar” um domínio e trabalhar mais esse domínio quando alguns alunos e
professores poderão estar mais motivados para o desenvolvimento de um outro
domínio diferente do escolhido para esse ano lectivo.
Compreendo, no entanto, as dificulddes acrescidas que traria a avaliação anual dos
quatro domínios!
Integração/Aplicção à realidade da escola/biblioteca escolar.
Oportunidades e constrangimentos.
A integração da auto-avaliação da BE na escola pressupõe a motivação individual da
equipa da BE, assim como, uma liderança forte do professor bibliotecário,
mobilizando a escola para a necessidade de implementação deste processo.
A motivação e empenho, bem como a formação adequada do professor bibliotecário e
da equipa pedagógica da BE podem traduzir-se em oportunidades e/ou
constrangimentos, dependendo do grau de envolvimento e o nível de formação nos
diferentes domínios da BE e em auto-avaliação.
A implementação do Modelo de Auto-Avaliação implica uma intensa agenda de
trabalho por parte do professor bibliotecário:coordenação do processo através da
realização de reuniões períodicas e sessões (in)formativas com os diversos
intervenientes no processo, incentivando, desta forma, toda a comunidade escolar, ao
reconhecimento do real impacto e valor da BE nas diferentes vertentes, a saber:
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desenvolvimento de competências de leitura e de um programa de literacia da
informação (leitura e literacias);
articulação com departamentos, professores e alunos na planificação e
desenvolvimento de actividades educativas e de aprendizagem e integração no
processo de ensino/aprendizagem (apoio ao desenvolvimento curricular);
acesso e qualidade da colecção (gestão da Biblioteca Escolar);
apoio a actividades livres e de abertura à comunidade, projectos e parcerias.
A Biblioteca Escolar constitui um contributo essencial para o sucesso educativo, sendo um
recurso fundamental para o desenvolvimento do ensino/aprendizagem. Do meu ponto de
vista, é importante que o Conselho Directivo e as outras estruturas pedagógicas da escola
conheçam a dimensão da aplicação deste modelo.
Visto que a BE é um recurso da escola - espaço formativo e de aprendizagem equipado com
um conjunto significativo de recursos e de equipamentos-, a avaliação deve, por isso, ser
divulgada.e participada.
Gestão das mudanças que a sua aplicação impõe. Níveis de participação
da e na escola.
“...a avaliação não constitui um fim, devendo ser entendida como um processo que deverá
conduzir à reflexão e deverá originar mudanças concretas na prática.” RBE, Modelo de Auto-
Avaliação da Biblioteca Escolar, 2008
A partir da análise e reflexão dos resultados da aplicação do Modelo de Auto-Avaliação é
possível traçar linhas de actuação que conduzam à mudança, com a aplicação de um grau de
objectividade e rigor bastante diferentes dos constantes no tipo de avaliação feita
anteriormente. Essas mudanças reflectem-se na metodologia de trabalho proposta pelo
modelo:
Recolha sistemática de evidências que passa por uma prática corrente de:
registo do trabalho desenvolvido;
aplicação de questionários e listas de verificação;
registos de projectos/actividades;
registos de reuniões, planos de trabalho e planificações conjuntas;
documentos de divulgação e marketing;
registos fotográficos ou video;
grelhas de registo;
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cobertura pela imprensa local das actividades desenvolvidas.
Construção do conhecimento pelos próprios alunos através de:
domínio de um conjunto de competências de manipulação da informação
competências de literacia da informação;
interacção efectiva com um mundo de informação rico e complexo;
desenvolvimento de novas compreensões, percepções e ideias.
A apropriação destas competências permite-lhes não só uma abordagem construtivista
do conhecimento como também a aplicação prática dessas “competências” na elaboração
de jornais escolares, páginas “web”, “blogs”, foruns de leitura e outros.
Wilson (1996), citado no documento Excerto do texto “Professores Bibliotecários
Escolares: resultados da aprendizagem e prática baseada em evidências” afirma que a
aprendizagem que destaca as “ actividades significativas e autênticas que ajudam o aluno
a construir conhecimentos e a desenvolver competências relevantes para a resolução de
problemas” é a missão central da escola.
“ o fortalecimento/capacitação, a conectividade, o envolvimento e a interactividade
definem as acções e práticas da biblioteca escolar, e o seu resultado é a construção do
conhecimento: novos significados, novas compreensões, novas perspectivas” Excerto do
texto “Professores Bibliotecários Escolares: resultados da aprendizagem e prática
baseada em evidências.
Não poderia estar mais de acordo com tudo o que acabei de citar, no entanto, num
sistema educativo em que se continua a preconizar o modelo expositivo como
metodologia única de ensino aprendizagem, em que os pais e encarregados de educação
desvalorizam toda e qualquer avaliação que não passe por verificação de repetição dos
conceitos ministrados pelo professor, em que os alunos têm dificuldade em seguir pelo
caminho mais trabalhoso, embora mais compensador – pesquisa/acção e optam
frequentemente, pelo caminho mais fácil e rápido - “copiar/colar”, em que a maioria dos
docentes se “satisfaz” com esse tipo de trabalho, é difícil fazer a mudança.
O papel educativo do Professor Bibliotecário é “ um papel de liderança significativo” que
inclui, entre outras igualmente importantes,uma liderança estratégica - “ visão centrada
na aprendizagem em acções” ” Excerto do texto “Professores Bibliotecários Escolares:
resultados da aprendizagem e prática baseada em evidências.
No entanto, a resistência à mudança é enorme e a ideia contida na afirmação “ This man
wants to change your job” , Eisenberg e Miller (2002) continua ainda muito presente nas
nossas escolas.
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