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Journal of Public Health
Universidade de São Paulo
Faculdade de Saúde Pública
VOLUME 34
NÚMERO 5
OUTUBRO 2000
RevistadeSaúdePública
p. 529-37
Avaliação de risco crônico da ingestão de
resíduos de pesticidas na dieta brasileira
Chronic dietary risk assessment for pesticide
residues in Brazilian food
Eloisa Dutra Caldasa
e Luiz César Kenupp R de Souzab
a
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Brasília, DF, Brasil. b
Instituto de
Saúde do Distrito Federal. Brasília, DF, Brasil
CALDASa
Eloisa Dutra e Luiz César Kenupp R de Souzab
Avaliação de risco crônico da ingestão de resíduos de
pesticidas na dieta brasileira Rev. Saúde Pública, 34 (5): 529-37, 2000 www.fsp.usp.br/rsp
529529529529529Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
www.fsp.usp.br/rsp
Resumo
Objetivo
Avaliar o risco crônico da ingestão de pesticidas pela dieta, em compostos
registrados no Brasil para uso agrícola até 1999.
Métodos
Foi calculada a Ingestão Diária Máxima Teórica (IDMT) para cada pesticida,
utilizando limites máximos de resíduos estabelecidos pela legislação brasileira e
dados de consumo alimentar. A caracterização do risco foi feita comparando-se a
IDMT com as doses diárias aceitáveis (IDA) de vários países e do Codex
Alimentarius.
Resultados
A IDTM ultrapassou a IDA (%IDA>100) em pelo menos uma região metropolitana
brasileira para 23 pesticidas. Dezesseis compostos com maior %IDA são inseticidas
organofosforados, sendo o paration metílico o composto cuja ingestão mais excedeu
o parâmetro toxicológico (%IDAN
=9.300). O arroz, o feijão, as frutas cítricas e o
tomate foram os alimentos que mais contribuíram para a ingestão. Dos compostos
que apresentaram maior risco, apenas 6 foram registrados de acordo com o Decreto
98.816/90, que dispõe sobre o uso de pesticidas no País.
Conclusões
Os compostos identificados como sendo de potencial risco de exposição crônica
para a população brasileira, e os alimentos que mais contribuíram para a sua
ingestão, devem ser priorizados pelos órgãos de saúde em programas de
monitoramento de resíduos de pesticidas. Adicionalmente, dados sobre resíduos
em alimentos prontos para o consumo, fatores de processamento e dados sobre
consumo alimentar devem ser gerados para possibilitar o refinamento do estudo.
Abstract
Objective
To conduct a chronic dietary risk assessment of the pesticides registered in Brazil
up until 1999.
Methods
The Theoretical Maximum Daily Intake (TMDI) for each pesticide was calculated
using the Brazilian maximum residue limits and food consumption data from IBGE,
Avaliação de risco crônico da ingestão de
resíduos de pesticidas na dieta brasileira
Chronic dietary risk assessment for pesticide
residues in Brazilian food
Eloisa Dutra Caldasa
e Luiz César Kenupp R de Souzab
a
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Brasília, DF, Brasil. b
Instituto de Saúde
do Distrito Federal. Brasília, DF, Brasil
Descritores
Resíduos de praguicidas, toxicidade#
.
Contaminação de alimentos#
. Análise
de risco, métodos#
. Inseticidas
organofosforados, toxicidade#
.
Praguicidas, envenenamento. Zonas
metropolitanas. Consumo de
alimentos. – Avaliação de risco
crônico.
Correspondência para/Correspondence to:
Eloisa Dutra Caldas
Curso de Ciências Farmacêuticas
Campus Darci Ribeiro
70910-900 Brasília, DF, Brasil
E-mail: eloisa@unb.br
Keywords
Pesticide residues, toxicity#
. Food
contamination#
. Risk assessment,
methods#
. Insecticides,
organophosphate, toxicity.#
Pesticide,
poisoning. Metropolitan zones. Food
consumption. – Chronic dietary risk
assessment.
Recebido em 18/2/2000. Reapresentado em 19/6/2000. Aprovado em 10/7/2000.
530530530530530 Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
www.fsp.usp.br/rsp
Risco da ingestão de pesticidas pela dieta
Caldas ED & Souza LCKR
the Brazilian Statistical Institute. The risk characterization was done comparing
the TMDI with the acceptable daily intakes (ADI) from other countries and from
the Codex Alimentarius.
Results
The TMDI was higher than the ADI (%ADI>100) at least in one Brazilian
metropolitan region for 23 pesticides. Sixteen compounds are organophosphate
insecticides, with methyl parathion having the TMDI exceeding the most
toxicological parameter (%ADIN
=9,300). Rice, beans, citrus and tomato were the
commodities which most contributed to the ingestion. From the compounds under
higher risk, only 6 were registered according to the Law 98.816/90, which concerns
the use of pesticides in the country.
Conclusions
The compounds identified in the study as presenting a potential health concern to
the Brazilian consumers, and the commodities which most contributed to the
ingestion, should be prioritized by the government in pesticide residue monitoring
programs and in the re-registration process. In addition, residue data in food as
consumed, processing factors and appropriate consumption data should be
generated to allow further studies.
nização para Alimentação e Agricultura (FAO) e
Organização Mundial de Saúde (OMS), e os resulta-
dos são posteriormente encaminhados ao Comitê do
Codex Alimentarius para avaliação pelos Governos-
membros.2
A legislação brasileira não prevê estudos
de avaliação de risco no processo de registro.1
Tam-
bém é desconhecido no Brasil o risco para a saúde
com a ingestão de pesticidas por meio de dieta.
O presente trabalho tem como objetivo avaliar o
risco crônico dos pesticidas aprovados no Brasil para
uso em culturas de consumo humano, utilizando li-
mites máximos de resíduos estabelecidos pela legis-
lação brasileira, dados de consumo alimentar forne-
cido pela Fundação Instituto Brasileiro de Geogra-
fia e Estatística (IBGE),15
doses diárias aceitáveis de
vários países e do Codex Alimentarius.3
O estudo
procura identificar compostos com potencial proble-
ma de exposição, e as conclusões poderão orientar
as autoridades governamentais no processo de
reavaliação dos pesticidas e estabelecimento de li-
mites máximos de resíduos, além de definir priori-
dades em programas futuros de monitoramento de
resíduos em alimentos.
MÉTODOS
O cálculo da exposição crônica foi conduzido de
acordo com o procedimento descrito pela Organiza-
ção Mundial de Saúde.20
Nessa metodologia, a In-
gestão Diária Teórica Máxima (IDTM) é definida
como o somatório do limite máximo de resíduos
(LMR), em mg/kg, multiplicado pelo consumo do
alimento (C), em kg/dia. A caracterização do risco
(%IDA) é feita comparando-se a IDTM com a dose
INTRODUÇÃO
O uso de pesticidas é ainda atualmente a principal
estratégia no campo para o combate e a prevenção
de pragas agrícolas, garantindo alimento suficiente
e de qualidade para a população. Esses compostos,
porém, são potencialmente tóxicos ao homem, po-
dendo causar efeitos adversos ao sistema nervoso
central e periférico, ter ação imunodepressora ou ser
cancerígeno,6
entre outros.
O Brasil é o quarto maior mercado de pesticidas
no mundo e o oitavo em uso por área cultivada.*
Até dezembro de 1999, 322 ingredientes ativos ti-
veram seu uso agrícola aprovado no País, com qua-
se 2.000 produtos registrados, os quais incluem
inseticidas, fungicidas, herbicidas, acaricidas,
reguladores de crescimento, feromônios, molus-
cicidas e protetores de sementes. Cerca de 2.300
limites máximos de resíduos foram estabelecidas
em 265 culturas.1
O estudo de avaliação de risco crônico da inges-
tão de pesticidas é o processo no qual a exposição
humana a um dado composto por meio de dieta é
comparada a um parâmetro toxicologicamente se-
guro. Risco pode existir quando a exposição ultra-
passa o parâmetro toxicológico.20
Em geral, os go-
vernos conduzem estudos de avaliação de risco du-
rante o processo de registro do pesticida, e seus re-
sultados podem influir no estabelecimento de limi-
tes máximos de resíduos permitidos ou restringir o
uso em algumas culturas.7-10
No âmbito internacio-
nal, os estudos são conduzidos pela Reunião Con-
junta de Peritos em Resíduos de Pesticidas da Orga-
*Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Comunicação por Fax; 1999.
531531531531531Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
www.fsp.usp.br/rsp
Risco da ingestão de pesticidas pela dieta
Caldas ED & Souza LCKR
diária aceitável (IDA), em mg/kg peso corpóreo/dia,
do pesticida, assumindo um peso corporal de 60 kg.
IDTM = S(LMRi
x Ci
)
%IDA = IDTM x 100
IDA x peso corpóreo
Os LMR foram obtidos da legislação brasileira,
publicados no Diário Oficial da União até dezembro
de 1999.1
Dados de consumo de alimentos foram obtidos da
Pesquisa de Orçamento Familiar realizada pelo
IBGE,15
em 1995-96. A pesquisa foi conduzida em
onze regiões metropolitanas do País (Belém, Fortale-
za, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro,
São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia e Distrito
Federal). O consumo per capita foi obtido baseado
na informação de 10 famílias de status econômicos
diferentes sobre a quantidade de alimento adquirido
em 7 dias consecutivos. O consumo, em kg/ano, foi
obtido distribuindo o total de alimento consumido em
cada área por sua população. Os dados de consumo
obtidos do IBGE foram divididos por 365 e expressos
em kg/dia para o cálculo da IDTM. Fatores de corre-
ção de 0,65, 0,63, 0,87 e 0,0317
foram aplicados a da-
dos de consumo de laranja, banana, ovo e leite, res-
pectivamente, para obter consumo de polpa de laran-
ja, polpa de banana, ovo sem casca e gordura de leite.
As fontes de IDA utilizadas foram o Codex
Alimentarius,3
a Agência de Proteção Ambiental dos
Estados Unidos (EPA),7-10
o governo australiano18
e
o governo alemão.13
Quando disponíveis, as IDA do
governo brasileiro foram utilizadas.* Para cada com-
posto, a menor IDA obtida entre as fontes foi utili-
zada para comparação com a IDTM.
RESULTADOS
Dos 320 compostos registrados para uso agrícola
no Brasil até dezembro de 1999, 39 não foram uti-
lizados no estudo, incluindo: (a) pesticidas com re-
gistro somente para cana de açúcar, para a qual
inexiste dado de consumo humano; (b) pesticidas
com registro somente para algodão, fumo, ração ou
plantas ornamentais; (c) antibióticos; (d) compos-
tos sem dose diária aceitável ou limite máximo de
resíduos estabelecido; e (e) izasofós, composto não
mais comercializado no País.**
O estudo de avaliação de risco foi conduzido
para 281 compostos.1
A Figura mostra a distribui-
ção dos LMR atualmente vigentes no País para es-
ses compostos. Limites acima de 25 mg/kg foram
estabelecidos apenas para brometo de metila (15
culturas) e hidrazida maleica (1 cultura). Limites
menores ou iguais a 0,05 mg/kg normalmente re-
presentam o limite de quantificação do método de
análise.
*Comunicação pessoal de Lídia Nunes Gonçalves. Diretoria de Toxicologia e Alimentos. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ministério da Saúde, 1999.
**Comunicação da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Comunicação por Fax; 1999).
Figura - Limites máximos de resíduos de pesticidas (LMR) nos alimentos para consumo humano, segundo a legislação brasileira
e a freqüência com que foram estabelecidos até dezembro de 1999.1
532532532532532 Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
www.fsp.usp.br/rsp
Risco da ingestão de pesticidas pela dieta
Caldas ED & Souza LCKR
A IDTM e a %IDA foram calculadas para os com-
postos em cada uma das 11 regiões metropolitanas
definidas pelo IBGE, conforme descrito na metodo-
logia. A %IDA nacional (%IDAN
) foi calculada utili-
zando a média do consumo nas regiões metropolita-
nas. Dos compostos avaliados, 263 (93,6%) apresen-
taram %IDAN
≤100 (Tabelas 1 e 2). Cento e vinte seis
compostos (44,8%) apresentaram %IDAN
<1, ou seja,
a ingestão desses pesticidas pelo consumo de alimen-
tos tratados representou menos que 1% do valor
toxicologicamente seguro (Tabela 1).
Segundo a Organização Mundial de Saúde,20
risco
à saúde humana pode existir quando a IDTM de um
composto excede o parâmetro toxicológico de segu-
rança (%IDA>100). No presente estudo, 18 compos-
tos enquadraram-se nessa situação quando o consu-
mo médio nacional foi utilizado no cálculo da in-
gestão (%IDAN
>100); para os pesticidas azinfos
etílico, malation, mevinfos, dicrotofos e carbofention,
a ingestão ultrapassou o parâmetro toxicológico em
pelo menos uma região metropolitana, apesar da
%IDAN
≤100 (Tabela 2). Dos 23 compostos identifi-
cados como apresentando potencial risco à saúde do
consumidor brasileiro, 18 são inseticidas, sendo 16
organofosforados e 5 fungicidas (benomil, dicloran,
mancozeb, maneb e ziran).
Em geral, a %IDA nas regiões metropolitanas do
Norte e Nordeste do Brasil foram menores que a da
região Sul, Centro-Oeste e Sudeste. A média das
%IDA para os compostos da Tabela 2 foi de 780%
em Belém, 810% em Recife, 870% em Fortaleza,
890% em Salvador e São Paulo, 950% em Porto Ale-
gre, 1.100% no Rio de Janeiro, Curitiba e Goiânia,
1.200% em Belo Horizonte e 1.300% no Distrito Fe-
deral. Para os compostos da Tabela 2, que apresenta-
ram %IDAN
≤100, a ingestão ultrapassou a IDA em
Belo Horizonte (5 compostos), Rio de Janeiro (1 com-
posto), Curitiba (2 compostos), Distrito Federal (4
compostos) e Goiânia (1 composto).
Para a maioria dos compostos da Tabela 2, um ou
dois alimentos foram identificados como os que mais
contribuíram para a IDTM (>50% da ingestão to-
tal). Os cereais de alto consumo pela população bra-
sileira (arroz e feijão), as frutas, principalmente as
cítricas, e o tomate foram os principais alimentos
responsáveis pela ingestão. Em alguns casos obser-
va-se que uma só cultura é responsável por quase
Tabela 1 – Pesticidas cuja ingestão diária teórica máxima não ultrapassou a dose diária aceitável em nenhuma região metropolitana
brasileira, classificados segundo a %IDA nacional (%IDAN
).
%IDAN
Pesticidas
0-1% (n=126) Acido giberélico, acetamiprid, acetoclor, acifluorfen sodium, acrinathrin, alfacipermetrina, alloxydim-
sodium, ametrina, azoxystrobin, benfuracarb, bentazon, bifenox, bispyribac sodium, bromacil, bromofós-
etílico, butilato, butroxidim, cartap, clefoxydim, clormequat, clorambem, clorimuron etil, clofentezine,
clomazone, cianamida hidrogenada, cianazina, cyclosulfamuron, cyfluthrin, cimoxanil, cipermetrina,
cyproconazole, 2,4-DB, dicamba, dichlobenil, diclosulam, dimethenamid, dimetomorf, ditianona,
endossulfan, EPTC, ethofenprox, ethoxysulfuron, etridiazólio, fenarimol, fenpropatrin, fenpropimorph,
fentoato, flazasulfuron, flucythrinate, fludioxonil, flumetsulam, flumiclorac pentil, flumioxazin,
fluquinconazole, fluroxipir, flutriafol, fluvalinate, fomesafen, fosetyl Al, ftalide, glifosato, guazatine,
haloxifop methyl, haloxifop-R-methyl, hexaconazole, hexythiazox, imazamox, imazapic, imazapyr,
imazaquin, imazethapyr, ioxinil, isoxation, izoxaflutole, kresoxim-metil, lactofen, metalaxyl M,
methoxyfenoside, metolacloro, metribuzin, metsulfuron methyl, napropamida, nicosulfuron, norflurazon,
orizalina, oxasulfuron, óxido de fembutatina, oxicarboxin, pebulate, pencycuron, pendimetalina,
permetrina, picloran, piracarbolide, pirazosulfuron etil, prometrina, propamocarb cloreto, propaquizafop,
pyridate, pyrifenox, piriproxyfen, pyroquilon, quinclorac, quizalofop-p-ethyl, quizalofop-p-tefuryl,
sethoxydim, simazina, spinosad, sulfometuron methyl, sulfosate (glifosate trimesium), teflubenzuron, terbacil,
terbutilazina, thiamethoxan, thiobencarb, thiodicarb, tolclofos metil, tolylfluanid, triadimefon, triadimenol,
triciclazol, tridemorph, triflumizole, triticonazole, vernolato, zetacipermetrina
>1-5% (n=50) anilazina, atrazina, betacyflutrin, binapacril, bitertanol, bromofos, bromuconazole, buprofenzin, butacloro,
carbosulfan, carboxin, chlorfenapyr, clorfluazuron, clortal dimetílico, clethodim, cyprodinil, deltametrina,
difenamida, diflubenzuron, dinocap, epoxiconazole, esfenvalerate, fenoxaprop etill, fensulfotion, fluasifope
butil, flufenoxuron, formetanate HCl, formotion, furathiocarb, imidacloprid, isoprocarb, lufenuron, metalaxil,
metaldeido, myclobutanil, ometoato, oxadiazon, oxadixil, oxifluorfem, propiconazole, pirazofos, piridaben,
quintozene, sulfentrazone, tebufenozide, tidiazuron, triazofos, trifluralina, triforina, vinclozolina
>5-10% (n=28) alaclor, amitraz, bifenthrin, brometo de metila, bromopro-pylate, ciromazina, diclofope metílico, edifenfos,
fenpyroximate, fenvarelato, fosalona, hidrazida malêica, IBP, imibencona-zole, iprodiona, MCPA, metam
sodium, metomil, molinato, MSMA, paraquat, phostebu-purim, prochloraz, procimidone, quinome-tionato,
triclopyr, triflumuron, vamidotion
>10-20% (n=19) abamectin, carbendazim, clorfenvifos, clorotalonil, dalapon, diafentiuron, diuron, etefon, ethoprophos,
fention, fipronil, folpet, forato, lambdacyhalothrin, metiram, oxamil, tetradifon, thiabendazó-lio, trifenil
hidróxido de estanho
>20-50% (n=28) captan, carbofuran, cyhexatin, 2-4-D, difenocona-zole, diquat, dodine, fenitrotion, fluazinam, fosfamidon,
fosmet, fosthiazate, glufosinato de amônio, imazalil, linuron, methiocarb, monocroto-fós, piridafention,
pirimicarb, propanil, propargita, propoxur, tebuconazo-le, terbufos, tiofanato metílico, tiram, triclorfon,
trifenil acetato de estanho
>50-80% (n=7) acefato, aldicarb, azocyclotin, demeton-S-metílico, naled, profenofos, tiometon.
533533533533533Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
www.fsp.usp.br/rsp
Risco da ingestão de pesticidas pela dieta
Caldas ED & Souza LCKR
toda a ingestão, como as frutas cítricas nos pesticidas
metidation e carbofenotion e o tomate em prothiofos.
Para 11 compostos que apresentaram risco de in-
gestão (Tabela 2), o parâmetro toxicológico utiliza-
do para a caracterização do risco (%IDA), isso é, a
menor IDA entre as fontes pesquisadas, foi obtido
da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Uni-
dos (EPA). Para alguns compostos, as IDA obtidas
das fontes pesquisadas variaram em fatores de até
1.000 vezes.3,7-10,13,18
DISCUSSÃO
A caracterização do risco crônico da ingestão de
pesticidas pela dieta será tão melhor quanto melhor
forem os dados utilizados no estudo, ou seja, quanto
mais próximos os dados estiverem de uma situação
real de exposição. Muitas vezes, porém, a situação
real é difícil de ser obtida devido à ausência ou à
deficiência de dados, principalmente quanto à con-
centração do pesticida e ao padrão do consumo ali-
mentar. Nesse sentido, é essencial avaliar os resulta-
dos obtidos, levando-se em conta a limitação dos
dados utilizados.
Idealmente, a concentração do pesticida no alimen-
to deve refletir o nível de resíduos presente no mo-
mento do consumo. O Brasil não possui atualmente
um programa nacional de monitoramento de resíduos
de pesticidas em alimentos, e são escassos os dados
de resíduos em alimentos prontos para serem consu-
midos. Dessa maneira, os LMR estabelecidos pela
legislação brasileira são os únicos parâmetros dispo-
níveis para todos os pesticidas em todas culturas. O
uso de LMR, porém, é altamente conservador e prevê
uma situação de exposição máxima, pois assume: (a)
o consumo diário de todos os alimentos para os quais
existe LMR estabelecido, (b) que 100% da dieta será
de alimentos que foram tratados com pesticidas, (c)
que 100% da cultura tratada conterá o pesticida em
nível máximo de resíduo, e (d) que nenhuma dissipa-
ção ou degradação do pesticida ocorrerá durante a
estocagem, transporte e preparação do alimento, isso
é, o nível de pesticida no momento do consumo será
igual ao nível encontrado no momento da colheita no
campo.
Os LMR dos pesticidas em alimentos devem re-
fletir o nível de resíduos encontrados no produto na
época da colheita, após a cultura ter sido tratada de
acordo com as boas práticas agrícolas: de acordo com
as instruções contidas no rótulo do produto.1,2
Em
1985, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária
do Ministério da Saúde publicou as monografias dos
pesticidas registrados no País e seus limites máxi-
EPA: Environmental Protection Agency (USA)
1. Cálculo da %IDA nacional utilizou o consumo médio nacional; valores entre parênteses representam a faixa de %IDA, utilizan-
do o consumo nas regiões metropolitanas; 2. Os valores foram arredondados para 1 algarismo ou 2 algarismos significativos;20
3.
Percentual de contribuição do alimento para a IDTM; 4. IDA utilizada no cálculo da %IDA; 5. Inseticidas organofosforados; 6.
LMR considerados como dissulfeto de carbono (CS2
); A = Austrália,18
C = Codex alimentarius,3
EPA = Agência de Proteção
Ambiental dos Estados Unidos,7-10
G = Alemanha.13
Tabela 2 – Pesticidas cuja ingestão diária teórica máxima ultrapassou a dose diária aceitável em pelo menos uma região
metropolitana.
Pesticida %IDAN
1,2
Alimento3
IDA4
Outras IDA
(mg/kg pc/dia) (mg/kg pc/dia)
Paration metílico5
9.300 (7.300-13.000) Frutas e cereais (61%) 0,00002 (EPA) 0,0002(A); 0,003 (C);
0,02 (G)
Diclorvos5
2.400 (1.700-3.400) Arroz (61%) 0,00017 (EPA) 0,0005 (A); 0,004 (C, G)
Pirimifos metílico5
2.100 (1.700-3.700 Citros (66%) 0,00025 (EPA) 0,02 (A); 0,03 (C, G)
Dissulfoton5
1.900 (1.500-2.300) Batata e feijão (60%) 0,000043 (EPA) 0,0003 (C); 0,001 (A)
Mancozeb6
850 (610-1.300) Arroz e tomate (67%) 0,006 (A) 0,03 (C, G)
Ziran6
890 (650-1.300) Citros (72%) 0,003 (C) 0,01 (A)
Etion5
870 (720-1.100) Citros e feijão (53%) 0,0005 (EPA) 0,001 (A); 0,02 (C)
Carbaril 660 (580-910) Citros, arroz e feijão (52%) 0,003 (C) 0,01 (A); 0,1 (EPA)
Metamidofos5
460 (270-740) Batata e tomate (52%) 0,0001 (EPA) 0,0006 (A); 0,004 (G, C)
Dicofol 420 (310-610) Citros (84%) 0,001(A) 0,002 (C)
Diazinon5
330 (300-500) Frutas (46%) 0,0007 (EPA) 0,001 (A); 0,002 (C)
Dimetoato5
380 (280-570) Citros (73%) 0,0005 (EPA) 0,002 (C); 0,01 (G);
0,02 (A)
Prothiofos5
270 (180-400) Tomate (96%) 0,0001 (A) -
Maneb6
270 (210-350) Arroz, tomate, mamão, 0,005 (EPA) 0,03 (C, G)
citrus e cebola (35%)
Dicloran 140 (120-160) Feijão (69%) 0,01 (C) 0,07 (A)
Metidation5
140 (100-210) Citros (99%) 0,001 (C, G) 0,0015 (EPA); 0,01 (A)
Benomil 120 (95-160) Citros (48%) 0,006 (A) 0,1 (C); 0,05 (EPA)
Fenamifos5
110 (80-140) Banana e batata (74%) 0,0001 (A) 0,00025 (EPA);
0,0005 (G); 0,0008 (C)
Azinfos etílico5
100 (80-140) Citrus (70%) 0,002 (A) -
Malation5
90 (70-140) Cereais (54%) 0,002 (EPA) 0,3 (C)
Mevinfos5
90 (60-120) Citros (50%) 0,0008 (C, A) -
Dicrotrofos5
90 (70-130) Citros (79%) 0,0001 (EPA) -
Carbofenotion5
70 (50-110) Citros (100%) 0,0002 (A)
534534534534534 Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
www.fsp.usp.br/rsp
Risco da ingestão de pesticidas pela dieta
Caldas ED & Souza LCKR
mos de resíduos em alimentos.1
Os dados técnicos
exigidos para o registro do produto eram limitados,
e os LMR eram fornecidos pela indústrias. Para vá-
rios compostos, esses valores foram ratificados pos-
teriormente, sem que novos dados fossem submeti-
dos à avaliação.1
A partir de 1992, os LMR passaram a ser estabeleci-
dos baseados em estudos supervisionados de campo,
conduzidosnoPaísdeacordocomasboaspráticasagrí-
colas aprovadas, dentro do programa de registro de
pesticidas previsto pela Lei Federal de Agrotóxicos e
seus decretos regulamentadores.1
Dos compostos mos-
trados na Tabela 2, somente 6 foram registrados dentro
dos novos parâmetros (dicofol, dimetoate, dissulfoton,
mancozeb, metidation e prothiofos). Recentemente, a
Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária proibiu o
registro de novos produtos à base de paration metílico
e metamidofos e determinou prazo para a reavaliação
desses compostos.1
Sabendo-se que os resíduos remanescentes no ali-
mento após o uso do pesticida dependem, entre ou-
tros, de fatores regionais, como clima e solo,2
é pro-
vável que os LMR estabelecidos em 1985, que não
foram necessariamente baseados em estudos condu-
zidos no País, não reflitam as práticas atuais de uso
do pesticida. Quando nenhum resíduo é encontrado
no alimento, após o uso do pesticida de acordo com
as boas práticas agrícolas, o LMR é estabelecido no
limite de quantificação do método analítico. Com o
avanço da instrumentação analítica, o limite de
quantificação para vários compostos decresceu sig-
nificativamente nos últimos 15 anos. O uso de LMR
estabelecido em 1985 no limite de quantificação pode
significar uma superestimativa adicional no cálculo
da exposição.
Nos Estados Unidos, a EPA inicia o estudo de ava-
liação com a metodologia mais conservadora, utili-
zando limites máximos, incorporando posteriormente
dados disponíveis de percentagem da cultura trata-
da, de monitoramento, de resíduos baseados em es-
tudos de campo e de resíduos em alimentos prontos
para o consumo.8,9
Para o paration metílico, por
exemplo, a %IDA inicialmente calculada foi
>2.000%, mas foi reduzida para <50% quando da-
dos mais realistas de concentração do pesticida fo-
ram considerados.9
No caso do pirimifos metílico,
porém, a ingestão ultrapassou o parâmetro
toxicológico mesmo depois que o refinamento do
estudo foi conduzido.8
No âmbito internacional, o Grupo de Peritos em
Resíduos de Pesticidas da FAO/OMS conduz estudo
de avaliação utilizando LMR e, quando disponível,
valores medianos dos estudos supervisionados. Esse
último conceito foi introduzido em 1996 de maneira
a se ter um valor mais realista da concentração do
pesticida em alimentos e representa, em média, de
10% a 50% do limite máximo.2
Em 1998, o estudo
foi conduzido em 30 compostos, e a maior %IDA
foi encontrada para dissulfoton (160% a 920%).
Benomil, dimetoato e dicloran tiveram %IDA<100
para todas as dietas.11
A preparação caseira ou comercial dos alimentos
pode levar a uma redução significativa nos níveis de
resíduos de pesticidas nos alimentos. Num estudo
conduzido em 17 culturas de frutas e vegetais, 243
amostras foram analisadas para 22 compostos, in-
cluindo dissulfoton, dimetoato, diazinon, carbaril,
mevinfos, benomil e dicofol.16
O número de amos-
tras contendo resíduos detectáveis caiu de 97 (40%)
para 19 (19%) depois que pelo menos um procedi-
mento de preparo, como lavar, descascar ou cozi-
nhar, foi realizado.
Procedimentos comerciais de beneficiamento de
grãos, como arroz, café e trigo, podem levar a uma
redução de até 95% no nível de resíduos de carbaril,
pirimifos metílico e outros pesticidas.11,12,14
Para o
arroz e o café, por exemplo, os LMR, na maioria das
vezes, são estabelecidas no arroz não beneficiado e
no café verde. Como dados de consumo utilizados
para o arroz representaram a soma do consumo de
arroz polido e integral e, para o café, o consumo do
torrado e do moído, é possível que a ingestão de
pesticidas pelo consumo desses alimentos tenha sido
superestimada no presente estudo.
O segundo aspecto a ser considerado na avaliação
de risco é o parâmetro toxicológico de segurança, a
IDA, também referida nos Estados Unidos como RfD
(reference dose) ou cPAD (chronic population
adjusted dose). Esse valor representa a quantidade
de uma substância que pode ser ingerida diariamen-
te, por toda a vida, sem que ocorra risco apreciável
ao consumidor com base nos fatos conhecidos quan-
do da avaliação.20
A preocupação com o efeito da
exposição crônica de crianças a inseticidas
organofosforados levou recentemente o EPA a di-
minuir as RfDs vigentes em até 10 vezes, dentro do
Programa de Proteção à Qualidade dos Alimentos
dos Estados Unidos (Food Quality Protection Act).7
Para a maioria dos organofosforados da Tabela 2, o
parâmetro toxicológico do EPA foi o menor entre as
fontes pesquisadas.3,7-10,13,18
As IDA são estabelecidas após a avaliação de es-
tudos toxicológicos do pesticida, realizados em ani-
mais de laboratório e/ou de casos de exposição hu-
535535535535535Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
www.fsp.usp.br/rsp
Risco da ingestão de pesticidas pela dieta
Caldas ED & Souza LCKR
mana.2,5
Os estudos são conduzidos principalmente
pelas indústrias de pesticidas e submetidos aos Go-
vernos no processo de registro, ou ao Grupo de Peri-
tos em Resíduos de Pesticidas da FAO/OMS, para
avaliação e recomendação ao Codex Alimentarius.2,3
Dentre os vários aspectos que influenciam o valor
da IDA, um dos mais importantes é o fator de segu-
rança. Esse fator, que normalmente varia entre 10 e
10.000, é aplicado ao valor da dose do pesticida que
não causou nenhum efeito adverso numa população
exposta (no-observed-adverse-effect-level, NOAEL),
de maneira a estabelecer a dose segura no homem.2,5
Na maioria das vezes, o NOAEL é dividido pelo fator
de segurança 100, o qual se refere à extrapolação para
a espécie humana (10x) e à variação de susceptibili-
dade encontrada no homem (10x).5,20
Porém, fatores
adicionais podem ser aplicados quando o governo
avalia que os estudos são incompletos, de baixa qua-
lidade, ou que há a necessidade de se proteger um
grupo especial da população humana.7
Dessa manei-
ra, para um mesmo estudo, diferentes fatores de segu-
rança podem ser aplicados ao NOAEL, levando ao
estabelecimento de diferentes IDA. Além disso, para
um mesmo pesticida, diferentes estudos podem ser
submetidos a diferentes governos ou agências, levan-
do também ao estabelecimento de valores distintos.
O terceiro parâmetro utilizado no estudo de avalia-
ção de risco é o consumo alimentar. Idealmente, da-
dos de consumo devem refletir o hábito alimentar dos
vários grupos dentro de uma população, de acordo
com a região, idade, status nutricional, status econô-
mico e sexo.19,20
Os dados de consumo alimentar do
IBGE,15
utilizados no presente estudo, foram gerados
principalmente para refletir a despesa diária com ali-
mentação da família brasileira, de diferentes classes
socioeconômicas, nas várias regiões metropolitanas
do Brasil.15
Apesar de serem os mais recentes e os
únicos dados de consumo disponíveis no País, os mes-
mos podem não ser os mais apropriados para estimar
a exposição de pesticidas por meio de dieta.
Os dados de consumo utilizados pelo Grupo de
Peritos em Resíduos de Pesticidas da FAO/OMS,
para conduzir o estudo no âmbito internacional, pre-
tendem refletir a dieta de cinco regiões do planeta:
Oriente Médio, Ásia, África, América Latina e Eu-
ropa. Esses dados geralmente são baseados na pro-
dução, importação e exportação de alimentos dos
países e são provavelmente 15% maiores que o con-
sumo médio real.19
Dados de consumo utilizados pela
EPA são originados de dois programas de pesquisa
de consumo alimentar e provêm de uma figura re-
presentativa dos hábitos alimentares dos vários seg-
mentos da população americana.8,9,21
Como os limites máximos de resíduos são nacio-
nais, as %IDA nas regiões metropolitanas vão de-
pender do perfil de consumo alimentar em cada re-
gião. O consumo médio nacional de frutas cítricas,
por exemplo, é de 15,3 kg/ano, com o menor consu-
mo em Fortaleza (11,5 kg/ano) e o maior em Belo
Horizonte (23,4 kg/ano). Esse alto consumo é res-
ponsável pela maior %IDA encontrada em Belo
Horizonte no caso de compostos para os quais a in-
gestão de frutas cítricas é a principal responsável pela
ingestão (Tabela 2). Com exceção do dicloran, to-
dos os compostos da Tabela 2 apresentam maior
%IDA nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A
maior %IDA para o dicoloran foi encontrada em
Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro, devido princi-
palmente ao alto consumo de feijão nessas regiões.16
Dos 23 compostos que apresentaram potencial
de risco, 16 são inseticidas organofosforados (Ta-
bela 2). Os organofosforados inibem a ação da
acetilcolinesterase, enzima responsável pela
inativação do neurotransmissor acetilcolina, e a
exposição crônica a esses compostos tem sido re-
lacionada com câncer, efeitos teratogênicos,
toxicidade reprodutiva, deficiência cognitiva e
alterações comportamentais e funcionais.6
Crianças apresentam o sistema de defesa a vários
xenobióticos, não completamente desenvolvido, e
possuem a taxa de ingestão de alimentos por peso
corpóreo maior que os adultos, o que pode submeter
essa faixa da população a um risco maior.6,7
Um es-
tudo recente conduzido nos Estados Unidos,21
utili-
zando os dados mais recentes dos órgãos oficiais
americanos de consumo alimentar, concentração de
pesticidas em alimentos e parâmetros toxicológicos,
concluiu que mais de um milhão de crianças abaixo
de 5 anos, naquele país, estão expostas diariamente
a doses não seguras de inseticidas organofosforados.
O estudo americano assumiu uma exposição cumu-
lativa dos inseticidas, como recomendado pelo Food
Quality Protection Act.7
Nessa metodologia, a in-
gestão de todos os organofosforados é combinada e
comparada com o menor parâmetro toxicológico do
grupo. Se a exposição cumulativa fosse aplicada no
presente estudo, o valor da %IDA para o grupo dos
inseticidas organofosforados seria muito superior aos
mostrados na Tabela 2.
Doll & Peto4
estimaram que 35% de todo o câncer
na população americana tem origem na dieta, sendo
os pesticidas presentes nos alimentos um dos res-
ponsáveis. Não há estudos similares no Brasil, po-
rém é essencial que os órgãos de saúde competentes
implementem ações para diminuir ao máximo o ní-
vel de exposição da população aos pesticidas e eli-
536536536536536 Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
www.fsp.usp.br/rsp
Risco da ingestão de pesticidas pela dieta
Caldas ED & Souza LCKR
minar o potencial risco crônico que possa existir
devido ao consumo de alimentos tratados. Algumas
dessas ações seriam:
• implementar um programa nacional de moni-
toramento de resíduos de pesticidas que priorize
os compostos com maior problema de exposi-
ção identificados no presente estudo, e as prin-
cipais culturas responsáveis pela ingestão;
• priorizar a reavaliação dos compostos identifica-
dos nesses estudos dentro dos parâmetros de re-
gistro definidos pelo Decreto Lei 98.816;
• gerar dados de consumo alimentar relacionados a
estudos de avaliação de risco de pesticidas e
contaminantes, de maneira a melhor refletir o há-
bito alimentar das várias faixas etárias da popula-
ção brasileira;
• apoiar projetos institucionais que possam gerar da-
dos que possibilitem o refinamento do estudo de
avaliação de risco, incluindo níveis de resíduos
em alimentos prontos para consumo e fatores de
redução de resíduos após o processamento, entre
outros;
• implementar o estudo de avaliação de risco, no pro-
cesso de registro de pesticidas, e disponibilizar para
a população geral os seus resultados, bem como o
parâmetro toxicológico utilizado no estudo.
Além da avaliação da exposição crônica a resíduos
de pesticidas, a exposição aguda já faz parte do pro-
cesso de registro de vários governos8,9
e, no âmbito
internacional, foi iniciada em 1999 pela FAO/OMS.12
O estudo de avaliação do risco agudo avalia os riscos
da ingestão de pesticida pelo consumo de uma única
porção do alimento. Recentemente, a EPA restringiu
o uso de paration metílico baseado no estudo de ava-
liação de risco agudo, apesar de o estudo de risco crô-
nico não identificar problemas de exposição.9
Alimentosegurosignificasaúdeequalidadedevida.
A garantia de alimento livre de contaminantes é essen-
cial para a prevenção de doenças, principalmente num
país como o Brasil, onde uma parte considerável de
sua população enfrenta sérios problemas de carência
nutricional e de acesso ao sistema público de saúde.
REFERÊNCIAS
1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Toxicologia.
[citado 1999] Disponível em URL: http://
www.anvisa.saude.gov.br
2. Caldas ED. Resíduos de pesticidas em alimentos e o
Codex Alimentarius. Bol SBCTA 1999;33:50-6.
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maximum residue limits. Roma: Food and Agriculture
Organization of the United Nations/ World Health
Organization; 2000. v. 2B. In press.
4. Doll R, Peto R. The causes of cancer: quantitative
estimates of avoidable risks of cancer in the United
States today. J Natl Cancer Inst 1981;66:1191-308.
5. Dourson ML, Teuschler LK, Durkin PR, Stiteler WM.
Categorical regresion of toxicity data: a case study
using aldicarb. Regul Toxicol Pharmacol
1997;25:121-9.
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MO, Doull J, Klaassen CD, editors. Casarett and Doll’s
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York: Mc Graw Hill; 1993. p. 565-622.
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FQPA safety factor recommendations for the
organophosphates. Disponível em URL: http://
www.epa.gov [1998 August 6].
8. [EPA] United States Environmental Protection Agency.
Pirimiphos methyl. Acute and Chronic Dietary Risk
Analysis. Disponível em URL: http://www.epa.gov
[1998 July 21].
9. [EPA] United States Environmental Protection Agency.
Overview of methyl parathion refined risk assessment.
Disponível em URL: http://www.epa.gov [1999
August 2].
10. [EPA] United States Environmental Protection Agency.
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Available from:URL: http://www.epa.gov
11. [FAO] Food and Agriculture Organization. Joint
Meeting of the FAO Panel of Experts on Pesticide
Residues in Food and the Environment and the WHO
Expert Group on Pesticide Residues. Pesticide residues
in food: 1998 Report Roma; 1999. (FAO Plant
Production and Protection Paper).
12. [FAO] Food and Agriculture Organization. Joint
Meeting of the FAO Panel of Experts on Pesticide
Residues in Food and the Environment and the WHO
Expert Group on Pesticide Residues. Pesticide residues
in food: 1999 Report Roma: Food and Agriculture
Organization;1999. (FAO Plant Production and
Protection Paper).
13. Federal Institute for Health Protection of Consumers and
Veterinary Medicine. ADI-Werte und DTA-Werte für
Pflanzenschutzmittel-Wirkstoffe Ausgabe. Berlin; 1997.
14. Holland PT, Hamilton D, Ohlin B, Skidmore MW.
Effects of storage and processing on pesticide residues
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537537537537537Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37
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Risco da ingestão de pesticidas pela dieta
Caldas ED & Souza LCKR
15. [IBGE]. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Pesquisa de orçamentos familiares 1995-1996.
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16. Schattenberg HJ 3rd, Geno PW, Hsu JP, Fry WE, Parker
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17. Teixeira AB, Luna NMM. Técnica dietética: fator de
correção de alimentos de origem animal e vegetal.
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18. Therapeutic Goods Administration. Commonwealth
Department of Health and Family Services. ADI List:
acceptable daily intakes for agricultural and veterinary
chemicals. Canberra, Australian Government
Publishing Service. 1997.
19. [WHO] World Health Organization. Global
Environmental Monitoring System. Food regional diets:
regional per capita consumption of raw and semi-
processes agricultural commodities. Geneva; 1998.
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20. [WHO] World Health Organization. Global
Environment Monitoring System/Codex Alimentarius
Commission. Guidelines for predicting dietary intake of
pesticides residues. Geneva; 1997.
21. Wiles R, Davies K, Campbell C. Overexposed
organophosphate insecticides in children’s food.
Washington (DC): Environmental Working Group;
1998. p. 1-48.

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  • 1. Journal of Public Health Universidade de São Paulo Faculdade de Saúde Pública VOLUME 34 NÚMERO 5 OUTUBRO 2000 RevistadeSaúdePública p. 529-37 Avaliação de risco crônico da ingestão de resíduos de pesticidas na dieta brasileira Chronic dietary risk assessment for pesticide residues in Brazilian food Eloisa Dutra Caldasa e Luiz César Kenupp R de Souzab a Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Brasília, DF, Brasil. b Instituto de Saúde do Distrito Federal. Brasília, DF, Brasil CALDASa Eloisa Dutra e Luiz César Kenupp R de Souzab Avaliação de risco crônico da ingestão de resíduos de pesticidas na dieta brasileira Rev. Saúde Pública, 34 (5): 529-37, 2000 www.fsp.usp.br/rsp
  • 2. 529529529529529Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37 www.fsp.usp.br/rsp Resumo Objetivo Avaliar o risco crônico da ingestão de pesticidas pela dieta, em compostos registrados no Brasil para uso agrícola até 1999. Métodos Foi calculada a Ingestão Diária Máxima Teórica (IDMT) para cada pesticida, utilizando limites máximos de resíduos estabelecidos pela legislação brasileira e dados de consumo alimentar. A caracterização do risco foi feita comparando-se a IDMT com as doses diárias aceitáveis (IDA) de vários países e do Codex Alimentarius. Resultados A IDTM ultrapassou a IDA (%IDA>100) em pelo menos uma região metropolitana brasileira para 23 pesticidas. Dezesseis compostos com maior %IDA são inseticidas organofosforados, sendo o paration metílico o composto cuja ingestão mais excedeu o parâmetro toxicológico (%IDAN =9.300). O arroz, o feijão, as frutas cítricas e o tomate foram os alimentos que mais contribuíram para a ingestão. Dos compostos que apresentaram maior risco, apenas 6 foram registrados de acordo com o Decreto 98.816/90, que dispõe sobre o uso de pesticidas no País. Conclusões Os compostos identificados como sendo de potencial risco de exposição crônica para a população brasileira, e os alimentos que mais contribuíram para a sua ingestão, devem ser priorizados pelos órgãos de saúde em programas de monitoramento de resíduos de pesticidas. Adicionalmente, dados sobre resíduos em alimentos prontos para o consumo, fatores de processamento e dados sobre consumo alimentar devem ser gerados para possibilitar o refinamento do estudo. Abstract Objective To conduct a chronic dietary risk assessment of the pesticides registered in Brazil up until 1999. Methods The Theoretical Maximum Daily Intake (TMDI) for each pesticide was calculated using the Brazilian maximum residue limits and food consumption data from IBGE, Avaliação de risco crônico da ingestão de resíduos de pesticidas na dieta brasileira Chronic dietary risk assessment for pesticide residues in Brazilian food Eloisa Dutra Caldasa e Luiz César Kenupp R de Souzab a Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Brasília, DF, Brasil. b Instituto de Saúde do Distrito Federal. Brasília, DF, Brasil Descritores Resíduos de praguicidas, toxicidade# . Contaminação de alimentos# . Análise de risco, métodos# . Inseticidas organofosforados, toxicidade# . Praguicidas, envenenamento. Zonas metropolitanas. Consumo de alimentos. – Avaliação de risco crônico. Correspondência para/Correspondence to: Eloisa Dutra Caldas Curso de Ciências Farmacêuticas Campus Darci Ribeiro 70910-900 Brasília, DF, Brasil E-mail: eloisa@unb.br Keywords Pesticide residues, toxicity# . Food contamination# . Risk assessment, methods# . Insecticides, organophosphate, toxicity.# Pesticide, poisoning. Metropolitan zones. Food consumption. – Chronic dietary risk assessment. Recebido em 18/2/2000. Reapresentado em 19/6/2000. Aprovado em 10/7/2000.
  • 3. 530530530530530 Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37 www.fsp.usp.br/rsp Risco da ingestão de pesticidas pela dieta Caldas ED & Souza LCKR the Brazilian Statistical Institute. The risk characterization was done comparing the TMDI with the acceptable daily intakes (ADI) from other countries and from the Codex Alimentarius. Results The TMDI was higher than the ADI (%ADI>100) at least in one Brazilian metropolitan region for 23 pesticides. Sixteen compounds are organophosphate insecticides, with methyl parathion having the TMDI exceeding the most toxicological parameter (%ADIN =9,300). Rice, beans, citrus and tomato were the commodities which most contributed to the ingestion. From the compounds under higher risk, only 6 were registered according to the Law 98.816/90, which concerns the use of pesticides in the country. Conclusions The compounds identified in the study as presenting a potential health concern to the Brazilian consumers, and the commodities which most contributed to the ingestion, should be prioritized by the government in pesticide residue monitoring programs and in the re-registration process. In addition, residue data in food as consumed, processing factors and appropriate consumption data should be generated to allow further studies. nização para Alimentação e Agricultura (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS), e os resulta- dos são posteriormente encaminhados ao Comitê do Codex Alimentarius para avaliação pelos Governos- membros.2 A legislação brasileira não prevê estudos de avaliação de risco no processo de registro.1 Tam- bém é desconhecido no Brasil o risco para a saúde com a ingestão de pesticidas por meio de dieta. O presente trabalho tem como objetivo avaliar o risco crônico dos pesticidas aprovados no Brasil para uso em culturas de consumo humano, utilizando li- mites máximos de resíduos estabelecidos pela legis- lação brasileira, dados de consumo alimentar forne- cido pela Fundação Instituto Brasileiro de Geogra- fia e Estatística (IBGE),15 doses diárias aceitáveis de vários países e do Codex Alimentarius.3 O estudo procura identificar compostos com potencial proble- ma de exposição, e as conclusões poderão orientar as autoridades governamentais no processo de reavaliação dos pesticidas e estabelecimento de li- mites máximos de resíduos, além de definir priori- dades em programas futuros de monitoramento de resíduos em alimentos. MÉTODOS O cálculo da exposição crônica foi conduzido de acordo com o procedimento descrito pela Organiza- ção Mundial de Saúde.20 Nessa metodologia, a In- gestão Diária Teórica Máxima (IDTM) é definida como o somatório do limite máximo de resíduos (LMR), em mg/kg, multiplicado pelo consumo do alimento (C), em kg/dia. A caracterização do risco (%IDA) é feita comparando-se a IDTM com a dose INTRODUÇÃO O uso de pesticidas é ainda atualmente a principal estratégia no campo para o combate e a prevenção de pragas agrícolas, garantindo alimento suficiente e de qualidade para a população. Esses compostos, porém, são potencialmente tóxicos ao homem, po- dendo causar efeitos adversos ao sistema nervoso central e periférico, ter ação imunodepressora ou ser cancerígeno,6 entre outros. O Brasil é o quarto maior mercado de pesticidas no mundo e o oitavo em uso por área cultivada.* Até dezembro de 1999, 322 ingredientes ativos ti- veram seu uso agrícola aprovado no País, com qua- se 2.000 produtos registrados, os quais incluem inseticidas, fungicidas, herbicidas, acaricidas, reguladores de crescimento, feromônios, molus- cicidas e protetores de sementes. Cerca de 2.300 limites máximos de resíduos foram estabelecidas em 265 culturas.1 O estudo de avaliação de risco crônico da inges- tão de pesticidas é o processo no qual a exposição humana a um dado composto por meio de dieta é comparada a um parâmetro toxicologicamente se- guro. Risco pode existir quando a exposição ultra- passa o parâmetro toxicológico.20 Em geral, os go- vernos conduzem estudos de avaliação de risco du- rante o processo de registro do pesticida, e seus re- sultados podem influir no estabelecimento de limi- tes máximos de resíduos permitidos ou restringir o uso em algumas culturas.7-10 No âmbito internacio- nal, os estudos são conduzidos pela Reunião Con- junta de Peritos em Resíduos de Pesticidas da Orga- *Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Comunicação por Fax; 1999.
  • 4. 531531531531531Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37 www.fsp.usp.br/rsp Risco da ingestão de pesticidas pela dieta Caldas ED & Souza LCKR diária aceitável (IDA), em mg/kg peso corpóreo/dia, do pesticida, assumindo um peso corporal de 60 kg. IDTM = S(LMRi x Ci ) %IDA = IDTM x 100 IDA x peso corpóreo Os LMR foram obtidos da legislação brasileira, publicados no Diário Oficial da União até dezembro de 1999.1 Dados de consumo de alimentos foram obtidos da Pesquisa de Orçamento Familiar realizada pelo IBGE,15 em 1995-96. A pesquisa foi conduzida em onze regiões metropolitanas do País (Belém, Fortale- za, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Goiânia e Distrito Federal). O consumo per capita foi obtido baseado na informação de 10 famílias de status econômicos diferentes sobre a quantidade de alimento adquirido em 7 dias consecutivos. O consumo, em kg/ano, foi obtido distribuindo o total de alimento consumido em cada área por sua população. Os dados de consumo obtidos do IBGE foram divididos por 365 e expressos em kg/dia para o cálculo da IDTM. Fatores de corre- ção de 0,65, 0,63, 0,87 e 0,0317 foram aplicados a da- dos de consumo de laranja, banana, ovo e leite, res- pectivamente, para obter consumo de polpa de laran- ja, polpa de banana, ovo sem casca e gordura de leite. As fontes de IDA utilizadas foram o Codex Alimentarius,3 a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA),7-10 o governo australiano18 e o governo alemão.13 Quando disponíveis, as IDA do governo brasileiro foram utilizadas.* Para cada com- posto, a menor IDA obtida entre as fontes foi utili- zada para comparação com a IDTM. RESULTADOS Dos 320 compostos registrados para uso agrícola no Brasil até dezembro de 1999, 39 não foram uti- lizados no estudo, incluindo: (a) pesticidas com re- gistro somente para cana de açúcar, para a qual inexiste dado de consumo humano; (b) pesticidas com registro somente para algodão, fumo, ração ou plantas ornamentais; (c) antibióticos; (d) compos- tos sem dose diária aceitável ou limite máximo de resíduos estabelecido; e (e) izasofós, composto não mais comercializado no País.** O estudo de avaliação de risco foi conduzido para 281 compostos.1 A Figura mostra a distribui- ção dos LMR atualmente vigentes no País para es- ses compostos. Limites acima de 25 mg/kg foram estabelecidos apenas para brometo de metila (15 culturas) e hidrazida maleica (1 cultura). Limites menores ou iguais a 0,05 mg/kg normalmente re- presentam o limite de quantificação do método de análise. *Comunicação pessoal de Lídia Nunes Gonçalves. Diretoria de Toxicologia e Alimentos. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ministério da Saúde, 1999. **Comunicação da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). Comunicação por Fax; 1999). Figura - Limites máximos de resíduos de pesticidas (LMR) nos alimentos para consumo humano, segundo a legislação brasileira e a freqüência com que foram estabelecidos até dezembro de 1999.1
  • 5. 532532532532532 Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37 www.fsp.usp.br/rsp Risco da ingestão de pesticidas pela dieta Caldas ED & Souza LCKR A IDTM e a %IDA foram calculadas para os com- postos em cada uma das 11 regiões metropolitanas definidas pelo IBGE, conforme descrito na metodo- logia. A %IDA nacional (%IDAN ) foi calculada utili- zando a média do consumo nas regiões metropolita- nas. Dos compostos avaliados, 263 (93,6%) apresen- taram %IDAN ≤100 (Tabelas 1 e 2). Cento e vinte seis compostos (44,8%) apresentaram %IDAN <1, ou seja, a ingestão desses pesticidas pelo consumo de alimen- tos tratados representou menos que 1% do valor toxicologicamente seguro (Tabela 1). Segundo a Organização Mundial de Saúde,20 risco à saúde humana pode existir quando a IDTM de um composto excede o parâmetro toxicológico de segu- rança (%IDA>100). No presente estudo, 18 compos- tos enquadraram-se nessa situação quando o consu- mo médio nacional foi utilizado no cálculo da in- gestão (%IDAN >100); para os pesticidas azinfos etílico, malation, mevinfos, dicrotofos e carbofention, a ingestão ultrapassou o parâmetro toxicológico em pelo menos uma região metropolitana, apesar da %IDAN ≤100 (Tabela 2). Dos 23 compostos identifi- cados como apresentando potencial risco à saúde do consumidor brasileiro, 18 são inseticidas, sendo 16 organofosforados e 5 fungicidas (benomil, dicloran, mancozeb, maneb e ziran). Em geral, a %IDA nas regiões metropolitanas do Norte e Nordeste do Brasil foram menores que a da região Sul, Centro-Oeste e Sudeste. A média das %IDA para os compostos da Tabela 2 foi de 780% em Belém, 810% em Recife, 870% em Fortaleza, 890% em Salvador e São Paulo, 950% em Porto Ale- gre, 1.100% no Rio de Janeiro, Curitiba e Goiânia, 1.200% em Belo Horizonte e 1.300% no Distrito Fe- deral. Para os compostos da Tabela 2, que apresenta- ram %IDAN ≤100, a ingestão ultrapassou a IDA em Belo Horizonte (5 compostos), Rio de Janeiro (1 com- posto), Curitiba (2 compostos), Distrito Federal (4 compostos) e Goiânia (1 composto). Para a maioria dos compostos da Tabela 2, um ou dois alimentos foram identificados como os que mais contribuíram para a IDTM (>50% da ingestão to- tal). Os cereais de alto consumo pela população bra- sileira (arroz e feijão), as frutas, principalmente as cítricas, e o tomate foram os principais alimentos responsáveis pela ingestão. Em alguns casos obser- va-se que uma só cultura é responsável por quase Tabela 1 – Pesticidas cuja ingestão diária teórica máxima não ultrapassou a dose diária aceitável em nenhuma região metropolitana brasileira, classificados segundo a %IDA nacional (%IDAN ). %IDAN Pesticidas 0-1% (n=126) Acido giberélico, acetamiprid, acetoclor, acifluorfen sodium, acrinathrin, alfacipermetrina, alloxydim- sodium, ametrina, azoxystrobin, benfuracarb, bentazon, bifenox, bispyribac sodium, bromacil, bromofós- etílico, butilato, butroxidim, cartap, clefoxydim, clormequat, clorambem, clorimuron etil, clofentezine, clomazone, cianamida hidrogenada, cianazina, cyclosulfamuron, cyfluthrin, cimoxanil, cipermetrina, cyproconazole, 2,4-DB, dicamba, dichlobenil, diclosulam, dimethenamid, dimetomorf, ditianona, endossulfan, EPTC, ethofenprox, ethoxysulfuron, etridiazólio, fenarimol, fenpropatrin, fenpropimorph, fentoato, flazasulfuron, flucythrinate, fludioxonil, flumetsulam, flumiclorac pentil, flumioxazin, fluquinconazole, fluroxipir, flutriafol, fluvalinate, fomesafen, fosetyl Al, ftalide, glifosato, guazatine, haloxifop methyl, haloxifop-R-methyl, hexaconazole, hexythiazox, imazamox, imazapic, imazapyr, imazaquin, imazethapyr, ioxinil, isoxation, izoxaflutole, kresoxim-metil, lactofen, metalaxyl M, methoxyfenoside, metolacloro, metribuzin, metsulfuron methyl, napropamida, nicosulfuron, norflurazon, orizalina, oxasulfuron, óxido de fembutatina, oxicarboxin, pebulate, pencycuron, pendimetalina, permetrina, picloran, piracarbolide, pirazosulfuron etil, prometrina, propamocarb cloreto, propaquizafop, pyridate, pyrifenox, piriproxyfen, pyroquilon, quinclorac, quizalofop-p-ethyl, quizalofop-p-tefuryl, sethoxydim, simazina, spinosad, sulfometuron methyl, sulfosate (glifosate trimesium), teflubenzuron, terbacil, terbutilazina, thiamethoxan, thiobencarb, thiodicarb, tolclofos metil, tolylfluanid, triadimefon, triadimenol, triciclazol, tridemorph, triflumizole, triticonazole, vernolato, zetacipermetrina >1-5% (n=50) anilazina, atrazina, betacyflutrin, binapacril, bitertanol, bromofos, bromuconazole, buprofenzin, butacloro, carbosulfan, carboxin, chlorfenapyr, clorfluazuron, clortal dimetílico, clethodim, cyprodinil, deltametrina, difenamida, diflubenzuron, dinocap, epoxiconazole, esfenvalerate, fenoxaprop etill, fensulfotion, fluasifope butil, flufenoxuron, formetanate HCl, formotion, furathiocarb, imidacloprid, isoprocarb, lufenuron, metalaxil, metaldeido, myclobutanil, ometoato, oxadiazon, oxadixil, oxifluorfem, propiconazole, pirazofos, piridaben, quintozene, sulfentrazone, tebufenozide, tidiazuron, triazofos, trifluralina, triforina, vinclozolina >5-10% (n=28) alaclor, amitraz, bifenthrin, brometo de metila, bromopro-pylate, ciromazina, diclofope metílico, edifenfos, fenpyroximate, fenvarelato, fosalona, hidrazida malêica, IBP, imibencona-zole, iprodiona, MCPA, metam sodium, metomil, molinato, MSMA, paraquat, phostebu-purim, prochloraz, procimidone, quinome-tionato, triclopyr, triflumuron, vamidotion >10-20% (n=19) abamectin, carbendazim, clorfenvifos, clorotalonil, dalapon, diafentiuron, diuron, etefon, ethoprophos, fention, fipronil, folpet, forato, lambdacyhalothrin, metiram, oxamil, tetradifon, thiabendazó-lio, trifenil hidróxido de estanho >20-50% (n=28) captan, carbofuran, cyhexatin, 2-4-D, difenocona-zole, diquat, dodine, fenitrotion, fluazinam, fosfamidon, fosmet, fosthiazate, glufosinato de amônio, imazalil, linuron, methiocarb, monocroto-fós, piridafention, pirimicarb, propanil, propargita, propoxur, tebuconazo-le, terbufos, tiofanato metílico, tiram, triclorfon, trifenil acetato de estanho >50-80% (n=7) acefato, aldicarb, azocyclotin, demeton-S-metílico, naled, profenofos, tiometon.
  • 6. 533533533533533Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37 www.fsp.usp.br/rsp Risco da ingestão de pesticidas pela dieta Caldas ED & Souza LCKR toda a ingestão, como as frutas cítricas nos pesticidas metidation e carbofenotion e o tomate em prothiofos. Para 11 compostos que apresentaram risco de in- gestão (Tabela 2), o parâmetro toxicológico utiliza- do para a caracterização do risco (%IDA), isso é, a menor IDA entre as fontes pesquisadas, foi obtido da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Uni- dos (EPA). Para alguns compostos, as IDA obtidas das fontes pesquisadas variaram em fatores de até 1.000 vezes.3,7-10,13,18 DISCUSSÃO A caracterização do risco crônico da ingestão de pesticidas pela dieta será tão melhor quanto melhor forem os dados utilizados no estudo, ou seja, quanto mais próximos os dados estiverem de uma situação real de exposição. Muitas vezes, porém, a situação real é difícil de ser obtida devido à ausência ou à deficiência de dados, principalmente quanto à con- centração do pesticida e ao padrão do consumo ali- mentar. Nesse sentido, é essencial avaliar os resulta- dos obtidos, levando-se em conta a limitação dos dados utilizados. Idealmente, a concentração do pesticida no alimen- to deve refletir o nível de resíduos presente no mo- mento do consumo. O Brasil não possui atualmente um programa nacional de monitoramento de resíduos de pesticidas em alimentos, e são escassos os dados de resíduos em alimentos prontos para serem consu- midos. Dessa maneira, os LMR estabelecidos pela legislação brasileira são os únicos parâmetros dispo- níveis para todos os pesticidas em todas culturas. O uso de LMR, porém, é altamente conservador e prevê uma situação de exposição máxima, pois assume: (a) o consumo diário de todos os alimentos para os quais existe LMR estabelecido, (b) que 100% da dieta será de alimentos que foram tratados com pesticidas, (c) que 100% da cultura tratada conterá o pesticida em nível máximo de resíduo, e (d) que nenhuma dissipa- ção ou degradação do pesticida ocorrerá durante a estocagem, transporte e preparação do alimento, isso é, o nível de pesticida no momento do consumo será igual ao nível encontrado no momento da colheita no campo. Os LMR dos pesticidas em alimentos devem re- fletir o nível de resíduos encontrados no produto na época da colheita, após a cultura ter sido tratada de acordo com as boas práticas agrícolas: de acordo com as instruções contidas no rótulo do produto.1,2 Em 1985, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde publicou as monografias dos pesticidas registrados no País e seus limites máxi- EPA: Environmental Protection Agency (USA) 1. Cálculo da %IDA nacional utilizou o consumo médio nacional; valores entre parênteses representam a faixa de %IDA, utilizan- do o consumo nas regiões metropolitanas; 2. Os valores foram arredondados para 1 algarismo ou 2 algarismos significativos;20 3. Percentual de contribuição do alimento para a IDTM; 4. IDA utilizada no cálculo da %IDA; 5. Inseticidas organofosforados; 6. LMR considerados como dissulfeto de carbono (CS2 ); A = Austrália,18 C = Codex alimentarius,3 EPA = Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos,7-10 G = Alemanha.13 Tabela 2 – Pesticidas cuja ingestão diária teórica máxima ultrapassou a dose diária aceitável em pelo menos uma região metropolitana. Pesticida %IDAN 1,2 Alimento3 IDA4 Outras IDA (mg/kg pc/dia) (mg/kg pc/dia) Paration metílico5 9.300 (7.300-13.000) Frutas e cereais (61%) 0,00002 (EPA) 0,0002(A); 0,003 (C); 0,02 (G) Diclorvos5 2.400 (1.700-3.400) Arroz (61%) 0,00017 (EPA) 0,0005 (A); 0,004 (C, G) Pirimifos metílico5 2.100 (1.700-3.700 Citros (66%) 0,00025 (EPA) 0,02 (A); 0,03 (C, G) Dissulfoton5 1.900 (1.500-2.300) Batata e feijão (60%) 0,000043 (EPA) 0,0003 (C); 0,001 (A) Mancozeb6 850 (610-1.300) Arroz e tomate (67%) 0,006 (A) 0,03 (C, G) Ziran6 890 (650-1.300) Citros (72%) 0,003 (C) 0,01 (A) Etion5 870 (720-1.100) Citros e feijão (53%) 0,0005 (EPA) 0,001 (A); 0,02 (C) Carbaril 660 (580-910) Citros, arroz e feijão (52%) 0,003 (C) 0,01 (A); 0,1 (EPA) Metamidofos5 460 (270-740) Batata e tomate (52%) 0,0001 (EPA) 0,0006 (A); 0,004 (G, C) Dicofol 420 (310-610) Citros (84%) 0,001(A) 0,002 (C) Diazinon5 330 (300-500) Frutas (46%) 0,0007 (EPA) 0,001 (A); 0,002 (C) Dimetoato5 380 (280-570) Citros (73%) 0,0005 (EPA) 0,002 (C); 0,01 (G); 0,02 (A) Prothiofos5 270 (180-400) Tomate (96%) 0,0001 (A) - Maneb6 270 (210-350) Arroz, tomate, mamão, 0,005 (EPA) 0,03 (C, G) citrus e cebola (35%) Dicloran 140 (120-160) Feijão (69%) 0,01 (C) 0,07 (A) Metidation5 140 (100-210) Citros (99%) 0,001 (C, G) 0,0015 (EPA); 0,01 (A) Benomil 120 (95-160) Citros (48%) 0,006 (A) 0,1 (C); 0,05 (EPA) Fenamifos5 110 (80-140) Banana e batata (74%) 0,0001 (A) 0,00025 (EPA); 0,0005 (G); 0,0008 (C) Azinfos etílico5 100 (80-140) Citrus (70%) 0,002 (A) - Malation5 90 (70-140) Cereais (54%) 0,002 (EPA) 0,3 (C) Mevinfos5 90 (60-120) Citros (50%) 0,0008 (C, A) - Dicrotrofos5 90 (70-130) Citros (79%) 0,0001 (EPA) - Carbofenotion5 70 (50-110) Citros (100%) 0,0002 (A)
  • 7. 534534534534534 Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37 www.fsp.usp.br/rsp Risco da ingestão de pesticidas pela dieta Caldas ED & Souza LCKR mos de resíduos em alimentos.1 Os dados técnicos exigidos para o registro do produto eram limitados, e os LMR eram fornecidos pela indústrias. Para vá- rios compostos, esses valores foram ratificados pos- teriormente, sem que novos dados fossem submeti- dos à avaliação.1 A partir de 1992, os LMR passaram a ser estabeleci- dos baseados em estudos supervisionados de campo, conduzidosnoPaísdeacordocomasboaspráticasagrí- colas aprovadas, dentro do programa de registro de pesticidas previsto pela Lei Federal de Agrotóxicos e seus decretos regulamentadores.1 Dos compostos mos- trados na Tabela 2, somente 6 foram registrados dentro dos novos parâmetros (dicofol, dimetoate, dissulfoton, mancozeb, metidation e prothiofos). Recentemente, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária proibiu o registro de novos produtos à base de paration metílico e metamidofos e determinou prazo para a reavaliação desses compostos.1 Sabendo-se que os resíduos remanescentes no ali- mento após o uso do pesticida dependem, entre ou- tros, de fatores regionais, como clima e solo,2 é pro- vável que os LMR estabelecidos em 1985, que não foram necessariamente baseados em estudos condu- zidos no País, não reflitam as práticas atuais de uso do pesticida. Quando nenhum resíduo é encontrado no alimento, após o uso do pesticida de acordo com as boas práticas agrícolas, o LMR é estabelecido no limite de quantificação do método analítico. Com o avanço da instrumentação analítica, o limite de quantificação para vários compostos decresceu sig- nificativamente nos últimos 15 anos. O uso de LMR estabelecido em 1985 no limite de quantificação pode significar uma superestimativa adicional no cálculo da exposição. Nos Estados Unidos, a EPA inicia o estudo de ava- liação com a metodologia mais conservadora, utili- zando limites máximos, incorporando posteriormente dados disponíveis de percentagem da cultura trata- da, de monitoramento, de resíduos baseados em es- tudos de campo e de resíduos em alimentos prontos para o consumo.8,9 Para o paration metílico, por exemplo, a %IDA inicialmente calculada foi >2.000%, mas foi reduzida para <50% quando da- dos mais realistas de concentração do pesticida fo- ram considerados.9 No caso do pirimifos metílico, porém, a ingestão ultrapassou o parâmetro toxicológico mesmo depois que o refinamento do estudo foi conduzido.8 No âmbito internacional, o Grupo de Peritos em Resíduos de Pesticidas da FAO/OMS conduz estudo de avaliação utilizando LMR e, quando disponível, valores medianos dos estudos supervisionados. Esse último conceito foi introduzido em 1996 de maneira a se ter um valor mais realista da concentração do pesticida em alimentos e representa, em média, de 10% a 50% do limite máximo.2 Em 1998, o estudo foi conduzido em 30 compostos, e a maior %IDA foi encontrada para dissulfoton (160% a 920%). Benomil, dimetoato e dicloran tiveram %IDA<100 para todas as dietas.11 A preparação caseira ou comercial dos alimentos pode levar a uma redução significativa nos níveis de resíduos de pesticidas nos alimentos. Num estudo conduzido em 17 culturas de frutas e vegetais, 243 amostras foram analisadas para 22 compostos, in- cluindo dissulfoton, dimetoato, diazinon, carbaril, mevinfos, benomil e dicofol.16 O número de amos- tras contendo resíduos detectáveis caiu de 97 (40%) para 19 (19%) depois que pelo menos um procedi- mento de preparo, como lavar, descascar ou cozi- nhar, foi realizado. Procedimentos comerciais de beneficiamento de grãos, como arroz, café e trigo, podem levar a uma redução de até 95% no nível de resíduos de carbaril, pirimifos metílico e outros pesticidas.11,12,14 Para o arroz e o café, por exemplo, os LMR, na maioria das vezes, são estabelecidas no arroz não beneficiado e no café verde. Como dados de consumo utilizados para o arroz representaram a soma do consumo de arroz polido e integral e, para o café, o consumo do torrado e do moído, é possível que a ingestão de pesticidas pelo consumo desses alimentos tenha sido superestimada no presente estudo. O segundo aspecto a ser considerado na avaliação de risco é o parâmetro toxicológico de segurança, a IDA, também referida nos Estados Unidos como RfD (reference dose) ou cPAD (chronic population adjusted dose). Esse valor representa a quantidade de uma substância que pode ser ingerida diariamen- te, por toda a vida, sem que ocorra risco apreciável ao consumidor com base nos fatos conhecidos quan- do da avaliação.20 A preocupação com o efeito da exposição crônica de crianças a inseticidas organofosforados levou recentemente o EPA a di- minuir as RfDs vigentes em até 10 vezes, dentro do Programa de Proteção à Qualidade dos Alimentos dos Estados Unidos (Food Quality Protection Act).7 Para a maioria dos organofosforados da Tabela 2, o parâmetro toxicológico do EPA foi o menor entre as fontes pesquisadas.3,7-10,13,18 As IDA são estabelecidas após a avaliação de es- tudos toxicológicos do pesticida, realizados em ani- mais de laboratório e/ou de casos de exposição hu-
  • 8. 535535535535535Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37 www.fsp.usp.br/rsp Risco da ingestão de pesticidas pela dieta Caldas ED & Souza LCKR mana.2,5 Os estudos são conduzidos principalmente pelas indústrias de pesticidas e submetidos aos Go- vernos no processo de registro, ou ao Grupo de Peri- tos em Resíduos de Pesticidas da FAO/OMS, para avaliação e recomendação ao Codex Alimentarius.2,3 Dentre os vários aspectos que influenciam o valor da IDA, um dos mais importantes é o fator de segu- rança. Esse fator, que normalmente varia entre 10 e 10.000, é aplicado ao valor da dose do pesticida que não causou nenhum efeito adverso numa população exposta (no-observed-adverse-effect-level, NOAEL), de maneira a estabelecer a dose segura no homem.2,5 Na maioria das vezes, o NOAEL é dividido pelo fator de segurança 100, o qual se refere à extrapolação para a espécie humana (10x) e à variação de susceptibili- dade encontrada no homem (10x).5,20 Porém, fatores adicionais podem ser aplicados quando o governo avalia que os estudos são incompletos, de baixa qua- lidade, ou que há a necessidade de se proteger um grupo especial da população humana.7 Dessa manei- ra, para um mesmo estudo, diferentes fatores de segu- rança podem ser aplicados ao NOAEL, levando ao estabelecimento de diferentes IDA. Além disso, para um mesmo pesticida, diferentes estudos podem ser submetidos a diferentes governos ou agências, levan- do também ao estabelecimento de valores distintos. O terceiro parâmetro utilizado no estudo de avalia- ção de risco é o consumo alimentar. Idealmente, da- dos de consumo devem refletir o hábito alimentar dos vários grupos dentro de uma população, de acordo com a região, idade, status nutricional, status econô- mico e sexo.19,20 Os dados de consumo alimentar do IBGE,15 utilizados no presente estudo, foram gerados principalmente para refletir a despesa diária com ali- mentação da família brasileira, de diferentes classes socioeconômicas, nas várias regiões metropolitanas do Brasil.15 Apesar de serem os mais recentes e os únicos dados de consumo disponíveis no País, os mes- mos podem não ser os mais apropriados para estimar a exposição de pesticidas por meio de dieta. Os dados de consumo utilizados pelo Grupo de Peritos em Resíduos de Pesticidas da FAO/OMS, para conduzir o estudo no âmbito internacional, pre- tendem refletir a dieta de cinco regiões do planeta: Oriente Médio, Ásia, África, América Latina e Eu- ropa. Esses dados geralmente são baseados na pro- dução, importação e exportação de alimentos dos países e são provavelmente 15% maiores que o con- sumo médio real.19 Dados de consumo utilizados pela EPA são originados de dois programas de pesquisa de consumo alimentar e provêm de uma figura re- presentativa dos hábitos alimentares dos vários seg- mentos da população americana.8,9,21 Como os limites máximos de resíduos são nacio- nais, as %IDA nas regiões metropolitanas vão de- pender do perfil de consumo alimentar em cada re- gião. O consumo médio nacional de frutas cítricas, por exemplo, é de 15,3 kg/ano, com o menor consu- mo em Fortaleza (11,5 kg/ano) e o maior em Belo Horizonte (23,4 kg/ano). Esse alto consumo é res- ponsável pela maior %IDA encontrada em Belo Horizonte no caso de compostos para os quais a in- gestão de frutas cítricas é a principal responsável pela ingestão (Tabela 2). Com exceção do dicloran, to- dos os compostos da Tabela 2 apresentam maior %IDA nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A maior %IDA para o dicoloran foi encontrada em Fortaleza, Salvador e Rio de Janeiro, devido princi- palmente ao alto consumo de feijão nessas regiões.16 Dos 23 compostos que apresentaram potencial de risco, 16 são inseticidas organofosforados (Ta- bela 2). Os organofosforados inibem a ação da acetilcolinesterase, enzima responsável pela inativação do neurotransmissor acetilcolina, e a exposição crônica a esses compostos tem sido re- lacionada com câncer, efeitos teratogênicos, toxicidade reprodutiva, deficiência cognitiva e alterações comportamentais e funcionais.6 Crianças apresentam o sistema de defesa a vários xenobióticos, não completamente desenvolvido, e possuem a taxa de ingestão de alimentos por peso corpóreo maior que os adultos, o que pode submeter essa faixa da população a um risco maior.6,7 Um es- tudo recente conduzido nos Estados Unidos,21 utili- zando os dados mais recentes dos órgãos oficiais americanos de consumo alimentar, concentração de pesticidas em alimentos e parâmetros toxicológicos, concluiu que mais de um milhão de crianças abaixo de 5 anos, naquele país, estão expostas diariamente a doses não seguras de inseticidas organofosforados. O estudo americano assumiu uma exposição cumu- lativa dos inseticidas, como recomendado pelo Food Quality Protection Act.7 Nessa metodologia, a in- gestão de todos os organofosforados é combinada e comparada com o menor parâmetro toxicológico do grupo. Se a exposição cumulativa fosse aplicada no presente estudo, o valor da %IDA para o grupo dos inseticidas organofosforados seria muito superior aos mostrados na Tabela 2. Doll & Peto4 estimaram que 35% de todo o câncer na população americana tem origem na dieta, sendo os pesticidas presentes nos alimentos um dos res- ponsáveis. Não há estudos similares no Brasil, po- rém é essencial que os órgãos de saúde competentes implementem ações para diminuir ao máximo o ní- vel de exposição da população aos pesticidas e eli-
  • 9. 536536536536536 Rev Saúde Pública 2000;34(5):529-37 www.fsp.usp.br/rsp Risco da ingestão de pesticidas pela dieta Caldas ED & Souza LCKR minar o potencial risco crônico que possa existir devido ao consumo de alimentos tratados. Algumas dessas ações seriam: • implementar um programa nacional de moni- toramento de resíduos de pesticidas que priorize os compostos com maior problema de exposi- ção identificados no presente estudo, e as prin- cipais culturas responsáveis pela ingestão; • priorizar a reavaliação dos compostos identifica- dos nesses estudos dentro dos parâmetros de re- gistro definidos pelo Decreto Lei 98.816; • gerar dados de consumo alimentar relacionados a estudos de avaliação de risco de pesticidas e contaminantes, de maneira a melhor refletir o há- bito alimentar das várias faixas etárias da popula- ção brasileira; • apoiar projetos institucionais que possam gerar da- dos que possibilitem o refinamento do estudo de avaliação de risco, incluindo níveis de resíduos em alimentos prontos para consumo e fatores de redução de resíduos após o processamento, entre outros; • implementar o estudo de avaliação de risco, no pro- cesso de registro de pesticidas, e disponibilizar para a população geral os seus resultados, bem como o parâmetro toxicológico utilizado no estudo. Além da avaliação da exposição crônica a resíduos de pesticidas, a exposição aguda já faz parte do pro- cesso de registro de vários governos8,9 e, no âmbito internacional, foi iniciada em 1999 pela FAO/OMS.12 O estudo de avaliação do risco agudo avalia os riscos da ingestão de pesticida pelo consumo de uma única porção do alimento. Recentemente, a EPA restringiu o uso de paration metílico baseado no estudo de ava- liação de risco agudo, apesar de o estudo de risco crô- nico não identificar problemas de exposição.9 Alimentosegurosignificasaúdeequalidadedevida. A garantia de alimento livre de contaminantes é essen- cial para a prevenção de doenças, principalmente num país como o Brasil, onde uma parte considerável de sua população enfrenta sérios problemas de carência nutricional e de acesso ao sistema público de saúde. REFERÊNCIAS 1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Toxicologia. [citado 1999] Disponível em URL: http:// www.anvisa.saude.gov.br 2. Caldas ED. Resíduos de pesticidas em alimentos e o Codex Alimentarius. Bol SBCTA 1999;33:50-6. 3. Codex Alimentarius. Pesticide residues in food: maximum residue limits. Roma: Food and Agriculture Organization of the United Nations/ World Health Organization; 2000. v. 2B. In press. 4. Doll R, Peto R. The causes of cancer: quantitative estimates of avoidable risks of cancer in the United States today. J Natl Cancer Inst 1981;66:1191-308. 5. Dourson ML, Teuschler LK, Durkin PR, Stiteler WM. Categorical regresion of toxicity data: a case study using aldicarb. Regul Toxicol Pharmacol 1997;25:121-9. 6. Ecobichon DJ. Toxic effects of pesticides. In: Amdur MO, Doull J, Klaassen CD, editors. Casarett and Doll’s toxicology: the basic science of poisons. 4th ed. New York: Mc Graw Hill; 1993. p. 565-622. 7. [EPA] United States Environmental Protection Agency. FQPA safety factor recommendations for the organophosphates. Disponível em URL: http:// www.epa.gov [1998 August 6]. 8. [EPA] United States Environmental Protection Agency. Pirimiphos methyl. Acute and Chronic Dietary Risk Analysis. Disponível em URL: http://www.epa.gov [1998 July 21]. 9. [EPA] United States Environmental Protection Agency. Overview of methyl parathion refined risk assessment. Disponível em URL: http://www.epa.gov [1999 August 2]. 10. [EPA] United States Environmental Protection Agency. IRIS – Integrated Risk Information System [cited 2000] Available from:URL: http://www.epa.gov 11. [FAO] Food and Agriculture Organization. Joint Meeting of the FAO Panel of Experts on Pesticide Residues in Food and the Environment and the WHO Expert Group on Pesticide Residues. Pesticide residues in food: 1998 Report Roma; 1999. (FAO Plant Production and Protection Paper). 12. [FAO] Food and Agriculture Organization. Joint Meeting of the FAO Panel of Experts on Pesticide Residues in Food and the Environment and the WHO Expert Group on Pesticide Residues. Pesticide residues in food: 1999 Report Roma: Food and Agriculture Organization;1999. (FAO Plant Production and Protection Paper). 13. Federal Institute for Health Protection of Consumers and Veterinary Medicine. ADI-Werte und DTA-Werte für Pflanzenschutzmittel-Wirkstoffe Ausgabe. Berlin; 1997. 14. Holland PT, Hamilton D, Ohlin B, Skidmore MW. Effects of storage and processing on pesticide residues in plant products. Pure Appl Chem 1994; 66:335-56.
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