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LEGIÃO DO BOM SAMARITANO- LBS
INSTITUTO DE FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO TEOLÓGICA-IFETE
GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA
A PRÁTICA SOCIAL BÍBLICA E AS IGREJAS EVANGÉLICAS DA CIDADE DE
PARNAIBA – PI
OAIDSON BEZERRA E SILVA
SOBRAL – CE
2013
OAIDSON BEZERRA E SILVA
A PRÁTICA SOCIAL BÍBLICA E AS IGREJAS EVANGÉLICAS DA CIDADE DE
PARNAIBA – PI
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Teologia no Curso de
Bacharelado em Teologia, a Faculdade de
Educação Teologia, sob a orientação da
Professora Maria Aurioneida Carvalho
Fernandes.
SOBRAL – CE
2013
OAIDSON BEZERRA E SILVA
A PRÁTICA SOCIAL BÍBLICA E AS IGREJAS EVANGÉLICAS DA CIDADE DE
PARNAIBA – PI
Monografia apresentada para obtenção do grau de Bacharel em Teologia. Qualquer
citação apresentada nesse trabalho atende as normas da ética cientifica.
OAIDSON BEZERRA E SILVA
Monografia aprovada em ___/___/___.
_________________________________________________
1ª Examinadora Prof.ª. _______________________________
__________________________________________________
2ª Examinadora Professora ____________________________
___________________________________________________
3º Examinador Prof. __________________________________
__________________________________________________
SOBRAL – CE
2013
A Deus por te me dado o dom da vida e uma porção de sabedoria
para entender Sua palavra. A minha esposa, que sempre esteve ao
meu lado me apoiando. A minha família, a igreja de Cristo que vive
nos quatro cantos da terra e a todos que de coração acreditam que a
mensagem cristã pode mudar paradigmas e transformar o homem e
a sociedade.
Dedico
Concluir um trabalho de pesquisa não é uma tarefa fácil. Sem ajuda, então, seria
impossível. Nessa missão agradeço a Deus fiel companheiro que, mesmo em
minhas angustias, não me desamparou e, gratuitamente, me presenteou com o
anseio pelo conhecimento. A minha amada esposa que com muita paciência me
ajudou nessa tarefa. A minha família que me proporcionou a possibilidade de estar
onde estou hoje. Agradeço, ainda, aos meus mestres que ao longo dessa jornada,
chamada vida, tornou a busca pelo conhecimento prazerosa e desejável.
Muito obrigado.
“O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu
para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar
libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos,
para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano
aceitável do Senhor.”
(LUCAS 4.18,19)
RESUMO
Responder sobre mazelas que assolam o ser humano não é uma tarefa fácil. A
presente pesquisa teve por objetivo responder a questão dos problemas sociais e a
tarefa da igreja cristã parnaibana ante a realidade. Conhecer se as igrejas
evangélicas contribuem de forma contundente e intencionalmente para que a
sociedade seja transformada e tenha suas dificuldades de alguma forma reduzida,
foi o cerne de nossa pesquisa. A bíblia foi analisada na perspectiva do tema, assim
como a historia cristã e alguns teólogos da atualidade. Para o êxito de tal intento foi
realizado uma pesquisa de campo com os participantes das igrejas evangélicas de
Parnaíba a fim de descobrir se estas realmente são cumpridoras integrais do
evangelho do reino apregoado pela figura central do cristianismo. O trabalho
alcançou o objetivo que inicialmente propôs-se a realizar. As igrejas pesquisadas
não possuem um trabalho social estruturado e com raízes firmes. Ainda falta o
incentivo através do ensino bíblico do tema nessas igrejas. A falta de interesse dos
líderes de algumas igrejas em participar na pesquisa e de vários adeptos das
igrejas, foi de fato surpreendente. A pesquisa mostra que as igrejas podem e devem
contribuir de forma efetiva para sociedade, e que isso não transformaria as igrejas
em órgãos puramente assistencialistas e que perderiam sua essência religiosa de
relação com o divino, antes estariam cumprindo a missão a que foram designadas.
PALAVRAS-CHAVE: Pobreza. Desigualdade. Nordeste. Ação social. Missão
Integral.
ABSTRACT
Reply on ills plaguing the human being is not an easy task. This research aimed to
answer the question of social problems and the task of the Christian church against
parnaibana reality. Knowing that the evangelical churches contribute forcefully and
intentionally so that society is transformed and has its difficulties was somehow
reduced the core of our research. The bible was analyzed from the perspective of the
subject, as well as the history and some Christian theologians today. For the success
of this endeavor was conducted field research with participants of the evangelical
churches of Parnaíba to find out if these are really compliant full gospel of the
kingdom proclaimed by the central figure of Christianity. The work has achieved the
goal they initially set out to accomplish. The churches surveyed do not have a social
work structured with firm roots. Still lack the incentive through the biblical teaching of
the subject in these churches. The lack of interest of the leaders of some churches to
participate in research and several supporters of the churches was indeed surprising.
Research shows that churches can and should contribute effectively to society, and it
would not turn churches into purely welfare agencies that would lose their religious
essence of relationship with the divine, before they would be fulfilling the mission to
which they were assigned.
KEYWORDS: Poverty. Inequality. Northeast. Social Action. Integral Mission.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................12
CAPÍTULO 1 METODOLOGIA DA PESQUISA ..................................................................14
1.1 Métodos utilizados na pesquisa .....................................................................................14
1.2 Contexto empírico..........................................................................................................15
1.3 Instrumentos utilizados na pesquisa ..............................................................................16
CAPÍTULO 2 REALIDADE SOCIAL HODIERNA ...............................................................17
2.1 Realidade social no mundo e no Brasil ..........................................................................17
2.2 Exclusão social no nordeste e no Piauí..........................................................................21
2.3 Realidade social em Parnaíba .......................................................................................23
CAPÍTULO 3 AÇÃO SOCIAL E A BÍBLIA E A HISTORIA CRISTÂ ...................................24
3.1 A pobreza e a Bíblia: Antigo Testamento ......................................................................
............................................................................................................................................26
3.2 Os desfavorecidos da antiguidade segundo o Antigo Testamento.................................33
3.3 A pobreza e a Bíblia: Novo Testamento.........................................................................44
3.4 O pensamento social na historia do cristianismo............................................................54
3.5 O pensamento social e a igreja evangélica no Brasil hodierno.......................................66
CAPÍTULO 4 A REALIDADE DAS IGREJAS EVANGÉLICAS PARNAIBANAS (analisando
os dados coletados) .........................................................................................................70
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................75
REFERÊNCIAS...................................................................................................................76
APÊNDICES........................................................................................................................81
Apêndice I - Instrumento de Coleta de Dados (liderados) ...................................................83
Apêndice II - Instrumento de Coleta de Dados (líderes) ......................................................83
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
A.C. – Antes de Cristo.
AD – Assembleia de Deus
D.C.- Depois de Cristo.
ARA - Almeida Revista e Atualizada.
ARC- Almeida Revista e Corrigida.
A.T – Antigo Testamento.
BJ - Bíblia Jerusalém.
DITAT - Dicionário de Teologia do Antigo Testamento.
DSI - Doutrina Social da Igreja.
FAO - Food and Agriculture Organization.
FLT- Fraternidade Latino Americana.
IB- Igreja Batista
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IDM- Igreja de Deus Missionaria.
N.T – Novo Testamento.
NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje.
OMS- Organização Mundial de Saúde.
ONU- Organização das Nações Unidas.
PMA- Programa Alimentar Mundial.
PNAD- Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios.
UNAIDS- Nações Unidas sobre a AIDS.
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.
T B- Tradução Brasileira.
V. T – Velho Testamento.
Vers. – versículos.
INTRODUÇÃO
A realidade cruel das diferenças sociais são a causa de todo tipo de
degradação. As instituições cristãs protestantes, na tentativa de contextualizar a fé e
trazer repostas aos dilemas do homem moderno, têm levantado diversas questões
que ultrapassam o campo da fé religiosa em si.
O drama das famílias que não possuem o que é básico a sua sobrevivência,
fazendo-as viver a margem da sociedade, é o fator crucial para a pesquisa levantada
nesse trabalho. Esse trabalho teve por objetivo analisar a prática social bíblica e a
realidade das igrejas evangélicas na cidade de Parnaíba. Para tanto, foi analisado o
principal livro dos cristãos (a Bíblia) assim como alguns exemplos históricos
daqueles que são considerados lideres-exemplos para o cristianismo no decorrer da
historia cristã e alguns teólogos da contemporaneidade.
O objetivo geral dessa pesquisa é observar se os participantes das igrejas
evangélicas pesquisadas tem o conhecimento bíblico do referente tema e se esse
conhecimento é de fato praticado no convívio religioso desses adeptos. Já o objetivo
específico é apontar quais igrejas tem de fato contribuído de forma efetiva para
sociedade parnaibana pela prática social e levantar uma série de argumentos
teológicos e bíblicos para a prática social e servir de alerta e voz daqueles que “tem
sede de justiça” 1
.
O procedimento metodológico utilizou o levantamento bibliográfico, onde foi
discutido o tema através da bíblia, historia cristã e alguns teólogos contemporâneos
a respeito da questão da pobreza, desigualdade e participação social dos
seguidores do cristianismo. Foi utilizado também o método de pesquisa de
levantamento onde foi aplicado um questionário para participantes das diversas
igrejas evangélicas em Parnaíba, Piauí.
A monografia encontra-se estruturada em quatro capítulos além dessa
introdução. No primeiro capítulo, apresenta-se a metodologia do trabalho, no
segundo capítulo são apresentados alguns dados da realidade social mundial, Brasil
e do contexto da pesquisa onde se apresentam dados referentes à pobreza e
desigualdade. No terceiro capitulo a fundamentação teórica e no quarto capitulo a
1
Mateus 5.6
13
pesquisa aplicada e o relatório. Segue as considerações finais e as referencias
utilizadas.
14
CAPÍTULO 1
METODOLOGIA DA PESQUISA
O presente capítulo tem por objetivo detalhar a metodologia usada na pesquisa
do tema desenvolvido. Em primeiro lugar optamos pelo estudo do caso,
posteriormente foi utilizado o levantamento de dados.
No inicio a intenção da pesquisa era comparar somente a bíblia e pratica social
das igrejas parnaibanas, porem com o desenvolver do trabalho ficou claro um lapso
de tempo que precisava ser ao menos lembrado. Dai a necessidade de fazer uma
breve pesquisa histórica sobre o pensamento social de alguns lideres cristãos que
se destacaram na historia da igreja cristã.
1.1MÉTODOS UTILIZADOS NA PESQUISA
Em nosso trabalho procuramos não restringi-lo a uma pesquisa puramente
básica, sem preocupação com possíveis benefícios, tornando-a apenas aplicação de
conhecimento.
O estudo de caso foi usado como estratégia de nossa pesquisa por se tratar
de um problema complexo, contemporâneo e real. Como Yin define:
A clara necessidade pelos estudos de caso surge do desejo de se
compreender fenômenos sociais complexos. Ou seja, o estudo de
caso permite uma investigação para se preservar as características
holísticas e significativas dos eventos da vida real2
.
A busca por um sólido fundamento teórico foi proposital. A fim de respaldar a
importância do tema para a cristandade hodierna a fundamentação teórica (que
ocupa o segundo e terceiro item da pesquisa) tende a revelar as discrepâncias
sociais e o que a bíblia e a história cristã demostram sobre os fatos estudados. Esse
método foi norteador para formulação dos questionários aplicados na pesquisa,
quanto mais aprofundávamos a investigação bibliográfica mais questões surgiam.
2
YIN, Robert K. Studying the implementation of public programs. In W.Williams etal.(Eds.),
Studying implementation: Methodological and administrative issues,
Chatham,NJ:ChathamHouse, 1982, p.36.
15
Em segundo lugar a presente pesquisa utiliza o método de levantamento para
coleta de dados. No intuito de se constatar de que forma as igrejas evangélicas da
cidade de nosso contexto empírico, Parnaíba, realizam a pratica social ou conhecem
o que a bíblia diz a respeito, foi elaborado um questionário simples e objetivo com
questões pertinentes ao tema3
. Dos questionamentos esperávamos descobrir como
essas igrejas corporificam a face social do cristianismo, se conhecem a prática social
ensinada pelos escritos sagrados da fé cristã, apoiam a prática social e se suas
comunidades religio-cultural de fato mantêm algum tipo de prática social.
Somente uma amostra dos evangélicos da cidade supracitada foi pesquisada
e tomada por objeto de investigação. Para tanto foi selecionado 50 pessoas para
responderem aos questionários, sendo 15 pessoas da Igreja Assembleia de Deus,
15 da Igreja de Deus Missionaria e 20 pessoas da Igreja Batista. Todas abordadas
no final de seus encontros religiosos, geralmente aos domingos entre às 20:30 e
21:00.
O relatório dos dados coletados encontra-se no ultimo item dessa pesquisa.
1.2CONTEXTO EMPIRICO
A cidade escolhida como objeto de investigação foi Parnaíba no Piauí.
Parnaíba é uma cidade litorânea localizada no extremo norte do Piauí, que
figura como a segunda maior cidade do estado. O ultimo censo do IBGE (2010)
aponta para uma população superior a 145 mil habitantes.
A cidade de Parnaíba foi o berço da colonização do estado. Conhecida como
uma cidade de uma rica historia cultural, teve cinema, rádio, cassinos e uma grande
atividade econômica através do porto e do comercio. A cidade parecia envolta pela
modernização europeia. Algumas ruas e bairros da cidade ainda possuem nome de
europeus que relembram aquela época.
Essa cidade vem crescendo como polo turístico por ser próximo aos lençóis
maranhenses e ao Delta do Parnaíba. O artesanato se concentra nas tradições
locais, onde encontramos as rendas de bilro, decorações em cerâmicas, objetos
confeccionados a partir da palha da carnaúba e esculturas de arte santeira. Essa
cidade é considerada centro econômico da região litorânea, que abarca cidades
3
Ver anexo I, p.82.
16
como Cocal, Ilha grande, Carnaubeiras, Caxingó, Caraúbas, Luis Correia e outras
cidades do estado do Maranhão.
Parnaíba, ainda, tem um histórico de empresas e investimento de capital
estrangeiro, e exportação de matéria prima à base de Carnaúba (Copernícia
Cerífera), Jaborandi (Pilocarpus Micropápulas), Fava d‟Anta (Dimorphandra Mollis) e
o Pau d‟Arco ou Ipê Roxo (Tabebuia Avellanedae) que são usados como
intermediários e ingredientes com fins farmacêuticos, cosméticos, alimentícios, e
carboidratos especiais como Glucose e Sacarose.
O censo do IBGE do ano de 20104
revela que mais de 20 mil da população
residente se considera evangélica, ao passo que mais de 111 mil são católicos. De
acordo com os dados do IBGE mais de 90% da população parnaibana pode ser
considerada cristã, dividida pelas ramificações e divisões comuns entre os participes
dessa religião.
Atualmente a cidade já não tem uma economia tão ativa, as mercadorias do
estado já não escoam pelo porto do Igaraçu, tão movimentado outrora em Parnaíba.
O comercio sobrevive com o movimento local.
1.3INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA PESQUISA
A pesquisa foi realizada através de pesquisa teórica e de campo.
A pesquisa teórica foi realizada através de livros, comentários, textos bíblicos,
sítios da internet, periódicos e enciclopédias. O instrumento campal foi um
questionário elaborado baseado na fundamentação teórica com intuito de revelar a
prática e conhecimento dos diversos participantes da pesquisa.
A opção pelo questionário deu a liberdade e possibilidade do anonimato dos
participantes. A fim de se obter informações mais precisas foram escolhidas
questões fechadas extraídas da pesquisa teórica e que estavam diretamente
relacionadas ao conhecimento adquirido dentro do convívio religioso de cada
participante.
4
IBGE, Cidades, Censo IBGE 2010, 2010. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em 22/03/13.
17
CAPÍTULO 2
REALIDADE SOCIAL HODIERNA
O segundo capítulo de nosso trabalho se concentra, de forma resumida, na
realidade social hodierna.
Na primeira parte esboçaremos de forma sucinta alguns dados sociais
mundiais e dados levantados no Brasil. A segunda parte desse capítulo elenca a
realidade social vivida no nordeste brasileiro, depois no Piauí e, por último, na
cidade de Parnaíba, que é o nosso contexto de pesquisa.
2.1 REALIDADE SOCIAL NO MUNDO E NO BRASIL
O início do século XXI traz consigo uma realidade de progressos para
humanidade, a capacidade de produzir bens e serviços rapidamente se expandiu, a
ciência nos vários níveis e ramos da sociedade sempre segue uma linha crescente.
As expectativas sempre são superadas, países onde não havia democracia
começam a ver um governo com bases decididas pela população. Mas tanto
progresso parece não impactar de forma eficaz e mudar a realidade social no mundo
hodierno.
O banco mundial produziu dados onde afirmam que 1.3 bilhões de habitantes
recebem uma renda menor que um dólar por dia, e assim vivem em uma condição
de pobreza aguda, cerca de 17 milhões de pessoas ainda morrem todos os anos por
doenças causadas por parasitas curáveis, como diarreia malária e tuberculose A
economia informal cresce cada vez mais. Kliksberg afirma:
...as altas taxas de desemprego ocorrem, também, uma contínua
transferência de pessoas para a chamada economia informal. Ainda
que heterogênea esta tende a caracterizar-se por setores maciços,
sendo constituída de trabalhos instáveis, sem perspectivas claras,
sem proteção social de nenhuma espécie, com baixas rendas e com
níveis de produtividade muito inferiores aos da economia formal,
devido às limitações de recursos, tecnologias e créditos. Na América
Latina, por exemplo, o emprego no setor informal representava
40,2% da mão-de-obra ocupada não agrícola, em 19805
.
5
KLIKSBERG, Bernardo. Repensando o estado para o desenvolvimento social: Superando
Dogmas E Convencionalismos, Cortez Editora, São Paulo, SP 1995, p.12.
18
A pobreza no mundo ainda subjuga, principalmente, crianças e mulheres pelo
mundo afora. “Cerca de 600 mil crianças morrem na América Latina e Caribe6
”.
Forçadas pelas circunstancias, mulheres e crianças, se submetem a exploração e a
condições deploráveis de vida. As crianças pobres servem de mão de obra para
narcotraficantes em diversos países.
A criminalidade, a violência e a degradação da sociedade são resultados, em
grande parte, do acumulo das fortes tensões sociais em todas as áreas. A família,
principal instituição no seio da sociedade, abalada pela pobreza cria sérios
problemas sociais, Kliksberg assevera:
A família, instituição central de grande parte das sociedades,
fornecedora de normas morais, educação básica, saúde preventiva,
afeições básicas, modelos de referência, está seriamente deteriorada
pelos problemas sociais e tende a criar o abandono de sua figura
masculina. Por outro lado, em diversas sociedades, observa-se um
marcado aumento das cifras de criminalidade7
.
Milhares de pessoas morrem anualmente por não conseguir aquilo que é
básico à sobrevivência. Dados da FAO (FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION, 2012) apontam para 870 milhões de pessoas que passam fome
no mundo, isso representa quase 12,5% da população mundial8
, e grande parte
dessas pessoas vivem em países em desenvolvimento. Em relação à fome a FAO
enumera9
:
1- Aproximadamente 925 milhões de pessoas no mundo não
comem o suficiente para serem consideradas saudáveis. Isso
significa que uma em cada sete pessoas no planeta vai para a cama
com fome todas as noites. (Fonte: FAO, 2012).
2- Bem mais que a metade dos famintos do mundo, cerca de 578
milhões de pessoas, vivem na Ásia e na região do Pacífico. A África
responde por pouco mais de um quarto da população com fome do
mundo. (Fonte: FAO, O Estado de a Insegurança Alimentar no
Mundo, 2010).
6
BELLAMY, Carol. Terceira Conferência Americana sobre a Infância, Chile, 9 ago. 1996.
Disponível em: <http://www.unicef.pt/docs/pdf_publicacoes/SOWC_2003.pdf>. Acesso em:
27/12/12.
7
KLIKSBERG, Bernardo. Repensando o estado para o desenvolvimento social: Superando
Dogmas e Convencionalismos, Cortez Editora, São Paulo, SP 1995, p.15.
8
FAO, Jornal eletrônico G1, Quase 870 milhões de pessoas passam fome no mundo, diz
FAO, 2012. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/10/quase-870-milhoes-
de-pessoas-passam-fome-no-mundo-diz-fao.html> Acesso em 18/11/2012.
9
FAO, O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A FOME EM 2012, 2009. Dados
disponíveis em: <https://www.fao.org.br/oqvpssf2012.asp>. Acesso em 17/11/2012.
19
A fome é o número um na lista dos 10 maiores riscos para a saúde.
Ela mata mais pessoas anualmente do que AIDS, malária e
tuberculose juntas. (Fonte: UNAIDS, Relatório Global de 2010;
OMS, Fome no mundo e Estatística Pobreza, 2011).
3- Custam apenas 25 centavos de dólar por dia alimentar uma
criança com todas as vitaminas e os nutrientes de que ela precisa
para crescer saudável. (Fonte: PMA, 2011).
4- A fome é o único grande problema solucionável que o mundo
enfrenta hoje.
Em 2011 a ONU lançou um relatório sobre a situação social mundial, onde
concluía que os governantes mundiais não dão a devida atenção às implicações
sociais que surgiram após a crise financeira global. O relatório mostra que houve um
aumento alarmante no desemprego, quase 205 milhões de pessoas perderam seus
empregos, que não representa somente perda de renda, mais aumento na
vulnerabilidade, principalmente em países em desenvolvimento onde não existe um
sistema de proteção social abrangente. O relatório mostra que cerca de 84 milhões
de pessoas caíram para um nível de pobreza extrema. Isso em países
desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Nas ultimas três décadas o acumulo de renda entre os mais ricos cresceu de
70% para 85 %, ao passo que a renda entre os mais pobres diminuiu de 2% para
1,45%. A diferença entre os mais ricos e os mais pobres é cada vez maior, “o quinto
da população mundial vive em países ricos e é dono de 86% do produto bruto
mundial, 82% das exportações, e mais de 95% do credito, já o quinto mais pobre só
possui 1% disso tudo10
”. A polarização social cria diferenças tão agudas e
acentuadas que chega ao absurdo. Mais de 1 bilhão e 300 milhões de pessoas não
têm a sua disposição água potável e mais 3 bilhões necessitam de serviços de
saneamento.
O Brasil é uma sociedade que impera como uma das mais desiguais do
mundo. Considerada a sexta economia do mundo ainda convive com 16,2 milhões
de brasileiros em situação de extrema pobreza. Conforme o relatório do Índice do
Desenvolvimento Humano (IDH) de 2011, o Brasil foi apontado na posição de
número 84 entre os 187 países avaliados.
10
KLIKSBERG, Bernardo, O IMPACTO DAS RELIGIÕES SOBRE A AGENDA SOCIAL
ATUAL, Unesco, Serie Debates IV, 2005. Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001384/138431por.pdf>. Acesso em 28/12/2012,
p.5.
20
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil está
classificado como um país de padrão intermediário de renda, entretanto uma
pequena parcela da população consegue padrões de renda e qualidade de vida
comparada aos padrões sociais e econômicos de países mais ricos no mundo.
A imensidão territorial brasileira continua concentrada nas mãos de poucos,
quase 3% dos grandes donos de terra dominam quase 57% das terras, e uma
grande parte delas improdutiva, do outro lado 89% de pequenos proprietários
dividem 23,4% de terras brasileiras.
Outro grande problema é a concentração de renda no Brasil, dados
divulgados pelo Banco Mundial em 1995 colocavam o nosso país como o número
um no ranking de desigualdade social no que se refere à concentração de renda11
,
cerca de 3% da população recebiam mais de 20 salários mínimos enquanto a
grande maioria não conseguia mais de dois salários mínimos. Somente em 2012 o
Brasil perde a liderança, conseguindo diminuir as desigualdades na distribuição de
renda, porém, ainda continua como o quarto colocado12
. O resultado da
concentração de renda em nosso país produz uma realidade social cruel.
A má administração de recursos públicos e falta de priorizar o mais importante
à nação, ainda castiga muitos em nosso país. Obras que poderiam ficar em segundo
plano, tomam o lugar da educação, da alimentação e saúde pública.
No Brasil quase 11% da população acima de dez anos de idade permanecem
analfabeta, 31% ainda não tem nenhum tipo de saneamento básico e quase 28%
não possuem nenhum tipo de coleta de lixo (IBGE, 2010). Há ainda o problema da
economia informal, que não cria nenhum tipo de segurança social por parte do
governo brasileiro.
A realidade social brasileira está estampada nas capas dos jornais e nos
noticiários informativos via televisão e internet. O narcotráfico domina regiões pobres
de nosso país e subjuga populações inteiras que não dispõem de auxilio social
eficientes. O crime organizado dia a dia revela sua face cruel.
11
KANITZ, Ayrton, BRASIL, CAMPEÃO DE DESIGUALDADE, São Paulo, SP, Revista
ADUSP, maio de 1996, p.7.
12
PACHECO, Gabriela, BRASIL DEIXA ÚLTIMA POSIÇÃO DO RANKING DE
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA DA AMÉRICA LATINA, Rio de Janeiro-RJ, Jornal eletrônico R7,
2012. Disponível em: <http://noticias.r7.com/brasil/noticias/brasil-deixa-ultima-posicao-do-
ranking-de-distribuicao-de-renda-da-america-latina-20120821.html>. Acesso em 18/11/2012.
21
Os impostos altos não mudam a realidade social do país, os pobres são os
que mais sofrem com os impostos cobrados pelo governo brasileiro. A carga
tributaria no Brasil é uma das mais pesadas no mundo. Os brasileiros pagam mais
impostos que os americanos e japoneses.
A tributação no Brasil além de complexa é injusta. Resumindo, o brasileiro
desembolsa, em media, 40% de sua renda anual13
. Mesmo com uma contribuição
tão alta o serviço prestado pelos poderes públicos fica muito aquém do mínimo
necessário.
2.2. EXCLUSÃO SOCIAL NO NORDESTE E PIAUÍ.
No nordeste brasileiro os problemas se acentuam, a região é a mais desigual
da nação, liderando em todas as pesquisas de exclusão social. A exclusão social há
anos castiga o nordeste.
O IBGE divulgou em 2005 que 55,92% da população nordestina vivia privada
de renda, nessa região a divulgação por estados ficou assim: Alagoas (63,08%);
Piauí (58,97%); Maranhão (58,00%); Ceará (56,92%) e Bahia (55,15%). O mesmo
estudo mostra que 26% da população não possuem serviços de redes de
abastecimento de água, 53,56% não possuem acesso à rede de saneamento
básico. Em relação à educação, Lemos assevera:
Mais uma vez observa-se que a região Nordeste apresenta os piores
indicadores em itens essenciais ao desenvolvimento. A região
apresentou os maiores percentuais de analfabetos maiores de 10
anos. E as taxas exibidas pelos estados do Nordeste, no geral, são
muito elevadas, como se depreende das evidências mostradas [...].
Esta região chegou ao final de 2005, com 19,02% da sua população,
maior de 10 anos, analfabeta. As maiores taxas de analfabetismo,
em maiores de 10 anos, observadas em 2005 são, pela ordem
decrescente, nos estados de Alagoas (23,84%); Piauí (23,11%);
Maranhão (21,18%); Paraíba (20,92%); Ceará (18,61%) e Bahia
(18,32%). No Rio Grande do Norte (15,48%) e em Sergipe com
(17,96%) estão as menores taxas de analfabetos do Nordeste em
200514
.
13
Revista Veja Digital, Desafios brasileiros, Carga Tributária 2010. Disponível em:
<www.veja.abril.com.br/tema/desafios-brasileiros-carga-tributaria>. Acesso em 08/01/13.
14
LEMOS, José de Jesus Sousa. Mapa da Exclusão Social no Brasil. Radiografia de um
país assimetricamente pobre. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2005, p.123.
22
Somado a essas diferenças sociais ainda tem-se o problema do clima que
dificulta ainda mais as questões sociais e econômicas da região. A seca torna
precária a situação em determinadas cidades nordestinas, trazendo consigo a falta
de alimentos e água de qualidade a população.
O estado do Piauí figura como um dos últimos no ranking de qualidade social
de acordo com os índices apresentado por Lemos (2005) em seu trabalho sobre
índice de exclusão social.
A distribuição de renda nesse estado é uma das piores conforme o relatório
do PNAD (2005) são 58% da que vivem excluídos, de alguma forma, de rendas
monetárias. A distribuição de renda esta ligada, hoje, a medição do grau de
desenvolvimento região, e é ela responsável pelo desenvolvimento ou deterioração
do tecido social como um todo.
Durante nossas pesquisas percebemos a falta de material literário para
estudos sobre a questão da distribuição de renda no Piauí, somente quando
mencionado em conjunto com estados do nordeste e do país.
Uma pesquisa realizada pelo IBGE, de maio de 2008 a maio de 2009, aponta
para uma diferença gigantesca na distribuição de renda, enquanto os mais pobres
ganham em media R$672,00 por mês os ricos tem uma renda mensal (em média) de
R$13.039,0015
.
O relatório do IDH mostra o Piauí como um dos estados mais pobres da
nação brasileira, o estado com menos emprego formal, ocupa o penúltimo lugar no
quesito alfabetização e ultimo lugar na escolaridade do cenário nacional16
.
Quase todos os municípios piauienses convivem com uma realidade de
exclusão social. Lima observa que de 96,9% dos municípios do Piauí estão numa
realidade de exclusão social e quase 98,3% estão mergulhados num elevado grau
de pobreza17
. Os avanços nos últimos anos se mostram muito tímidos ante a
realidade social do povo piauiense.
15
GALENO, Lívio, Ricos do Piauí ganham 19 vezes mais do que a população pobre, Jornal
eletrônico Cidade Verde, 23/06/2010. Disponível em: < http://www.cidadeverde.com/ricos-
do-piaui-ganham-19-vezes-mais-do-que-a-populacao-pobre-60425>. Acesso em: 18/11/12.
16
LIMA, Gerson Portela. Atlas da exclusão social no Piauí/Gerson Portela Lima. Teresina:
Fundação CEPRO, 2003, pp. 70-77.
17
Ibid. p.78.
23
2.3 REALIDADE SOCIAL EM PARNAÍBA-PI
Nesse município, o mais desenvolvido da região norte do estado, entre os
anos de 2000 a 2010 a renda per capita domiciliar ficou em torno de R$164,00
(cento e sessenta de quatro reais) 18
. A taxa de desemprego também é muito alta,
mais de 93% dos parnaibanos não possuem um tipo de renda formal.
A questão da informalidade da renda gera instabilidade para aqueles que
assim vivem, criando falta perspectivas definidas. Também exclui o cidadão de
proteção social, como INSS, FGTS, férias, abonos, etc. A baixa renda dentro do
setor informal é outra realidade que impede a ascensão social.
Os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), através de
levantamento de dados apontam para bairros específicos onde à vulnerabilidade é
maior. Os bairros apontados são: Mendonça Clark, João XXIII, Piauí, São Vicente de
Paula. De acordo com a publicação do “Diagnóstico e Mapeamento da Rede
Socioassistencial das Áreas de Abrangências do CRAS” em 2012, demostram que
os moradores das regiões mais pobres de Parnaíba têm como fontes geradoras de
renda empregos informais.
A taxa de analfabetismo é uma das maiores do Brasil, mais de 22% da
população parnaibana, acima de 15 anos, ainda permanecem nessa condição,
sendo que no Brasil em média essa taxa não ultrapassa os 14%.
Os índices de exclusão social são extremamente altos na cidade. De acordo
com dados do IBGE Parnaíba apresenta os piores índices de exclusão social,
pobreza, emprego formal, desigualdade e escolaridade do país19
. Nas publicações
do CRAS não aparece nenhum tipo de cooperação direta por parte das igrejas
evangélicas nessas regiões vulneráveis da cidade pesquisada.
Como se vê, Parnaíba tem um índice de desigualdade elevadíssimo e, diante
dessa realidade, as igrejas podem e devem contribuir para uma realidade mais justa.
18
IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em: < http://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso
em 14/12/12.
19
IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em: < http://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso
em 14/12/12.
24
CAPÍTULO 3
AÇÃO SOCIAL E A BÍBLIA
A bíblia não tem a pretensão de ser um livro de ciências sociológica ou
antropológica, porém, os problemas sociais existentes e que acompanham à
humanidade não são, por ela, negligenciados.
Deus lembra, a todo instante, no antigo e novo testamento a realidade social
da humanidade e o dever, daqueles que são chamados de “povo Seu” 20
, em
praticar a fraternidade, humildade e amor ao próximo.
O termo ação social, dentro da sociologia, pode ser definido simplesmente
como comportamento social, que é a consequência de contatos sociais avançados,
interação e relação social. O sentido é muito amplo, e não pode ser resumido como
assistencialismo. Em termos leigos é qualquer movimento que resulte em melhorias
para a comunidade e gere bem estar para sociedade como um todo. Para Lessa 21
,
há uma má interpretação do conceito ação social para alguns cristãos que tentam
praticá-la, dentro do conceito erroneamente interpretado surgem os conceitos:
evangelho social, assistência social e serviço social.
O evangelho social foi um movimento nascido nos Estados Unidos no início
do século XX, como uma reação ao escapismo das igrejas evangélicas que
exageravam com a preocupação escatológica e cultivo de um asceticismo pietista
que não levava em consideração as implicações sociais vividas pelo mundo de
então. Essa reação chegou a criar outro extremo à polarização escapista, a total
secularização da mensagem cristã, afirmando que o reino de Deus se cumpriria
plenamente nesse mundo através da ação do homem. Há alguns evangélicos que
não apoiam a justiça social por achar que podem ser tendenciosos a filosofia do
evangelho social.
Já o assistencialismo refere-se somente a obras assistências que são meras
respostas imediatas para resolução parcial do problema. Um exemplo claro de
20
Seu povo - alusão ao trecho bíblico de 1PEDRO 2.9, CHAMPLIM em seu comentário
bíblico da carta em questão interpreta da seguinte forma: “Essa nação deveria pertencer a
Deus, demostrando isso por seus atos agradáveis a Deus” (CHAMPLIM, Russel Norman, O
Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, 1Pedro, São Paulo: Hagnos, 1997).
21
LESSA, Hélcio da Silva, Ação Social Cristã, Movimento “Diretriz Evangélica”, Guanabara,
RJ, 1950, p.6. Disponível em <http://ftl.org.br/documentos/Acao_Social_Crista-Retrato.pdf>.
Acesso em 23/04/13.
25
assistencialismo é a distribuição de alimento para um desempregado, não que isso
não seja válido, mas atende somente a necessidade momentânea. Possivelmente
aqueles que de alguma forma são atendidos pelos assistencialistas, muito cedo
terão necessidades com as mesmas problemáticas iniciais. Nesse sentido Campos
afirma:
É importante destacar que o assistencialismo, por combinar caridade
aos pobres com indiferenças aos fatores causais da pobreza, além
de funcionar como estratégia de reprodução social, reproduz,
igualmente, a subalternidade, pois o assistido nesta modalidade de
proteção social, não é reconhecido (nem se reconhece) como um
sujeito de direitos, não participando, desta forma, de uma
comunidade de semelhantes [...], e sim de uma sociedade com
desigualdades abissais 22
.
O serviço social é uma profissão de caráter sócio-político. Trabalha com
instrumentos das ciências sociais analisando e intervindo nas refrações sociais
existentes. Atua na defesa e aplicação dos direitos humanos e justiça social. A ação
social vai ser mais profunda que o mero assistencialismo. Alguns evangélicos
acreditam que fazem ação social simplesmente por distribuir roupas e alimentos.
A intenção desse capítulo é provar que a bíblia, regra de fé e de prática de
vida dos cristãos, mostra claramente a preocupação de Deus com o ser humano e
com a realidade social vivida por este. Queremos provar, também, que a aplicação
desses ensinos bíblicos tornaria a sociedade mais justa e digna.
A primeira parte vai tratar a respeito da pobreza e a bíblia, trazendo uma
visão geral a respeito desse tema no antigo e no novo testamento. A nossa
preocupação é saber se a bíblia realmente se preocupa com os excluídos e
oprimidos. A segunda parte irá tratar sobre alguns fundamentos bíblicos no que se
refere aos excluídos da antiguidade segundo o antigo testamento.
A terceira parte será esboçada a partir do novo testamento fazendo as
mesmas indagações da primeira parte de nossa pesquisa teórica. Enquanto
pesquisamos os textos bíblicos e a visão geral dos ensinos contidos nas sagradas
escrituras, começamos a indagar se há alguma incoerência entre o discurso
religioso e prática aplicada desses discursos.
Já a quarta e quinta parte trará uma visão histórica e alguns exemplos de
prática social cristã, começando pelos pais da igreja, passando pela reforma e nos
22
CAMPOS, E.B. Assistência Social: do descontrole ao controle social. Revista Serviço
Social e Sociedade, nº 88. São Paulo: Cortez. Novembro de 2006, p.101.
26
remetendo até os dias hodiernos. Por se tratar de um material histórico extenso a
nossa pesquisa será resumida citando apenas os fatos principais referentes ao
tema.
3.1 A POBREZA E A BÍBLIA - ANTIGO TESTAMENTO
A pobreza e a sua definição é complexa. Descrever a pobreza numa ótica
bíblica não é uma tarefa fácil para o teólogo cristão protestante do presente século,
afinal estamos em uma era de certezas teológicas rasas onde a maioria dos cristãos
apregoa sobre uma vida abundante na terra. A cosmovisão de muitos protestantes
hoje, alicerçada na teologia da prosperidade 23
, aliada ao capitalismo selvagem e ao
egocentrismo humano torna a questão desinteressante para alguns, afinal o
capitalismo, de acordo com o pensamento de muitos, torna livre o homem, para que
este alcance classes sociais mais altas, e o fato de alguns viverem na pobreza se
deve ao fato de não se esforçarem o suficiente para saírem de suas condições
sociais.
E, além da visão hodierna distorcida de alguns denominados protestantes,
temos a questão teológica do termo pobreza em si, que pode ser entendido de
diversas maneiras, como Barth assevera, pessoas socialmente privilegiadas podem
ser pobres: na saúde, intelectualmente, espiritualmente e nos seus relacionamentos,
em contrapartida uma pessoa pobre no sentido financeiro pode ser rica nesses
outros sentidos 24
.
Mas afinal quem são os pobres de acordo com a bíblia, haja vista a tendência
de alegorizar a interpretação da palavra pobre. O sentido bíblico não deve ser
entendido somente numa conotação socioeconômica, pois o pobre, biblicamente
falando pode ser uma disposição interior ou atitude da alma 25
(cf. MATEUS 5.3
ARC), porém a interpretação do termo pobre não deve ser limitada a esse tipo de
entendimento, pois, a pobreza socioeconômica é uma cruel realidade que não
podemos fingir que não exista.
23
Movimento religioso surgido nos Estados Unidos da América, que interpreta alguns
trechos da bíblia dizendo que aqueles que são fiéis a Deus devem desfrutar de uma
excelente situação na área financeira, da saúde, emocional, social, familiar, etc. (FONTE:
HTTP://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TEOLOGIA_DA_PROSPERIDADE; ACESSADO EM
13/09/12).
24
BARTH, Karl. Pobreza em Dadiva e Louvor. São Leopoldo: Sinodal, 1986, p.351.
25
QUEIROZ, Carlos Pinheiro. Eles herdarão a terra. Curitiba: Encontro, 1998, p.19.
27
Em pesquisa aos vocábulos ligados à palavra pobre e pobreza percebemos
que a bíblia fala mais sobre o assunto em questão do que outras doutrinas tão
enfatizadas e ensinadas nas igrejas protestantes hodiernas. São quase cento e
setenta citações diretas dos vocábulos estudados nesse item. A igreja precisa se
preocupar com a essa questão, afinal Deus se preocupa, pelo menos, é o que fica
subentendido pelas pesquisas dos trechos bíblicos.
O termo no hebraico mostra as seguintes definições: aniy (yne) usada mais de
trinta vezes com sentido de homem rebaixado e aflito, tem o sentido de pobreza
como consequência de opressão politica, religiosa e psicológica esse termo aparece
em Isaías 3.14, ebyown (Nwyba) que tem o mesmo significado de mendigo, pedinte,
não saciado, carente, necessitado, referente à classe social mais baixa, essas
pessoas não conseguem se tornarem independentes de outros devido suas
necessidades não supridas. O outro termo é ruwsh (vwr) que significa aquele que se
torna pobre por outrem, ser pobre, ter falta de, tem o sentido de pessoas
empobrecidas por ações de injustiças. Há, também, o termo dal (ld) traz o sentido
de inferior, pobre, fraco, magro, pessoa inferior (cf. Amós 5.11). Tem o sentido de
algo que está pendurado por um fio. E por ultimo os termos ra„eb (ber), faminto, de
vigor combalido, aquele que não tem o que comer e chelaka (hklx), miserável,
pobre, pessoa infeliz, desafortunado citado em Salmos 10.426
.
A base bíblica veterotestamentária de nossa argumentação para que a
pobreza, e os que sofrem com ela, seja um alvo a ser trabalhado pela igreja atual
começa em Gênesis, onde Deus cria todas as coisas. Inicialmente toda obra
criatória divina é considerada agradável, boa, amável (é o que se entende pelo
adjetivo hebraico bom, “towb”, citado em Gênesis 1.31). A criação era perfeita e
bela. Em meio à narrativa bíblica da criação, aparece à criação do ser humano, que
é narrada com um grau de importância sublime, a formação dessa criatura se dá
com um concilio divino, em Gênesis 1.26 é declarado: “façamos o homem a nossa
imagem e semelhança” (GRIFO NOSSO), e assim o fez do “pó da terra”. O nome
dado ao homem, Adão, vem do hebraico “Adam” que tem a mesma raiz da palavra
“Adamah”, que significa terra, analisando a criação do homem a partir da terra pode-
se concluir que o homem e a terra são parte integrantes. No Congresso Brasileiro de
Evangelização foi dito:
26
HARRIS, R. Laind. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, Trad.
Gordon Chown, Edições Vida Nova, 1985. (todos os termos para o vocábulo “pobre”).
28
O homem e a terra não entidades separadas. Eles têm uma serie de
importantes relacionamentos e interdepências (...). Quaisquer
dificuldades ou problemas que houver com a terra se refletirá no
homem. Explode-se a terra e teremos o fim da raça humana. Polui-se
a terra e se prejudica a vida na face da terra 27
.
Após a criação da terra e do ser humano, Deus entrega a terra às mãos do
homem para administra-la e prover seu sustento. Até aqui o homem não sabia o que
era poluição, queimadas, destruição, fome, desigualdade, discriminação, exclusão e
injustiças e só passa conhecer esses problemas após ter cometido o pecado. O
projeto inicial de Deus era formação de uma sociedade igualitária, mas, de acordo
com entendimento formado a partir do velho testamento as desigualdades começa a
existir após a queda do homem, Cavalcanti (1987) disse:
A tremenda verdade é que, se o homem não houvesse pecado, ele
iria vivenciar plenamente este projeto de Deus em suas relações
sociais; projeto esse em que nada de negativo que vemos acontecer
através da historia, até nossos dias, teria talvez: tanto em relação à
expressão cultural de civilização, como relação à questão social e
econômica 28
.
Diferentemente de Rousseau29
, que acreditava que as desigualdades entre os
homens têm como base a noção de propriedade privada e a necessidade de um
superar o outro, numa busca constante de poder e riquezas, para subjugar os seus
semelhantes, para o cristianismo as desigualdades está correlacionada com o
pecado do primeiro homem, Adão.
O principal argumento veterotestamentário para o combate da pobreza
é o fato de Deus ter criado o homem a sua imagem e semelhança. Essa imagem do
divino mostra que esse ser está ligado ao Criador e é por essa ligação que o ser
27
YUASSA, Key. “O Homem Brasileiro como Objeto do Amor de Deus”, em a Evangelização
do Brasil: Uma tarefa inacabada, onde estão contidas as palestras proferidas por vários
autores no Congresso Brasileiro de Evangelização em Belo Horizonte – MG – 1983, São
Paulo: ABU. , 1985, pp. 84 e 86.
28
CAVALCANTI, Robinson. Igreja: Agencia de Transformação Histórica. VINDE e SEPAI,
1987, p12.
29
ROUSSEAU, Jean Jaques, A origem da desigualdade entre os homens e se ela é
autorizada pela lei natural, Academia de Dijon, Paris, 1753. Disponível em
<www.livros_gratis/origem_desigualdades.html>. Acesso em 07/01/13.
29
humano passa a ser “dignamente superior às outras criaturas30
”. Esse pensamento
antropológico-teológico foi bem desenvolvido por Tertuliano, que acreditava na
objetividade da existência humana, que dizia que o ser humano foi modelado pelo
próprio Deus, uma obra maravilhosa que recebera a liberdade. Segundo ele, Deus
se dedicou totalmente a substância que depois de trabalhada com amor surge o
homem31
. Dentro dessa perspectiva, começamos a entender a dignidade humana
que, em suma, não deve ser reduzida a nem um tipo de degradação, seja ela qual
for, inclusive a pobreza.
Por outro lado existe também o argumento de que Deus criou a terra e a
colocou a disposição do gênero humano, para que este a dominasse com trabalho e
sobrevivesse dos seus frutos. No livro das Origens é relatado que todas as aves,
peixes, animais terrestres deveriam ser dominados pelo homem e os frutos,
sementes, ervas serviriam de mantimento32
. A disposição do criador em entregar os
frutos e animais para o homem leva-nos a afirmação que os bens criados devem ser
destinados a todos, sem que haja exclusões em detrimento da vontade egocêntrica
de uma minoria dominante. No Compêndio da Doutrina Social da Igreja, que cita o
Vaticano II33
, encontramos o desenvolvimento dessa afirmativa, onde é declarado o
sentido universal dos bens. Essa afirmativa não implica que tudo pertença a todos,
mas que fique assegurado o exercício justo da distribuição dos bens para que todos
usufruam e tenha as condições de uma vida sem indignidade.
No livro de Deuteronômio, especificamente no capitulo 15 e verso 11 fica
patente que a existência de pobres era contínua dentro da sociedade hebreia, mas
mesmo com essa afirmativa fica visível a vontade do Divino quando se é ordenado:
“... para que entre ti não haja pobre...” (DEUTERONÔMIO 15.4 ARC). A vontade
divina não pode ser entendida com uma promessa a ser cumprida por ele, mas uma
ordenança a ser seguida pelo homem. O ser humano tem uma gama de
possibilidades de realizar-se consigo e com os outros, portanto fica plausível que a
diretiva divina é que aquele crie realidades para que não haja nem um tipo de
exclusão.
30
VITAL CORBELLINI, Referências Patrísticas quanto aos Princípios da Doutrina Social da
Igreja, apud. GIOVANNI, CRISOSTOMO. “Omelie sulla prima lettera ai Corinti”, 10, 4,3-4. In:
La Teologia dei Padri II. Roma: Città Nuova Editrice, 1974, p.9.
31
TERTULLIANO. La Resurrezione dei morti, VII, 3-4. Traduzione, Introduzione e Note a
cura, C.MICAELLI, Roma: Città Nuova Editrice, 1990, p.34.
32
Gênesis 1.28,29.
33
Alusão aos documentos provenientes do Concilio Vaticano II, ocorrido de 1962 a 1965.
30
Existiam leis que protegiam e davam auxilio aos pobres, mas adiante, no item
3.2 trataremos especificando as figuras da exclusão na antiguidade (órfãos,
estrangeiros, viúvas, etc.) e o que o antigo e novo testamento diz a respeito. Mas
salientamos que nas relações sociais com o pobre eram vetados os maus tratos ou
opressão (DEUTERONÔMIO 24.14), a usura (ÊXODO 22.25) e a injustiça
(LEVÍTICO 19.15). Nos cultos religiosos, o pobre não podia ser excluído por não ter
condições de ofertar sacrifícios, mas havia determinadas ofertas que se
enquadrariam de acordo com as posses do ofertante, quanto menores fossem suas
posses, menor seriam os animais sacrificados, ou ofertas entregues aos sacerdotes.
A mais profunda ideia social ante a pobreza pode ser analisada a partir de
Levítico 19.18, “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Esse imperativo, expressa
o mais alto ideal para a convivência do ser humano, é a ideia da responsabilidade
pelo outro e isso não é uma opção, mas uma ordem que deve ser parte continua da
vida do homem, enquanto gênero. A prática dessa ordem não deve ser visada com
meio de obtenção de reconhecimentos, isso deve ser entendido como uma única
maneira de viver.
Amar ao próximo como a si mesmo eis o desafio de Deus para com o Seu
povo. A sociedade hebreia que estava em formação no deserto, deveria ser formada
a partir desse principio, esse deveria ser o norteamento de toda relação social. As
leis deveriam ser justas, o governo deveria ser administrado com equidade, às
negociações deveriam ser praticas com ética e justiça. Tudo visando o bem estar do
outro. Pensando dessa forma não poderia haver praticas trabalhistas escravagistas,
abandono, subjugação pelo poder, etc.
Durante período deuteronômico surge um dos primeiros sistemas fiscais que
se tem conhecimento, o dízimo. A decima parte de tudo que era produzido por todos
eram destinado ao sustento dos sacerdotes, viúvas, órfãos e estrangeiros. De
acordo com os textos de Deuteronômio 26.12,13 e 14.28,29 mostra que os dízimos
arrecadados serviriam para auxiliar os pobres.
Os livros históricos do antigo testamento registram o inicio da nova terra
prometida por Deus à Israel. No inicio entendemos que não havia desigualdade e
pobreza, a terra conquistada havia sido distribuída de maneira igual entre as tribos,
e estas redistribuíram de maneira igual entre as famílias. Porém com o tempo
àqueles que foram escravos no Egito, passam a oprimir e escravizar seus irmãos na
nova terra. O modelo patriarcal que trazia uma sociedade mais justa que vivia
31
segundo os mandamentos do Deus de Israel, foi substituído pela monarquia. No livro
do profeta Samuel fica registrado as consequências que esse novo tipo de
sociedade traria a vida da nação, os filhos serviriam de servos para construir armas,
guerrear e trabalhar nas lavouras, de tudo que fosse produzido o melhor seria
direcionado para o rei e seus servos, os dízimos que serviam para os pobres
passam a ser entregue aos oficiais da monarquia e as filhas serviriam ao rei como
padeiras, perfumistas, cozinheiras. A monarquia fixada dava direito ao rei e seus
oficiais a usufruírem dos bens produzidos pela nação explorando como se achasse
conveniente. (1SAMUEL 8.10-20)
Os autores dos sapienciais bíblicos falam da questão da pobreza em vários
trechos. O livro de Jó elenca o fato de Deus proteger e ouvir os pobres em
detrimento dos feitos perversos dos ímpios. Podemos encontrar declarações como:
“[os ímpios], assim, fizeram que o clamor do pobre subisse até Deus, e este ouviu o
lamento dos aflitos” (JÓ 34.28) e “quanto menos àquele que não faz acepção das
pessoas de príncipes, nem estima ao rico mais do que ao pobre; porque todos são
obras de suas mãos”. (JÓ 34.19). Ainda no mesmo livro existem denuncias de
pobres sem socorro, desamparados e que tem seus direitos negados34
.
Nos salmos 10 existe um clamor pelo auxilio ao pobre, o autor clama a Deus,
pois, os ímpios perseguem o pobre e os necessitados são destruídos. Diante desse
sofrimento o salmista clama: “Levanta-te, SENHOR! Ó Deus, ergue a mão! Não te
esqueças dos pobres.” (SALMOS 10.12 ARA) e mais adiante, nos Salmos 12.5,
Deus diz: “Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me
levantarei agora, diz o SENHOR; e porei a salvo a quem por isso suspira”. Os
salmos mostram Deus como àquele que não fica passivo ante ao clamor do pobre,
podemos averiguar isso em uma rápida leitura nos trechos 132.15, 109.31 e 12.5.
Agora vejamos o que ensina os Provérbios do velho testamento. Os textos
14.31 e 17.5 ensinam que os que oprimem ao pobre insultam ao criador. Mais uma
vez o antigo testamento lembra que o homem foi criado a partir de Deus, e este não
permite que aquele sofra com as desigualdades impostas pelo poder de outro. O
livro de Provérbios ensina, ainda, nos trechos 22.9 e 14.21, que aqueles que se
compadecem do necessitado serão abençoados ao passo que os que não cuidam
dos pobres serão amaldiçoados (PROVÉRBIOS 22.16 E 28.17). Há também uma
34
Cf. Jó 20.19; 24.4; 24.9; 31.16.
32
alusão muito interessante aos pobres que vivem nessas condições por serem
preguiçosos, a primeira parte do capitulo seis e trechos do capitulo 23 e 28 desse
livro trata justamente disso. A passagem de implicação forte nesse livro é a que se
segue: “Aquele que tapa os seus ouvidos ao clamor do pobre, também clamará, e
não será ouvido.” (PROVÉRBIOS 21.13, TB).
A pobreza, que de acordo com os preceitos deuteronômicos não poderiam
fazer parte da sociedade hebreia, sociedade esta que serviria de modelo, é
enfaticamente denunciada pelos profetas. Isaías revela que Deus começa a julgar os
anciãos e seus lideres por causa total desprezo pelos pobres, ele ainda fala de
homens que fraudavam os desvalidos e legisladores que criavam leis injustas que
reprimiam o direito dos pobres35
. Mostra, também, no trecho 5.8 homens que juntam
propriedades e não deixam espaços para os pobres terem suas moradias. Esse
profeta revela, ainda, que o Messias prometido traria um reinado de justiça, uma
leitura nos trechos 11.4, 29.19 evidencia o que afirmamos. Por fim existe a
promessa em Isaías 32.7 de serem agraciados todos aqueles que acolhessem os
desamparados e mais adiante Deus revela claramente sua vontade no capítulo 58
onde lemos:
Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras
da impiedade desfaça as ataduras da servidão, deixes livres os
oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que
repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres
desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu
semelhante? (VERS. 6,7)
Ezequiel 18 é apresentado uma lista de características de um homem justo,
dentre essas características é citado à ajuda ao pobre. As denuncias feitas pelo
profeta mostra que Israel tornou-se tão perverso quanto à cidade de Sodoma. O
pecado de Sodoma era não cuidarem dos pobres. Em Ezequiel 16.49 encontramos
o seguinte:
Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não fez Sodoma, tua
irmã, ela e suas filhas, como tu fizeste, e também tuas filhas. Eis que
esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e
próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o
pobre e o necessitado. (ARA)
As acusações continuam com o profeta Jeremias, “sangue de pobres e
inocentes” (JEREMIAS 2.34) estavam nas vestes da nação, o desprezo pelas leis
35
Cf. Isaías 3.10,11. 15; 10.1, 2; 32.7.
33
causavam degradação social, desvio moral, desvio religioso, indiferentismo. O libelo
de Amós se de ao fato de cobrança indevida de tributos aos pobres, que tiravam do
mantimento, “trigo”, para sustentar corruptos que com opulência extorquiam os
pobres. (cf. AMÓS 5.11), o castigo estava próximo de Israel, pois eles
continuamente exploravam o pobre (AMÓS 2.6). Amós continua com a acusação
contra Israel mostrando homens que controlavam dolosamente a distribuição de
alimentos enganando o povo e se aproveitando das condições de pobreza de
alguns, reduzindo a escravidão homens e mulheres, diz o texto:
Quem dera que a Festa da Lua Nova já tivesse terminado para que
pudéssemos voltar a vender os cereais! Como seria bom se o
sábado já tivesse passado! Aí começaríamos a vender trigo de novo,
cobrando preços bem altos, usando pesos e medidas falsos e
vendendo trigo que não presta. Os pobres não terão dinheiro para
pagar as suas dívidas, nem mesmo os que tomaram dinheiro
emprestado para comprar um par de sandálias. Assim eles se
venderão a nós e serão nossos escravos! (AMÓS 8.5-6, NTLH)
O capitulo três do livro do profeta Malaquias, usado comumente nos discursos
religiosos, de evangélicos protestantes, hoje a respeito do dizimo, Deus se mostra
mais uma vez julgando o povo de Israel. O motivo? Desvio de conduta moral e
religiosa, opressão e falta de auxilio aos necessitados. O versículo 10 desse capítulo
Deus ordena que os dízimos sejam entregues para que haja mantimento, alimentos,
que eram empregados ao sustento não só de sacerdotes e levitas, mas para os
necessitados como viúvas, órfãos e estrangeiros, pois era o que a lei determinava e
pode ser conferido em Deuteronômio 14.28,29 e 26.12,13.
A seguir daremos um breve detalhamento dos socialmente desfavorecidos no
antigo testamento.
3.2OS DESFAVORECIDOS DA ANTIGUIDADE SEGUNDO O A.T.
No antigo testamento ou Torá, que significa literalmente instrução e constitui a
base de duas das maiores religiões monoteísta do mundo, Cristianismo e Judaísmo,
Deus mostra a necessidade de haver disposição em ajudar ao necessitado. A
teologia veterotestamentária trata de temas como: exclusão social, pobreza,
desigualdades e as responsabilidades do ser humano como individuo diante desses
temas e como devem agir em suas ações para estarem moralmente corretos.
34
As leis dos hebreus servem de fonte detalhada de como eram suas
legislações econômicas e sociais, além de formarem a ordens dos cultos religiosos e
suas atribuições especificas para sacerdotes e para o povo em geral. Além das leis,
havia também profetas que lutavam contra a opressão e desvios sérios de condutas
do povo, dos religiosos e dos lideres contemporâneos.
A necessidade de ensinar o povo a respeito da contribuição, da generosidade,
do amor ao próximo fica clara, em alguns casos, onde há uma espécie de
recompensa para os que assim agem (cf. Salmos 41.1; Provérbios 14.21), “essa
questão foi muito enfatizada no judaísmo” 36
, e os pobres, necessitados de uma
maneira em geral eram alvo de misericórdia, compaixão e piedade.
Começamos a entender os fundamentos bíblicos para a questão social
humana quando olhamos para o livro do Gênesis, no ato criatório de Deus, quando o
homem e a mulher, ao serem criados, recebem a missão celestial de cuidar da terra,
dos animais, plantas e da família, que foi a primeira estrutura social, que iriam surgir.
O argumento bíblico básico encontrando em Gênesis, é que Deus “criou o homem a
sua imagem e semelhança” (Gênesis 1.26) e como imagem de Deus o homem não
deveria viver de forma indigna, as diferenças sociais em princípio, e assim fica
subentendido, não existiriam se não fosse à queda do ser humano desrespeitando o
direcionamento divino.
Ainda voltado para o livro de Gênesis encontramos um exemplo expressivo
da preocupação de Deus com a situação social do homem, a partir do capítulo trinta
sete, do referido livro bíblico, encontramos a história de um jovem chamado José,
filho de Jacó, que após ser vendido como escravo pelos seus próprios irmãos foi
levado para o Egito. Depois de muitos acontecimentos, José foi parar numa prisão,
onde teve o privilegio de revelar o sentido de um sonho para o faraó, sonho esse
que relatava um período de abundância e fome no Egito. Durante esse período o
Egito sobrevive e os familiares de José, também, não sofrem com a fome que
ocorreu.
O livro de Êxodo revela outra forte prova da preocupação divina com a
situação social. A história narrada sobre êxodo hebreu, os descendentes de José
que haviam ficado em Israel, depois de uma explosão demográfica desse povo,
36
CHAMPLIN, Russel Norman, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia (H-L). São Paulo:
Hagnos, 2001, p. 675.
35
começaram a sofrer com o reinado de um novo faraó, que passou a oprimir e afligir
esse povo. (cf. Êxodo 1.1-3.22). O povo passa viver de maneira sub-humana:
...então, os egípcios, com tirania, faziam servir os filhos de Israel e
lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro, e em
tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o serviço em que
na tirania os serviam. O rei do Egito ordenou às parteiras hebreias,
das quais uma se chamava Sifrá, e outra, Puá, dizendo: Quando
servirdes de parteira às hebreias, examinai: se for filho, matai-o; mas,
se for filha, que viva. (ÊXODO 1.15-18).
Diante dessa problemática, Deus intervém:
Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito; os filhos de Israel
gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor
subiu a Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua
aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó. E viu Deus os filhos de
Israel e atentou para a sua condição. (ÊXODO 2.23-25, GRIFO
NOSSO).
O fato de Deus intervir mostra claramente que a degradação do ser humano e
a falta de dignidade deste são realidades que precisam de mudanças. Mais adiante,
especificamente, nas ordenanças feitas por Deus a Moisés, e que são relatadas por
todo Pentateuco, encontramos o direcionamento de Deus em relação a um estado
social estável. A lei divina no antigo testamento serve como fundamento para a
ordem social.
A seguir daremos um breve resumo de algumas ordenanças, que se referem
às questões sociais citadas no antigo testamento assim como alguns exemplos de
ações e ordenanças divinas e as atitudes humanas, ora positivamente e ora
negativamente, ante essas ordenanças.
3.2.1 TRATAMENTO AO ESTRANGEIRO.
Os estrangeiros (gentio, não israelita) não deveriam ser maltratados, nem
explorados. Jeová devota-lhes amor e os hebreus, também, deviam amá-los e
cuidar desses estrangeiros. (cf. Deuteronômio 10.18,19). O argumento divino para
que os hebreus agissem assim era simples: “Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes
estrangeiros na terra do Egito.” (DEUTERONÔMIO 10.19).
36
Na lei judaica, presente em Deuteronômio 27.19, se algum judeu oprimisse
algum adventício era amaldiçoado pela própria lei divina. A sobrevivência digna para
o estrangeiro era assegurada por lei, se não conseguisse sustentar-se não poderia
estar reduzido a uma condição de marginalidade social (cf. Levítico 25.35), as
colheitas “nos campos, nas vindimas e olivais não poderiam ser de todo colhido
após o varejamento, deviam sobrar alguns frutos daquela colheita afim de que os
estrangeiros pudessem respigar alguma coisa deixada37
”, o fato de os lavradores
deixarem algumas respiga dava ao estrangeiro a oportunidade de juntar alimentos
de uma forma digna e não mendigar.
A pesquisa textual focada no Pentateuco leva-nos entender outro fator
importante: a lei torna iguais, perante ela, estrangeiros e nativos. “Como o natural,
será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós
mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”
38
. (cf. Êxodo 14.29; Levítico 24.22; Números 9.15; Números 15.16). A discriminação
racial não poderia ocorrer, haja vista a ordenança de Deus em tratar o estrangeiro
com respeito e amor. O hebreu foi advertido por Deus para não perverter os direitos
dos não hebreus. (cf. Deuteronômio 27.19).
Outro tratamento interessante é que ao realizar algum empréstimo para o
estrangeiro não era permitido a pratica de usura (cf. Levítico 25.35-37), também,
este ao trabalhar deveria receber “seu salario antes do pôr-do-sol”
39
.
Jó40
, enquanto questionava Deus, mostra claramente como um cidadão
exemplar, também cuidava dos estrangeiros: “nunca deixei um estrangeiro dormir na
rua; os viajantes sempre se hospedaram na minha casa.” (Jó 31.32).
Há alguns exemplos de estrangeiros que tiveram êxito no antigo testamento,
a ex-prostituta de Canaã Raabe (Josué 2) , o soldado hitita Urias (1Samuel 11), Rute
a moça moabita (Rute 1-4), Ornã o jebuseu (1 Crônicas 20), entre outros, deixando
claro que os imigrantes, não formam esquecidos por Deus e nem pela lei.
37
CROSTTI, Nicolleta, Amara ao estrangeiro, Fundação Betânia, Caderno 17, 2010.
Disponível em: <http://www.fundacao-
betania.org/biblioteca/cadernos/pdf/Caderno_17_Amaras_o_estrangeiro.pdf>. Acesso em
07/02/13.
38
Levítico 19.34
39
Texto de Deuteronômio 24.15 ARA.
40
Personagem do livro veterotestamentário que leva o mesmo nome, onde narra a trágica
história de um homem que sofre com o mal, mais por fim tem o seu sofrimento transformado
em bem-aventuranças.
37
Nos Salmos 94.1-10 contidos no antigo testamento os autores em alguns
casos clamam por justiça, destacamos um trecho a seguir:
Ó SENHOR Deus, a quem a vingança pertence, ó Deus, a quem a
vingança pertence, mostra-te resplandecente! Exalta-te, tu, que és
juiz da terra; dá o pago aos soberbos. Até quando os ímpios,
SENHOR, até quando os ímpios saltarão de prazer? Até quando
proferirão e dirão coisas duras e se gloriarão todos os que praticam a
iniquidade? Reduzem a pedaços o teu povo, SENHOR, e afligem a
tua herança. Matam a viúva e o estrangeiro e ao órfão tiram a vida.
E dizem: O SENHOR não o verá; nem para isso atentará o Deus de
Jacó. Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis
sábios? Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? E o que formou o olho,
não verá? Aquele que argui as nações, não castigará? E o que dá ao
homem o conhecimento, não saberá? (ARC, GRIFO NOSSO).
Os livros dos profetas também tratam de questões ligadas aos estrangeiros
ora denunciando os hebreus de não cumprirem a lei divina, extorquindo e colocando
os adventícios numa condição social lastimável, ora dando-lhes esperança
mostrando que o Deus de Israel não se esqueceria dos estrangeiros.
O profeta Isaías, por exemplo, fala que o estrangeiro não seria discriminado
(cf. Isaías 56.3,6). Jeremias fala que uma das condições para se cumprir uma
promessa para os hebreus, estes deviam cuidar dos estrangeiros (cf. Jeremias 7.1-
7), e, ainda em Jeremias, os hebreus são convocados a executar o direito e a
justiça, “... não oprimindo o estrangeiro...” (Jeremias 22.3). O profeta Zacarias e o
profeta Malaquias, também, clamam contra a opressão imposta a estrangeiros (cf.
Zacarias 7.10; Malaquias 3.5).
O entendimento formado a partir do antigo testamento no que tange ao
estrangeiro, no mínimo deve ser o de respeito, direito a uma vida digna, emprego
não exploratório e que não haja discriminação para os adventícios existentes.
3.2.2 VIÚVAS
As viúvas não deviam ser maltratadas, antes deviam ser acolhidas e
protegidas.
Os filhos homens primogênito, em caso de morte do pai, via regra assumiam
a responsabilidade pela família, quando tinha idade para isso. A lei protegia a viúvas
e as permitiam voltar à casa de seus pais. A filha de um sacerdote, em caso de
viuvez, poderia usufruir dos dízimos. (cf. Levítico 22.13). As viúvas que não fossem
38
filhas de sacerdotes e que não dispunham de meios de sustento ou que sua família
não tivesse recursos financeiros suficientes, como por exemplo, Judite41
que
dispunha de bens deixados pelo esposo Manasses, suficientes para uma
sobrevivência digna (Tobias 1.8). Havia uma lei especifica que dava o direito da
rebusca nos campos, olivais e vinhedos (cf. Deuteronômio 24.19-21) e nas festas
que ocorriam todos os anos podiam participar livremente dos banquetes (cf.
Deuteronômio 16.10-14). A cada três anos podiam compartilhar dos dízimos que
eram contribuídos pela nação (cf. Deuteronômio 14.28,29; 26.12,13).
Havia outra lei que dava o direito à viúva que não tivesse filho. Ela poderia
pedir ao seu cunhado para gerar filho, dando continuidade a linhagem do falecido, lei
que ficou conhecido como “levirato”. Os filhos eram muito importantes na cultura
oriental hebreia, eles ajudavam a família no trabalho, e no caso das viúvas
poderiam, também, ajudar nas colheitas (Deuteronômio 25.5-10), daí a necessidade
de filhos e a aceitação de algumas mulheres gerarem um filho de seu cunhado.
O exemplo contido no livro canônico de Rute mostra uma época conturbada
de problemas sociais agudos, onde uma moça estrangeira casa-se com um hebreu
e vivia com sua sogra Noemi. Após a morte de seu esposo, sua sogra decidiu voltar
a sua terra natal. Noemi então segue junto com a sua sogra à Belém (cidade natal
de sua sogra) onde enfrenta muitas dificuldades, nesse contexto vemos a lei
referente as viúvas sendo cumprida em dois contextos diferente.
O primeiro exemplo bíblico do cumprimento dessa lei no livro de Rute é a lei
da “rebusca42
”, onde Rute passa buscar as sobras das colheitas no campo:
Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei
espigas atrás daquele que mo favorecer. Ela lhe disse: Vai, minha
filha! Então, disse Boaz a Rute: Ouve, filha minha, não vás colher em
outro campo, nem tampouco passes daqui; porém aqui ficarás com
as minhas servas... Então, lhe disse a sogra: Onde colheste hoje?
Onde trabalhaste?... Bendito seja aquele que te acolheu
favoravelmente! E Rute contou a sua sogra onde havia trabalhado e
disse: O nome do senhor, em cujo campo trabalhei, é Boaz (RUTE
2.2,8, 19).
O segundo exemplo é o fato de Rute casar-se com Boaz, cumprindo a lei que
permitia o novo casamento com algum parente do esposo falecido, como citado em
Rute 4.5 a seguir: “Disse, porém, Boaz: No dia em que tomares a terra da mão de
41
Citada no livro deuterocanônico de Tobias 1.8.
42
Ato ou efeito de rebuscar, apanhar frutos que ficaram após a colheita, respigar.
39
Noemi, também a tomarás da mão de Rute, a moabita, mulher do falecido, para
suscitar o nome do falecido sobre a sua herdade”.
No livro sapiencial Jó do antigo testamento existe exemplos de como as viúva
deveriam ser tratadas por todo bom cidadão hebreu que seguiam as leis. (cf. Jó
22.9; 24.3,21; 27.15; 29.13; 31.16,18)
Já nos salmos Deus é chamado de “... juiz das viúvas...” 43
, e amparador,
ajudador, defensor, patrocinador das viúvas (cf. Salmos 146.9). O clamor pela justiça
também faz ressoar a opressão que as viúvas sofriam com as desigualdades e
exclusões sociais que existiam (cf. Salmos 94.1-10). No livro dos Provérbios Deus é
aquele que mantém a “herança das viúvas” 44
.
Os “grandes e pequenos” 45
profetas por várias vezes relembram o povo do
cuidado que os líderes religiosos e seculares de seu tempo deveriam assumir com
as viúvas. O profeta Isaías convoca a todos para que “as causas das viúvas” 46
fossem defendidas, a opressão é denunciada quando legisladores criam leis que
negam a justiça às viúvas (cf. Isaías 10.1-2).
Deus, no livro de Jeremias promete tornar prospera a nação de Israel com
algumas condições, dentre elas, “não oprimir as viúvas” (cf. Jeremias 7.1-7; 22.3).
Ainda, no mesmo livro, Deus desafia as viúvas a confiarem nele (cf. Jeremias 49.11).
Já o profeta Ezequiel afirma que a causa de alguns males sociais, dos quais
os direitos das viúvas são negligenciados, se deve ao fato de falsos profetas que se
aproveitam da fé para extorquir o povo e de lideres religiosos que infringem a lei
para beneficio próprio, e de príncipes que lucram desonestamente (cf. Ezequiel 22.1-
29). Os profetas Zacarias e Malaquias, denunciam a opressão imposta às viúvas (cf.
Zacarias 7.10; Malaquias 3.5).
Fica claramente evidenciado que as viúvas são de fato lembradas e
amparadas pelas leis, pelos profetas e pelo próprio Deus no antigo testamento.
3.2.3 ÓRFÃOS
43
Salmos 68.5.
44
Provérbios 15.25.
45
Denominação dada aos grandes e pequenos livros escritos pelos profetas
veterotestamentário.
46
Isaías 1.17,23.
40
A legislação veterotestamentária dava direcionamento quanto ao auxilio aos
órfãos.
Não sofrer qualquer espécie de tortura, fosse ela física ou moral era o direito
básico do órfão segundo a Torah, o texto de Êxodo 22.22 mostra que o órfão não
deveria ser “afligido” 47
, era exigido de o cidadão hebreu dar alimento e roupa, e isso
era uma maneira de “fazer justiça” 48
.
Do dizimo arrecado pela nação, os órfãos, junto às viúvas, estrangeiros e
levitas, a cada três anos poderiam participar e eles poderiam participar das festas de
Israel sem constrangimentos.
A lei da sega encontrada no livro de Levítico (19.9-10; 23.22) e Deuteronômio
(23.24-25; 24.19-22) davam amparo aos que viviam nessas condições.
E o mais importante, Deus deu a ordem, ninguém poderia perverter,
transgredir ou omitir o direito dos órfãos sob a pena de maldição divina (cf.
Deuteronômio 24.17; 27.19).
Nos Salmos Deus é chamado de auxilio e protetor dos órfãos (cf. Salmos
10.14; 68.5; 146.9). Ainda nos Salmos o povo é conclamado a “fazer justiça”
ajudando aos órfãos (cf. Salmos 10.18; 82.3). No livro sapiencial dos Provérbios,
onde é exaltada a sabedoria, pede-se respeito à herança dos órfãos (Provérbios
23.10).
Os profetas do antigo testamento, por varias vezes, denunciam abusos e
exclusões que eles sofriam e em alguns casos o povo hebreu ouvia as denuncias e
profecias ligadas a esse trato social, Isaías, por exemplo, afirma que Deus já não se
agradava das ofertas, sacrifícios realizados pelos religiosos hebreus e asseverava
que eles precisavam aprender a “fazer o que é bom, tratar os outros com justiça;
socorrer os que são explorados, defender os direitos dos órfãos e proteger as
viúvas.” (Isaías 1.17 NTLH, grifo nosso).
A denúncia do profeta Isaías continua contra os líderes de sua época, que por
ganância esqueciam-se dos carentes (cf. Isaías 1.23; 10.2). Os profetas Jeremias e
Ezequiel também fazem a mesma denuncia (cf. Jeremias 5.28; Ezequiel 22.6-7) e
mostra que algumas promessas feitas pelo grande Deus de Israel estavam
47
O vocábulo hebraico para “afligir” (hne ‘anah), de acordo com STRONG tem o sentido de:
oprimido, humilhado, rebaixado, maltratado. (DICIONÁRIO BIBLÍCO STRONG, Barueri, SP,
Sociedade Bíblica do Brasil, 2002, p.198).
48
Deuteronômio 10.18.
41
condicionadas ao tratamento que os hebreus iriam dar aos órfãos (cf. Jeremias 7.6;
22.3). Já Oséias lembra que a misericórdia ao órfão vem de Deus (Oséias 14.3).
Em uma época de crises, de formação e de desenvolvimento de uma nação,
vemos o cuidado de Deus para com os órfãos.
3.2.4 ESCRAVOS
A questão da escravatura no antigo testamento e as implicações da
permissão divina para essa condição social tem sido alvo de duras críticas a esse
respeito. Não podemos negar que o homem, na estratificação social, criou classes,
castas e estamentos, que subjugou outros semelhantes a ele49
, e dentro dessa regra
alguns dentre o povo hebreu historicamente, também, participaram dessa imposição
social, não por seguir fielmente a ordem divina, mas num desvio de conduta da
ordem social imposta por Jeová.
Não é intenção nesse trecho formar uma opinião apologética sobre o fato,
mas mostrar o ensino veterotestamentário concernente ao que se refere como
escravatura permitida por Deus, e as diretrizes de como deveriam ser tratados todos
os escravos do povo hebreu. À medida que desenvolvemos o trecho ficará clara a
diferença entre o escravo para hebreu, consonante com ensinos de Jeová, e para as
demais nações.
O vocábulo hebraico para escravo (dbe “ebed”) tem o sentido de servo,
servidor, súditos e até adoradores. Verificando esse vocábulo percebemos que para
o hebreu a palavra “escravo” não soava da mesma maneira que para um grego
(“douleuw”, douleuo - ser escravo, privado de liberdade, ou “doulov”, doulos -
homem numa condição servil) ou para um romano (slavus, sclavus do latim
medieval, que significa literalmente cativo, privado de liberdade).50
No nosso
vernáculo a palavra em questão, que foi herdada do latim, leva-nos a entender
diferentemente do que a cultura judaica, inicialmente, entendia por escravo.
O escravo era proibido de sofrer maus-tratos (cf. Êxodo 21.26,27), Deus
lembra o povo de hebreu dizendo: “Lembrar-te-ás de que foste escravo no Egito e
de que o SENHOR te livrou dali; pelo que te ordeno que faças isso”.
49
VILA NOVA, Sebastião, Introdução à sociologia, 5 ed. rev e aum. : São Paulo; Atlas 2000,
p. 91.
50
HOUAISS, Antônio, Dicionário Eletrônico Houaiss, Instituto Antônio Houaiss, 2009.
Produzido e distribuído pela Editora Objetiva Ltda. Seção Dicionário Língua Portuguesa.
42
Se algum hebreu matasse um escravo seria punido (cf. Êxodo 21.20), e se
maltratasse perderia o direito de tê-lo como servo (cf. Êxodo 21.26,27), se um
animal, de algum senhor, o ferisse, esse animal deveria ser apedrejado (cf. Êxodo
21.32). O escravo recebia pagamento, com o qual poderia comprar seus alimentos e
até sua liberdade (em caso de escravos por roubos, furtos ou dividas), mas se,
enquanto escravo, este, tivesse filhos, essas crianças seriam sustentadas pelos
seus senhores (Levítico 22.11).
Se o escravo fugisse, não poderia ser devolvido para seus senhores, antes
deveria ser acolhido e não oprimido (cf. Deuteronômio 23.15-16), fica subentendido
que o escravo só fugia quando sofria algum tipo de maltrato.
Havia duas datas comemorativas em Israel onde o escravo poderia escolher
continuar com seu senhor ou viver livre, era o ano sabático e festa do jubileu. A
decisão caberia ao escravo (cf. Êxodo 21.1-5).
Para que pudesse de fato ser um escravo, este deveria se submeter a uma
exigência ante a lei, deveria ser circuncidado, tornando-se assim um professo da fé
hebreia (cf. Gênesis 17.1-27; Êxodo 12.44), e se não aceitasse tal imposição seria
devolvido a sua nação de origem.
Somente em alguns casos um ser humano escravo era forçado a trabalhar,
era o caso de um ladrão que era submetido à servidão, por não conseguir restituir
seu roubo (Êxodo 22.3), mas mesmo nessa condição receberia seu pagamento.
Se algum hebreu raptasse alguém, ou o vendesse, ou fosse achado em suas
mãos deveria ser morto (Êxodo 21.16), aqui fica clara a diferença entre escravo para
o antigo testamento e os escravos em outras nações51
.
A submissão de homens e mulheres que se tornavam escravos era devido à
condição social ou por dividas, que também os levavam a uma condição social ruim,
ressaltamos, porém, que a ordem divina não foi para fazer escravos e sim acolher
servos.
3.2.5 OS EMPRÉSTIMOS
51
http://www.monergismo.com/textos/etica_crista/biblia-defende-escravidao_GaryMar.pdf.
Acesso em 23/08/2012.
43
Grosso modo e resumindo podemos afirmar que empréstimos fazem parte da
sociedade como costumes muito antigos e que é difícil datar com precisão o inicio
desse costume.
Analisando os cinco primeiros livros da bíblia pode-se aprender muito sobre a
economia de um povo em desenvolvimento. Na civilização hebreia que estava se
formando, “os empréstimos eram essenciais para permitir que as pessoas saíssem
da pobreza” 52
, além de ser parte da responsabilidade social daquele povo. Os
empréstimos serviam para que alguns hebreus investissem em um pequeno
negócio, por mais atual que isso pareça, para suprirem suas necessidades e se
tornarem autossustentáveis.
No vernáculo hebraico existem cinco palavras para indicar o termo
empréstimo, nashah (“hvn”) que significa emprestar, ser credor, lavah (“hwl”) tomar
emprestado, nathan (“Ntn”) dar, abat (“jbe”), tomar como penhor ou dar como
penhor e sha‟al ou sha‟el (“lav”) pedir emprestado.
A prática dos empréstimos era regulamentada pela lei mosaica e visava à
ajuda aos pobres, vejamos o que um trecho bíblico diz:
Porque o SENHOR, teu Deus, te abençoará, como te tem dito; assim,
emprestarás a muitas nações, mas não tomarás empréstimos; e dominarás
sobre muitas nações, mas elas não dominarão sobre ti. Quando entre ti
houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na tua
terra que o SENHOR, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem
fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás de todo a
tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a
sua necessidade. Guarda-te que não haja palavra de Belial no teu coração,
dizendo: Vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão, e que o teu
olho seja maligno para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele
clame contra ti ao SENHOR, e que haja em ti pecado. Livremente lhe darás,
e que o teu coração não seja maligno, quando lhe deres; pois por esta
causa te abençoará o SENHOR, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo no
que puseres a tua mão. Pois nunca cessará o pobre do meio da terra; pelo
que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para
o teu necessitado e para o teu pobre na tua terra (DEUTERONÔMIO 15.6-
11)
53
.
No caso de empréstimos a lei proibia a prática de usura (cobrança de juros)
com os seus compatriotas e só era aceitável a cobrança de juros quando os
empréstimos eram feito a não hebreus (cf. Deuteronômio 15.6; 23.19-20).
52
COPE, Landa. The Old Testament Template - Rediscovering God's Principles for
Discipling, ed. 2, The Template Instituto Press, Burtigny, Suíça.May 2008, p. 39.
53
Bíblia Sagrada versão Almeida Revista e Corrigida.
44
O Pentateuco mostra um ciclo onde as dividas eram perdoadas. A cada sete
anos o devedor tinha suas dividas anuladas por seus credores. Mas não se pode
pensar que os hebreus se aproveitavam dessa lei, enganando seus credores, haja
vista que aqueles que não devolvessem os empréstimos tomados eram
considerados ímpios (cf. Salmo 37.21), e os que ultrapassam esse ciclo não
conseguindo sanar suas dividas, assim agiam por pura falta de condições (cf.
Deuteronômio 24.10-17; 15.1-6).
Encontramos nos Salmos declarações de retribuições aos que tinham como
prática o ato de emprestar como ajuda aos pobres, dando condições a estes de
minimizarem sua condição social e saírem da pobreza, veja exemplo a seguir: “O
que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente.
Quem deste modo procede não será jamais abalado.” (Salmos 15.5) e “ditoso o
homem que se compadece e empresta; ele defenderá a sua causa em juízo”.
(Salmos 112.5). Ainda nos livros conhecidos como sapienciais encontramos o apoio
dessas praticas visando o bem social (cf. Salmos 37.26; Provérbios 19.17).
O estudo bíblico cuidadoso do tema aqui esboçado leva-nos a compreender
que a prática do empréstimo de bens poderia ajudar os pobres, dando-lhes
condições de criarem um meio de renda que os ajudassem. Mas, como comentado
em alguns tópicos anteriores, e historicamente falando, existiram hebreus que
praticavam justamente o contrario do sistema de leis imposto por Deus no antigo
testamento o que acabava criando problemas sociais sérios, e em relação aos
empréstimos não foi diferente.
3.3 A POBREZA E A BÍBLIA - NOVO TESTAMENTO
O novo testamento não difere do antigo testamento em vários aspectos.
Algumas leis e vários costumes foram, no novo testamento, abolidos, mas a
responsabilidade social ante a pobreza e os efeitos colaterais causados por ela são
lembrados a todo instante. Quando permeamos os evangelhos, o livro histórico
neotestamentário, as cartas paulinas, as cartas universais e o livro da revelação
(APOCALIPSE) fica evidente o que afirmamos acima.
Olhando para a língua em que foi escrito o novo testamento (grego)
encontramos os seguintes termos para pobre e pobreza: penichros (penicrov)
significando pobre e necessitado, ptochos (ptwcov) que traz o sentido de aquele que
45
foi reduzido à pobreza, mendicância, pedinte, desamparado, indigente, destituído de
cultura intelectual que as escolas propiciam, penes (penhv) somente pobre e
husterematos (husterematov) que significa pobreza, falta ou deficiência daquilo que
se precisa, necessidade. Todos esses termos são aplicados de maneira objetiva no
novo testamento, mostrando que a pobreza jamais é esquecida por Deus.
A pregação do evangelho não veio somente para os socialmente
privilegiados, o evangelho não era uma ferramenta de libertação politica da
escravidão vivida pelos judeus como consequência da opressão romana que
dominava o mundo de então, mas, Jesus, no evangelho de Lucas 7.18-22, mostrara
que sua missão e uma das provas que ele de fato era o Messias prometido se devia
ao fato de que o evangelho estava sendo pregado aos pobres. Os socialmente
desfavorecidos não são esquecidos nas páginas do novo testamento, por isso a
igreja ou aqueles que se chamam cristãos não podem esquecê-los, e é justamente
este o proposito de nossa fundamentação teórica desse item formado a partir do
novo testamento.
O novo testamento trata da pessoa central e mais importante para o
cristianismo, Jesus Cristo. Os seus ensinos e os efeitos desses ensinos que foram
registrados servem de modelo para a igreja cristã do século XXI. O próprio Jesus em
suas palavras registradas no evangelho de João (20.21) se coloca como modelo a
ser seguido, os apóstolos imita a Cristo e incentivam os cristãos a fazê-lo também:
“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (1CORINTIOS 11.1). A
incontestável verdade é que sem a pessoa de Cristo e de seus ensinos não há
cristianismo.
Jesus era pobre. Os evangelhos registram o nascimento de Jesus em uma
família socialmente pobre. Maria e José não têm títulos e nem influência. A
afirmativa de que eles eram pobres esta registrada em Lucas 2.23-24 (você pode
comparar com Levítico 12.8), onde durante a consagração de Jesus eles levam um
casal de pombos, mostrando a falta de condições de oferecer um sacrifício de um
animal maior, um cordeiro por exemplo. Jesus nasceu numa manjedoura, não num
palácio, como acreditavam alguns em sua época.
A cidade natal de Jesus, Belém, talvez nunca tivesse a notoriedade que tem
hoje se ele não tivesse nascido lá. A infância e adolescência de Cristo foram vividas
em outra cidade subdesenvolvida, a cidade de Nazaré, mais tarde um homem
chamado Natanael duvida de Jesus quando toma conhecimento de sua cidade: “De
46
Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (JOÃO 1.46). A entrada de Jesus em
jumentinho narrada no evangelho de Mateus 21.1-16, mostra o estilo que ele trazia
consigo. Carlos Queiroz (1998) diz que Cristo era um tipo de rei que afrontava os
modelos estratificados da sociedade. A profissão de seu pai, carpinteiro, revela outra
parte da realidade social vivida por Jesus. Durante seu ministério dependeu de um
grupo de mulheres que o sustentava e não possuía um lar (Lucas 8.2 e 9.58).
Os judeus de seu tempo atribuía a pobreza a uma espécie de maldição divina
e a riqueza como evidência da benção do divino. O estilo de vida de Cristo contradiz
esse paradigma judeu, afinal Cristo vive sem pecados e mesmo assim assume uma
condição de pobreza. Porém, a pobreza não deve ser encarada, biblicamente, como
uma virtude, mas, como um mal a ser eliminado e com o qual Deus mostra profunda
preocupação.
A missão de Cristo é afirmada por ele quando, citando Isaías 61.1-2, diz:
O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para
evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos
cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os
oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.
Note que o texto diz claramente que uma das prerrogativas ministeriais de
Cristo era a anunciação do evangelho aos pobres. Isso também foi confirmado
quando Cristo afirma a João Batista, em Lucas 7.22, que “aos pobres é anunciado o
evangelho”. Os discípulos escolhidos por Jesus eram pobres. O estilo de vida de
Jesus e a escolha de seus discípulos coadunam com o ensino registrado em Tiago
2.5: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são
pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o
amam?”.
Ele conviveu com pecadores e publicanos, acolheu os pobres, libertou
mulheres que se prostituiam, curou aqueles que viviam as margens da sociedade,
ensinou a estrangeiros discriminados pelo seu povo, como o caso da mulher
samaritana (JOÃO 4.1-30). Até em sua morte podemos ver seu estilo de vida, ele
não tinha um tumulo para ser sepultado, e só o teve pela generosidade de um
homem rico chamado José de Arimatéia. Isso nos remete ao que o apóstolo Paulo
escreveu em 2 CORÍNTIOS 8.9: “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus
47
Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza,
vos tornásseis ricos”.
Houve dois homens ricos que foram ao encontro de Jesus, o primeiro um
jovem riquíssimo que ouviu que deveria vender tudo o que tinha e dar aos pobres e
depois seguir a Cristo (LUCAS 18.22,23), mas não conseguiu faze-lo. No celebre
sermão do monte Jesus fala que não se pode servir a Deus e as riquezas (MATEUS
6.24), nesse sentido as riquezas para o cristão, de acordo com ensino de Cristo,
deve estar a favor dos homens e nunca contra os homens, ela deve ajudar e não
separar, o desprendimento em relação à riqueza e aos bens materiais é necessário
para que haja justiça, e essa justiça deve ser praticada por aqueles que querem
seguir a Cristo.
Em outros textos, Jesus da à mesma ênfase que foi dada ao jovem rico,
Lucas 12.33 e 14.33 indicam que a riqueza não pode ser um empecilho, um óbice,
para aqueles que querem se tornar discípulos de Cristo. Outro pensamento extraído
destes textos é que as riquezas não devem servir de bens para desfrute de
pequenas massas egoístas, mas devem servir de bem comum à humanidade,
suprindo a necessidade de todos igualmente.
A visão de posses de acordo com o pensamento de Cristo difere dos padrões
vividos por muitos cristãos de hoje. O segundo homem foi Zaqueu, que trabalhava
na cobrança de impostos, após encontrar-se com Jesus decide doar metade de seus
bens aos pobres. A atitude de Zaqueu leva a declaração de Cristo “hoje veio
salvação a esta casa”, ao que o texto denota o sinal de conversão foi o
desprendimento em doar, em ajudar.
No evangelho de Mateus 25. 35-45 Jesus afirma que um dos critérios usados
por Deus no julgamento, se dará com base nas atitudes do homem em relação ao
socialmente desfavorecidos. A atitude correta, de acordo com esse trecho, é saciar a
sede dos sedentos, saciar a fome dos famintos, vestir os que estão nus, dar abrigo
aos estrangeiros, prestar auxilio aos enfermos e encarcerados. Em suma Jesus
Cristo se fez pobre, pregou aos pobres, se doou aos pobres e ensinou a atitude
correta que devemos ter diante dos pobres.
Os pobres foram alvo das mensagens de Cristo veja o que evangelista Lucas
registrou: “então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados
vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (LUCAS 6.20). Não podemos negar
o cuidado de Cristo para com o pobre, mas e a igreja? Será que em seus primórdios
48
houve a mesma compaixão, a mesma visão? Os continuadores da propagação do
evangelho levaram a mesma mensagem de amor ao próximo e cuidado aos
desfavorecidos? Indubitavelmente, podemos afirmar que a igreja primitiva54
e os
discípulos de Cristo continuaram o legado de amor, respeito e ajuda aos pobres.
Continuamos nossa pesquisa através dos livros neotestamentários. O livro
histórico do novo testamento, Atos dos apóstolos ou simplesmente Atos, trata da
formação da igreja e da continuidade da pregação da mensagem de Cristo pelos
seus discípulos. Em meio a perseguições e acontecimentos surpreendentes a igreja
cristã começa a ser formada. O inicio da igreja é marcado por um profundo zelo pela
pureza da mensagem cristã, pela tarefa árdua de anunciação dessa mensagem e
pela prática incansável e indelével da igreja para aplicar a mensagem de Cristo
integralmente.
Os textos de Atos 2.42-45 e 4.32-35 mostra o modo de como os primeiros
cristãos viviam. A visão do bem comum, onde todos os bens pertenciam a todos, era
aplicada, os primeiros cristãos não visavam individualmente suas propriedades, mas
os bens pertenciam à generalidade, é o que o adjetivo grego para comum moinhos
(koinov), que aparece no verso 44, exprime. O trecho de 4.32-35 revela um tipo de
sentimento que havia entre os neófitos e os cristãos de fé arraigada, havia
unanimidade, os bens deveriam servir a todos, eles dividiam uns com os outros tudo
que eles tinham, e o resultado desse tipo de sociedade é expresso no verso 34 e 35,
onde fica visível a eliminação da pobreza:
Não havia entre eles nenhum necessitado, pois todos os que tinham
terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o entregavam aos
apóstolos. E cada pessoa recebia uma parte, de acordo com a sua
necessidade (NTLH).
Ressaltamos que essa comunidade cristã não agia dessa forma por obrigação
ou exigências impostos pelos apóstolos, como aconteceu com os essênios que
repartiam seus bens por uma imposição legalista, mas simplesmente pela
mensagem cristã que havia sido assimilada pelos novos conversos, o ensino de
amor ao próximo finalmente é expresso na sua totalidade, afinal o desprendimento
em favor do necessitado acontece, e qual maior prova de amor ao próximo se não a
54
Igreja Primitiva – Alusão a formação histórica da igreja cristã, ocorrida no período de 30
d.C até a permissão da religião cristã pelo imperador romano Constantino e oficialização
pelo imperador Teodósio no terceiro século.
49
coragem de dividir e se doar a seu favor. Contudo a liberdade de escolha individual
foi preservada como exposta em Atos 5.4. A vida na igreja primitiva valoriza o ser
humano. Os bens, a propriedade privada, o desejo de acumulo de bens são
trocados por uma vivencia real e concreta de uma comunhão ímpar. O mero ideal
teórico de uma sociedade justa é experimentado, pelo menos por algum tempo, de
forma real. Esse não era um novo modelo de sociedade como assevera Boor
(2003):
Os terrenos e as casas continuavam sendo propriedade inviolada de
cada um. Mas ninguém se arvorava em seu direito de propriedade e
defendia seu patrimônio. Aqui não se ensaiava um novo modelo
social, nem se definia um novo conceito de propriedade. Aqui a
posição interior era completamente nova. Essa atitude repercutia em
todos, tanto naqueles que, como Maria, a mãe de João Marcos (At
12.12), conservou sua grande casa, a fim de torná-la útil de outro
modo para os irmãos, e também naqueles que, como Barnabé, de
fato venderam seu terreno. “Tudo lhes era comum”, ou como também
poderíamos traduzir: Consideravam tudo como propriedade comum
55.
A preocupação era evidente na igreja, era o amor ao próximo e o cuidado
com os necessitados era uma faceta normal do discipulado cristão. Mas a jovem
igreja começa a enfrentar problemas de cunho social, Atos 6.1-7 narra o começo de
um favoritismo na distribuição de donativos que ocorria diariamente no seio da
igreja. Os helenistas56
estavam sendo esquecidos e os hebreus favorecidos. A
narrativa mostra que os apóstolos convocaram uma reunião com um fim específico,
a resolução deveria ser pronta e não poderia continuar com favoritismo e que os
necessitados pudessem ser atendidos em suas necessidades igualmente. O mal
estar foi resolvido, eles elegeram sete homens que ficaram responsáveis de
administrar o fundo dos bens, garantir equidade na distribuição de alimentos para os
empobrecidos. Esses homens ficaram conhecidos como diáconos, pessoas que, em
virtude do ofício designado a eles pela igreja, cuidavam dos pobres e tinham o dever
de distribuir o dinheiro coletado para uso destes.
Fica patente que mesmo em meio a problemas surgidos na igreja primitiva, os
pobres não deveriam ficar em esquecimento. A função diaconal empregada em
alguns núcleos religiosos no seio protestante, em nada se assemelha com o papel
55
Boor, Werner de, Atos dos Apóstolos, Curitiba, Editora Evangélica Esperança, 2003, p.49.
56
Os helenistas eram judeus advindos de países ocidentais, os quais haviam adquirido um
pouco da cultura grega e falavam grego.
50
desempenhado pelos primeiros diáconos. A diaconia serve, biblicamente, como um
órgão estruturado e ativo na ajuda aos pobres, dentro da igreja. Cabe ao diácono
identificar, apontar, levantar fundos e ajudar os necessitados, fazendo isso estará
“servindo a mesa” como foi instruído pelos apóstolos de Cristo. Destacamos o verso
3 do capitulo 6, os discípulos atribuem a essa função um papel importantíssimo, e o
chamam de “... sobre este importante negócio” (ARC).
Há um exemplo impressionante do livro Atos 9.36 onde é lembrada uma
mulher cristã chamada Tabita, a bíblia expõe que essa mulher “... usava todo o seu
tempo fazendo o bem e ajudando os pobres...”, ao que o texto traz, recebia uma
grande admiração por parte das viúvas. Já o capitulo 10 fala de um homem piedoso
chamado Cornélio, oficial do exercito romano, que continuamente ajudava aos
socialmente desfavorecidos, se antecipava e se apressava em ajudar. E mais a
frente, no capítulo 11, um profeta chamado Ágabo previu uma grande fome, diante
disso a igreja de Antioquia, ao invés de pensarem em si, se uniu para enviar socorro
aos irmãos que moravam na Judeia.
O livro de Atos traz mais um princípio muito interessante, o de “dar é melhor
que receber” (ATOS 20.35), o apóstolo Paulo registra nesse trecho que Cristo havia
dito e diante disso se fazia necessário socorrer os necessitados. O verbo grego
utilizado nesse trecho (didwmi) tem o sentido de suprir, dar algo de livre e
espontânea vontade, ser profuso, ter prodigalidade ou simplesmente doar-se. A
entrega sem espera de retorno contradiz os ditames das relações humanas. O
auxilio aos necessitados é uma exigência divina e deve ser feito com esforço.
A igreja primitiva rompe as barreiras do nacionalismo, por mais que seus
inauguradores fossem judeus, a igreja estaria aberta a todos. Não poderia haver
favoritismo, os pobres não poderiam ser esquecidos, a mensagem cristã deveria ser
preservada e as dificuldades existentes eram vencidas pela comunhão vivida por
seus membros.
O pensamento dos apóstolos descrito nas cartas ou epístolas também
expressa o cuidado com os necessitados. O apóstolo Paulo, autor da maior parte
das paginas neotestamentárias, por exemplo, revela um profundo amor e cuidado
pelo próximo. Uma parte da teologia paulina que esta expressada em 1Coríntios
1.26, 27, 28 fala de como os padrões divino difere dos padrões humanos, a escolha
divina começa com os desprezados, humildes, fracos. Para Paulo a pobreza não
pode separar o homem do amor de Deus (ROMANOS 8.35 NTLH), o serviço que
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A prática social bíblica e as igrejas evangélicas da cidade de parnaiba – pi

  • 1. LEGIÃO DO BOM SAMARITANO- LBS INSTITUTO DE FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO TEOLÓGICA-IFETE GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA A PRÁTICA SOCIAL BÍBLICA E AS IGREJAS EVANGÉLICAS DA CIDADE DE PARNAIBA – PI OAIDSON BEZERRA E SILVA SOBRAL – CE 2013
  • 2. OAIDSON BEZERRA E SILVA A PRÁTICA SOCIAL BÍBLICA E AS IGREJAS EVANGÉLICAS DA CIDADE DE PARNAIBA – PI Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Teologia no Curso de Bacharelado em Teologia, a Faculdade de Educação Teologia, sob a orientação da Professora Maria Aurioneida Carvalho Fernandes. SOBRAL – CE 2013
  • 3. OAIDSON BEZERRA E SILVA A PRÁTICA SOCIAL BÍBLICA E AS IGREJAS EVANGÉLICAS DA CIDADE DE PARNAIBA – PI Monografia apresentada para obtenção do grau de Bacharel em Teologia. Qualquer citação apresentada nesse trabalho atende as normas da ética cientifica. OAIDSON BEZERRA E SILVA Monografia aprovada em ___/___/___. _________________________________________________ 1ª Examinadora Prof.ª. _______________________________ __________________________________________________ 2ª Examinadora Professora ____________________________ ___________________________________________________ 3º Examinador Prof. __________________________________ __________________________________________________ SOBRAL – CE 2013
  • 4. A Deus por te me dado o dom da vida e uma porção de sabedoria para entender Sua palavra. A minha esposa, que sempre esteve ao meu lado me apoiando. A minha família, a igreja de Cristo que vive nos quatro cantos da terra e a todos que de coração acreditam que a mensagem cristã pode mudar paradigmas e transformar o homem e a sociedade. Dedico
  • 5. Concluir um trabalho de pesquisa não é uma tarefa fácil. Sem ajuda, então, seria impossível. Nessa missão agradeço a Deus fiel companheiro que, mesmo em minhas angustias, não me desamparou e, gratuitamente, me presenteou com o anseio pelo conhecimento. A minha amada esposa que com muita paciência me ajudou nessa tarefa. A minha família que me proporcionou a possibilidade de estar onde estou hoje. Agradeço, ainda, aos meus mestres que ao longo dessa jornada, chamada vida, tornou a busca pelo conhecimento prazerosa e desejável. Muito obrigado.
  • 6. “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” (LUCAS 4.18,19)
  • 7. RESUMO Responder sobre mazelas que assolam o ser humano não é uma tarefa fácil. A presente pesquisa teve por objetivo responder a questão dos problemas sociais e a tarefa da igreja cristã parnaibana ante a realidade. Conhecer se as igrejas evangélicas contribuem de forma contundente e intencionalmente para que a sociedade seja transformada e tenha suas dificuldades de alguma forma reduzida, foi o cerne de nossa pesquisa. A bíblia foi analisada na perspectiva do tema, assim como a historia cristã e alguns teólogos da atualidade. Para o êxito de tal intento foi realizado uma pesquisa de campo com os participantes das igrejas evangélicas de Parnaíba a fim de descobrir se estas realmente são cumpridoras integrais do evangelho do reino apregoado pela figura central do cristianismo. O trabalho alcançou o objetivo que inicialmente propôs-se a realizar. As igrejas pesquisadas não possuem um trabalho social estruturado e com raízes firmes. Ainda falta o incentivo através do ensino bíblico do tema nessas igrejas. A falta de interesse dos líderes de algumas igrejas em participar na pesquisa e de vários adeptos das igrejas, foi de fato surpreendente. A pesquisa mostra que as igrejas podem e devem contribuir de forma efetiva para sociedade, e que isso não transformaria as igrejas em órgãos puramente assistencialistas e que perderiam sua essência religiosa de relação com o divino, antes estariam cumprindo a missão a que foram designadas. PALAVRAS-CHAVE: Pobreza. Desigualdade. Nordeste. Ação social. Missão Integral.
  • 8. ABSTRACT Reply on ills plaguing the human being is not an easy task. This research aimed to answer the question of social problems and the task of the Christian church against parnaibana reality. Knowing that the evangelical churches contribute forcefully and intentionally so that society is transformed and has its difficulties was somehow reduced the core of our research. The bible was analyzed from the perspective of the subject, as well as the history and some Christian theologians today. For the success of this endeavor was conducted field research with participants of the evangelical churches of Parnaíba to find out if these are really compliant full gospel of the kingdom proclaimed by the central figure of Christianity. The work has achieved the goal they initially set out to accomplish. The churches surveyed do not have a social work structured with firm roots. Still lack the incentive through the biblical teaching of the subject in these churches. The lack of interest of the leaders of some churches to participate in research and several supporters of the churches was indeed surprising. Research shows that churches can and should contribute effectively to society, and it would not turn churches into purely welfare agencies that would lose their religious essence of relationship with the divine, before they would be fulfilling the mission to which they were assigned. KEYWORDS: Poverty. Inequality. Northeast. Social Action. Integral Mission.
  • 9. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................12 CAPÍTULO 1 METODOLOGIA DA PESQUISA ..................................................................14 1.1 Métodos utilizados na pesquisa .....................................................................................14 1.2 Contexto empírico..........................................................................................................15 1.3 Instrumentos utilizados na pesquisa ..............................................................................16 CAPÍTULO 2 REALIDADE SOCIAL HODIERNA ...............................................................17 2.1 Realidade social no mundo e no Brasil ..........................................................................17 2.2 Exclusão social no nordeste e no Piauí..........................................................................21 2.3 Realidade social em Parnaíba .......................................................................................23 CAPÍTULO 3 AÇÃO SOCIAL E A BÍBLIA E A HISTORIA CRISTÂ ...................................24 3.1 A pobreza e a Bíblia: Antigo Testamento ...................................................................... ............................................................................................................................................26 3.2 Os desfavorecidos da antiguidade segundo o Antigo Testamento.................................33 3.3 A pobreza e a Bíblia: Novo Testamento.........................................................................44 3.4 O pensamento social na historia do cristianismo............................................................54 3.5 O pensamento social e a igreja evangélica no Brasil hodierno.......................................66 CAPÍTULO 4 A REALIDADE DAS IGREJAS EVANGÉLICAS PARNAIBANAS (analisando os dados coletados) .........................................................................................................70 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................75 REFERÊNCIAS...................................................................................................................76 APÊNDICES........................................................................................................................81 Apêndice I - Instrumento de Coleta de Dados (liderados) ...................................................83 Apêndice II - Instrumento de Coleta de Dados (líderes) ......................................................83
  • 10. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS A.C. – Antes de Cristo. AD – Assembleia de Deus D.C.- Depois de Cristo. ARA - Almeida Revista e Atualizada. ARC- Almeida Revista e Corrigida. A.T – Antigo Testamento. BJ - Bíblia Jerusalém. DITAT - Dicionário de Teologia do Antigo Testamento. DSI - Doutrina Social da Igreja. FAO - Food and Agriculture Organization. FLT- Fraternidade Latino Americana. IB- Igreja Batista IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IDM- Igreja de Deus Missionaria. N.T – Novo Testamento. NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje. OMS- Organização Mundial de Saúde. ONU- Organização das Nações Unidas. PMA- Programa Alimentar Mundial. PNAD- Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios. UNAIDS- Nações Unidas sobre a AIDS. UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. T B- Tradução Brasileira. V. T – Velho Testamento. Vers. – versículos.
  • 11. INTRODUÇÃO A realidade cruel das diferenças sociais são a causa de todo tipo de degradação. As instituições cristãs protestantes, na tentativa de contextualizar a fé e trazer repostas aos dilemas do homem moderno, têm levantado diversas questões que ultrapassam o campo da fé religiosa em si. O drama das famílias que não possuem o que é básico a sua sobrevivência, fazendo-as viver a margem da sociedade, é o fator crucial para a pesquisa levantada nesse trabalho. Esse trabalho teve por objetivo analisar a prática social bíblica e a realidade das igrejas evangélicas na cidade de Parnaíba. Para tanto, foi analisado o principal livro dos cristãos (a Bíblia) assim como alguns exemplos históricos daqueles que são considerados lideres-exemplos para o cristianismo no decorrer da historia cristã e alguns teólogos da contemporaneidade. O objetivo geral dessa pesquisa é observar se os participantes das igrejas evangélicas pesquisadas tem o conhecimento bíblico do referente tema e se esse conhecimento é de fato praticado no convívio religioso desses adeptos. Já o objetivo específico é apontar quais igrejas tem de fato contribuído de forma efetiva para sociedade parnaibana pela prática social e levantar uma série de argumentos teológicos e bíblicos para a prática social e servir de alerta e voz daqueles que “tem sede de justiça” 1 . O procedimento metodológico utilizou o levantamento bibliográfico, onde foi discutido o tema através da bíblia, historia cristã e alguns teólogos contemporâneos a respeito da questão da pobreza, desigualdade e participação social dos seguidores do cristianismo. Foi utilizado também o método de pesquisa de levantamento onde foi aplicado um questionário para participantes das diversas igrejas evangélicas em Parnaíba, Piauí. A monografia encontra-se estruturada em quatro capítulos além dessa introdução. No primeiro capítulo, apresenta-se a metodologia do trabalho, no segundo capítulo são apresentados alguns dados da realidade social mundial, Brasil e do contexto da pesquisa onde se apresentam dados referentes à pobreza e desigualdade. No terceiro capitulo a fundamentação teórica e no quarto capitulo a 1 Mateus 5.6
  • 12. 13 pesquisa aplicada e o relatório. Segue as considerações finais e as referencias utilizadas.
  • 13. 14 CAPÍTULO 1 METODOLOGIA DA PESQUISA O presente capítulo tem por objetivo detalhar a metodologia usada na pesquisa do tema desenvolvido. Em primeiro lugar optamos pelo estudo do caso, posteriormente foi utilizado o levantamento de dados. No inicio a intenção da pesquisa era comparar somente a bíblia e pratica social das igrejas parnaibanas, porem com o desenvolver do trabalho ficou claro um lapso de tempo que precisava ser ao menos lembrado. Dai a necessidade de fazer uma breve pesquisa histórica sobre o pensamento social de alguns lideres cristãos que se destacaram na historia da igreja cristã. 1.1MÉTODOS UTILIZADOS NA PESQUISA Em nosso trabalho procuramos não restringi-lo a uma pesquisa puramente básica, sem preocupação com possíveis benefícios, tornando-a apenas aplicação de conhecimento. O estudo de caso foi usado como estratégia de nossa pesquisa por se tratar de um problema complexo, contemporâneo e real. Como Yin define: A clara necessidade pelos estudos de caso surge do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos. Ou seja, o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real2 . A busca por um sólido fundamento teórico foi proposital. A fim de respaldar a importância do tema para a cristandade hodierna a fundamentação teórica (que ocupa o segundo e terceiro item da pesquisa) tende a revelar as discrepâncias sociais e o que a bíblia e a história cristã demostram sobre os fatos estudados. Esse método foi norteador para formulação dos questionários aplicados na pesquisa, quanto mais aprofundávamos a investigação bibliográfica mais questões surgiam. 2 YIN, Robert K. Studying the implementation of public programs. In W.Williams etal.(Eds.), Studying implementation: Methodological and administrative issues, Chatham,NJ:ChathamHouse, 1982, p.36.
  • 14. 15 Em segundo lugar a presente pesquisa utiliza o método de levantamento para coleta de dados. No intuito de se constatar de que forma as igrejas evangélicas da cidade de nosso contexto empírico, Parnaíba, realizam a pratica social ou conhecem o que a bíblia diz a respeito, foi elaborado um questionário simples e objetivo com questões pertinentes ao tema3 . Dos questionamentos esperávamos descobrir como essas igrejas corporificam a face social do cristianismo, se conhecem a prática social ensinada pelos escritos sagrados da fé cristã, apoiam a prática social e se suas comunidades religio-cultural de fato mantêm algum tipo de prática social. Somente uma amostra dos evangélicos da cidade supracitada foi pesquisada e tomada por objeto de investigação. Para tanto foi selecionado 50 pessoas para responderem aos questionários, sendo 15 pessoas da Igreja Assembleia de Deus, 15 da Igreja de Deus Missionaria e 20 pessoas da Igreja Batista. Todas abordadas no final de seus encontros religiosos, geralmente aos domingos entre às 20:30 e 21:00. O relatório dos dados coletados encontra-se no ultimo item dessa pesquisa. 1.2CONTEXTO EMPIRICO A cidade escolhida como objeto de investigação foi Parnaíba no Piauí. Parnaíba é uma cidade litorânea localizada no extremo norte do Piauí, que figura como a segunda maior cidade do estado. O ultimo censo do IBGE (2010) aponta para uma população superior a 145 mil habitantes. A cidade de Parnaíba foi o berço da colonização do estado. Conhecida como uma cidade de uma rica historia cultural, teve cinema, rádio, cassinos e uma grande atividade econômica através do porto e do comercio. A cidade parecia envolta pela modernização europeia. Algumas ruas e bairros da cidade ainda possuem nome de europeus que relembram aquela época. Essa cidade vem crescendo como polo turístico por ser próximo aos lençóis maranhenses e ao Delta do Parnaíba. O artesanato se concentra nas tradições locais, onde encontramos as rendas de bilro, decorações em cerâmicas, objetos confeccionados a partir da palha da carnaúba e esculturas de arte santeira. Essa cidade é considerada centro econômico da região litorânea, que abarca cidades 3 Ver anexo I, p.82.
  • 15. 16 como Cocal, Ilha grande, Carnaubeiras, Caxingó, Caraúbas, Luis Correia e outras cidades do estado do Maranhão. Parnaíba, ainda, tem um histórico de empresas e investimento de capital estrangeiro, e exportação de matéria prima à base de Carnaúba (Copernícia Cerífera), Jaborandi (Pilocarpus Micropápulas), Fava d‟Anta (Dimorphandra Mollis) e o Pau d‟Arco ou Ipê Roxo (Tabebuia Avellanedae) que são usados como intermediários e ingredientes com fins farmacêuticos, cosméticos, alimentícios, e carboidratos especiais como Glucose e Sacarose. O censo do IBGE do ano de 20104 revela que mais de 20 mil da população residente se considera evangélica, ao passo que mais de 111 mil são católicos. De acordo com os dados do IBGE mais de 90% da população parnaibana pode ser considerada cristã, dividida pelas ramificações e divisões comuns entre os participes dessa religião. Atualmente a cidade já não tem uma economia tão ativa, as mercadorias do estado já não escoam pelo porto do Igaraçu, tão movimentado outrora em Parnaíba. O comercio sobrevive com o movimento local. 1.3INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA PESQUISA A pesquisa foi realizada através de pesquisa teórica e de campo. A pesquisa teórica foi realizada através de livros, comentários, textos bíblicos, sítios da internet, periódicos e enciclopédias. O instrumento campal foi um questionário elaborado baseado na fundamentação teórica com intuito de revelar a prática e conhecimento dos diversos participantes da pesquisa. A opção pelo questionário deu a liberdade e possibilidade do anonimato dos participantes. A fim de se obter informações mais precisas foram escolhidas questões fechadas extraídas da pesquisa teórica e que estavam diretamente relacionadas ao conhecimento adquirido dentro do convívio religioso de cada participante. 4 IBGE, Cidades, Censo IBGE 2010, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em 22/03/13.
  • 16. 17 CAPÍTULO 2 REALIDADE SOCIAL HODIERNA O segundo capítulo de nosso trabalho se concentra, de forma resumida, na realidade social hodierna. Na primeira parte esboçaremos de forma sucinta alguns dados sociais mundiais e dados levantados no Brasil. A segunda parte desse capítulo elenca a realidade social vivida no nordeste brasileiro, depois no Piauí e, por último, na cidade de Parnaíba, que é o nosso contexto de pesquisa. 2.1 REALIDADE SOCIAL NO MUNDO E NO BRASIL O início do século XXI traz consigo uma realidade de progressos para humanidade, a capacidade de produzir bens e serviços rapidamente se expandiu, a ciência nos vários níveis e ramos da sociedade sempre segue uma linha crescente. As expectativas sempre são superadas, países onde não havia democracia começam a ver um governo com bases decididas pela população. Mas tanto progresso parece não impactar de forma eficaz e mudar a realidade social no mundo hodierno. O banco mundial produziu dados onde afirmam que 1.3 bilhões de habitantes recebem uma renda menor que um dólar por dia, e assim vivem em uma condição de pobreza aguda, cerca de 17 milhões de pessoas ainda morrem todos os anos por doenças causadas por parasitas curáveis, como diarreia malária e tuberculose A economia informal cresce cada vez mais. Kliksberg afirma: ...as altas taxas de desemprego ocorrem, também, uma contínua transferência de pessoas para a chamada economia informal. Ainda que heterogênea esta tende a caracterizar-se por setores maciços, sendo constituída de trabalhos instáveis, sem perspectivas claras, sem proteção social de nenhuma espécie, com baixas rendas e com níveis de produtividade muito inferiores aos da economia formal, devido às limitações de recursos, tecnologias e créditos. Na América Latina, por exemplo, o emprego no setor informal representava 40,2% da mão-de-obra ocupada não agrícola, em 19805 . 5 KLIKSBERG, Bernardo. Repensando o estado para o desenvolvimento social: Superando Dogmas E Convencionalismos, Cortez Editora, São Paulo, SP 1995, p.12.
  • 17. 18 A pobreza no mundo ainda subjuga, principalmente, crianças e mulheres pelo mundo afora. “Cerca de 600 mil crianças morrem na América Latina e Caribe6 ”. Forçadas pelas circunstancias, mulheres e crianças, se submetem a exploração e a condições deploráveis de vida. As crianças pobres servem de mão de obra para narcotraficantes em diversos países. A criminalidade, a violência e a degradação da sociedade são resultados, em grande parte, do acumulo das fortes tensões sociais em todas as áreas. A família, principal instituição no seio da sociedade, abalada pela pobreza cria sérios problemas sociais, Kliksberg assevera: A família, instituição central de grande parte das sociedades, fornecedora de normas morais, educação básica, saúde preventiva, afeições básicas, modelos de referência, está seriamente deteriorada pelos problemas sociais e tende a criar o abandono de sua figura masculina. Por outro lado, em diversas sociedades, observa-se um marcado aumento das cifras de criminalidade7 . Milhares de pessoas morrem anualmente por não conseguir aquilo que é básico à sobrevivência. Dados da FAO (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 2012) apontam para 870 milhões de pessoas que passam fome no mundo, isso representa quase 12,5% da população mundial8 , e grande parte dessas pessoas vivem em países em desenvolvimento. Em relação à fome a FAO enumera9 : 1- Aproximadamente 925 milhões de pessoas no mundo não comem o suficiente para serem consideradas saudáveis. Isso significa que uma em cada sete pessoas no planeta vai para a cama com fome todas as noites. (Fonte: FAO, 2012). 2- Bem mais que a metade dos famintos do mundo, cerca de 578 milhões de pessoas, vivem na Ásia e na região do Pacífico. A África responde por pouco mais de um quarto da população com fome do mundo. (Fonte: FAO, O Estado de a Insegurança Alimentar no Mundo, 2010). 6 BELLAMY, Carol. Terceira Conferência Americana sobre a Infância, Chile, 9 ago. 1996. Disponível em: <http://www.unicef.pt/docs/pdf_publicacoes/SOWC_2003.pdf>. Acesso em: 27/12/12. 7 KLIKSBERG, Bernardo. Repensando o estado para o desenvolvimento social: Superando Dogmas e Convencionalismos, Cortez Editora, São Paulo, SP 1995, p.15. 8 FAO, Jornal eletrônico G1, Quase 870 milhões de pessoas passam fome no mundo, diz FAO, 2012. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/10/quase-870-milhoes- de-pessoas-passam-fome-no-mundo-diz-fao.html> Acesso em 18/11/2012. 9 FAO, O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A FOME EM 2012, 2009. Dados disponíveis em: <https://www.fao.org.br/oqvpssf2012.asp>. Acesso em 17/11/2012.
  • 18. 19 A fome é o número um na lista dos 10 maiores riscos para a saúde. Ela mata mais pessoas anualmente do que AIDS, malária e tuberculose juntas. (Fonte: UNAIDS, Relatório Global de 2010; OMS, Fome no mundo e Estatística Pobreza, 2011). 3- Custam apenas 25 centavos de dólar por dia alimentar uma criança com todas as vitaminas e os nutrientes de que ela precisa para crescer saudável. (Fonte: PMA, 2011). 4- A fome é o único grande problema solucionável que o mundo enfrenta hoje. Em 2011 a ONU lançou um relatório sobre a situação social mundial, onde concluía que os governantes mundiais não dão a devida atenção às implicações sociais que surgiram após a crise financeira global. O relatório mostra que houve um aumento alarmante no desemprego, quase 205 milhões de pessoas perderam seus empregos, que não representa somente perda de renda, mais aumento na vulnerabilidade, principalmente em países em desenvolvimento onde não existe um sistema de proteção social abrangente. O relatório mostra que cerca de 84 milhões de pessoas caíram para um nível de pobreza extrema. Isso em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Nas ultimas três décadas o acumulo de renda entre os mais ricos cresceu de 70% para 85 %, ao passo que a renda entre os mais pobres diminuiu de 2% para 1,45%. A diferença entre os mais ricos e os mais pobres é cada vez maior, “o quinto da população mundial vive em países ricos e é dono de 86% do produto bruto mundial, 82% das exportações, e mais de 95% do credito, já o quinto mais pobre só possui 1% disso tudo10 ”. A polarização social cria diferenças tão agudas e acentuadas que chega ao absurdo. Mais de 1 bilhão e 300 milhões de pessoas não têm a sua disposição água potável e mais 3 bilhões necessitam de serviços de saneamento. O Brasil é uma sociedade que impera como uma das mais desiguais do mundo. Considerada a sexta economia do mundo ainda convive com 16,2 milhões de brasileiros em situação de extrema pobreza. Conforme o relatório do Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) de 2011, o Brasil foi apontado na posição de número 84 entre os 187 países avaliados. 10 KLIKSBERG, Bernardo, O IMPACTO DAS RELIGIÕES SOBRE A AGENDA SOCIAL ATUAL, Unesco, Serie Debates IV, 2005. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001384/138431por.pdf>. Acesso em 28/12/2012, p.5.
  • 19. 20 De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil está classificado como um país de padrão intermediário de renda, entretanto uma pequena parcela da população consegue padrões de renda e qualidade de vida comparada aos padrões sociais e econômicos de países mais ricos no mundo. A imensidão territorial brasileira continua concentrada nas mãos de poucos, quase 3% dos grandes donos de terra dominam quase 57% das terras, e uma grande parte delas improdutiva, do outro lado 89% de pequenos proprietários dividem 23,4% de terras brasileiras. Outro grande problema é a concentração de renda no Brasil, dados divulgados pelo Banco Mundial em 1995 colocavam o nosso país como o número um no ranking de desigualdade social no que se refere à concentração de renda11 , cerca de 3% da população recebiam mais de 20 salários mínimos enquanto a grande maioria não conseguia mais de dois salários mínimos. Somente em 2012 o Brasil perde a liderança, conseguindo diminuir as desigualdades na distribuição de renda, porém, ainda continua como o quarto colocado12 . O resultado da concentração de renda em nosso país produz uma realidade social cruel. A má administração de recursos públicos e falta de priorizar o mais importante à nação, ainda castiga muitos em nosso país. Obras que poderiam ficar em segundo plano, tomam o lugar da educação, da alimentação e saúde pública. No Brasil quase 11% da população acima de dez anos de idade permanecem analfabeta, 31% ainda não tem nenhum tipo de saneamento básico e quase 28% não possuem nenhum tipo de coleta de lixo (IBGE, 2010). Há ainda o problema da economia informal, que não cria nenhum tipo de segurança social por parte do governo brasileiro. A realidade social brasileira está estampada nas capas dos jornais e nos noticiários informativos via televisão e internet. O narcotráfico domina regiões pobres de nosso país e subjuga populações inteiras que não dispõem de auxilio social eficientes. O crime organizado dia a dia revela sua face cruel. 11 KANITZ, Ayrton, BRASIL, CAMPEÃO DE DESIGUALDADE, São Paulo, SP, Revista ADUSP, maio de 1996, p.7. 12 PACHECO, Gabriela, BRASIL DEIXA ÚLTIMA POSIÇÃO DO RANKING DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA DA AMÉRICA LATINA, Rio de Janeiro-RJ, Jornal eletrônico R7, 2012. Disponível em: <http://noticias.r7.com/brasil/noticias/brasil-deixa-ultima-posicao-do- ranking-de-distribuicao-de-renda-da-america-latina-20120821.html>. Acesso em 18/11/2012.
  • 20. 21 Os impostos altos não mudam a realidade social do país, os pobres são os que mais sofrem com os impostos cobrados pelo governo brasileiro. A carga tributaria no Brasil é uma das mais pesadas no mundo. Os brasileiros pagam mais impostos que os americanos e japoneses. A tributação no Brasil além de complexa é injusta. Resumindo, o brasileiro desembolsa, em media, 40% de sua renda anual13 . Mesmo com uma contribuição tão alta o serviço prestado pelos poderes públicos fica muito aquém do mínimo necessário. 2.2. EXCLUSÃO SOCIAL NO NORDESTE E PIAUÍ. No nordeste brasileiro os problemas se acentuam, a região é a mais desigual da nação, liderando em todas as pesquisas de exclusão social. A exclusão social há anos castiga o nordeste. O IBGE divulgou em 2005 que 55,92% da população nordestina vivia privada de renda, nessa região a divulgação por estados ficou assim: Alagoas (63,08%); Piauí (58,97%); Maranhão (58,00%); Ceará (56,92%) e Bahia (55,15%). O mesmo estudo mostra que 26% da população não possuem serviços de redes de abastecimento de água, 53,56% não possuem acesso à rede de saneamento básico. Em relação à educação, Lemos assevera: Mais uma vez observa-se que a região Nordeste apresenta os piores indicadores em itens essenciais ao desenvolvimento. A região apresentou os maiores percentuais de analfabetos maiores de 10 anos. E as taxas exibidas pelos estados do Nordeste, no geral, são muito elevadas, como se depreende das evidências mostradas [...]. Esta região chegou ao final de 2005, com 19,02% da sua população, maior de 10 anos, analfabeta. As maiores taxas de analfabetismo, em maiores de 10 anos, observadas em 2005 são, pela ordem decrescente, nos estados de Alagoas (23,84%); Piauí (23,11%); Maranhão (21,18%); Paraíba (20,92%); Ceará (18,61%) e Bahia (18,32%). No Rio Grande do Norte (15,48%) e em Sergipe com (17,96%) estão as menores taxas de analfabetos do Nordeste em 200514 . 13 Revista Veja Digital, Desafios brasileiros, Carga Tributária 2010. Disponível em: <www.veja.abril.com.br/tema/desafios-brasileiros-carga-tributaria>. Acesso em 08/01/13. 14 LEMOS, José de Jesus Sousa. Mapa da Exclusão Social no Brasil. Radiografia de um país assimetricamente pobre. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2005, p.123.
  • 21. 22 Somado a essas diferenças sociais ainda tem-se o problema do clima que dificulta ainda mais as questões sociais e econômicas da região. A seca torna precária a situação em determinadas cidades nordestinas, trazendo consigo a falta de alimentos e água de qualidade a população. O estado do Piauí figura como um dos últimos no ranking de qualidade social de acordo com os índices apresentado por Lemos (2005) em seu trabalho sobre índice de exclusão social. A distribuição de renda nesse estado é uma das piores conforme o relatório do PNAD (2005) são 58% da que vivem excluídos, de alguma forma, de rendas monetárias. A distribuição de renda esta ligada, hoje, a medição do grau de desenvolvimento região, e é ela responsável pelo desenvolvimento ou deterioração do tecido social como um todo. Durante nossas pesquisas percebemos a falta de material literário para estudos sobre a questão da distribuição de renda no Piauí, somente quando mencionado em conjunto com estados do nordeste e do país. Uma pesquisa realizada pelo IBGE, de maio de 2008 a maio de 2009, aponta para uma diferença gigantesca na distribuição de renda, enquanto os mais pobres ganham em media R$672,00 por mês os ricos tem uma renda mensal (em média) de R$13.039,0015 . O relatório do IDH mostra o Piauí como um dos estados mais pobres da nação brasileira, o estado com menos emprego formal, ocupa o penúltimo lugar no quesito alfabetização e ultimo lugar na escolaridade do cenário nacional16 . Quase todos os municípios piauienses convivem com uma realidade de exclusão social. Lima observa que de 96,9% dos municípios do Piauí estão numa realidade de exclusão social e quase 98,3% estão mergulhados num elevado grau de pobreza17 . Os avanços nos últimos anos se mostram muito tímidos ante a realidade social do povo piauiense. 15 GALENO, Lívio, Ricos do Piauí ganham 19 vezes mais do que a população pobre, Jornal eletrônico Cidade Verde, 23/06/2010. Disponível em: < http://www.cidadeverde.com/ricos- do-piaui-ganham-19-vezes-mais-do-que-a-populacao-pobre-60425>. Acesso em: 18/11/12. 16 LIMA, Gerson Portela. Atlas da exclusão social no Piauí/Gerson Portela Lima. Teresina: Fundação CEPRO, 2003, pp. 70-77. 17 Ibid. p.78.
  • 22. 23 2.3 REALIDADE SOCIAL EM PARNAÍBA-PI Nesse município, o mais desenvolvido da região norte do estado, entre os anos de 2000 a 2010 a renda per capita domiciliar ficou em torno de R$164,00 (cento e sessenta de quatro reais) 18 . A taxa de desemprego também é muito alta, mais de 93% dos parnaibanos não possuem um tipo de renda formal. A questão da informalidade da renda gera instabilidade para aqueles que assim vivem, criando falta perspectivas definidas. Também exclui o cidadão de proteção social, como INSS, FGTS, férias, abonos, etc. A baixa renda dentro do setor informal é outra realidade que impede a ascensão social. Os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), através de levantamento de dados apontam para bairros específicos onde à vulnerabilidade é maior. Os bairros apontados são: Mendonça Clark, João XXIII, Piauí, São Vicente de Paula. De acordo com a publicação do “Diagnóstico e Mapeamento da Rede Socioassistencial das Áreas de Abrangências do CRAS” em 2012, demostram que os moradores das regiões mais pobres de Parnaíba têm como fontes geradoras de renda empregos informais. A taxa de analfabetismo é uma das maiores do Brasil, mais de 22% da população parnaibana, acima de 15 anos, ainda permanecem nessa condição, sendo que no Brasil em média essa taxa não ultrapassa os 14%. Os índices de exclusão social são extremamente altos na cidade. De acordo com dados do IBGE Parnaíba apresenta os piores índices de exclusão social, pobreza, emprego formal, desigualdade e escolaridade do país19 . Nas publicações do CRAS não aparece nenhum tipo de cooperação direta por parte das igrejas evangélicas nessas regiões vulneráveis da cidade pesquisada. Como se vê, Parnaíba tem um índice de desigualdade elevadíssimo e, diante dessa realidade, as igrejas podem e devem contribuir para uma realidade mais justa. 18 IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em: < http://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em 14/12/12. 19 IBGE, Censo Demográfico 2010. Disponível em: < http://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em 14/12/12.
  • 23. 24 CAPÍTULO 3 AÇÃO SOCIAL E A BÍBLIA A bíblia não tem a pretensão de ser um livro de ciências sociológica ou antropológica, porém, os problemas sociais existentes e que acompanham à humanidade não são, por ela, negligenciados. Deus lembra, a todo instante, no antigo e novo testamento a realidade social da humanidade e o dever, daqueles que são chamados de “povo Seu” 20 , em praticar a fraternidade, humildade e amor ao próximo. O termo ação social, dentro da sociologia, pode ser definido simplesmente como comportamento social, que é a consequência de contatos sociais avançados, interação e relação social. O sentido é muito amplo, e não pode ser resumido como assistencialismo. Em termos leigos é qualquer movimento que resulte em melhorias para a comunidade e gere bem estar para sociedade como um todo. Para Lessa 21 , há uma má interpretação do conceito ação social para alguns cristãos que tentam praticá-la, dentro do conceito erroneamente interpretado surgem os conceitos: evangelho social, assistência social e serviço social. O evangelho social foi um movimento nascido nos Estados Unidos no início do século XX, como uma reação ao escapismo das igrejas evangélicas que exageravam com a preocupação escatológica e cultivo de um asceticismo pietista que não levava em consideração as implicações sociais vividas pelo mundo de então. Essa reação chegou a criar outro extremo à polarização escapista, a total secularização da mensagem cristã, afirmando que o reino de Deus se cumpriria plenamente nesse mundo através da ação do homem. Há alguns evangélicos que não apoiam a justiça social por achar que podem ser tendenciosos a filosofia do evangelho social. Já o assistencialismo refere-se somente a obras assistências que são meras respostas imediatas para resolução parcial do problema. Um exemplo claro de 20 Seu povo - alusão ao trecho bíblico de 1PEDRO 2.9, CHAMPLIM em seu comentário bíblico da carta em questão interpreta da seguinte forma: “Essa nação deveria pertencer a Deus, demostrando isso por seus atos agradáveis a Deus” (CHAMPLIM, Russel Norman, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, 1Pedro, São Paulo: Hagnos, 1997). 21 LESSA, Hélcio da Silva, Ação Social Cristã, Movimento “Diretriz Evangélica”, Guanabara, RJ, 1950, p.6. Disponível em <http://ftl.org.br/documentos/Acao_Social_Crista-Retrato.pdf>. Acesso em 23/04/13.
  • 24. 25 assistencialismo é a distribuição de alimento para um desempregado, não que isso não seja válido, mas atende somente a necessidade momentânea. Possivelmente aqueles que de alguma forma são atendidos pelos assistencialistas, muito cedo terão necessidades com as mesmas problemáticas iniciais. Nesse sentido Campos afirma: É importante destacar que o assistencialismo, por combinar caridade aos pobres com indiferenças aos fatores causais da pobreza, além de funcionar como estratégia de reprodução social, reproduz, igualmente, a subalternidade, pois o assistido nesta modalidade de proteção social, não é reconhecido (nem se reconhece) como um sujeito de direitos, não participando, desta forma, de uma comunidade de semelhantes [...], e sim de uma sociedade com desigualdades abissais 22 . O serviço social é uma profissão de caráter sócio-político. Trabalha com instrumentos das ciências sociais analisando e intervindo nas refrações sociais existentes. Atua na defesa e aplicação dos direitos humanos e justiça social. A ação social vai ser mais profunda que o mero assistencialismo. Alguns evangélicos acreditam que fazem ação social simplesmente por distribuir roupas e alimentos. A intenção desse capítulo é provar que a bíblia, regra de fé e de prática de vida dos cristãos, mostra claramente a preocupação de Deus com o ser humano e com a realidade social vivida por este. Queremos provar, também, que a aplicação desses ensinos bíblicos tornaria a sociedade mais justa e digna. A primeira parte vai tratar a respeito da pobreza e a bíblia, trazendo uma visão geral a respeito desse tema no antigo e no novo testamento. A nossa preocupação é saber se a bíblia realmente se preocupa com os excluídos e oprimidos. A segunda parte irá tratar sobre alguns fundamentos bíblicos no que se refere aos excluídos da antiguidade segundo o antigo testamento. A terceira parte será esboçada a partir do novo testamento fazendo as mesmas indagações da primeira parte de nossa pesquisa teórica. Enquanto pesquisamos os textos bíblicos e a visão geral dos ensinos contidos nas sagradas escrituras, começamos a indagar se há alguma incoerência entre o discurso religioso e prática aplicada desses discursos. Já a quarta e quinta parte trará uma visão histórica e alguns exemplos de prática social cristã, começando pelos pais da igreja, passando pela reforma e nos 22 CAMPOS, E.B. Assistência Social: do descontrole ao controle social. Revista Serviço Social e Sociedade, nº 88. São Paulo: Cortez. Novembro de 2006, p.101.
  • 25. 26 remetendo até os dias hodiernos. Por se tratar de um material histórico extenso a nossa pesquisa será resumida citando apenas os fatos principais referentes ao tema. 3.1 A POBREZA E A BÍBLIA - ANTIGO TESTAMENTO A pobreza e a sua definição é complexa. Descrever a pobreza numa ótica bíblica não é uma tarefa fácil para o teólogo cristão protestante do presente século, afinal estamos em uma era de certezas teológicas rasas onde a maioria dos cristãos apregoa sobre uma vida abundante na terra. A cosmovisão de muitos protestantes hoje, alicerçada na teologia da prosperidade 23 , aliada ao capitalismo selvagem e ao egocentrismo humano torna a questão desinteressante para alguns, afinal o capitalismo, de acordo com o pensamento de muitos, torna livre o homem, para que este alcance classes sociais mais altas, e o fato de alguns viverem na pobreza se deve ao fato de não se esforçarem o suficiente para saírem de suas condições sociais. E, além da visão hodierna distorcida de alguns denominados protestantes, temos a questão teológica do termo pobreza em si, que pode ser entendido de diversas maneiras, como Barth assevera, pessoas socialmente privilegiadas podem ser pobres: na saúde, intelectualmente, espiritualmente e nos seus relacionamentos, em contrapartida uma pessoa pobre no sentido financeiro pode ser rica nesses outros sentidos 24 . Mas afinal quem são os pobres de acordo com a bíblia, haja vista a tendência de alegorizar a interpretação da palavra pobre. O sentido bíblico não deve ser entendido somente numa conotação socioeconômica, pois o pobre, biblicamente falando pode ser uma disposição interior ou atitude da alma 25 (cf. MATEUS 5.3 ARC), porém a interpretação do termo pobre não deve ser limitada a esse tipo de entendimento, pois, a pobreza socioeconômica é uma cruel realidade que não podemos fingir que não exista. 23 Movimento religioso surgido nos Estados Unidos da América, que interpreta alguns trechos da bíblia dizendo que aqueles que são fiéis a Deus devem desfrutar de uma excelente situação na área financeira, da saúde, emocional, social, familiar, etc. (FONTE: HTTP://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TEOLOGIA_DA_PROSPERIDADE; ACESSADO EM 13/09/12). 24 BARTH, Karl. Pobreza em Dadiva e Louvor. São Leopoldo: Sinodal, 1986, p.351. 25 QUEIROZ, Carlos Pinheiro. Eles herdarão a terra. Curitiba: Encontro, 1998, p.19.
  • 26. 27 Em pesquisa aos vocábulos ligados à palavra pobre e pobreza percebemos que a bíblia fala mais sobre o assunto em questão do que outras doutrinas tão enfatizadas e ensinadas nas igrejas protestantes hodiernas. São quase cento e setenta citações diretas dos vocábulos estudados nesse item. A igreja precisa se preocupar com a essa questão, afinal Deus se preocupa, pelo menos, é o que fica subentendido pelas pesquisas dos trechos bíblicos. O termo no hebraico mostra as seguintes definições: aniy (yne) usada mais de trinta vezes com sentido de homem rebaixado e aflito, tem o sentido de pobreza como consequência de opressão politica, religiosa e psicológica esse termo aparece em Isaías 3.14, ebyown (Nwyba) que tem o mesmo significado de mendigo, pedinte, não saciado, carente, necessitado, referente à classe social mais baixa, essas pessoas não conseguem se tornarem independentes de outros devido suas necessidades não supridas. O outro termo é ruwsh (vwr) que significa aquele que se torna pobre por outrem, ser pobre, ter falta de, tem o sentido de pessoas empobrecidas por ações de injustiças. Há, também, o termo dal (ld) traz o sentido de inferior, pobre, fraco, magro, pessoa inferior (cf. Amós 5.11). Tem o sentido de algo que está pendurado por um fio. E por ultimo os termos ra„eb (ber), faminto, de vigor combalido, aquele que não tem o que comer e chelaka (hklx), miserável, pobre, pessoa infeliz, desafortunado citado em Salmos 10.426 . A base bíblica veterotestamentária de nossa argumentação para que a pobreza, e os que sofrem com ela, seja um alvo a ser trabalhado pela igreja atual começa em Gênesis, onde Deus cria todas as coisas. Inicialmente toda obra criatória divina é considerada agradável, boa, amável (é o que se entende pelo adjetivo hebraico bom, “towb”, citado em Gênesis 1.31). A criação era perfeita e bela. Em meio à narrativa bíblica da criação, aparece à criação do ser humano, que é narrada com um grau de importância sublime, a formação dessa criatura se dá com um concilio divino, em Gênesis 1.26 é declarado: “façamos o homem a nossa imagem e semelhança” (GRIFO NOSSO), e assim o fez do “pó da terra”. O nome dado ao homem, Adão, vem do hebraico “Adam” que tem a mesma raiz da palavra “Adamah”, que significa terra, analisando a criação do homem a partir da terra pode- se concluir que o homem e a terra são parte integrantes. No Congresso Brasileiro de Evangelização foi dito: 26 HARRIS, R. Laind. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, Trad. Gordon Chown, Edições Vida Nova, 1985. (todos os termos para o vocábulo “pobre”).
  • 27. 28 O homem e a terra não entidades separadas. Eles têm uma serie de importantes relacionamentos e interdepências (...). Quaisquer dificuldades ou problemas que houver com a terra se refletirá no homem. Explode-se a terra e teremos o fim da raça humana. Polui-se a terra e se prejudica a vida na face da terra 27 . Após a criação da terra e do ser humano, Deus entrega a terra às mãos do homem para administra-la e prover seu sustento. Até aqui o homem não sabia o que era poluição, queimadas, destruição, fome, desigualdade, discriminação, exclusão e injustiças e só passa conhecer esses problemas após ter cometido o pecado. O projeto inicial de Deus era formação de uma sociedade igualitária, mas, de acordo com entendimento formado a partir do velho testamento as desigualdades começa a existir após a queda do homem, Cavalcanti (1987) disse: A tremenda verdade é que, se o homem não houvesse pecado, ele iria vivenciar plenamente este projeto de Deus em suas relações sociais; projeto esse em que nada de negativo que vemos acontecer através da historia, até nossos dias, teria talvez: tanto em relação à expressão cultural de civilização, como relação à questão social e econômica 28 . Diferentemente de Rousseau29 , que acreditava que as desigualdades entre os homens têm como base a noção de propriedade privada e a necessidade de um superar o outro, numa busca constante de poder e riquezas, para subjugar os seus semelhantes, para o cristianismo as desigualdades está correlacionada com o pecado do primeiro homem, Adão. O principal argumento veterotestamentário para o combate da pobreza é o fato de Deus ter criado o homem a sua imagem e semelhança. Essa imagem do divino mostra que esse ser está ligado ao Criador e é por essa ligação que o ser 27 YUASSA, Key. “O Homem Brasileiro como Objeto do Amor de Deus”, em a Evangelização do Brasil: Uma tarefa inacabada, onde estão contidas as palestras proferidas por vários autores no Congresso Brasileiro de Evangelização em Belo Horizonte – MG – 1983, São Paulo: ABU. , 1985, pp. 84 e 86. 28 CAVALCANTI, Robinson. Igreja: Agencia de Transformação Histórica. VINDE e SEPAI, 1987, p12. 29 ROUSSEAU, Jean Jaques, A origem da desigualdade entre os homens e se ela é autorizada pela lei natural, Academia de Dijon, Paris, 1753. Disponível em <www.livros_gratis/origem_desigualdades.html>. Acesso em 07/01/13.
  • 28. 29 humano passa a ser “dignamente superior às outras criaturas30 ”. Esse pensamento antropológico-teológico foi bem desenvolvido por Tertuliano, que acreditava na objetividade da existência humana, que dizia que o ser humano foi modelado pelo próprio Deus, uma obra maravilhosa que recebera a liberdade. Segundo ele, Deus se dedicou totalmente a substância que depois de trabalhada com amor surge o homem31 . Dentro dessa perspectiva, começamos a entender a dignidade humana que, em suma, não deve ser reduzida a nem um tipo de degradação, seja ela qual for, inclusive a pobreza. Por outro lado existe também o argumento de que Deus criou a terra e a colocou a disposição do gênero humano, para que este a dominasse com trabalho e sobrevivesse dos seus frutos. No livro das Origens é relatado que todas as aves, peixes, animais terrestres deveriam ser dominados pelo homem e os frutos, sementes, ervas serviriam de mantimento32 . A disposição do criador em entregar os frutos e animais para o homem leva-nos a afirmação que os bens criados devem ser destinados a todos, sem que haja exclusões em detrimento da vontade egocêntrica de uma minoria dominante. No Compêndio da Doutrina Social da Igreja, que cita o Vaticano II33 , encontramos o desenvolvimento dessa afirmativa, onde é declarado o sentido universal dos bens. Essa afirmativa não implica que tudo pertença a todos, mas que fique assegurado o exercício justo da distribuição dos bens para que todos usufruam e tenha as condições de uma vida sem indignidade. No livro de Deuteronômio, especificamente no capitulo 15 e verso 11 fica patente que a existência de pobres era contínua dentro da sociedade hebreia, mas mesmo com essa afirmativa fica visível a vontade do Divino quando se é ordenado: “... para que entre ti não haja pobre...” (DEUTERONÔMIO 15.4 ARC). A vontade divina não pode ser entendida com uma promessa a ser cumprida por ele, mas uma ordenança a ser seguida pelo homem. O ser humano tem uma gama de possibilidades de realizar-se consigo e com os outros, portanto fica plausível que a diretiva divina é que aquele crie realidades para que não haja nem um tipo de exclusão. 30 VITAL CORBELLINI, Referências Patrísticas quanto aos Princípios da Doutrina Social da Igreja, apud. GIOVANNI, CRISOSTOMO. “Omelie sulla prima lettera ai Corinti”, 10, 4,3-4. In: La Teologia dei Padri II. Roma: Città Nuova Editrice, 1974, p.9. 31 TERTULLIANO. La Resurrezione dei morti, VII, 3-4. Traduzione, Introduzione e Note a cura, C.MICAELLI, Roma: Città Nuova Editrice, 1990, p.34. 32 Gênesis 1.28,29. 33 Alusão aos documentos provenientes do Concilio Vaticano II, ocorrido de 1962 a 1965.
  • 29. 30 Existiam leis que protegiam e davam auxilio aos pobres, mas adiante, no item 3.2 trataremos especificando as figuras da exclusão na antiguidade (órfãos, estrangeiros, viúvas, etc.) e o que o antigo e novo testamento diz a respeito. Mas salientamos que nas relações sociais com o pobre eram vetados os maus tratos ou opressão (DEUTERONÔMIO 24.14), a usura (ÊXODO 22.25) e a injustiça (LEVÍTICO 19.15). Nos cultos religiosos, o pobre não podia ser excluído por não ter condições de ofertar sacrifícios, mas havia determinadas ofertas que se enquadrariam de acordo com as posses do ofertante, quanto menores fossem suas posses, menor seriam os animais sacrificados, ou ofertas entregues aos sacerdotes. A mais profunda ideia social ante a pobreza pode ser analisada a partir de Levítico 19.18, “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Esse imperativo, expressa o mais alto ideal para a convivência do ser humano, é a ideia da responsabilidade pelo outro e isso não é uma opção, mas uma ordem que deve ser parte continua da vida do homem, enquanto gênero. A prática dessa ordem não deve ser visada com meio de obtenção de reconhecimentos, isso deve ser entendido como uma única maneira de viver. Amar ao próximo como a si mesmo eis o desafio de Deus para com o Seu povo. A sociedade hebreia que estava em formação no deserto, deveria ser formada a partir desse principio, esse deveria ser o norteamento de toda relação social. As leis deveriam ser justas, o governo deveria ser administrado com equidade, às negociações deveriam ser praticas com ética e justiça. Tudo visando o bem estar do outro. Pensando dessa forma não poderia haver praticas trabalhistas escravagistas, abandono, subjugação pelo poder, etc. Durante período deuteronômico surge um dos primeiros sistemas fiscais que se tem conhecimento, o dízimo. A decima parte de tudo que era produzido por todos eram destinado ao sustento dos sacerdotes, viúvas, órfãos e estrangeiros. De acordo com os textos de Deuteronômio 26.12,13 e 14.28,29 mostra que os dízimos arrecadados serviriam para auxiliar os pobres. Os livros históricos do antigo testamento registram o inicio da nova terra prometida por Deus à Israel. No inicio entendemos que não havia desigualdade e pobreza, a terra conquistada havia sido distribuída de maneira igual entre as tribos, e estas redistribuíram de maneira igual entre as famílias. Porém com o tempo àqueles que foram escravos no Egito, passam a oprimir e escravizar seus irmãos na nova terra. O modelo patriarcal que trazia uma sociedade mais justa que vivia
  • 30. 31 segundo os mandamentos do Deus de Israel, foi substituído pela monarquia. No livro do profeta Samuel fica registrado as consequências que esse novo tipo de sociedade traria a vida da nação, os filhos serviriam de servos para construir armas, guerrear e trabalhar nas lavouras, de tudo que fosse produzido o melhor seria direcionado para o rei e seus servos, os dízimos que serviam para os pobres passam a ser entregue aos oficiais da monarquia e as filhas serviriam ao rei como padeiras, perfumistas, cozinheiras. A monarquia fixada dava direito ao rei e seus oficiais a usufruírem dos bens produzidos pela nação explorando como se achasse conveniente. (1SAMUEL 8.10-20) Os autores dos sapienciais bíblicos falam da questão da pobreza em vários trechos. O livro de Jó elenca o fato de Deus proteger e ouvir os pobres em detrimento dos feitos perversos dos ímpios. Podemos encontrar declarações como: “[os ímpios], assim, fizeram que o clamor do pobre subisse até Deus, e este ouviu o lamento dos aflitos” (JÓ 34.28) e “quanto menos àquele que não faz acepção das pessoas de príncipes, nem estima ao rico mais do que ao pobre; porque todos são obras de suas mãos”. (JÓ 34.19). Ainda no mesmo livro existem denuncias de pobres sem socorro, desamparados e que tem seus direitos negados34 . Nos salmos 10 existe um clamor pelo auxilio ao pobre, o autor clama a Deus, pois, os ímpios perseguem o pobre e os necessitados são destruídos. Diante desse sofrimento o salmista clama: “Levanta-te, SENHOR! Ó Deus, ergue a mão! Não te esqueças dos pobres.” (SALMOS 10.12 ARA) e mais adiante, nos Salmos 12.5, Deus diz: “Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o SENHOR; e porei a salvo a quem por isso suspira”. Os salmos mostram Deus como àquele que não fica passivo ante ao clamor do pobre, podemos averiguar isso em uma rápida leitura nos trechos 132.15, 109.31 e 12.5. Agora vejamos o que ensina os Provérbios do velho testamento. Os textos 14.31 e 17.5 ensinam que os que oprimem ao pobre insultam ao criador. Mais uma vez o antigo testamento lembra que o homem foi criado a partir de Deus, e este não permite que aquele sofra com as desigualdades impostas pelo poder de outro. O livro de Provérbios ensina, ainda, nos trechos 22.9 e 14.21, que aqueles que se compadecem do necessitado serão abençoados ao passo que os que não cuidam dos pobres serão amaldiçoados (PROVÉRBIOS 22.16 E 28.17). Há também uma 34 Cf. Jó 20.19; 24.4; 24.9; 31.16.
  • 31. 32 alusão muito interessante aos pobres que vivem nessas condições por serem preguiçosos, a primeira parte do capitulo seis e trechos do capitulo 23 e 28 desse livro trata justamente disso. A passagem de implicação forte nesse livro é a que se segue: “Aquele que tapa os seus ouvidos ao clamor do pobre, também clamará, e não será ouvido.” (PROVÉRBIOS 21.13, TB). A pobreza, que de acordo com os preceitos deuteronômicos não poderiam fazer parte da sociedade hebreia, sociedade esta que serviria de modelo, é enfaticamente denunciada pelos profetas. Isaías revela que Deus começa a julgar os anciãos e seus lideres por causa total desprezo pelos pobres, ele ainda fala de homens que fraudavam os desvalidos e legisladores que criavam leis injustas que reprimiam o direito dos pobres35 . Mostra, também, no trecho 5.8 homens que juntam propriedades e não deixam espaços para os pobres terem suas moradias. Esse profeta revela, ainda, que o Messias prometido traria um reinado de justiça, uma leitura nos trechos 11.4, 29.19 evidencia o que afirmamos. Por fim existe a promessa em Isaías 32.7 de serem agraciados todos aqueles que acolhessem os desamparados e mais adiante Deus revela claramente sua vontade no capítulo 58 onde lemos: Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade desfaça as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante? (VERS. 6,7) Ezequiel 18 é apresentado uma lista de características de um homem justo, dentre essas características é citado à ajuda ao pobre. As denuncias feitas pelo profeta mostra que Israel tornou-se tão perverso quanto à cidade de Sodoma. O pecado de Sodoma era não cuidarem dos pobres. Em Ezequiel 16.49 encontramos o seguinte: Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não fez Sodoma, tua irmã, ela e suas filhas, como tu fizeste, e também tuas filhas. Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. (ARA) As acusações continuam com o profeta Jeremias, “sangue de pobres e inocentes” (JEREMIAS 2.34) estavam nas vestes da nação, o desprezo pelas leis 35 Cf. Isaías 3.10,11. 15; 10.1, 2; 32.7.
  • 32. 33 causavam degradação social, desvio moral, desvio religioso, indiferentismo. O libelo de Amós se de ao fato de cobrança indevida de tributos aos pobres, que tiravam do mantimento, “trigo”, para sustentar corruptos que com opulência extorquiam os pobres. (cf. AMÓS 5.11), o castigo estava próximo de Israel, pois eles continuamente exploravam o pobre (AMÓS 2.6). Amós continua com a acusação contra Israel mostrando homens que controlavam dolosamente a distribuição de alimentos enganando o povo e se aproveitando das condições de pobreza de alguns, reduzindo a escravidão homens e mulheres, diz o texto: Quem dera que a Festa da Lua Nova já tivesse terminado para que pudéssemos voltar a vender os cereais! Como seria bom se o sábado já tivesse passado! Aí começaríamos a vender trigo de novo, cobrando preços bem altos, usando pesos e medidas falsos e vendendo trigo que não presta. Os pobres não terão dinheiro para pagar as suas dívidas, nem mesmo os que tomaram dinheiro emprestado para comprar um par de sandálias. Assim eles se venderão a nós e serão nossos escravos! (AMÓS 8.5-6, NTLH) O capitulo três do livro do profeta Malaquias, usado comumente nos discursos religiosos, de evangélicos protestantes, hoje a respeito do dizimo, Deus se mostra mais uma vez julgando o povo de Israel. O motivo? Desvio de conduta moral e religiosa, opressão e falta de auxilio aos necessitados. O versículo 10 desse capítulo Deus ordena que os dízimos sejam entregues para que haja mantimento, alimentos, que eram empregados ao sustento não só de sacerdotes e levitas, mas para os necessitados como viúvas, órfãos e estrangeiros, pois era o que a lei determinava e pode ser conferido em Deuteronômio 14.28,29 e 26.12,13. A seguir daremos um breve detalhamento dos socialmente desfavorecidos no antigo testamento. 3.2OS DESFAVORECIDOS DA ANTIGUIDADE SEGUNDO O A.T. No antigo testamento ou Torá, que significa literalmente instrução e constitui a base de duas das maiores religiões monoteísta do mundo, Cristianismo e Judaísmo, Deus mostra a necessidade de haver disposição em ajudar ao necessitado. A teologia veterotestamentária trata de temas como: exclusão social, pobreza, desigualdades e as responsabilidades do ser humano como individuo diante desses temas e como devem agir em suas ações para estarem moralmente corretos.
  • 33. 34 As leis dos hebreus servem de fonte detalhada de como eram suas legislações econômicas e sociais, além de formarem a ordens dos cultos religiosos e suas atribuições especificas para sacerdotes e para o povo em geral. Além das leis, havia também profetas que lutavam contra a opressão e desvios sérios de condutas do povo, dos religiosos e dos lideres contemporâneos. A necessidade de ensinar o povo a respeito da contribuição, da generosidade, do amor ao próximo fica clara, em alguns casos, onde há uma espécie de recompensa para os que assim agem (cf. Salmos 41.1; Provérbios 14.21), “essa questão foi muito enfatizada no judaísmo” 36 , e os pobres, necessitados de uma maneira em geral eram alvo de misericórdia, compaixão e piedade. Começamos a entender os fundamentos bíblicos para a questão social humana quando olhamos para o livro do Gênesis, no ato criatório de Deus, quando o homem e a mulher, ao serem criados, recebem a missão celestial de cuidar da terra, dos animais, plantas e da família, que foi a primeira estrutura social, que iriam surgir. O argumento bíblico básico encontrando em Gênesis, é que Deus “criou o homem a sua imagem e semelhança” (Gênesis 1.26) e como imagem de Deus o homem não deveria viver de forma indigna, as diferenças sociais em princípio, e assim fica subentendido, não existiriam se não fosse à queda do ser humano desrespeitando o direcionamento divino. Ainda voltado para o livro de Gênesis encontramos um exemplo expressivo da preocupação de Deus com a situação social do homem, a partir do capítulo trinta sete, do referido livro bíblico, encontramos a história de um jovem chamado José, filho de Jacó, que após ser vendido como escravo pelos seus próprios irmãos foi levado para o Egito. Depois de muitos acontecimentos, José foi parar numa prisão, onde teve o privilegio de revelar o sentido de um sonho para o faraó, sonho esse que relatava um período de abundância e fome no Egito. Durante esse período o Egito sobrevive e os familiares de José, também, não sofrem com a fome que ocorreu. O livro de Êxodo revela outra forte prova da preocupação divina com a situação social. A história narrada sobre êxodo hebreu, os descendentes de José que haviam ficado em Israel, depois de uma explosão demográfica desse povo, 36 CHAMPLIN, Russel Norman, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia (H-L). São Paulo: Hagnos, 2001, p. 675.
  • 34. 35 começaram a sofrer com o reinado de um novo faraó, que passou a oprimir e afligir esse povo. (cf. Êxodo 1.1-3.22). O povo passa viver de maneira sub-humana: ...então, os egípcios, com tirania, faziam servir os filhos de Israel e lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro, e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o serviço em que na tirania os serviam. O rei do Egito ordenou às parteiras hebreias, das quais uma se chamava Sifrá, e outra, Puá, dizendo: Quando servirdes de parteira às hebreias, examinai: se for filho, matai-o; mas, se for filha, que viva. (ÊXODO 1.15-18). Diante dessa problemática, Deus intervém: Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito; os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó. E viu Deus os filhos de Israel e atentou para a sua condição. (ÊXODO 2.23-25, GRIFO NOSSO). O fato de Deus intervir mostra claramente que a degradação do ser humano e a falta de dignidade deste são realidades que precisam de mudanças. Mais adiante, especificamente, nas ordenanças feitas por Deus a Moisés, e que são relatadas por todo Pentateuco, encontramos o direcionamento de Deus em relação a um estado social estável. A lei divina no antigo testamento serve como fundamento para a ordem social. A seguir daremos um breve resumo de algumas ordenanças, que se referem às questões sociais citadas no antigo testamento assim como alguns exemplos de ações e ordenanças divinas e as atitudes humanas, ora positivamente e ora negativamente, ante essas ordenanças. 3.2.1 TRATAMENTO AO ESTRANGEIRO. Os estrangeiros (gentio, não israelita) não deveriam ser maltratados, nem explorados. Jeová devota-lhes amor e os hebreus, também, deviam amá-los e cuidar desses estrangeiros. (cf. Deuteronômio 10.18,19). O argumento divino para que os hebreus agissem assim era simples: “Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito.” (DEUTERONÔMIO 10.19).
  • 35. 36 Na lei judaica, presente em Deuteronômio 27.19, se algum judeu oprimisse algum adventício era amaldiçoado pela própria lei divina. A sobrevivência digna para o estrangeiro era assegurada por lei, se não conseguisse sustentar-se não poderia estar reduzido a uma condição de marginalidade social (cf. Levítico 25.35), as colheitas “nos campos, nas vindimas e olivais não poderiam ser de todo colhido após o varejamento, deviam sobrar alguns frutos daquela colheita afim de que os estrangeiros pudessem respigar alguma coisa deixada37 ”, o fato de os lavradores deixarem algumas respiga dava ao estrangeiro a oportunidade de juntar alimentos de uma forma digna e não mendigar. A pesquisa textual focada no Pentateuco leva-nos entender outro fator importante: a lei torna iguais, perante ela, estrangeiros e nativos. “Como o natural, será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus” 38 . (cf. Êxodo 14.29; Levítico 24.22; Números 9.15; Números 15.16). A discriminação racial não poderia ocorrer, haja vista a ordenança de Deus em tratar o estrangeiro com respeito e amor. O hebreu foi advertido por Deus para não perverter os direitos dos não hebreus. (cf. Deuteronômio 27.19). Outro tratamento interessante é que ao realizar algum empréstimo para o estrangeiro não era permitido a pratica de usura (cf. Levítico 25.35-37), também, este ao trabalhar deveria receber “seu salario antes do pôr-do-sol” 39 . Jó40 , enquanto questionava Deus, mostra claramente como um cidadão exemplar, também cuidava dos estrangeiros: “nunca deixei um estrangeiro dormir na rua; os viajantes sempre se hospedaram na minha casa.” (Jó 31.32). Há alguns exemplos de estrangeiros que tiveram êxito no antigo testamento, a ex-prostituta de Canaã Raabe (Josué 2) , o soldado hitita Urias (1Samuel 11), Rute a moça moabita (Rute 1-4), Ornã o jebuseu (1 Crônicas 20), entre outros, deixando claro que os imigrantes, não formam esquecidos por Deus e nem pela lei. 37 CROSTTI, Nicolleta, Amara ao estrangeiro, Fundação Betânia, Caderno 17, 2010. Disponível em: <http://www.fundacao- betania.org/biblioteca/cadernos/pdf/Caderno_17_Amaras_o_estrangeiro.pdf>. Acesso em 07/02/13. 38 Levítico 19.34 39 Texto de Deuteronômio 24.15 ARA. 40 Personagem do livro veterotestamentário que leva o mesmo nome, onde narra a trágica história de um homem que sofre com o mal, mais por fim tem o seu sofrimento transformado em bem-aventuranças.
  • 36. 37 Nos Salmos 94.1-10 contidos no antigo testamento os autores em alguns casos clamam por justiça, destacamos um trecho a seguir: Ó SENHOR Deus, a quem a vingança pertence, ó Deus, a quem a vingança pertence, mostra-te resplandecente! Exalta-te, tu, que és juiz da terra; dá o pago aos soberbos. Até quando os ímpios, SENHOR, até quando os ímpios saltarão de prazer? Até quando proferirão e dirão coisas duras e se gloriarão todos os que praticam a iniquidade? Reduzem a pedaços o teu povo, SENHOR, e afligem a tua herança. Matam a viúva e o estrangeiro e ao órfão tiram a vida. E dizem: O SENHOR não o verá; nem para isso atentará o Deus de Jacó. Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis sábios? Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? E o que formou o olho, não verá? Aquele que argui as nações, não castigará? E o que dá ao homem o conhecimento, não saberá? (ARC, GRIFO NOSSO). Os livros dos profetas também tratam de questões ligadas aos estrangeiros ora denunciando os hebreus de não cumprirem a lei divina, extorquindo e colocando os adventícios numa condição social lastimável, ora dando-lhes esperança mostrando que o Deus de Israel não se esqueceria dos estrangeiros. O profeta Isaías, por exemplo, fala que o estrangeiro não seria discriminado (cf. Isaías 56.3,6). Jeremias fala que uma das condições para se cumprir uma promessa para os hebreus, estes deviam cuidar dos estrangeiros (cf. Jeremias 7.1- 7), e, ainda em Jeremias, os hebreus são convocados a executar o direito e a justiça, “... não oprimindo o estrangeiro...” (Jeremias 22.3). O profeta Zacarias e o profeta Malaquias, também, clamam contra a opressão imposta a estrangeiros (cf. Zacarias 7.10; Malaquias 3.5). O entendimento formado a partir do antigo testamento no que tange ao estrangeiro, no mínimo deve ser o de respeito, direito a uma vida digna, emprego não exploratório e que não haja discriminação para os adventícios existentes. 3.2.2 VIÚVAS As viúvas não deviam ser maltratadas, antes deviam ser acolhidas e protegidas. Os filhos homens primogênito, em caso de morte do pai, via regra assumiam a responsabilidade pela família, quando tinha idade para isso. A lei protegia a viúvas e as permitiam voltar à casa de seus pais. A filha de um sacerdote, em caso de viuvez, poderia usufruir dos dízimos. (cf. Levítico 22.13). As viúvas que não fossem
  • 37. 38 filhas de sacerdotes e que não dispunham de meios de sustento ou que sua família não tivesse recursos financeiros suficientes, como por exemplo, Judite41 que dispunha de bens deixados pelo esposo Manasses, suficientes para uma sobrevivência digna (Tobias 1.8). Havia uma lei especifica que dava o direito da rebusca nos campos, olivais e vinhedos (cf. Deuteronômio 24.19-21) e nas festas que ocorriam todos os anos podiam participar livremente dos banquetes (cf. Deuteronômio 16.10-14). A cada três anos podiam compartilhar dos dízimos que eram contribuídos pela nação (cf. Deuteronômio 14.28,29; 26.12,13). Havia outra lei que dava o direito à viúva que não tivesse filho. Ela poderia pedir ao seu cunhado para gerar filho, dando continuidade a linhagem do falecido, lei que ficou conhecido como “levirato”. Os filhos eram muito importantes na cultura oriental hebreia, eles ajudavam a família no trabalho, e no caso das viúvas poderiam, também, ajudar nas colheitas (Deuteronômio 25.5-10), daí a necessidade de filhos e a aceitação de algumas mulheres gerarem um filho de seu cunhado. O exemplo contido no livro canônico de Rute mostra uma época conturbada de problemas sociais agudos, onde uma moça estrangeira casa-se com um hebreu e vivia com sua sogra Noemi. Após a morte de seu esposo, sua sogra decidiu voltar a sua terra natal. Noemi então segue junto com a sua sogra à Belém (cidade natal de sua sogra) onde enfrenta muitas dificuldades, nesse contexto vemos a lei referente as viúvas sendo cumprida em dois contextos diferente. O primeiro exemplo bíblico do cumprimento dessa lei no livro de Rute é a lei da “rebusca42 ”, onde Rute passa buscar as sobras das colheitas no campo: Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele que mo favorecer. Ela lhe disse: Vai, minha filha! Então, disse Boaz a Rute: Ouve, filha minha, não vás colher em outro campo, nem tampouco passes daqui; porém aqui ficarás com as minhas servas... Então, lhe disse a sogra: Onde colheste hoje? Onde trabalhaste?... Bendito seja aquele que te acolheu favoravelmente! E Rute contou a sua sogra onde havia trabalhado e disse: O nome do senhor, em cujo campo trabalhei, é Boaz (RUTE 2.2,8, 19). O segundo exemplo é o fato de Rute casar-se com Boaz, cumprindo a lei que permitia o novo casamento com algum parente do esposo falecido, como citado em Rute 4.5 a seguir: “Disse, porém, Boaz: No dia em que tomares a terra da mão de 41 Citada no livro deuterocanônico de Tobias 1.8. 42 Ato ou efeito de rebuscar, apanhar frutos que ficaram após a colheita, respigar.
  • 38. 39 Noemi, também a tomarás da mão de Rute, a moabita, mulher do falecido, para suscitar o nome do falecido sobre a sua herdade”. No livro sapiencial Jó do antigo testamento existe exemplos de como as viúva deveriam ser tratadas por todo bom cidadão hebreu que seguiam as leis. (cf. Jó 22.9; 24.3,21; 27.15; 29.13; 31.16,18) Já nos salmos Deus é chamado de “... juiz das viúvas...” 43 , e amparador, ajudador, defensor, patrocinador das viúvas (cf. Salmos 146.9). O clamor pela justiça também faz ressoar a opressão que as viúvas sofriam com as desigualdades e exclusões sociais que existiam (cf. Salmos 94.1-10). No livro dos Provérbios Deus é aquele que mantém a “herança das viúvas” 44 . Os “grandes e pequenos” 45 profetas por várias vezes relembram o povo do cuidado que os líderes religiosos e seculares de seu tempo deveriam assumir com as viúvas. O profeta Isaías convoca a todos para que “as causas das viúvas” 46 fossem defendidas, a opressão é denunciada quando legisladores criam leis que negam a justiça às viúvas (cf. Isaías 10.1-2). Deus, no livro de Jeremias promete tornar prospera a nação de Israel com algumas condições, dentre elas, “não oprimir as viúvas” (cf. Jeremias 7.1-7; 22.3). Ainda, no mesmo livro, Deus desafia as viúvas a confiarem nele (cf. Jeremias 49.11). Já o profeta Ezequiel afirma que a causa de alguns males sociais, dos quais os direitos das viúvas são negligenciados, se deve ao fato de falsos profetas que se aproveitam da fé para extorquir o povo e de lideres religiosos que infringem a lei para beneficio próprio, e de príncipes que lucram desonestamente (cf. Ezequiel 22.1- 29). Os profetas Zacarias e Malaquias, denunciam a opressão imposta às viúvas (cf. Zacarias 7.10; Malaquias 3.5). Fica claramente evidenciado que as viúvas são de fato lembradas e amparadas pelas leis, pelos profetas e pelo próprio Deus no antigo testamento. 3.2.3 ÓRFÃOS 43 Salmos 68.5. 44 Provérbios 15.25. 45 Denominação dada aos grandes e pequenos livros escritos pelos profetas veterotestamentário. 46 Isaías 1.17,23.
  • 39. 40 A legislação veterotestamentária dava direcionamento quanto ao auxilio aos órfãos. Não sofrer qualquer espécie de tortura, fosse ela física ou moral era o direito básico do órfão segundo a Torah, o texto de Êxodo 22.22 mostra que o órfão não deveria ser “afligido” 47 , era exigido de o cidadão hebreu dar alimento e roupa, e isso era uma maneira de “fazer justiça” 48 . Do dizimo arrecado pela nação, os órfãos, junto às viúvas, estrangeiros e levitas, a cada três anos poderiam participar e eles poderiam participar das festas de Israel sem constrangimentos. A lei da sega encontrada no livro de Levítico (19.9-10; 23.22) e Deuteronômio (23.24-25; 24.19-22) davam amparo aos que viviam nessas condições. E o mais importante, Deus deu a ordem, ninguém poderia perverter, transgredir ou omitir o direito dos órfãos sob a pena de maldição divina (cf. Deuteronômio 24.17; 27.19). Nos Salmos Deus é chamado de auxilio e protetor dos órfãos (cf. Salmos 10.14; 68.5; 146.9). Ainda nos Salmos o povo é conclamado a “fazer justiça” ajudando aos órfãos (cf. Salmos 10.18; 82.3). No livro sapiencial dos Provérbios, onde é exaltada a sabedoria, pede-se respeito à herança dos órfãos (Provérbios 23.10). Os profetas do antigo testamento, por varias vezes, denunciam abusos e exclusões que eles sofriam e em alguns casos o povo hebreu ouvia as denuncias e profecias ligadas a esse trato social, Isaías, por exemplo, afirma que Deus já não se agradava das ofertas, sacrifícios realizados pelos religiosos hebreus e asseverava que eles precisavam aprender a “fazer o que é bom, tratar os outros com justiça; socorrer os que são explorados, defender os direitos dos órfãos e proteger as viúvas.” (Isaías 1.17 NTLH, grifo nosso). A denúncia do profeta Isaías continua contra os líderes de sua época, que por ganância esqueciam-se dos carentes (cf. Isaías 1.23; 10.2). Os profetas Jeremias e Ezequiel também fazem a mesma denuncia (cf. Jeremias 5.28; Ezequiel 22.6-7) e mostra que algumas promessas feitas pelo grande Deus de Israel estavam 47 O vocábulo hebraico para “afligir” (hne ‘anah), de acordo com STRONG tem o sentido de: oprimido, humilhado, rebaixado, maltratado. (DICIONÁRIO BIBLÍCO STRONG, Barueri, SP, Sociedade Bíblica do Brasil, 2002, p.198). 48 Deuteronômio 10.18.
  • 40. 41 condicionadas ao tratamento que os hebreus iriam dar aos órfãos (cf. Jeremias 7.6; 22.3). Já Oséias lembra que a misericórdia ao órfão vem de Deus (Oséias 14.3). Em uma época de crises, de formação e de desenvolvimento de uma nação, vemos o cuidado de Deus para com os órfãos. 3.2.4 ESCRAVOS A questão da escravatura no antigo testamento e as implicações da permissão divina para essa condição social tem sido alvo de duras críticas a esse respeito. Não podemos negar que o homem, na estratificação social, criou classes, castas e estamentos, que subjugou outros semelhantes a ele49 , e dentro dessa regra alguns dentre o povo hebreu historicamente, também, participaram dessa imposição social, não por seguir fielmente a ordem divina, mas num desvio de conduta da ordem social imposta por Jeová. Não é intenção nesse trecho formar uma opinião apologética sobre o fato, mas mostrar o ensino veterotestamentário concernente ao que se refere como escravatura permitida por Deus, e as diretrizes de como deveriam ser tratados todos os escravos do povo hebreu. À medida que desenvolvemos o trecho ficará clara a diferença entre o escravo para hebreu, consonante com ensinos de Jeová, e para as demais nações. O vocábulo hebraico para escravo (dbe “ebed”) tem o sentido de servo, servidor, súditos e até adoradores. Verificando esse vocábulo percebemos que para o hebreu a palavra “escravo” não soava da mesma maneira que para um grego (“douleuw”, douleuo - ser escravo, privado de liberdade, ou “doulov”, doulos - homem numa condição servil) ou para um romano (slavus, sclavus do latim medieval, que significa literalmente cativo, privado de liberdade).50 No nosso vernáculo a palavra em questão, que foi herdada do latim, leva-nos a entender diferentemente do que a cultura judaica, inicialmente, entendia por escravo. O escravo era proibido de sofrer maus-tratos (cf. Êxodo 21.26,27), Deus lembra o povo de hebreu dizendo: “Lembrar-te-ás de que foste escravo no Egito e de que o SENHOR te livrou dali; pelo que te ordeno que faças isso”. 49 VILA NOVA, Sebastião, Introdução à sociologia, 5 ed. rev e aum. : São Paulo; Atlas 2000, p. 91. 50 HOUAISS, Antônio, Dicionário Eletrônico Houaiss, Instituto Antônio Houaiss, 2009. Produzido e distribuído pela Editora Objetiva Ltda. Seção Dicionário Língua Portuguesa.
  • 41. 42 Se algum hebreu matasse um escravo seria punido (cf. Êxodo 21.20), e se maltratasse perderia o direito de tê-lo como servo (cf. Êxodo 21.26,27), se um animal, de algum senhor, o ferisse, esse animal deveria ser apedrejado (cf. Êxodo 21.32). O escravo recebia pagamento, com o qual poderia comprar seus alimentos e até sua liberdade (em caso de escravos por roubos, furtos ou dividas), mas se, enquanto escravo, este, tivesse filhos, essas crianças seriam sustentadas pelos seus senhores (Levítico 22.11). Se o escravo fugisse, não poderia ser devolvido para seus senhores, antes deveria ser acolhido e não oprimido (cf. Deuteronômio 23.15-16), fica subentendido que o escravo só fugia quando sofria algum tipo de maltrato. Havia duas datas comemorativas em Israel onde o escravo poderia escolher continuar com seu senhor ou viver livre, era o ano sabático e festa do jubileu. A decisão caberia ao escravo (cf. Êxodo 21.1-5). Para que pudesse de fato ser um escravo, este deveria se submeter a uma exigência ante a lei, deveria ser circuncidado, tornando-se assim um professo da fé hebreia (cf. Gênesis 17.1-27; Êxodo 12.44), e se não aceitasse tal imposição seria devolvido a sua nação de origem. Somente em alguns casos um ser humano escravo era forçado a trabalhar, era o caso de um ladrão que era submetido à servidão, por não conseguir restituir seu roubo (Êxodo 22.3), mas mesmo nessa condição receberia seu pagamento. Se algum hebreu raptasse alguém, ou o vendesse, ou fosse achado em suas mãos deveria ser morto (Êxodo 21.16), aqui fica clara a diferença entre escravo para o antigo testamento e os escravos em outras nações51 . A submissão de homens e mulheres que se tornavam escravos era devido à condição social ou por dividas, que também os levavam a uma condição social ruim, ressaltamos, porém, que a ordem divina não foi para fazer escravos e sim acolher servos. 3.2.5 OS EMPRÉSTIMOS 51 http://www.monergismo.com/textos/etica_crista/biblia-defende-escravidao_GaryMar.pdf. Acesso em 23/08/2012.
  • 42. 43 Grosso modo e resumindo podemos afirmar que empréstimos fazem parte da sociedade como costumes muito antigos e que é difícil datar com precisão o inicio desse costume. Analisando os cinco primeiros livros da bíblia pode-se aprender muito sobre a economia de um povo em desenvolvimento. Na civilização hebreia que estava se formando, “os empréstimos eram essenciais para permitir que as pessoas saíssem da pobreza” 52 , além de ser parte da responsabilidade social daquele povo. Os empréstimos serviam para que alguns hebreus investissem em um pequeno negócio, por mais atual que isso pareça, para suprirem suas necessidades e se tornarem autossustentáveis. No vernáculo hebraico existem cinco palavras para indicar o termo empréstimo, nashah (“hvn”) que significa emprestar, ser credor, lavah (“hwl”) tomar emprestado, nathan (“Ntn”) dar, abat (“jbe”), tomar como penhor ou dar como penhor e sha‟al ou sha‟el (“lav”) pedir emprestado. A prática dos empréstimos era regulamentada pela lei mosaica e visava à ajuda aos pobres, vejamos o que um trecho bíblico diz: Porque o SENHOR, teu Deus, te abençoará, como te tem dito; assim, emprestarás a muitas nações, mas não tomarás empréstimos; e dominarás sobre muitas nações, mas elas não dominarão sobre ti. Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na tua terra que o SENHOR, teu Deus, te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade. Guarda-te que não haja palavra de Belial no teu coração, dizendo: Vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão, e que o teu olho seja maligno para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele clame contra ti ao SENHOR, e que haja em ti pecado. Livremente lhe darás, e que o teu coração não seja maligno, quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o SENHOR, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo no que puseres a tua mão. Pois nunca cessará o pobre do meio da terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado e para o teu pobre na tua terra (DEUTERONÔMIO 15.6- 11) 53 . No caso de empréstimos a lei proibia a prática de usura (cobrança de juros) com os seus compatriotas e só era aceitável a cobrança de juros quando os empréstimos eram feito a não hebreus (cf. Deuteronômio 15.6; 23.19-20). 52 COPE, Landa. The Old Testament Template - Rediscovering God's Principles for Discipling, ed. 2, The Template Instituto Press, Burtigny, Suíça.May 2008, p. 39. 53 Bíblia Sagrada versão Almeida Revista e Corrigida.
  • 43. 44 O Pentateuco mostra um ciclo onde as dividas eram perdoadas. A cada sete anos o devedor tinha suas dividas anuladas por seus credores. Mas não se pode pensar que os hebreus se aproveitavam dessa lei, enganando seus credores, haja vista que aqueles que não devolvessem os empréstimos tomados eram considerados ímpios (cf. Salmo 37.21), e os que ultrapassam esse ciclo não conseguindo sanar suas dividas, assim agiam por pura falta de condições (cf. Deuteronômio 24.10-17; 15.1-6). Encontramos nos Salmos declarações de retribuições aos que tinham como prática o ato de emprestar como ajuda aos pobres, dando condições a estes de minimizarem sua condição social e saírem da pobreza, veja exemplo a seguir: “O que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais abalado.” (Salmos 15.5) e “ditoso o homem que se compadece e empresta; ele defenderá a sua causa em juízo”. (Salmos 112.5). Ainda nos livros conhecidos como sapienciais encontramos o apoio dessas praticas visando o bem social (cf. Salmos 37.26; Provérbios 19.17). O estudo bíblico cuidadoso do tema aqui esboçado leva-nos a compreender que a prática do empréstimo de bens poderia ajudar os pobres, dando-lhes condições de criarem um meio de renda que os ajudassem. Mas, como comentado em alguns tópicos anteriores, e historicamente falando, existiram hebreus que praticavam justamente o contrario do sistema de leis imposto por Deus no antigo testamento o que acabava criando problemas sociais sérios, e em relação aos empréstimos não foi diferente. 3.3 A POBREZA E A BÍBLIA - NOVO TESTAMENTO O novo testamento não difere do antigo testamento em vários aspectos. Algumas leis e vários costumes foram, no novo testamento, abolidos, mas a responsabilidade social ante a pobreza e os efeitos colaterais causados por ela são lembrados a todo instante. Quando permeamos os evangelhos, o livro histórico neotestamentário, as cartas paulinas, as cartas universais e o livro da revelação (APOCALIPSE) fica evidente o que afirmamos acima. Olhando para a língua em que foi escrito o novo testamento (grego) encontramos os seguintes termos para pobre e pobreza: penichros (penicrov) significando pobre e necessitado, ptochos (ptwcov) que traz o sentido de aquele que
  • 44. 45 foi reduzido à pobreza, mendicância, pedinte, desamparado, indigente, destituído de cultura intelectual que as escolas propiciam, penes (penhv) somente pobre e husterematos (husterematov) que significa pobreza, falta ou deficiência daquilo que se precisa, necessidade. Todos esses termos são aplicados de maneira objetiva no novo testamento, mostrando que a pobreza jamais é esquecida por Deus. A pregação do evangelho não veio somente para os socialmente privilegiados, o evangelho não era uma ferramenta de libertação politica da escravidão vivida pelos judeus como consequência da opressão romana que dominava o mundo de então, mas, Jesus, no evangelho de Lucas 7.18-22, mostrara que sua missão e uma das provas que ele de fato era o Messias prometido se devia ao fato de que o evangelho estava sendo pregado aos pobres. Os socialmente desfavorecidos não são esquecidos nas páginas do novo testamento, por isso a igreja ou aqueles que se chamam cristãos não podem esquecê-los, e é justamente este o proposito de nossa fundamentação teórica desse item formado a partir do novo testamento. O novo testamento trata da pessoa central e mais importante para o cristianismo, Jesus Cristo. Os seus ensinos e os efeitos desses ensinos que foram registrados servem de modelo para a igreja cristã do século XXI. O próprio Jesus em suas palavras registradas no evangelho de João (20.21) se coloca como modelo a ser seguido, os apóstolos imita a Cristo e incentivam os cristãos a fazê-lo também: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (1CORINTIOS 11.1). A incontestável verdade é que sem a pessoa de Cristo e de seus ensinos não há cristianismo. Jesus era pobre. Os evangelhos registram o nascimento de Jesus em uma família socialmente pobre. Maria e José não têm títulos e nem influência. A afirmativa de que eles eram pobres esta registrada em Lucas 2.23-24 (você pode comparar com Levítico 12.8), onde durante a consagração de Jesus eles levam um casal de pombos, mostrando a falta de condições de oferecer um sacrifício de um animal maior, um cordeiro por exemplo. Jesus nasceu numa manjedoura, não num palácio, como acreditavam alguns em sua época. A cidade natal de Jesus, Belém, talvez nunca tivesse a notoriedade que tem hoje se ele não tivesse nascido lá. A infância e adolescência de Cristo foram vividas em outra cidade subdesenvolvida, a cidade de Nazaré, mais tarde um homem chamado Natanael duvida de Jesus quando toma conhecimento de sua cidade: “De
  • 45. 46 Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (JOÃO 1.46). A entrada de Jesus em jumentinho narrada no evangelho de Mateus 21.1-16, mostra o estilo que ele trazia consigo. Carlos Queiroz (1998) diz que Cristo era um tipo de rei que afrontava os modelos estratificados da sociedade. A profissão de seu pai, carpinteiro, revela outra parte da realidade social vivida por Jesus. Durante seu ministério dependeu de um grupo de mulheres que o sustentava e não possuía um lar (Lucas 8.2 e 9.58). Os judeus de seu tempo atribuía a pobreza a uma espécie de maldição divina e a riqueza como evidência da benção do divino. O estilo de vida de Cristo contradiz esse paradigma judeu, afinal Cristo vive sem pecados e mesmo assim assume uma condição de pobreza. Porém, a pobreza não deve ser encarada, biblicamente, como uma virtude, mas, como um mal a ser eliminado e com o qual Deus mostra profunda preocupação. A missão de Cristo é afirmada por ele quando, citando Isaías 61.1-2, diz: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor. Note que o texto diz claramente que uma das prerrogativas ministeriais de Cristo era a anunciação do evangelho aos pobres. Isso também foi confirmado quando Cristo afirma a João Batista, em Lucas 7.22, que “aos pobres é anunciado o evangelho”. Os discípulos escolhidos por Jesus eram pobres. O estilo de vida de Jesus e a escolha de seus discípulos coadunam com o ensino registrado em Tiago 2.5: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam?”. Ele conviveu com pecadores e publicanos, acolheu os pobres, libertou mulheres que se prostituiam, curou aqueles que viviam as margens da sociedade, ensinou a estrangeiros discriminados pelo seu povo, como o caso da mulher samaritana (JOÃO 4.1-30). Até em sua morte podemos ver seu estilo de vida, ele não tinha um tumulo para ser sepultado, e só o teve pela generosidade de um homem rico chamado José de Arimatéia. Isso nos remete ao que o apóstolo Paulo escreveu em 2 CORÍNTIOS 8.9: “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus
  • 46. 47 Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”. Houve dois homens ricos que foram ao encontro de Jesus, o primeiro um jovem riquíssimo que ouviu que deveria vender tudo o que tinha e dar aos pobres e depois seguir a Cristo (LUCAS 18.22,23), mas não conseguiu faze-lo. No celebre sermão do monte Jesus fala que não se pode servir a Deus e as riquezas (MATEUS 6.24), nesse sentido as riquezas para o cristão, de acordo com ensino de Cristo, deve estar a favor dos homens e nunca contra os homens, ela deve ajudar e não separar, o desprendimento em relação à riqueza e aos bens materiais é necessário para que haja justiça, e essa justiça deve ser praticada por aqueles que querem seguir a Cristo. Em outros textos, Jesus da à mesma ênfase que foi dada ao jovem rico, Lucas 12.33 e 14.33 indicam que a riqueza não pode ser um empecilho, um óbice, para aqueles que querem se tornar discípulos de Cristo. Outro pensamento extraído destes textos é que as riquezas não devem servir de bens para desfrute de pequenas massas egoístas, mas devem servir de bem comum à humanidade, suprindo a necessidade de todos igualmente. A visão de posses de acordo com o pensamento de Cristo difere dos padrões vividos por muitos cristãos de hoje. O segundo homem foi Zaqueu, que trabalhava na cobrança de impostos, após encontrar-se com Jesus decide doar metade de seus bens aos pobres. A atitude de Zaqueu leva a declaração de Cristo “hoje veio salvação a esta casa”, ao que o texto denota o sinal de conversão foi o desprendimento em doar, em ajudar. No evangelho de Mateus 25. 35-45 Jesus afirma que um dos critérios usados por Deus no julgamento, se dará com base nas atitudes do homem em relação ao socialmente desfavorecidos. A atitude correta, de acordo com esse trecho, é saciar a sede dos sedentos, saciar a fome dos famintos, vestir os que estão nus, dar abrigo aos estrangeiros, prestar auxilio aos enfermos e encarcerados. Em suma Jesus Cristo se fez pobre, pregou aos pobres, se doou aos pobres e ensinou a atitude correta que devemos ter diante dos pobres. Os pobres foram alvo das mensagens de Cristo veja o que evangelista Lucas registrou: “então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (LUCAS 6.20). Não podemos negar o cuidado de Cristo para com o pobre, mas e a igreja? Será que em seus primórdios
  • 47. 48 houve a mesma compaixão, a mesma visão? Os continuadores da propagação do evangelho levaram a mesma mensagem de amor ao próximo e cuidado aos desfavorecidos? Indubitavelmente, podemos afirmar que a igreja primitiva54 e os discípulos de Cristo continuaram o legado de amor, respeito e ajuda aos pobres. Continuamos nossa pesquisa através dos livros neotestamentários. O livro histórico do novo testamento, Atos dos apóstolos ou simplesmente Atos, trata da formação da igreja e da continuidade da pregação da mensagem de Cristo pelos seus discípulos. Em meio a perseguições e acontecimentos surpreendentes a igreja cristã começa a ser formada. O inicio da igreja é marcado por um profundo zelo pela pureza da mensagem cristã, pela tarefa árdua de anunciação dessa mensagem e pela prática incansável e indelével da igreja para aplicar a mensagem de Cristo integralmente. Os textos de Atos 2.42-45 e 4.32-35 mostra o modo de como os primeiros cristãos viviam. A visão do bem comum, onde todos os bens pertenciam a todos, era aplicada, os primeiros cristãos não visavam individualmente suas propriedades, mas os bens pertenciam à generalidade, é o que o adjetivo grego para comum moinhos (koinov), que aparece no verso 44, exprime. O trecho de 4.32-35 revela um tipo de sentimento que havia entre os neófitos e os cristãos de fé arraigada, havia unanimidade, os bens deveriam servir a todos, eles dividiam uns com os outros tudo que eles tinham, e o resultado desse tipo de sociedade é expresso no verso 34 e 35, onde fica visível a eliminação da pobreza: Não havia entre eles nenhum necessitado, pois todos os que tinham terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o entregavam aos apóstolos. E cada pessoa recebia uma parte, de acordo com a sua necessidade (NTLH). Ressaltamos que essa comunidade cristã não agia dessa forma por obrigação ou exigências impostos pelos apóstolos, como aconteceu com os essênios que repartiam seus bens por uma imposição legalista, mas simplesmente pela mensagem cristã que havia sido assimilada pelos novos conversos, o ensino de amor ao próximo finalmente é expresso na sua totalidade, afinal o desprendimento em favor do necessitado acontece, e qual maior prova de amor ao próximo se não a 54 Igreja Primitiva – Alusão a formação histórica da igreja cristã, ocorrida no período de 30 d.C até a permissão da religião cristã pelo imperador romano Constantino e oficialização pelo imperador Teodósio no terceiro século.
  • 48. 49 coragem de dividir e se doar a seu favor. Contudo a liberdade de escolha individual foi preservada como exposta em Atos 5.4. A vida na igreja primitiva valoriza o ser humano. Os bens, a propriedade privada, o desejo de acumulo de bens são trocados por uma vivencia real e concreta de uma comunhão ímpar. O mero ideal teórico de uma sociedade justa é experimentado, pelo menos por algum tempo, de forma real. Esse não era um novo modelo de sociedade como assevera Boor (2003): Os terrenos e as casas continuavam sendo propriedade inviolada de cada um. Mas ninguém se arvorava em seu direito de propriedade e defendia seu patrimônio. Aqui não se ensaiava um novo modelo social, nem se definia um novo conceito de propriedade. Aqui a posição interior era completamente nova. Essa atitude repercutia em todos, tanto naqueles que, como Maria, a mãe de João Marcos (At 12.12), conservou sua grande casa, a fim de torná-la útil de outro modo para os irmãos, e também naqueles que, como Barnabé, de fato venderam seu terreno. “Tudo lhes era comum”, ou como também poderíamos traduzir: Consideravam tudo como propriedade comum 55. A preocupação era evidente na igreja, era o amor ao próximo e o cuidado com os necessitados era uma faceta normal do discipulado cristão. Mas a jovem igreja começa a enfrentar problemas de cunho social, Atos 6.1-7 narra o começo de um favoritismo na distribuição de donativos que ocorria diariamente no seio da igreja. Os helenistas56 estavam sendo esquecidos e os hebreus favorecidos. A narrativa mostra que os apóstolos convocaram uma reunião com um fim específico, a resolução deveria ser pronta e não poderia continuar com favoritismo e que os necessitados pudessem ser atendidos em suas necessidades igualmente. O mal estar foi resolvido, eles elegeram sete homens que ficaram responsáveis de administrar o fundo dos bens, garantir equidade na distribuição de alimentos para os empobrecidos. Esses homens ficaram conhecidos como diáconos, pessoas que, em virtude do ofício designado a eles pela igreja, cuidavam dos pobres e tinham o dever de distribuir o dinheiro coletado para uso destes. Fica patente que mesmo em meio a problemas surgidos na igreja primitiva, os pobres não deveriam ficar em esquecimento. A função diaconal empregada em alguns núcleos religiosos no seio protestante, em nada se assemelha com o papel 55 Boor, Werner de, Atos dos Apóstolos, Curitiba, Editora Evangélica Esperança, 2003, p.49. 56 Os helenistas eram judeus advindos de países ocidentais, os quais haviam adquirido um pouco da cultura grega e falavam grego.
  • 49. 50 desempenhado pelos primeiros diáconos. A diaconia serve, biblicamente, como um órgão estruturado e ativo na ajuda aos pobres, dentro da igreja. Cabe ao diácono identificar, apontar, levantar fundos e ajudar os necessitados, fazendo isso estará “servindo a mesa” como foi instruído pelos apóstolos de Cristo. Destacamos o verso 3 do capitulo 6, os discípulos atribuem a essa função um papel importantíssimo, e o chamam de “... sobre este importante negócio” (ARC). Há um exemplo impressionante do livro Atos 9.36 onde é lembrada uma mulher cristã chamada Tabita, a bíblia expõe que essa mulher “... usava todo o seu tempo fazendo o bem e ajudando os pobres...”, ao que o texto traz, recebia uma grande admiração por parte das viúvas. Já o capitulo 10 fala de um homem piedoso chamado Cornélio, oficial do exercito romano, que continuamente ajudava aos socialmente desfavorecidos, se antecipava e se apressava em ajudar. E mais a frente, no capítulo 11, um profeta chamado Ágabo previu uma grande fome, diante disso a igreja de Antioquia, ao invés de pensarem em si, se uniu para enviar socorro aos irmãos que moravam na Judeia. O livro de Atos traz mais um princípio muito interessante, o de “dar é melhor que receber” (ATOS 20.35), o apóstolo Paulo registra nesse trecho que Cristo havia dito e diante disso se fazia necessário socorrer os necessitados. O verbo grego utilizado nesse trecho (didwmi) tem o sentido de suprir, dar algo de livre e espontânea vontade, ser profuso, ter prodigalidade ou simplesmente doar-se. A entrega sem espera de retorno contradiz os ditames das relações humanas. O auxilio aos necessitados é uma exigência divina e deve ser feito com esforço. A igreja primitiva rompe as barreiras do nacionalismo, por mais que seus inauguradores fossem judeus, a igreja estaria aberta a todos. Não poderia haver favoritismo, os pobres não poderiam ser esquecidos, a mensagem cristã deveria ser preservada e as dificuldades existentes eram vencidas pela comunhão vivida por seus membros. O pensamento dos apóstolos descrito nas cartas ou epístolas também expressa o cuidado com os necessitados. O apóstolo Paulo, autor da maior parte das paginas neotestamentárias, por exemplo, revela um profundo amor e cuidado pelo próximo. Uma parte da teologia paulina que esta expressada em 1Coríntios 1.26, 27, 28 fala de como os padrões divino difere dos padrões humanos, a escolha divina começa com os desprezados, humildes, fracos. Para Paulo a pobreza não pode separar o homem do amor de Deus (ROMANOS 8.35 NTLH), o serviço que