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Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




               DO VENDAVAL DESTRUTIVO À ESCOLA-MODELO:
                    A TRAJETÓRIA DE UMA JOVEM DIRETORA
                   NUMA ESCOLA MUNICIPAL EM TAUBATÉ-SP


                                                                    Cristiano José Pereira*


Resumo: O estabelecimento de escolas públicas em determinadas comunidades e o
estudo de caso de alunos oriundos destas com a escola, seja no campo disciplinar
ou de aquisição de competências e habilidades, são temas recorrentes de trabalho
no âmbito acadêmico. Porém, existe uma lacuna importante nos estudos que se
relacionam com a escola: a de determinar com mais precisão o papel de um
profissional muitas vezes estigmatizado – o Diretor. O presente artigo possui o
objetivo de analisar a trajetória profissional de uma jovem Diretora, tendo como
objeto específico o período que ela passou (2003-2007) à frente de uma escola
pública municipal de Taubaté-SP. A escola partiu de um contexto de extrema
carência: havia a falta de mobiliário, funcionários e até mesmo o prédio escolar foi
destruído por um vendaval em 2003. Quatro anos mais tarde a carência e a
destruição faziam parte do passado: a escola já era considerada como um autêntico
modelo. Tal evolução deve-se, entre outros fatores, à ação contínua da Diretora
como competente e efetiva gestora da escola. Portanto, estudaremos a ação e
procedimentos desta Diretora frente à escola como gestora através do registro oral,
recolhido através de entrevista.

Palavras Chaves: Escola, competência, Diretora.

Abstract: The establishment of public schools in certain communities and the study of
students' case originating from of these with the school, be in the field to discipline or
of acquisition of competences and abilities, they are appealing themes of work in the
academic ambit. Even so, an important gap exists in the studies that link with the
school: the one of determining with more precision the a professional's paper
stigmatized a lot of times - the Director. The present article possesses the objective
of analyzing the a Managing youth's professional trajectory, tends as specific object
the period that she passed (2003-2007) ahead of a municipal public school of
Taubaté-SP. The school left of a context of extreme privation: there was the furniture
lack, employees and even the school building it was destroyed by a gale in 2003.
Four years later the privation and the destruction were part of the past: the school
was already considered as an authentic model. Such evolution is due, among other
factors, to the Director's continuous action as competent and effective manager of
the school. Therefore, we will study the action and procedures of this Managing front
to the school as manager through the oral registration, picked up through interview.

Keywords: School, competence, Director.
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          Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




            INTRODUÇÃO – ESPAÇO DELIMITADO DE UMA ESCOLA


      A cidade de Taubaté, situada numa região denominada Vale do Paraíba no
Estado de São Paulo, é uma cidade de porte médio, predominantemente industrial.
Analisaremos neste artigo um aspecto específico de um passado recente: em 1989,
foi aberto um novo loteamento em Taubaté, denominado “Quinta das Frutas”. A
região cresceu rapidamente.
      Ao longo de 2002, já num novo loteamento situado acima do “Quinta das
Frutas”, o “Quinta dos Eucaliptos”, o prefeito José Bernardo Ortiz mandou construir
uma nova escola. A necessidade de ocupação do novo prédio escolar foi tão ingente
que as aulas começaram sem as mínimas condições básicas: limpeza, mobiliário,
cercamento do prédio escolar etc. A escola foi aberta ao público com mais de dois
meses de atraso (www.valeparaibano.com.br. Acesso em 29/12/2007).
       Apesar das dificuldades, havia um elemento importante para o posterior
sucesso da escola: a presença de uma Diretora dinâmica, disposta a reverter a
situação de carência, tanto do prédio escolar, quanto da comunidade que,
finalmente, tinha um prédio escolar para iniciar ou continuar seus estudos.


            HISTÓRIA ORAL E COMPREENSÃO DO CONTEXTO ESCOLAR


      É evidente que analisar acontecimentos situados num tempo imediatamente
anterior ao presente reserva grandes dificuldades ao historiador: há a comoção
deste profissional ter acompanhado – vivo – tais acontecimentos, podendo
interpretá-los de forma parcial. Mas o historiador deve ter argúcia e, principalmente,
sensibilidade: o mais importante não é simplesmente acumular informações em
entrevistas, mas sim atribuir real importância ao que é dito pelo próprio entrevistado,
quando informações dadas via oralidade adquirirão real significado e pertinência.


                      Portanto, a descoberta da história oral pelos historiadores, agora em
                      andamento, provavelmente não será ignorada. E ela não é apenas uma
                      descoberta, mas também uma reconquista. Oferece à história um futuro livre
                      da significação cultural do documento escrito. E devolve também ao
                      historiador a mais antiga habilidade de seu ofício. (THOMPSON,1992:103)
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           Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




      Cada contexto escolar possui potencialidades e também dificuldades em
alguns aspectos. O historiador, estudioso da escola, para compreender a
complexidade de cada contexto, deve ter a consciência de não deixar de lado uma
fonte de múltiplas informações e vivências: a Direção. Naturalmente, a trajetória de
um profissional para tornar-se Diretor não pode ser deixada de lado na compreensão
da importância que uma escola possui numa dada comunidade, região ou país,
trajetória esta que é muitas vezes simplesmente ignorada em estudos acadêmicos
brasileiros. Resta aos Diretores o estigma de “supremos mandatários inacessíveis”,
profissionais pouco dispostos a colaborarem com os pesquisadores e estudiosos
das escolas públicas brasileiras. Estigma injusto, conforme veremos neste artigo.
      Fernand Braudel, em um artigo denominado “Por Uma Economia Histórica”,
não deixa de analisar tópicos que possuem imediatas relações com a História Oral:


                       O tempo que é o nosso, o da nossa experiência, da nossa vida, o tempo que
                       torna a trazer as estações e faz florescer as rosas, que marca o escoamento
                       da nossa idade, conta também as horas da existência das diversas
                       estruturas sociais, mas com um outro ritmo. (BRAUDEL,1965:349)


      Portanto, este artigo está situado na curta duração, o que faz, dentro da
chamada “dimensão dos indivíduos” – no caso, a nossa entrevistada – ter, ao
lembrar-se do passado, uma “rápida tomada de consciência”. (BRAUDEL,1965:264).
Este artigo poderia situar-se numa duração maior; mas em Taubaté, e também em
outras cidades brasileiras, os diretores estão sujeitos a remanejamentos diversos.


                DE ESTUDANTE À PROFESSORA: VIRGÍNIA DURCI


      Virgínia Durci possui uma trajetória de vida modelar para compreendermos a
abnegação que envolve a profissão de Diretor: natural de Cruzeiro-SP, uma
pequena cidade do Vale do Paraíba, mudou-se para Taubaté ainda criança,
concluindo o Ensino Fundamental numa escola pública. Após ser aprovada numa
prova seletiva, tornou-se “normalista” na Escola Estadual “Monteiro Lobato”, situada
também em Taubaté, onde formou-se em 1987. Teve grandes professores, os quais
transmitiam o conhecimento com o mérito de não fazer o “ambiente escolar ficar
pesado”.
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         Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




      Quando estudante, Virgínia teve a oportunidade de fazer um estágio, tanto de
observação, quanto de regência, na função de “auxiliar escolar”, o que foi de grande
importância para sua formação, “melhorando a criança” que havia dentro dela.
Aprendeu a utilizar a prática montessoriana de ensino, além de elementos preciosos
que devem estar obrigatoriamente inclusos numa escola: organização, visão de uma
determinada estrutura e a aplicação possível de disciplina com liberdade.
      Após terminar o seu curso de Magistério, Virgínia Durci foi trabalhar numa
Secretaria de uma escola particular de Taubaté, que estava no início de suas
atividades na cidade. Também essa experiência lhe foi preciosa: aprendeu todas as
rotinas presentes numa Secretaria Escolar, inclusive aquelas que se referiam
especificamente à burocracia presente em centenas de papéis para preencher,
carimbar e assinar. Ao mesmo tempo, teve a oportunidade de formar-se em
Comunicação Social pela Universidade de Taubaté (UNITAU), terminando o seu
curso em dezembro de 1991.
      Como profissional consciente de suas capacidades, Virgínia Durci não
contentou-se em permanecer como Secretária. Ao contrário: a Prefeitura Municipal
de Taubaté fez um Concurso Público para Professor no ano de 1989. Virgínia foi
aprovada no Concurso. Dez meses depois foi convocada para assumir um cargo.
Uma jovem professora, portanto. Virgínia tinha 21 anos quando tornou-se uma
funcionária pública. A responsabilidade não a amedrontava.


               DE PROFESSORA À DIRETORA: VIRGÍNIA DURCI


      Nesta época, o Departamento de Educação e Cultura (DEC) de Taubaté
sofria um déficit: havia poucos prédios escolares para atender o público, desde a
creche até o Ensino Fundamental (antigo Ginasial). Virgínia Durci foi trabalhar numa
creche mantida por uma entidade denominada “Lar Bom Samaritano”, conveniada
com a Prefeitura Municipal de Taubaté: esta fornecia os professores, aquela o
espaço físico. Sua sala situava-se embaixo de uma escada. Os professores tinham
que exponenciar o termo “polivalente”: além de ensinar, ainda limpavam as salas de
aula e a escola, preparavam material para as aulas e davam banho nas crianças.
      Dois anos depois, houve um grande remanejamento: Virgínia foi trabalhar em
duas escolas: numa, o trabalho era realizado com crianças que necessitavam ser
alfabetizadas, na periferia de Taubaté; em outra, eram aulas para adultos, numa
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         Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




comunidade paupérrima: muitos iam para escola não para aprender algo, mas sim
por causa de alimento, quase invariavelmente sopa. Alguns, premidos pela
necessidade, levavam grandes potes para levar um pouco da sopa para suas
respectivas casas.
      Trabalhar em comunidades que não conseguem satisfazer necessidades
básicas como moradia e alimentação é um desafio presente a professores e
diretores em inúmeras regiões do Brasil. Obrigatoriamente, nestas escolas que
possuem diversas carências, os profissionais da educação envolvidos devem
priorizar uma pedagogia humanitária, que vise a real melhoria das comunidades
envolvidas dentro do contexto da real educação.
      Virgínia sabia que precisava agir de forma diferenciada. “A comunidade pode
ver o mundo de outra maneira” – afirmou. Ela resolveu aplicar métodos mais
realistas na escola onde ministrava aulas para adultos: as aulas deveriam referir-se
diretamente à resolução de problemas presentes na comunidade. Vejamos um
exemplo citado pela Diretora:


                     Os alunos tinham entre 20 e 50 anos, e eles muitas vezes tinham fome...
                     Eles precisavam de elementos motivadores (...) Então resolvi fazer a
                     “educação pela alimentação”: associava as matérias de sala de aula com a
                     necessidade direta do alimento. Os portões da escola ficavam abertos,
                     muitos iam embora após o intervalo, horário da sopa. Mesmo assim muitos
                     conseguiram formar-se na 4.ª série (...).


      Trabalhar em duas escolas com real interesse pelos problemas dos alunos e
ainda conciliar esse trabalho com a maternidade é um desafio para qualquer mulher.
Em 2000, Virgínia teve o seu primeiro filho, Pedro. Dois anos mais tarde, nascia
Maria Luiza. Mas os desafios profissionais estavam presentes. Em Taubaté os
diretores de creches e escolas da Educação Básica e Fundamental são indicados,
até os presentes dias, diretamente pelo DEC. Virgínia recebeu o convite de ser
diretora de uma creche situada em um bairro denominado “Parque Aeroporto”.
Aceitou, pois tinha a certeza de que poderia fazer algo decisivo para a melhoria da
educação para a comunidade.


           VIRGÍNIA DURCI: INOVAÇÕES, NÃO SEM RESISTÊNCIAS
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           Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




      Ao     mesmo      tempo     em    formava-se      em    Pedagogia      pela    UNINCOR
(Universidade de Três Corações-MG), Virgínia assumiu a direção de uma creche
situada numa comunidade de poucos recursos. O prédio escolar sequer possuía
uma caixa d’água. Para Virgínia, esses elementos não eram empecilhos em justificar
que o trabalho pedagógico deveria oferecer menos que qualidade absoluta. Ao
contrário: Virgínia resolveu inovar através de sua dupla ação de alfabetizadora e
diretora: através da criação de uma apostila, que em nada lembrava uma clássica
cartilha: os alunos deveriam ser necessariamente alfabetizados antes de entrarem
em uma escola para cursar a 1.ª série.
      Para tanto, Virgínia fez parcerias com a comunidade e também com o
comércio local, que cedeu à creche folhas de papel sulfite e cópias xerográficas,
além de angariar recursos com bingos e venda de latas de alumínio. Os resultados
não tardaram a surgir, e também as resistências, inclusive institucionais: elementos
menos esclarecidos do Departamento de Educação e Cultura (DEC), numa reunião,
simplesmente proibiram a utilização da apostila na creche.
      Virgínia não esmoreceu frente a proibição. Ela tinha o apoio da comunidade, e
simplesmente, “esqueceu” que havia a tal ordem. A rede municipal de Ensino Básico
de Taubaté, na época, era composta de poucas escolas: havia um “vestibulinho”
para os alunos que quisessem adentrar na 1.ª série. O resultado final não tardou:
boa parte dos alunos da creche dirigida por Virgínia conseguiu uma vaga na rede
municipal de ensino, com a ajuda, naturalmente, de um bom material didático
desenvolvido pela equipe escolar.
      Após três anos, por vontade própria, Virgínia quis recomeçar seu trabalho
como Diretora em outra creche, situada em outra região carente, no “Parque
Planalto”. Sua nova administração notabilizou-se pela organização de uma horta
comunitária, atendendo uma necessidade da população local. Foram quase três
anos de trabalho.
      Em 2000, Taubaté muda de Prefeito. Bernardo Ortiz faz uma série de
mudanças no DEC e Virgínia é convidada a assumir a Vice-Diretoria de uma escola
de Ensino Básico e Fundamental que está num bairro que é considerado até hoje
um dos mais carentes de Taubaté: o São Gonçalo.
      O desafio foi grande. Virgínia foi obrigada a aprender a lidar com elementos
que, definitivamente, deveriam estar longe de uma escola: Conselho Tutelar e
Juizado de Infância. Os problemas estruturais da comunidade eram grandes, além
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          Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




das questões que Virgínia logo percebeu nos alunos: baixa auto-estima e
defasagem escolar.
      Virgínia, então, criou um projeto pedagógico que ganhou a denominação de
“Metamorfose”. Segundo a Diretora, “visava mudar a forma do como o conhecimento
deveria ser adquirido”, e também “a melhoria da comunidade, da qualidade de vida,
formar verdadeiros cidadãos”. Para tanto, resolveu investir, junto com o corpo
docente, na formação prática dos alunos, através da criação de laboratórios, tais
como o de Ciências. Os alunos colaboraram trazendo espécies animais e vegetais.
Houve uma melhoria na aquisição de conhecimentos, ao mesmo tempo, de várias
outras matérias.
      Outro elemento que Virgínia investiu e que muitas vezes é subestimado nas
escolas, sejam elas públicas ou não, foi a questão da Educação Física. Os alunos
não tinham sequer uniformes ou tênis adequados para a prática de esportes. Com a
ajuda de parcerias conseguidas no comércio local, e também junto a funcionários da
Volkswagen que se cotizaram para tanto, os alunos mais carentes tiveram uniformes
e tênis comprados. Uniformes são, muitas vezes, combatidos. Mas eles perfazem
papéis importantes: ao mesmo tempo que massificam, indicam um sentido de
pertencimento a um grupo escolar. E os alunos da escola do São Gonçalo
necessitavam de pertencer a algo.
      Outro elemento presente no projeto “Metamorfose” era tornar realidade um
projeto da Prefeitura Municipal de Taubaté: manter uma fanfarra. Taubaté é uma
cidade que não descuida da Educação Musical, tão importante para a formação dos
cidadãos – a cultura e a beleza podem fazer parte e ter importância em nossas
vidas. As escolas públicas municipais de Taubaté participam anualmente de
concursos para definir qual é a melhor fanfarra da cidade.
      Em conjunto com a Direção, Virgínia decidiu que os alunos deveriam
participar. A incredulidade de vários alunos foi grande: “nós não temos sequer
uniformes para nos apresentar!”. Mas Virgínia, além de pedir para os alunos
“levantarem a cabeça”, conseguiu novas parcerias para a compra de uniformes
apropriados para uma Fanfarra. Os alunos ensaiaram por vários meses, e qual não
foi a surpresa da cidade em verificar que o “São Gonçalo”, tão decantado, sagrava-
se campeã das fanfarras taubateanas.
      Após tantos sucessos e ganho de disciplina e auto-estima por parte dos
alunos, Virgínia começou a enfrentar dificuldades pessoais com a Diretora.
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         Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




Problemas que geraram incômodos, a tal ponto que a fizeram ter o projeto de mudar
de escola.


                  NOVA DIREÇÃO NA ESCOLA DO VENDAVAL


      Em 2003, Virgínia recebeu uma nova incumbência: ser diretora da escola do
“Quinta dos Eucaliptos”, batizada oficialmente de “Dr. Avedis Victor Nahas”, que
funcionaria em período integral. A escola está situada numa média elevação, tendo
uma vista privilegiada da Serra da Mantiqueira. Porém, a beleza da paisagem não
resolvia os principais problemas da escola: falta de mobiliário, ventiladores,
funcionários, além da onipresença do pó vermelho.
      A escola começou a funcionar sem mínimas condições por causa do grande
clamor da comunidade local, pois a necessidade do funcionamento do prédio escolar
era ingente. A escola não possuía sequer alambrados em alguns pontos. Virgínia
teve que começar praticamente do zero: comprou cestos de lixo, cadeados e
correntes. Antes, entrava e saía da escola quem quisesse, em quaisquer horários.
      Era uma comunidade extremamente heterogênea. Faziam parte dela tanto
alunos extremamente carentes, quanto alguns que tinham melhores condições de
vida. A escola começou as suas atividades com cerca de 400 alunos.
      Virgínia enfrentou o desafio com decisão. Não sem deixar um pouco a família
de lado, a Diretora fez de tudo na escola: limpeza, organização de Secretaria,
parcerias com o comércio local para obtenção de ajuda, além de preparar a
merenda aos sábados, pois este dia era utilizado para que os dias letivos
regulamentares fossem devidamente cumpridos naquele ano de 2003.
      Em agosto de 2003, Virgínia ganhou o auxílio de Wilma Camões, uma ex-
supervisora do DEC, que agora seria a sua vice-diretora, e de Cláudia Reis de Paula
Machado, mãe de dois alunos, que trabalhou como uma servente voluntária. Ajuda
bem-vinda, pois além de administrar o “Quinta dos Eucaliptos”, Virgínia ainda
recebeu a incumbência de ser Diretora de uma pequena escola rural, o “Chácaras
Ingrid”, que contava com cerca de 80 alunos. Duas escolas para uma só Diretora.
      Como Virgínia estava numa escola com tudo ainda por fazer, resolveu criar
um projeto que privilegiasse a conservação e manutenção – com beleza – do prédio
escolar, o “Escola Bela, Espaço do Ser, Vivência do Saber”. Através desse projeto,
os corpos docente e discente eram incentivados a conservar a escola, plantar
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          Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




mudas de árvores e grama, pois a escola era quase toda composta por terra
vermelha. Alunos utilizavam declives do terreno para escorregarem com papelões
morro abaixo, e alguns desses mesmos declives eram escavados para converterem-
se em “confortáveis” bancos para consumir a merenda. Os pratos e talheres eram
abandonados por lá mesmo.
      Virgínia, naturalmente, combateu tais hábitos, não só através de seu projeto,
mas também pela concepção da disciplina. “Eu acredito na disciplina. A escola pode
ser chamada de retrógrada, ou tradicional. A escola funciona bem quando há
disciplina.” Na entrevista que fizemos surgiram naturalmente, de entrevistador e
entrevistada, versos de Renato Russo, em “Há Tempos”:


                      Disciplina é liberdade
                      Compaixão é fortaleza
                      Ter bondade é ter coragem. (Legião Urbana. Faixa 1, 1989)


      Foram mudanças consideráveis instituídas logo no primeiro ano de vida da
escola. Os alunos pararam de utilizar os declives do terreno para brincadeiras. Uma
escada foi construída, o que facilitou o acesso dos alunos às dependências
escolares. No final do ano, a primeira turma de 8.ª série formava-se: grande lufa-lufa
na escola para a preparação da formatura.
      Mas o lufa-lufa transformou-se em vendaval: no dia 5 de dezembro de 2003,
uma sexta-feira, a escola foi literalmente destruída. Havia poucos alunos no prédio:
uns do Período Integral, outros na Educação Física. Era um dia de Conselho de
Classe, muitos professores e a Direção estavam presentes.


                      De repente, vieram os trovões e relâmpagos. Barulho. Logo o vendaval
                      começou e o telhado picou como Marzipan. Os vidros foram quebrados,
                      telhas Eternit cravaram-se nas paredes... Nós nos refugiamos num corredor.
                      E eu não deixava de pensar: “Será que alguma criança machucou-se?”.


      Balanço do vendaval: uma escola destruída, absolutamente sem cobertura e
com a fiação elétrica totalmente comprometida. Ninguém feriu-se. Três dias depois,
na ocasião da formatura da 8.ª série, a escola recebeu o primeiro prêmio
denominado “Espaço e Pessoas”, dado pelo DEC, de escola melhor conservada da
rede pública de Taubaté.
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            Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




         A Prefeitura liberou rapidamente todas as verbas possíveis para recuperar a
escola, inclusive equipando a Sala de Informática com computadores. Em Fevereiro
de 2004 o prédio escolar já estava pronto para receber condignamente os alunos.


                          DE ESCOLA DESTRUÍDA À MODELO


         Ao longo de sua permanência como Diretora do “Quinta dos Eucaliptos”,
Virgínia Durci não descuidou-se de sua formação. Utilizando-se da disponibilidade
de cursos de pós-graduação com poucas aulas presenciais, Virgínia pós-graduou-se
em Gestão Escolar pelo Instituto Educacional de Carapicuíba-SP entre 2006 e 2007.
         Ao longo dos anos, Virgínia preocupou-se com aspectos básicos de infra-
estrutura escolar. As ruas próximas à escola não possuíam asfalto. Com grande
insistência, até o estacionamento da escola foi asfaltado. Foram feitas festas para
arrecadação de fundos, para oferecer a possibilidade, de, por exemplo, compra de
roupas adequadas para a Fanfarra. Em 2003, a Fanfarra da escola foi vencedora em
Taubaté. Virgínia, é, portanto, bicampeã de Fanfarras em duas escolas diferentes.
         Também em 2003, Virgínia fez uma parceria com uma Associação
denominada “Graça”. Essa Associação tinha o objetivo de melhorar a qualidade de
vida da comunidade através de cursos ministrados por instrutores voluntários do
SENAI. Cursos como Hidráulica, Pneumática, Logística, Desenho Mecânico,
Manutenção de Micros, Tapeçaria, entre outros, começaram a ser ministrados nos
finais de semana, atraindo alunos de todo o Vale do Paraíba.
         Como afirma Virgínia, “tudo reflete na parte pedagógica: o bem-estar traduz-
se numa boa escola”. Foi posto em prática a utilização do uniforme, e o boné foi
relegado para os portões afora. Até o canto dos hinos de Taubaté e Nacional
Brasileiro teve lugar na escola, algo tão em desuso, ao menos no Estado de São
Paulo.
         Em junho de 2006, foi instaurada na Escola a “Sala Ambiente”, que oferece
aos professores a possibilidade de ter total liberdade de guardar materiais, dispor as
carteiras a seu bel prazer, fazer atividades diferenciadas etc. Foi um ganho de
qualidade para a escola: com maior liberdade dentro de sala de aula, as aulas
tinham uma dinâmica diferenciada, gerando, dessa forma, menos indisciplina.
         Em 2006, a Prefeitura Municipal de Taubaté promoveu um Concurso Público,
que convocou mais de 100 professores para serem “estatutários”, ou seja,
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           Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




funcionários públicos em caráter permanente, com a obrigatoriedade do período
probatório de três anos. No final do mesmo ano, os professores foram convocados
para o trabalho já para o início do ano letivo de 2007. Louve-se a rapidez da
Prefeitura Municipal de Taubaté no preenchimento das vagas: muitas outras
Prefeituras no Brasil fazem Concursos apenas para a criação de “lista de cadastros”,
em resumo, para arrecadar recursos de profissionais interessados em um cargo
público.
      Em 2007, Virgínia contou com uma equipe de Professores para o Ensino
Fundamental totalmente nova, composta quase que exclusivamente de jovens
professores, dentre os quais o autor deste artigo. A equipe de professores destacou-
se durante o ano: foram feitos vários projetos, alguns de caráter interdisciplinar. O
trabalho foi reconhecido pelo DEC: dois professores, além de terem os seus projetos
publicados em um jornal distribuído por toda a cidade (“A Rede”), foram convocados
para serem professores “capacitadores” (de Matemática e História) de seus colegas
na Rede Municipal de Ensino em Taubaté, a partir do início de 2008.
      A escola passou a ser conhecida como uma verdadeira escola-modelo em
Taubaté. É adotada como referência em várias áreas: administração, corpo docente,
conservação de instalações, qualidade e seriedade das atividades realizadas com os
alunos do Período Integral. Em 2007 a Prefeitura Municipal de Taubaté utilizou
imagens da escola e de seus corpos docente e discente para propaganda
institucional da eficiência de sua rede escolar em rede regional de televisão.
      Portanto, a transformação de escola destruída pelo vendaval para uma
escola-modelo não foi indolor. Ao contrário: foi repleto de percalços, sustos,
lágrimas, tempos e contratempos. Virgínia fortaleceu-se frente a todos esses
elementos: só não resistiria a um remanejamento na rede municipal. No final do ano
de 2007, Virgínia transferiu-se de escola: tornou-se vice-diretora da “Escola Juvenal
da Costa e Silva”, mais próxima de sua casa. Dedicará mais tempo a seus dois
filhos, Pedro e Maria Luiza.


                                        CONCLUSÃO


      A transformação profissional de um professor, apto a trabalhar em sala de
aula, num Diretor, que deve ter competências e habilidades diferenciadas para dirigir
uma escola, é ainda um campo de pesquisa a explorar em âmbito acadêmico. O
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         Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




diretor muitas vezes é um ser estigmatizado, pouco procurado por pesquisadores,
que muitas vezes não consideram as suas informações confiáveis.
      Até mesmo grandes historiadores como Paul Thompson comprovam a
afirmação acima:


                     Ao mesmo tempo, a história oral implica, para a maioria dos tipos de
                     história, uma certa mudança de enfoque. Assim, o historiador da educação
                     passa a preocupar-se com as experiências dos alunos e estudantes, bem
                     como com os problemas dos professores e administradores.(THOMPSON,
                     1992:26)


      Para Thompson, administradores ficam por último numa gradação de
elementos pertencentes numa escola. Acreditamos que os administradores de
escolas devam ser colocados em primeiro plano não só na escola, mas também em
estudos em âmbito acadêmico. Acompanhamos, como um dos membros de sua
equipe, o trabalho de Virgínia Durci. Sua postura sempre foi discreta e humilde: “Não
me vejo como principal funcionária da escola.”
      Temos o testemunho pessoal de que ela possuía grande tato ao lidar com os
alunos, sempre incentivando a melhoria de cada um, e também respeitava não só
cada professor como profissional, mas também outros membros da equipe escolar.
O respeito e incentivo dados pela Diretora proporcionavam uma escola realmente
prazerosa de se trabalhar, oferecendo a professores e alunos um ambiente
extremamente confortável. Devemos dizer que a ação de Virgínia Durci como
profissional e como pessoa foi decisiva para muitas pessoas, inclusive para nós,
autores desse artigo. Além de professor e Mestrando em História Econômica, somos
também escritores:


                     À Morte Do Que Já Foi


                     Hoje vejo tristeza em lápide
                     Morreu de vez homem célebre
                     – consciente, nada deletério –
                     Que acabava com seu fôlego
                     Ministrando sua têmpera
                     De lágrima em lágrima,
                     Tarefa dantes tépida.
13
             Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




                         Conhecimento sólido,
                         Não lhe faltava ânimo,
                         Nem ao menos êxito.
                         Ele era o símbolo
                         Mais que límpido
                         Da validade da Pátria
                         E de trabalho sério.


                         Um dia a sua régua
                         Quebrou-se em fúria
                         Nervosismo nada fátuo.
                         Agulhada no crânio,
                         — Apagou-se a lâmpada –
                         Afirmou o médico:
                         Professor morto em epílogo. (PEREIRA,2006:14)


           Dantes nós éramos professores frustrados por não conseguir exercer de
forma digna nossa profissão, como se vê pela poesia. Observando in loco ao longo
de 2007 a ação profissional de Virgínia Durci, que sempre nos encorajou e ofereceu
apoio incondicional, podemos dizer que fomos salvos. Pensamos em deixar a
profissão de professor: hoje sentimos orgulho de exercer esta profissão tão bela e
difícil.
           E qual é o diretor consciente que não quer proporcionar melhoras aos
membros de sua equipe? Temos certeza de que não somos os únicos a fazer esta
afirmação, com a diferença de que as nossas estão devidamente registradas neste
artigo, uma pequena contribuição à História da Educação Brasileira via História Oral.
           Devemos dizer que uma Direção consciente de seus deveres frente à
comunidade e às equipes discente e docente e disposta realmente a fazer a
diferença nas escolas, sejam elas públicas ou particulares, carentes ou não, fazem
as pessoas realmente sentirem que a escola é uma “manhã de primavera”. Isso não
é tão somente uma imagem lírica da escola realmente formadora de cidadãos
conscientes e honestos.
           Mais do que nunca, sabemos que as escolas públicas brasileiras merecem
Diretores tão abnegados e capazes como Virgínia Durci.
_________________________________
14
           Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




* Mestrando em História Econômica (Depto. de História – FFLCH-USP).


                                      REFERÊNCIAS:


BRAUDEL, Fernand. “Por Uma Economia Histórica”. In: Revista de História. São
Paulo : vol. XXX, n.º 61, pp. 343-350.
__________________. “História e Ciências Sociais. A longa duração”. In: Revista de
História, vol. XXX, n.º 62, 1965, pp. 261-294.
ENTREVISTAS com Virgínia Durci, realizadas em 18 de dezembro de 2007 e em 24
de janeiro de 2008 em Taubaté/SP.
HÁ TEMPOS. Legião Urbana. As Quatro Estações. Faixa 1, n. 835836-2 EMI. 1989
CD.
PEREIRA, Cristiano José. Bornal Sensitivo. São José dos Campos : Papercrom,
2006.
THOMPSON, Paul. A Voz do Passado: história oral. Rio de Janeiro : Paz e Terra,
1992.

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A trajetória de uma jovem diretora em escola municipal

  • 1. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS DO VENDAVAL DESTRUTIVO À ESCOLA-MODELO: A TRAJETÓRIA DE UMA JOVEM DIRETORA NUMA ESCOLA MUNICIPAL EM TAUBATÉ-SP Cristiano José Pereira* Resumo: O estabelecimento de escolas públicas em determinadas comunidades e o estudo de caso de alunos oriundos destas com a escola, seja no campo disciplinar ou de aquisição de competências e habilidades, são temas recorrentes de trabalho no âmbito acadêmico. Porém, existe uma lacuna importante nos estudos que se relacionam com a escola: a de determinar com mais precisão o papel de um profissional muitas vezes estigmatizado – o Diretor. O presente artigo possui o objetivo de analisar a trajetória profissional de uma jovem Diretora, tendo como objeto específico o período que ela passou (2003-2007) à frente de uma escola pública municipal de Taubaté-SP. A escola partiu de um contexto de extrema carência: havia a falta de mobiliário, funcionários e até mesmo o prédio escolar foi destruído por um vendaval em 2003. Quatro anos mais tarde a carência e a destruição faziam parte do passado: a escola já era considerada como um autêntico modelo. Tal evolução deve-se, entre outros fatores, à ação contínua da Diretora como competente e efetiva gestora da escola. Portanto, estudaremos a ação e procedimentos desta Diretora frente à escola como gestora através do registro oral, recolhido através de entrevista. Palavras Chaves: Escola, competência, Diretora. Abstract: The establishment of public schools in certain communities and the study of students' case originating from of these with the school, be in the field to discipline or of acquisition of competences and abilities, they are appealing themes of work in the academic ambit. Even so, an important gap exists in the studies that link with the school: the one of determining with more precision the a professional's paper stigmatized a lot of times - the Director. The present article possesses the objective of analyzing the a Managing youth's professional trajectory, tends as specific object the period that she passed (2003-2007) ahead of a municipal public school of Taubaté-SP. The school left of a context of extreme privation: there was the furniture lack, employees and even the school building it was destroyed by a gale in 2003. Four years later the privation and the destruction were part of the past: the school was already considered as an authentic model. Such evolution is due, among other factors, to the Director's continuous action as competent and effective manager of the school. Therefore, we will study the action and procedures of this Managing front to the school as manager through the oral registration, picked up through interview. Keywords: School, competence, Director.
  • 2. 2 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS INTRODUÇÃO – ESPAÇO DELIMITADO DE UMA ESCOLA A cidade de Taubaté, situada numa região denominada Vale do Paraíba no Estado de São Paulo, é uma cidade de porte médio, predominantemente industrial. Analisaremos neste artigo um aspecto específico de um passado recente: em 1989, foi aberto um novo loteamento em Taubaté, denominado “Quinta das Frutas”. A região cresceu rapidamente. Ao longo de 2002, já num novo loteamento situado acima do “Quinta das Frutas”, o “Quinta dos Eucaliptos”, o prefeito José Bernardo Ortiz mandou construir uma nova escola. A necessidade de ocupação do novo prédio escolar foi tão ingente que as aulas começaram sem as mínimas condições básicas: limpeza, mobiliário, cercamento do prédio escolar etc. A escola foi aberta ao público com mais de dois meses de atraso (www.valeparaibano.com.br. Acesso em 29/12/2007). Apesar das dificuldades, havia um elemento importante para o posterior sucesso da escola: a presença de uma Diretora dinâmica, disposta a reverter a situação de carência, tanto do prédio escolar, quanto da comunidade que, finalmente, tinha um prédio escolar para iniciar ou continuar seus estudos. HISTÓRIA ORAL E COMPREENSÃO DO CONTEXTO ESCOLAR É evidente que analisar acontecimentos situados num tempo imediatamente anterior ao presente reserva grandes dificuldades ao historiador: há a comoção deste profissional ter acompanhado – vivo – tais acontecimentos, podendo interpretá-los de forma parcial. Mas o historiador deve ter argúcia e, principalmente, sensibilidade: o mais importante não é simplesmente acumular informações em entrevistas, mas sim atribuir real importância ao que é dito pelo próprio entrevistado, quando informações dadas via oralidade adquirirão real significado e pertinência. Portanto, a descoberta da história oral pelos historiadores, agora em andamento, provavelmente não será ignorada. E ela não é apenas uma descoberta, mas também uma reconquista. Oferece à história um futuro livre da significação cultural do documento escrito. E devolve também ao historiador a mais antiga habilidade de seu ofício. (THOMPSON,1992:103)
  • 3. 3 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS Cada contexto escolar possui potencialidades e também dificuldades em alguns aspectos. O historiador, estudioso da escola, para compreender a complexidade de cada contexto, deve ter a consciência de não deixar de lado uma fonte de múltiplas informações e vivências: a Direção. Naturalmente, a trajetória de um profissional para tornar-se Diretor não pode ser deixada de lado na compreensão da importância que uma escola possui numa dada comunidade, região ou país, trajetória esta que é muitas vezes simplesmente ignorada em estudos acadêmicos brasileiros. Resta aos Diretores o estigma de “supremos mandatários inacessíveis”, profissionais pouco dispostos a colaborarem com os pesquisadores e estudiosos das escolas públicas brasileiras. Estigma injusto, conforme veremos neste artigo. Fernand Braudel, em um artigo denominado “Por Uma Economia Histórica”, não deixa de analisar tópicos que possuem imediatas relações com a História Oral: O tempo que é o nosso, o da nossa experiência, da nossa vida, o tempo que torna a trazer as estações e faz florescer as rosas, que marca o escoamento da nossa idade, conta também as horas da existência das diversas estruturas sociais, mas com um outro ritmo. (BRAUDEL,1965:349) Portanto, este artigo está situado na curta duração, o que faz, dentro da chamada “dimensão dos indivíduos” – no caso, a nossa entrevistada – ter, ao lembrar-se do passado, uma “rápida tomada de consciência”. (BRAUDEL,1965:264). Este artigo poderia situar-se numa duração maior; mas em Taubaté, e também em outras cidades brasileiras, os diretores estão sujeitos a remanejamentos diversos. DE ESTUDANTE À PROFESSORA: VIRGÍNIA DURCI Virgínia Durci possui uma trajetória de vida modelar para compreendermos a abnegação que envolve a profissão de Diretor: natural de Cruzeiro-SP, uma pequena cidade do Vale do Paraíba, mudou-se para Taubaté ainda criança, concluindo o Ensino Fundamental numa escola pública. Após ser aprovada numa prova seletiva, tornou-se “normalista” na Escola Estadual “Monteiro Lobato”, situada também em Taubaté, onde formou-se em 1987. Teve grandes professores, os quais transmitiam o conhecimento com o mérito de não fazer o “ambiente escolar ficar pesado”.
  • 4. 4 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS Quando estudante, Virgínia teve a oportunidade de fazer um estágio, tanto de observação, quanto de regência, na função de “auxiliar escolar”, o que foi de grande importância para sua formação, “melhorando a criança” que havia dentro dela. Aprendeu a utilizar a prática montessoriana de ensino, além de elementos preciosos que devem estar obrigatoriamente inclusos numa escola: organização, visão de uma determinada estrutura e a aplicação possível de disciplina com liberdade. Após terminar o seu curso de Magistério, Virgínia Durci foi trabalhar numa Secretaria de uma escola particular de Taubaté, que estava no início de suas atividades na cidade. Também essa experiência lhe foi preciosa: aprendeu todas as rotinas presentes numa Secretaria Escolar, inclusive aquelas que se referiam especificamente à burocracia presente em centenas de papéis para preencher, carimbar e assinar. Ao mesmo tempo, teve a oportunidade de formar-se em Comunicação Social pela Universidade de Taubaté (UNITAU), terminando o seu curso em dezembro de 1991. Como profissional consciente de suas capacidades, Virgínia Durci não contentou-se em permanecer como Secretária. Ao contrário: a Prefeitura Municipal de Taubaté fez um Concurso Público para Professor no ano de 1989. Virgínia foi aprovada no Concurso. Dez meses depois foi convocada para assumir um cargo. Uma jovem professora, portanto. Virgínia tinha 21 anos quando tornou-se uma funcionária pública. A responsabilidade não a amedrontava. DE PROFESSORA À DIRETORA: VIRGÍNIA DURCI Nesta época, o Departamento de Educação e Cultura (DEC) de Taubaté sofria um déficit: havia poucos prédios escolares para atender o público, desde a creche até o Ensino Fundamental (antigo Ginasial). Virgínia Durci foi trabalhar numa creche mantida por uma entidade denominada “Lar Bom Samaritano”, conveniada com a Prefeitura Municipal de Taubaté: esta fornecia os professores, aquela o espaço físico. Sua sala situava-se embaixo de uma escada. Os professores tinham que exponenciar o termo “polivalente”: além de ensinar, ainda limpavam as salas de aula e a escola, preparavam material para as aulas e davam banho nas crianças. Dois anos depois, houve um grande remanejamento: Virgínia foi trabalhar em duas escolas: numa, o trabalho era realizado com crianças que necessitavam ser alfabetizadas, na periferia de Taubaté; em outra, eram aulas para adultos, numa
  • 5. 5 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS comunidade paupérrima: muitos iam para escola não para aprender algo, mas sim por causa de alimento, quase invariavelmente sopa. Alguns, premidos pela necessidade, levavam grandes potes para levar um pouco da sopa para suas respectivas casas. Trabalhar em comunidades que não conseguem satisfazer necessidades básicas como moradia e alimentação é um desafio presente a professores e diretores em inúmeras regiões do Brasil. Obrigatoriamente, nestas escolas que possuem diversas carências, os profissionais da educação envolvidos devem priorizar uma pedagogia humanitária, que vise a real melhoria das comunidades envolvidas dentro do contexto da real educação. Virgínia sabia que precisava agir de forma diferenciada. “A comunidade pode ver o mundo de outra maneira” – afirmou. Ela resolveu aplicar métodos mais realistas na escola onde ministrava aulas para adultos: as aulas deveriam referir-se diretamente à resolução de problemas presentes na comunidade. Vejamos um exemplo citado pela Diretora: Os alunos tinham entre 20 e 50 anos, e eles muitas vezes tinham fome... Eles precisavam de elementos motivadores (...) Então resolvi fazer a “educação pela alimentação”: associava as matérias de sala de aula com a necessidade direta do alimento. Os portões da escola ficavam abertos, muitos iam embora após o intervalo, horário da sopa. Mesmo assim muitos conseguiram formar-se na 4.ª série (...). Trabalhar em duas escolas com real interesse pelos problemas dos alunos e ainda conciliar esse trabalho com a maternidade é um desafio para qualquer mulher. Em 2000, Virgínia teve o seu primeiro filho, Pedro. Dois anos mais tarde, nascia Maria Luiza. Mas os desafios profissionais estavam presentes. Em Taubaté os diretores de creches e escolas da Educação Básica e Fundamental são indicados, até os presentes dias, diretamente pelo DEC. Virgínia recebeu o convite de ser diretora de uma creche situada em um bairro denominado “Parque Aeroporto”. Aceitou, pois tinha a certeza de que poderia fazer algo decisivo para a melhoria da educação para a comunidade. VIRGÍNIA DURCI: INOVAÇÕES, NÃO SEM RESISTÊNCIAS
  • 6. 6 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS Ao mesmo tempo em formava-se em Pedagogia pela UNINCOR (Universidade de Três Corações-MG), Virgínia assumiu a direção de uma creche situada numa comunidade de poucos recursos. O prédio escolar sequer possuía uma caixa d’água. Para Virgínia, esses elementos não eram empecilhos em justificar que o trabalho pedagógico deveria oferecer menos que qualidade absoluta. Ao contrário: Virgínia resolveu inovar através de sua dupla ação de alfabetizadora e diretora: através da criação de uma apostila, que em nada lembrava uma clássica cartilha: os alunos deveriam ser necessariamente alfabetizados antes de entrarem em uma escola para cursar a 1.ª série. Para tanto, Virgínia fez parcerias com a comunidade e também com o comércio local, que cedeu à creche folhas de papel sulfite e cópias xerográficas, além de angariar recursos com bingos e venda de latas de alumínio. Os resultados não tardaram a surgir, e também as resistências, inclusive institucionais: elementos menos esclarecidos do Departamento de Educação e Cultura (DEC), numa reunião, simplesmente proibiram a utilização da apostila na creche. Virgínia não esmoreceu frente a proibição. Ela tinha o apoio da comunidade, e simplesmente, “esqueceu” que havia a tal ordem. A rede municipal de Ensino Básico de Taubaté, na época, era composta de poucas escolas: havia um “vestibulinho” para os alunos que quisessem adentrar na 1.ª série. O resultado final não tardou: boa parte dos alunos da creche dirigida por Virgínia conseguiu uma vaga na rede municipal de ensino, com a ajuda, naturalmente, de um bom material didático desenvolvido pela equipe escolar. Após três anos, por vontade própria, Virgínia quis recomeçar seu trabalho como Diretora em outra creche, situada em outra região carente, no “Parque Planalto”. Sua nova administração notabilizou-se pela organização de uma horta comunitária, atendendo uma necessidade da população local. Foram quase três anos de trabalho. Em 2000, Taubaté muda de Prefeito. Bernardo Ortiz faz uma série de mudanças no DEC e Virgínia é convidada a assumir a Vice-Diretoria de uma escola de Ensino Básico e Fundamental que está num bairro que é considerado até hoje um dos mais carentes de Taubaté: o São Gonçalo. O desafio foi grande. Virgínia foi obrigada a aprender a lidar com elementos que, definitivamente, deveriam estar longe de uma escola: Conselho Tutelar e Juizado de Infância. Os problemas estruturais da comunidade eram grandes, além
  • 7. 7 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS das questões que Virgínia logo percebeu nos alunos: baixa auto-estima e defasagem escolar. Virgínia, então, criou um projeto pedagógico que ganhou a denominação de “Metamorfose”. Segundo a Diretora, “visava mudar a forma do como o conhecimento deveria ser adquirido”, e também “a melhoria da comunidade, da qualidade de vida, formar verdadeiros cidadãos”. Para tanto, resolveu investir, junto com o corpo docente, na formação prática dos alunos, através da criação de laboratórios, tais como o de Ciências. Os alunos colaboraram trazendo espécies animais e vegetais. Houve uma melhoria na aquisição de conhecimentos, ao mesmo tempo, de várias outras matérias. Outro elemento que Virgínia investiu e que muitas vezes é subestimado nas escolas, sejam elas públicas ou não, foi a questão da Educação Física. Os alunos não tinham sequer uniformes ou tênis adequados para a prática de esportes. Com a ajuda de parcerias conseguidas no comércio local, e também junto a funcionários da Volkswagen que se cotizaram para tanto, os alunos mais carentes tiveram uniformes e tênis comprados. Uniformes são, muitas vezes, combatidos. Mas eles perfazem papéis importantes: ao mesmo tempo que massificam, indicam um sentido de pertencimento a um grupo escolar. E os alunos da escola do São Gonçalo necessitavam de pertencer a algo. Outro elemento presente no projeto “Metamorfose” era tornar realidade um projeto da Prefeitura Municipal de Taubaté: manter uma fanfarra. Taubaté é uma cidade que não descuida da Educação Musical, tão importante para a formação dos cidadãos – a cultura e a beleza podem fazer parte e ter importância em nossas vidas. As escolas públicas municipais de Taubaté participam anualmente de concursos para definir qual é a melhor fanfarra da cidade. Em conjunto com a Direção, Virgínia decidiu que os alunos deveriam participar. A incredulidade de vários alunos foi grande: “nós não temos sequer uniformes para nos apresentar!”. Mas Virgínia, além de pedir para os alunos “levantarem a cabeça”, conseguiu novas parcerias para a compra de uniformes apropriados para uma Fanfarra. Os alunos ensaiaram por vários meses, e qual não foi a surpresa da cidade em verificar que o “São Gonçalo”, tão decantado, sagrava- se campeã das fanfarras taubateanas. Após tantos sucessos e ganho de disciplina e auto-estima por parte dos alunos, Virgínia começou a enfrentar dificuldades pessoais com a Diretora.
  • 8. 8 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS Problemas que geraram incômodos, a tal ponto que a fizeram ter o projeto de mudar de escola. NOVA DIREÇÃO NA ESCOLA DO VENDAVAL Em 2003, Virgínia recebeu uma nova incumbência: ser diretora da escola do “Quinta dos Eucaliptos”, batizada oficialmente de “Dr. Avedis Victor Nahas”, que funcionaria em período integral. A escola está situada numa média elevação, tendo uma vista privilegiada da Serra da Mantiqueira. Porém, a beleza da paisagem não resolvia os principais problemas da escola: falta de mobiliário, ventiladores, funcionários, além da onipresença do pó vermelho. A escola começou a funcionar sem mínimas condições por causa do grande clamor da comunidade local, pois a necessidade do funcionamento do prédio escolar era ingente. A escola não possuía sequer alambrados em alguns pontos. Virgínia teve que começar praticamente do zero: comprou cestos de lixo, cadeados e correntes. Antes, entrava e saía da escola quem quisesse, em quaisquer horários. Era uma comunidade extremamente heterogênea. Faziam parte dela tanto alunos extremamente carentes, quanto alguns que tinham melhores condições de vida. A escola começou as suas atividades com cerca de 400 alunos. Virgínia enfrentou o desafio com decisão. Não sem deixar um pouco a família de lado, a Diretora fez de tudo na escola: limpeza, organização de Secretaria, parcerias com o comércio local para obtenção de ajuda, além de preparar a merenda aos sábados, pois este dia era utilizado para que os dias letivos regulamentares fossem devidamente cumpridos naquele ano de 2003. Em agosto de 2003, Virgínia ganhou o auxílio de Wilma Camões, uma ex- supervisora do DEC, que agora seria a sua vice-diretora, e de Cláudia Reis de Paula Machado, mãe de dois alunos, que trabalhou como uma servente voluntária. Ajuda bem-vinda, pois além de administrar o “Quinta dos Eucaliptos”, Virgínia ainda recebeu a incumbência de ser Diretora de uma pequena escola rural, o “Chácaras Ingrid”, que contava com cerca de 80 alunos. Duas escolas para uma só Diretora. Como Virgínia estava numa escola com tudo ainda por fazer, resolveu criar um projeto que privilegiasse a conservação e manutenção – com beleza – do prédio escolar, o “Escola Bela, Espaço do Ser, Vivência do Saber”. Através desse projeto, os corpos docente e discente eram incentivados a conservar a escola, plantar
  • 9. 9 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS mudas de árvores e grama, pois a escola era quase toda composta por terra vermelha. Alunos utilizavam declives do terreno para escorregarem com papelões morro abaixo, e alguns desses mesmos declives eram escavados para converterem- se em “confortáveis” bancos para consumir a merenda. Os pratos e talheres eram abandonados por lá mesmo. Virgínia, naturalmente, combateu tais hábitos, não só através de seu projeto, mas também pela concepção da disciplina. “Eu acredito na disciplina. A escola pode ser chamada de retrógrada, ou tradicional. A escola funciona bem quando há disciplina.” Na entrevista que fizemos surgiram naturalmente, de entrevistador e entrevistada, versos de Renato Russo, em “Há Tempos”: Disciplina é liberdade Compaixão é fortaleza Ter bondade é ter coragem. (Legião Urbana. Faixa 1, 1989) Foram mudanças consideráveis instituídas logo no primeiro ano de vida da escola. Os alunos pararam de utilizar os declives do terreno para brincadeiras. Uma escada foi construída, o que facilitou o acesso dos alunos às dependências escolares. No final do ano, a primeira turma de 8.ª série formava-se: grande lufa-lufa na escola para a preparação da formatura. Mas o lufa-lufa transformou-se em vendaval: no dia 5 de dezembro de 2003, uma sexta-feira, a escola foi literalmente destruída. Havia poucos alunos no prédio: uns do Período Integral, outros na Educação Física. Era um dia de Conselho de Classe, muitos professores e a Direção estavam presentes. De repente, vieram os trovões e relâmpagos. Barulho. Logo o vendaval começou e o telhado picou como Marzipan. Os vidros foram quebrados, telhas Eternit cravaram-se nas paredes... Nós nos refugiamos num corredor. E eu não deixava de pensar: “Será que alguma criança machucou-se?”. Balanço do vendaval: uma escola destruída, absolutamente sem cobertura e com a fiação elétrica totalmente comprometida. Ninguém feriu-se. Três dias depois, na ocasião da formatura da 8.ª série, a escola recebeu o primeiro prêmio denominado “Espaço e Pessoas”, dado pelo DEC, de escola melhor conservada da rede pública de Taubaté.
  • 10. 10 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS A Prefeitura liberou rapidamente todas as verbas possíveis para recuperar a escola, inclusive equipando a Sala de Informática com computadores. Em Fevereiro de 2004 o prédio escolar já estava pronto para receber condignamente os alunos. DE ESCOLA DESTRUÍDA À MODELO Ao longo de sua permanência como Diretora do “Quinta dos Eucaliptos”, Virgínia Durci não descuidou-se de sua formação. Utilizando-se da disponibilidade de cursos de pós-graduação com poucas aulas presenciais, Virgínia pós-graduou-se em Gestão Escolar pelo Instituto Educacional de Carapicuíba-SP entre 2006 e 2007. Ao longo dos anos, Virgínia preocupou-se com aspectos básicos de infra- estrutura escolar. As ruas próximas à escola não possuíam asfalto. Com grande insistência, até o estacionamento da escola foi asfaltado. Foram feitas festas para arrecadação de fundos, para oferecer a possibilidade, de, por exemplo, compra de roupas adequadas para a Fanfarra. Em 2003, a Fanfarra da escola foi vencedora em Taubaté. Virgínia, é, portanto, bicampeã de Fanfarras em duas escolas diferentes. Também em 2003, Virgínia fez uma parceria com uma Associação denominada “Graça”. Essa Associação tinha o objetivo de melhorar a qualidade de vida da comunidade através de cursos ministrados por instrutores voluntários do SENAI. Cursos como Hidráulica, Pneumática, Logística, Desenho Mecânico, Manutenção de Micros, Tapeçaria, entre outros, começaram a ser ministrados nos finais de semana, atraindo alunos de todo o Vale do Paraíba. Como afirma Virgínia, “tudo reflete na parte pedagógica: o bem-estar traduz- se numa boa escola”. Foi posto em prática a utilização do uniforme, e o boné foi relegado para os portões afora. Até o canto dos hinos de Taubaté e Nacional Brasileiro teve lugar na escola, algo tão em desuso, ao menos no Estado de São Paulo. Em junho de 2006, foi instaurada na Escola a “Sala Ambiente”, que oferece aos professores a possibilidade de ter total liberdade de guardar materiais, dispor as carteiras a seu bel prazer, fazer atividades diferenciadas etc. Foi um ganho de qualidade para a escola: com maior liberdade dentro de sala de aula, as aulas tinham uma dinâmica diferenciada, gerando, dessa forma, menos indisciplina. Em 2006, a Prefeitura Municipal de Taubaté promoveu um Concurso Público, que convocou mais de 100 professores para serem “estatutários”, ou seja,
  • 11. 11 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS funcionários públicos em caráter permanente, com a obrigatoriedade do período probatório de três anos. No final do mesmo ano, os professores foram convocados para o trabalho já para o início do ano letivo de 2007. Louve-se a rapidez da Prefeitura Municipal de Taubaté no preenchimento das vagas: muitas outras Prefeituras no Brasil fazem Concursos apenas para a criação de “lista de cadastros”, em resumo, para arrecadar recursos de profissionais interessados em um cargo público. Em 2007, Virgínia contou com uma equipe de Professores para o Ensino Fundamental totalmente nova, composta quase que exclusivamente de jovens professores, dentre os quais o autor deste artigo. A equipe de professores destacou- se durante o ano: foram feitos vários projetos, alguns de caráter interdisciplinar. O trabalho foi reconhecido pelo DEC: dois professores, além de terem os seus projetos publicados em um jornal distribuído por toda a cidade (“A Rede”), foram convocados para serem professores “capacitadores” (de Matemática e História) de seus colegas na Rede Municipal de Ensino em Taubaté, a partir do início de 2008. A escola passou a ser conhecida como uma verdadeira escola-modelo em Taubaté. É adotada como referência em várias áreas: administração, corpo docente, conservação de instalações, qualidade e seriedade das atividades realizadas com os alunos do Período Integral. Em 2007 a Prefeitura Municipal de Taubaté utilizou imagens da escola e de seus corpos docente e discente para propaganda institucional da eficiência de sua rede escolar em rede regional de televisão. Portanto, a transformação de escola destruída pelo vendaval para uma escola-modelo não foi indolor. Ao contrário: foi repleto de percalços, sustos, lágrimas, tempos e contratempos. Virgínia fortaleceu-se frente a todos esses elementos: só não resistiria a um remanejamento na rede municipal. No final do ano de 2007, Virgínia transferiu-se de escola: tornou-se vice-diretora da “Escola Juvenal da Costa e Silva”, mais próxima de sua casa. Dedicará mais tempo a seus dois filhos, Pedro e Maria Luiza. CONCLUSÃO A transformação profissional de um professor, apto a trabalhar em sala de aula, num Diretor, que deve ter competências e habilidades diferenciadas para dirigir uma escola, é ainda um campo de pesquisa a explorar em âmbito acadêmico. O
  • 12. 12 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS diretor muitas vezes é um ser estigmatizado, pouco procurado por pesquisadores, que muitas vezes não consideram as suas informações confiáveis. Até mesmo grandes historiadores como Paul Thompson comprovam a afirmação acima: Ao mesmo tempo, a história oral implica, para a maioria dos tipos de história, uma certa mudança de enfoque. Assim, o historiador da educação passa a preocupar-se com as experiências dos alunos e estudantes, bem como com os problemas dos professores e administradores.(THOMPSON, 1992:26) Para Thompson, administradores ficam por último numa gradação de elementos pertencentes numa escola. Acreditamos que os administradores de escolas devam ser colocados em primeiro plano não só na escola, mas também em estudos em âmbito acadêmico. Acompanhamos, como um dos membros de sua equipe, o trabalho de Virgínia Durci. Sua postura sempre foi discreta e humilde: “Não me vejo como principal funcionária da escola.” Temos o testemunho pessoal de que ela possuía grande tato ao lidar com os alunos, sempre incentivando a melhoria de cada um, e também respeitava não só cada professor como profissional, mas também outros membros da equipe escolar. O respeito e incentivo dados pela Diretora proporcionavam uma escola realmente prazerosa de se trabalhar, oferecendo a professores e alunos um ambiente extremamente confortável. Devemos dizer que a ação de Virgínia Durci como profissional e como pessoa foi decisiva para muitas pessoas, inclusive para nós, autores desse artigo. Além de professor e Mestrando em História Econômica, somos também escritores: À Morte Do Que Já Foi Hoje vejo tristeza em lápide Morreu de vez homem célebre – consciente, nada deletério – Que acabava com seu fôlego Ministrando sua têmpera De lágrima em lágrima, Tarefa dantes tépida.
  • 13. 13 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS Conhecimento sólido, Não lhe faltava ânimo, Nem ao menos êxito. Ele era o símbolo Mais que límpido Da validade da Pátria E de trabalho sério. Um dia a sua régua Quebrou-se em fúria Nervosismo nada fátuo. Agulhada no crânio, — Apagou-se a lâmpada – Afirmou o médico: Professor morto em epílogo. (PEREIRA,2006:14) Dantes nós éramos professores frustrados por não conseguir exercer de forma digna nossa profissão, como se vê pela poesia. Observando in loco ao longo de 2007 a ação profissional de Virgínia Durci, que sempre nos encorajou e ofereceu apoio incondicional, podemos dizer que fomos salvos. Pensamos em deixar a profissão de professor: hoje sentimos orgulho de exercer esta profissão tão bela e difícil. E qual é o diretor consciente que não quer proporcionar melhoras aos membros de sua equipe? Temos certeza de que não somos os únicos a fazer esta afirmação, com a diferença de que as nossas estão devidamente registradas neste artigo, uma pequena contribuição à História da Educação Brasileira via História Oral. Devemos dizer que uma Direção consciente de seus deveres frente à comunidade e às equipes discente e docente e disposta realmente a fazer a diferença nas escolas, sejam elas públicas ou particulares, carentes ou não, fazem as pessoas realmente sentirem que a escola é uma “manhã de primavera”. Isso não é tão somente uma imagem lírica da escola realmente formadora de cidadãos conscientes e honestos. Mais do que nunca, sabemos que as escolas públicas brasileiras merecem Diretores tão abnegados e capazes como Virgínia Durci. _________________________________
  • 14. 14 Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS * Mestrando em História Econômica (Depto. de História – FFLCH-USP). REFERÊNCIAS: BRAUDEL, Fernand. “Por Uma Economia Histórica”. In: Revista de História. São Paulo : vol. XXX, n.º 61, pp. 343-350. __________________. “História e Ciências Sociais. A longa duração”. In: Revista de História, vol. XXX, n.º 62, 1965, pp. 261-294. ENTREVISTAS com Virgínia Durci, realizadas em 18 de dezembro de 2007 e em 24 de janeiro de 2008 em Taubaté/SP. HÁ TEMPOS. Legião Urbana. As Quatro Estações. Faixa 1, n. 835836-2 EMI. 1989 CD. PEREIRA, Cristiano José. Bornal Sensitivo. São José dos Campos : Papercrom, 2006. THOMPSON, Paul. A Voz do Passado: história oral. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1992.