1. Brísida Vaz, a Alcoviteira De todas as personagens criadas por Gil Vicente para o Auto da Barca do Inferno, a que nos despertou mais interesse foi a Alcoviteira, também conhecida por Brísida Vaz.
2. Quem é Brísida Vaz? Brísida Vaz é uma alcoviteira do século XVI. Pertence ao povo e o seu trabalho é, no fundo, explorar outras mulheres, encaminhando-as para o mundo da prostituição. Sendo que esta personagem pertence ao povo, as linguagens familiar e popular dominam a sua cena no cais.
3. Quais são os seus símbolos cénicos? Brísida vem bastante carregadapara o cais. Consigo, traz seiscentos virgos postiços, três arcas de feitiços, três almários de mentir, cinco cofres de enleos, alguns furtos alheios, jóias de vestir, guarda-roupa de encobrir, uma casa movediça, um estrado de cortiça e, a mais importante de todas as cargas, as moças que vendia. Todos estes símbolos representam a profissão de Brísida Vaz e, consequentemente, os pecados por ela cometidos.
4. Quais as características desta personagem? Se prestarmos atenção aos símbolos cénicos da Alcoviteira, rapidamente nos apercebemos que muitos deles a caracterizam. Podemos então constatar que Brísida Vaz é mentirosa (“três almários de mentir”), mexeriqueira (“cinco cofres de enleos”), enganadora (“seiscentos virgos postiços”), e até uma ladra (“alguns furtos alheos”). Todas estas características dão origem à tal Alcoviteira, uma personagem que é muito capaz de iludir e enganar apenas para conseguir aquilo que quer.
5. Como se desenrola esta cena? Quando chega ao cais, Brísida Vaz dirige-se imediatamente à Barca do Inferno e pergunta com desdém qual é o seu destino.É então convidada a entrar pelo Diabo que, através do eufemismo, a informa que a barca vai para o inferno e a acusa de ter vivido da prostituição, mentindo, iludindo e roubando. Sentindo-se indignada, a Alcoviteira defende-se dizendo que vivera como uma mártir, que salvara muitas meninas da pobreza convertendo-as à prostituição e que para todas elas arranjara homem, a todas elas assegurara um bom futuro.
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7. Posto isto, dirige-se à Barca da Glória e, falando doce e sedutoramente, pede guarida ao Anjo. Este proíbe-a de entrar no seu batel, bombardeando-a com as mesmas acusações e censuras que o Diabo usara anteriormente.