Dedicado aos oe para reflexão sobre o vídeo todos queremos ser jovens
1. A Geração Millennials, também conhecida como geração Y, nascida entre
1980 e 2000, está mudando o mundo.
Cláudio de Musacchio
“Longe da geração Woodstock, que por sua importância iniciou um movimento
que mudaria radicalmente o mundo na década de 60 e nos anos futuros.
Revoluções como a pílula, a liberdade sexual, transformações no cenário
político-econômico, avanços tecnológicos nas comunicações, permitiram que
novas gerações pudessem avançar e evoluir.
Esta nova geração Millennials, que inicia o terceiro milênio, tem suas próprias
ideologias, filhos e netos da geração Woodstock, logo compreenderam que
deveriam criar suas próprias revoluções, adaptando-se a um mundo em
constante mudança. Esta geração é mais saudável, mais esportiva, no entanto,
luta para abandonar certos vícios como o álcool, cujos índices são muito altos
nesta faixa de idade. São adeptos ao ar puro, viajam mais, gostam de passeios
a países que possuem estruturas para caminhadas, escaladas, gostam de
animais de estimação, respeitam o verde, organizam o lixo, são contra
qualquer tipo de matança a animais, defendem o meio ambiente, levantam
bandeiras da sustentabilidade planetária, se preocupam com a qualidade do ar,
discutem melhorias alternativas ao combustível fóssil e passam a maior parte
do tempo participando de movimentos pela qualidade de vida, através das
redes sociais. Esta geração está buscando os estudos como meta de melhorar
a vida e não somente seu status profissional de busca de melhores salários.
A juventude desta geração está mais preocupada em conhecer, saber, do que
se capacitar, habilitar. É uma geração de atitudes fortes, marcantes, individuais
e ao mesmo tempo de movimentos grupais que os identifiquem. Facilmente
levantam bandeiras contra o sistema que os reprime. Geração mais vaidosa,
que cuida do corpo, da saúde, da beleza produzida em academias de ginástica;
os jovens dessa geração procuram vestimentas que os identifiquem com
movimentos e grupos pelas quais participam. Traduzem uma geração que
busca melhorar a aparência, a beleza, mas sem perder a essência de seus
conteúdos, dos pensamentos, das ideias, das inteligências de seu tempo. Mais
cuidadosa com os aspectos de transmissões por vias sexuais, estão mais
ajuizados, utilizam a camisinha. Entretanto possuem mais parceiros do que na
geração Woodstock. Estão mais sujeitos a relacionamentos mais curtos, porém
mais intensos. Não abrem mão facilmente de suas ideias, ideologias e modo
livre de viver a vida. Não vestem camisa das empresas, porque se desfazem
facilmente de seus empregos em busca do que realmente gostam de fazer.
Buscam colocar o coração no tipo de trabalho que gostariam de desenvolver e
enquanto não encontram, buscam freneticamente descobrir porque estão neste
mundo e qual o seu propósito.
Mais consumista, logo trocam a vestimenta, a tecnologia, e o comportamento
por outro mais a frente. Segurar esta clientela por um tempo maior é o desafio
das grandes organizações hoje em dia. Estão ávidas em consumir, mas são
muito livres para que permaneça muito tempo com um vestiário, um celular, um
lugar. Mais comunicativa e presente nas redes sociais, estão formando grandes
2. grupos mundiais, atravessando fronteiras, idiomas. Estes movimentos
gigantescos lhes dão forças de opinião, e podem alterar as correntes atuais da
comunicação. Os jornais e revistas e TV não são mais os únicos veículos de
comunicação que fazem a cabeça dessa geração. Eles possuem voz e vez e a
utilizam através da Internet. A cada ano triplica o número de Blogs e sites
pessoais, expondo as ideias, as intimidades, as vontades e a maneira de viver
desta geração. Essa geração, globalizada, procura entender o que se passa no
mundo todo, através dos veículos de comunicação, das redes sociais, dos
movimentos mundiais instantâneos. Não possuem barreiras geográficas,
diferenças etárias, socioeconômicas. Aglutinam-se facilmente ao redor de
projetos, mudanças sociais, soluções urbanas, políticas, econômicas. São mais
interessados em serem autores das grandes revoluções e modificações que o
planeta precisa do que receptores. Perceberam há muito tempo que possuem o
poder da comunicação e por nada abrirão mão desses para se expressarem.
Estão estatisticamente vivendo mais tempo com os pais, deixando para morar
sozinhos ou casarem na faixa dos 30 anos. Conseguem estabelecer
comunicações com os pais e até modificar velhos preceitos, preconceitos, e
costumes da geração Woodstock.
A geração Millennials quer aumentar mais a faixa da juventude e entrar na faixa
adulta mais tarde, desta maneira é comum se apegarem por muito mais tempo
a moda jovem, aos costumes jovens, a tecnologia jovem. Segundo pesquisas
americanas, 61% dos jovens não querem ser adultos, querem permanecer
jovens por mais tempo. Buscar um lugar ao sol através de suas próprias
influências é prerrogativa dessa geração. Estabelecer suas fronteiras, escolher
seus grupos, atuar em bandos. Buscar a colaboração e a cooperação como
modo de se superarem, conhecerem e se informarem. Estão mais
comprometidos com a participação e realização do que propriamente com o
sucesso (vaias ou aplausos). Embora a maioria almeje bons empregos, estão
mais preocupados em realizar do que produzir. Buscam organizações que
lhes deem flexibilidade de horários, liberdades para exprimirem suas ideias,
comportamentos, vestuários. Trabalham por metas, objetivos,
responsabilidades e são avessos a horários, bater pontos. Assumem que
querem trabalhar mais do que oito horas por dia, mas do jeito deles, com suas
velocidades, tecnologias de comunicação e informação e de resultados.
A geração Millennials não busca os estudos porque os pais assim o querem,
mas porque compreendem que o mundo mágico da informação e da
compreensão começa ali. Trocam com muita frequência de faculdade, até
encontrarem uma que lhes faça sentido, mesmo que os ganhos não lhe sejam
aparentes. Estão preocupados em ser, embora o dinheiro nem sempre lhes
permita isso. São menos inseguros quanto a escolher uma profissão porque
sabem que podem mudar a todo o momento. São mais empreendedores, se
atiram mais fortemente de cabeça em seus ideais e apostam num futuro
promissor, por confiar em seus instintos. Não é só o sucesso que os motiva,
mas o caminho que os levam para o sucesso. Por isso, as escolhas são
sempre acompanhadas de muita intensidade, flexibilidade e autenticidade”.
Portanto, as questões e reflexões pedagógicas que proponho ao meu grupo de
de estudo são:
3. O que você está fazendo agora neste momento? Será que você está feliz com
o que você faz e no que você se transformou? Você se preocupa em ter
espaços compartilhados, estilos de vida, flexibilidades em horários? O que
você fez hoje que possa alterar seus projetos, melhorá-los, potencializá-los?
Você está se permitindo colaborar com os outros, aprender, ao invés de achar
que já sabe tudo? Mesmo na complexidade deste mundo do trabalho
esmagador, você está fazendo o que ama? Está vivendo plenamente o que
desejou em algum momento na sua estrada? Você imagina que pode mudar
tudo isso e buscar outro caminho, ainda possível para ser feliz consigo
mesmo? Esta nova geração está nos ensinando que podemos mudar a todo o
momento. Só falta um empurrão no abismo das oportunidades. Depois, procure
um trabalho onde esta felicidade possa existir e encontrar espaço! Você é
daquelas pessoas que estão no mundo fazendo a diferença? Revolucionando
os hábitos? Colocando o coração em tudo o que faz, mesmo que isso não o
impeça de encontrar obstáculos a serem superados?
Os jovens dessa geração Y ou Millennials não estão inseridos nas nossas
salas de aulas, sejam elas públicas ou particulares? Uma vez que pesquisas,
incluindo as do IBGE, apontam que os jovens brasileiros são os mais
impactados por essa geração. Justamente os países subdesenvolvidos ou “em
desenvolvimento” são os mais afetados e influenciados pelos comportamentos
adotados pelos países de “primeiro mundo”.
Como educadores, não apenas com um olhar voltado para uma proposta
curricular da História, da Geografia, da Matemática, da Química e outros
conteúdos, mas com um olhar também voltado para a ótica da Antropologia, da
Sociologia, da Psicologia e outras ciências que estudam o comportamento
humano, deveríamos procurar enxergar a diversidade cultural, modos, hábitos,
comportamentos, rituais, crenças dessa nova geração, independentemente dos
aspectos econômicos dos alunos das nossas escolas públicas.
Podemos negar que não temos essa demanda jovem, na maioria das vezes,
entediada e desinteressada dentro da sala de aula, exatamente porque há
quem sempre pense que, mesmo num mundo globalizado e sem fronteiras, o
contexto comportamental retratado no vídeo não atinge a realidade dos nossos
jovens brasileiros, uma vez que o vídeo focou também os jovens elitizados de
outros países?
A nossa geração dos adultos brasileiros de hoje não foi influenciada por
Beatles, Elvis Presley, Bob Dylan e tantos outros mitos, qualquer que seja a
nossa classe social? Pelo marcante personagem do século 20, o revolucionário
socialista Che Guevara, que ainda chega ao novo milênio conquistando mais
uma vez a admiração e a simpatia de adultos na Europa e América Latina?
Não importa que o socialismo real não tenha dado certo na antiga União
Soviética, em Cuba e em nenhum país onde se tentou implantá-lo. Mesmo
assim, a imagem do "Che" reaparece em pôsteres, bottons e camisetas, que o
consagram como um mito latino-americano, um símbolo eterno de coragem e
rebeldia contra as injustiças sociais do mundo.
4. Na geração Y, Lady Gaga e Justin Bieber, independentemente do
comportamento que adotam, não estão influenciando e extasiando muitos
adolescentes e jovens das nossas escolas?
O fato dos nossos jovens serem, em sua grande maioria, oriundos de uma
classe social desprivilegiada, os impedem de estarem inseridos nesse contexto
comportamental do vídeo e sentirem o desejo de se tornarem empreendedores
e plurais? Não seria esta a nossa maior missão como educadores: suscitar
neles o desejo ou a fome de conquistarem, de forma autônoma e consciente,
um espaço pessoal, social, profissional que almejam?
O tráfico de drogas, a prostituição juvenil, a violência, a corrupção, a
segregação social vão continuar até quando se valendo dessa juventude
excluída da escola para alcançar seus objetivos de desumanização e
usurpação dos direitos de cidadania? Será que a nossa escola pública está
fadada a manter e a perpetuar as desigualdades sociais, diante deste mundo
competitivo e corporativista? Não seria a nossa tarefa de educadores
sensibilizar nossos jovens para o que eles realmente desejam, a ponto de
saberem identificar as formas alientes do mundo consumista?
Os alunos das nossas escolas públicas estão, pelas suas próprias condições
financeiras, familiares e sociais, destinados a se contentar com migalhas?
Apenas ensinar conteúdos, realmente torna alguém cidadão, capaz de fazer
valer os seus direitos e empreender os seus projetos de vida, tendo em vista
um foco capaz até de quebrar as regras do mercado produtivo?
Caracterizar (para não dizer rotular) os jovens de rebeldes, indisciplinados, sem
regras, sem limites não pode ser compreendido e discutido também pela
perspectiva da nossa prática pedagógica descontextualizada e, talvez, vazia de
significado para os alunos? Jovens rebeldes, desinteressados nas aulas,
agressivos, revoltados, com famílias ausentes e ditas “desestruturadas” são
exclusivos das escolas públicas? Tais condutas inadequadas não acontecem
no espaço escolar das escolas particulares? Se apenas esses rótulos definem
o jovem, desde a era antes de Cristo, por que o sonho da maioria dos adultos é
descobrir o elixir da juventude eterna?
Como educadores e adultos podemos repudiar o sistema educacional e político
que nos oprime, legitimando a nossa indignação com vaias, mas com os
jovens, em sala de aula, devemos ser aplaudidos, mesmo quando não
conseguimos conquistar o interesse do nosso aluno, que usa na sua
indisciplina uma forma de protesto? Esse protesto pode não estar endereçado
diretamente ao professor, à sua disciplina ou à sua prática, mas a outros
fatores, além do cognitivo, que deveríamos, pelo menos, tentar sinalizar. E não
apenas simplificar com o jargão: “os alunos de hoje não querem nada”. Tanto
querem que muitos deles estão protestando (e até agredindo) para reivindicar
outra “escuta”, outro “olhar” ou “fala” do professor. Não seria o caso de
tentarmos refletir sobre a nossa prática e o que nela não está funcionando?
Como podemos acusar apenas o jovem, com tantos adultos e pais dando maus
exemplos para as gerações atuais? Creio que para uma melhor compreensão
5. do assunto, é necessário conhecermos os fatores que envolvem e interessam
ao ser humano e que interferem, auxiliam ou prejudicam a sua relação social
diária. Não basta planejar uma boa aula, qualquer que seja o conteúdo, entrar
em sala de aula, e esperar que todos os jovens se interessem pelo assunto, se
a minha visão for a de que estou pronta para ensinar e o aluno, para aprender.
Na complexidade humana de hoje, essa lógica linear não funciona.
Não cabe aqui defender ou acusar a geração Y, até porque percebo também o
jogo de interesse do mercado consumista, influenciando o comportamento
dessa geração. E o jogo é pesado! E talvez os dados comecem a rolar dentro
de alguns gabinetes daqueles que, militando em causa e interesses próprios,
supostamente fazem o discurso e a promessa de uma educação pública de
qualidade. O fato é: a geração que temos agora é essa. Como lidar com ela?
Ouvi um professor dizendo: “eu ensino e o aluno tem que absorver”. Eis a
pergunta que surgiu: “seu aluno é uma esponja ou um ser humano?”
Por isso, defendo e valorizo tanto a importância do professor, que está em
relação direta com essas juventudes plurais, sofrendo de ansiedade,
fortemente influenciada pelo consumismo e pelas redes sociais, esquecendo-
se das relações pessoais, mas, por outro lado, arrojada, criativa, dinâmica,
vazando potencialidades pelos poros. Trabalhar os conteúdos de sua disciplina
sim, mas promovendo o diálogo, a reflexão crítica, a capacidade de
participação do aluno, para que ele possa escolher conscientemente os
comportamentos que ele quer adotar na vida e quem ele deseja ser.
Trabalho dentro do tal sistema, mas já me desvencilhei de suas artimanhas faz
tempo. Escolho a pessoa e a profissional que quero ser. Não trabalho pelas
ideologias do Estado, porque suas políticas públicas de educação são
partidárias e quase sempre arbitrárias. Mas mesmo dentro do sistema, trabalho
pelas minhas convicções de educadora, pensando naqueles professores que
me ensinaram a pensar e a ser quem eu sou hoje. Não crio embates com o
sistema no qual estou inserida, apenas estudo, pesquiso, busco ampliar a
minha visão do conhecimento, seleciono, dentro das propostas que me chegam
do sistema, de que forma profunda, autêntica, real e verdadeira posso propor
as discussões para as pessoas com as quais trabalho. Não visto a minha
camisa do partido político que está no governo, porque ele muda
constantemente, de acordo com os interesses do jogo. Visto a minha própria
camisa, ela tem a minha marca: de quem, mesmo emocionada e fragilizada
diante de um grupo, no qual muitos optaram pela “zona de conforto”, traz
escrito no peito – “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é e sou uma
EDUCADORA”. Escolhi deixar o consultório de Psicologia, porque nem todas
as pessoas têm condições de pagar por uma sessão de terapia. Fui para uma
faculdade aprender Pedagogia, outra forma de contribuir para a humanização
das pessoas, nela tive mestres que me ensinaram a refletir, a me tornar
melhor. Optei pelo trabalho na escola pública. Sofrendo muito com o sofrimento
e angustia dos meus colegas professores, fui para o mestrado estudar Políticas
Públicas da Educação, para tentar entender os meandros e emaranhados
políticos partidários que se escondem (e se descortinaram para mim) nas
falácias da Educação de Qualidade.
6. Entendi que quem pode fazer Educação Pública de Qualidade não são os
governos dos partidos X, Y ou Z, mas aqueles por quem tenho profunda
empatia e admiração – os professores, ou melhor, aqueles que têm alma de
educadores. E nem todos têm, assim como em qualquer outra profissão. Mas
os que têm, podem fazer a diferença na vida dos seus alunos, de qualquer
geração. Por isso, a eles eu dedico este texto, mesmo recebendo duras críticas
quando exibi o vídeo e alguns professores, indignados com o sistema, disse
que ele não retrata a realidade da nossa juventude das escolas públicas,
dando-me o que pensar: a nossa condição famigerada de escola pública já foi
“naturalmente” incorporada por muitos que nela atuam e represam suas
insatisfações profissionais? Lembrei-me de Bertold Brecht ao afirmar: “Do rio
que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às
margens que o comprimem”. Que tipo de educadora eu sou: aquela que
estimula os meus alunos a dar vazão à fluidez de suas águas ou aquela que os
comprimem em fôrmas, formas e fórmulas?
Como eu queria, em nosso encontro do Pacto, na UFU, ter dado vazão às
águas da minha experiência de Educadora, mas me senti fortemente reprimida
e estancada pela margem de uns poucos que julgam não ter mais o que fluir,
como professores.
Sidéia Marília do Amaral Teles