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gluckall.blogspot.com   Rolagem automática ______________________________________perfume de coração A flor que amava o mar
Havia uma flor à beira de um rio que se apaixonou pelo mar.
Talvez por ouvir o sussurro das águas do rio, que corriam ansiosas para desembocarem na sua imensidão,
passou a amar profundamente aquele ser conhecido apenas pelo ouvir falar do vento e dos pássaros.
Apaixonou-se por alguém que nunca viu, mas sempre quis estar junto;
de longe ouvia o canto ritmado das ondas e imaginava-se naqueles braços,
numa dança contínua da qual só os que têm em si muito amor sabem o ir e vir.
Sonhava com o dia em que pudesse estar envolvida por aquele tão admirado e imenso ser.
E sentiria suas pétalas acarinhadas por alguém que, certamente, lhe saberia a alma de flor delicada.
Tanto sonhou e pediu que, um pássaro sensibilizado, mesmo avisando-lhe do risco que corria, atendeu seu pedido de cortar-lhe a haste.
Seguindo o rio e deixando-se levar pela correnteza, iria ao encontro de seu querido e a ele juntar-se-ia para sempre.
Caindo no rio, sentiu de imediato seu corpo gelar naquelas águas rudes e fortes que a arrastavam rapidamente.
A princípio, gostou daquela velocidade com que ia ao seu destino.
Depois sentiu a primeira mordida de um peixe que lhe amputou parte de uma pétala;
começou, então, seu caminho de sofrimento.
Troncos no meio do caminho insistiam em lhe obstruir a passagem e, cega, sendo levada pela força da água,
batia contra pedras que iam lhe dilacerando e tirando sua beleza de flor.
Enormes cachoeiras traziam quedas violentas. Medo vencido por uma determinação de quem sabe o que quer.
Mesmo quase desmaiada e toda machucada, levava consigo o alento de ir encontrar com seu amor.
Todas as dores do mundo não se comparavam à felicidade de realizar o seu sonho.
Tudo vale a pena quando se ama.
Até que, muitos dias depois, totalmente deformada e quase inconsciente, viu chegado o momento com o qual sonhou.
As águas do rio encontravam-se com o mar com tanto ímpeto que, no encontro, foi arremessada para cima.
Naquele exato instante, olhou para o céu e agradeceu a Deus por haver chegado a quem tanto amou.
E seus pedaços boiaram inertes sobre aquelas águas que, minutos depois, sequer lembrariam daquela pequenina criatura – um dia tão linda – Flor.
Poucos, além dos pássaros e do vento, souberam da flor, mas ela realizou seu sonho. Conheceu o mar!
Na vida, não podemos reclamar dos caminhos que escolhemos .
Qualquer caminho é uma opção nossa. Até morrer de amor.
Pensando nisso, entre duas lágrimas com gosto de sal e o esboço de um sorriso irônico, de repente, me dei conta de uma coisa:
-  Eu conheci o mar!
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  • 1. gluckall.blogspot.com Rolagem automática ______________________________________perfume de coração A flor que amava o mar
  • 2. Havia uma flor à beira de um rio que se apaixonou pelo mar.
  • 3. Talvez por ouvir o sussurro das águas do rio, que corriam ansiosas para desembocarem na sua imensidão,
  • 4. passou a amar profundamente aquele ser conhecido apenas pelo ouvir falar do vento e dos pássaros.
  • 5. Apaixonou-se por alguém que nunca viu, mas sempre quis estar junto;
  • 6. de longe ouvia o canto ritmado das ondas e imaginava-se naqueles braços,
  • 7. numa dança contínua da qual só os que têm em si muito amor sabem o ir e vir.
  • 8. Sonhava com o dia em que pudesse estar envolvida por aquele tão admirado e imenso ser.
  • 9. E sentiria suas pétalas acarinhadas por alguém que, certamente, lhe saberia a alma de flor delicada.
  • 10. Tanto sonhou e pediu que, um pássaro sensibilizado, mesmo avisando-lhe do risco que corria, atendeu seu pedido de cortar-lhe a haste.
  • 11. Seguindo o rio e deixando-se levar pela correnteza, iria ao encontro de seu querido e a ele juntar-se-ia para sempre.
  • 12. Caindo no rio, sentiu de imediato seu corpo gelar naquelas águas rudes e fortes que a arrastavam rapidamente.
  • 13. A princípio, gostou daquela velocidade com que ia ao seu destino.
  • 14. Depois sentiu a primeira mordida de um peixe que lhe amputou parte de uma pétala;
  • 15. começou, então, seu caminho de sofrimento.
  • 16. Troncos no meio do caminho insistiam em lhe obstruir a passagem e, cega, sendo levada pela força da água,
  • 17. batia contra pedras que iam lhe dilacerando e tirando sua beleza de flor.
  • 18. Enormes cachoeiras traziam quedas violentas. Medo vencido por uma determinação de quem sabe o que quer.
  • 19. Mesmo quase desmaiada e toda machucada, levava consigo o alento de ir encontrar com seu amor.
  • 20. Todas as dores do mundo não se comparavam à felicidade de realizar o seu sonho.
  • 21. Tudo vale a pena quando se ama.
  • 22. Até que, muitos dias depois, totalmente deformada e quase inconsciente, viu chegado o momento com o qual sonhou.
  • 23. As águas do rio encontravam-se com o mar com tanto ímpeto que, no encontro, foi arremessada para cima.
  • 24. Naquele exato instante, olhou para o céu e agradeceu a Deus por haver chegado a quem tanto amou.
  • 25. E seus pedaços boiaram inertes sobre aquelas águas que, minutos depois, sequer lembrariam daquela pequenina criatura – um dia tão linda – Flor.
  • 26. Poucos, além dos pássaros e do vento, souberam da flor, mas ela realizou seu sonho. Conheceu o mar!
  • 27. Na vida, não podemos reclamar dos caminhos que escolhemos .
  • 28. Qualquer caminho é uma opção nossa. Até morrer de amor.
  • 29. Pensando nisso, entre duas lágrimas com gosto de sal e o esboço de um sorriso irônico, de repente, me dei conta de uma coisa:
  • 30. - Eu conheci o mar!
  • 31.