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ENTREVISTA
ESPETÁCULO O POETA E AS ANDORINHAS
Para Paulo Ribeiro – texto e direção geral

Fundação para o Desenvolvimento da Educação – Como foi “adaptar” para crian-
ças um conteúdo denso, como é o de Oscar Wilde, cuja complexidade encontra-se
presente em várias e sutis camadas? Qual foi o eixo do processo de adaptação de
três contos, um romance e a biografia do autor na produção do texto dramático?
Gostaríamos que você comentasse sobre aquilo que “ficou” e “sofreu” maiores
modificações.

Paulo Ribeiro – Em primeiro lugar, nunca devemos subestimar a inteligência e a sen-
sibilidade das crianças e dos adolescentes. Pois mesmo os temas e conteúdos mais
complexos, como os encontrados nas obras de Oscar Wilde, serão sempre filtrados
e absorvidos mediante seu entendimento da vida e o seu meio. Como adaptador e
diretor procurei ser o mais honesto e verdadeiro possível, sem esquecer que o tea-
tro representa para a criança um lugar de encantamento e descobertas. Penso que
todos os riscos e problemas se resolvem quando falamos com o coração, essa é a
melhor maneira para sermos aceitos e compreendidos pelas crianças.



Para os atores

FDE – Gostaríamos que vocês comentassem a seguinte frase do autor Oscar Wilde: “A
maquilagem diz-nos mais que o rosto”.

Thaís Uessugui (andorinha) – Oscar Wilde escreveu sobre vaidade. Tema constante
em seus contos e em seu romance, o universo das máscaras sociais e das aparências
surge e ressurge em sua literatura em diversos formatos. A maquiagem pode ser um
disfarce, pode ressaltar qualidades ou esconder defeitos.

Rogério Romera (pintor) – Essa maquiagem sugerida pelo escritor representa uma
máscara que cobre a verdade, o rosto. O homem cria disfarces para se comunicar
com seus iguais.

Romulo Bonfim (anão) – Maquiagem é expressão. Pode transformar um rosto que,
limpo, não diria nada; mas também pode ocultar um rosto que, limpo, diria tudo.



Para Wilton Ormundo – Coordenador Pedagógico

FDE – Como esse espetáculo pode ser vinculado ao ensino de Arte na escola? Quais
os diálogos possíveis de serem estabelecidos entre, por exemplo, arte, língua portu-
guesa e temas transversais?

Wilton Ormundo – Partindo dos pressupostos tão bem estabelecidos pelos Parâ-
metros Curriculares Nacionais e pelas recentes propostas da Secretaria Estadual da
Educação em relação à disciplina de Arte na escola, nosso projeto acredita na auto-
nomia que o “objeto-arte” tem.
Defendemos o valor “intrínseco” que o espetáculo O Poeta e as Andorinhas tem
como obra de arte. Sua forma e conteúdo já servem por si para um trabalho em sala
de aula.

Nosso projeto estabelece um diálogo entre a literatura e sua releitura nos palcos.
Daí investirmos tanto no recorte interpretativo que sai das páginas de um livro para
um palco com atores de qualidade, cenários criativos, luz sugestiva.

Temos também um foco nos temas transversais que nosso espetáculo pode trazer.
Além da fruição da obra teatral que apresentamos, do texto de ruptura de Oscar
Wilde, temos uma preocupação toda especial com a formação de nossos especta-
dores, por isso nosso material didático enfoca de maneira muito especial as muitas
discussões que a peça suscita.



FDE – Quais aspectos foram privilegiados, em termos de linguagem teatral e de te-
máticas presentes em O Poeta e as Andorinhas, no material pedagógico elaborado,
considerando-se que o espetáculo é dirigido a alunos do Ensino Fundamental?

Wilton Ormundo – Nosso trabalho é bem anterior à confecção do material didático
propriamente dito. No início do processo, discuto a adaptação – folha a folha – com
Paulo Ribeiro, observando o tipo de recorte interpretativo realizado por ele (ten-
do como base a obra original de Oscar Wilde). Posteriormente, os atores passam
por uma preparação, de modo que possam se apropriar adequadamente do texto
(trabalhamos inclusive textos literários que não estão no projeto, mas que se rela-
cionam a ele. Por exemplo: textos de Camus, Décio Pignatari, poemas de Fernando
Pessoa, contos de Clarice Lispector, entre outros). Depois, trabalho com toda a equi-
pe do Departamento de Relacionamento Educacional para que nosso discurso possa
ser afinado de maneira coesa e coerente. Depois dessas etapas é que inicio a feitura
do material didático. Esses cadernos são confeccionados em paralelo à montagem
teatral (para que seja garantida a unidade do projeto). Exploro no material escolar
aspectos da vida e obra (principalmente) de Oscar Wilde e trabalho com a interpre-
tação textual dos contos adaptados.



Para J. C. Serroni – cenógrafo

FDE – Como se deu o processo de criação de um cenário que usa elementos do real
para compor um mundo imaginário, no qual vida e obra se misturam? Fale um pou-
co sobre os símbolos do berço, da janela fechada e da gaiola.

J. C. Serroni – O processo de criação da cenografia para O Poeta e as Andorinhas
se deu na forma que acredito para o teatro: parceria. Foi um trabalho muito coeso
entre texto, direção, produção, interpretação, música, som e figurino.
Quanto mais as partes de um espetáculo se somam, mais rico é o resultado. Neste
caso, para a cenografia também interessou muito a atmosfera delineada pelo texto,
pelo universo de Oscar Wilde. Quando a obra trabalhada dá caminhos para o ima-
ginário e a fantasia, a cenografia tem mais liberdade na criação.

Trabalhar com signos no teatro é muito mais rico. Uma cenografia não deve ser
descritiva. Ela deve dar ao espectador possibilidades de uma leitura e interpretação
próprias.

A síntese é o que interessa. Dessa forma, berço, gaiolas e janelas com grades sinte-
tizam muito o universo do poeta. Não são prisões reais, mas podem estabelecer os
conflitos internos (positivos ou negativos) vividos pelo artista. Se o público tiver um
olhar atento, verá que as linhas que definem “essas prisões” soam finas e frágeis,
são quase um risco, um desenho... O que poderia isso dizer?




* Entrevista realizada em setembro de 2008 pela Gerência de Educação e Cultura da FDE.




                                            Esquerda: Wilde em Nova York, fotografado por
                                            Napoleon Sarony, janeiro de 1882.

                                            Capa: Água-forte de Wilde com um menino, talvez
                                            filho do artista, por James Edward Kelly, 1882.
                                            Fonte: Oscar Wilde, de Richard Ellmann, Cia. das Letras, 1988.

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Entrevista sobre a adaptação da obra de Oscar Wilde para o teatro infantil

  • 2. Para Paulo Ribeiro – texto e direção geral Fundação para o Desenvolvimento da Educação – Como foi “adaptar” para crian- ças um conteúdo denso, como é o de Oscar Wilde, cuja complexidade encontra-se presente em várias e sutis camadas? Qual foi o eixo do processo de adaptação de três contos, um romance e a biografia do autor na produção do texto dramático? Gostaríamos que você comentasse sobre aquilo que “ficou” e “sofreu” maiores modificações. Paulo Ribeiro – Em primeiro lugar, nunca devemos subestimar a inteligência e a sen- sibilidade das crianças e dos adolescentes. Pois mesmo os temas e conteúdos mais complexos, como os encontrados nas obras de Oscar Wilde, serão sempre filtrados e absorvidos mediante seu entendimento da vida e o seu meio. Como adaptador e diretor procurei ser o mais honesto e verdadeiro possível, sem esquecer que o tea- tro representa para a criança um lugar de encantamento e descobertas. Penso que todos os riscos e problemas se resolvem quando falamos com o coração, essa é a melhor maneira para sermos aceitos e compreendidos pelas crianças. Para os atores FDE – Gostaríamos que vocês comentassem a seguinte frase do autor Oscar Wilde: “A maquilagem diz-nos mais que o rosto”. Thaís Uessugui (andorinha) – Oscar Wilde escreveu sobre vaidade. Tema constante em seus contos e em seu romance, o universo das máscaras sociais e das aparências surge e ressurge em sua literatura em diversos formatos. A maquiagem pode ser um disfarce, pode ressaltar qualidades ou esconder defeitos. Rogério Romera (pintor) – Essa maquiagem sugerida pelo escritor representa uma máscara que cobre a verdade, o rosto. O homem cria disfarces para se comunicar com seus iguais. Romulo Bonfim (anão) – Maquiagem é expressão. Pode transformar um rosto que, limpo, não diria nada; mas também pode ocultar um rosto que, limpo, diria tudo. Para Wilton Ormundo – Coordenador Pedagógico FDE – Como esse espetáculo pode ser vinculado ao ensino de Arte na escola? Quais os diálogos possíveis de serem estabelecidos entre, por exemplo, arte, língua portu- guesa e temas transversais? Wilton Ormundo – Partindo dos pressupostos tão bem estabelecidos pelos Parâ- metros Curriculares Nacionais e pelas recentes propostas da Secretaria Estadual da Educação em relação à disciplina de Arte na escola, nosso projeto acredita na auto- nomia que o “objeto-arte” tem.
  • 3. Defendemos o valor “intrínseco” que o espetáculo O Poeta e as Andorinhas tem como obra de arte. Sua forma e conteúdo já servem por si para um trabalho em sala de aula. Nosso projeto estabelece um diálogo entre a literatura e sua releitura nos palcos. Daí investirmos tanto no recorte interpretativo que sai das páginas de um livro para um palco com atores de qualidade, cenários criativos, luz sugestiva. Temos também um foco nos temas transversais que nosso espetáculo pode trazer. Além da fruição da obra teatral que apresentamos, do texto de ruptura de Oscar Wilde, temos uma preocupação toda especial com a formação de nossos especta- dores, por isso nosso material didático enfoca de maneira muito especial as muitas discussões que a peça suscita. FDE – Quais aspectos foram privilegiados, em termos de linguagem teatral e de te- máticas presentes em O Poeta e as Andorinhas, no material pedagógico elaborado, considerando-se que o espetáculo é dirigido a alunos do Ensino Fundamental? Wilton Ormundo – Nosso trabalho é bem anterior à confecção do material didático propriamente dito. No início do processo, discuto a adaptação – folha a folha – com Paulo Ribeiro, observando o tipo de recorte interpretativo realizado por ele (ten- do como base a obra original de Oscar Wilde). Posteriormente, os atores passam por uma preparação, de modo que possam se apropriar adequadamente do texto (trabalhamos inclusive textos literários que não estão no projeto, mas que se rela- cionam a ele. Por exemplo: textos de Camus, Décio Pignatari, poemas de Fernando Pessoa, contos de Clarice Lispector, entre outros). Depois, trabalho com toda a equi- pe do Departamento de Relacionamento Educacional para que nosso discurso possa ser afinado de maneira coesa e coerente. Depois dessas etapas é que inicio a feitura do material didático. Esses cadernos são confeccionados em paralelo à montagem teatral (para que seja garantida a unidade do projeto). Exploro no material escolar aspectos da vida e obra (principalmente) de Oscar Wilde e trabalho com a interpre- tação textual dos contos adaptados. Para J. C. Serroni – cenógrafo FDE – Como se deu o processo de criação de um cenário que usa elementos do real para compor um mundo imaginário, no qual vida e obra se misturam? Fale um pou- co sobre os símbolos do berço, da janela fechada e da gaiola. J. C. Serroni – O processo de criação da cenografia para O Poeta e as Andorinhas se deu na forma que acredito para o teatro: parceria. Foi um trabalho muito coeso entre texto, direção, produção, interpretação, música, som e figurino.
  • 4. Quanto mais as partes de um espetáculo se somam, mais rico é o resultado. Neste caso, para a cenografia também interessou muito a atmosfera delineada pelo texto, pelo universo de Oscar Wilde. Quando a obra trabalhada dá caminhos para o ima- ginário e a fantasia, a cenografia tem mais liberdade na criação. Trabalhar com signos no teatro é muito mais rico. Uma cenografia não deve ser descritiva. Ela deve dar ao espectador possibilidades de uma leitura e interpretação próprias. A síntese é o que interessa. Dessa forma, berço, gaiolas e janelas com grades sinte- tizam muito o universo do poeta. Não são prisões reais, mas podem estabelecer os conflitos internos (positivos ou negativos) vividos pelo artista. Se o público tiver um olhar atento, verá que as linhas que definem “essas prisões” soam finas e frágeis, são quase um risco, um desenho... O que poderia isso dizer? * Entrevista realizada em setembro de 2008 pela Gerência de Educação e Cultura da FDE. Esquerda: Wilde em Nova York, fotografado por Napoleon Sarony, janeiro de 1882. Capa: Água-forte de Wilde com um menino, talvez filho do artista, por James Edward Kelly, 1882. Fonte: Oscar Wilde, de Richard Ellmann, Cia. das Letras, 1988.