O documento discute as potencialidades e desafios da piscicultura na Amazônia, argumentando que é possível desenvolver a atividade de forma econômica e sustentável seguindo certas diretrizes, como definir espécies apropriadas, apoiar alevinagem e oferecer crédito para pequenos produtores. Também ressalta a importância de regular a pesca predatória e educar as novas gerações para a preservação dos recursos pesqueiros.
Como evitar incêndios e prevenção de incendios.ppt
Piscicultura
1. PISCICULTURA: moda ou atividade econômica
Para muitos, até mesmo dirigentes de órgãos e agentes de
desenvolvimento, cai no absurdo pensar em criar peixes no
Amazonas. Afirmam que a natureza aí está, pronta para nos
prover da quantidade de pescado que quisermos, bastando
evitar a pesca predatória. Exageros a parte, de fato não estão de
todo errados. Se conseguíssemos eliminar a pesca predatória e
administrássemos os nossos recursos pesqueiros de forma
racional, obedecendo-se o período de defeso e houvesse manejo
planejado de nossas espécies comerciais teríamos abundancia de
pescado e o abastecimento de Manaus seria facilitado pela oferta
de peixes brancos. Os exemplos estão a nos mostrar que isso é
racional e possível. Centenas de pirarucus, espécie ameaçada
de extinção, estão sendo pescados, com autorização do IBAMA,
dos lagos de Fonte Boa e Maraã, representando mais de 100
toneladas de carne de excelente qualidade, que poderão
contribuir com a melhoria da qualidade de vida daqueles
ribeirinhos desde que seja autorizada a despesca em cotas
mensais e comercializadas criteriosamente. Dessa forma o preço
ficaria estabilizado e não aviltado para baixo como vem
ocorrendo pelo excesso concentrado da produção.
O manejo responsável não significa que inviabilizaremos a
piscicultura. Além do mais, preservar parece ser utopia nesta
Região. Não acreditamos nisso no curto prazo. Temos que
educar o povo começando pelas escolas, as novas gerações.
Ninguém desconhece que algumas espécies estão se tornando
mais difíceis de serem encontradas. O Tambaqui que chegava a
pesar mais de 30 quilos, hoje dificilmente passa de “ruelo”.
Criar peixe não é novidade para ninguém, entretanto criar
peixes no Amazonas significa esquecer o que os nordestinos
estão fazendo e desenvolver a nossa própria tecnologia.
Trabalhar com as nossas potencialidades e alternativas.
Em 1985 quando deixei a Coordenadoria da Superintendência
da Pesca no Amazonas - SUDEPE, publiquei o livro A PESCA
2. NO AMAZONAS: Problemas e Soluções, onde elegi os nossos
principais problemas e ousei apresentar algumas soluções. Vejo
que além de não resolvermos esses problemas, deixamos que
eles se agravassem. Sugeríamos que para implantarmos a
piscicultura no Estado, como atividade com resultados
econômicos, deveríamos:
1. Definir as espécies. Matrinxã, Tambaqui e Pirarucu;
2. Apoiar a Estação de Piscicultura de Balbina e implantar
pequenas unidades de alevinagem no interior do Estado,
para fornecimento aos piscicultores;
3. Crédito subsidiados nas condições do Pro-calcáreo, para
investimentos e custeio, direcionados para pequenos
projetos em igarapés ou gaiolas. Os grandes produtores,
aqueles que usariam tanques escavados ou açudes,
buscariam recursos do FNO em razão dos encargos
financeiros também reduzidos, bem abaixo das demais
linhas de crédito para financiamentos e bem próximos aos
abrigados pelo FMPES-Rural. A produção de Tambaqui-
Curumim em gaiolas deve ser acompanhada por uma
busca constante de mercado. Não deve ficar a mercê de
apenas um fornecedor de alimentação para as industrias
do PIM ou para reforço da merenda escolar. Quanto a
utilização de igarapés, principalmente para criação de
matrinxãs, me parece, pelo seu reduzido custo de
implantação, sob medida para os micro produtores. A
AFEAM está acreditando nessas duas alternativas e está
acompanhando alguns produtores já financiados que
servirão de parâmetros para futuros financiamentos;
4. Avaliar criteriosamente os grandes projetos,
principalmente para cultivo de Pirarucu. Com o manejo
dos lagos e a proibição da pesca, o preço do pirarucu,
praticado pelos frigoríficos não remunera a atividade,
tornando-a sem capacidade de pagamento, até porque não
existe consumo considerado entre os amazonenses de
Pirarucu e a busca de mercado externo não tem
3. apresentado resultados significativos. Somos péssimos
vendedores de nossas riquezas naturais. O exemplo da
comercialização dos peixes de Fonte Boa, autorizados pelo
IBAMA, foi triste e desanimadora, ter o Estado que
subsidiar o preço de compra de pirarucu desestimula
qualquer investimento.
Com a experiência que acumulamos no setor primário, na
Prefeitura de Urucará, no BASA e agora na AFEAM, estamos
em condições de sabermos distinguir entre aqueles que querem
criar peixes como empresários, com objetivos econômicos,
buscando o lucro e aqueles que querem os recursos para
melhorar seus sítios, suas chácaras, onde passam o final de
semana e se divertem jogando pão para atiçar os peixes e
impressionar os convidados.
Criar peixes com seriedade e profissionalismo, com certeza pode
ser uma excelente opção para se ganhar dinheiro e “pagar os
financiamentos”, de outra forma estaremos contribuindo para
criarmos junto aos agentes financeiros uma verdadeira ojeriza a
essa atividade.
Pedro Falabella, é economista, ex-prefeito de Urucará em cinco
mandatos e atual presidente da AFEAM. Autor do livro A
Pesca no Amazonas:Problemas e Soluções.