O documento discute a análise fotográfica e como a imagem foi tradicionalmente marginalizada nas pesquisas de comunicação de massa. A fotografia é um documento que registra informações através de uma linguagem própria, mas foi submetida a análises limitadas que desagregavam seu significado total. Diferentes níveis e tipos de análise semiótica da fotografia são discutidos, com foco na análise documental para recuperação informativa através de resumos e indexação.
2. A imagem, parente “pobre” da investigação
As tradições dominantes da Mass Communication Research tenderam:
a problematizar os efeitos dos media a partir de experiências laboratoriais
(Behaviorismo)
a equacionar a mudança de opinião a partir de séries estatísticas
extensivas (Positivismo)
a questionar a acção das formas de mercado, designadamente a
estrutura de propriedade dos media (Economia Política)
a privilegiar um realismo visual ingénuo: a imagem “espelha” o seu
objecto, logo, merece apenas uma leitura superficial
Impactos:
prevalência da abordagem racionalista, em detrimento da simbólica e
emocional (a palavra objectiva vs a imagem subjectiva)
pesquisa em media tradicionalmente centrada em linguagem oral e
linguagem escrita
lateralização da natureza específica da imagem (apenas o Estruturalismo
saussureano e os Estudos Culturais halleanos reconheceram e abordaram)
limitação da diversidade de métodos de análise disponíveis: a análise de
conteúdo enquanto factor de desagregação do todo que a imagem
constitui em unidades quantificáveis
Resultado: estudo da linguagem visual refém de desinvestimento analítico
3. Fotografia como medium
É uma síntese de dois processos de ordem química (reacção à luz) e de
ordem física (óptica) (Barthes, 1984)
Mas é também, e sobretudo:
um documento que regista informação num suporte, com um
enquadramento simbólico, passível de transmitir conhecimento
uma extensão da nossa capacidade de olhar, uma técnica de
representação da realidade através de uma linguagem própria
(Guran, 1992)
Foto (luz) e Grafia (escrita), enquanto texto visual, possuem:
um enunciado e uma narrativa, ou seja, pretende transmitir um
determinado conteúdo informacional, passível de análise
um código, beneficiando da arbitrariedade atribuída aos signos e à
relação entre o seu significante e o seu significado (Saussure, 2003)
4. Quatro tipos de análise da imagem
(Cottle, 1998) (1)
imagem como distorção
analisa o modo como a imagem se presta à falsificação da realidade
em linha com pré-conceitos, agendas ou valores
pressupõe trabalho de campo de acompanhamento das rotinas de
produção
pressupõe fontes comparativas
imagem como simbolismo
analisa o modo como a imagem condensa, combina e (re)transmite
significado social, mobilizando a dimensão emocional e afirmacional
(e já não tanto de autenticidade ou referencial)
pressupõe aplicação da terminologia de Peirce (ícone, símbolo, índice)
pressupõe conhecimento do património simbólico (cultural) ao qual a
imagem se reporta
distingue-se na análise semiótica pura ao concentrar-se
essencialmente no simbolismo central de uma imagem (e não em
todas as suas múltiplas leituras): de acordo com Firth (1973: 15),
simbolização é o processo de atribuição/reconhecimento das
características de um objecto concreto a outro, mais abstracto
5. Quatro tipos de análise da imagem
(Cottle, 1998) (2)
imagem como sistema semiótico
analisa o modo como a imagem condensa, combina e (re)transmite
significado social, mobilizando a dimensão emocional e afirmacional (e já
não tanto de autenticidade ou referencial)
pressupõe aplicação da taxonomia saussureana (linguagem relacionai, e
não apenas referencial, que atribui significado à experiência humana pré-
existindo a esta, e arbitrária)
pressupõe aplicação da distinção entre significante (suporte e técnica) e
significado (conceito), os dois elementos constitutivos do signo
pressupõe aplicação da distinção entre paradigma (escolha de signos) e
sintagma (ordenação dos signos)
imagem como garantia epistemológica
analisa o modo como a imagem reproduz/reforça o estatuto do seu
autor/transmissor enquanto veículo de conhecimento fiável (no sentido
epistemológico do termo)
pressupõe conhecimento das características e fronteiras de convenções e
géneros (e da utilização tipificada de signos)
(no âmbito da utilização da fotografia pelos media,) pressupõe aplicação
da taxonomia relacional texto-imagem de Meinhof (1994): sobreposição
(ambos se referem ao mesmo); deslocação (referem-se a componentes
diferentes do mesmo); dicotomização (ambos se referem a componentes
de objectos diferentes)
6. Níveis de análise semiótica da fotografia
Dubois (1986), partindo do contributo de Peirce ao nível dos signos (),
propõe uma análise semiótica da fotografia em três níveis:
como ícone, ou espelho do real/referente, com o qual
estabelece uma relação de semelhança (já visto em Barthes,
1984)
como indício, ou prova do real/referente, com o qual
estabelece uma relação de conexão física, de vestígio
ontológico
como signo, ou transformação do real/referente, uma
representação reconstruída por convenções (ideológicas ou
técnicas), mediante processos de
(des)codificação/recodificação e interpretação
Para este autor, não é possível pensar a imagem fora do acto que a
torna possível, o que significa considerar em conjunto conteúdo,
contexto, e técnica
7. Níveis de análise fotográfica (1)
Panofsky (1979):
descritivo:
pré-iconográfico, de descrição genérica dos objectos e acções
representadas na imagem;
iconográfico, de descrição e classificação das imagens,
estabelecendo o assunto representado na imagem
interpretativo:
iconológico, de interpretação do significado do conteúdo da
imagem, o qual requer uma contextualização social, política e
económica
Barthes (1990):
denotativo, de descrição dos objectos representados na imagem
(objectiva)
conotativo, de interpretação da imagem, que actua sobre esta,
modificando o real nela contida
8. Níveis de análise fotográfica (2)
Arillo (2000):
conotação
objectiva, interpretação partilhada colectivamente a partir de
um conjunto de referenciais comuns (Cultura, Classe social)
subjectiva, interpretação individual a partir do habitus do sujeito,
da sua biografia, ideologia, ou estado emocional
Serrano, Moral (2004):
conotação universal ou denotação subjectiva, interpretação
partilhada colectivamente a partir de um conjunto de referenciais
comuns (Cultura, Classe social)
A natureza necessariamente contingente da análise: cada analista
estará sempre refém da acção da dimensão conotativa (uma
fotografia pode sugerir significados diferentes para um mesmo
intérprete em momentos distintos), pelo que «a descrição de uma
imagem nunca é completa» (Smit, 1989: 102).
10. A análise documental fotográfica
A análise documental, (Cunha, 1989: 40), representação do conteúdo
de um texto para recuperação informativa:
«conjunto de procedimentos [de análise, classificação, síntese, e
indexação] com o fim de expressar o conteúdo de documentos, sob
formas destinadas a facilitar a recuperação da informação».
São representações documentais típicas:
o resumo, que cumpre uma função de condensação da
informação;
a indexação, que cumpre uma função de inventariação organizada
e localizável:
análise conceptual do documento, ou identificação do seu
assunto
tradução do documento, ou representação do seu assunto em
termos ou signos codificados (do imagético para o verbal)
11. Resumo, Indexação e o impacto do digital
Resumo: redução do texto imagético a uma unidade de conteúdo
o problema da polissemia (do grego poli ("muitos") e sema
("significados")): que possibilidades de leitura cristalizar?
Indexação: levantamento de termos para expressão do conteúdo
imagético
o problema da adequação e da eficaz sedução do usuário:
que termos melhor representam a dimensão expressiva da
imagem?
A digitalização e os bancos de imagem, vector de ultrapassagem
destes procedimentos
é toda a imagem a estar disponível (e não estes indicadores),
acompanhada de uma legenda (diferente de resumo)
a mutação da utilidade do resumo: contextualização
12. ‘Analysing an Image’ Writing Frame FORM
This is the ‘Mise en Scene (Setting in Scene)’ :- describe what
PROCESS
What has the artist used to make the art work? Consider
is going on in the art work/photograph? Explain objectively the materials and media. If a photograph, what are the
and honestly. Imagine you are trying to explain the art work to lighting considerations? Has it been presented in a
someone over the telephone and transcribe that message. special way I.e. as an installation?
Insert Picture
TITLE:
DATE: CONTENT
Having researched further and understood the wider context,
ARTIST: discuss the ideas behind the art work and the intentions of the
photographer to your best ability. Consider the mood of the
work and how this has been achieved?
KEYWORDS
Write down any key words you associate with this art
work.
13. ‘Analysing an Image’ Writing Frame FORM
This is the ‘Mise en Scene (Setting in Scene)’ :- describe what
PROCESS
What has the artist used to make the art work? Consider
is going on in the art work/photograph? Explain objectively the materials and media. If a photograph, what are the
and honestly. Imagine you are trying to explain the art work to lighting considerations? Has it been presented in a
someone over the telephone and transcribe that message. special way I.e. as an installation?
TITLE: Le Couple d'amoureux au bal des quatre
saisons, rue de Lappe CONTENT
Having researched further and understood the wider context, discuss the ideas behind the art work and the intentions of the
DATE: 1932 photographer to your best ability. Consider the mood of the work and how this has been achieved?
ARTIST: Gyula Halasz aka Brassai (1899-1984)
KEYWORDS
Write down any key words you associate with this art
work.
14. ‘Analysing an Image’ Writing Frame FORM
This is the ‘Mise en Scene (Setting in Scene)’ :- describe what
PROCESS
What has the artist used to make the art work? Consider
is going on in the art work/photograph? Explain objectively the materials and media. If a photograph, what are the
and honestly. Imagine you are trying to explain the art work to lighting considerations? Has it been presented in a
BASIC EXAMPLE someone over the telephone and transcribe that message. special way I.e. as an installation?
This is a photograph of a The photographer has used
man and woman sitting in a black and white film and
café drinking wine. You can printed it in the darkroom.
see their reflection in the There is lots of light on their
mirror. faces
TITLE: Le Couple d'amoureux au bal des quatre
saisons, rue de Lappe CONTENT
Having researched further and understood the wider context, discuss the ideas behind the art work and the intentions of the
DATE: 1932 photographer to your best ability. Consider the mood of the work and how this has been achieved?
ARTIST: Gyula Halasz aka Brassai (1899-1984)
I think the work is about a French man and woman who love each other. I find it an really interesting
KEYWORDS picture and like the composition. They appear to be drinking wine and he is clutching her elbow, whilst
Write down any key words you associate with this art
work. she touches his chest. This shows that they really like each other. I would like to be able to take photos
that are also of people - I could photograph my friends in a local café drinking tea.
Man
Woman
Wine
Mirror
Hat
15. ‘Analysing an Image’ Writing Frame FORM
This is the ‘Mise en Scene (Setting in Scene)’ :- describe what
PROCESS
What has the artist used to make the art work? Consider
is going on in the art work/photograph? Explain objectively the materials and media. If a photograph, what are the
and honestly. Imagine you are trying to explain the art work to lighting considerations? Has it been presented in a
FLUENT EXAMPLE someone over the telephone and transcribe that message. special way I.e. as an installation?
This is a black & white The picture is taken from
photograph by Brassai, the head height looking down at
French photographer (1899- the couple. This allows us to
1984), of a lady and her see their reflection in the
lover/partner socialising in a mirror and have an overview
café and chatting over a of the scene. The scene may
drink of wine. She is have involved the use of flash
animated and holding his as their skin, white clothes
chest, whilst he looks into and glasses are highly
her eyes and embraces her. reflected. The existing light is
The picture was taken most probably artificial and
indoors and there is a mirror low in strength with some
behind them. natural light from nearby
windows. There is little
distortion on the face, so he
has probably used a standard
50-100 mm lens
TITLE: Le Couple d'amoureux au bal des quatre
saisons, rue de Lappe CONTENT
Having researched further and understood the wider context, discuss the ideas behind the art work and the intentions of the
DATE: 1932 photographer to your best ability. Consider the mood of the work and how this has been achieved?
ARTIST: Gyula Halasz aka Brassai (1899-1984)
Brassai was someone considered to have “mythologised Paris as a romantic capital, capturing couples,
KEYWORDS bar fights, music halls and brothels.” Looking at his work it is clear that he was interested in the lives
Write down any key words you associate with this art
work. and behaviour of people in a large metropolitan city, choosing to document it as an intimate city,
although not afraid to show its rough edges. This particular image cleverly manages to convey two
points of view, where the lady is smiling contently and lovingly in front of the camera as she hugs her
Reflection lover, but the mirror shows another, more sinister side, where she appears to be grimacing and
Intimacy ‘keeping up appearances’. It raises questions about how our public and private emotions are constantly
Social challenged by the expectations of society. In this case, the glamour and fashion of the 1930s implied a
Illusion culture of sophistication that influenced many women of the day.
Deception
16. Leitura
A análise documental de fotografia recupera algumas categorias da análise
documental textual, usadas para descrever genericamente o conteúdo da
imagem:
Quem, identificando o objecto fotografado
Onde, localizando a imagem no espaço
Quando, localizando a imagem no tempo
O Quê e Como, descrevendo a acção representada.
No entanto, na construção de significados realizada durante a leitura de uma
imagem fotográfica ocorrem dois processos adicionais (Shatford, 1986,
inspirado em Panofsky), com implicações na representação da imagem:
análise (leitura de superfície), que identifica os elementos constitutivos
da imagem, designados por DE genérico, ou significado objectivo
síntese (leitura em profundidade, ou de segundo nível), que nomeia os
elementos constitutivos abstractos que podem ser deduzidos a partir
da imagem, designados por DE específico e SOBRE, ou significados
míticos e simbólicos
Em Shatford, DE Genérico e DE Específico incorporam elementos panofskianos
pré-iconográficos e iconográficos, descoincidindo destes (o nível
iconográfico panofskiano, por ex:, é analítico e o DE Específico não)
17. Grelha de análise, segundo Shatford (1986)
De
Sobre
Genérico Especifico
Quem
Onde
Quando
O Quê
Como
18. Imagem e Técnica
Smit (1996) e a necessária distinção entre análise documental escrita e
fotográfica: a imagem fotográfica possui uma dimensão expressiva, a
aparência física dada pela técnica que lhe subjaz.
Smit (1997) parametriza três dimensões da imagem fotográfica:
objecto físico fotografia (a imagem-suporte, a forma)
conteúdo informacional (o que a imagem mostra, o objecto
fotografado)
dimensão expressiva (como a imagem mostra, a linguagem –
enquadramento, luz, exposição)
“Estas três dimensões do registo fotográfico – forma, conteúdo,
expressão – é que constroem, em última instância, a mensagem que
informa” (Lacerda, 1993: 47).
Ou seja, e segundo Smit:
Imagem = Informação + Expressão
19. Indicadores da dimensão expressiva
(Smit, 1997)
Recursos Efeitos Óptica Exposição Luz Enquadraº Ângulo Composº Profund.
Câmara
alta
Do objecto Câmara
Foto-
fotografado baixa
montagem Com (todos
Diurna (parcial,
Retrato os objectos
Instantâneo geral) Vista aérea
Estroboscopia Objectivas nítidos)
Pose Nocturna
Variáveis Paisagem
De seres vivos Vista
Alto-contraste Sem
Longa Contraluz (plano geral, submarina
Filtros Natureza (campo de
exposição médio,
Truncagens morta fundo sem
Artificial americano, Vista
nitidez)
close, subterrânea
Esfumação
detalhe)
Micro-
fotografia
20. Grelha de análise, segundo Manini (2002)
Dimensão Informacional
De Dimensão
Expressiva
Sobre
Genérico Especifico
Quem
Onde
Quando
O Quê
Como