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UNIVERSIDADE DE BRASÌLIA                                                      SUMÁRIO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
A Série Textos Didáticos tem como objetivo contribuir para a atualização da
Bibliografia de uso corrente nos cursos de graduação em Economia.             Resumo .................................................................................................   04

Editor
                                                                              1 . O liberalismo econômico e o neo-liberalismo ..................................                         06
Bernardo Mueller

Diagramação e Editoração Eletrônica                                           2. Os críticos .........................................................................................   09

Ismar Marques Teixeira
                                                                                       2.1. Marx ........................................................ ...........................    09
Apoio

  Projetos Gerais DEX - UnB e CORECON-DF                                               2.2. Keynes ..................................................................................    12

                    Ficho Catalográfica
                                                                              3. O ressurgimento das cinzas: o novo debate liberal.......................„..                             13
          Mollo/Maria de Lourdes Rollemberg
          O ~liberalismo: O que é? De onde veio? Para onde vai?
          Universidade de Brasília; Departamento de Economia
          1996 20p, Série Textos Didáticos, 17
          17. O Neoliberalismo: O que é? De onde veio? Para
          onde vai?

Departamento de Economia
Universidade de
Brasília Brasília-DF
Cep: 70910-900

Fone: (061) 310-212-1, 310-2311
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Endereço para aquisição
Conselho Regional de Economia da 11ª'Região -DF SCS Ed. Palácio do Comércio
Sala 503 70.318-900 - Brasília - DF
Fones. (061) 223-1-129. 225-9242
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O Neoliberalismo O que é ? De onde veio?
                               Para onde vai?




                                             Maria de Lourdes Rollembera Mollo




 RESUMO:



          Os economistas não pensam da mesma forma sobre os diferentes assuntos.
Nesta aula teremos oportunidade de ver um exemplo bem concreto e atual desse tipo
de divergência, por meio da discussão entre os economistas chamados liberais e dos
seus críticos. A divergência aqui analisada, sobre a maior ou menor eficiência do
mercado e, conseqüentemente. a defesa de menor ou maior intervenção estatal é um
ponto de separação importante entre as escolas de pensamento econômico. Ela está
na base das diferenças de diagnósticos para os diversos problemas econômicos a
serem tratados ao longo do curso, e das prescrições diferentes para resolvê-los.
Assim. o objetivo geral deste texto é discutir as razões dos principais pontos de
divergência, nos argumentos que sustentam sua defesa, tanto no que se refere às
déias liberais quanto às de seus críticos, e em algumas das conseqüência destas
idéias.
O Neoliberalismo
                             O que é? De onde veio? Para onde vai?                                              as conseqüências do mesmo em termos de prescrições econômicas. Como nem todos
                                                                                                                os economistas têm idéias liberais, é preciso também conhecer os argumentos dos seus
                                                    Maria de Lourdes Rollemberg Mollo*                          críticos, bem como o que propõem como alternativa em termos de prescrições
                                                                                                                econômicas.
        "Um dos maiores temores do presidente Fernando Henrique Cardoso é que lhe
deixem marcado com o rótulo de neoliberal»(Cláudia Antunes em artigo no JB de 16
                                                                                                                 1. O liberalismo econômico e o neo-liberalismo
de setembro/95 Idéias/Livros).

       "Acabou a macroeconomia. O que se tem hoje é uma neo-microeconomia, que                                           O liberalismo econômico encontra sua expressão mais ampla nos escritos dos
domina a economia mundial" (Celso Furtado, JB de l o de outubro/95).                                            economistas chamados clássicos e dos seus sucessores, os neo-clássicos. A concepção
                                                                                                                liberal em economia prega a liberdade de mercado, por acreditar que ele é auto
        "Precisamos de uma política industrial, agrícola, fundiária , de distribuição de                        regulador e que é a melhor maneira de articulação entre os indivíduos de uma
riqueza e, aí sim, também uma reforma fiscal e tributária" (Reinaldo Gonçalves, JB de                           sociedade, a mais eficiente. Esta doutrina apoia-se em idéias de individualismo,
1 de outubro de 1995).                                                                                          competição, eficiência, privatização, abertura de mercados, desregulamentação, e
                                                                                                                espírito empresarial, sobre as quais teceremos comentários ao longo do texto a seguir.
        "Não é porque a gente estabilizou que os investimentos diretos vão acontecer.                                    O liberalismo econômico nasceu com Adam Smith, pensador do século XIX,
A gente tem dado pouquíssima importância a uma política estratégica de investimento                             que acreditava que se os indivíduos fossem deixados livres haveria algo como uma
(Edward Amadeo, JB de 1o de outubro/95).                                                                        "mão invisível" que garantiria o bem-estar coletivo a partir destes interesses
                                                                                                                individuais. Daí o nome liberalismo, liberdade para ação dos indivíduos, operando
        "O Brasil precisa de uma política deliberada de criação de empregos como tem                            num sistema de mercado livre. A tônica era, nas palavras de outro liberal, J.B. Say, o
o Japão"(Celso Furtado, O Estado de São Paulo, 2 de outubro de 1995).                                           "laissez-faire, laissez-passer" (deixai fazer, deixai passar).
                                                                                                                         Segundo Smith, o desejo do indivíduo de melhorar sua condição de vida,
        "O Estado não tem dinheiro para investir. A nova lógica exige uma associação                            realizando trocas para reduzir a dureza e a fadiga do trabalho, e acumulando para
com parceiros estratégicos que tragam tecnologia» (Paulo Guedes, JB de lo de                                    aumentar o seu padrão de vida, acabaria por conduzir ao bem estar coletivo, mesmo
outubro/95).                                                                                                    quando não houvesse essa intenção ou planejamento deliberado nesse sentido. Para
                                                                                                                ele, cada indivíduo esforça-se ao máximo para empregar seu capital na sustentação da
       "O paradoxo do desemprego em meio a um capitalismo relativamente próspero                                indústria doméstica, de forma a que esta indústria seja conduzida a produzir o maior
não encontra fácil explicação" (Roberto Campos, em artigo A Grande Praga, Folha de                              valor; cada indivíduo necessariamente trabalha para tomar a renda anual da sociedade
São Paulo de 10 de outubro de 1995).                                                                            a maior possível. "Geralmente, na realidade, ele não tenciona promover o interesse
                                                                                                                público nem sabe até que ponto o está promovendo ... visa apenas seu próprio ganho e,
         As frases acima, publicadas em diferentes jornais do país, mostram, em                                 neste, como em muitos casos, é levado como que por uma mão invisível a promover
primeiro lugar, opiniões distintas sobre várias questões, todas ligadas à posição mais                          um objetivo que não fazia parte de suas intenções" (Smith, 1983, p. 379).
ou menos liberal dos economistas. Entendê-las, perceber o que está por trás de cada                                      Havia, nesta época, por parte dos economistas chamados clássicos (e também
afirmação, requer que se tenha claro, em primeiro lugar, o que é o tão falado neo-                              dos seus críticos), uma preocupação em analisar a economia a partir do entendimento
liberalismo, conhecer a origem dos seus argumentos e como esses evoluíram, e saber                              do processo de produção como um todo e do processo de distribuição do que foi
                                                                                                                produzido (entre as classes que compunham a sociedade, ou seja, os trabalhadores
                                                                                                                assalariados, os capitalistas e os donos de terra) e, sobretudo, estavam esses
* A autora, professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília - UnB, agradece os comentários
de Adriana Amado e Vânia Bastos, que permitiram aperfeiçoar as primeiras versões deste trabalho, embora se      economistas preocupados em entender como se dava a articulação entre estes dois
responsabilize integralmente pelas idéias aqui transcritas .                                                    processos de produção e distribuição.
Assim é que a chamada lei de Say, outro marco da concepção liberal, dizia que "a    grande mercado onde se oferecem fatores de produção (trabalho, capital e terra) de um lado, e
  oferta cria sua própria procura". Trata-se de entender o processo produtivo como criando os   bens e serviços, do outro, tenda para o equilíbrio. Trata-se de novo de conceber a Lei de Say
  rendimentos em termos de salários, lucros e renda, necessários à aquisição dos frutos da      como verdadeira. Os rendimentos dos vendedores de fatores de produção, ou seja, os salários,
  produção, constituindo, portanto, um processo auto-sustentado realizado por meio do           os lucros e as rendas fundiárias, adquirem a produção de bens e serviços. Se não há consumo
  mercado, onde são pagos os rendimentos e adquiridos os produtos.                              imediato, ou seja, se as pessoas poupam, isto não é problema, porque como esta poupança
            A aceitação da lei de Say está ligada a uma visão de economia onde os indivíduos    depende da taxa de juro (e cresce com a taxa de juro) e o investimento também depende da
  buscam satisfazer suas necessidades ou seu consumo em diferentes datas, e onde a lógica de    taxa de juro (de forma decrescente), haverá sempre uma taxa de juro que iguala a poupança e
  funcionamento econômico é, então, derivada deste objetivo. É isto que conduz Ricardo,         o investimento, ou seja, tudo o que for poupado será investido e não haverá nem sobra de
  outro expoente do liberalismo econômico, a dizer que "ninguém produz a não ser para           rendimentos nem sobras de produtos, conforme indicado no Quadro 1 abaixo. Cabe, pois,
  consumir ou vender..." e "os produtos sempre são comprados com outros produtos ou com         segundo estes autores, deixar o mercado livre e as ofertas e procuras se igualarão.
  serviços" (Ricardo, 1982, p. 197, 198) e, em conseqüência disso, a acreditar que a produção
  não podia sobrar ou não conseguir ser vendida de forma generalizada. A tendência seria,
  pois, que a oferta agregada de produtos e a procura agregada por eles tendessem a se
  igualar. Não haveria desemprego generalizado, mas apenas transitório e localizado. Uma
  vez que a tendência ao equilíbrio estava garantida neste gênero de raciocínio, cabia apenas
  preservar o livre jogo das forças de mercado.
          As teses liberais de eficiência reguladora do mercado quando deixado livre vão ser
continuadas por outros autores até os nossos dias, a partir da introdução de diferentes
argumentos novos. Todos os argumentos, porém, têm em comum uma característica herdada
das idéias de Smith: a de que o que garante o caráter regulador do mercado é a liberdade de
ação individual, o respeito ao interesse de cada indivíduo¹.
          Assim, destaca-se em primeiro lugar Hayek, para quem a intervenção estatal no         A poupança (S) é tudo o que, da renda disponível das pessoas, não é consumido. Para os
sistema produtivo era danosa. Hayek era avesso aos sistemas de justiça social propostos pelos   neoclássicos, ela pode ser vista como a oferta potencial de fundos ou recursos a serem
socialistas e social-democratas, por julgar que eles requerem a ação estatal extensiva. Além    emprestados, e por isso quanto maior a taxa de jura (i), maior o interesse em poupar. Por
disso, achava que a possibilidade de crise no sistema econômico estava ligada ao desrespeito    outro lado, esta taxa de juro maior recompensa a espera do consumidor que poupou e que
à soberania do indivíduo enquanto consumidor. Este desrespeito surgia quando o crédito era      só poderá consumir no futuro. O investimento (1) é o gasto no aumento da capacidade de
concedido. Isto ocorra, conforme Hayek, porque o crédito bancário não derivava de poupança      produção. Segundo os neoclássicos , ele pode ser visto como a demanda de recursos para
prévia, e só esta poupança poderia sinalizar adequadamente as preferências dos agentes          serem tomados emprestados. Esta demanda declina com a taxa de juro, porque quando a
quanto ao consumo presente ou ao consumo futuro, de forma que os bens fossem produzidos         taxa de juro cai, maior é o número de investidores para quem ela é compensada pela
na medida ideal para atender aos consumos desejados em diferentes datas.                        rentabilidade do capital que foi investido. Como a poupança cresce com a taxa de juro e o
          A teoria neoclássica, por sua vez, acha-se construída sobre os alicerces das          investimento decresce, haverá sempre um ponto de cruzamento das duas curvas, a uma
preferências individuais maximizadoras da utilidade dos bens para os consumidores e             determinada taxa de juro. Haverá, pois, sempre uma taxa de juro (de equilíbrio) que
maximizadoras dos lucros dos produtores e das preferências individuais intertemporais dos       igualará a poupança com o investimento, garantindo a Lei de Say, que assume a igualdade
poupadores. Observa-se de novo o consumo (em diferentes datas) e a satisfação das               entre ofertas e procuras nos diferentes mercados.
necessidades e interesses individuais, em lugar de destaque no argumento econômico. São as
preferências individuais que permitem garantir que o mundo econômico, visto como




    ¹ Trata-se do chamado individualismo metodológico no jargão dos economistas.
tende a se ampliar e se alastrar pelo sistema produtivo como um todo, com conseqüências
 2. Os críticos
                                                                                                sociais danosas como o desemprego.
                                                                                                          A existência de moeda intermediando as compras e vendas, e a possibilidade de
 2.1 – Marx                                                                                     interrupção das mesmas interrompendo o processo de acumulação de capital, seja por
                                                                                                dificuldade de achar compradores ou por retenção de moeda de forma generalizada, ou por
            Desde o século XIX, século em que viveu Ricardo, a idéia de tendência ao
  equilíbrio entre oferta e procura agregadas, que traduz a lei de Say, foi contestada,         qualquer outra razão abria, segundo Marx, a possibilidade de crises. Além de analisar essas
  destacando-se a posição de Marx a este respeito.                                              possibilidades, Marx chamava atenção para as causas ou as razões efetivas que tenderiam a
            Segundo Marx, o objetivo da produção capitalista não é o consumo, ou a              levar às crises no capitalismo (ver o Quadro 2 abaixo).
  satisfação das necessidades individuais, como deixava entender Ricardo na citação                       O processo de produção capitalista, cujo objetivo não é o consumo, ou a satisfação
  mencionada anteriormente e como acreditam os outros liberais, seus sucessores, a ponto de     das necessidades, como pensava Ricardo, mas a acumulação de capital, possui, segundo
  construírem seus argumentos a partir desta idéia. O objetivo da produção capitalista, para    Marx, rena tendência intrínseca a excluir dos seus frutos grande parte da população. Isto
  Marx, responsável por sua lógica de funcionamento, é a acumulação de valor em termos          ocorre seja via desemprego, seja via salários baixos, no primeiro caso como efeito da
  monetários. Na sociedade capitalista produz-se mercadorias e não meros produtos, ou seja,     concorrência através do uso de técnicas cada vez mais intensivas em capital e, no segundo
  o objetivo é, desde que a produção se inicia, a venda do que foi produzido, para a obtenção   caso, como imposição da lógica do sistema capitalista onde o objetivo é o lucro, e o lucro
  de um valor, e um valor maior, ao final do processo. As mercadorias se caracterizam por       máximo possível². Assim, para Marx, "a razão última de todas as crises continua sendo
  serem frutos de trabalhos realizados de forma privada, aparentemente independerntes uns       sempre a pobreza e a limitação do consumo das massas em face do impulso da produção
  dos outros, mas que são, ao mesmo tempo, parte de um sistema de divisão social do             capitalista: o de desenvolver as forças produtivas como se tivessem apenas por limite o
  trabalho. Ou seja, a independência entre produtores é apenas aparente, porque as              poder absoluto de consumo da sociedade" (Marx, 1974, p. 556). Haveriam, portanto, razões
  mercadorias precisam ser vendidas, e os trabalhos privados contidos nelas precisam ser        que poderiam levar à superprodução, ou seja a uma produção maior do que a chamada
  transformados em dinheiro, para garantir a seus produtores sua permanência como tal, ou       demanda solvável, ou demanda com disponibilidade dos recursos necessários para adquirir
  seja, para garantir sua inserção social no processo de produção. Este processo é então o      as mercadorias. A lei de Say não era, portanto, válida, na concepção de Marx. Ao contrário
  processo pelo qual os trabalhos privados são socializados, e isto, como vimos, dá-se com a    da visão harmônica contida nesta lei, de um sistema que tende a igualar oferta e demanda
  utilização de dinheiro. A conversão das mercadorias em dinheiro é, pois, conversão de         agregadas, Marx chamava atenção para o caráter antagônico desse sistema, sua lógica
  trabalho privado em trabalho social, porque a moeda é o representante do trabalho social.     excludente, decorrente do seu objetivo de maximizar lucros a partir da exploração do
  Percebe-se, aqui, que nesta visão a moeda aparece como algo muito importante que articula     trabalho alheio.
  toda a sociedade através do seu funcionamento econômico. Por isso Marx dizia que a
  moeda é uma relação social. A importância social que a moeda tem nesse tipo de
  interpretação faz com que ela possa inclusive ser desejada por ela mesma, e então retida
  pelas pessoas em determinadas fases.
          Ora, a apreensão deste papel da moeda impede que se possa pensar a economia
capitalista como possuindo produtos que são trocados por produtos, como pensava Ricardo.
O papel da moeda separando as compras das vendas abre a possibilidade formal de
existência de interrupções nas compras e vendas que permeiam o circuito econômico e então
a possibilidade de crises. O crédito, por sua vez, permitindo que esta separação entre
compras e vendas se amplie, facilita, por um lado, as próprias compras e vendas mas, por
outro, amplia a possibilidade da própria crise e sua extensão, caso venha a acontecer. As
crises estão sendo vistas aqui como ausência de equilíbrio entre oferta de mercadorias e
procura das mesmas, que
                                                                                                ²
                                                                                                 Assim, para Marx, o desemprego não é um paradoxo na economia capitalista, como pensa
                                                                                                Roberto Campos, conforme expresso na frase transcrita no inicio deste trabalho.
QUADRO 2                                                              2.2- Keynes
                        Marx se referiu ao longo de sua obra a dois tipos de razões que levariam a crises no capitalismo:
a tendência da taxa de lucro a decrescer e a tendência à superprodução ou ao subconsumo. Por urra lado, mencionava a
queda tendencial da taxa de lucro, que é a medida da rentabilidade dos capitalistas. Esta, ao desestimular o                          Keynes foi o segundo crítico de destaque do liberalismo. Formado na tradição
Investimento, pode conduzir à queda no emprego e nos salários, levando a uma crise de subconsumo, ou seja de
consumo inferior à produção. Este subconsumo poderia também surgir diretamente da tendência inerente à lógica de
                                                                                                                            neoclássica, é contra as conclusões liberais desta escola que ele se insurge, modificando, para
funcionamento do sistema capitalista de desempregar, como conseqüência da mecanização, e de reduzir salários para           isso, alguns dos seus pressupostos e razões teóricas. Estruturou,
aumentar os lucros dos capitalistas Individuais. A queda de consumo que daí tenderia a advir não seria compensada           assim, sua crítica, negando a idéia neoclássica mencionada anteriormente de que toda a poupança
necessariamente peio aumento do consumo dos capitalistas porque estes, embora aumentando seu consumo absoluto
com o aumento dos lucros, precisariam, destinar cada vez maior parcela de lucros - ao investimento, ou à acumulação         fosse necessariamente destinada a investimento. Para Keynes, quem poupa não e quem investe,
de capital, para não sucumbir à concorrência. Assim, ter-se-ia inicialmente uma produção de meios de consumo                e pode não haver coincidência entre a renda que deixa de ser gasta no consumo (poupança) e
superior ao próprio consumo, o que por si só levaria à redução de produção e, conseqüentemente, ao desemprego e             aquela que é gasta na compra de máquinas, equipamentos e instalações para ampliação da
levaria ao mesmo tempo à suspensão das encomendas de meios de proa", o que espalharia e agravaria o problema do
desemprego, reduzindo ainda mais o consumo, e assim sucessivamente.
                                                                                                                            produção (investimento). Assim, pode vazar renda do circuito econômico, sem que ela volte sob
                                                                                                                            a forma de compra de outros bens, o que provoca uma deficiência de renda monetária necessária
                                                                                                                            à aquisição de mercadorias (ver esquema simplificado no Quadro 3 abaixo). A isto Keynes
                                                                                                                            chamava deficiência de procura efetiva. Há, por isso, sobra de produto, que não consegue ser
                                                                                                                            vendido e então demissão de operários, desemprego e, com ele, nova redução de demanda o que
                                                                                                                            conduz a sobra ainda maior de bens, e assim sucessivamente, como ocorreu na crise de 1929,
                                                                                                                            presenciada por Keynes.
                                                                                                                                      Para Keynes, como os determinantes da poupança são diferentes dos determinantes do
                                                                                                                            investimento, ao contrário do que pensavam os neoclássicos, não há nada que garanta a
                                                                                                                            coincidência deles em algum nível. Além disso, Keynes achava que o investimento poderia não
                                                                                                                            se realizar porque as pessoas podiam em certas ocasiões achar-se inseguras sobre o que poderia
                                                                                                                            ocorrer no futuro, que Keynes chamava atenção que é incerto. Assim, como os poupadores são
                                                                                                                            diferentes dos consumidores, a poupança, ou o não consumo, pode ser decidida, e os
                                                                                                                            rendimentos monetários que vazaram do circuito econômico ao invés de serem incutidos podem
                                                                                                                            ser retidos sob a forma de moeda entesourada, ou preferência pela liquidez , como Keynes
                                                                                                                            chamava. A moeda seria, neste caso, um seguro contra a incerteza, uma vez que ela pode se
                                                                                                                            converter mais facilmente do que qualquer bem ou ativo em outros bens ou ativos, ou seja, ela é
                                                                                                                            o ativo mais líquido e mais interessante de ser retido em situação da incerteza, quando não se
                                                                                                                            sabe o que é melhor fazer. Ocorre que, se esta retenção de moeda ocorre de forma generalizada,
                                                                                                                            falta demanda pelos bens, que passam então a sobrar, desmentindo a lei de Say e o caráter auto-
                                                                                                                            regulador do mercado afirmado por ela. Isso é ainda mais importante se nos lembrarmos que a
                                                                                                                            moeda não pode ser produzida sem limites, o que impede que sua retenção possa ser
                                                                                                                            compensada com nova produção.
Revolução Industrial, sustentado este último nos argumentos fornecidos pelos
                                                                                              economistas clássicos. As teses liberais foram abaladas pela crise dos anos trinta, e
                                                                                              Keynes teorizou então sobre a importância do Estado, dando o status de "política
                                                                                              econômica" à intervenção estatal, e colocando-se o pensamento econômico
                                                                                              intervencionista, herdeiro das concepções keynesianas, como pensamento dominante
                                                                                              no imediato pós-guerra. Os problemas da política keynesiana vão fazer, finalmente,
                                                                                              ressurgir das cinzas, com mais sofisticação, as teses liberais e o debate em tomo delas.
                                                                                                       Assim é que a preocupação com o comportamento individual, como base do
                                                                                              jogo eficiente das forças de mercado, aparece de novo nas correntes econômicas neo-
                                                                                              liberais mais modernas, que vêm dominando o pensamento econômico: os chamados
                                                                                              novos clássicos, de um lado, e os novos keynesianos, de outro. Os novos clássicos, cujo
                                                                                              representante mais importante é o ganhador do Prêmio Nobel de economia em 1995,
                                                                                              Robert Lucas, constroem seus argumentos a partir da idéia que eles chamam de
                                                                                              nacionalidade do agente econômico individual. Esta nacionalidade é definida como o
                                                                                              conhecimento que o indivíduo racional tem do modelo econômico. Este conhecimento
                                                                                              permite ao agente econômico antecipar-se à história, porque, segundo os novos
         O esquema abaixo representa urna economia com empresas que vendem bens               clássicos, eles conhecem a priori o resultado das mudanças dentro do modelo
e serviços que são comprados pelas famílias, que por sua vez vendem fatores de                econômico e antecipam-se a elas. Este tipo de idéia nega a possibilidade do Estado
produção (trabalho, capital e terra), e por isso recebem salários , lucros , juros e rendas   intervir no mercado, porque a própria ação estatal seria antecipada pelos indivíduos e
fundiárias que lhes permitem comprar os bens e serviços. Trata-se, pois, de um                contrabalançada. Assim, os novos clássicos reforçam a idéia liberal de deixar o mercado
circuito de renda que garante que as rendas geradas no processo de produção são as            agir livremente, de respeito às vontades individuais.
mesmas que compramos bens e serviços produzidos nele. A poupança, enquanto um                          Por outro lado, os novos clássicos afirmam não apenas a inviabilidade da
não consumo, significa um vazamento desta renda. O investimento, por sua vez,                 intervenção estatal mas o seu desinteresse, uma vez que crêem que o mercado é mais
corresponde a uma re-injeção de renda no circuito. Assim, só se houver garantia de            eficiente na alocação de recursos do que o Estado.
que a poupança sempre se igualará o investimento, como pensavam os neoclássicos, é                     A crença na eficiência do comportamento individual operando no mercado é tão
que a lei de Say permanece válida. É disso que Keynes duvidava porque os                      importante no pensamento novo-clássico, que eles acham que mesmo as questões
determinantes da poupança e do investimento, para ele, eram diferentes, ao contrário          maiores (macroeconômicas) de desemprego, crescimento, inflação, precisam ser
do que pensavam os neoclássicos, para quem tanto a poupança quanto o investimento             entendidas como somatório de ações individuais e que, por isso, é preciso entender qual
dependiam da taxa de juro. Para Keynes a poupança dependia da renda das pessoas, e            a ação individual que, uma vez agregada às outras, leva à conseqüência
o investimento dependia da relação entre a rentabilidade esperada do investimento e a         macroeconômica que se quer analisar³ . Por outro lado, pregam a liberdade para estas
taxa de ,juro.                                                                                ações individuais, como forma de garantir o equilíbrio nos mercados e,
                                                                                              conseqüentemente, o bom funcionamento do sistema econômico.
                                                                                                       O comportamento individual é também objeto de muita análise por parte de um
                                                                                              outro grupo menos liberal que os novos clássicos. Tratam-se dos novos keynesianos.
3. O ressurgimento das cinzas: o novo debate liberal                                          São chamados assim porque, tal como Keynes, percebem dificuldades que impedem o
                                                                                              mercado de funcionar como auto-regulador sempre. Segundo eles, os

        A longa duração do debate entre liberais e seus críticos não impediu que o
                                                                                              3
tempo todo o Estado estivesse presente, embora de formas distintas, nem que as teorias         Isto se chama. em linguagem econômica, buscar fundamentos microeconômicos da macroeconomia.
econômicas se sucedessem, alternando-se como dominantes. Assim, ao Estado                     É este tipo de preocupação que conduz Furtado, nas frases arroladas no início deste texto a dizer que o
                                                                                              que se faz hoje é una neo-microeconomia.
protecionista do mercantilismo seguiu-se o Estado liberal dos primórdios da
preços dos bens e serviços ou dos fatores de produção não são sempre flexíveis.                                    A razão destas opções, como vocês já devem estar deduzindo, é que esses
Existem razões (falhas de mercado) que embora não se devam ao próprio mercado,                           teóricos continuam achando que o mercado é mais eficiente para decidir sobre como
fazem com que os preços não variem o suficiente para igualar ofertas e demandas e isto                   alocar recursos, e que o Estado, ao traçar políticas que afetem o comportamento
acaba por requerer alguma participação do Estado.                                                        individual dos agentes tende a produzir resultados menos eficientes. Daí serem também
         Para esta corrente, e esta parece dominar hoje na política econômica brasileira,                liberais, embora menos que os outros (novos-clássicos), que não admitem nenhuma
é preciso, contudo, respeitar ao máximo as ações e comportamentos individuais, tanto                     forma de política econômica como eficiente..
do ponto de vista analítico, na busca das razões para ações individuais que conduzem à                             Embora a tese dos novos keynesianos seja a de não fazer política discricionária
própria rigidez de preços, quanto do ponto de vista concreto, nas prescrições de política                ou discriminatória por acreditar que o respeito às vontades e aos comportamentos
econômica. Esse respeito às vontades individuais é buscado exatamente porque os                          individuais seja mais eficiente como forma de alocar recursos, seus críticos frisam que
novos-keynesianos embora creiam em problemas como os de rigidez de preços, ainda                         não há maior discriminação do que tratar como iguais agentes em desigualdade de
assim não querem tirar todas as funções do mercado por acreditarem nelas.                                condições, e isto tanto mais quanto maiores forem as desigualdades. Esta crítica
         A intervenção do Estado, para os novos clássicos deve ser evitada tanto no que                  ressalta, portanto, que os efeitos das políticas liberais são mais danosos em situações
se refere à esfera macroeconômica quanto à esfera macroeconômica. Isto significa que                     como a brasileira, de enormes desigualdades económico-sociais.
pregam o "laissez-faire" tanto quanto à condução de problemas maiores (macro) como                                 Curioso é notar que Keynes, em primeiro lugar, apesar de entusiasta da política
a condução dos processos de crescimento, inflação, ajustamento externo, etc., quarto                     econômica, era mais céptico com relação à política monetária do que com relação à
no que se refere á condução de setores específicos (micro), agricultura , indústria,                     política fiscal, justamente porque, segundo ele, ela dependia demais da reação individual
desempenho regional, etc. Mesmo no que se refere à política monetária, canal de                          dos agentes. Se esta reação não fosse coerente com as necessidades agregadas da
atuação passível de ser usado pelos liberais menos ortodoxos, como veremos adiante,                      economia, e poderiam não ser, os efeitos almejados não seriam alcançados. Para
deve ser evitada para o grupo dos novos-clássicos, que tem uma posição ultra liberal.                    garantir tais efeitos, Keynes pregava um papel do Estado muito mais ativo e direto, por
Devem haver regras pré-determinadas de emissão de moeda, anunciadas com                                  meio de políticas de investimento e/ou política fiscal em geral, que não dependiam da
antecedência, a serem seguidas pelo Governo, o que significa tirar graus de liberdade da                 subjetividade dos agentes econômicos individuais.
ação do Governo.                                                                                                   Além disso, embora Keynes, no início de sua carreira, tenha usado alguns
         Os novos keynesianos, contudo, pregam o "laissez faire" do lado micro,                          pressupostos e desenvolvido algumas idéias hoje retomadas pelos novos-keynesianos,
rejeitando como ineficientes as políticas setoriais e regionais, mas vêem como                           sua obra se modificou muito ao longo de sua vida, tendo chegado ao final dela com
necessária a intervenção macro da política econômica, uma vez que o mercado não se                       idéias que conflitam com algumas das teses defendidas pelos novos-keynesianos
ajusta sozinho no curto prazo. Neste caso, eles preferem atuar através de política                       atualmente. Daí porque, os autores chamados pós-keynesianos, mais heterodoxos e
monetária, ou seja, mexendo na taxa de juro ou na quantidade de moeda do sistema, e                      mais à esquerda dos novos keynesianos, são contra várias das idéias destes.
então forçando uma contração ou expansão da atividade econômica, porque crêem                                      A primeira discordância a destacar aqui é com relação à pertinência de se
que esta é a maneira que mais respeita as leis do mercado, a forma menos                                 deduzir explicações macroeconômicas de razões relacionadas a comportamentos
discricionária de atuar, uma vez que a definição sobre a moeda ou a taxa de juro é                       individuais. Esta discordância se devia, em parte, ao fato de que, para Keynes os
uma só para a economia como um todo. Negam-se, pois, a propor e executar uma                             agentes tinham não apenas lógicas de comportamentos diferentes, como importâncias
política industrial ou uma política regional que priorize alguns setores ou algumas                      ou pesos diferenciados. Ou seja, na opinião de Keynes, a decisão do capitalista, por
regiões com o intuito, por exemplo, de resolver problemas de desemprego,                                 exemplo, tinha um impacto maior para o funcionamento da economia do que a decisão
subdesenvolvimento, ou atendimento a necessidades e objetivos específicos da                             dos trabalhadores. Ora, se os agentes têm reações diferenciadas e com pesos diferentes,
sociedade4.                                                                                              ou seja, se são heterogêneos, suas ações individuais não podem ser agregadas, somadas,
                                                                                                         para explicar um fato macroeconômico. Só isso já é um desacordo com a posição novo-
                                                                                                         keynesiana. Mas a questão não termina aí. Mais importante do que isso, os
                                                                                                         comportamentos individuais, segundo Keynes, dependiam do próprio ambiente
4
                                                                                                         macroeconômico, como por exemplo do lugar ocupado e do papel desempenhado pelo
 Essa é a posição oposta à de alguns dos autores citados no início deste texto, que querem, ao           agente econômico no processo de acumulação de capital, se
contrário. a implementação de políticas industrial, agrícola, regional, de investimento, de aumento de
emprego etc.
15
especulador ou se empresário, ou do grau de incerteza em meio à qual tomaria sua                    amplitude de possibilidades de articulação dos mercados, que fazem crer num único
  decisão. Tratava-se pois, para Keynes, mais de buscar as razões macro que afetavam o                mercado gigantesco, global. Não apenas observa-se a generalização da abertura de
  comportamento individual (micro) e não o contrário, como querem os novos clássicos                  mercados externos, tanto no que se refere aos fluxos comerciais quanto aos
  e os novos keynesianos5 .                                                                           investimentos e movimentos de capitais, como observam-se práticas produtivas no
           Essa questão também é compartilhada por autores marxistas que se negam a                   processo de acumulação de capital que parecem não levar em conta as fronteiras
  ver o comportamento individual como algo independente da lógica de funcionamento                    nacionais. É o caso das empresas onde a sede das decisões está em um país, a
  do sistema econômico. É a lógica capitalista que conduz à busca de lucro, e esta acaba              concepção dos produtos e processos em outro, enquanto a mão de obra é recrutada e
  por exigir comportamentos do capitalista, diferentes e antagônicos aos do trabalhador,              utilizada em um terceiro e a matéria prima fornecida por um quarto, e assim
  explorado pelos primeiros. Esta lógica afeta diferenciadamente os comportamentos e                  sucessivamente.
  conduz a tendências típicas desse modo de produção, como desempregar em busca do                              Este processo foi se desenvolvendo no mundo todo, paralelamente à
  aumento da produtividade para ganhar a concorrência; centralizar e concentrar capital               chamada desregulamentação, ou seja, o processo de retirada dos controles do Estado e
  em monopólios e oligopólios como resultado desta mesma concorrência e isto,                         à privatização, ou entrega à iniciativa privada de empreendimentos anteriormente
  segundo Marx, levaria a crises recorrentes por dificuldades de venda da produção,                   levados a efeito pelo Estado. T rata-se, pois, de um processo amplo de liberalização e
  porque a renda tende a se concentrar nas mãos de poucos e/ou porque a taxa de lucro                 ampliação de mercados que segue de perto o receituário liberal por permitir o estímulo
  tende contraditoriamente a cair quanto mais os capitalistas se esforçam por aumentá-la.             ao livre jogo das forças de mercado. Intenso é esse jogo num mundo em que se
          São a oposição de interesses e o caráter antagônico das relações entre                      ampliam os movimentos de mercadorias, serviços, investimentos e sobretudo de
capitalistas, de um lado, e trabalhadores, do outro, segundo Marx, e a incerteza que                  capitais que são investidos e reinvestidos em várias praças de vários países, com a
banha a economia e que afeta as decisões de investimento, segundo Keynes, que                         agilidade permitida pela retirada dos controles estatais (desregulamentação), mas
impedem esses autores de ver o mercado como regulador, e tendendo ao equilíbrio.                      também pela existência de canais informatizados muito mais ágeis do que os do
          As convicções diferentes destes autores, os levam a posições distintas sobre                passado.
crescimento, estabilização, política econômica mais adequada, inflação, e demais temas                          Segundo os liberais, este processo traz inúmeras vantagens. Os investimentos
econômicos, como veremos ao longo deste curso. São estas convicções distintas que os                  podem ser feitos em lugares onde se encontrem as melhores (mais baratas) dotações de
levam a divergir, em particular, quanto a questões como as da privatização e da                       recursos, e com a tecnologia mais eficiente. Os produtos daí decorrentes tendem a ser
globalização.                                                                                         mais baratos porque a concorrência é acirrada. A padronização dos produtos (Mac
          Quanto à privatização, a conclusão é imediata. Quanto mais liberal é a                      Donald, Pizza Hut, Benetton) é garantia de nível mínimo de qualidade elevado. A
posição, maior é o interesse em privatizar, por acreditarem eles que a busca de                       ampliação de mercados amplia as possibilidades de crescimento dos países que se
interesses individuais é mais eficiente no processo de condução de empresas, o que                    inserirem na globalização. A concorrência reduz a inflação dos países participantes,
leva à preferência pela iniciativa privada , ao invés da estatal, quando se quer garantir a           porque força a queda dos preços dos produtos concorrentes e então os custos de
boa performance do chamado espírito empresarial.                                                      produção em geral.
          Quanto ao processo de globalização, ele é a forma específica tomada na                               A estas vantagens os críticos, de concepção econômica dita heterodoxa, opõem
atualidade pelo processo de internacionalização da economia, que se desenvolve há                     alguns problemas sérios que vêm se mostrando com freqüência e generalidade
muito tempo. No início este processo se restringia a movimentos de mercadorias; em                    alarmantes. O processo de globalização, ao invés de reduzir as desigualdades vem
seguida desenvolveram-se os movimentos de capitais de empréstimos para financiar o                    ampliando-as. Esta ampliação se percebe, em termos gerais, em dois processos que
comércio de mercadorias e de serviços; mais adiante observou-se o transplante do                      acompanham de perto a globalização. Tratam-se dos processos chamados de
capital produtivo, com indústrias se instalando em outros países, e o crescimento de                  polarização e marginalização. O processo de polarização é aquele que concentra as
empresas multinacionais. O que caracteriza hoje o processo de globalização é a                        transações de bens, serviços, investimentos e capitais em geral em três pólos mais
                                                                                                      desenvolvidos do mundo capitalista: os EUA, a CEE e o Japão, sendo os ganhos ou a
                                                                                                      maior parte deles distribuídos entre os três pólos, o que aumenta a distância em termos
5                                                                                                     de renda e desenvolvimento entre estes e os demais. O processo de globalização é
  Observe-se , além disso, que não se trata de uma concepção sem importância para as conclusões
que os diferentes autores tiram, porque elas são parte da construção teórica que os conduz a tais
                                                                                                      aquele que literalmente exclui alguns países e impede grande crescimento de outros e,
conclusões. Eliminar tais pressupostos, portanto, significa alterar fundamentalmente os resultados.
no interior dos próprios países mais globalizados, deixa à margem dos beneficias do               N° 4 - Conceitos fundamentais para o exame da questão externa
crescimento uma imensa parcela da população 6.                                                               brasileira Maria Luiza Silva Falcão, 42p
          Assim é que nos EUA crescem os problemas de desemprego, (5,6% da
população ativa em 95), dos negros e minorias, seqüelas do governo Reagan, o mesmo                N° 5 - O berço da idéias econômicas
ocorrendo na Inglaterra de Mrs. Thachter (8,2% de desemprego) 7.
          Na Europa, generalizam-se as taxas de desemprego como percentagem da                                Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, 42p.
população ativa que, em 1995 foram estimadas variar de 9,2% na Alemanha até 24.1%
na Espanha, passando por taxas também elevadas em países como França (12%) e
Itália (11,1 %), apesar do crescimento econômico ter ocorrido a taxas razoáveis8.                  N° 6 - Teorias de distribuição funcional - clássica, neoclássica e
          No Brasil a concorrência provocada pela abertura sem dúvida levou a ganhos                        keynesiana Steve De Castro, 12p.
substanciais da chamada eficiência, esta definida como redução de preços e ganhos na
qualidade dos produtos. Entretanto, o crescimento enorme recente do desemprego                     N° 7 - Lições de equilíbrio geral econômico: Um texto
industrial em São Paulo (o chamado desemprego estrutural) deixará muita gente fora da                        introdutório Rodrigo Andrés de Souza Penãloza,
possibilidade de se beneficiar destes próprios ganhos, e até de garantir a sua                               80p.
sobrevivência imediata.
          Ficam as questões: Para quem são os ganhos da globalização? Precisamos nos               N° 8 - Agricultura e desenvolvimento econômico - Uma abordagem
inserir da forma mais liberal na globalização ou podemos fazer políticas industrial e                       multisetorial Charles Curt Muller, 66p.
regional que priorizem setores mais absorvedores de mão de obra, centrados no imenso
potencial de mercado interno que temos?
                                                                                                   N° 9 - Previdência Social. perspectivas de manutenção do equilíbrio
          A tônica da política econômica até o momento vem privilegiando a política                        financeiro Dércio Garcia Munhoz, 43p.
monetária, e o argumento é de que ela é o que importa no momento, por garantir a
estabilidade de preços, requisito para qualquer processo de crescimento . Crescer
somente, porém, não garantirá a incorporação dessa massa imensa de pessoas                         N° 10 - O processo Brasileiro de industrialização: Uma visão
marginalizadas e excluídas do processo produtivo. E preciso contemplá-las como o                           geral Flávio Versiani/Wilson Suzigan, 43p.
objetivo da política econômica, ou aqueles a quem se destinam os furtos do processo
produtivo, e não encará-las como se fossem mero resultado residual do processo de                  N° 11 - Trabalho abstrato e valor na teoria
estabilização/globalização.                                                                                marxista 1.1. Rubim, 45p.

LISTA DOS TEXTOS DIDÁTICOS DISPONIVEIS                                                             N° 12 - Uma introdução aos salários indiretos no
                                                                                                           Brasil Jorge Saba Arbache, 30p.
N° 1 - Inflação: notas introdutórias sobre diferentes interpretações Mana de
            Lourdes Rollemberg Mollo, 34p.                                                        N° 13 - Efficiency wages, insiders - outsiders e determinação de salários: teorias e
                                                                                                  evidência'
N° 2- Teorias do crescimento econômico Vânia Lomônaco Bastos, 41 p.                                          Francisco G. Carneiro, 26p.

N° 3- Déficit Público: diferentes conceitos e medidas Oliveira, M. T. R.. 19p.
                                                                                                  N° 14 - Antecedentes da grande transformação - evolução da economia brasileira da
6 Ë esse processo que deixa surpreso Roberto Campos, na frase mencionada no inicio deste texto.   proclamação da república ao fim da II° guerra
7 Perspectives Economiques de OCDE 1995.
                                                                                                           Charles C. Mueller, 143p.
8 Idem.

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O que é o neoliberalismo? Os principais pontos de vista

  • 1. UNIVERSIDADE DE BRASÌLIA SUMÁRIO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA A Série Textos Didáticos tem como objetivo contribuir para a atualização da Bibliografia de uso corrente nos cursos de graduação em Economia. Resumo ................................................................................................. 04 Editor 1 . O liberalismo econômico e o neo-liberalismo .................................. 06 Bernardo Mueller Diagramação e Editoração Eletrônica 2. Os críticos ......................................................................................... 09 Ismar Marques Teixeira 2.1. Marx ........................................................ ........................... 09 Apoio Projetos Gerais DEX - UnB e CORECON-DF 2.2. Keynes .................................................................................. 12 Ficho Catalográfica 3. O ressurgimento das cinzas: o novo debate liberal.......................„.. 13 Mollo/Maria de Lourdes Rollemberg O ~liberalismo: O que é? De onde veio? Para onde vai? Universidade de Brasília; Departamento de Economia 1996 20p, Série Textos Didáticos, 17 17. O Neoliberalismo: O que é? De onde veio? Para onde vai? Departamento de Economia Universidade de Brasília Brasília-DF Cep: 70910-900 Fone: (061) 310-212-1, 310-2311 Fax: (061) 274-3362 Endereço para aquisição Conselho Regional de Economia da 11ª'Região -DF SCS Ed. Palácio do Comércio Sala 503 70.318-900 - Brasília - DF Fones. (061) 223-1-129. 225-9242 Fax: (061) 322-1176
  • 2. O Neoliberalismo O que é ? De onde veio? Para onde vai? Maria de Lourdes Rollembera Mollo RESUMO: Os economistas não pensam da mesma forma sobre os diferentes assuntos. Nesta aula teremos oportunidade de ver um exemplo bem concreto e atual desse tipo de divergência, por meio da discussão entre os economistas chamados liberais e dos seus críticos. A divergência aqui analisada, sobre a maior ou menor eficiência do mercado e, conseqüentemente. a defesa de menor ou maior intervenção estatal é um ponto de separação importante entre as escolas de pensamento econômico. Ela está na base das diferenças de diagnósticos para os diversos problemas econômicos a serem tratados ao longo do curso, e das prescrições diferentes para resolvê-los. Assim. o objetivo geral deste texto é discutir as razões dos principais pontos de divergência, nos argumentos que sustentam sua defesa, tanto no que se refere às déias liberais quanto às de seus críticos, e em algumas das conseqüência destas idéias.
  • 3. O Neoliberalismo O que é? De onde veio? Para onde vai? as conseqüências do mesmo em termos de prescrições econômicas. Como nem todos os economistas têm idéias liberais, é preciso também conhecer os argumentos dos seus Maria de Lourdes Rollemberg Mollo* críticos, bem como o que propõem como alternativa em termos de prescrições econômicas. "Um dos maiores temores do presidente Fernando Henrique Cardoso é que lhe deixem marcado com o rótulo de neoliberal»(Cláudia Antunes em artigo no JB de 16 1. O liberalismo econômico e o neo-liberalismo de setembro/95 Idéias/Livros). "Acabou a macroeconomia. O que se tem hoje é uma neo-microeconomia, que O liberalismo econômico encontra sua expressão mais ampla nos escritos dos domina a economia mundial" (Celso Furtado, JB de l o de outubro/95). economistas chamados clássicos e dos seus sucessores, os neo-clássicos. A concepção liberal em economia prega a liberdade de mercado, por acreditar que ele é auto "Precisamos de uma política industrial, agrícola, fundiária , de distribuição de regulador e que é a melhor maneira de articulação entre os indivíduos de uma riqueza e, aí sim, também uma reforma fiscal e tributária" (Reinaldo Gonçalves, JB de sociedade, a mais eficiente. Esta doutrina apoia-se em idéias de individualismo, 1 de outubro de 1995). competição, eficiência, privatização, abertura de mercados, desregulamentação, e espírito empresarial, sobre as quais teceremos comentários ao longo do texto a seguir. "Não é porque a gente estabilizou que os investimentos diretos vão acontecer. O liberalismo econômico nasceu com Adam Smith, pensador do século XIX, A gente tem dado pouquíssima importância a uma política estratégica de investimento que acreditava que se os indivíduos fossem deixados livres haveria algo como uma (Edward Amadeo, JB de 1o de outubro/95). "mão invisível" que garantiria o bem-estar coletivo a partir destes interesses individuais. Daí o nome liberalismo, liberdade para ação dos indivíduos, operando "O Brasil precisa de uma política deliberada de criação de empregos como tem num sistema de mercado livre. A tônica era, nas palavras de outro liberal, J.B. Say, o o Japão"(Celso Furtado, O Estado de São Paulo, 2 de outubro de 1995). "laissez-faire, laissez-passer" (deixai fazer, deixai passar). Segundo Smith, o desejo do indivíduo de melhorar sua condição de vida, "O Estado não tem dinheiro para investir. A nova lógica exige uma associação realizando trocas para reduzir a dureza e a fadiga do trabalho, e acumulando para com parceiros estratégicos que tragam tecnologia» (Paulo Guedes, JB de lo de aumentar o seu padrão de vida, acabaria por conduzir ao bem estar coletivo, mesmo outubro/95). quando não houvesse essa intenção ou planejamento deliberado nesse sentido. Para ele, cada indivíduo esforça-se ao máximo para empregar seu capital na sustentação da "O paradoxo do desemprego em meio a um capitalismo relativamente próspero indústria doméstica, de forma a que esta indústria seja conduzida a produzir o maior não encontra fácil explicação" (Roberto Campos, em artigo A Grande Praga, Folha de valor; cada indivíduo necessariamente trabalha para tomar a renda anual da sociedade São Paulo de 10 de outubro de 1995). a maior possível. "Geralmente, na realidade, ele não tenciona promover o interesse público nem sabe até que ponto o está promovendo ... visa apenas seu próprio ganho e, As frases acima, publicadas em diferentes jornais do país, mostram, em neste, como em muitos casos, é levado como que por uma mão invisível a promover primeiro lugar, opiniões distintas sobre várias questões, todas ligadas à posição mais um objetivo que não fazia parte de suas intenções" (Smith, 1983, p. 379). ou menos liberal dos economistas. Entendê-las, perceber o que está por trás de cada Havia, nesta época, por parte dos economistas chamados clássicos (e também afirmação, requer que se tenha claro, em primeiro lugar, o que é o tão falado neo- dos seus críticos), uma preocupação em analisar a economia a partir do entendimento liberalismo, conhecer a origem dos seus argumentos e como esses evoluíram, e saber do processo de produção como um todo e do processo de distribuição do que foi produzido (entre as classes que compunham a sociedade, ou seja, os trabalhadores assalariados, os capitalistas e os donos de terra) e, sobretudo, estavam esses * A autora, professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília - UnB, agradece os comentários de Adriana Amado e Vânia Bastos, que permitiram aperfeiçoar as primeiras versões deste trabalho, embora se economistas preocupados em entender como se dava a articulação entre estes dois responsabilize integralmente pelas idéias aqui transcritas . processos de produção e distribuição.
  • 4. Assim é que a chamada lei de Say, outro marco da concepção liberal, dizia que "a grande mercado onde se oferecem fatores de produção (trabalho, capital e terra) de um lado, e oferta cria sua própria procura". Trata-se de entender o processo produtivo como criando os bens e serviços, do outro, tenda para o equilíbrio. Trata-se de novo de conceber a Lei de Say rendimentos em termos de salários, lucros e renda, necessários à aquisição dos frutos da como verdadeira. Os rendimentos dos vendedores de fatores de produção, ou seja, os salários, produção, constituindo, portanto, um processo auto-sustentado realizado por meio do os lucros e as rendas fundiárias, adquirem a produção de bens e serviços. Se não há consumo mercado, onde são pagos os rendimentos e adquiridos os produtos. imediato, ou seja, se as pessoas poupam, isto não é problema, porque como esta poupança A aceitação da lei de Say está ligada a uma visão de economia onde os indivíduos depende da taxa de juro (e cresce com a taxa de juro) e o investimento também depende da buscam satisfazer suas necessidades ou seu consumo em diferentes datas, e onde a lógica de taxa de juro (de forma decrescente), haverá sempre uma taxa de juro que iguala a poupança e funcionamento econômico é, então, derivada deste objetivo. É isto que conduz Ricardo, o investimento, ou seja, tudo o que for poupado será investido e não haverá nem sobra de outro expoente do liberalismo econômico, a dizer que "ninguém produz a não ser para rendimentos nem sobras de produtos, conforme indicado no Quadro 1 abaixo. Cabe, pois, consumir ou vender..." e "os produtos sempre são comprados com outros produtos ou com segundo estes autores, deixar o mercado livre e as ofertas e procuras se igualarão. serviços" (Ricardo, 1982, p. 197, 198) e, em conseqüência disso, a acreditar que a produção não podia sobrar ou não conseguir ser vendida de forma generalizada. A tendência seria, pois, que a oferta agregada de produtos e a procura agregada por eles tendessem a se igualar. Não haveria desemprego generalizado, mas apenas transitório e localizado. Uma vez que a tendência ao equilíbrio estava garantida neste gênero de raciocínio, cabia apenas preservar o livre jogo das forças de mercado. As teses liberais de eficiência reguladora do mercado quando deixado livre vão ser continuadas por outros autores até os nossos dias, a partir da introdução de diferentes argumentos novos. Todos os argumentos, porém, têm em comum uma característica herdada das idéias de Smith: a de que o que garante o caráter regulador do mercado é a liberdade de ação individual, o respeito ao interesse de cada indivíduo¹. Assim, destaca-se em primeiro lugar Hayek, para quem a intervenção estatal no A poupança (S) é tudo o que, da renda disponível das pessoas, não é consumido. Para os sistema produtivo era danosa. Hayek era avesso aos sistemas de justiça social propostos pelos neoclássicos, ela pode ser vista como a oferta potencial de fundos ou recursos a serem socialistas e social-democratas, por julgar que eles requerem a ação estatal extensiva. Além emprestados, e por isso quanto maior a taxa de jura (i), maior o interesse em poupar. Por disso, achava que a possibilidade de crise no sistema econômico estava ligada ao desrespeito outro lado, esta taxa de juro maior recompensa a espera do consumidor que poupou e que à soberania do indivíduo enquanto consumidor. Este desrespeito surgia quando o crédito era só poderá consumir no futuro. O investimento (1) é o gasto no aumento da capacidade de concedido. Isto ocorra, conforme Hayek, porque o crédito bancário não derivava de poupança produção. Segundo os neoclássicos , ele pode ser visto como a demanda de recursos para prévia, e só esta poupança poderia sinalizar adequadamente as preferências dos agentes serem tomados emprestados. Esta demanda declina com a taxa de juro, porque quando a quanto ao consumo presente ou ao consumo futuro, de forma que os bens fossem produzidos taxa de juro cai, maior é o número de investidores para quem ela é compensada pela na medida ideal para atender aos consumos desejados em diferentes datas. rentabilidade do capital que foi investido. Como a poupança cresce com a taxa de juro e o A teoria neoclássica, por sua vez, acha-se construída sobre os alicerces das investimento decresce, haverá sempre um ponto de cruzamento das duas curvas, a uma preferências individuais maximizadoras da utilidade dos bens para os consumidores e determinada taxa de juro. Haverá, pois, sempre uma taxa de juro (de equilíbrio) que maximizadoras dos lucros dos produtores e das preferências individuais intertemporais dos igualará a poupança com o investimento, garantindo a Lei de Say, que assume a igualdade poupadores. Observa-se de novo o consumo (em diferentes datas) e a satisfação das entre ofertas e procuras nos diferentes mercados. necessidades e interesses individuais, em lugar de destaque no argumento econômico. São as preferências individuais que permitem garantir que o mundo econômico, visto como ¹ Trata-se do chamado individualismo metodológico no jargão dos economistas.
  • 5. tende a se ampliar e se alastrar pelo sistema produtivo como um todo, com conseqüências 2. Os críticos sociais danosas como o desemprego. A existência de moeda intermediando as compras e vendas, e a possibilidade de 2.1 – Marx interrupção das mesmas interrompendo o processo de acumulação de capital, seja por dificuldade de achar compradores ou por retenção de moeda de forma generalizada, ou por Desde o século XIX, século em que viveu Ricardo, a idéia de tendência ao equilíbrio entre oferta e procura agregadas, que traduz a lei de Say, foi contestada, qualquer outra razão abria, segundo Marx, a possibilidade de crises. Além de analisar essas destacando-se a posição de Marx a este respeito. possibilidades, Marx chamava atenção para as causas ou as razões efetivas que tenderiam a Segundo Marx, o objetivo da produção capitalista não é o consumo, ou a levar às crises no capitalismo (ver o Quadro 2 abaixo). satisfação das necessidades individuais, como deixava entender Ricardo na citação O processo de produção capitalista, cujo objetivo não é o consumo, ou a satisfação mencionada anteriormente e como acreditam os outros liberais, seus sucessores, a ponto de das necessidades, como pensava Ricardo, mas a acumulação de capital, possui, segundo construírem seus argumentos a partir desta idéia. O objetivo da produção capitalista, para Marx, rena tendência intrínseca a excluir dos seus frutos grande parte da população. Isto Marx, responsável por sua lógica de funcionamento, é a acumulação de valor em termos ocorre seja via desemprego, seja via salários baixos, no primeiro caso como efeito da monetários. Na sociedade capitalista produz-se mercadorias e não meros produtos, ou seja, concorrência através do uso de técnicas cada vez mais intensivas em capital e, no segundo o objetivo é, desde que a produção se inicia, a venda do que foi produzido, para a obtenção caso, como imposição da lógica do sistema capitalista onde o objetivo é o lucro, e o lucro de um valor, e um valor maior, ao final do processo. As mercadorias se caracterizam por máximo possível². Assim, para Marx, "a razão última de todas as crises continua sendo serem frutos de trabalhos realizados de forma privada, aparentemente independerntes uns sempre a pobreza e a limitação do consumo das massas em face do impulso da produção dos outros, mas que são, ao mesmo tempo, parte de um sistema de divisão social do capitalista: o de desenvolver as forças produtivas como se tivessem apenas por limite o trabalho. Ou seja, a independência entre produtores é apenas aparente, porque as poder absoluto de consumo da sociedade" (Marx, 1974, p. 556). Haveriam, portanto, razões mercadorias precisam ser vendidas, e os trabalhos privados contidos nelas precisam ser que poderiam levar à superprodução, ou seja a uma produção maior do que a chamada transformados em dinheiro, para garantir a seus produtores sua permanência como tal, ou demanda solvável, ou demanda com disponibilidade dos recursos necessários para adquirir seja, para garantir sua inserção social no processo de produção. Este processo é então o as mercadorias. A lei de Say não era, portanto, válida, na concepção de Marx. Ao contrário processo pelo qual os trabalhos privados são socializados, e isto, como vimos, dá-se com a da visão harmônica contida nesta lei, de um sistema que tende a igualar oferta e demanda utilização de dinheiro. A conversão das mercadorias em dinheiro é, pois, conversão de agregadas, Marx chamava atenção para o caráter antagônico desse sistema, sua lógica trabalho privado em trabalho social, porque a moeda é o representante do trabalho social. excludente, decorrente do seu objetivo de maximizar lucros a partir da exploração do Percebe-se, aqui, que nesta visão a moeda aparece como algo muito importante que articula trabalho alheio. toda a sociedade através do seu funcionamento econômico. Por isso Marx dizia que a moeda é uma relação social. A importância social que a moeda tem nesse tipo de interpretação faz com que ela possa inclusive ser desejada por ela mesma, e então retida pelas pessoas em determinadas fases. Ora, a apreensão deste papel da moeda impede que se possa pensar a economia capitalista como possuindo produtos que são trocados por produtos, como pensava Ricardo. O papel da moeda separando as compras das vendas abre a possibilidade formal de existência de interrupções nas compras e vendas que permeiam o circuito econômico e então a possibilidade de crises. O crédito, por sua vez, permitindo que esta separação entre compras e vendas se amplie, facilita, por um lado, as próprias compras e vendas mas, por outro, amplia a possibilidade da própria crise e sua extensão, caso venha a acontecer. As crises estão sendo vistas aqui como ausência de equilíbrio entre oferta de mercadorias e procura das mesmas, que ² Assim, para Marx, o desemprego não é um paradoxo na economia capitalista, como pensa Roberto Campos, conforme expresso na frase transcrita no inicio deste trabalho.
  • 6. QUADRO 2 2.2- Keynes Marx se referiu ao longo de sua obra a dois tipos de razões que levariam a crises no capitalismo: a tendência da taxa de lucro a decrescer e a tendência à superprodução ou ao subconsumo. Por urra lado, mencionava a queda tendencial da taxa de lucro, que é a medida da rentabilidade dos capitalistas. Esta, ao desestimular o Keynes foi o segundo crítico de destaque do liberalismo. Formado na tradição Investimento, pode conduzir à queda no emprego e nos salários, levando a uma crise de subconsumo, ou seja de consumo inferior à produção. Este subconsumo poderia também surgir diretamente da tendência inerente à lógica de neoclássica, é contra as conclusões liberais desta escola que ele se insurge, modificando, para funcionamento do sistema capitalista de desempregar, como conseqüência da mecanização, e de reduzir salários para isso, alguns dos seus pressupostos e razões teóricas. Estruturou, aumentar os lucros dos capitalistas Individuais. A queda de consumo que daí tenderia a advir não seria compensada assim, sua crítica, negando a idéia neoclássica mencionada anteriormente de que toda a poupança necessariamente peio aumento do consumo dos capitalistas porque estes, embora aumentando seu consumo absoluto com o aumento dos lucros, precisariam, destinar cada vez maior parcela de lucros - ao investimento, ou à acumulação fosse necessariamente destinada a investimento. Para Keynes, quem poupa não e quem investe, de capital, para não sucumbir à concorrência. Assim, ter-se-ia inicialmente uma produção de meios de consumo e pode não haver coincidência entre a renda que deixa de ser gasta no consumo (poupança) e superior ao próprio consumo, o que por si só levaria à redução de produção e, conseqüentemente, ao desemprego e aquela que é gasta na compra de máquinas, equipamentos e instalações para ampliação da levaria ao mesmo tempo à suspensão das encomendas de meios de proa", o que espalharia e agravaria o problema do desemprego, reduzindo ainda mais o consumo, e assim sucessivamente. produção (investimento). Assim, pode vazar renda do circuito econômico, sem que ela volte sob a forma de compra de outros bens, o que provoca uma deficiência de renda monetária necessária à aquisição de mercadorias (ver esquema simplificado no Quadro 3 abaixo). A isto Keynes chamava deficiência de procura efetiva. Há, por isso, sobra de produto, que não consegue ser vendido e então demissão de operários, desemprego e, com ele, nova redução de demanda o que conduz a sobra ainda maior de bens, e assim sucessivamente, como ocorreu na crise de 1929, presenciada por Keynes. Para Keynes, como os determinantes da poupança são diferentes dos determinantes do investimento, ao contrário do que pensavam os neoclássicos, não há nada que garanta a coincidência deles em algum nível. Além disso, Keynes achava que o investimento poderia não se realizar porque as pessoas podiam em certas ocasiões achar-se inseguras sobre o que poderia ocorrer no futuro, que Keynes chamava atenção que é incerto. Assim, como os poupadores são diferentes dos consumidores, a poupança, ou o não consumo, pode ser decidida, e os rendimentos monetários que vazaram do circuito econômico ao invés de serem incutidos podem ser retidos sob a forma de moeda entesourada, ou preferência pela liquidez , como Keynes chamava. A moeda seria, neste caso, um seguro contra a incerteza, uma vez que ela pode se converter mais facilmente do que qualquer bem ou ativo em outros bens ou ativos, ou seja, ela é o ativo mais líquido e mais interessante de ser retido em situação da incerteza, quando não se sabe o que é melhor fazer. Ocorre que, se esta retenção de moeda ocorre de forma generalizada, falta demanda pelos bens, que passam então a sobrar, desmentindo a lei de Say e o caráter auto- regulador do mercado afirmado por ela. Isso é ainda mais importante se nos lembrarmos que a moeda não pode ser produzida sem limites, o que impede que sua retenção possa ser compensada com nova produção.
  • 7. Revolução Industrial, sustentado este último nos argumentos fornecidos pelos economistas clássicos. As teses liberais foram abaladas pela crise dos anos trinta, e Keynes teorizou então sobre a importância do Estado, dando o status de "política econômica" à intervenção estatal, e colocando-se o pensamento econômico intervencionista, herdeiro das concepções keynesianas, como pensamento dominante no imediato pós-guerra. Os problemas da política keynesiana vão fazer, finalmente, ressurgir das cinzas, com mais sofisticação, as teses liberais e o debate em tomo delas. Assim é que a preocupação com o comportamento individual, como base do jogo eficiente das forças de mercado, aparece de novo nas correntes econômicas neo- liberais mais modernas, que vêm dominando o pensamento econômico: os chamados novos clássicos, de um lado, e os novos keynesianos, de outro. Os novos clássicos, cujo representante mais importante é o ganhador do Prêmio Nobel de economia em 1995, Robert Lucas, constroem seus argumentos a partir da idéia que eles chamam de nacionalidade do agente econômico individual. Esta nacionalidade é definida como o conhecimento que o indivíduo racional tem do modelo econômico. Este conhecimento permite ao agente econômico antecipar-se à história, porque, segundo os novos O esquema abaixo representa urna economia com empresas que vendem bens clássicos, eles conhecem a priori o resultado das mudanças dentro do modelo e serviços que são comprados pelas famílias, que por sua vez vendem fatores de econômico e antecipam-se a elas. Este tipo de idéia nega a possibilidade do Estado produção (trabalho, capital e terra), e por isso recebem salários , lucros , juros e rendas intervir no mercado, porque a própria ação estatal seria antecipada pelos indivíduos e fundiárias que lhes permitem comprar os bens e serviços. Trata-se, pois, de um contrabalançada. Assim, os novos clássicos reforçam a idéia liberal de deixar o mercado circuito de renda que garante que as rendas geradas no processo de produção são as agir livremente, de respeito às vontades individuais. mesmas que compramos bens e serviços produzidos nele. A poupança, enquanto um Por outro lado, os novos clássicos afirmam não apenas a inviabilidade da não consumo, significa um vazamento desta renda. O investimento, por sua vez, intervenção estatal mas o seu desinteresse, uma vez que crêem que o mercado é mais corresponde a uma re-injeção de renda no circuito. Assim, só se houver garantia de eficiente na alocação de recursos do que o Estado. que a poupança sempre se igualará o investimento, como pensavam os neoclássicos, é A crença na eficiência do comportamento individual operando no mercado é tão que a lei de Say permanece válida. É disso que Keynes duvidava porque os importante no pensamento novo-clássico, que eles acham que mesmo as questões determinantes da poupança e do investimento, para ele, eram diferentes, ao contrário maiores (macroeconômicas) de desemprego, crescimento, inflação, precisam ser do que pensavam os neoclássicos, para quem tanto a poupança quanto o investimento entendidas como somatório de ações individuais e que, por isso, é preciso entender qual dependiam da taxa de juro. Para Keynes a poupança dependia da renda das pessoas, e a ação individual que, uma vez agregada às outras, leva à conseqüência o investimento dependia da relação entre a rentabilidade esperada do investimento e a macroeconômica que se quer analisar³ . Por outro lado, pregam a liberdade para estas taxa de ,juro. ações individuais, como forma de garantir o equilíbrio nos mercados e, conseqüentemente, o bom funcionamento do sistema econômico. O comportamento individual é também objeto de muita análise por parte de um outro grupo menos liberal que os novos clássicos. Tratam-se dos novos keynesianos. 3. O ressurgimento das cinzas: o novo debate liberal São chamados assim porque, tal como Keynes, percebem dificuldades que impedem o mercado de funcionar como auto-regulador sempre. Segundo eles, os A longa duração do debate entre liberais e seus críticos não impediu que o 3 tempo todo o Estado estivesse presente, embora de formas distintas, nem que as teorias Isto se chama. em linguagem econômica, buscar fundamentos microeconômicos da macroeconomia. econômicas se sucedessem, alternando-se como dominantes. Assim, ao Estado É este tipo de preocupação que conduz Furtado, nas frases arroladas no início deste texto a dizer que o que se faz hoje é una neo-microeconomia. protecionista do mercantilismo seguiu-se o Estado liberal dos primórdios da
  • 8. preços dos bens e serviços ou dos fatores de produção não são sempre flexíveis. A razão destas opções, como vocês já devem estar deduzindo, é que esses Existem razões (falhas de mercado) que embora não se devam ao próprio mercado, teóricos continuam achando que o mercado é mais eficiente para decidir sobre como fazem com que os preços não variem o suficiente para igualar ofertas e demandas e isto alocar recursos, e que o Estado, ao traçar políticas que afetem o comportamento acaba por requerer alguma participação do Estado. individual dos agentes tende a produzir resultados menos eficientes. Daí serem também Para esta corrente, e esta parece dominar hoje na política econômica brasileira, liberais, embora menos que os outros (novos-clássicos), que não admitem nenhuma é preciso, contudo, respeitar ao máximo as ações e comportamentos individuais, tanto forma de política econômica como eficiente.. do ponto de vista analítico, na busca das razões para ações individuais que conduzem à Embora a tese dos novos keynesianos seja a de não fazer política discricionária própria rigidez de preços, quanto do ponto de vista concreto, nas prescrições de política ou discriminatória por acreditar que o respeito às vontades e aos comportamentos econômica. Esse respeito às vontades individuais é buscado exatamente porque os individuais seja mais eficiente como forma de alocar recursos, seus críticos frisam que novos-keynesianos embora creiam em problemas como os de rigidez de preços, ainda não há maior discriminação do que tratar como iguais agentes em desigualdade de assim não querem tirar todas as funções do mercado por acreditarem nelas. condições, e isto tanto mais quanto maiores forem as desigualdades. Esta crítica A intervenção do Estado, para os novos clássicos deve ser evitada tanto no que ressalta, portanto, que os efeitos das políticas liberais são mais danosos em situações se refere à esfera macroeconômica quanto à esfera macroeconômica. Isto significa que como a brasileira, de enormes desigualdades económico-sociais. pregam o "laissez-faire" tanto quanto à condução de problemas maiores (macro) como Curioso é notar que Keynes, em primeiro lugar, apesar de entusiasta da política a condução dos processos de crescimento, inflação, ajustamento externo, etc., quarto econômica, era mais céptico com relação à política monetária do que com relação à no que se refere á condução de setores específicos (micro), agricultura , indústria, política fiscal, justamente porque, segundo ele, ela dependia demais da reação individual desempenho regional, etc. Mesmo no que se refere à política monetária, canal de dos agentes. Se esta reação não fosse coerente com as necessidades agregadas da atuação passível de ser usado pelos liberais menos ortodoxos, como veremos adiante, economia, e poderiam não ser, os efeitos almejados não seriam alcançados. Para deve ser evitada para o grupo dos novos-clássicos, que tem uma posição ultra liberal. garantir tais efeitos, Keynes pregava um papel do Estado muito mais ativo e direto, por Devem haver regras pré-determinadas de emissão de moeda, anunciadas com meio de políticas de investimento e/ou política fiscal em geral, que não dependiam da antecedência, a serem seguidas pelo Governo, o que significa tirar graus de liberdade da subjetividade dos agentes econômicos individuais. ação do Governo. Além disso, embora Keynes, no início de sua carreira, tenha usado alguns Os novos keynesianos, contudo, pregam o "laissez faire" do lado micro, pressupostos e desenvolvido algumas idéias hoje retomadas pelos novos-keynesianos, rejeitando como ineficientes as políticas setoriais e regionais, mas vêem como sua obra se modificou muito ao longo de sua vida, tendo chegado ao final dela com necessária a intervenção macro da política econômica, uma vez que o mercado não se idéias que conflitam com algumas das teses defendidas pelos novos-keynesianos ajusta sozinho no curto prazo. Neste caso, eles preferem atuar através de política atualmente. Daí porque, os autores chamados pós-keynesianos, mais heterodoxos e monetária, ou seja, mexendo na taxa de juro ou na quantidade de moeda do sistema, e mais à esquerda dos novos keynesianos, são contra várias das idéias destes. então forçando uma contração ou expansão da atividade econômica, porque crêem A primeira discordância a destacar aqui é com relação à pertinência de se que esta é a maneira que mais respeita as leis do mercado, a forma menos deduzir explicações macroeconômicas de razões relacionadas a comportamentos discricionária de atuar, uma vez que a definição sobre a moeda ou a taxa de juro é individuais. Esta discordância se devia, em parte, ao fato de que, para Keynes os uma só para a economia como um todo. Negam-se, pois, a propor e executar uma agentes tinham não apenas lógicas de comportamentos diferentes, como importâncias política industrial ou uma política regional que priorize alguns setores ou algumas ou pesos diferenciados. Ou seja, na opinião de Keynes, a decisão do capitalista, por regiões com o intuito, por exemplo, de resolver problemas de desemprego, exemplo, tinha um impacto maior para o funcionamento da economia do que a decisão subdesenvolvimento, ou atendimento a necessidades e objetivos específicos da dos trabalhadores. Ora, se os agentes têm reações diferenciadas e com pesos diferentes, sociedade4. ou seja, se são heterogêneos, suas ações individuais não podem ser agregadas, somadas, para explicar um fato macroeconômico. Só isso já é um desacordo com a posição novo- keynesiana. Mas a questão não termina aí. Mais importante do que isso, os comportamentos individuais, segundo Keynes, dependiam do próprio ambiente 4 macroeconômico, como por exemplo do lugar ocupado e do papel desempenhado pelo Essa é a posição oposta à de alguns dos autores citados no início deste texto, que querem, ao agente econômico no processo de acumulação de capital, se contrário. a implementação de políticas industrial, agrícola, regional, de investimento, de aumento de emprego etc. 15
  • 9. especulador ou se empresário, ou do grau de incerteza em meio à qual tomaria sua amplitude de possibilidades de articulação dos mercados, que fazem crer num único decisão. Tratava-se pois, para Keynes, mais de buscar as razões macro que afetavam o mercado gigantesco, global. Não apenas observa-se a generalização da abertura de comportamento individual (micro) e não o contrário, como querem os novos clássicos mercados externos, tanto no que se refere aos fluxos comerciais quanto aos e os novos keynesianos5 . investimentos e movimentos de capitais, como observam-se práticas produtivas no Essa questão também é compartilhada por autores marxistas que se negam a processo de acumulação de capital que parecem não levar em conta as fronteiras ver o comportamento individual como algo independente da lógica de funcionamento nacionais. É o caso das empresas onde a sede das decisões está em um país, a do sistema econômico. É a lógica capitalista que conduz à busca de lucro, e esta acaba concepção dos produtos e processos em outro, enquanto a mão de obra é recrutada e por exigir comportamentos do capitalista, diferentes e antagônicos aos do trabalhador, utilizada em um terceiro e a matéria prima fornecida por um quarto, e assim explorado pelos primeiros. Esta lógica afeta diferenciadamente os comportamentos e sucessivamente. conduz a tendências típicas desse modo de produção, como desempregar em busca do Este processo foi se desenvolvendo no mundo todo, paralelamente à aumento da produtividade para ganhar a concorrência; centralizar e concentrar capital chamada desregulamentação, ou seja, o processo de retirada dos controles do Estado e em monopólios e oligopólios como resultado desta mesma concorrência e isto, à privatização, ou entrega à iniciativa privada de empreendimentos anteriormente segundo Marx, levaria a crises recorrentes por dificuldades de venda da produção, levados a efeito pelo Estado. T rata-se, pois, de um processo amplo de liberalização e porque a renda tende a se concentrar nas mãos de poucos e/ou porque a taxa de lucro ampliação de mercados que segue de perto o receituário liberal por permitir o estímulo tende contraditoriamente a cair quanto mais os capitalistas se esforçam por aumentá-la. ao livre jogo das forças de mercado. Intenso é esse jogo num mundo em que se São a oposição de interesses e o caráter antagônico das relações entre ampliam os movimentos de mercadorias, serviços, investimentos e sobretudo de capitalistas, de um lado, e trabalhadores, do outro, segundo Marx, e a incerteza que capitais que são investidos e reinvestidos em várias praças de vários países, com a banha a economia e que afeta as decisões de investimento, segundo Keynes, que agilidade permitida pela retirada dos controles estatais (desregulamentação), mas impedem esses autores de ver o mercado como regulador, e tendendo ao equilíbrio. também pela existência de canais informatizados muito mais ágeis do que os do As convicções diferentes destes autores, os levam a posições distintas sobre passado. crescimento, estabilização, política econômica mais adequada, inflação, e demais temas Segundo os liberais, este processo traz inúmeras vantagens. Os investimentos econômicos, como veremos ao longo deste curso. São estas convicções distintas que os podem ser feitos em lugares onde se encontrem as melhores (mais baratas) dotações de levam a divergir, em particular, quanto a questões como as da privatização e da recursos, e com a tecnologia mais eficiente. Os produtos daí decorrentes tendem a ser globalização. mais baratos porque a concorrência é acirrada. A padronização dos produtos (Mac Quanto à privatização, a conclusão é imediata. Quanto mais liberal é a Donald, Pizza Hut, Benetton) é garantia de nível mínimo de qualidade elevado. A posição, maior é o interesse em privatizar, por acreditarem eles que a busca de ampliação de mercados amplia as possibilidades de crescimento dos países que se interesses individuais é mais eficiente no processo de condução de empresas, o que inserirem na globalização. A concorrência reduz a inflação dos países participantes, leva à preferência pela iniciativa privada , ao invés da estatal, quando se quer garantir a porque força a queda dos preços dos produtos concorrentes e então os custos de boa performance do chamado espírito empresarial. produção em geral. Quanto ao processo de globalização, ele é a forma específica tomada na A estas vantagens os críticos, de concepção econômica dita heterodoxa, opõem atualidade pelo processo de internacionalização da economia, que se desenvolve há alguns problemas sérios que vêm se mostrando com freqüência e generalidade muito tempo. No início este processo se restringia a movimentos de mercadorias; em alarmantes. O processo de globalização, ao invés de reduzir as desigualdades vem seguida desenvolveram-se os movimentos de capitais de empréstimos para financiar o ampliando-as. Esta ampliação se percebe, em termos gerais, em dois processos que comércio de mercadorias e de serviços; mais adiante observou-se o transplante do acompanham de perto a globalização. Tratam-se dos processos chamados de capital produtivo, com indústrias se instalando em outros países, e o crescimento de polarização e marginalização. O processo de polarização é aquele que concentra as empresas multinacionais. O que caracteriza hoje o processo de globalização é a transações de bens, serviços, investimentos e capitais em geral em três pólos mais desenvolvidos do mundo capitalista: os EUA, a CEE e o Japão, sendo os ganhos ou a maior parte deles distribuídos entre os três pólos, o que aumenta a distância em termos 5 de renda e desenvolvimento entre estes e os demais. O processo de globalização é Observe-se , além disso, que não se trata de uma concepção sem importância para as conclusões que os diferentes autores tiram, porque elas são parte da construção teórica que os conduz a tais aquele que literalmente exclui alguns países e impede grande crescimento de outros e, conclusões. Eliminar tais pressupostos, portanto, significa alterar fundamentalmente os resultados.
  • 10. no interior dos próprios países mais globalizados, deixa à margem dos beneficias do N° 4 - Conceitos fundamentais para o exame da questão externa crescimento uma imensa parcela da população 6. brasileira Maria Luiza Silva Falcão, 42p Assim é que nos EUA crescem os problemas de desemprego, (5,6% da população ativa em 95), dos negros e minorias, seqüelas do governo Reagan, o mesmo N° 5 - O berço da idéias econômicas ocorrendo na Inglaterra de Mrs. Thachter (8,2% de desemprego) 7. Na Europa, generalizam-se as taxas de desemprego como percentagem da Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, 42p. população ativa que, em 1995 foram estimadas variar de 9,2% na Alemanha até 24.1% na Espanha, passando por taxas também elevadas em países como França (12%) e Itália (11,1 %), apesar do crescimento econômico ter ocorrido a taxas razoáveis8. N° 6 - Teorias de distribuição funcional - clássica, neoclássica e No Brasil a concorrência provocada pela abertura sem dúvida levou a ganhos keynesiana Steve De Castro, 12p. substanciais da chamada eficiência, esta definida como redução de preços e ganhos na qualidade dos produtos. Entretanto, o crescimento enorme recente do desemprego N° 7 - Lições de equilíbrio geral econômico: Um texto industrial em São Paulo (o chamado desemprego estrutural) deixará muita gente fora da introdutório Rodrigo Andrés de Souza Penãloza, possibilidade de se beneficiar destes próprios ganhos, e até de garantir a sua 80p. sobrevivência imediata. Ficam as questões: Para quem são os ganhos da globalização? Precisamos nos N° 8 - Agricultura e desenvolvimento econômico - Uma abordagem inserir da forma mais liberal na globalização ou podemos fazer políticas industrial e multisetorial Charles Curt Muller, 66p. regional que priorizem setores mais absorvedores de mão de obra, centrados no imenso potencial de mercado interno que temos? N° 9 - Previdência Social. perspectivas de manutenção do equilíbrio A tônica da política econômica até o momento vem privilegiando a política financeiro Dércio Garcia Munhoz, 43p. monetária, e o argumento é de que ela é o que importa no momento, por garantir a estabilidade de preços, requisito para qualquer processo de crescimento . Crescer somente, porém, não garantirá a incorporação dessa massa imensa de pessoas N° 10 - O processo Brasileiro de industrialização: Uma visão marginalizadas e excluídas do processo produtivo. E preciso contemplá-las como o geral Flávio Versiani/Wilson Suzigan, 43p. objetivo da política econômica, ou aqueles a quem se destinam os furtos do processo produtivo, e não encará-las como se fossem mero resultado residual do processo de N° 11 - Trabalho abstrato e valor na teoria estabilização/globalização. marxista 1.1. Rubim, 45p. LISTA DOS TEXTOS DIDÁTICOS DISPONIVEIS N° 12 - Uma introdução aos salários indiretos no Brasil Jorge Saba Arbache, 30p. N° 1 - Inflação: notas introdutórias sobre diferentes interpretações Mana de Lourdes Rollemberg Mollo, 34p. N° 13 - Efficiency wages, insiders - outsiders e determinação de salários: teorias e evidência' N° 2- Teorias do crescimento econômico Vânia Lomônaco Bastos, 41 p. Francisco G. Carneiro, 26p. N° 3- Déficit Público: diferentes conceitos e medidas Oliveira, M. T. R.. 19p. N° 14 - Antecedentes da grande transformação - evolução da economia brasileira da 6 Ë esse processo que deixa surpreso Roberto Campos, na frase mencionada no inicio deste texto. proclamação da república ao fim da II° guerra 7 Perspectives Economiques de OCDE 1995. Charles C. Mueller, 143p. 8 Idem.