1) O romance se passa no Ceará do século XVI e narra o romance entre a índia Iracema e o colonizador português Martim Soares Moreno. 2) De sua união nasce Moacir, símbolo do povo brasileiro formado pela mistura entre índios e colonizadores europeus. 3) Com a partida de Martim para a guerra, Iracema morre de tristeza e é enterrada aos pés de um coqueiro, local que passou a se chamar Ceará.
1. Obra: Iracema: lenda do Ceará
Autor: José de Alencar
Ano: 1865
Título: retrata a principal personagem do livro
Escrito durante
o Romantismo, Iracema apresenta as origens
da terra natal e o nascimento da figura do
brasileiro, representado pelo filho da índia
Iracema com o colonizador português Martim.
2. O entusiasmo, que reinava no Brasil com a
proclamação da Independência política, alimentava o
sonho de uma cultura genuinamente brasileira. José
de Alencar (1829-1877), dedicou-se ao direito, à
literatura, ao jornalismo e à política e, contaminado
pelo nacionalismo, fundou na narrativa a nossa
mitologia indígena, mestiça e tropical, submetendo
uma coleção de heróis e vilões, índios e brancos,
virginais herdeiras e morenas sedutoras, ao seu poder
de criação.
3. Introduzindo no romance brasileiro a figura do índio e
os elementos que o caracterizam em seu ambiente
natural, o autor abarca em sua obra um amplo painel
nacional, enfocando o passado e o presente, o litoral
e o sertão, a cidade e o campo, explorando
perseguições, sofrimentos e dores.
4. O Romantismo fundiu em sua arte fantasia e
realidade, aventura e história. Logo, a obra de Alencar
parece mais verossímil aos olhos do leitor da época
do que ao de hoje, já que o autor é um idealista que
crê nos motivos do coração e, moralizando
comportamentos, enreda suas personagens em um
ambiente infectado por valores corruptores dos quais
os protagonistas acabam se libertando.
5. Iracema (A lenda do
Ceará), de José de
Alencar
Romance publicado em
1865. Forma com “O
Guarani” e “Ubirajara”, a
trilogia indianista de José
de Alencar.
6. Iracema conta, de forma poética, o amor quase impossível
entre um branco, Martim Soares Moreno, pela bela índia
Iracema, a virgem dos lábios de mel explica poeticamente
as origens da terra natal do autor, o Ceará.
Esse romance é uma "Lenda do Ceará". Segundo críticos e
historiadores, um poema em prosa, romance histórico-
indianista.
A valorização da cor local, do típico, do exótico inscreve-se
na intenção nacionalista de embelezar a terra natal por
meio de metáforas e comparações que ampliam as imagens
de um Nordeste paradisíaco, primitivo. É o Nordeste das
praias e das serras, dos rios.
A relação do casal serviria de alegoria para a formação da
nação brasileira. Iracema representaria a natureza virgem e
a inocência, enquanto o colonizador Martim representa a
cultura europeia. Da junção dos dois surgirá a nação
brasileira, representada alegoricamente, por Moacir, filho do
casal.
7. Fundindo poesia e prosa, o romance
apresenta um grupo de personagens
simbólicas:
Iracema seria a América; Iracema, a virgem dos
lábios de mel, é uma alegoria da colonização
brasileira, símbolo da América (aliás, Iracema é
anagrama de América) e do índio livre e puro.
Martim, a guerra;
Poti, a amizade;
Araquém, a sabedoria e a prudência da velhice;
Irapuã, o ciúme;
Caubi, “senhor dos caminhos”
Moacir, a miscigenação, o primeiro cearense.
8. Ambientação: a história se desenrola no período da
colonização brasileira, em terras cearenses.
Enredo: conta o início da miscigenação e formação do povo
brasileiro a partir do romance entre a índia Iracema e o
português Martim. Personagens principais: Iracema, Martim
Soares Moreno, Moacir, Poti (índio pitiguara amigo de Martim),
Irapuã (tabajara apaixonado por Iracema), Caubi (irmão de
Iracema) e Jacaúna (índio da tribo pitiguara, irmão de Poti).
Linguagem: enredo de romance com estilo de prosa poética.
Foco narrativo: Iracema é um romance narrado em terceira
pessoa por um narrador onisciente, centrando-se a ação no
começo do século XIX cearense, daí o subtítulo “Lenda do
Ceará”.
9. Resumo e comentário
Iracema, de José de Alencar: o guerreiro branco
Martim Soares Moreno, amigo dos índios pitiguaras,
perde-se nas matas do litoral brasileiro. Nesse
cenário é encontrado por Iracema, filha do pajé
Araquém, da tribo interiorana dos tabajaras. A
virgem leva o jovem branco para sua tribo, onde é
recebido como hóspede, mas ao descobrir o
combate aos pitiguaras, Martim tenta fugir, mas é
impedido por Iracema, sob a proposta de guiá-lo
pelas matas com a ajuda do irmão Caubi. Nasce aí
o afeto entre as personagens, que logo se
transforma em paixão. A situação se complica,
quando Irapuã, que também é apaixonado pela
índia, tenta matar o branco.
10. Após uma noite de amor, a qual Martim imaginava
ter acontecido apenas em sonho, ele foge, levando
Iracema, após revelar a verdade sobre a relação.
Os dois partem ao encontro de Poti, chefe dos
pitiguaras, que considerava o português um irmão.
Foram seguidos por Irapuã e os tabajaras, o que
resultou no conflito entre as duas tribos. Martim
sofre de banzo, mas não pode levar a esposa para
a terra natal. Com o nome indígena de Coatiabo, o
guerreiro branco enfrenta combates, enquanto
Iracema está grávida. De saudade do amado, a
índia definha de tristeza. Ao voltar de uma batalha,
Martim a encontra com seu filho, chamado de
Moacir, "o filho do sofrimento".
11. Debilitada, entrega a criança e pede para que seja
enterrada aos pés de um coqueiro, local que passou
a se chamar Ceará.
“Moacir é o símbolo forte do livro, mesmo com
pequena atuação. Ele representa o povo brasileiro
formado pela índia e pelo português. Da mãe é
herdado o amor pela terra, enquanto o pai dá a
educação europeia. Na visão de Alencar, essa
deveria ser a figura do brasileiro”, comenta o
professor de literatura.
Com o filho, Martim volta para Portugal, mas anos
depois retorna ao Brasil para ajudar na
catequização da fé cristã. Saudoso, ele costumava
ir ao local onde Iracema estava enterrada
12. ENREDO — Por tópicos
1 A partida (Martim, Japi
e Moacir)
"onde vai a afouta
jangada, que deixa rápida
a costa cearense, aberta
ao fresco terral a grande
vela?"
2 O encontro (Martim e
Iracema)
"Rumos suspeito quebra a
doce harmonia da sesta.
Ergue a virgem os olhos,
que o sol não deslumbra;
sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a
contemplá-la, está um
guerreiro estranho, se é
guerreiro e não algum mau
espírito da floresta. Tem nas
faces o branco das areias
que bordam o mar, nos olhos
o azul triste das águas
profundas. Ignotas armas e
tecidos ignotos cobrem-lhe o
corpo. Foi rápido, como o
olhar, o gesto de Iracema. A
flecha partiu.
Gotas de sangue borbulham
na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão
lesta caiu sobre a cruz da
espada; mas sorriu.
13. O moço guerreiro aprendeu
na religião de sua mãe, onde
a mulher é símbolo de
ternura e amor. Sofreu mais
d'alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs
nos olhos e no rosto, não o
sei eu. Porém a virgem
lançou de si o arco e correu
para o guerreiro, sentida da
mágoa que causara. A mão
que rápida ferira, estancou
mais rápida e compassiva o
sangue que gotejava. Depois
Iracema quebrou a flecha
homicida; deu a haste ao
desconhecido, guardando
consigo a ponta farpada. O
Guerreiro falou:
— Quebras comigo a flecha
da paz?“
3 Martim, hóspede de
Araquém
Importante: tema da
hospedagem;
regras rigorosas;
respeito absoluto a elas.
4 Relação amorosa
Vestal - religiosidade;
"Estrangeiro, Iracema não
pode ser tua serva. É ela
que guarda o segredo de
jurema e o mistério do
sonho. Sua mão fabrica
para o Pajé a bebida de
Tupã."
Apaixona-se por Martim;
Envolve e seduz o guerreiro
branco.
14. 5 Ciúme de Irapuã
Apaixonado por
Iracema;
Ódio por Martim;
Desejo de vingança;
Obrigado a respeitar a
hospitalidade de
Araquém.
"— Nunca Iracema
daria seu seio, que o
espírito de Tupã habita
só, ao guerreiro mais
vil dos guerreiros
tabajaras! Torpe é o
morcego porque foge
da luz e bebe o sangue
da vítima
adormecida!...
— Filha de Araquém,
não assanha o jaguar!
O nome de Irapuã voa
mais longe que o goaná
do lago, quando sente
a chuva além das
serras. Que o guerreiro
branco venha, e o seio
de Iracema se abra
para o vencedor.
— O guerreiro branco é
hóspede de Araquém.
A paz o trouxe aos
campos do Ipu, a paz o
guarda. Quem ofender
o estrangeiro ofende o
Pajé."
15. 6 Confrontos
a) Martim X Irapuã
Aldeia tabajara: ambiente
de revolta;
Martim foge, ajudado por
Caubi;
Irapuã persegue e
intercepta o fugitivo;
Caubi intercede.
b) Tabajaras X Pitiguaras
Irapuã retira-se
7 Guerra
Tapuitingas + Irapuâ X
pitiguaras;
Jacaúna chama Poti e
Martim;
Martim parte para a
guerra.
8 Abandono de Iracema
"[...] Poti refletiu:
— As lágrimas da mulher
amolecem o coração do
guerreiro, como o orvalho da
manhã amolece a terra.
— Meu irmão é grande
sabedor. O esposo deve
partir sem ver Iracema.
O cristão avançou. Poti
mandou-lhe que apressasse:
da alijava de setas que
Iracema emplumara de
penas vermelhas e pretas e
suspendera aos ombros do
esposo, tirou uma.
O chefe potiguara vibrou o
arco; a seta rápida
atravessou um goiamum que
discorria pelas margens do
lago; só parou onde a pluma
não a deixou mais entrar.
16. Fincou o guerreiro no chão a
flecha, com a presa
atravessada, e tornou para
Coatiabo.
— Podes partir. Iracema
seguirá teu rasto; chegando
aqui, verá tua seta, e
obedecerá à tua vontade.
Martim sorriu; e quebrando
um ramo do maracujá, a flor
da lembrança, [...]
— Ele manda que Iracema
ande pra trás, como o
goiamum, e guarde sua
lembrança, como o maracujá
guarda sua flor todo o tempo
até morrer.
A filha dos tabajaras retraiu os
passos lentamente, sem
volver o corpo, nem tirar os
olhos da seta de seu esposo;
depois tornou à cabana. Ali
sentada à soleira, com a
fronte nos joelhos esperou,
até que o sono acalentou a
dor de seu peito."
9 Volta de Martim
Nascimento de Moacir
Sofrimento e morte de
Iracema
Martim enterra Iracema
"— Recebe o filho de teu
sangue. Era tempo; meus
seios ingratos já não tinham
alimento para dar-lhe!
Pousando a criança nos braços
paternos; a desventurada mãe
desfaleceu [...] O esposo viu
então como a dor tinha
consumido seu belo corpo;
mas a formosura ainda
morava nela [...]
Enterra o corpo de tua esposa
ao pé do coqueiro que tu
amavas. Quando o vento do
mar soprar nas folhas,
Iracema pensará que é a tua
voz que fala entre seus
cabelos.
17. O doce lábio umedeceu
para sempre; o último
lampejo despediu-se dos
olhos baços.
Poti amparou o irmão na
grande dor. Martim sentiu
quanto um amigo
verdadeiro é preciosos na
desventura
[...]
O camucim que recebeu o
corpo de Iracema,
embebido de resinas
odoríferas, foi enterrado ao
pé do coqueiro, à borda do
rio. Martim quebrou um
ramo de murta, a folha da
tristeza, e deitou-o no
jazido de sua esposa. A
jandaia pousada no olho da
palmeira repetia
tristemente: - Iracema!"
10 Canto da Jandaia e
nascimento do Ceará
"Desde então os guerreiros
potiguaras que passavam
perto da cabana abandonada
e ouviam ressoar a voz
plangente da ave amiga,
afastavam-se com a alma
cheia de tristeza, do coqueiro
onde cantava a jandaia. E foi
assim que um dia veio a
chamar-se Ceará o rio onde
crescia o coqueiro, e os
campos onde serpeja o rio."
11 Quatro anos depois...
Martim volta com o filho e um
padre;
Encontro com Poti;
Conversão de Poti: batizado
católico;
Martim, Camarão e
Albuquerque partem para
Mearim: expulsão do branco
tapuia.
18. "Poti foi o primeiro que
ajoelhou aos pés do
sagrado lenho; não sofria
ele que nada mais o
separasse de seu irmão
branco. Deviam ter ambos
um só deus, como tinham
um só coração.
A janela cantava ainda no olho
do coqueiro; mas não repetia já
o mavioso nome de Iracema.
Tudo passa sobre a terra."
Ele recebeu com batismo o
nome do santo, cujo era o
dia; e o do rei, a quem ia
servir, e sobre is dois o
seu, na língua dos novos
irmãos. Sua fama cresceu
e ainda hoje é o orgulho da
terra, onde ele primeiro viu
a luz. [...]
Jacaúna veio habitar nos
campos da Porangaba pra
estar perto de seu amigo
branco; Camarão erguera a
taba de seus guerreiros
nas margens da Macejana.
Era sempre com emoção
que o esposo de Iracema
revia as plagas onde fora
tão feliz, e as verdes folhas
a cuja sombra dormia a
formosa tabajara.
Muitas vezes ia sentar-se
naquelas doces areias,
para cismar e acalentar no
peito a agra saudade.
19. A obra e As personagens de Alencar: ´[...] muito dessa
irresistível atração foi o vocabulário de Alencar, o
brilho, a musicalidade verbal. A imagem inebriante e
soberba para o seu tempo, as graças capitosas da
minúcia, da precisão, da habilidade idiomática e
mesmo sua sintaxe, as concessões ao sabor local, os
neologismos, brasileirismos, enfim a liberdade
ousada, aberta, corajosa, ostensiva, em empregar
uma técnica que era eminentemente sua e que
apaixonou o Brasil inteiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS...
20. Iracema - não é, somente, o índio idealizado; é muito
mais. Alencar queria criar um mito fundador para a
nação, um passado para o Brasil por de meio de um
índio heroico. Precisamos de uma imaginação
nacional, essa é a grande questão. E ele fez essa
imaginação a partir de uma imaginação cearense’’.
Para Régis Lopes, José de Alencar quis estabelecer,
pela maternidade indígena, uma relação de
pertencimento entre brasileiros e Brasil. ‘’Iracema,
hoje, é uma leitura que faz a gente pensar sobre a
memória. Qual é a memória que vamos ter em relação
ao nosso passado?’, conclui, com a pergunta que não
quer calar.