Pelo fato de a Bíblia não apresentar Deus como sendo uma essência e três hipóstases os trinitarianos buscam, dentro da Bíblia, tudo o que for possível para tentar provar alguma pluralidade de pessoas na deidade, e o fazem já com o primeiro versículo da Bíblia:
1. Deus é plural? a Divindade de
Deus e dividida?
A PLURALIDADE DE DEUS?
Pelo fato de a Bíblia não apresentar Deus como sendo uma
essência e três hipóstases os trinitarianos buscam, dentro
da Bíblia, tudo o que for possível para tentar provar alguma
pluralidade de pessoas na deidade, e o fazem já com o
primeiro versículo da Bíblia: “No princípio criou Deus”.
“Deus” nas escrituras hebraicas é “Elohim” que é a
forma plural de Eloah, essa última é mais comum nos livros
poéticos, especialmente o de Jó.
Os dicionários trazem a tradução de Elohim como
2. significando Deus ou deuses, e, em uma tradução
etimológica significa “poderes”, “governantes” ou “forças”.
O contexto e os sinais linguísticos determinam o
entendimento correto, já que “elohim” é uma palavra
polissêmica1. Na questão contextual histórico-teológico
tem-se bastante elementos para entendermos a palavra
quando aplicada ao Deus de Israel como sendo um único
ser e não uma pluralidade de seres.
A primeira implicação de se entender Elohim como uma
pluralidade de seres ao aplicarmos essa palavra ao Eterno
Deus seria admitir sua tradução como “deuses”, no entanto,
essa tradução não revelaria um deus único, mas vários
deuses. Admitir isso dentro de uma fé monoteísta seria cair
em politeísmo.
A ideia de “deuses” para Elohim é negada pelo critério
linguístico quando essa palavra se refere ao Deus de
Israel, pois aparece mais de 2.000 vezes e somente em
quatro delas o termo que acompanha está também no
plural. Todas as outras milhares de vezes os verbos, os
pronomes e os adjetivos estão no singular. Inclusive em
Gn. 1.1 (Breshit bará Elohim). “Bará”
( ) é o verbo CRIAR e está na 3ª pessoa do singular,
CRIOU.
No que tange à questão teológica vemos a afirmação que o
Elohim que fez o céu e a terra é Yahweh, isto pode ser
visto em Gn. 2.4 “no dia
3. em que Yahweh Elohim fez a terra e os céus”, mas uma
vez aplicado o verbo singular “FEZ” confirmando o
entendimento que Yahweh é um e não mais que isto. O
Universo criado por um único ente é atestado também no
Novo Testamento e isso pode ser lido em Ef. 3.9 “… Deus,
que tudo crioupor meio de Jesus Cristo”. Tal constatação é
sustentada também pelo texto áureo do monoteísmo
bíblico. Dt. 6.4 “Ouve, Israel, Yahweh nosso Elohim,
Yahweh é UM”. Aqui não lemos que Yahweh é “um dos
nossos Elohim”, mas o “nosso Elohim”. Algumas Bíblias
traduzem por “único Senhor”, mas no original está
simplesmente “ ” (Yahweh echad). (echad) é a
palavra hebraica para o cardinal UM. Que a palavra Elohim
aplicada ao Deus Eterno tem sentido singular é também
confirmada em Gn. 35.11
(vayyo‟mer lo „elohiym „aniy „êl shadday) “E disse Elohim:
Eu sou El Todo-Poderoso”. Este verso mostra que Elohim
(um plural) tem significado de EL (um singular) quando se
refere ao Altíssimo.
O Prof. Isaías Lobão cita o também professor Klaas Runia,
do Seminário Teológico Reformado Holandês, informando
que ele “crê que Gn 1:26, indique a Trindade. A fórmula
plural de Gn 1:26, possui caráter trinitário; trata-se,
segundo ele, não de um plural majestático, como alguns
querem, ou de um plural deliberativo, como outros
interpretam, visto que isto era totalmente desconhecido dos
4. hebreus.”, mas ambos parecem desconsiderar que os
hebreus faziam outros usos dessa mesma palavra e
aplicava, também, palavras pluralizadas em outras
situações, o que termina por impedir a dedução de trindade
nesse substantivo em Gn. 1.1, ou em qualquer outra
ocorrência. O termo no plural é usado tanto para referir-se
a vários deuses de uma só vez: Gn. 31.30; como a um
deus pagão de forma individual: Em I Sm. 5.7b, Dagom é
chamado de elohim, já I Rs. 5.17 o elohim é Marduque;
para referir-se aos anjos Sl. 8.5 ARA (cf Hb.2.7), e para
referir-se a homens, Sl. 82.1,6. O próprio Moisés recebeu
de Deus a identidade de Elohim para atuar no Egito. Ex.
4.16; 7.1.
Leiamos, por exemplo, I Sm. 2.25 “Pecando homem contra
homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem
contra Yahweh, quem rogará por ele? …”, a expressão
“juízes” é tradução da palavra “elohim”, tanto que há
bíblias, como, por exemplo, a Bíblia de Jerusalém que
prefere traduzir “Se um homem comete uma falta contra
outro homem, Deus o julgará; mas se pecar contra Iahweh,
quem intercederá por ele?…”. O simples fato da palavra
poder ser traduzida por “juizes” e por “Deus” mostra que
não há qualquer implicitude de pluralidade na deidade por
causa da palavra em si, pois os juízes eram representantes
de Deus e não ELE próprio, e cada juiz não era mais de
uma pessoa, de modo que aplicar ou subentender algum
5. “caráter trinitário” em elohim é plenamente arbitrário, pois
nenhum juiz de Israel era componente de uma trindade de
seres.
A ideia de que haja alguma pluralidade em Elohim só
nasceu depois da tentativa de deificação do Filho de Deus,
nos primeiro séculos da era cristã. Tal conceito na palavra
Elohim não é expressa dentro da Bíblia. Se houvesse
alguma caráter plural nela, quando aplicada ao único e
supremo ser, então, os escritores sagrados não a aplicaria
a outros deuses (I Sm. 5.7b), a anjos (Sl. 8.4,5 com Hb.
2.6,7), demônios ( Dt. 32.17) e até mesmo homens
(Ex.4.16; I Sm. 2.25), que sabemos não serem seres
pluralizados ou coletivos.
Outro detalhe muitíssimo importante sobre como devemos
entender a palavra “elohim” dentro da Bíblia nos é
dada pelos tradutores da Septuaginta e os Escritores
Sagrados do Novo Testamento, pois ambos traduziram a
palavra “elohim”, que é uma palavra plural, não pelo seu
equivalente imediato, o plural grego θεοὶ (theoi), mas pelo
singular θεός (theos), mostrando que o caráter da palavra
quando é associado a um único ser ou ente não é plural ou
de pluralidade, mas singular.
Embora já se tenha mostrado aqui que a palavra “elohim”
não é usada como termo exclusivo designativo do Eterno e
Verdadeiro, o que por si só já eliminaria o requerimento de
6. insinuação de composição plural na palavra quando
aplicada a um único ente ou ser, alguns buscam em Gn.
1.26, Gn. 3.22, Gn. 11.7 e Is. 6.8, provas de que Elohim
quer realmente denotar um pluralidade de pessoas na
Deidade pelo fato de nesses versos constar o verbo ou
pronome também no plural. Mas, vale a pena lembrar que
apenas 4 (quatro) ocorrências em mais de 2000 (duas mil)
aparições dessa palavra surgem esses raros plurais, há
quem ache 10 (dez) plurais, mas destes 6 (seis) não teriam
sido vertidos para nossa língua. Nesse ponto as opções
são; verificar se existe ocorrências similares aplicadas a
outras pessoas e se buscar entender contextualmente
essas ocorrências ou achar que a exceção dita à regra e
passarmos a admitir que esses raros plurais devem ser
estendidos para todas as outras 2000 ocorrências da
palavra sem plural.
Atentemos, então, para os versículos requeridos e
comparemos com outros onde expressões semelhantes
aparecem e busquemos perceber, de forma contextual, o
que eles significam.
Is. 6.8 “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A
quem enviarei, e quem há de ir por nós? …”, compare a
Ed. 4.18 “A carta que nos enviastes foi explicitamente lida
diante de mim.” Veja que se aquela construção de Is. 6.8
indicar que Adonai é mais de UM Elohim, por causa do
“nós”, então, Artaxerxes é, também, por trato de
uniformidade, mais de UM homem.
7. Ainda temos, por exemplo, Gn. 3.22, 24 “Então disse
Yahweh Deus: Eis que o homem é como um de nós,
sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua
mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva
eternamente … E havendo lançado fora o homem, pôs
querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada
inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da
árvore da vida.” Compare com Ed. 7.21, 24 “E por mim
mesmo, o rei Artaxerxes, se decreta a todos os tesoureiros
que estão dalém do rio que tudo quanto vos pedir o
sacerdote Esdras, escriba da lei do Deus dos céus,
prontamente se faça … Também vos fazemos saber acerca
de todos os sacerdotes e levitas, cantores, porteiros,
servidores do templo e ministros desta casa de Deus, que
não será lícito impor-lhes, nem tributo, nem contribuição,
nem renda.”. Veja que mesmo dizendo “um de nós” em Gn.
3, mais à frente, na mesma narrativa, encontramos “pôs” ao
invés de “puseram”, analogamente em Esdras há
expressão semelhante, mostrando que essa não é uma
construção de indicativo de pluralidade em um único ser,
como se costuma requerer. O rei Artaxerxes disse “E por
mim mesmo … vos fazemos”, no entanto, ele não era mais
de UM homem.
A próxima é o bem citado Gn. 1.26 “E disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
8. semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as
aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e
sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus
o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.” E vejamos como Daniel se
expressa em Dn. 2.36 “Este é o sonho; também a sua
interpretação diremos na presença do rei.” Veja que o uso
do verbo “diremos” por parte de Daniel não implica, nem
indica que Daniel fosse mais de UM homem ou que fosse
dizer o sonho ao rei como em um dueto, trio ou coral com
alguém. Assim tanto Gn. 1.26 como Dn. 2.36 não mostram
qualquer pluralidade do ente falante quando usou o plural
em suas expressões.
Quando falamos de nós mesmos, podemos usar
intercambialmente o “eu” e o “nós”, e essa forma de
expressão não é estranha à Bíblia. Quando uma pessoa
fala de alguém que usou esse tipo de interlocução não dirá
“vocês disseram algo”, mas “você disse algo”, nem pensará
que esse alguém é uma pluralidade, pois não haverá
dúvida de se tratar de apenas de UM ser ou ente; seja
Deus ou homem. Isto se vê provado nessas passagens
listadas. E a Bíblia está repleta de, literalmente, milhares de
ocorrências com reconhecimento de que o uso de Elohim,
aplicado ao Eterno e Verdadeiro indica sempre Um, Único
e Um Só e não um ser plural e nos sugere a necessidade
de colocarmos esse verso de Gn. 1.26 sob perspectiva.
9. Apenas para complementar o que está sendo dito leiamos
ainda I Sm. 4.5-8 “E sucedeu que, vindo a arca da aliança
de Yahweh ao arraial, todo o Israel gritou com grande
júbilo, até que a terra estremeceu. 6 E os filisteus, ouvindo
a voz de júbilo, disseram: Que voz de grande júbilo é esta
no arraial dos hebreus? Então souberam que a arca do
Yahweh era vinda ao arraial. Por isso os filisteus se
atemorizaram, porque diziam: Deus veio ao arraial. E
diziam mais: Ai de nós! Tal nunca jamais sucedeu antes. Ai
de nós! Quem nos livrará da mão desses grandiosos
deuses? Estes são os deuses que feriram aos egípcios
com todas as pragas junto ao deserto”. Note-se aqui que
quem via pluralidade no Elohim de Israel eram os pagãos
politeístas filisteus:s “Estes são os deuses que feriram aos
egípcios”, e nunca, em nenhum momento, o próprio povo
de Elohim O entendia como um ser plural.
A exemplo da palavra Elohim, há que ser notado que a
palavra Senhor (Adonay), inclusive se referindo a uma
pessoa ou anjo, é, também, usada no plural no Antigo
Testamento. (cf. Gênesis 24:9, 51; 39:19; 40:1), mas
“adoni” em nenhuma das 195 ocorrências é usado para
designar Deus.
“O doutor William Smith da Universidade de Londres, um
século atrás, foi descrito como o „mais eminente lexicógrafo
do mundo de língua Inglesa‟. A seguinte afirmação
10. encontra-se no Dicionário Bíblico que o doutor Smith
editou: “A forma plural Elohim tem dado origem à muita
discussão. A ideia fantasiosa de que refere-se à trindade
de pessoas na Divindade, dificilmente encontra agora
algum partidário entre eruditos. Ou é o que os gramáticos
chamam “plural de majestade” ou então denota a plenitude
da força divina, a soma de poderes revelados por Deus” .
Lembremos ainda que a Bíblia diz em I Jo. 4.24 “Deus é
Espírito”. Se a palavra “Deus” abarcasse um pluralidade de
pessoas em Deus, então o Pai é Espírito; o Filho é Espírito
Vivificante e o Espírito Santo também é Espírito, desse
modo precisaríamos esperar que a Bíblia nos dissesse
“Deus „é‟ EspíritoS” ou “Deus são Espíritos”.
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1 Polissemia é o nome dada a propriedade que uma
palavra possui de apresentar mais de um significado ou
sentido sem que, necessariamente, os mesmos sejam
opostos ou excludentes.
2 Apud Smith, William. “A Dictionary of the Bible”
Philadelphia: American Baptist Publication Society, 1863,
pág.. 216
http://www.adventistasleigos.com