O documento descreve a Reforma Protestante na França, Escócia, Holanda e Irlanda. Na França, o movimento reformador surgiu no século XVI impulsionado por humanistas e traduções da Bíblia, mas foi perseguido. Na Escócia, João Knox estruturou a Igreja Presbiteriana. Na Holanda, o Calvinismo se espalhou durante a luta pela independência da Espanha. Na Irlanda, a colonização inglesa levou ao conflito religioso.
Série: O Conflito - Palestra 08. Igreja Adventista do Sétimo Dia
História da Igreja II: Aula 5: Igrejas Reformadas
1. Igrejas Reformadas
A fé reformada além de Alemanha e Suíça
História Eclesiástica II
Pr. André dos Santos Falcão Nascimento
Blog: http://prfalcao.blogspot.com
Email: goldhawk@globo.com
Seminário Teológico Shalom
2. Reforma na França
Luta de Francisco I contra Itália leva a
surgimento do humanismo na França,
alimentado por franceses que
descobriram o humanismo bíblico
naquele país.
Um destes humanistas foi Jacques
Lefevre, que concluiu a tradução do NT
ao francês em 1525, a partir da Vulgata.
A cidade de Meaux se tornou centro de
ensino de um grupo de humanistas, que
queriam reformar a igreja de dentro pra
fora.
3. Reforma na França
O surgimento de escritos luteranos e o
desejo da alta classe média e dos
trabalhadores da cidade e do campo de
romperem as travas sociais estimulam
o movimento reformador.
A falta de uma liderança eficaz mina os resultados iniciais.
Francisco I força a dispersão do grupo de Meaux em 1525 e
a universidade de Sorbonne condena os escritos luteranos
em 1521.
O surgimento de Calvino leva os valdenses do sul da França
a se converterem ao calvinismo. A resistência leva Calvino a
dedicar suas Institutas ao rei Francisco I.
4. Reforma na França
Com o desejo de liderar também a
reforma francesa, Calvino envia mais
de 150 pastores entre 1555 e 1556,
conseguindo organizar a igreja
reformada francesa 3 anos depois,
apesar das perseguições.
Em 1560, o grupo, já estruturado, com sínodo e confissão de
fé próprios, passa a ser denominado huguenotes.
Com medo da estruturação do movimento, a política real
muda de perseguição a guerra religiosa. Entre 1562 e 1598,
ocorrem oito massacres do grupo.
5. Reforma na França
Henrique de Navarra, líder dos
huguenotes, torna-se rei em 1598 e,
apesar de voltar à fé católica, proclama
o Edito de Nantes, concedendo
tolerância ao movimento huguenote.
Com esta tolerância, os huguenotes
mantêm exércitos nas 200 cidades sob
seu controle. Esta paz acaba em 1685,
quando Luís XIV, desejando um só
Estado, rei e fé, persegue o grupo, que
se vê forçado a fugir para Inglaterra,
África do Sul, EUA, Prússia e Holanda.
6. Reforma na França
A fuga dos huguenotes, habilidosos artesãos e
profissionais liberais, leva a um colapso
econômico que faz a França perder a luta por
colônias no séc. XVIII pra Inglaterra.
Desde o ocorrido, o protestantismo tem pouco alcance na França.
Anos depois, por volta de 1640, ocorre um movimento na Igreja Católica
francesa semelhante ao puritanismo inglês, o jansenismo, encampando
ideias reformadas no catolicismo.
Blaise Pascal foi seu defensor mais famoso, aceitando os ensinos
jansenitas em 1654.
O movimento, centrado no convento de Port Royal, próximo de Paris, é
devastado em 1710 por Luís XVI e seus escritos condenados pelo Papa
em 1713.
7. Reforma na Hungria
A fé reformada é professada por 2 a 3
milhões de húngaros nos dias de hoje.
As ideias luteranas não foram bem
recebidas a princípio, pela raiva dos
húngaros com os alemães.
A partir de 1550, estudantes que retornam de Wittenberg e
Genebra trazem a fé reformada ao país.
Com a tradução do NT ao magiar por João Erdosi, o país adota
rapidamente o protestantismo.
Em 1570, a Confissão Húngara é publicada.
A partir de 1572, uma perseguição se inicia e dura cerca de 2
séculos. Mesmo com os esforços jesuítas para a reconversão, a
tolerância é conquistada em 1781 e a liberdade religiosa em 1848.
8. Reforma na Escócia
A Escócia possuía um reinado fraco, o
que dava maior poder aos chefes de
clãs locais. Tal fracionamento gerou
graves desvios na igreja local, como
simonia e concubinato.
As ideias luteranas entram no país originalmente por Patrick
Hamilton, que chega a afirmar que o papa era o Anticristo. Ele é
executado na fogueira em 1528 por suas colocações. George
Wishart é outro que paga o preço por sua fé, sendo queimado em
1546.
Entrementes, a rainha Maria Stuart, enviada à França para
estudar, se casa com o herdeiro do trono francês, tornando a
Escócia possessão daquele país. A frouxidão moral francesa irrita
a população, alimentando a futura Reforma.
9. Reforma na Escócia
A Reforma se estabelece na Escócia pelas mãos
de John Knox (1514-1572), formado na
Universidade de St. Andrews e ordenado ao
ministério em 1536. Discípulo de Wishart, passa
por algumas voltas até se tornar capelão da
coroa, antes de fugir para Frankfurt quando
Maria Tudor assume o trono francês.
Em Frankfurt, Knox adota a visão calvinista, retornando à Escócia
em 1559 e apoiando o movimento de alguns nobres franceses,
que se reuniram em 1557 em Edimburgo para fazer um pacto
para levar a Palavra de Deus à Escócia.
Após um pedido de ajuda à rainha Elizabeth, a Escócia consegue
se libertar do domínio francês, permitindo o início da Reforma.
10. Reforma na Escócia
Com o fim do domínio francês, o parlamento
escocês se reúne em 1560 e, orientado por Knox,
põe fim ao controle papal sobre a igreja
escocesa, declara ilegal a missa, revoga todos os
decretos contra os hereges e aceita a Confissão
de Fé dos Seis Johns, elaborada rapidamente.
A confissão, de cunho calvinista, permanece até a adoção da
Confissão de Westminster, de 1647. O modo de governo é o
representativo presbiteriano, com sínodos e uma assembleia
nacional.
No final da vida, Knox debateu muito com Maria Stuart, que
retorna à Escócia em 1561 após falecimento de seu marido.
Envolvida em um escândalo de assassinato, é forçada a abdicar
em 1569. Knox morre em 1572 e Stuart em 1587.
11. Reforma na Escócia
A teologia calvinista e o regime
presbiteriano mantêm-se estabelecido
até 1572, quando tenta-se implantar o
episcopado. Andrew Melville, reitor de
St. Andrews, luta contra tal tentativa.
Em 1581, após ser travada a luta, os presbitérios são retomados
de forma experimental. Em 1592, o rei James VI tenta implantar
novamente o episcopado, sem sucesso, tornando o
presbiterianismo a religião oficial da Escócia.
Com a fusão das coroas inglesa e escocesa em 1603, os Stuart
tentam estabelecer o episcopado até 1640, sem sucesso. Enfim,
em 1690, o presbiterianismo se estabelece de vez.
Por conta das perseguições, muitos presbiterianos escoceses
fogem pra Irlanda do Norte e depois pros EUA.
12. Reforma na Irlanda
A Inglaterra nunca conseguiu dominar a
Irlanda como fez com a Escócia e Gales.
O conflito e o ódio gerados causaram a
falha da conquista do país ao
protestantismo.
Os irlandeses se revoltaram contra a Inglaterra em 1557 por conta da
Reforma. O Parlamento decidiu confiscar as terras dos rebeldes
derrotados e transferir dois terços delas a colonos ingleses. Uma intriga
causada pela Espanha gerou uma revolta de 1598 a 1603, que arruína o
reinado de Elizabeth.
Ao assumir o trono, James I resolve recolonizar a Irlanda do Norte com
protestantes, maioria presbiterianos escoceses. Muitos emigram para os
EUA em 1700, devido a barreiras econômicas. A divisão entre as Irlandas
que vemos hoje foi consequência da colonização.
13. Reforma na Holanda
A reforma das sete províncias do norte dos
Países Baixos (atual Holanda) contra o papa
foi originada na luta contra o domínio
espanhol.
O luteranismo não foi bem recebido pelos holandeses, devido ao
apoio de Lutero ao domínio dos príncipes, irritando os holandeses,
que desejavam se rebelar contra seu rei espanhol. O calvinismo
foi melhor aceito por sua democracia e desejo de libertação da
corrupção do sistema católico romano.
A Holanda também tinha a seu favor ser o berço de Erasmo e do
NT grego que escreveu. O primeiro NT em holandês surge em
1523, gerando comparações entre a Igreja Católica e a igreja
neotestamentária.
14. Reforma na Holanda
Até 1525, quem aceitava a Reforma seguia
Lutero, porém, de 1525 até 1540, os
anabatistas fazem um grande número de
adeptos na região.
A partir de 1540, o calvinismo invade a região, tornando-se a
grande maioria do país em 1560. Uma minoria era formada por
menonitas e uma menor ainda por luteranos. O protestantismo se
alastrou mesmo com a ameaça de uma Inquisição no país.
Com ascensão de Filipe II ao trono espanhol, iniciou-se um
esforço para retornar os Países Baixos à fé romana. Sua
vacilação entre clemência e crueldade geraram revoltas em
Flandres em 1565 e na Holanda em 1566, gerando saques e
profanações. A resposta foi uma perseguição de 6 anos que
vitimou 2 mil pessoas e gerou 40 mil emigrações.
15. Reforma na Holanda
A oposição surge com William de Orange,
que inicia uma revolta em 1568 contra a
Espanha. Inicialmente é vencido, se retirando
para a Alemanha.
A população inicia uma resistência no mar em 1569, pilhando
navios espanhóis. O duque, enquanto isso, cerca as cidades
revoltosas e as toma, empreendendo inúmeros massacres. 7 anos
depois, a Antuérpia é saqueada, com sete mil pessoas
assassinadas pelo sucessor do Duque de Alva.
O ato incendeia o espírito nacionalista, que faz com que Holanda
e Zelândia, províncias calvinistas, se unam a outras na
Pacificação de Ghent de 1576 para expulsar os espanhóis.
16. Reforma na Holanda
De todas as províncias, as terras católicas
romanas flamengas se reúnem, formando a
Bélgica. As demais províncias assinam a
União de Utrecht em 1579, repudiando em
1581 a soberania do rei espanhol.
A guerra pela liberdade duraria até 1648, após o assassinato de
Orange, que havia retornado para liderar a luta (1584) e a derrota
da armada espanhola para a Inglaterra (1588), com a assinatura
do Tratado de Westphalia.
Durante o séc. XVII, a Holanda forma um rico império no Extremo
Oriente e no Hemisfério Ocidental, conquistando diversas terras
na América e no nordeste brasileiro, chegando a dar um rei à
Inglaterra em 1689.
17. Reforma na Holanda
A igreja holandesa se organizou no sistema
presbiteriano de administração. O sínodo de
Emden, em 1571, também formulou uma
Confissão Belga, recebendo aprovação final
no sínodo de Dort, em 1574.
A grande crise para a igreja do país surge com Jacob Armínius
(1560-1609), educado com fundos levantados por amigos e
posteriormente pelas autoridades municipais de Amsterdã.
Estudou em Leyden, viajando muito pela Itália.
Em 1603, torna-se professor da Universidade de Leyden, após
pastorear por 15 anos em Amsterdã. Ali, formula uma alteração do
calvinismo para impedir a visão da autoria divina do pecado ou de
que o homem é um autômato nas mãos de Deus.
18. A controvérsia arminiana
Armínio iniciou suas pesquisas e foi oposto
por seu amigo Francisco Gomarra. Armínio
solicita um sínodo nacional para resolver a
questão, mas morre antes de expor suas
ideias. Seus discípulos resolvem compilar
suas visões na “Representação” de 1610.
Entre 1618 e 1619, foi realizado um sínodo em Dort, constituindo-se
mais numa assembleia calvinista internacional. Os arminianos
participaram na condição de defensores, porém suas convicções
foram rechaçadas pelo sínodo e os pastores perderam seus
postos.
A perseguição aos arminianos só acaba em 1625, e tal movimento
exerce influência entre anglicanos, metodistas e o Exército da
Salvação.
19. A Teologia Arminiana
Depravação Total Livre Arbítrio
O homem é capaz de procurar a salvação
antes de Deus oferecer a graça fundamental
para habilitar a sua vontade para cooperar
com Deus.
Eleição Incondicional Eleição Condicional
Expiação Limitada Expiação Ilimitada
Graça Irresistível Graça Resistível
Perseverança dos Santos Perda da Salvação
20. A Teologia Arminiana
Depravação Total Livre Arbítrio
Eleição Incondicional Eleição Condicional
O processo de salvar alguns é baseado
apenas na presciência divina de saber
quem decidiu por sua fé em Jesus Cristo.
Expiação Limitada Expiação Ilimitada
Graça Irresistível Graça Resistível
Perseverança dos Santos Perda da Salvação
21. A Teologia Arminiana
Depravação Total Livre Arbítrio
Eleição Incondicional Eleição Condicional
Expiação Limitada Expiação Ilimitada
A morte de Cristo é suficiente e oferecida a
todos, apesar de fazer efeito apenas para
os crentes.
Graça Irresistível Graça Resistível
Perseverança dos Santos Perda da Salvação
22. A Teologia Arminiana
Depravação Total Livre Arbítrio
Eleição Incondicional Eleição Condicional
Expiação Limitada Expiação Ilimitada
Graça Irresistível Graça Resistível
Todos os homens podem resistir à graça
salvadora de Deus.
Perseverança dos Santos Perda da Salvação
23. A Teologia Arminiana
Depravação Total Livre Arbítrio
Eleição Incondicional Eleição Condicional
Expiação Limitada Expiação Ilimitada
Graça Irresistível Graça Resistível
Perseverança dos Santos Perda da Salvação
Deus concede aos homens uma graça tamanha que eles
não precisam cair, porém a Bíblia teoricamente ensina
(Hb. 4) que a salvação pode ser perdida.
24. Reforma na Inglaterra
A Reforma inglesa possui alguns panos de
fundo que facilitaram a sua realização:
Propagação dos ensinos de John Wycliffe por
seus seguidores, os lolardos, como um
movimento secreto das camadas populares no
séc. XV.
Fim da nobreza na Guerra das Rosas (séc. XV)
União do rei e da classe média pelo bem estar
do país.
Controle da Igreja Romana sobre terras,
impostos papais e cortes eclesiásticas que
rivalizavam com a corte real irritavam
governantes e governados.
25. Fator intelectual
Humanismo Bíblico surge na Universidade de
Oxford no começo do séc. XVI.
Início dos estudos da Bíblia através do NT de
Erasmo.
Willian Tyndale publica em Worms, em 1525,
duas edições de sua tradução ao inglês do NT de
Erasmo. É martirizado em 1536.
Miles Coverdale publica a primeira tradução inglesa da Bíblia em 1535.
Os ensinos de Lutero são lidos em Oxford e Cambridge, porém
condenados por Henrique VIII, que recebe o título de Defensor da Fé
pelo papa, título curiosamente usado pelos monarcas protestantes da
Inglaterra até hoje.
26. A Revolta contra Roma
Henrique VIII era um soberano popular cujo pai
conseguiu que se casasse com a princesa espanhola
Catarina de Aragão em 1503 para não perder seu dote
(Artur, irmão mais velho de Henrique, havia sido seu
primeiro esposo, mas morreu jovem).
Com medo de não ter filhos homens desta relação, busca o divórcio
porque deseja deixar um herdeiro homem para comandar o país.
Também supõe estar sendo punido por ter se casado com a viúva do
irmão, prática proibida pela lei canônica e por Lv. 20.21.
Henrique VIII busca aprovação do papa Clemente VII para se divorciar e
casar com Ana Bolena, mas o papa, controlado pelo sobrinho de
Catarina, o imperador Carlos V, não aceita.
27. A Revolta contra Roma
Após tal falha, Henrique VIII apela ao Parlamento para
coagir o clero inglês a proclamá-lo chefe da Igreja
Inglesa (ou Anglicana). Após acusar o clero inglês de
violar um estatuto obscuro, aplica multas e consegue
que o clero o declare chefe da igreja em 1533 e aceite
seu divórcio, casando-se com Bolena no mesmo ano.
Nos anos seguintes, passa vários atos, proibindo a residência de clérigos
ingleses fora do país, o pagamento de anatas ao papa e suspendendo os
recursos das cortes eclesiásticas inglesas a Roma.
Em 1534, assina o Ato de Supremacia, onde afirma ser o ‘único chefe
supremo’ da Igreja da Inglaterra e, um ano depois, o Ato de Sucessão,
que afirma que seu filho com Ana Bolena seria o seu sucessor legítimo.
Para angariar apoio, distribui ou vende a custo baixo as propriedades de
vários monastérios a membros da classe média.
28. A Revolta contra Roma
É interessante notar que a teologia da Igreja Anglicana
era idêntica à de Roma, só tendo mudado o seu
governo, conforme os Seis Artigos do Parlamento
(1539), que mantinham a transubstanciação, a Ceia de
um elemento só, o celibato e a confissão auricular.
A primeira concessão de Henrique foi a permissão da tradução da Bíblia
em inglês. A Grande Bíblia foi publicada em 1539 como uma revisão dos
trabalhos de Tyndale e Coverdale, e era conhecida como “Bíblia
Acorrentada” pois era presa a muitos púlpitos de igrejas anglicanas.
O sucessor de Henrique VIII foi Eduardo VI, filho dele com Jane Seymour
(Ana Bolena só concedeu uma filha e foi executada sob acusação de
adultério). Henrique VIII teria outras esposas antes de morrer: Ana de
Cleves, de quem se divorciou; Catarina Howard, que executou, e
Catarina Parr, sua esposa quando morreu.
29. A Reforma Religiosa
Eduardo VI assumiu o trono aos nove anos e teve dois
regentes. O segundo, o Duque de Northumberland,
simpatizante do protestantismo, convence o rei a
introduzir mudanças que tornariam a reforma inglesa
também religiosa.
Em 1547, o Parlamento permite aos leigos o acesso ao cálice, repele as
leis de traição e heresia e os Seis Artigos, legaliza o casamento de
sacerdotes em 1549. O culto em inglês é autorizado logo a seguir.
Em 1549 promulga-se o Livro de Oração Comum, preparado por Thomas
Cramner, arcebispo de Cantuária desde os tempos de Henrique VIII, e
sua reedição de 1552 traz ideias calvinistas. Com pequenas alterações
de Elizabeth, é usado até hoje.
Em 1553, promulga-se os 42 Artigos (alterados para 39 posteriormente),
credo produzido por vários teólogos, incluindo John Knox.
30. A luta contra o retorno a Roma
Eduardo VI morreu jovem, aos 15 anos, e tentou impedir
que Maria, sua meia-irmã filha de Catarina de Aragão,
assumisse o trono, por ser católica. Seu testamento,
porém, é contestado e Maria assume o trono em 1553.
Com seu reinado paralelo à Contra Reforma, Maria
busca forçar o parlamento a retornar às práticas
eclesiásticas da época da morte de Henrique VIII.
Maria se casa em 1554 com Filipe II da Espanha, casamento impopular e
sem correspondência por parte de Filipe, que retorna à Espanha em 55.
A perseguição que se segue é brutal. 800 clérigos que se recusaram a
aceitar as mudanças perdem suas paróquias, sendo forçados a fugir a
Genebra e Frankfurt. 275 pessoas das regiões de comércio do sul da
Inglaterra são martirizados, incluindo Cranmer, Hugh Latimer e Ridley. A
morte destes dois últimos fortalece o movimento protestante inglês.
31. A conciliação
Após a morte de Maria, em 1558, Elizabeth, filha
de Henrique VIII com Ana Bolena, sobe ao trono.
Tendo que ser protestante por conta do
casamento de seus pais, não quis entrar em
conflito aberto com o papa, decidindo favorecer o
lado que fosse aceito pela maioria do povo
inglês.
Em seu reinado, a Reforma prosseguiu sem maiores problemas.
Em 1552, o Livro de Oração foi instituído com ligeiras
modificações. Os 42 artigos foram revisados com a retirada dos
artigos que condenavam antinomianos, anabatistas e milenistas.
Os 39 remanescentes foram aceitos em 1571 como o creio da
Igreja Anglicana.
32. Crises Internas: O Puritanismo
O movimento Puritano surge em meados do séc.
XVI. Foi assim chamado porque entendia que a
Igreja Anglicana ainda possuía “traços do
papado” e queria purificar a igreja de tais traços,
como vestes litúrgicas, o ritual, absolvição
clerical, sinal da cruz, dentre outros.
Seguindo os ensinos de William Ames e William Perkins,
calvinistas, os adeptos do puritanismo tiveram em Cambridge seu
principal refúgio.
O movimento cresceu e recebeu apoio de muitos advogados,
comerciantes e moradores da região rural, sofrendo perseguição
de Elizabeth I através de um ato contra eles em 1593, que
permitia a prisão de puritanos que faltassem ao culto anglicano.
33. Puritanismo e Denominações
O Puritanismo, apesar da unidade de intenções
teológicas, divergia essencialmente na relação
entre Igreja e Estado e na sua Eclesiologia.
A partir do movimento, surgiram quatro grupos
distintos de movimentos puritanos na Inglaterra:
Puritanos Episcopais: Queriam limpar a liturgia, mas manter o sistema
de governo.
Puritanos Presbiterianos: Queriam limpar a liturgia e mudar o regime
de governo da igreja para representativo (Thomas Cartwright).
Puritanos Congregacionais, ou Independentes: Queriam a limpeza da
liturgia e a liberdade de eleição de seus pastores (Henry Jacob).
Puritanos Separatistas: Queriam a separação igreja-estado e um
sistema congregacional (Thomas Helwys, John Smyth: Batistas).
34. O conflito eclesiológico
Após a morte de Elizabeth, James I foi confrontado pelos puritanos
em 1603, que entregaram a Petição Milenar, assinada por mil
ministros puritanos que pediam a purificação da liturgia e
administração da Igreja Anglicana.
Em 1604, após nova pressão, James I se enfurece e diz que iria
afugentar os puritanos do reino, se não se conformassem ao
sistema.
Uma nova tradução da Bíblia é autorizada nesse dia, resultando
numa versão que seria completada em 1611 e foi denominada
King James Version. Esta versão substitui a Bíblia de Genebra e
torna-se a versão mais usada pelos anglo-saxões até hoje.
35. O conflito eclesiológico
Durante o reinado de James I, os comerciantes e os camponeses
começaram a se revoltar contra as cortes extralegais dos Tudor e
seu desejo de se impor sobre o Parlamento.
Carlos I, que governou de 1625 a 1649, defendeu ainda mais a
associação da monarquia com o episcopado. Governou sem
parlamento de 1629 a 1640, o que levou muitos puritanos ingleses
a emigrarem para os EUA.
A crise eclodiu quando Carlos I escolheu William Laud, arminiano,
para arcebispo de Cantuária. Ao tentar impor um novo Livro de
Oração Comum à Igreja da Escócia, Laud gerou uma revolta que
fez com que os escoceses se rebelassem em prol de sua fé
calvinista. O rei evita a invasão em 1638 com dinheiro, mas em
1640 é obrigado a reconvocar o Parlamento.
36. O conflito eclesiológico
O novo Parlamento (conhecido como Extenso pois durou 20 anos)
impôs severas reformas ao governo, mas não resolveu a questão
eclesiológica. Os moderados queriam manter o episcopado,
enquanto que os puritanos desejavam congregacionalismo ou
presbiterianismo.
Em 1642, uma inútil tentativa de condenação de cinco membros
da Casa dos Comuns por traição gera uma guerra civil, que dura 4
anos e termina com a prisão e execução de Carlos I, a ascensão
de Oliver Cromwell, líder dos puritanos, e o domínio puritano da
Inglaterra até 1660.
Durante o conflito, o episcopado é abolido e 1643 e um sistema
presbiteriano em consonância com o escocês, implantado em
1648.
37. O conflito eclesiológico
A obra mais importante da Assembleia de Westminster, comissionada
para reformar a igreja anglicana, é a Confissão de Fé de Westminster,
calvinista, adotada em 1647 pelos escoceses e em 1648 pelos ingleses.
O Parlamento, presbiteriano, ignora o sentimento congregacional do
exército. Cromwell, um congregacional, clama por uma expurga do
Parlamento e, em 1648, todos os presbiterianos são expulsos. Cromwell
cria uma Comunidade de Nações liderada por ele em 1649, após a
execução de Carlos I, e dissolve o Parlamento em 1653, governando
como ditador até 1658 com a ajuda do exército.
Após sua morte, o Parlamento Extenso se dissolve em 1660 e os
ingleses, cansados da rigidez moral dos puritanos, convocam Carlos II
para ser seu rei, abolindo o presbiterianismo e retornando o episcopado.
James II persegue os presbiterianos escoceses, mas em 1689, com sua
expulsão do país, os não-conformistas passam a ser tolerados.
38. Fontes
Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma
história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar
Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Textos auxiliares:
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1996.
GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo:
Vida Nova, 1983