O documento descreve a reprodução incomum dos cavalos-marinhos, onde os embriões se desenvolvem dentro do corpo dos machos. Os cavalos-marinhos pertencem a um grupo de peixes chamado syngnathidae, onde as fêmeas transferem seus ovos fertilizados para uma bolsa no abdome do macho, onde os embriões se desenvolvem. Após a gestação, que pode durar de 9 a 69 dias dependendo da temperatura, os filhotes nascem e não recebem mais cuidados parentais. Os cavalos-mar
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Os segredos do cavalo-marinho
Esses peixes têm um sistema reprodutivo atípico: a incubação dos filhotes
é feita nos machos. Em sua coluna de março, Jerry Borges explica como
isso acontece e mostra como os cavalos-marinhos podem inspirar
pesquisas sobre a reprodução humana.
Além da sua beleza, os cavalos-marinhos chamam a atenção por seu
sistema reprodutivo peculiar, que se caracteriza pela incubação dos
embriões em desenvolvimento dentro do corpo do macho. Descobertas
recentes esclareceram alguns dos ’segredos‘ associados a essa forma
única de reprodução e nos deram pistas importantes sobre alguns
aspectos da biologia do desenvolvimento, inclusive de nossa espécie
4. Os cavalos-marinhos e seus parentes, os peixes-pipa, pertencem à família dos
singnatídeos, um grupo taxonômico que se reproduz por viviparidade. Essa
forma de desenvolvimento é encontrada em todos os grupos de vertebrados,
com exceção das aves, mas é pouco comum entre os peixes.
A viviparidade é definida como o nascimento de filhotes bem desenvolvidos e
ativos e está associada com a fecundação interna e o desenvolvimento
embrionário e fetal no interior do corpo de um dos pais.
Os organismos em que ocorre esse tipo de incubação têm custos energéticos
elevados e riscos maiores de predação. Embora os organismos vivíparos
apresentem tamanhos reduzidos de ninhada se comparados com espécies que
se reproduzem por meio de ovos (ovíparas), a viviparidade permite uma
maior sobrevivência da prole, pois minimiza a influência ambiental durante o
desenvolvimento embrionário.
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Sempre que se fala em viviparidade, pensamos logo na incubação da
prole no corpo das fêmeas. Há, contudo, alguns casos extremamente
raros em que o desenvolvimento embrionário pode se processar no corpo
de machos.
Alguns exemplos desse tipo incomum de incubação ocorrem em duas
espécies de pequenos e ameaçados anfíbios habitantes do sudoeste da
América do Sul e conhecidos como sapos de Darwin (gênero
Rhinoderma). Esses animais apresentam fertilização externa e seus
embriões se desenvolvem por cerca de 20 dias no meio ambiente até se
transformarem em girinos e serem capturados e mantidos em expansões
bucais dos machos, conhecidas como sacos vocais, até sua metamorfose.
7. Os peixes singnatídeos são outro exemplo da incubação de embriões
vivíparos em machos. Esse grupo compreende 232 espécies conhecidas
que exibem uma ampla variedade e complexidade reprodutiva. Entre os
singnatídeos, existem espécies que apresentam reprodução externa e
outras nas quais as fêmeas incubam seus filhotes. Contudo, é a
incubação por machos que faz esse grupo de peixes especial para os
estudiosos da reprodução.
8. Em algumas espécies de singnatídeos, os machos mantêm os embriões
em desenvolvimento em uma bolsa de incubação especializada
existente na superfície de seus abdomes ou caudas. Esses locais
apresentam modificações morfológicas e fisiológicas semelhantes às
encontradas nas fêmeas vivíparas.
As estruturas reprodutivas mais complexas são encontradas nas 33
espécies de cavalos-marinhos que também apresentam as alterações
fisiológicas reprodutivas mais marcantes. Nessas espécies, as fêmeas
transferem seus gametas (ovócitos) ricos em reservas nutritivas
(vitelo) para a bolsa de incubação dos machos, onde ocorre a
fertilização pelos gametas masculinos.
9. A gestação e depois
O período de gestação dos signatídeos possui uma enorme variação, podendo
alcançar de 9 a 69 dias, dependendo da temperatura ambiental. Após a gestação,
a pseudoplacenta dos machos é eliminada juntamente com os as formas jovens,
que passam então a depender somente de si para o desenvolvimento futuro. Não
há, portanto, entre os signatídeos qualquer forma de cuidado paternal (ou
maternal) da prole.
A regulação hormonal da reprodução dos signatídeos depende da prolactina, um
hormônio da hipófise que está relacionado com a osmorregulação, com o
desenvolvimento, com as respostas imunes e com a reprodução nos vertebrados.
Nos signatídeos, o bloqueio da síntese de prolactina causa abortos e a eliminação
dos tecidos associados com a reprodução.
10. A testosterona e outros hormônios esteroides
masculinos regulam o início da incubação nos
signatídeos. Os esteroides femininos, como o
estradiol e a progesterona, por sua vez, também
controlam o desenvolvimento embrionário nessas
espécies de peixes. Contudo, são necessárias
pesquisas para verificar como se comportam os
níveis desses hormônios durante a incubação
masculina.
Os peixes do grupo dos cavalos-marinhos são
modelos interessantes para pesquisas sobre
reprodução
Diversas espécies de signatídeos podem ser
cultivadas em laboratório com certa facilidade.
Por terem tempos de geração curtos (3-12
meses), elevada fecundidade (de 50 a 2 mil
filhotes por ninhada) e um genoma haploide
pequeno (de 500 milhões a um bilhão de bases
nitrogenadas), os cavalos-marinhos e outras
espécies de seu grupo podem ser considerados
modelos interessantes para pesquisas futuras que
poderão esclarecer como ocorre a reprodução do
ponto de vista morfológico, fisiológico e genético.
O estudo desses animais pode gerar dados
essenciais para a compreensão desse processo em
nossa própria espécie. Além disso, esses
simpáticos peixes oferecem uma oportunidade