O documento descreve o projeto ASAS - Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra, uma parceria entre a Universidade FUMEC e o Banco Real Grupo Santander para capacitar artesãos da região e promover o desenvolvimento social através do artesanato. O projeto visa a autonomia e o empoderamento dos participantes por meio da criação e venda de produtos artesanais.
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra
1. Natacha Rena | Juliana Pontes (orgs.)
ARTESANATO SOLIDÁRIO NO
AGLOMERADO DA SERRA
ARTESANATO SOLIDÁRIO NO
AGLOMERADO DA SERRA
ARTESANATO SOLIDÁRIO NO
AGLOMERADO DA SERRA
2.
3. Natacha Rena | Juliana Pontes (orgs.)
ASAS . Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra
4. FACULDADE DE ENGENHARIA E ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGRADECIMENTOS
ARQUITETURA - FEA AGLOMERADO DA SERRA - ASAS
Anderson Matos . Cleonice Bráz
Reitor Diretor Geral Professora Coordenadora da Silva . Débora Gonçalves de
Prof. Antonio Tomé Loures Prof. Luiz de Lacerda Júnior Natacha Silva de Araújo Rena Oliveira . Igor Rios . Jaqueline Dias
Juliana Myhra Karina Leite . Patrícia
Vice-reitora Diretor de Ensino Professora Participante Aun . Pedro Moraes . Tânia Porto
Prof.ª Maria da Conceição Rocha Prof. Lúcio Flávio Nunes Moreira Juliana Pontes Ribeiro Thiago Bones . Vinícius Glico
Patricia de Aguiar Paes . Meninas
Pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão Diretor Administrativo-Financeiro Técnicos
da cozinha: Eliane Magalhães (Lili),
Prof. Eduardo Martins de Lima Prof. Fernando Antônio Lopes Reis Dimas Pereira Guimarães
Iva e Marta. Parceria: Cassius Silva
Éder Jorge de Almeida
Pereira (Raiz da Terra)
Pró-reitora de Planejamento e Administração Coordenadora Geral do Curso de Design Éder Peixoto
Prof.ª Valéria Cunha Figueiredo Profª Ângela Souza Lima Maria Crisóstomo Ramos
Coordenador Geral de Pesquisa Coordenadores por Habilitação Psicóloga Voluntária
Prof.ª Rúbia Carneiro Neves D. Gráfico | Prof. Guilherme Guazzi Rodrigues Érica Silva do Espírito Santo
D. Interiores | Profª. Maria Fernanda Loureiro
Coordenador Geral de Extensão D. Produto | Prof. Eliseu de Rezende Santos Estudantes Bolsistas
Prof. Osvaldo Manoel Corrêa D. Moda | Profª Gabriela Maria Torres Ana Luisa Ferreira . Bruno Elias Gomes de
Oliveira . Cristiane Pereira Araújo Silva
Coordenadora do setor de relações Daniel Patrick Cordeiro Pimentel . Eduardo
internacionais | Prof.ª Astréia Soares Batista Goulart de Macedo . Felipe Sales Melo Franco
Joanna Sanglard Bernardes . Pedro Duarte Sena
Assessoria de Ensino de Graduação de Oliveira . Pedro Ivo . Rafael Miranda Barbosa
Prof. Luiz Antônio Melgaço Nunes Branco Rodrigo FrancoMattar
Estudantes Colaboradores
PROJETO CATÁLOGO ASAS Disciplina Artesanato e Design 2007/2008
André Machado . Carolina Furtado . Cinira
Morais . Daniela Coelho . Daniele Tondato
Coordenação
Débora Maffia . Fernanda Pereira . Guilherme
Diretoria de Desenvolvimento Sustentável Prof.ª Juliana Pontes Ribeiro
Deriz . Guilherme Santos . Ivana de Almeida
Maria Luiza Pinto e Paiva
Lara Pinheiro . Leliane Peixoto . Letícia Grissi
Direção de arte
Lucas Diniz . Luiza Mascarenhas . Matheus
Superintendência de Ação Social Prof.ª Juliana Pontes e Natacha Rena
Rocha . Pablo Codeglia . Rafaela Valadão
Laura Oltramare
Tiara Brito
Design / Projeto Gráfico
Coordenação da área de projetos sociais Cris Araújo
Estudantes Voluntários
Andréa Regina
Alisson dos Prazeres . Andressa Furtado Calixto
Fotografias
Diego Silva . Fernando Vasconcelos . Guilherme
Coordenação do Concurso Banco Real Cris Araújo
Bonsato Deriz . Ingrid Sander . Karina de Oliveira
Universidade Solidária Eduardo Goulart
Leite . Leonardo Monte Alto Pacheco . Priscila
Eloisa Martins Juliana Pontes
Soares da Silva . Rachel Grandinetti . Reinaldo
Joanna Sanglard
Rocha . Tatiana Lemos
Natacha Rena
Sérgio Amzalak . Tatarana Imagem
Artesãos Capacitados
Cleuza Maria Pires Dias . Ellen Cristina Pires Dias
Revisão de textos
Elzy Nunes de Oliveira Ferreira . Etelvina Xavier
Rachel Murta
Gerência de Projetos de Almeida . Gabriella Estefane Santos de Souza
Daniela Lemos Gonçalo Nascimento Santos . Joana Rodrigues
de Souza . Loslane Pasos de Oliveira . Maria do
Consultores voluntários e sócios-fundadores Carmo da Rocha . Peterson Linker S. Rodrigues
Prof. Dr. Waldenor Barros Moraes Filho Shirley Maria Araújo . Suzana Marília dos Anjos
Prof. Dr. Luiz Fernando Coelho de Souza Oliveira . Yasmin T. Gonçalves
5. . índice 008
instituições parceiras
Fumec
02
UniSol . Banco Real - Grupo Santander
Escola Municipal Padre Guilherme Peters
design social
018
Projeto ASAS: autonomia e empodera-
mento por meio do artesanato solidário
Identidade: processo construtivo
A798
A estamparia como capacitação
Asas: Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra profissional
03
Organizadoras Juliana Pontes Ribeiro e Natacha Rena. Psicologia e a estruturação de grupo
Belo Horizonte: Editora Faculdade de Engenharia e
Arquitetura FEA - Universidade FUMEC, 2009. Depoimentos: alunos bolsistas
136 p.: il. (possui fotografias).
Vários autores.
paralelas
ISBN 978-85-61258-05-4. 070
Eco-Bags
1. Design. 2. Artesanato. 3. Economia solidária. 4. Almofadas.
5. Estampas. I. Ribeiro, Juliana Pontes II. Rena, Natacha. III. Título.
Parceria Raiz da Terra
Concurso Almofadas
CDD: 745.098151
Muros Estampados
CDU: 745(815.1)
Oficina Pinhole
Informação bibliográfica conforme a NBR 6023:2002 da
04
Exposição Aglomeradas
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
Oficina de Texto
RIBEIRO, Juliana Pontes; RENA, Natacha (Org.). Asas: Artesanato
Solidário no Aglomerado da Serra. Belo Horizonte: Editora
Faculdade de Engenharia e Arquitetura FEA-Universidade
FUMEC, 2009. 136 p. ISBN 978-85-61258-05-4.
registro das criações
102
05120
portfolio asas
8. Prof. Antônio Tomé Loures Prof. Osvaldo Manoel Corrêa
Reitor da Universidade Fumec Coordenador do setor de extensão
“No processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do apren- “Conceituar é preciso, viver e tecer a trama da existência é preciso e registrar é mais que preciso”.
dido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que
é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas” - Paulo Freire
A troca de saberes constitui a base de projetos como Foi assim que tudo teve o seu início, com uma Tática em Assis Brasil. Em Jequitaí uma nova coleção de
o ASAS – Artesanato Solidário no Aglomerado da de Sobrevivência envolvendo os moradores da Vila almofadas revelou em sua estamparia a história da
Serra, consistindo em princípio fundador da ação Ponta Porá, comunidade pertencente à região cen- cidade em seu rio, no garimpo, na pesca, no trabalho
comprometida com o aprendizado e a necessária tral de Belo Horizonte – MG, onde como resultados das lavadeiras, na religiosidade e outros temas.
mudança social. Fundamentalmente integradora, “as pesquisadoras realizaram um vasto levantamento
A criação do grupo de pesquisa com o tema
a proposta realiza a missão social da Universidade de inventos - objetos e produtos do cotidiano - que
Diferenças: Arte, Design, Arquitetura e Artesanto, no
FUMEC, incentivando a produção e a efetiva socia- revelaram um enorme potencial do cidadão comum
CNPq, e a exposição no INHOTIM de uma coleção de
lização do conhecimento. (moradores expostos a situação de precariedade
produtos com características iconográficas reco-
econômica)”.
Aprendemos, com a atividade artesanal, a sabedoria lhidas no próprio museu pareciam ser o fim dessa
da partilha construída em torno da experiência co- Sempre Savassi Design e Cultura é como o fio de jornada. Mas enquanto essas atividades estavam
municada; a arte da escuta, do silêncio e da narrativa Ariadne que permitiu a saída da pesquisa para dar à em andamento, um novo edital em nível nacional
comprometida com a vida que perdura. Essa é a luz na extensão. Envolvendo parcerias com o CDL- estava aberto, e o acumular de anos de experiências
postura de quem acredita na invenção de um futuro BH e o SEBRAE, esse projeto desenvolveu diversas se transformou no projeto Artesanato Solidário no
em que o conhecimento se constrói, pacientemente, comunidades de artesãos, resultou na produção de Aglomerado da Serra.
na ação criadora; em forma de valores que conferem um texto e um catálogo; o primeiro, finalista em con-
Os primeiros passos dessa nova caminhada estão
sentido ao mundo compartilhado. curso, e o segundo produziu frutos como exposição
no Catálogo ASAS, que deve ser apreciado com o
e menção honrosa.
Formar profissionais comprometidos com a justiça olhar de admiração nos permitindo ver mais além
e a ética é desafio permanente da Universidade No catálogo da Coleção 9+1, uma coleção temática dos muitos focos de violência, tráfico de drogas e
FUMEC. O projeto ASAS exerce essa missão de forma de nove almofadas quadradas e uma redonda desemprego instaurados nessa comunidade. É ver
particular, convertendo-a em processo renovador, revelando temas ligados à história de vida de cada com pasmo a capacidade de empoderamento que
em que a criação coletiva potencializa saberes e artesã, registra-se a ação de extensão Artesanato a metodologia de criação a partir do conceito de
valoriza o artesanato como fonte de aprendizado Solidário no Barreiro. Nesse projeto, novas parcerias Artesanato Solidário teve no período de doze meses
permanente. foram possíveis com a Associação da Terceira Idade e para capacitar um grupo de multiplicadores que tem
Idosos do Barreiro (ASTIB) e a UNITEC – Nova Zelân- por missão, em 2009, passar para novas gerações de
Assim, apresentar este catálogo à sociedade é mo-
dia com o seu suporte metodológico para ações de jovens e adolescentes o seu aprendizado, fazendo
tivo de grande satisfação para todos nós. Com a con-
responsabilidade social. funcionar a oficina de serigrafia.
clusão da proposta, comemoramos esta importante
conquista junto às comunidades da Universidade Esse constante aprender permitiu que as experiên- Por fim, o agradecimento da Universidade FUMEC à
FUMEC e do Aglomerado da Serra. cias adquiridas fossem aplicadas em Assis Brasil (AC) UNISOL (Banco Real), pela parceria que tornou pos-
e Jequitaí (MG) em incursões do Projeto Rondon. A sível este projeto, e pela sua renovação para o biênio
capacitação em artesanato e design de produtos e 2009/2010.
mobiliários de bambu foram oficinas desenvolvidas
16 17
9. Em uma comunidade, as atividades de cada indi-
víduo estão sempre interligadas de alguma maneira.
Quando um se beneficia, é muito provável que o
próximo seja atingido. Assim, os projetos sociais
que se baseiam em parceria de benefícios mútuos
podem conseguir multiplicadores e ser auto-susten-
táveis.
unisol Acreditando nisso, o UniSol e o Banco Real - Grupo
banco real . grupo santander Santander Brasil - apóiam, desde 2007, o projeto
ASAS - Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra
- vencedor do 11º Concurso Banco Real Universidade
Solidária. Executado pela FUMEC/MG é um exemplo
de iniciativas que estimulam a participação ativa
da comunidade, e o envolvimento de professores,
estudantes, escola, prefeituras e ONGs na construção
de alternativas para problemas de ordem social,
econômica e ambiental da região.
Criado em 1996, o concurso Banco Real e Uni-
versidade Solidária estimula o engajamento de
estudantes e professores universitários na implemen-
tação de ações que promovam o desenvolvimento
social de comunidades de todo o País.
Essa parceria proporciona a implementação de proje-
tos sociais com a participação de Instituições de Ensi-
no Superior (IES) brasileiras, por meio de seu corpo
docente e discente em comunidades, trabalhando
na construção de soluções locais de desenvolvimen-
to sustentável e comunitário, e disseminado valores
de cidadania e de responsabilidade social aos jovens
universitários - futuros profissionais do país.
Em treze anos de atuação, o concurso já mobilizou
94 IES, 1.340 estudantes, 178 professores e benefi-
ciou direta e indiretamente mais de 4 mil pessoas em
todo Brasil, a partir da interação entre o conheci-
mento acadêmico e o popular.
18 19
10. Márcia Libânio
Diretora
Desde agosto de 2007 os alunos, funcionários e
pessoas da comunidade do Aglomerado da Serra
tem freqüentado as oficinas de capacitação que
escola municipal padre
acontecem na Universidade FUMEC.
O grupo ASAS (Artesanato Solidário no Aglomerado
guilherme peters da Serra) formado a partir da parceria entre a Univer-
sidade FUMEC, o Unisol/Banco Real e a Prefeitura de
Belo Horizonte tem realizado bons benefícios para
esta comunidade.
Duas vezes por semana o grupo se reuniu ao longo
do ano nas dependências da Universidade FUMEC.
Esses encontros, que propiciaram o contato com
alunos e professores universitários, fornecem ao
grupo o desenvolvimento das relações de trabalho
em espaços que eles poderiam ter dificuldades em
freqüentar.
Os alunos do grupo ASAS têm tido acesso a espaços
culturais da cidade, apresentando suas criações e
conhecendo artistas locais e de contexto nacional.
A montagem da cooperativa no espaço escolar
beneficiará tanto a comunidade quanto os alunos
da escola . Essa cooperativa será um exemplo a ser
seguido por eles. Aqueles alunos da escola que
tiverem interesse em fazer parte da cooperativa
poderão desenvolver as técnicas a partir do grupo
ASAS (futuros multiplicadores).
A Escola Municipal Padre Guilherme Peters se sente
honrada em fazer parte dessa parceria que trará mais
dignidade à comunidade. Hoje a cooperativa já não
é só um sonho distante. Ela já se tornou realidade!
Ao avaliarmos a parceria firmada nesse curto prazo
de tempo, só podemos ressaltar a importância do
compromisso social, principalmente em comu-
nidades carentes como a em que a escola está
inserida.
20 21
12. projeto asas:
autonomia e
empoderamento
por meio do
artesanato
solidário
natacha rena
Arquiteta, designer, professora dos cursos
de Arquitetura e Design de Interiores
na Universidade FUMEC; mestre em
Arquitetura pela UFMG, doutora em
Comunicação e Semiótica pela PUC São
Paulo e coordenadora do projeto ASAS-
UNISOL/Banco Real - Grupo Santander.
juliana pontes
Designer, Mestre em Comunicação
Social, professora do curso de graduação
em Design Gráfico e pós-graduação na
Universidade FUMEC e orientadora, junto
com a profa. Natacha Rena, do projeto ASAS-
UNISOL/Banco Real - Grupo Santander.
13. apresentação
O Projeto ASAS (Artesanato longo do trabalho. Com ênfase nos processos maioria estão muito distantes da oportunidade do primeiro emprego ou
Solidário do Aglomerado da criativos que aconteçam de forma colaborativa de exercer uma atividade econômica lucrativa e promissora por falta de
Serra) teve a intenção de capacitar e na criação de uma metodologia específica capacitação específica. O Aglomerado está localizado na chamada região
um grupo de moradores do - que garanta sustentabilidade das ações sul da cidade, setor residencial de alto poder aquisitivo (onde se encontra a
Aglomerado da Serra para o implementadas -, este projeto também objetivou Universidade FUMEC).
desenvolvimento de uma coleção a criação de um mix de produtos com alto
valor agregado (acompanhados de catálogo Atualmente a prefeitura de Belo Horizonte está executando uma grande
de produtos com características
e exposição) que possa ser comercializado obra de urbanização do Aglomerado (considerado um dos maiores
singulares. O objetivo central
em locais onde o público consumidor valorize projetos de urbanização de favelas do País no momento), que inclui a
foi estabelecer um processo
produtos realizados com responsabilidade construção de uma via asfaltada de mão dupla que atravessará o conjunto
sustentável de geração de renda
socioambiental. Outro objetivo já realizado de vilas, ligando diretamente duas regiões da cidade. Há um investimento
no Aglomerado da Serra (conjunto
foi a montagem de uma oficina de criação e real na melhoria das condições de vida da população local e na sua
de vilas e favelas da cidade de Belo
produção em serigrafia na Escola Pe. Guilherme inserção definitiva no contexto urbano, o que implica a educação e a
Horizonte) a partir do conceito de
Peters. capacitação dessas pessoas para uma nova condição de trabalho e relação
autonomia criativa e produtiva
social. O que acontece no caso específico da Escola Municipal Padre
com foco no empoderamento
A comunidade específica escolhida para o Guilherme Peters é que a sua localização não é próxima das margens da
da comunidade. Dentro de um
desenvolvimento do projeto aqui proposto é a grande via a ser construída, o que resultou em um menor investimento
conceito amplo de artesanato
Escola Municipal Padre Guilherme Peters situada dos projetos citados acima nesta escola. Essa situação poderá produzir
solidário, desenvolveu-se uma
dentro do conjunto de vilas e favelas de Belo um futuro desnível de oportunidades dentro do próprio Aglomerado,
metodologia específica de criação
Horizonte denominado Aglomerado da Serra. acentuando ainda mais as questões ligadas ao desemprego à violência e à
em artesanato e design com o
Essa escola pertencente à Vila Novo São Lucas exclusão social.
intuito de capacitar grupos de
tem procurado parcerias para que seus alunos
artesãos para o desenvolvimento
possam se apropriar de novos conhecimentos O Aglomerado da Serra possui uma grande dimensão populacional, com
de objetos inventivos e com
e novas tecnologias que os ajudem a enfrentar muitos focos de violência e disputa de grupos ligados ao tráfico de drogas,
características singulares.
novos ambientes educacionais e novos o que dificulta ações eficazes em todo o seu território. O foco nas escolas
ambientes de trabalho. A escola vai da Educação municipais, começando com um projeto piloto em uma escola específica,
A idéia central dos projetos de
Infantil até a oitava série do Ensino Fundamental, limita a ação a um campo fértil, que é o dos jovens em formação, pois
extensão que realizamos na
e tem também no turno noturno a Educação de estes são as maiores vítimas do aliciamento para a atividade do tráfico e
Universidade FUMEC é capacitar
Jovens e Adultos. Novas parcerias têm aberto da violência gerada por esta economia ilegal. A falta de infra-estrutura,
grupos como multiplicadores
do conhecimento adquirido ao novos horizontes para esses jovens, que em sua
Possuía em 1999 uma população total por volta de 37.641 habitantes segundo dados da URBEL, mas
¹ Rua Coronel Jorge Dário S/número . Bairro Novo São Lucas. Belo segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social, 45.920 pessoas e, segundo a imprensa Estado de Minas,
Horizonte . CEP 30.240-560 160.000 habitantes.
26 27
14. recursos materiais e capital humano
nas escolas municipais é ainda um
grande empecilho para que essas
unidades sustentem projetos de
inserção econômica e capacitação
profissional adequadas à nossa
realidade social e às demandas do
mercado de consumo e serviços
hoje.
As escolas também podem ser
pontos de apoio permanentes
para que iniciativas como
essas se desenvolvam com
acompanhamento adequado e
previsão de continuidade, pois sem
esse tipo de suporte muitas boas
idéias, ações e projetos se perdem
por falta de investimentos em
longo prazo, gerenciamento das
atividades de formação, estruturas
de equipe para captar novos
recursos e orientar novas investidas
educacionais. Nesses espaços a
parceria entre o ensino tradicional
e o grupo de artesãos, por um lado,
complementa o ensino tradicional
e, por outro, amplia os horizontes
de atuação dos seus alunos e
professores.
28 29
15. O Aglomerado da Serra possui
uma população com poder
aquisitivo baixíssimo, mas inserida
em uma das regiões com índice
socioeconômico mais alto da
cidade. Ao mesmo tempo a
Universidade FUMEC tem optado
estrategicamente por desenvolver
projetos de natureza social
nessa região, já que é vizinha
da Universidade e delimita um
campo de atuação solidária. Na
última pesquisa para a Prova
Brasil o índice socioeconômico
no Aglomerado foi de 1.1 numa
escala de 1 a 5. E aqui também há
uma justificativa concreta para a
escolha da Escola Municipal Padre
Guilherme Peters que, entre as
cinco escolas municipais existentes
no Aglomerado, conforme
comprovado pelo Prova Brasil,
é uma das duas escolas de mais
baixo índice socioeconômico da
cidade e com uma necessidade
imensa de melhorar a sua infra-
estrutura e estabelecer parcerias
externas que complementem o
processo educativo e respondam a
demandas a que a escola não pode
atender sozinha.
30 31
16. alteração da
situação enfrentada
e expectativas do
projeto objetivo geral objetivos específicos
A oportunidade da parceria funciona aos sábados e domingos e oferece O principal objetivo deste projeto foi Todo o trabalho proposto neste projeto objetiva
com a Universidade FUMEC oficinas de artesanato, de percussão, de fomentar o artesanato como setor econômico uma ampliação efetiva do repertório cultural
tem proporcionado a um capoeira, informática e possivelmente a de sustentável que valoriza a subjetividade dos participantes do grupo através de aulas
grupo de alunos dessa escola estamparia também poderá funcionar aos finais coletiva promovendo a melhoria da qualidade teóricas sobre arte, cultura, design, arquitetura,
pertencente ao Aglomerado o de semana. de vida e a geração de renda. A intenção foi antropologia, ecologia e sustentabilidade. Passeios
conhecimento de um ambiente propiciar a criação de produtos manufaturados culturais e visitas a exposições de arte também se
Outro fator essencial ao projeto é que a com possibilidade de comercialização em enquadram nessas ações, além da participação
de estudo completo, de nível
prefeitura de Belo Horizonte ofereceu como mercados consumidores proeminentes como do grupo em oficinas que possam envolver
superior, além do aprendizado
contrapartida a construção de um espaço feiras nacionais e eventos, além dos locais com outros grupos culturais já organizados na própria
de técnicas inovadoras no design
onde será instalada a oficina de estamparia, possibilidades de venda de produtos com alto comunidade. Esse tipo de artesanato abarca
de estamparia. Isso aconteceu
cujos equipamentos e materiais de uso foram valor agregado. O projeto tem proporcionado produtos que atingem altos preços no mercado
em uma primeira etapa, com
financiados pelo Prêmio UNISOL/BANCO REAL. um cruzamento de ações de capacitação, tais nacional e também costumam ser os prediletos no
oficinas e aulas realizadas na
A primeira turma formada poderá montar uma como orientação com metodologia específica mercado de exportação.
própria Universidade, utilizando
associação que se auto-sustentará e que formará para trabalhar um reposicionamento subjetivo e
suas salas de aula, equipamentos
novos trabalhadores ao capacitar os jovens, criativo do artesão de baixíssima renda perante Pretendeu-se neste projeto desenvolver a técnica
didáticos e o ateliê de estamparia.
dando-lhes também a oportunidade do primeiro um novo mercado consumidor mais exigente de estamparia para aplicação em produtos
Além disso, pode-se criar para a
emprego e uma atitude empreendedora. A através: da formação de repertório estético geral variados. Percebemos que essa técnica, além
comunidade, a partir da primeira
escola funciona em horário integral e esses e histórico, além de incentivar a atualização de valorizar o produto, também dá agilidade à
turma a freqüentar esse programa
futuros artesãos podem começar a aprender cultural (incluindo tendências na moda, no produção por conseguir uma reprodução em série
de capacitação, a figura dos
tecnologias que em curto prazo poderão servir design e na decoração). Após o lançamento mesmo que por processos artesanais. Neste projeto
multiplicadores, que serão pessoas
para melhores condições de trabalho e de dos produtos, a idéia é que através de parcerias essa técnica engendrou uma enorme eficácia, já
que participarão do projeto e
vida. A idéia é que esta comunidade, com a estes sejam comercializados em pontos de que faz parte do universo estético contemporâneo
irão repassar o conhecimento
implementação de projetos como este, possa venda onde sejam valorizados como resultado e a idéia de aplicação de imagens colhidas pelos
dando continuidade ao trabalho,
iniciar a criação de uma rede de sustentabilidade processo de projetos de artesanato e design que artesãos como forma de revelar as relações entre a
formando novos empreendedores
e economia solidária, melhorando sua condição promovam inclusão social e geração de renda identidade pessoal e o lugar.
e até uma cooperativa para
econômica, sua inserção social, diminuindo os em comunidades carentes.
trabalhar com confecções da Também são objetivos do projeto: ampliar as
índices de violência local e aumentado a sua
cidade e/ou do estado. Esses oportunidades de trabalho e renda da população
auto-estima.
multiplicadores poderão iniciar envolvida em situação de risco pessoal e social
outras pessoas da comunidade num projeto de inclusão social; promover o acesso
inclusive na Escola Aberta, que a tecnologias adequadas para o desenvolvimento
32 33
17. artesanal produtivo; utilizar
a inovação e a identidade
cultural como um dos fatores de
diferenciação do produto; educar
o olhar do grupo para perceber
soluções inventivas e sensíveis às
demandas objetivas e subjetivas
do homem urbano no seu próprio
cotidiano; promover a cultura da
cooperação estimulando a criação
e o fortalecimento de associações
e cooperativas; resgatar a cultura
urbana e jovem como fator de
agregação de valor ao artesanato;
disponibilizar informações sobre
a utilização racional dos recursos
naturais, segundo os postulados
da legislação ambiental; socializar
o acesso às informações e ao
conhecimento no âmbito do
setor artesanal; articular parcerias
para aumentar a participação
do artesanato na produção
nacional e para o conseqüente
fortalecimento do setor; melhorar
a auto-estima e a qualidade de
vida da população; desenvolver a
capacidade de criação e produção
coletiva.
34 35
18. metodologia de
projeto
Uma metodologia eficaz global, como diz Octavio Ianni , “muitas informações tornou-se referência iconográfica para o desenvolvimento do protótipo - mistura de
para o desenvolvimento de coisas desenraizam-se, parecendo flutuar e conceitual para a criação dos produtos numa muitas técnicas) através de procedimentos técnicos
capacitação em artesanato que pelos espaços e tempos do presente”, ou seja, etapa posterior. híbridos. Portanto, esse trabalho de capacitação
tenha sustentabilidade surge mais do que tradições buscamos um diálogo em design e artesanato inclui uma série de ações
do entendimento de que só é com a contemporaneidade. Desenvolvemos segundo momento fundamentais para a construção do ambiente
possível induzir grupos a criar procedimentos de pesquisa, de criação e de criativo necessário.
Num segundo momento uma ação importante
o novo quando se constrói um produção que advenham da identidade a partir
para a capacitação foi a apresentação de terceiro momento
vasto repertório (informações, da relação entre a cultura urbana e a cultura da
aulas teóricas (fundamentos de arte e design)
conceitos e instrumentalização), favela, para que seja possível construir um forte
acompanhadas de exercícios práticos que Numa etapa final do plano de capacitação, que
através do qual os participantes laço identitário entre os artesãos e os produtos
reforçaram o conhecimento adquirido de forma teve início em agosto de 2008, iniciamos as
possam compreender a situação criados. Ministramos um grande leque de
empírica. Também foram ministradas aulas sobre: oficinas de criação, nas quais foram efetivamente
atual da arte, do design e da oficinas e aulas teóricas que possam dialogar
elementos visuais e composição gráfica; o olhar trabalhados os produtos específicos para a coleção
cultura contemporânea e que diretamente com o cotidiano deles.
como forma diferenciada de percepção; história final.
sejam capazes de, a partir daí,
primeiro momento da arte - do cubismo à arte contemporânea;
desenvolver futuras coleções de Acredita-se que somente com a consolidação do
teoria da cor; tendências no design; design do
produtos sem a dependência da conhecimento ao longo de oficinas, seminários,
A primeira atividade da capacitação foi a cotidiano e vernacular; arte popular e artesanato,
instrução de designers e artistas. visitas de estudo e com a produção de peças
realização de um diagnóstico das qualidades street art, etc. Essas aulas teóricas foram sempre
espaciais e estéticas do território cotidiano do ilustradas com apresentações de imagens com qualidade estética, cultural e eficácia
Nitidamente com um caráter
grupo a partir da experiência subjetiva de cada dos conteúdos dados para gerar essa nova mercadológica é que um processo sustentável
de inclusão social, este projeto
um. A idéia foi fazer com que os participantes bagagem de cultura visual, tão necessária para pode ser iniciado nessa escola pública, já que
apresenta uma metodologia
descobrissem características cotidianas nunca a compreensão da estética e dos processos iremos construir e efetivar uma oficina de
específica para desenvolver
observadas, agora com um olhar estético que criativos contemporâneos. Também foram estamparia para que futuramente não somente
coleções de produtos artesanais
revelasse o valor cultural das favelas e em exibidos vídeos e filmes, entre documentários alunos, mas também egressos possam continuar
que se relacionem culturalmente
especial do território específico a que eles e longa-metragens, que abordam questões da gerando renda e se incluindo socialmente com
de forma direta com o universo
pertencem. Esse diagnóstico foi elaborado arte e da cultura do século XX, peças de design dignidade. Todo trabalho aconteceu com um
do Aglomerado da Serra. Ao
a partir de mapas subjetivos (produção de e artesanato contemporâneos. Além de aulas acompanhamento intensivo de todo o processo
mesmo tempo que reforçamos
imagens fotográficas e inúmeros desenhos, expositivas, mas em momentos intercalados a criativo e da finalização dos produtos. A principal
o contexto local do projeto nos
mapas, colagens e anotações) construídos elas, produzimos oficinas práticas para oferecer idéia dessa metodologia é dotar os alunos de uma
temas escolhidos para as estampas,
coletivamente pelo grupo. A coleta dessas novos instrumentais (tanto para criação - nítida capacidade para gerar novos produtos a
a concepção da linha de produtos
desenhos, pinturas, maquetes, colagens - quanto partir de um processo criativo baseado na pesquisa
está ligada a um pensamento
IANNI, Octavio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1997.
36 37
19. e na inovação. Mais do que
gerar produtos finais com forte
interferência do designer, esse
processo de capacitação deverá
estimular metodologias de criação
e desenvolvimento de produto.
A metodologia incluiu também
workshops para o desenvolvimento
de trabalhos em grupo e
identificação de lideranças.
Também fizeram parte dessa
etapa final: montagem da oficina
de criação e produção artesanal;
registro de todo o processo
através de fotografias e filmagens;
planejamento do catálogo, que
inclui a reunião de todas as
informações desde o processo
até o resultado final da coleção
e da oficina em funcionamento;
planejamento da exposição;
avaliação de todo o processo e do
resultado final; estabelecimento de
planos de continuidade do projeto
na escola específica e já início
do plano de ação para a próxima
escola do Aglomerado.
38 39
20. desdobramentos
Além de o projeto ser qualidade que foi comercializado pelas artesãs caixas de luz na cor preta, iluminadas por leds
resultado da Premiação Nacional individualmente. eletrônicos na parte interna. A exposição foi
no Concurso Unisol/Banco Real, ao muito bem-sucedida e, além da repercussão na
Como desdobramento das atividades mídia, fez as caixinhas de luz se tornarem mais
longo do trabalho conseguimos
acadêmicas envolvendo o projeto tivemos a um produto comercializável para o grupo.
uma parceria com a empresa Raiz
pintura dos muros da escola Padre Guilherme
da Terra, que desenvolve e produz
Peters pelo alunos da disciplina Núcleo de Enfim, projetos como este ressaltam a
camisetas ecológicas. A parceria
Projeto 2, do curso de Design Gráfico. As importância da participação da Universidade
consistiu no desenvolvimento de
imagens estampadas nas paredes da escola FUMEC em projetos de responsabilidade
estampas exclusivas pelas artesãs
foram resultado de oficinas realizadas com as social com uma atuação que abarque também
com o tema fauna e flora do
crianças e os adolescentes do Aglomerado, a pesquisa que tem o papel de consolidar
Aglomerado da Serra. A empresa,
focando em experiências de vida positivas as questões acadêmicas, metodológicas
além de produzir os modelos
de cada um. A pintura foi encerrada com um e conceituais para que os projetos de
de estampas criados por elas,
evento na própria escola, no qual a aluna extensão produzidos na própria universidade
apresentou a coleção em Paris, em
de Design de Moda Karina Leite apresentou relacionados ao tema (no caso o artesanato
um evento de moda ética. Esse
sua coleção de final de curso, toda feita com urbano) tenham embasamento teórico e
trabalho serviu para abrir portas
estampas criadas pelas artesãs especialmente projeção científica. Criam também um ambiente
comerciais para o grupo, além de
para as suas peças. O desfile envolveu alunos coeso entre pesquisa e extensão em torno
consolidar e divulgar a marca do
e familiares da comunidade, pois as modelos da idéia de um Artesanato Solidário para que
ASAS.
também foram escolhidas no próprio possamos atuar ativamente junto aos órgãos
As parcerias oficiais aconteceram Aglomerado. nacionais (e internacionais) de discussões
ao mesmo tempo que as fundamentais para o desenvolvimento
Outras atividades paralelas à criação da coleção econômico sustentável no País.
próprias artesãs começaram a
também foram desenvolvidas como um
comercializar as suas ecobags,
estímulo criativo e oportunidade de integração
que foram o primeiro produto
do grupo. Um exemplo foi a exposição
desenvolvido pelo grupo como
Aglomeradas, resultante de uma oficina de
exercício. A atividade, de início, foi
pinhole realizada na FUMEC pelo Prof. Alexandre
encarada como uma prática para
Lopes. Cada artesã fotografou com uma caixa
o exercício da técnica e acabou
de fósforo o seu cotidiano e essas imagens
formando mais um produto de
foram ampliadas em acetato e montadas em
40 41
22. identidade:
processo
construtivo
cris araújo
Técnica em Comunicação Visual pelo
Instituto de Arte e Projeto - INAP, cursando
7º período em design gráfico pela
Universidade FUMEC.
44
23. A identidade visual
ASAS foi desenvolvida a partir
da observação de fotografias
do Aglomerado da Serra.
Primeiramente foi realizado
um estudo das estruturas dos
barracões para, assim, podermos
retirar características para compor
as letras da identidade. Após esses
estudos iniciou-se um processo
de geração de alternativas para
adequação de letra/desenho.
Através das pesquisas locais
pôde-se perceber as seguintes
características passíveis de serem
transformadas em elementos
visuais: estruturas sobrepostas,
arranjos, diversidade de materiais,
becos e vielas, cores opacas, o
laranja constante dos tijolos e o
céu azul compondo a paisagem.
A partir desses elementos
iniciamos a construção da
identidade. A identidade teve
como característica blocos não
alinhados, espaços entre letras
fazendo alusão aos becos e vielas e
a estrutura grotesta que remete à
improvisação e à desuniformização
das casas aglomeradas.
46 47
24. becos e vielas
base estrutural: tijolos
ARTESANATO SOLIDÁRIO NO
AGLOMERADO DA SERRA
letras “blocos” desuniformes remetendo à estrutura dos barracões
cores:
LARANJA | cor da comunicação, simbolizando o projeto como agente
ARTESANATO SOLIDÁRIO NO
comunicacional na comunidade e também por ser a cor mais predominate no
Aglomerado, presente nos tijolos dos barracões.
AGLOMERADO DA SERRA
AZUL ACINZENTADO | cor que remete a segurança e estabilidade, fazendo alusão à
estruturação sólida do projeto proposto na comunidade e também por ser a junção
do azul do céu ao cinza do asfalto bem visíveis no Aglomerado.
49
25. psicologia
e a estruturação
do grupo
érica do espírito santo
Psicóloga, graduada pela Universidade
Federal de Minas Gerais, em agosto de
2005.
26. Meu nome é Érica Silva do jovens, pois as mulheres mais velhas eram quem O desenvolvimento do grupo parece ter sido modificado. Logo que cheguei, nos primeiros encontros, na fase
Espírito Santo, sou psicóloga, estava “tocando” o grupo e o projeto era focado de observação, percebi que o grupo estava ainda imaturo, esperando respostas dos professores e dos bolsistas,
graduada pela Universidade Federal para os jovens. Então este foi o primeiro ponto a como alunos que recebem o conhecimento que foram ali, na universidade, buscar. Agora estamos em agosto
de Minas Gerais em agosto de ser trabalhado com o grupo: definir quem era o e já percebo que foi assumido um papel pelo grupo, um pouco mais de iniciativa, de organização, ou seja,
2005. Desde que me formei venho grupo e qual seria seu papel. um pouco mais de autonomia. As oito mulheres que são o que chamo de “coração” do grupo já fizeram suas
procurando formas de aprimorar primeiras reuniões entre si, independentemente das professoras e dos bolsistas e parecem já participar mais
Por parte da equipe da FUMEC foi feita a ativamente desse trabalho que no futuro será o trabalho delas.
meus conhecimentos técnicos e
demanda para o trabalho com o grupo no
teóricos dentro de alguns campos
sentido de ajudá-lo a se fortalecer, para que ao O que percebo claramente é que houve uma mudança de um estado de dependência absoluta do grupo
da vasta área de abrangência
final do projeto tivesse autonomia para se manter em relação ao corpo de professores e alunos da FUMEC para um estado de dependência relativa, fazendo um
da Psicologia. Uma área em
sozinho, já que o objetivo é que elas sejam paralelo com as fases de desenvolvimento do indivíduo. E o objetivo deste trabalho é que este grupo continue
que comecei a trabalhar foi na
responsáveis por uma oficina de estamparia que caminhando no sentido de chegar a uma independência, para que possa caminhar pelas próprias pernas.
psicanálise, tanto individual quanto
será montada dentro do Aglomerado.
com grupos.
Acho importante destacar também a importância que percebo deste projeto para a auto-estima dessas
Ficou estabelecido que meu horário de trabalho mulheres, moradoras do aglomerado, que não tiveram oportunidade de cursar uma faculdade e, cada dia
Fui convidada a participar do
com o grupo seria todas as terças-feiras, às 14h, mais, se sentem capazes de, além de buscar novas possibilidades para suas vidas, passar o conhecimento que
projeto ASAS para atender a
horário combinado com o grupo para que não acumularam ao longo de suas vidas. Todas trazem uma bagagem que vão compartilhando aos poucos, vão se
uma demanda de trabalho com
houvesse atrasos. No início muitas se atrasavam. sentindo importantes dentro do que é valorizado no projeto, vão percebendo que elas são o valor deste projeto
adolescentes. A princípio foi o que
Aos poucos fomos criando um espaço de e se sentindo mais convictas para seguir adiante.
me chamou atenção para o projeto,
trabalho em que foram aparecendo as questões
pelo fato de eu já ter experiência
a serem trabalhadas e os incômodos. Fizemos Há dificuldades de horário, de tempo, de dinheiro para ir e vir, de aceitar as diferenças, de estabelecer regras –
em trabalhos anteriores com
oficinas de agrupabilidade, com a intenção de situações normais que acontecem com qualquer grupo que se proponha a trabalhar junto.
adolescentes do Aglomerado da
unir mais o grupo que ali se encontrava partindo
Serra. Meu primeiro encontro com Esse grupo tem traços fortes de união e de identidade entre si, por se tratar de mulheres maduras, em sua
da idéia de que o grupo eram aquelas pessoas
o grupo foi no dia 22 de março de maioria, habitantes da mesma região, que procuram no trabalho uma saída para o futuro.
que estavam ali, mesmo que isto contrariasse
2009, e logo foi esclarecido que o
a proposta inicial do projeto. Acredito que à Cada grupo tem uma estrutura e uma dinâmica. A estrutura é a forma de organização do grupo a partir da
projeto havia sido pensado para
medida que os participantes foram percebendo identificação de seus membros. Dinâmicas são as forças de coesão e dispersão do grupo, e que fazem com que
jovens, mas que tinha mudado de
que eles eram o grupo, foram se apropriando se transforme, o que inclui: formação de normas, comunicação, cooperação, divisão de tarefas e distribuição
foco. Acho importante tocar nesse
dele, foram assumindo papéis sem tanto receio de poder e liderança. Pretendemos fortalecer ainda mais os laços já estabelecidos dentro do grupo até o
ponto, pois percebi logo que era
de que esse lugar fosse tomado mais tarde pelos final do projeto. E, para o segundo semestre, foram programadas atividades que facilitassem a divisão de
um incômodo do grupo que estava
jovens. papéis, que já está sendo esboçada pelas participantes em suas reuniões; atividades que esclareçam as regras
lá, sete mulheres adultas e quatro
52 53
27. e normas estabelecidas pelo arcabouço teórico a fim de procurar respostas
grupo; atividades de facilitação para as perguntas que surgem a cada dia, para
da comunicação tanto dentro do expandir meu repertório de atividades e oficinas,
grupo quanto de dentro para fora busca de novos livros, textos. Gostaria de enfatizar
do grupo, ou seja, a comunicação também a importância da liberdade para trabalhar
do grupo com o mundo; atividades desde o início, o grande acolhimento do grupo
de clarifiquem as lideranças ainda da FUMEC, a compreensão quanto ao trabalho
mais e que promovam uma divisão que muitas vezes não deixa claro seus objetivos, e,
destas e do poder, a fim de que principalmente, a troca de conhecimento. Pois o
não haja impressão de injustiça campo da psicologia é aberto para tudo que vem
ou privilégio. O intuito é fazer com de enriquecimento em relação ao ser humano
que cada integrante participe de e acho que essa experiência proporciona esse
cada etapa e se sinta responsável crescimento para todos os envolvidos.
pelas escolhas que forem feitas.
É muito importante pra mim ver
que esse grupo já cresceu nesse
período e ainda crescerá muito
mais. Obviamente, tudo não se
deve ao trabalho psicológico que
vem sendo feito, mas ao trabalho
de toda a equipe e do próprio
grupo.
Para mim é importante participar
desse projeto pelo desafio, por
se tratar de um trabalho com
pessoas de outras áreas, com as
expectativas, com meus limites.
Ao longo do trabalho venho
procurando enriquecer meu
54 55
29. a estamparia
como
capacitação
profissional
éder jorge de almeida
Serígrafo e técnico da estamparia da
Universidade FUMEC.
58
30. Meu nome é Éder Jorge importância e grande aliadas na seleção natural ainda não foi conseguida, mas todos os exemplos de superação dados até o momento mostram que, com
de Almeida, sou serígrafo e dos que realmente têm compromisso com o o devido acompanhamento, em breve será conseguida. Vale lembrar que esse grupo, conseguiu absorver o
desenvolvo trabalhos para trabalho em equipe. conhecimento transmitido pelos colaboradores do “ASAS” com o devido suporte, conseguiu desenvolver seus
estamparia têxtil, com técnicas produtos e está pronto para enfrentar uma banca.
Foi uma grande e decepcionante surpresa ver
que vão desde a pintura artesanal,
que os mais jovens desistiram do projeto por Para aqueles que resistiram até agora, só tenho a agradecer pela tolerância e pelo carinho que sempre
passando pela serigrafia plana
não poder “esperar”, mas sei que a culpa não é demonstraram mesmo nos piores e mais difíceis dias de nossa parceria que só está começando. Para os que
manual, até os processos
deles. O projeto conjuga ações de educação e desistiram, espero que se encontrem e reconheçam a importância de somar as forças em prol da melhoria da
automatizados como carrosséis,
profissionalização objetivando um conseqüente qualidade de vida e do desenvolvimento.
planas e cilindros, além de
crescimento econômico e distribuição de
comunicação visual e gravuras.
renda, porém em longo prazo, e os mais jovens
Como educador, atuo em projetos
infelizmente não podem esperar, uma vez que
de inclusão social (Sol da Serra),
a realidade social é cruel e os obriga a traçar
capacitação profissional (Talentos
os próprios caminhos e, com certeza, só irão
do Brasil), qualificação profissional
perceber o quanto perderam quando for muito
(Mulheres Criativas) e figurino
tarde.
(Corpo Cidadão).
No decorrer das atividades tive medo
Quando comecei a desenvolver
também de que o grupo ficasse eternamente
o processo de estamparia dentro
dependente dos colaboradores e não
do projeto Artesanato Solidário
conseguisse a autonomia suficiente para entrar
no Aglomerado da Serra “ASAS”,
no mercado e enfrentar a concorrência em pé de
encontrei um grupo numeroso
igualdade, mas esse medo passou depois de ver
que em princípio me assustou,
que os remanescentes conseguiram superar os
pois era um número muito acima
conflitos internos e compreenderam que juntos
da capacidade do ateliê onde a
terão chances reais de se tornarem autônomos.
técnica seria desenvolvida, mas as
aulas teóricas que antecederam o A autonomia do grupo (Etelvina, Elzy, Maria
processo foram de fundamental do Carmo, Schirley, Susana, Joana e Gabriela)
60 61
32. depoimentos:
alunos bolsistas
da universidade
fumec
Ana Luíza Ferreira . Bruno Oliveira . Cris Araújo
Daniel Patrick . Eduardo Goulart . Felipe Franco
Joana Sanglard . Rafael Barbosa . Rodrigo Mattar
64
33. ana luiza ferreira . design de moda cris araújo . design gráfico
O Projeto ASAS coordenado pelas Participar do ASAS me proporcionou um grande constantes em nossos encontros;
professoras Natacha Rena e Juliana crescimento pessoal e acadêmico, possibilitando questões essas que se aperfeiçoaram
Pontes foi uma oportunidade maravi- um pensamento crítico em relação a minha a cada dia estimulando-nos a con-
lhosa em minha vida, tanto profis- opção profissional e a inserção social. Confron- tinuar na medida em que observáva-
sional quando pessoal. Aprendi muito tar minha formação acadêmica com a prática mos a absorção do conteúdo, tudo
com todo o grupo e especialmente através do choque de realidades tão distintas isso fez-me acreditar ainda mais no
com as artesãs. Acredito que como trouxe um aprendizado único, levando-me a de- design aliado ao artesanato como
profissional me tornei uma pessoa senvolver metodologias específicas de trabalho forma de transformação do sujeito,
melhor e mais humana e amiga. e a compreender a articulação entre o ensino, fazendo-o um agente cultural ativo,
Como já existia em mim a vontade de pesquisa e extensão. Descobertas de um novo transformador e confiante de suas
ajudar pessoas, acabei descobrindo olhar, questionamentos do que é belo, do que possibilidades criativas.
como me ajudar. E só tem agradecer é horrendo o que é conceitual, o que é grupo
a todo o grupo. e como se trabalha com ele, foram questões
bruno oliveira . ciência da computação daniel patrick . design gráfico
A oportunidade de participar do desenvolvimento de habilidades e conceitos O projeto Asas me proporcionou uma visão mais experiências têm acrescentado muito
ASAS surgiu em um momento de cada vez mais inovadores. Quando percebi, o crítica e ampla sobre projetos sociais sua eficá- na minha formação e vejo como
questionamento de diversos aspectos projeto, que havia se tornado um real desafio, cia, seus objetivos, metodologias e até mesmo a aprendizagem para toda a vida. Esse
do design, suas metodologias, con- colocando em xeque diversos posicionamentos recepção desse tipo de ação nas comunidades projeto abriu ainda mais a minha
textos e objetivos. Assim que entrei políticos, sociais, culturais, estéticos, havia tam- em que se desenvolvem. Além de aduzir alguns visão profissional para possibilidades
para o projeto fui apresentado a um bém influenciado atitudes tanto na minha vida conceitos a serem desenvolvidos na minha área de atuação no mercado de trabalho
universo de referências que não es- pessoal quanto na acadêmica. Novos materiais, de formação: O Design Gráfico. O empenho do além de ratificar a minha vontade de
perava: Hardt e Antonio Negri, Paola possibilidades, experimentações e conhecimen- grupo foi tão grande, que discussões teóricas seguir carreira acadêmica, levando-
Berestein Jacques, Michel Foucault, tos foram descobertos com o desenvolvimento sobre o modo mais efetivo de capacitação, me a pensar conceitos para colaborar
Gilles Deleuze, Felix Guattar, entre do projeto, e estes novos contextos foram (e conceitos, condução do projeto, processos com a área do Design/Artesanato, e
outros. Mais do que um aglomerado serão) definitivos para as minhas (futuras) de- criativos e principalmente prática de ensino se também de aprofundar as discussões
de técnicas e materiais, o artesanato- cisões profissionais: escolhas mais diferenciadas, tornaram cada vez mais presentes em corre- sobre metodologia de criação, ensino
design se mostrou ser uma área de sustentáveis e conscientes. dores da universidade e essa troca de vivências e e identidade cultural.
66 67
34. eduardo goulart . design gráfico como potencializadores de meu currículo, • evoluções no campo das inter-
enquanto aluno de Design Gráfico nesta aca- relações humanas, neste quesito que,
A alguns períodos acadêmicos atrás, meu papel, em simultâneo tempo ao que, por efeito cascata, me dá repertório
demia de ensino - são todos estes fatores que
em meados de 2007 quando, então, pelas mesmas vias, aprimorei e desenvolvi de ação, quando perante novos
marcaram minha experiência neste projeto
fui apresentado às coordenadoras parâmetros de composição pessoais, como desafios e rumos profissionais, dentro
social, político, cultural e conceitual.
do projeto ASAS - as professoras da criador imagético, lapidando e atravessando de meu caminho pessoal e de forma-
Universidade FUMEC Natacha Rena, níveis de evolução em meu trabalho, em De forma pragmática (coisa que o ASAS me ção acadêmica e intelectual.
primeiramente, e posteriormente minha função de Fotógrafo, que venho a ajudou substancialmente a desenvolver),
Juliana Pontes - eu, sim, deliberada- algum tempo desempenhando e desenvol- posso solidamente aqui testemunhar, quando Eu honestamente agradeço a todos
mente sabia e imaginava que esta vendo, na Vida. atesto que minhas habilidades foram noto- os envolvidos neste projeto - sem
seria uma ótima oportunidade, tanto riamente melhoradas, tanto tecnicamente, excessões: desde meus colegas de
de desenvolvimento acadêmico, Tendo a Universidade FUMEC e o projeto ASAS trabalho e também alunos da Univer-
quanto qualitativamente, como a pouco
quanto profissional. como plataformas de ações e articulações, sidade FUMEC, passando pelas co-
pontuei:
minha trajetória acadêmica e profissional ficou ordenadoras Natacha Rena e Juliana
Porém, não concebia a tamanha positivamente marcada entre antes e depois • uma maior desenvoltura na capacidade de Pontes, parceiros e profissionais de
distância que estava prestes a percor- deste intenso ano, onde muitas dificuldades realizar registros fotojornalísticos foi alcançada diversas áreas envolvidas voluntários,
rer, em caminhos e experiências, construtivas marcaram minha presença no por mim, como resultado desta experiência patrocinadores e responsáveis afins,
intrincados, dentro deste projeto de grupo de trabalho, que envolveu e envolve com o projeto, com o aprimoramento de até, finalmente, à razão de tudo que
extensão. alunos bolsistas, coordenadores, professores, habilidades composicionais e técnicas, assim aqui é apresentado : este grupo de
voluntários e, especialmente, um grupo pe- como as do cunho “relação corpo a corpo”, alunos e alunas que muito trouxe-
Cansativos e recompensadores - culiar de alunas e alunos, todos provenientes com os objetos fotografados, uma vez que, ram para nós todos, não somente
em vistas de um aprimoramento do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, intensamente, semana a semana por mais levando para si um valioso empode-
pessoal, no âmbito sócio-cultural, MG, que representaram o início de novos de um ano - a fio - e in-loco, estive clicando e ramento de vida e profissional, mas
aliado ao meu já citado almejado horizontes, no campo que diz respeito ao editando imagens de todo o processo desen- deixando, em contrapartida, extenso
avanço profissional, em novas bases entendimento sociológico que tanto gosto de volvido pelo grupo; terreno de atuação e experiências
de aplicações teóricas e articulações explorar, e aplico no que desenvolvo, profis- práticas e vivenciais, enriquecedores
práticas, nunca antes por mim prova- sionalmente, dentro do que venho criando e • um desenvolvimento de relações e contatos
para qualquer um de nós, emer-
das, até então. Como Fotojornalista intuindo em minhas visões do que costumo de trabalho mais sólidos, mais articulados, e
gentes profissionais, em vias de
deste longo e multidisciplinar projeto chamar ‘fotojornalismo poético’. conseqüente enriquecimento de meu cur-
solidificação conceitual, cultural e
de extensão da Universidade FUMEC, rículo, como profissional da Imagética e de
humana, em nossas áreas de atuação
em parceria com o Banco Real e a Conversas, amizades formadas. Experiências Design Gráfico ;
individuais. Certamente assim o foi, e
ONG UNISOL, pude desempenhar trocadas e co-vividas. Momentos solidificados
continua a ser, para mim.
68 69
35. oficinas, biblioteca, cantina, etc, fazendo
felipe sales melo franco . design de produto nossos olhos e aos moradores da
analogias com os percursos da favela; os dois comunidade, de exaltar o que há de
No período de um ano só aprendi. contextos (favela e universidade) possuem bom na favela, trazendo novas pos-
Não foi fácil como pensei, o que é seus atalhos, caminhos peculiares, traçados e sibilidades de renda e trabalho.
muito bom! Aprendi a respeitar o percursos, becos e trajetos sem saída.
próximo, a ver realidades e mundos Outro ponto fundamental é a
distintos no mesmo lugar. Aprendi a E como será viver na favela onde todo mundo multidisciplinaridade que existe no
pintar, fazer contas, criar, sorrir, dizer é igual e “alguns não existem”, segundo relato projeto, proporcionando um apren-
não. Aprendi que, por mais tarde que de uma moradora sobre os constantes “gatos dizado mútuo pela união de diversos
seja, conseguimos mudar, aprender, de luz” feitos: “sabe como eu descobri que o lugar conceitos e preceitos, e também a
ter esperança. Aprendi a planejar, em que eu moro não existe no mapa? A CEMIG eficácia da ação, contribuindo para
executar, trabalhar em equipe. cortou a luz, fizemos gato, daí levaram embora, e uma melhoria efetiva da comuni-
Aprendi a ajudar, ser ouvido e ouvir. fizemos gato de novo, falaram que o Beco Gomes dade do Aglomerado.
não existe no mapa, será que eu não existo?”.
Portanto são muitas as lucubrações sobre as
inconstâncias da favela, é terra de ninguém,
logo, de todos.
joanna sanglard . design de produto
Do individual ao coletivo, metodologias
Fazer parte do projeto ASAS é para utilizar minha profissão, todos esses anos de fac- começam a ser propostas por eles mesmos, inserir foto
mim uma experiência a que nada uldade para ajudar pessoas menos favorecidas, um sinal de que enxergam que o ponto gera-
é comparável. Primeiramente a pois ajudando os outros eu ajudo a mim mesma, dor (e inspirador) de todo esse processo é nada
estranheza e ao mesmo tempo a uma vez que estamos todos interconectados. mais que seu contexto e suas possibilidades. É
curiosidade de poder transformar interessante ver como mergulham no mundo
uma realidade que é tão diferente Nas primeiras visitas ao Aglomerado me intriga-
em que sempre viveram, mas de uma forma
da minha, e através deste processo va pensar em como aquele império é construído
diferente agora.
de transformação vir a me conhecer dia a dia, retalho a retalho, com seus constantes
cada dia melhor. Acredito que a puxados e achados das ruas. Outra experiên- A cada dia dessa vivência surgem novos
vivência dessa alteridade entre mun- cia significativa foi o vice-e-versa, quando as questionamentos, caminhos e possibilidades,
dos tão diversos possibilitou definir pessoas do Aglomerado vieram a primeira vez dando a oportunidade a nós, estudantes, de
minha linha de atuação no mercado à universidade conhecer o meu então “mundo atuarmos na realidade que está debaixo dos
como designer. É muito bom poder formal”. Percorremos laboratórios, salas de aula,
70 71
36. rafael barbosa . design gráfico
Comecei a participar oficialmente do mais consolidada e o papel de cada integrante
projeto de extensão ASAS no dia 4 de está sendo bem determinado pelas moradoras
março de 2008, participei do projeto do Aglomerado da Serra. Tenho o objetivo de
até o fim do mês de junho e retornei ao contribuir não só na área de design gráfico, da
grupo em outubro. Analisando minha qual fui encarregado, mas também nas relações
experiência, percebo que o projeto entre os alunos da universidade e os moradores
tem ótimas perspectivas. O grupo de do Aglomerado da Serra, pois percebo que o
trabalho constituído pelos alunos da trabalho em grupo e o convívio entre pessoas
FUMEC é bem dividido e as tarefas são de realidades sociais tão diferentes é um desafio
delegadas de acordo com o perfil e a diário. Tenho ótimas perspectivas para esse
habilidade de cada voluntário. Posso trabalho e acredito que, se o empenho de cada
relatar que durante os quatro meses envolvido for desenvolvido em conjunto com o
em que fiquei fora o grupo evoluiu grupo, realizaremos as metas do projeto ASAS
muito, a associação “Aglomeradas” está com excelência.
rodrigo franco mattar . design de produto
Vejo esse projeto social como uma pesquisar materias, tendências e funcionalidade
excelente oportunidade de colocar para os produtos desenvolvidos. Paralelamente
em prática muitos conhecimentos ao objetivo de fazer com que as aglomeradas,
adquiridos no meio acadêmico, após o projeto, possam continuar desenvol-
podendo ser usados de uma forma vendo um trabalho inovador e de uma forte
profissional, já que o ASAS funciona identidade de pessoas que vivem o dia-a-dia de
como uma pequena empresa, com uma periferia, acredito que o sucesso futuro será
projetos, produtos, prazos, público- de todos os envolvidos, pois o convívio e a troca
alvo e profissionais com cargos e fun- de experiências não só colaboram para a estru-
ções distintas. O desafio de preparar turação de uma comunidade como também
as aglomeradas para um mercado enriquecem o conhecimento dos estudantes e
consumidor que é cada vez mais mestres, que colherão os frutos dessa vivência,
exigente faz com que os bolsistas se adquirindo uma visão muito mais ampla e um
dediquem ao máximo, tendo que repertório mais consistente.
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38. eco-bags
joana sanglard | Graduada em design de produto pela Universidade FUMEC
O primeiro produto desenvolvido pela equipe pelo caminho peças, retalhos e superfícies que
do grupo ASAS foi uma coleção de eco-bags, possam ocasionar uma proteção quando unidas,
acompanhando uma tendência ecológica e política as eco-bags são fruto da hibridização de diversas
mundial contra o uso das sacolas plásticas para técnicas, conceitos, histórias e memórias.
compras de supermercados. A produção dessas
bolsas fez parte da disciplina optativa dos cursos de Entre vielas e becos, arranjos e acasos, a vida de
design Artesanato e Design. Alunos da disciplina quem mora na favela está entregue ao acaso,
construíram workshops semanais numa seqüência não importa o fim, vive-se da incompletude.
lógica que auxiliasse na criação e confecção das Essa fragmentação e o senso de incompletude
bolsas. estão fortemente presentes nos produtos
desenvolvidos. Desenhos inacabados, costuras
A elaboração conceitual presente na construção enviesadas, borrões, sobreposições de bordados,
dessas bolsas se assemelha à forma de surgimento e colagens e estêncil.
desenvolvimento das favelas através da “bricolagem”,
explicada por Paola Berenstein no livro “Estética da A partir de cada uma das oficinas trabalhadas
Ginga”; coletivamente (pontos, linhas, rabiscos, cores,
texturas, colagens, observação, modelagem,
“O acaso é parte integrante da idéia de bricolagem; é o apliques, estampas e bordados) as bolsas criadas
incidente, ou seja, o pequeno acontecimento imprevisto, por cada uma das aglomeradas tomaram formas
o “micro-evento”, que está na origem do movimento. únicas, apresentando tanto uma expressividade
Bricolar é, então, ricochetear, enviesar, zigue-zaguear, singular, quanto um produto contaminado
contornar.” (JACQUES, apud BERENSTEIN, 2003, p.24) pelas trocas resultantes das orientações dos
professores, dos alunos da disciplina, dos colegas
Assim como os barracos nas favelas são construídos da favela e dos alunos bolsistas do projeto ASAS.
aos poucos e à medida que as pessoas encontram
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