Sociologia Capítulo 19 - Mesclando Cultura e Ideologia
Diversidadecibernetica
1. Diversidade cultural e o universo
digital
Parte 2: ideias da cibernética
Rafael Evangelista
Antropólogo e jornalista
Labjor/Unicamp
2. - Surgimento e ideias principais da cibernética
- Computadores: de mainframes a computadores
pessoais e a influência da contracultura
- Cultura da rede: a infraestrutura material
3. Cultura cibernética?
A partir da discussão anterior, relacionar as
ideias, valores e visão do humano (máquina
informacional?) da cibernética com um ambiente
cultural amplo que abre espaço e estimula uma
certa diversidade cultural calcada na
comunicação e na produção de informações
sobre si
4. Norbert Wiener – 1948 - “Cybernetics: Or Control
and Communication in the Animal and the
Machine
5. - Feedback e feedback loops: “descrever todo
dispositivo puramente informacionalcapaz de
ajustar seu comportamento em razão da análise
que fazia dos efeitos de sua ação”
- Feedback seriam: “fonte de todo comportamento
inteligente” e o “apanágio de máquinas tão
evoluídas quanto os seres vivos”
6. - Metáfora homem (ser vivo) com as máquinas
- “Wiener falava ainda de “comportamento” no
sentido de “comportamento de troca de
informação”. “Comportamento” já era uma noção
antiga, desenvolvida pela escola behaviorista,
cujo credo era a renúncia de toda “interioridade”
do homem em benefício de uma ciência do
“observável””
- Relações, trocas de informação
7. - O projeto utópico que se articula em torno da
comunicação é ambicioso. Desenvolve-se em
três níveis: uma sociedade ideal, uma outra
definição antropológica do homem e uma
promoção da comunicação como valor. Esses
três níveis se concentram em torno do tema do
homem novo, que chamaremos de Homo
communicans.
8. - O Homo communicans é um ser sem interior e
sem corpo, que vive em uma sociedade sem
segredo; um ser totalmente voltado para o social,
que só existe através da troca e da informação,
em uma sociedade tornada transparente graças
às novas "máquinas de comunicação". Essas
qualidades de homem da comunicação, que
contribuem para fomentar o ideal do homem
moderno, surgem como alternativas à
degradação do humano produzida pela tormenta
do século XX.
9. - Metáforas sobre a vida para pensar as
máquinas <--> metáforas sobre as máquinas para
pensar a vida
- Máquinas e homens em um mesmo status
existencial comparável
- Produção da identidade pela diferença de sinais
de comunicação
11. - História do Vale do Silício: da contracultura à
cibercultura
- Cultura da internet: blogs, wikipedia, software
livre, colaboração/competição, bens comuns,
democracia, liberdade, meritocracia, poder,
maioria, redes, de baixo pra cima, tecnologia
como solução para todos os problemas, má
comunicação como fonte de todos os problemas
12. - Fred Turner (2006) analisa uma das publicações
pioneiras e mais influentes da Califórnia, o Whole earth
catalog. Editada em forma de catálogo, tinha uma
estrutura que, mais tarde, Steve Jobs, da Apple, iria
comparar a um mecanismo de busca offline. Um de seus
editores era Kevin Kelly, que depois seria cofundador da
Wired, reputadamente a revista símbolo do Vale do
Silício. Mas Turner não se detém a um escrutínio da
publicação; ao contrário, refaz toda uma trajetória
histórica que busca entender que tipo de confluências
políticas, culturais e de atores levaram do movimento da
contracultura à cibercultura.
13. - Recusa comum da geração 60 a um mundo da Guerra
Fria associado à burocracia. Esta era ligada ao
militarismo, ao mundo corporativo tradicional ou mesmo
acadêmico, como espelhos que se refletem, em que as
pessoas eram ensinadas a “desempenhar um papel
específico em uma estrutura organizacional”. Esse
treinamento domaria a natureza complexa e criativa dos
indivíduos, transformando-os na chatice unidimensional
de um cartão de um computador mainframe IBM. Por
sua vez, desumanizados, dessensibilizados, os
indivíduos formariam as peças autômatas da máquina de
guerra que jogou a bomba em Hiroshima e levava a
cabo a Guerra do Vietnã.
14. - Darwinismo social do Vale do Silício: ideia de mundo
como selva competitiva, em que os melhores/mais
adaptados sobrevivem e o mundo, em consequência, é
melhor
- A pista para entender como o esquerdismo hippie dos
anos 1960 desemboca em uma visão de mundo muito
mais sem compaixão como a do darwinismo social está
na diferenciação que Turner faz entre a “nova esquerda”
e o que ele chama de “novo comunalismo”, ambos
formados durante o mesmo período, por uma geração
herdeira da fase mais dura da Guerra Fria, que
compartilha a aversão ao autoritarismo e,
principalmente, à guerra.
15. - A “nova esquerda” teria nascido ao sul profundo dos Estados Unidos,
abraçado o ativismo, participado da luta política e estaria ligada ao
movimento pela liberdade de expressão. Já os “novos comunalistas”
teriam surgidos de movimentos de construção de comunidades
alternativas, marcadas pela poesia e ficção beat, zen-budismo e, a partir
dos anos 1960, experimentação com drogas psicodélicas. Os “novos
comunalistas”, “mesmo quando se estabeleceram em zonas rurais,
quando retornaram pra casa, frequentemente, adotaram práticas
colaborativas, a celebração da tecnologia e a retórica cibernética da
pesquisa academico-militar-industrial do mainstream”. Os dois grupos
foram confundidos sob o mesmo nome contracultura, porém, enquanto
para a “nova esquerda” a “verdadeira comunidade e o fim da alienação
eram geralmente pensados como resultado da atividade política”, para o
“novo comunalismo”, a política era, na melhor das hipóteses, um ponto
supérfluo e, na pior, parte do problema.
16. - “Há uma qualidade informacional que defina a
cultura do século XXI?”
Tiziana Terranova, Network Culture
- Dois problemas: uma cultura pode definir um
século?; saber o que é essa “qualidade
informacional”
17. - Terranova vai elencando elementos de
“diferença” típicos da cultura do séc. XXI:
* informação não como verdade e relevância, como tratavam os
jornalistas do séc. XX, mas como preservação do sinal frente ao ruído
* Ciências da vida reorientadas para “superar a entropia”. Vida como
questão informacional
* Superfragmentação em lugar da imitação: do analógico ao digital.
Novas réguas
* Internet não como uma mídia entre várias, mas como o desenho geral
para o processo que dirige a globalização da cultura e da comunicação
em sentido amplo
* Espaço como a biofísica de sistemas abertos
18. * Mais do que a compreensão do espaço e do tempo, a questão das
múltiplas e perecíveis identidades mascadas pelos diferentes
pseudônimos/IPs/gadgets
* “É quase como se o espaço aberto da internetworking fosse uma
solução técnica, não apenas a incompatibilidades de software e
hardware mas também para tensões introduzidas pela celebração
posmoderna da diferença”
* Se na posmodernidade a diferença se torna um valor agregado...
Como produzir a diferença com engajamento, quando a tendência se
mostra ser a decomposição do social em enclaves e identidades
fechadas, coexistindo mas não interagindo com outras fora da mediação
dos símbolos e da hostilidade das tensões culturais?
* Life – o trabalho e as redes gerenciados como sistemas vivos
http://www.people.nnov.ru/fractal/Life/Game.htm