Este documento discute as causas e medidas para combater o insucesso escolar. Analisa entrevistas com duas professoras que destacam a influência do meio socioeconômico e do apoio familiar no sucesso dos alunos. As famílias com dificuldades tendem a desinteressar-se pelos estudos, enquanto os professores devem motivar cada aluno e a escola oferecer um bom ambiente de aprendizagem.
1. Ciências da Educação II - Organização e Administação Escolar Docente: António Bento Insucesso Escolar Trabalho elaborado por: Raquel Camacho Liliana Vieira Fátima Andrade Natércia Camacho
2. Resumo Este artigo visa um estudo cujo objectivo principal é analisar, descrever e compreender o insucesso escolar. Esta análise tem como finalidade responder a quatro questões, que, no fundo, conduziram todo o trabalho.
3. Resumo (continuação) Neste artigo discutiremos as manifestações e as causas que conduzem os alunos ao insucesso a nível escolar. E também iremos apresentar algumas medidas de combate a esse insucesso tão frequente na nossa sociedade e ao mesmo tempo tão indesejado.
4. Resumo (continuação) A investigação baseou-se, ainda, em duas entrevistas feitas a duas professoras, uma do ensino secundário e outra do ensino especial. A análise dos dados recolhidos nas entrevistas e a disposição das conclusões foram feitas conforme a visão de cada professora sobre fenómeno do insucesso.
5. Introdução A crescente onda de insucesso escolar que tem ocorrido nos últimos anos, na nossas escolas, tem levado uma enorme reflexão e investigação sobre esse tema. Há insucesso escolar sempre que um aluno tem dificuldades constantes em acompanhar a aprendizagem. Essas dificuldades, por vezes, advêm de factores sociais, económicos, familiares e culturais.
6. Introdução (continuação) Segundo Reina Pereira, o insucesso escolar apresenta cinco características: - Massivo (distribui-se por uma considerável massa populacional escolar); - Selectivo (a população desfavorecida é a que apresenta maior insucesso escolar); - Precoce (já se verifica na escola primária); - Constante (alarga-se por todos os graus e tipos de ensino); - Cumulativo (quem já reprovou uma vez, tem maior probabilidade de reprovar novamente).
7. Introdução (continuação) Segundo Ana Benavente (1989), na década de 60, o insucesso é explicado pelas maiores ou menores capacidades dos alunos, pela sua inteligência, pelos seus dotes naturais, pela pertença social e pela maior ou menor bagagem que os alunos dispõem, quando estes ingressam na escola. No entanto, nos anos 70, Benavente concluiu que os alunos têm capacidades diferentes o que obriga a terem diferentes ritmos de aprendizagem.
8. Introdução (continuação) A definição de insucesso escolar foi evoluindo ao longo dos tempos e hoje, os pedagogos já estabeleceram alguns casos que podem ser considerados como insucesso, propriamente dito. Tais como: - Desinteresse do aluno; - O aluno não gostar da escola; - Falta de atenção; - Absentismo; - Dificuldades de aprendizagem; Os alunos com necessidades especiais, também são considerados como casos de insucesso, embora não se considere a deficiência como tal.
9. Introdução (continuação) Neste trabalho foram formuladas quatro questões que, no fundo, conduziram todo o estudo e investigação: Quais são as principais causas do insucesso escolar? Será a escola um agente “filtrador” da sociedade? A quem imputar a responsabilidade do insucesso escolar? Como combater o insucesso?
28. Sociedade A nossa sociedade actual assenta num conjunto de valores que desencorajam o estudo e promovem o insucesso escolar, tais como, a diversão, o individualismo, o consumismo, etc.
32. Para Pierre Bourdieu e Jean-ClaudePasseron, em OsHerdeiros, “os estudantes mais favorecidos não só devem ao meio de origem os hábitos, o treino e as atitudes que lhes são mais úteis nas tarefas escolares, mas herdam também saberes e um savoir-faire, gostos e um bom gosto, cuja rentabilidade escolar, embora indirecta, não deixa de se verificar.”
33. Baudelot e Establet, em L’ÉcoleCapitalisteenFrance, fazem a distinção entre dois canais de escolarização completamente opostos e que se destinam a duas classes diferentes (classe social dominante e classe social dominada).
34. Segundo Andreia Nascimento (2007), “a escola, apesar de existir para oferecer iguais oportunidades a todas as crianças, mais não faz do que reproduzir a lógica do sistema social, ou seja, as desigualdades sociais existentes. Para as crianças de meios sociais problemáticos a escola é, salvo raras excepções, factor de insucesso escolar, o qual, por sua vez, vai impulsionar a exclusão social”.
35. A quem imputar a responsabilidade do insucesso escolar? O insucesso escolar não é um fenómeno natural, não é previsível, nem é desejável. É um fenómeno produzido por acções humanas, mas sendo um fenómeno indesejado, ninguém quer assumir responsabilidades.
36. Rovira (2004) questiona “fracassam os indivíduos, ou fracassa a sociedade, a escola e as políticas educativas?” Segundo Alice Mendonça (2009), o insucesso escolar resulta de um conjunto de factores sociais e culturais que actuam em conjunto e de modo coordenado. O insucesso escolar não existiria sem essa coordenação de factores. De uma forma geral, o aluno é o menos responsável pelo seu próprio insucesso e, ao mesmo tempo, o mais prejudicado.
37. Como combater o insucesso? O tema “Insucesso Escolar” é relativamente recente no nosso país, tendo sido tomado em conta após a queda do regime salazarista. Perante as consequências negativas que acarreta o insucesso, é necessário mobilizar todos os nossos esforços para tentar diminuir este fenómeno que tanto preocupa os nossos estudantes, as famílias e o país. Mas eis que surge a grande questão: como combater o insucesso escolar?
38. Segundo Elsa Fernandes (2006), “vivemos num mundo cada vez mais informatizado e dependente das novas tecnologias de informação. Torna-se vital a valorização de novos objectivos educacionais e a redefinição dos processos de ensino e modos de actuação dos professores”
39. Com a implementação das novas tecnologias, o papel do aluno volta a ser mais relevante e motivador, indo em contra com o conceito básico do ensino tradicional, onde o professor exercia o papel principal, sendo as aulas frequentemente expositivas e com pouca interacção. Como a evolução tecnológica é uma realidade bem assente nos nossos dias, cada vez mais se utiliza a tecnologia nos conteúdos curriculares, pois esta permite a diversificação das actividades facilitando assim a resolução de problemas e permitindo uma maior participação do aluno no processo de ensino/aprendizagem.
51. Metodologia A primeira entrevista foi feita a uma professora de secundário, na escola dos 2º e 3º ciclos de S.Roque, e a segunda a uma educadora do ensino especial, na escola primária do Lombo dos Aguiares. A recolha dos dados efectuou-se com apoio no material disponível: um gravador áudio e um bloco de notas.
52. O que se pretendia com as entrevistas? - Perceber até que ponto o meio onde está inserida a escola influencia o sucesso do aluno; - Compreender a importância da família na motivação da criança/jovem; - Caracterizar o comportamento dos alunos com mais dificuldades; - Analisar a relação Percurso de vida -> Desigualdades na Escola; - Analisar qual o papel do professor, da família e da escola no sucesso/insucesso do aluno;
53. As Entrevistas Guião de Entrevista 2ª 1ª Entrevista Professora de Secundário 2ª Entrevista Educadora do Ensino Especial
54. À conversa com as professoras… Na primeira entrevista, com a professora de secundário, pode-se reparar que o meio onde está inserida a escola é um meio problemático, com famílias que dependem exclusivamente do rendimento mínimo e onde os problemas familiares (toxicodependência, alcoolismo, …) se acumulam. Nestas famílias há um desinteresse evidentes perante os estudos dos filhos e, consequentemente, os resultados destes mesmos alunos tendem a ser negativos, demonstrando desta forma que a família tem muita influência no sucesso/ insucesso do aluno.
55. Para esta professora a igualdade no ensino é uma hipocrisia, pois os diferentes percursos de vida não proporcionam essa igualdade. Deste modo, podemos dizer que são os alunos com percursos de vida mais difíceis que apresentam uma maior dificuldade na aprendizagem. São alunos que se caracterizam pela falta de motivação, por uma auto-estima muito baixa e que apresentam muita dificuldade em se relacionar com os outros.
56. Os professores, por seu lado, têm um papel fundamental, pois têm que descobrir o lado bom de cada aluno para evidenciar as suas melhores qualidades. Segundo esta professora, a família também deve ser capaz de motivar o jovem, de forma a que a escola possa fazer o seu papel: preparar cidadãos para serem capazes de intervir socialmente, tendo em conta as competências científicas, os valores e atitudes.
57. À conversa com as professoras… Na segunda entrevista, a educadora do ensino especial caracteriza o meio onde está inserida a escola como sendo uma zona com muitos problemas económicos, mas onde os pais são interessados na educação dos filhos. Alguns pais, porém, sentem-se frustrados pela sua situação económica e acabam por transmitir essa frustração aos filhos, que tendem a ser crianças muito agressivas.
58. Segundo esta professora, a origem social e económica é determinante no desempenho escolar, assim como acha fundamental o apoio da família aos alunos. Já os professores têm o papel de socializar e de dar o poder de escolha ao aluno. A escola, por seu turno, deve proporcionar um bom ambiente às crianças e criar uma relação com estas. Só assim é que elas vão estar preparadas para aprender.
59. Algumas considerações Da análise destas duas entrevistas, concluímos que o nível socioeconómico dos alunos é muito importante no sucesso/insucesso destes no meio escolar. As famílias têm um papel preponderante, pois a elas cabe motivarem as crianças e jovens e incutirem neles a ideia de que a escola é um meio para alcançar os seus objectivos. Quando não há este incentivo por parte da família, dificilmente o aluno terá bons resultados a nível escolar.
60. O comportamento destes alunos com mais dificuldades caracteriza-se pela falta de motivação, pela agressividade e pela dificuldade em se relacionarem com os outros. Estes comportamentos advêm dos percursos de vida que tiveram, o que determinou desde logo o seu insucesso, pois o nosso sistema não está adaptado a esses alunos. Deste modo, temos alunos oriundos de classes sociais e económicas diferentes a frequentar a mesma Escola. Os mais favorecidos têm sucesso, os desfavorecidos não. Assim, não podemos falar em igualdade no ensino, já que os percursos são diferentes.
61. A escola, por sua vez, terá o papel de diminuir as diferenças sociais de que falámos anteriormente, de modo a que a igualdade de oportunidades seja uma realidade. Na prática isto não acontece, pois a escola produz o que a sociedade lhe impõe. A sociedade necessita de indivíduos para todos os cargos e cabe à escola fazer essa distribuição. O professor, além de fornecer conteúdos científicos, deverá ter o papel de incentivar e motivar o aluno e incutir nele valores que o tornarão num bom cidadão.
62. Questões 1- O aluno é o maior responsável pelo seu próprio insucesso. Verdadeiro Falso
63. Questões 2- A escola deveria ter o papel de: a) Perpetuar a estrutura da sociedade; b) Proporcionar a igualdade de oportunidades; c) Facilitar a transição de ano dos alunos; d) Distribuir os alunos pelos diferentes postos de trabalho;
64. Questões 3- O poderia ser feito para combater o insucesso escolar? Adoptar novos meios para incentivar os jovens a explorarem e a pesquisarem, de modo a verem escola algo estimulante e não uma obrigação. Poderiam ser tomadas medidas tais como a redução do número de alunos por turma, o desenvolvimento de actividades culturais e a valorização de outros meios de avaliação, não dando tanto ênfase às provas escritas. Estas são apenas algumas sugestões que achamos que seriam benéficas no combate ao insucesso, mas temos noção que muitas outras poderiam ser apontadas.
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68. Referências bibliográficas Geral: BENAVENTE, Ana, et al. (1994), Renunciar à Escola – O abandono escolar no ensino Básico, Lisboa, Fim de Século Edições LE GALL, André (1993), O Insucesso Escolar 2ª Edição, Lisboa, Editorial Estampa MENDONÇA, Alice Maria Ferreira (2006), A problemática do Insucesso Escolar: a escolaridade obrigatória no arquipélago da Madeira em finais do séc. XX (1994-2000), Dissertação para a obtenção de grau de Doutor em Sociologia da Educação, Funchal, Universidade da Madeira ROVIRA, José Maria Puig (2004), “Educação em Valores e Fracasso Escolar”, in Álvaro Marchesi e Carlos Hernández Gil et al., Fracasso Escolar – Uma Perspectiva Multicultural, Porto Alegre, Brasil, Artmed Editora, pp. 82/90
69. MENDONÇA, Alice (2009), O Insucesso Escolar: Políticas Educativas e Práticas Sociais, Um estudo de caso sobre o Arquipélago da Madeira, Edições Padago, LDA NASCIMENTO, Andreia (2007), A Sala de Aula Fragmentada: A (des)responsabilização dos agentes educativos no fenómeno do Insucesso Escolar, Relatório de projecto com vista à obtenção do grau de Licenciatura em Sociologia, Lisboa, Universidade Autónoma de Lisboa BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude (s.d), A Reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino, Lisboa, Veja CANÁRIO, etal (2001), Escola e exclusão social, Lisboa, Educa, I.I.E.