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CENTRO UNIVERSITÁRIO – FMU 
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL 
CAMILA SALAMIM 
MILKA SILVA 
HIP HOP: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, RESISTÊNCIA E JUVENTUDE. 
São Paulo 
2013
CAMILA SALAMIM 
MILKA SILVA 
HIP HOP: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, RESISTÊNCIA E JUVENTUDE. 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Centro Universitário FMU, Curso de Serviço Social, como exigência para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social sob orientação do Profº. Msº. Marcelo Gallo. 
São Paulo 
2013
Ficha catalográfica 
SALAMIM, Camila Victorio; SILVA, Milka. Hip hop: Participação política, resistência e juventude. São Paulo: Centro Universitário FMU, 
Curso de Serviço Social, Trabalho 
de Conclusão de Curso, 2013, 186 páginas. 
Hip hop, participação política, resistência e juventude
CAMILA VICTORIO SALAMIM 
MILKA SILVA 
HIP HOP: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, RESISTÊNCIA E JUVENTUDE. 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Centro Universitário FMU, Curso de Serviço Social, como exigência para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social, sendo da banca a orientadora Profº. Msº. Marcelo Gallo e leitoras Profª Drª Elza Koumrouyan e Profª Msª Roberta Vilela Moreno. 
São Paulo, 13 de Junho de 2013. 
___________ 
Nota 
___________________________________________________ 
___________________________________________________ 
___________________________________________________
Aos nossos filhos Matheus Victório Santos e Geovani Silva Lemes.
AGRADECIMENTOS 
Agradeço a Deus por ter me dado as forças necessárias para concluir essa etapa tão importante na minha vida. Agradeço aos meus pais: Mirian Maria (in Memórian) e Severino Joaquim (in Memórian), por terem me dado à luz, mas principalmente, por tudo que poderíamos ter vivido se a vida tivesse nos permitido. Por tudo que a memória de vocês significa e simboliza na minha vida! Agradeço aos meus familiares, meus irmãos: Luana Silva, Silvia Patrícia, Sandro Roberto e Jaqueline Miriam e a todos os meus sobrinhos pessoas importantíssimas e fundamentais para a realização deste objetivo. Agradeço também, a minha sogra Eunice Pereira, por ter me ajudado de todas as formas nos cuidados com meu filho, nesses momentos em que precisei me ausentar. Agradeço, imensamente e com todo o amor que há em mim, ao meu esposo Renato Lemes e meu filho Geovani Silva por terem sido os melhores companheiros e incentivadores que uma pessoa pode ter, por terem compreendido meus momentos de ausência e por acreditarem na minha capacidade de vencer os obstáculos que foram surgindo durante o processo da minha formação profissional. 
E também, agradeço ao orientador Marcelo Gallo, por ter assumido a direção desse trabalho no momento mais crítico de sua construção e, mesmo assim, ter tido a paciência e a gentileza de nos auxiliar e nos apoiar. Agradeço a todos os professores do curso que contribuíram ao longo desse processo, mas, especialmente à professora Elza Koumrouyan e a professora Maria Lúcia Mira, e às minhas supervisoras de campo de estágio, Cassia Maria Gellerth e Regina Célia de Souza, profissionais competentes que levarei como exemplos e referências para o meu exercício profissional e minha vida pessoal também. 
À todos os integrantes do Fórum de Hip Hop Municipal de São Paulo, por terem nos recebido e contribuído imensamente, de forma rica e provocativa para o processo da nossa pesquisa, dos quais sem a cooperação e a colaboração nada disso teria sido possível. Muito Obrigado! 
E, finalmente, agradeço a todas as companheiras de sala, sem exceção, meu muito obrigado! Mas, principalmente à Camila Salamin por ter me acompanhado durante todo esse período, e ter acreditado no tema e aceito o desafio de me acompanhar na construção desse trabalho, e, sobretudo, por ter acreditado na gente em todas as vezes que nem eu mesma acreditava! 
MILKA SILVA
AGRADECIMENTOS 
Muitas pessoas contribuíram para a concretização deste trabalho, espero assim não esquecer ninguém. Primeiramente agradeço aos professores que permearam toda a minha formação em especial para a Prof.ª Elza Koumrouyan e a Prof.ª Maria Lúcia Garcia Mira. Outra docente que não poderia deixar de lembrar o orientador Prof. Marcello Gallo, um obrigado especial, pela dedicação e incentivo que nós levaram ao final desse trabalho. 
Agradeço a todas as pessoas de maneira direta ou indireta fizeram parte do meu estágio, em especial á Maria José Marino e Luciana Stocco, por toda a competência, ética e compreensão, pois, durante este processo de formação, nutriram meus primeiros passos rumo à minha futura atuação. Não poderia deixar de expressar minha gratidão aos militantes do Fórum Municipal de Hip Hop, falar o quão frutífera foi essa companhia e a todas as conversas de valor inestimável que pude participar. Sou devedora também a todos (as) companheiros (as) da graduação, e a enriquecimento a partir de debates, questionamentos, impasses que enfrentamos durante esses três anos e meio de curso. E a uma amiga em particular Milka Silva por aceitar esse desafio de escrever este trabalho, pela sua companhia, paciência, dedicação e a confiança durante esse processo, e mais do que isso pela pessoa que você realmente é. A toda minha família, aos meus irmãos e em especial a minha mãe Deise, que sempre esteve ao meu lado e nunca, nunca mesmo desistiu, obrigada. Ao meu esposo Christiano e ao meu herói Matheus, agradeço por enfrentarem esse desafio ao meu lado e peço perdão pela minha ausência que se fez necessário. Enfim, a todos que estiveram comigo nesse percurso, aos velhos e novos amigos de sempre, o meu profundo respeito e afeto. 
CAMILA SALAMIM
RESUMO 
Este trabalho irá fazer uma reflexão sobre como a dimensão política da cultura Hip Hop pode fornecer aos jovens elementos para intervir na realidade. Faremos uma reflexão histórica sobre o Hip Hop como ele está vinculado à uma forma de resistência ao sistema vigente, tornando-se assim instrumento que permite compreender e expressar as formas de opressão vivenciadas nas periferias. Através dos quatro elementos do hip hop a juventude encontra maneiras de manifestar-se frente todas as formas de violência e violação de direitos cometida pelo Estado. Por efeito da lógica capitalista, vivenciamos uma dicotomia da cultura, onde a parte cooptada é absorvida pela mídia emanando interesses individuais, em contra partida, permanecem na base da cultura os ideais de resistência e de fortalecimento da ideologia. Diante da inquietação em compreender como o Hip Hop vem atuado para a transformação dessa sociabilidade através da participação política, buscou-se a aproximação com o Fórum Municipal Hip Hop – SP a fim de realizar a pesquisa de campo. Durante esse processo utilizamos da observação participante como metodologia de pesquisa e, podemos sutilmente penetrar nas relações de força expostas da construção da Semana de Hip Hop 2013 e desvendar o significado político desta ação. 
Palavras chaves: Hip Hop, Participação Política, Resistência e Juventude.
LISTA DE FIGURAS 
FIGURA 1 :EVENTO QUESTÃO FEMININA 125 
FIGURA 2:HIP HOP: OCUPAÇÃO PRESTES MAIA 125 
FIGURA 3: BATE PAPO: formatação de políticas públicas 126 
LISTA DE SIGLAS 
ASMM - Associação São Mateus em Movimento 
CCGJNPP - Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra, Pobre e Periférica 
CCJ - Centro Cultural de Juventude 
CEU - Centro de Ensino Unificado 
CPC – Centro Popular de Cultura 
CJ - Coordenadoria de Juventude do município de São Paulo 
CRAS - Centro de Referencia da Assistência Social 
CREAS - Centro de Referencia Especializada da Assistência Social 
ETEC - Escola Técnica Estadual 
FMHH-SP - Fórum de Hip Hop Municipal de São Paulo 
HH - Hip Hop 
MASP - Museu de Arte de São Paulo 
MMM - Movimento Mães de Maio 
MP - Ministério Público de São Paulo 
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro 
PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira 
PT - Partido dos Trabalhadores 
SEPPIR - Secretaria Especial de Promoção de Igualdade Racial 
SHH - Semana de Hip Hop 
TO - Teatro do Oprimido 
UNEAFRO - União de Núcleos de Educação Popular para Negros 
VAI - Valorização de Iniciativas Culturais
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 
CAPÍTULO I - TRABALHO, ARTE E SOCIABILIDADE. ............................................... 22 
1.1. Trabalho e ser social .............................................................................................. 23 
1.2. Do trabalho ontológico e criativo ao trabalho alienado ........................................... 30 
1.3. Práxis Artística ...................................................................................................... 36 
1.4. Arte e Sociedade .................................................................................................... 39 
1.5. Arte engajada nas experiências da história recente do Brasil: Centro Popular de Cultura, Teatro do Oprimido e Hip Hop. ......................................................................... 45 
CAPÍTULO II - HIP HOP: ORIGEM E ESSÊNCIA ........................................................... 51 
2.1. O que é Hip Hop? .................................................................................................. 52 
2.2. A herança Afro. ..................................................................................................... 55 
2.3. A questão racial: Contexto fundante do hip hop nos EUA. ..................................... 59 
2.4. Conjuntura política e social nos Estados Unidos e no mundo. ................................ 67 
2.5. Transformações culturais e políticas: juventude e hip hop no Brasil. ...................... 76 
CAPÍTULO III - PESQUISA DE CAMPO .......................................................................... 88 
3.1. Metodologia De pesquisa .......................................................................................... 89 
3.2. Fórum Hip Hop Municipal – SP ............................................................................. 90 3.3. CAMINHOS PERCORRIDOS PARA PESQUISA ................................................ 94 3.3.1. Reuniões Fórum Municipal de Hip Hop – SP .................................................. 94 3.3.2. Audiência Contra o Genocídio da Juventude Negra e Periférica .................... 107 3.3.3. Caminhada “10 D – Dez direitos que o estado não garante” .......................... 110 3.3.4. Inauguração Espaço Povo Forte .................................................................... 112 3.3.5. Capacitação FUNARTE ................................................................................ 116 3.3.6. Associação São Mateus em movimento ........................................................ 117 3.4. SEMANA DE HIP HOP ...................................................................................... 118 3.4.1. Existe diálogo em SP- Secretário de Cultura ................................................. 118 3.4.2. Câmara: debate sobre o genocídio da juventude negra ................................... 118 3.4.3. Debate hip hop: movimento ou entretenimento? ........................................... 122 3.5. Pós-semana de HIP HOP ..................................................................................... 123
3.5.1. EXISTE DIALOGO EM SP- Encontro Secretário de Cultura e o Movimento Hip Hop Organizado. ................................................................................................. 123 
3.5.2. Encontro com Prefeito Fernando Haddad. ..................................................... 126 
3.5.3. Agenda Fórum Municipal de Hip Hop – SP ...................................................... 126 
ANÁLISE DA PESQUISA PARTICIPANTE .................................................................... 129 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 140 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 143 
ANEXO ............................................................................................................................. 147 
Lei nº 14485 de 19 de julho de 2007 de São Paulo.......................................................... 147
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INTRODUÇÃO 
Este trabalho de pesquisa nasce do desejo de entender de que forma o hip hop, ao contribuir para o despertar da consciência política, permite aos jovens reconhecerem-se como sujeitos de direitos e a partir disso, como se inserem nos espaços público para debater e propor políticas que interessam a juventude periférica. Para entendermos como isso se processa é necessário fazer uma busca teórica sobre a questão da arte enquanto materialização de uma ideologia que tanto pode ser vista e entendida como formadora de uma opinião critica ao sistema capitalista vigente ou como mais uma estratégia de manipulação e alienação de um de terminado grupo social. 
No entanto não obstante destacar que este movimento artístico se materializa em um espaço geográfico determinado por múltiplas expressões da questão social, logo, entender como na cidade de São Paulo isso ocorre é mais um desafio posto as pesquisadoras. 
O surgimento e complexificação das cidades está estreitamente ligado às transformações decorrentes da Revolução Industrial, tanto no que diz respeito à sua existência objetiva, quanto à sociabilidade e às relações sociais que vão ser estabelecidas a partir das novas formas de relação de trabalho, sequenciadas por mudanças decorrentes das transformações tecnológicas. Esses ambientes urbanos são caracterizados pela crescente fragmentação e acentuação das desigualdades sociais, cujos interesses antagônicos são disputados por diferentes ideologias que neles se rebatem. 
Neste panorama, existem diversos “microgrupos de sociabilidade” formados por jovens, que se reúnem com o objetivo de discutir suas visões de mundo, sua condição na sociedade e se contrapor às formas correntes de dominação. O modo como expressam essas posições e contraposições é feito por meio de formas, cada vez mais, criativas, constituindo, assim, uma diversa gama de “tribos urbanas1” composta por indivíduos, majoritariamente, jovens. (FILHO, 2004). 
1 Esse termo é usado para caracterizar grupos que, partilham de uma mesma ideologia e cultura e se distinguem visivelmente pela estética adotada e pelas preferências artísticas. Atualmente nas grandes cidades existem diversas tribalizações urbanas que, utilizam diferentes formas de expressar seus posicionamento políticos e culturais dentre os quais podemos citar os punks, mangue bits, skinheads, carecas do subúrbido, rudie boys, clubers, sambistas, além dos hip hoppers. (SILVA, 1998)
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Há que se considerar que ser jovem, hoje em dia, não é somente uma questão cronológica, quando se leva em conta as transformações pelas quais essa concepção foi passando ao longo do tempo. Atualmente, sabe-se que ela está fortemente relacionado a um estado de espírito, pois, ser jovem é ser moderno, ou seja, é romper com os modelos clássicos da sociedade e estar sempre aberto ao novo, ao contemporâneo. Esse modo de conceber a juventude é uma ideia inserida pela lógica capitalista, devido ao potencial de lucratividade dela decorrente, em função de seu potencial publicitário e de seu poder de marketing. 
Mas, bem ao contrário a toda forma de publicidade que hoje circula nos diferentes espaços midiáticos, a realidade que se tem é outra, para não se dizer, completamente diferente da que é veiculada nos meios de comunicação. De fato, os jovens conseguiram avançar muito, conquistaram espaços de participação social e protagonizaram lutas significativas no século XX, porém essa utopia que durante muito tempo os impulsionou para a luta em busca de transformação social, enfraqueceu-se e, embora ainda presente em alguns movimentos de juventude, tem pouca, ou nenhuma, visibilidade social. 
O fato é que a sociedade na qual vivemos hoje, já não é aquela de poucas décadas atrás. Muitas coisas se modificaram, e a ofensiva neoliberal e toda a sua lógica empregnou-se no pensamento político espalhando-se por todas as esferas da vida social, a partir da reconfiguração do mundo do trabalho. 
Contrário à repressão e proibição do pleno exercício da cidadania, que se viveu em tempos de ditadura, a instauração da democracia no país, trouxe para o cenário nacional novas possibilidades para que as lutas populares, os sindicatos, partidos políticos, e os movimentos sociais vissem contemplados os seus interesses na agenda pública, uma vez que poderiam, agora, exercer livremente os seus papeis, saindo, portanto, da clandestinidade. 
Não obstante, a participação social tenha sido reconhecida como direito constitucional a partir de 1988, esse reconhecimento e legitimação se dão, também nos espaços dos Conselhos de Direitos, considerando que, neles, a participação popular é uma necessidade para que se alcance o objetivo para o qual foram designados E, mais ainda, para que os sujeitos, público alvo das políticas, possam ser atores sociais políticos fundamentais para gestão pública, voltada para o interesse social, assim como propõe a Constituição Federal. 
Contudo, após mais de vinte anos de ditadura, de repressão política e impedimentos do exercício da cidadania, e instaurada a democracia participativa, a sociedade, ainda, não
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apresentou mudanças significativas na cultura política e permanece sem tomar partido nas questões que dizem respeito à sociedade como um todo. Conforme Rosenfield (1994), 
Se tomarmos a história recente do nosso país, neste imenso exercício de democracia que foram as manifestações em prol das eleições diretas para presidente da República, observaremos a criação de uma cena pública democrática única em nossa história. Ela é, de um lado, a culminação política de um processo de democratização social da sociedade brasileira em seu conjunto, fruto de um efetivo processo de realização da liberdade política, mas, de outro, ela anuncia, no fato de que seus objetivos não foram alcançados, um retorno destes indivíduos aos lugares de onde surgiram. (p.87) 
Essa desmobilização política se deve à questões políticas, propriamente ditas, como a falta de exercício político, descrença nos mecanismos do exercício de participação social e desvalorização do exercício de gestores públicos. Mas, também, se deve à conjuntura social que, pautada na sociabilidade burguesa, se centra na busca pela realização de interesses classistas, individuais e singulares, atendendo a uma lógica imposta pelo ideário neoliberal.2. Rosenfield (1994) afirma também que: 
A apatia política e a inércia dos cidadãos diante dos assuntos políticos tornam-se um problema estrutural da democracia moderna. (...) O grupo dos governados, volta-se para as suas atividades pessoais e privadas, sendo destituídos da possibilidade de intervir politicamente nos assuntos públicos. O social tende assim a uma desarticulação política, podendo resultar numa decomposição da sociedade enquanto tal. (...) A padronização dos comportamentos faz com que os indivíduos, voltados para a satisfação dos seus interesses materiais, através do consumo de objetos recorrentemente novos, fujam das suas responsabilidades no tocante à coletividade (p. 75-6) 
No contexto da luta de classes, a mais bem elaborada democracia pode se tornar a perpetuação de interesses de classes, caso os sujeitos sociais não possam, e/ou não se sintam 
2 Ver Elaine Bering , Ivanete Bochetti e Evilásio Salvador.
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motivados a se apoderar de seus papéis e desempenhar com a firmeza necessária o exercício da cidadania, pois só ela pode garantir e legitimar, de fato, a democracia no país. 
Se, para as pessoas que vivenciaram o estado paternalista no período 1930 a 1945 e, em seguida, o estado ditatorial, no período de 1964 a1985, ainda restam muitos resquícios de inanição política que as impossibilitam reconhecer-se como sujeitos da história, detentoras de direitos e, inclusive, deveres do exercício político. No caso dos jovens esse processo de auto reconhecimento político parece tornar-se mais difícil. Sobre o tema, Dayrell (2010) afirma que: 
Podemos inferir que os jovens, de uma maneira geral, não se percebem como atores, sujeitos de uma ação que possa interferir na sua realidade e nas instituições. Isso parece demonstrar certa descrença nas formas de engajamentos políticos mais tradicionais, falta de um conhecimento mais amplo sobre a vida política e a pouca experiência dos jovens em ações como essas. Mas também nos alerta para uma visão muito restrita das possibilidades de intervenção na sua realidade como atores, sujeitos e cidadãos. 
O desinteresse da grande maioria dos jovens pelos assuntos da política, em contrapartida, cede lugar para diversos outros interesses que vão, desde questões que envolvam sexualidade, estética corporal, vida profissional, diversão até outras questões que representam formas de sentirem-se incluídos e participantes dessa sociedade, sem que tudo isso signifique interesse em compreender a sua própria condição na sociedade. 
Tal situação torna-se, ainda mais preocupante se olharmos para os jovens que residem nas periferias das grandes cidades, pois a estes, além da inexistência de condições básicas de infraestrutura e diversas formas de vulnerabilidade social3, soma-se a precarização 
3 Tratar da questão da exploração da mão de obra do trabalhador e coloca-lo na situação de um sujeito em condições de vulnerabilidade social é uma estratégia utilizada pela sociologia Francesa que atende ao ideário neoliberal que enquadra os sujeitos como se pertencentes a um sistema quase que biológico do ponto de vista analítico. (ver: Serge Paugan, Robert Castel, entre outros).
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do ensino público, que nesta sociabilidade vem formando um exercito de analfabetos funcionais4. 
A evasão escolar e defasagem idade/série, (que ainda existe e vem sendo reduzido por conta de políticas sociais de repasse de renda que vinculam sue ordenamento financeiro a frequência escolar não é o garantidor do ensino de qualidade), em quase todos os casos, e está condicionado a desigualdade social que, alavanca uma série de motivações impeditivas e dificultadoras da freqüência regular nos espaços escolares devido a necessidade de complementar a renda familiar. 
Contudo, essa experiência é vivenciada por alguns jovens que alcançam a possibilidade de se inserir no mercado de trabalho, exercendo atividade remunerada da qual pode somar valor à renda familiar. Para outros tantos jovens essa possibilidade não é vislumbrada e as consequências que daí decorrem, ganham visibilidade em muitos casos, no acúmulo de frustrações e negativas do mercado de trabalho, como por exemplo, a alegação da falta de experiência profissional ou a defasagem idade/série. 
Mas, vale registrar que a permanência dos jovens e a completude do ciclo escolar não, necessariamente, significam que haverá uma apreensão eficiente de informações necessárias para o amadurecimento intelectual e autonomia desses cidadãos. É uma situação que tem sido reproduzida historicamente, pois esses espaços constituem-se como local estratégico de assimilação das regras sociais5, modeladas pela dinâmica da sociedade capitalista (GUZZO e FILHO, 2005). 
A falta de absorção de conhecimentos que lhe permitam conhecer a história da país e, consequentemente, sua própria história impedem o amadurecimento intelectual e o reconhecimento do que está posto na sociedade através, de diversos outros mecanismo de alienação dentre os quais a mídia aparece como um símbolo significativamente forte. 
Outro ponto que merece destaque é o fato de que estes jovens que tão residem em lugares segregados e rotulados, que foram construídos historicamente. Segundo KOWARIC 
4 Por analfabetos funcionais entende-se o sujeito que consegue fazer as quatro operações matemática,e ler um texto simples sem que com isso consigo fazer outras analogias que não foram construídas no espaço da sala de aula durante as series do ensino fundamental I e II (ver Sposito e Carrano); 
5 A discussão sobre o sistema educacional brasileiro como um dos pilares centrais de reprodução da desigualdade social no país, está disponível em artigo publicado na internet, sob o título “Desigualdade social e sistema educacional brasileiro: a urgência da educação emancipadora”, disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-98432005000200005&script=sci_arttext> Acessado em: 24/04/2013.
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(1993) as periferias6 são bairros afastados do centro, que foram sendo formados pelos constantes fluxos migratórios internos, resultantes do processo de industrialização que ocorreu no país, a partir de meados da década de 1950, quando a classe trabalhadora passou a ser requisitada de forma cada vez mais intensa para compor o exercito de trabalhadores necessários à reprodução do capital. 
O fato é que esses espaços, que foram sendo ocupados numa velocidade considerável, foram se constituindo nos locais em que as formas históricas de pobreza, miséria e violência encontraram solo fértil e propício para, não só se instaurarem, mas, também, deitarem raízes e perpetuarem as mesmas condições do início do processo de favelização que se assistiu nos centros urbanos. 
A impossibilidade dos jovens refletirem sobre esses processos históricos de reprodução das desigualdades sociais, é o que favorece a somatória de fatores que sustentam o processo de exclusão, marginalização consequentes da alienação política e social dos trabalhadores, tornando insólita a possibilidade de se contrapor a essa situação. Sobre o tema, Abramo (Apud FLORENTINO, 2008), afirma que, 
(...) a geração jovem mais recente aparece principalmente marcada pela negatividade, pela ausência da capacidade da reflexão crítica da ordem social, pela passividade em relação aos valores e práticas sociais inscritas nas tendências sociais da época; essas ausências revelariam um desvio, uma traição da própria essência da condição juvenil. 
Dentre os motivadores da aparente desmobilização da juventude nos assuntos políticos e de interesse público são diversos. Os motivadores desse distanciamento , podem ser o “descrédito na atuação dos políticos, a falta de estímulo a participação social nas 
6 Kowarick (1993) faz uma analise sobre o modo como a expansão industrial e os fluxos migratórios ensejaram as condições o processo de “favelização”, que resultaram na composição de grandes, múltiplos territórios ocupados em locais sem estrutura. Esses territórios constituem, até hoje, as favelas e/ou comunidades, que salvo avanços muito pontuais, continuam a ter a mesma carência de equipamento e políticas publicas, visto que estas parece que não acompanharam o desenvolvimento das periferias e continuam a concentrar na região central e nas suas proximidades o maior numero de equipamentos públicos.
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diferentes estâncias, além da falha política de educação pública que não permite o acumulo de conhecimento. De todo modo, conforme pontuado por Dayrell (2010) 
Parece-nos também que os jovens indicam que o caminho da participação política mais organizada pertence ao mundo adulto e, mais ainda, a um determinado tipo de engajamento político mais tradicional, reduzindo a participação política a uma ação reivindicativa junto às instituições constituídas como a Câmara Municipal, os vereadores ou administração municipal. 
O fato é que o papel que os jovens deveriam desempenhar nos assuntos do país, a partir da sua localidade ou região é , via de regra, substituído por diversas outras atividades que possam lhes dar um significado e uma perspectiva de inserção. Tais atividades (diversão, consumo de droga licitas e ilícitas, cuidados exagerados com o corpo, individualidade, a busca pelo sucesso pessoal) acabam enfraquecendo ou .estagnando o processo do reconhecimento de sua condição de classe e de sujeitos de direitos7 e, o mais importante, como sujeitos políticos. 
Quando muito, o conhecimento frágil sobre o que seja democracia e cidadania, os permite fazer leituras rasas e superfíciais, que não dão conta de gerar e dar sustentação à ações que, persigam os interesses/direitos que digam respeito, diretamente, à transformação das periferias. 
Porém, os territórios guardam sua própria cultura, visão de mundo e de sociedade, no qual buscam explicar e expressar o mundo a partir do ponto de vista daqueles que se encontram alijados dos processos e relações sociais, bem como das condições, mais básicas, de sobrevivência e de vida. Para as periferias, a estratégia por ela encontrada foi a cultura, que passa a ser a instrumento usado para levantar e mobilizar uma grande parcela da sociedade que, inconsciente dos processos levam a determinadas condições mantinham-se resignadas politicamente (ROCHA et. Al, 2001). 
7 Kehl (2004) aborda a questão do consumismo e afirma que o capitalismo se apropria da juventude a favor dos interesses do mercado. O desemprego cria necessidade do sujeito permanecer com os pais por mais tempo que o necessário, pois não desenvolve sua autonomia e dependência ao mesmo tempo em que transforma essa condição numa falsa sensação de sucesso perante a sociedade, pois através da simbologia dos bens que adquire representa uma condição subjetiva de estar sempre de bem com a vida e cheio de vida pela frente.
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Como um produto cultural das periferias, o hip hop nasceu nos guetos do Bronx, em Nova York (EUA), na década de 1960 e se espalhou pelo mundo devido à sua capacidade criativa e inovadora de juntar arte e cultura, no sentido de expressar as desigualdades sociais e as contradições da sociedade burguesa. 
Também considerado como uma tribo urbana, o hip hop, e toda a ideologia que permeia essa vasta cultura urbana, tem adquirido visibilidade e ganhado, cada vez mais, adeptos em todo o mundo devido à capacidade de combinar a elevação da autoestima, a possibilidade de identificação e pertencimento a um grupo social, pelo princípio contestatório e também, porque possibilita o preenchimento de vazio das formas precárias de educação (FILHO, 2004; ROCHA et. Al, 200 
O hip hop, embora não tenha surgido com sentido político, aos poucos, às manifestações artísticas foram somadas questões que pudessem expressar as preocupações cotidianas do espaços das periferias, a começar por uma consciência em aceitar estigmas que relacionam a periferia (e seus moradores) à violência e criminalidade, bem como a intenção de transformação da realidade agindo sobre ela (ROCHA, et. Al, 2001). 
A trajetória do hip hop no Brasil, e em São Paulo, particularmente, foi construída por diversos percalços e obstáculos que se transformaram concretamente na matéria prima de sua arte e expressão. Como uma das expressões da questão social, a cultura hip hop adentra os espaços urbanos, reivindicando, através de pinturas, musicas e dança o espaço e direitos que são negados aos jovens. Há, claramente, na relação do hip hop com a sociedade interesses divergentes aos modelos padrões nela vigentes. Nesse sentido, a periferia passa a ter voz própria e alcança todos os quadrantes da cidade, deixando evidente o conhecimento de que dispunham sobre os processos históricos que geraram as periferias e as diversas formas de exclusão social. 
O hip hop manifestou-se não somente através das ideias que foram sendo transmitidas (e/ou registradas), nas letras de suas músicas, mas, também, no estilo próprio de se vestir, estilo este que traz implícito um significado, que, também, lhe é peculiar. Mas, ao mesmo tempo em que as ideias e criações tem autoria reconhecida pela sociedade, o mercado aproveita-se delas para, além de cooptá-las, atribuir a todas as formas de manifestação cultural presentes no hip hop, o status de mercadoria, descaracterizando, assim, o teor da luta de classes e de contestação e ou denúncia da realidade.
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Nesse processo, a criatividade artística e a estética hip hop tornaram- se mercadorias, e, nessa condição, foram esvaziadas de sua ideologia e de seu compromisso com a transformação societária, com vistas a uma sociedade igualitária (SANTOS, 2002; FÉLIX, 2005; ROCHA,2001e FILHO, 2004) e, em seu lugar, introduziu-se uma ideologia, que encobre e escamoteia as relações sociais que o hip hop objetivava explicitar. 
Como vemos, o hip hop é uma ferramenta que possibilita aos jovens da periferia se conhecer politicamente, apoderar-se de sua história, desvendar mecanismos de opressão e de perpetuação da miséria e da violência presentes nas periferias. Num espaço território no qual o Estado permanece ausente, é de importância incontestável que a periferia se organize no sentido de manter viva a cultura que, por diversas vezes constitui-se na única forma de aprender a fazer uma leitura critica da sociedade e romper com a naturalização das desigualdades sociais e de um olhar fatalista sobre a sociedade. 
Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo compreender o hip hop contribui para o entendimento da realidade e estimulo à participação de forma a contribuir para que o Estado reconheça, legitime e efetive os direitos dos jovens através de políticas públicas correspondentes. 
Para tanto, elegemos como hipótese de trabalho que a participação social dos jovens do hip hop, nos espaços e equipamentos públicos que, por direito lhes pertence, constitui-se em valioso instrumento de luta pela garantia dos direitos, construção e efetivação de políticas públicas. 
Temos como hipótese que, a aparente resistência do hip hop em se introduzir e participar de espaços formais da política contribui para o fortalecimento de concepções ideológicas acerca das políticas sociais, dificultando a ampliação e conquista de direitos. Nessa intenção saímos a campo e participamos de algumas atividades do hip hop na região Metropolitana de São Paulo e optamos por realizar a pesquisa no Fórum Municipal de Hip Hop – SP, pois esse espaço tem mais relação com o objetivo da nossa pesquisa. 
As contradições estão postas na sociedade, porém e para que a democracia se efetive e se realize é necessário que o Estado reconheça, legitime e efetive os direitos através das políticas públicas e, essa questão somente será concretizada se os jovens, os hipp hoppers, ocuparem os espaços que lhes pertencem, enquanto cidadãos, eleitores e sujeitos políticos e sociais.
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Compreender como se dá essa relação entre os jovens e o poder público, poderá contribuir para pensarmos as possibilidades que possam ser construídas pela relação entre cultura e política, para garantir e ampliar os direitos da juventude luta diariamente pra sobreviver. Como cultura que esta ligada a um projeto societário, o hip hop é uma forma de leitura da realidade, uma filosofia que permite compreender a realidade que engendra, a situação vivenciada cotidianamente pelos moradores da periferia. A questão que colocamos é como essa cultura artística tem agido para transformação do que está posto, pela via política. 
Através do materialismo histórico procuramos abordar como a sociabilidade é histórica e corresponde ao grau de desenvolvimento das forças produtivas, trazendo diversas expressões da questão social e como um determinado grupo de organiza para construir possibilidades de quebrar esse ciclo de desinformação através da arte, e como isso contribui para que a consciência de classe possa florescer e a, a partir disso, como esses sujeitos se abrem para o reconhecimento do que está posto e como usam o conhecimento que tem para transformação concreta da realidade quem vivem (ANTUNES, 2004 ; NETTO e BRAZ, 2011). 
No capítulo I, abordaremos o papel do trabalho na constituição do ser social e o surgimento da arte. Duas formas de objetivação que, em tese, levariam o homem ao domínio de si mesmo e de suas potencialidades de forma emancipadora, através de uma sociabilidade livre e ética. Porém, com o advento do capitalismo esse quadro se inverte de forma que trabalho e arte passam a constituir o conjunto de mercadoria a venda na sociedade, apontando as possibilidades encontradas pelos artistas que resistem e posicionam contra essa lógica, como alguns do hip hop. Para a construção do capítulo dialogamos, principalmente, com Vazquez (1968), Antunes (2004), Netto e Braz (2011) e Chauí (2000). 
No capítulo II, apontaremos o contexto histórico e os acontecimentos na esfera economica, política e social que dera origem a criação de uma cultura artística que, marginalizada, se propõe a ser o conjunto de ideias que possibilitariam o jovem da periferia, a maioria negro, pobre e estigmatizado a olhar sua condição na história, reconhecer os mecanismos da opressão e lutar politicamente para a inversão do quadro. 
No III capítulo, mostraremos o caminho percorrido para a pesquisa, a analise dos resultados da pesquisa participante, que realizamos no Fórum Municipal de Hip Hop –SP, com grupo de jovens que são de periferia e que através dos elementos e do discurso do hip hop, puderam compreender a realidade capitalista e lutam cotidianamente, através da junção de arte, militância e participação social, para que as periferias tenham acesso as políticas
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públicas de qualidade, que possibilitem o acesso da juventude a oportunidades de estar em contato com outras referencias e possibilidades que ele pode ajudar a construir, em detrimento de um mundo desesperançado e banalizado pela violência (social, física e letal) do Estado.
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CAPÍTULO I - TRABALHO, ARTE E SOCIABILIDADE.
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1.1. Trabalho e ser social 
Queremos, para os fins propostos neste trabalho, anunciar a concepção de homem e de mundo a ser abordada em nossa pesquisa. Isso porque, acreditamos que o homem é um ser histórico e cultural, que se construiu e vem se transformando através da atividade do trabalho. Contudo, as modificações que o trabalho vem sofrendo desde as suas formas primitivas, essenciais e ontológicas, acarretam modificações também nas formas de sociabilidade que a humanidade experimenta a cada novo tempo histórico. 
Pensar a humanidade de forma histórica coloca-nos a necessidade de retonar ao processo de constituição do homem como ser social, ou seja, retonar ao processo de humanização do homem, captando o trabalho como a atividade que funda o ser social. 
O trabalho é atividade na qual o homem interage com a natureza, modificando-a para responder às suas necessidades. Nessa interação, mediada pelos objetos que cria, o homem transforma a si mesmo e transforma o meio em que vive. 
Como resultados da interação com a natureza, e da interação entre os homens, as objetivações concretizam as idealizações que responderiam as necessidades que o homem precisa superar para garantir sua existência. 
As objetivações do trabalho se colocam em níveis distintos, quais sejam: num primeiro momento se caracteriza pela busca de satisfação das suas necessidades imediatas o que leva o homem a desenvolver a construção de ferramentas que lhe permitem saciar a fome, a sede, o frio e etc., assim como, e, simultaneamente, a criar outras formas de convivência e sociabilidade que, por sua vez, lhe colocam novas necessidades. 
Mas, o homem não cria somente produtos para o trabalho, ele cria também, valores (linguagem, arte, ciência, religião) que lhe permite transformar a sua forma de relacionar-se consigo mesmo e com os demais à sua volta. 
Assim, somente através do trabalho pode-se compreender o homem como um ser historicamente construído por sua própria atividade, e compreender a transformação de um ser meramente biológico, instintivo e natural no ser social, dotado de capacidades exclusivamente humanas. 
Pensado nesta perspectiva, ou ainda, no trabalho como a condição para criação de toda forma de vida humana, e como a condição fundamental para a criação do próprio homem, Engels (Apud ANTUNES, 2004), afirma que nossos antepassados primatas, em face de suas necessidades foram dando respostas a elas também no sentido corpóreo.
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Para ilustrar este desenvolvimento o autor faz uma narrativa do processo em que tais primatas, na busca pela sua sobrevivência e numa interação imediata com a natureza, deixam de ser quadrúpedes e assumem a posição ereta e, consequentemente, são levados à descoberta e desenvolvimento das mãos. 
A posição ereta passa a ser mais do que uma condição, se transforma numa necessidade para o manuseio da natureza, para a subsistência da espécie. O homem primitivo, portanto, ao buscar formas de saciar suas necessidades mais básicas (fome e sede) numa interação imediata com a natureza descobre que pode empregar as suas mãos em atividades que lhe permitiram manusear e sentir a matéria de outras formas, abrindo-lhe, assim, uma extensa gama de novas potencialidades a serem, por ele, desenvolvidas. 
A evolução das mãos e as habilidades desenvolvidas a partir do seu constante manuseio desempenham papel fundamental, pois permitem, que elas vão se constituindo como produto do próprio trabalho, permitindo aos primatas mediar a sua interação com a natureza, a partir da sua corporalidade. 
Torna possível, nessa perspectiva, compreender a forma como o trabalho também atinge o corpo biológico, e o transforma como produto e síntese do trabalho. Em outras palavras, a descoberta e o emprego das mãos acarretou, ainda que de forma indireta e ocasional, o desenvolvimento de outros sentidos e partes do organismo desse animal primata, ancestral do homem. Dito nas palavras de Engels (Apud ANTUNES, 2004) nessa consequente transformação, “O aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a adaptação concomitante dos pés ao andar em posição ereta exerceram indubitavelmente, em virtude da referida correlação, certa influência sobre outras partes do organismo” (p.14) 
Nesse processo, nota-se, portanto, que a atividade do trabalho possibilitou não somente a transformação na composição biológica e física do homem, mas, também, uma modificação na sua forma de convívio e relação com seus semelhantes e com a natureza. Foram necessários milhares de anos, um grande período de tempo, para que esse primata alcançasse as condições que lhe dessem possibilidades de se organizar em tribos. 
Ao formar as tribos e comunidades, esse ser primitivo, deixa de ser nômade, ou seja, passa a desenvolver certa sociabilidade advinda das consequências do trabalho. É, neste sentido, que o trabalho transforma o homem num ser social, permitindo-lhe distanciar-se da natureza, reconhecer-se e a conviver com os outros da mesma espécie. 
Esse distanciamento da natureza é proporcionado pela mediação dos objetos que o homem desenvolve para interagir com ela. Como processo teleológico, o uso da consciência diferencia o trabalho desenvolvido pelo homem da atividade desempenhada pelos animais.
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Esse nível de evolução é propiciado pela experiência que o homem, a partir da evolução do cérebro, vai acumulando e que, em larga medida, lhe permite aperfeiçoar não somente os objetos e ferramentas construídas para e pelo trabalho, como também lhe permite aperfeiçoar os seus sentidos. 
Isso significa que o desenvolvimento do cérebro, permite a evolução do órgão do ouvido, do olfato e da visão. Essas diferenciações constituem saltos ontológicos, que coloca o homem de forma nítida e clara, numa vantagem incomparável em relação aos demais animais, na medida em que lhe permite a cada tempo, desenvolver de forma mais acentuada as suas potencialidades que desembocarão na consciência de si mesmo e do seu corpo. 
Podemos assim compreender como o trabalho desenvolve papel fundamental e central na constituição do homem como ser social, uma vez que é por intermédio dele que o homem amplia as suas formas de conhecimento e, também, o seu domínio da natureza. 
O trabalho torna possível ao homem interagir com a natureza e construir novas formas de sociabilidade, através de técnicas que mudam a sua forma de alimentar-se, de abrigar-se do frio e construir abrigo. 
Essas transformações, essas mudanças possibilitadas pelos resultados do trabalho, mudam a forma do homem satisfazer algumas das suas necessidades, mas básicas. Por exemplo, a descoberta do fogo permitiu o cozimento dos alimentos e da carne obtida através da caça. O fogo significou possibilidades de segurança e, mais uma vez, a evolução dos sentidos, pois, ao cozer os alimentos, permitiu ao homem aguçar o paladar, e elencar predileções entre um determinado tipo de caça ou vegetais, lhe desenvolvendo a possibilidade de escolhas. 
Todas essas evoluções das formas concretas de subsistências da espécie primitiva possibilitaram, simultaneamente, a evolução do organismo biológico do primata, e mais do que isso, permitiram a sua humanização. 
Esses avanços do trabalho - saltos ontológicos – foram permitindo que as sociedades primitivas fossem cada vez mais, se destacando dos demais animais. Ou seja, de forma cada vez mais evoluída aqueles seres instintivos, graças ao advento das mãos e dos sentidos, vão se organizando em grupos, colocando a necessidade de uma organização, com forma cada vez mais complexas formas de comunicação. 
Comunicar-se amplamente com os outros seres impôs-se como exigência aos homens para que os instrumentos e técnicas de trabalho que desenvolveram fossem universalizados. Tal exigência permitiu-lhes, após um tempo de comunicação por sons e ruídos, evoluir a laringe e os órgãos da fala, articular e organizar sons carregados de sentidos e informações
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que foram se configurando em uma linguagem articulada e generalizada pelo grupo de convívio. 
O homem, ao mesmo tempo em que responde a determinada necessidade, desenvolve outras ainda mais complexas, e já nas formas iniciais e primitivas de organizações tribais, as formas e instrumentos de trabalho vão se complexificando através das gerações, criando novas formas de atividades ao passo em que possibilita ao ser primitivo ir se constituindo, a cada salto ontológico, num ser cada vez mais social. 
Sobre o trabalho como transformação da natureza e constituição do ser social, como viemos descrevendo até aqui, Netto e Braz (2011) afirmam categoricamente que o trabalho é a interação do homem com a natureza, transformando-a e dominando-a para satisfação de suas necessidades. 
Na verdade, os autores preocupam-se em argumentar de forma a tornar claro o entendimento de que trabalho é atividade exclusivamente humana. Pois ainda que os animais tenham certo domínio de determinadas funções e as executam de forma perfeita, o fazem para garantir a reprodução e manutenção da espécie, e, de forma determinada geneticamente, pois, sua própria natureza o concebe “programado” para execução de tais tarefas (confecção de ninhos, de tocas, estocamento de alimento e etc.), ou seja, ele age instintivamente e naturalmente, suas ações não são mediadas pela consciência (NETTO e BRAZ, 2011, p.40). 
Segundo, ainda, Netto e Braz (2011) três pontos que caracterizam o trabalho desenvolvido pelo homem, da atividade natural dos animais que busca satisfazer necessidades. 
O primeiro, se deve ao fato de que o trabalho necessita ferramentas, instrumentos e objetos que permitam ao homem mediar sua relação com a natureza, e a medida que o ser social vai, cada vez mais, desenvolvendo-se e complexificando-se, mais desenvolvidos e complexos vão se tornando tais objetos. 
A segunda premissa deve-se ao fato de que trabalho não é uma “determinação genética”, pois exige, para seu cumprimento e entendimento, a saturação da mesma atividade para acumulação de conhecimentos sobre o seu processo, de forma a desenvolver nesse ser pouco evoluído, conhecimentos e habilidades que vão se aprimorando com o passar do tempo. 
E, finalmente, afirmam os autores, que o trabalho não é atividade que responde a necessidades fixas e invariáveis, uma vez que as respostas a tais necessidades também não são fixas. Essa afirmação significa, necessariamente que, se as formas de necessidades que o homem carrega são diversas, também o são as formas que ele busca responde-las e, essas respostas, por sua vez, implicam na criação de outras novas necessidades.
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Incontestavelmente, a atividade do trabalho, tal qual realizada pelo homem, em nada se assemelha à atividade desenvolvida pelos animais. 
Ou, mais precisamente, nas palavras de Marx (Apud NETTO e BRAZ, 2011): 
[…] O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza […] Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais de trabalho. […] Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. (p.41) 
O trabalho se distingue da atividade dos animais porque supõe mediações entre o sujeito (homem) e objeto (matérias) do trabalho, mediações que são concretizadas pelos instrumentos criados pelo homem para lhe permitir/facilitar a interação com a natureza. Esse mesmos instrumentos (desde a machadinha primitiva até o mais avançado instrumento tecnológico) colocam ao homem questões que dizem respeito aos fins a que se destinam o objeto a ser elaborado, isto porque, da finalidade destinada ao instrumento, faz-se a escolha dos materiais utilizados que colocam em exercício a idealização, ou seja, a antecipação do resultado do seu trabalho. 
Essa capacidade de idealizar os instrumentos e técnicas para o trabalho é mediada pela consciência, ou seja, trata-se de uma atividade “teleologicamente direcionada”, Conforme afirmam Netto e Braz (2011): 
De uma parte, o fim ( a finalidade) é como que antecipado nas representações do sujeito: idealmente (mentalmente, nos seu cerebro), antes de efetivar a atividade do trabalho, o sujeito prefigura o resultado da sua ação.[…] sua finalidade parte de uma finalidade que é antecipada idealmente, é sublinhar que sua atividade tem como ponto de partida uma intencionalidade prévia […] conduzida a partir do fim proposto pelo sujeito (42). 
Como idealização, objetivação e concretização do concreto pensado, o trabalho permite ao homem atuar e se constituir como um ser teleológico, o que em outros termos significa dizer que o homem idealiza, na sua consciência o resultado do seu trabalho, da sua atividade de acordo com a finalidade que se propõe. 
Justamente por ter essa capacidade de idealizar mentalmente a sua atividade, só o homem pode escolher entre alternativas - usar esta ou aquela matéria de forma criteriosa.
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Neste ponto encontra-se a gênese da liberdade: a possibilidade de escolher livremente entre alternativas. Dessa forma o homem, num larguíssimo espaço de tempo, através do trabalho, vai, cada vez mais, afastando- se do ser natural e se constituindo como um ser social, e que só existe em sociedade. (NETTO e BRAZ,2011). Nas palavras de Barroco (2010), 
A sociabilidade é inerente a todas atividades humanas, expressando-se no fato ontológico de que o homem só pode constituir-se como tal em relação com outros homens e em consequência essa relação; ela significa reciprocidade social, reconhecimento mútuo de seres de uma mesma espécie que partilham uma mesma atividade e dependem uns dos outros para viver.” (p.22) 
Certamente, foram as respostas criadas para responder as suas necessidades primárias e materiais que deram a oportunidade do ser orgânico, ir tomando consciência de si mesmo e do seu corpo, tornando possível desenvolver a consciência em suas capacidades, acumular conhecimento, aumentar em escala exponencial as suas condições de sobrevivência e através da vida em comunidade o homem foi se tornando um ser cada vez mais social (ANTUNES, 2004). 
O ser social é, portanto, resultado de determinações que foram se colocando através do trabalho. O homem, a cada nova atividade torna-se um ser cada vez mais social. Somente ele idealiza e objetiva, por isso é certo dizer que o trabalho é condição exclusiva dos homens, “é a essência do homem, sua realidade essencial” (VAZQUEZ, 2007). 
Por fim, podemos concluir que, de fato, o trabalho rompeu com padrões naturais de sobrevivência, visto que passou a mediar a interação do homem com a natureza através de instrumentos por ele criados e que, não somente, condensam a consciência, mas, ao mesmo tempo, engendram as condições para que as objetivações se tornem universais. Em síntese, trata-se de um sistema de relações sociais que estão interligadas historicamente. 
Essa reciprocidade, conforme citamos acima, nos traz a afirmação de que o trabalho é, necessariamente, coletivo, pois aquilo que o trabalho acumula (conhecimento, habilidade, instrumentos) são transmitidos, através da mediação da linguagem, permitindo a sua genericidade e universalização (BARROCO, 2010) 
Destaca-se que, embora o sujeito realiza a ação do trabalho, ele interage com o objeto numa relação mediada por instrumentos de trabalho, que, por sua vez, já são produtos do trabalho. Dito de outra forma, do mesmo modo que ele utiliza uma ferramenta (produto do trabalho de outro), o resultado do seu próprio trabalho passa a não lhe pertencer mais
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exclusivamente como objeto seu, privado e exclusivo. Esse resultado (nova ferramenta, nova habilidade ou conhecimento) passa a ser adotados pelos demais no convívio em comunidade, ou seja, ele se universaliza (ANTUNES, 2004). 
De todas essas afirmações desenvolvidas até aqui, conclui-se que não haveria o desenvolvimento do ser sem a sua universalização, pois para que o trabalho pudesse, a longo prazo, ser subjetivado pelos homens, seus resultados devem estar para além de quem o idealizou e objetivou. 
Esse desprendimento que se realiza entre sujeito da ação e o resultado dela, significa que o trabalho tem duas dimensões: objetiva e subjetiva. Conforme abordado por Netto e Braz (2011), a dimensão subjetiva se realiza a partir da concepção de que o trabalho é algo individual, no entanto, é concebido como consciência, pois se mostra como concretização da consciência, o que significa entender que o trabalho é mediado pela consciência devido a sua capacidade teleológica. 
Ao concretizar ele objetiva, dentro de determinadas condições que já estão dadas aquilo que colocou na sua consciência, este é o caráter objetivo do trabalho e por isso é correto afirma que o homem é produto da sua consciência. Em outras palavras, podemos afirmar que o homem é produto de sua consciência. Assim, se a subjetividade é a consciência, logo os homens passam a ter autoconsciência, ou seja, passam a ter consciência de que pertencem a uma mesma espécie – a humana. 
A arte, a ciência, a filosofia, a religião, a gastronomia e outras tantas formas de objetivação humana, constituem um sistema de objetivações que fizeram emergir e desenvolver o ser social, mas, a partir da objetivação elementar e fundamental que é o trabalho. O trabalho é a objetivação primeira que permitiu ao homem desenvolver outras formas de objetivações que, se autonomizam à medida que se desenvolvem. Desse modo, Netto e Braz (2011), descrevem esse processo da seguinte forma: 
Quanto mais se desenvolve o ser social, tanto mais diversificadas são as suas objetivações. Assim, no seu desenvolvimento, ele produz objetivações que, embora relacionadas ao processo do trabalho, dele se afastam progressivamente – objetivações crescentemente ideais (isto é, no mundo das ideias) de que são exemplos as formas iniciais do pensamento mágico, nas quais estão contido os vetores que, após uma evolução multimilenar, apresentar-se-ão diferenciados nas expressões do pensamento religioso, da reflexão científica e filosófica e da arte” (p.50 – grifos do autor)
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A centralidade do trabalho, no evoluir e desenvolver de uma série de objetivações do homem, possibilitou a ele constituir-se, constituir o meio em que vive e criar uma sociabilidade humana a partir do desenvolvimento do seu sistema de objetivações, vindo a constituir o conceito de práxis. 
A expressão práxis refere-se, em geral, a ação, atividade, e, (...) à atividade livre, universal, criativa e auto-criativa, por meio da qual o homem cria (faz, produz), e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico e a si mesmo; atividade específica ao homem, que o torna basicamente diferente de todos os outros seres. Nesse sentido, o homem pode ser considerado como um ser da práxis. (BOTTOMORE apud BOURGUIGNON, 2008;p.61) 
De forma ontológica, o trabalho assume a condição de objetivação privilegiada, que garante a condição da vida humana, pois não há possibilidade de suprimi-lo da existência da humanidade. 
O trabalho, como objetivação especificamente humana, só pode ser realizado pelo homem, uma vez que é atividade consciente, e permite fundar o conjunto das objetivações. O trabalho realiza a essência do homem, através de um conjunto de qualidades e possibilidades que este ser veio desenvolvendo ao longo da larga trajetória da humanidade. 
1.2. Do trabalho ontológico e criativo ao trabalho alienado 
Pensar o trabalho numa perspectiva radical, nos leva a concepção de que o homem é uma contínua tensão entre o seu ser genérico e sua singularidade. 
Queremos dizer com isso que, o homem é inerentemente um ser singular, e carrega essa condição durante toda a sua existência. Porém, este mesmo ser não é somente singular, ao passo que carrega consigo a genericidade humana, que diz respeito a toda uma herança histórica e cultural, de uma sociabilidade que sintetiza o curso e evolução da própria humanidade. Analisando a história da humanidade e do desenvolvimento deste ser social, em dado momento, podemos constatar que a disparidade entre singularidade e genericidade causa uma transgressão, um empobrecimento do gênero humano, pois este ser (social) só se expressa singular e genericamente na medida em que é um ser dotado de capacidade de objetivações (NETTO e BRAZ, 2011).
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A objetivação é a capacidade que o homem tem de construir meios para se manter enquanto tal, ou seja, na medida em que pode ampliar e aperfeiçoar as condições para sua própria existência. É a objetivação dos sujeitos singulares que traduz as condições da existência humana. A capacidade de objetivações se manifesta nos sujeitos em níveis de pouca complexidade (gestos, modos de ser e atitudes) ou em formas muito privilegiadas e duradouras como o trabalho, a arte e a ciência. 
De fato, são inúmeras as formas de objetivação e o homem só mantém a sua existência na medida em que pode exercer sua objetividade, e dentro desse larguíssimo tempo de construção da história da humanidade, as objetivações dos homens constituem o acervo da humanidade, universalizada e objetivadas pelos indivíduos. 
A interiorização e subjetivação das objetivações humanas podem tornar o homem mais rico, no sentido de que tem consigo as conquistas e construções da sua espécie e do seu gênero, o humano. Donde se conclui que o homem rico é aquele que conseguiu objetivar, conseguiu se apropriar, conseguiu tornar seu uma riqueza de objetivações humanas, que não unicamente aquelas que dizem respeito as formas de subsistência (NETTO e BRAZ, 2011). 
A riqueza subjetiva de cada homem resulta da riqueza de objetivações que ele pode se apropriar. E é a modalidade peculiar pela qual cada homem se apropria das objetivações socais que responde pela configuração de sua personalidade. (p.57) 
Neste ponto, é necessário reforçar uma condição que não somente impede como impossibilita a apreensão dessas objetivações e, consequentemente, o enriquecimento do ser social, pensado numa perspectiva humano genérica. 
No seu processo de amadurecimento, e conforme as condições socias que lhe são oferecidas, cada homem vai se apropriando das objetivações existentes na sua sociedade; nessa apropriação reside o processo de construção de sua subjetividade. A subjetividade de cada homem não se elabora nem a partir do nada, nem num quadro de isolamentos: elabora-se a partir das objetivações existentes e no conjunto de interações em que o ser singular se insere. (NETTO e BRAZ, 2011, p. 57) 
Apropriar-se da arte, da ciência, da filosofia e etc., na nossa sociedade é uma condição praticamente impossível quando o acesso a essas objetivações são ditados pela posição de
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classe. Significa que o indivíduo necessitaria, não somente tempo mas, condições e recursos financeiros para se aproximar e mergulhar nessas objetivações da humanidade. 
A sociabilidade hoje, na sociedade capitalista moderna, expressa diretamente uma condição social, pois as formas de relações sociais, a constituição das famílias e todo um sistema de legislações que privilegiam a garantem a continuação da propriedade privada impedem o conhecimento e aproximação dos homens das formas de objetivações. 
Reiterando o que viemos dizendo até aqui, o trabalho é a condição de humanidade. O homem é um ser prático e social que se constitui pelo trabalho e que se realiza no trabalho. O trabalho é uma objetivação dos homens, e esteve – e sempre estará - presente em todos os tipos de organização social que já existiram na terra. 
O trabalho esteve presente desde os primatas e seguiu alcançando dimensões e complexidades diferentes, evoluindo e constituindo novas formas de produção que perpassaram as sociedades primitivas, a sociedade escravocrata, a sociedade feudal até chegar no trabalho sob a égide do capital. 
Netto e Braz (2011) afirmam que o modo de produção capitalista se iniciou no século XVIII e seguiu transformando relações e modos de produção da vida até o século XIX, quando na entrada do século XX o modo de produção capitalista já era uma condição planetária. 
O capitalismo é uma relação social, no qual existem os detentores dos meios de produção e os que, destituído de qualquer forma de produção, tem somente a sua força de trabalho para ser vendida ao capitalista. O valor recebido pelo trabalhador, através do salário será um valor ínfimo, apenas o necessário para que ele se mantenha e se reproduza como trabalhador. 
De todas as formas de degradação que o homem já experimentara, na sociedade capitalista, o trabalho assume oposição direta com ele nos seguintes sentidos. Num primeiro momento, porque o homem não se reconhece naquilo que faz, o produto de seu trabalho não lhe pertence e por não lhe pertencer, o homem o encara como algo com quem não tem nenhuma vinculação. 
E ainda porque o trabalho, nos ditames do capital, coloca o homem em oposição consigo mesmo à medida que não lhe permite se reconhecer nos seus iguais e, mais grave ainda, não permite ao homem o seu reconhecimento enquanto tal, ou seja, o homem não consegue em face desta atividade reconhecer a sua condição e genericidade humana. Ou mais precisamente,
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Na medida em que o trabalho estranhado 1) estranha do homem a sua natureza, 2) [e o homem] de si mesmo, de sua própria função ativa, de sua atividade vital; ela estranha do homem o gênero [humano]. Faz-lhe da vida genérica apenas um meio da vida individual. Primeiro estranha a vida genérica, assim como estranha a vida individual. Segundo, faz da ultima, em sua abstração, um fim da primeira, igualmente em sua forma abstrata e estranhada. (MARX, 2008, p. 84) 
O que se pode observar é que na sociedade capitalista, o trabalho que é realizado, ao invés de garantir a realização dos homens, se colaca a eles como sua negação. Nessa sociedade capitalista, as objetivações dos homens, os produtos de suas consciências se autonomizam e a criatura, ganha vida própria diante do criador. 
A alienação é o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, e dão independência a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma, pois se deixam governar por ela, como se a ela tivesse sido dado poder em si e por si mesma. Ou seja, os homens não se reconhecem na obra que criam, fazendo-a um produto estranhado, separado dos homens, superior a eles e com poder sobre eles (CHAUÍ, 2000). 
O homem se aliena do seu trabalho e se aliena de si mesmo. O trabalho, como vimos, e tal como fora abordado na fase inicial deste trabalho, na sua fase ontológica, demonstrou que qualquer homem, por mais limitado que seja, pode se desenvolver ilimitadamente. Ainda que os homens tenham capacidades diferentes, ainda que seu histórico de vida e suas faculdades sejam diferentes, ainda que possuam dotes distintos, qualquer homem pode se desenvolver de forma ilimitada. 
De forma clara, vemos que as objetivações, ou melhor, o sistema de objetivações, ainda que constitua a garantia da existência e da reprodução do homem enquanto tal, enquanto ser social, sob formas históricas e determinadas essas objetivações tornam-se o seu contrário. 
Mais precisamente, o trabalho sob o comando do capital, o trabalho não emancipado, o trabalho nos marcos da propriedade burguesa vira maldição, vira um castigo, uma alienação. 
E como é próprio da sociedade burguesa tornar o conjunto das relações humanas alienado, não é apenas o trabalho que é alienado, o trabalho alienado determina a alienação da vida dos homens, alienação da sociedade. 
Essa lógica de alienação da produção e, consequentemente, do conjunto de relações sociais que envolvem a vida em sociedade, pode ser observada na forma equivocada de
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conceber o salário como resultada de um determinado tempo de trabalho livre8, empregado na produção de mercadorias e do qual resulta no salário, pago ao trabalhador. 
Na realidade o salário, o salário é o custo de reprodução do trabalho, ou seja, a quantia necessária para que o trabalhador se reproduza enquanto tal, que aparecem aos trabalhadores como resultados do que produziram num determinado tempo de trabalho. Daí a oscilação no valor dos salários, que são o valor pago ao dispêndio da força de trabalho tornado mercadoria e que é, erroneamente atribuído as formas distintas de trabalho profissional (MARX Apud ANTUNES, 2004). 
A alienação social, segundo Chauí (2000) é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. 
Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam- se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade; no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações (CHAUÍ, 2000). 
Ainda que o trabalho afirme e consolide o homem como ser criativo, o advento do trabalho assalariado, por sua própria natureza, poda a propriedade criativa dessa atividade, ao passo em que o torna uma forma de alienação que se estende a todas as outras formas de relações sociais. 
Em que pese o fato de que o homem é um ser ontocriativo, e desde sua emergência como ser pensante, este busca estratégias de saciar necessidades e transformar a realidade. Na sociedade moderna e capitalista, a necessidade do homem será transformar a situação de exploração e subserviência do homem ao capital. Essa é a finalidade do proletariado, ao se valer de uma série de objetivações (movimento sociais, greves e mobilizações), numa práxis revolucionária em busca da emancipação humana e política. E neste sentido, afirma Vazquez que, 
A atividade propriamente humana apenas se verifica quando os atos dirigidos a um objeto pra transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou fim, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real. Nesse caso, os atos não só são determinados casualmente por um estado anterior que se 
8 Ver “Salário, preço e Lucro”, no livro “Dialética do trabalho: Escritos de Marx e Engels” (Antunes, 2004)
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verificou efetivamente – determinação do passado pelo presente -, como também por algo que ainda não em uma existência efetiva e que, no entanto, determina e regula os diferentes atos antes de desembocar em um resultado real; ou seja, a determinação não vem do passado, mas sim, do futuro” (2007, p. 220) 
Certamente que, toda atividade verdadeiramente humana requer certa consciência de sua finalidade, que está sujeita ao curso da própria atividade, rege todo o caminho da busca pelo objetivo e revela a atitude dos sujeitos em face da realidade. 
Dessa forma, atividade dos trabalhadores, ainda no século XVIII, ao negar a realidade efetiva, buscam por uma realidade diferente daquela que vinham experimentando, buscavam uma realidade que pudesse contemplar as sua reais necessidades. Nesse sentido, como afirma Vazquez (2007) os fins são produtos da consciência, e suas atividades são governadas de modo consciente, ou seja, de uma consciência social. 
Numa relação de interioridade, a consciência estabelece objetivos em que toda a ação se subordinará ao alcance desta finalidade. A classe trabalhadora buscava, de forma política e autônoma, o reconhecimento da questão social e, consequentemente o reconhecimento de que uma determinada classe, ao acumular toda a riqueza decorrente do trabalho social, relegava a outra classe a miséria e penumbra, sendo por isso, necessário a intervenção do estado para “amenizar” a voracidade do capital, estipular jornada máxima de trabalho e um ambiente de trabalho menos insalubre. 
De certo os homens fazem a história, mas, o fazem em condições predeterminadas. A práxis, como forma de transformação consciente da realidade, torna possível agir no sentido de buscar a transformação da realidade, no entanto, as condições enfrentadas nem sempre, e quase nunca, são aquelas escolhidas por eles, tornando necessário, uma adequação da ação a finalidade (VAZQUEZ, 2007). 
Numa sociedade divida em classes, a busca por interesses antagônicos, instaura uma luta que se realiza de diferentes formas, com estratégias para mediar o confronto aberto e luta política. 
Dentre essas armas, encontra-se a arte e, queremos então, a partir deste ponto compreender as formas como pode constituir o conjunto de objetivações que se propõe a transformação do capitalismo e de suas desigualdades.
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1.3. Práxis Artística 
Segundo Vazquez (1968) para a produção de objetos que se caracterizam como obras de arte, o trabalho necessita ser elevado a um grau considerável, na qual sua produtividade já não estivesse tão ligada a saciação de necessidades práticas e utilitárias. Como primeiro ponto a ser deduzido de tal afirmação, podemos considerar que a arte, num primeiro momento, deve estar desobrigada de uma função prática, da mesma forma em que a religião, a filosofia, a sociologia e diversas outras objetivações também não estão diretamente ligadas a satisfação esta finalidade. 
Como segundo ponto a ser considerada, a arte como resultante de um trabalho que coloca finalidades que não dizem respeito a garantia de subsistência física e material, mas sim como atividade prática posterior a objetivação primeira dos homens que é o trabalho, e consequentemente, o reconhecimento do seu traço histórico e social. 
Dessa forma, é inegável a indissociabilidade existente entre arte e trabalho, sendo que desde os tempos paleolíticos, e durante toda a trajetória e desenvolvimento da humanidade, esta condição esteve presente e mais, do que isso, pode se manter enquanto trabalho livre e por livre, tornou-se criativo. 
Essa indissociabilidade permitiu o desenvolvimento do ser social e, consequentemente, o desenvolvimento de seus gostos estéticos, a sua inclinação a certa tendência artística, suas habilidades e concepções para designar o belo e o feio, num relação muito próxima com a sensibilidade e a práxis desenvolvida e objetivada em arte. 
Porém, com o advento da sociedade industrial e sob o modelo de produção capitalista, a divisão do trabalho eleva-se a um nível extremo em que distancia as mãos que produzem e a consciência que objetiva o trabalho, e elimina a sua potencialidade criativa. É nessa sociedade também que a arte passa a ser considerada de forma desvinculada do trabalho ontológico, ou seja, e se manifesta de forma autônoma e desprendida dessa objetivação que a fundou. 
A produção artística, na sociedade capitalista, está submetida as leis do mercado, ou seja, o trabalho ontológico e criativo que realiza o artista estará vinculado ao trabalho que gera lucro, e então passa a ser regido pela capacidade de agregar valor de troca, gerar lucro e passará a ser produzido com esta finalidade. 
À produção artística, filosófica ou científica são atribuídos uma necessidade de representar uma certa utilidade imediata, pratica e não necessariamente um convite à reflexão e problematização das formas de relação que são regidas pelo interesse do capital.
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Sobre essa necessidade, em contraponto ao exercício da reflexão e critica do que nos é dado como algo natural, Vazquez (2007) argumenta que: 
Em um mundo regido pelas necessidades práticas imediatas – em um sentido estreitamente utilitário – não só as atividades artísticas e a própria política, particularmente a revolucionária, são improdutivas ou impráticas por excelência, uma vez que postas em relação com os interesses imediatos, pessoais, carecem de utilidade, á que seus atos só produzem prazer estético em um caso, ou fome, miséria e perseguições no outro. (p.35) 
Mas, ainda referindo as origens da arte, Vazquez (1968) localiza na era período paleolítico superior, a gênese da arte, quando o homem ao talhar animais ou fazer as pinturas nas cavernas galgou novos patamares de evolução do seu trabalho. Essa elevação dos níveis de trabalho, dirá o autor, se processou num período de centenas de milhares de anos no qual o homem passou a exercer um domínio cada vez maior sobre as matérias que manipulava. 
A evolução das ferramentas pode ser usada para exemplificar o evoluir da atividade do trabalho na era paleolítica. Se primeiramente, o objetivo que impulsiona a sua criação faz surgir ferramentas rústicas e grosseiras que foram sendo aprimoradas e aperfeiçoadas, ao mesmo tempo em que significam um maior domínio da natureza também significaram a evolução dos sentidos humanos, o enriquecimento do seu conhecimento sobre a matéria (peso, cor, proporção,dureza etc.) e o aumento de sua sensibilidade e percepção perante tais objetos. 
Somente o conhecimento elevado e o domínio da matéria sobre a qual seriam moldadas ferramentas e utensílios permitiram ao homem atribuir novas qualidades que não pertencem aos objetos por natureza. Essa nova capacidade, desenvolvida ainda nas formas primárias de trabalho, instituiu um novo tipo de relação com os objetos ao lhe proporcionar que o autor chama de “qualidades estéticas.”(VAZQUEZ, 1968, p.74) 
Assim, a objetivação artística deveu-se à capacidade instituída pela atividade do trabalho, ou seja, a partir do momento em que o homem desenvolveu a capacidade de instituir qualidades aos objetos do seu trabalho, a partir de um julgamento acerca das finalidades a que se destinavam. Esse julgamento, se atenderia ou não determinada necessidade, se cumpriria ou não determinada função teve papel fundamental na passagem do trabalho à arte, pois possibilitou que o trabalho se tornasse uma atividade de criação de objetos.
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Mais adiante, considerando o progresso na fabricação dos produtos do trabalho devido a saturação das formas e processos da atividade, Vazquez (1968) faz a seguinte conclusão acerca dessa passagem do trabalho a arte: 
A realização de uma forma mais perfeita devia ser necessariamente acompanhada de certa consciência da própria capacidade criadora, ainda que fosse apenas a consciência de ter realizado um trabalho mais eficaz ou perfeito. Finalmente, esta consciência da qualidade (ou eficácia) do objeto útil criado deve ter sido acompanhada de certo prazer, de certa satisfação consigo mesmo, que tinha sua fonte na contemplação do objeto no qual se plasmavam suas forças criadoras, isto é, na assimilação de seu conteúdo humano(p. 75). 
O trabalho mais desenvolvido e aperfeiçoado possibilitou a passagem do trabalho útil ao trabalho estético, a partir do momento em que ele, desde as sociedades primitivas, passou a atender a dois interesses: sua utilidade material e utilidade espiritual. E quando o interesse espiritual assumiu uma maior relevância em detrimento do interesse utilitário, alteraram-se também o valor atribuído a esse objeto pois, eles passa a representar um valor estético. 
O valor estético dos objetos produzidos pelo trabalho, as diversas formas de expressão artística, as musicas, poemas, pinturas são respostas a necessidades humano genérica de responder as capacidades historicamente desenvolvidas pelo homem na trajetória do ser social, e que foram mediadas pelo trabalho. 
A valoração do objeto, independentemente do seu valor utilitário, significou que o homem passou a reconhecer e ver afirmadas no produto do seu trabalho a sua potencialidade criadora. 
Nisso se constata que, assim como afirma Plekhânov (1969), o trabalho é muito anterior a arte e através dele o homem conseguiu chegar ao desenvolvimento dela. Como já abordado, o desenvolvimento da estética permitiu uma maior identificação do homem com o objeto do seu trabalho, o homem cria objetos que não, necessariamente, estão vinculados a um interesse prático, porém, com o advento da figuração9 a arte passa a ser vinculada a uma utilidade inicialmente vinculada à magia, expressando o seu ligamento com uma utilidade prática que seria a caça de animais. 
9 Segundo Vazquez (1968) ainda no período paleolítico os homens pré-históricos passaram a desenhar figuras no interior das cavernas, e todas elas passaram a ter um significado de poder destinado a compensar a limitação do homem perante as forças da natureza. (p.78)
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Vemos assim que a arte, analisada de uma maneira histórica relacionada a própria transformação do home como ser social, está sempre se metamorfoseando e redirecionando os seus objetivos. Dessa forma, Vazquez (1968) faz a descrição do período em que a arte passa do estético ao útil, ao passo em que sua função passa ser exercer influencias na caça. 
O que se observa é um retorno a utilidade pratica, porém ao retornar a esta condição traz consigo a capacidade e o poder de duplicar a realidade. O realismo presente nas figurações – o animal flechado e ferido – permite a apropriação da arte por todos os seres do gênero humano, á medida que lhes possibilitam compreender não somente o conteúdo e o apelo místico, mas reconhecer nas pinturas um determinado modo de relação do homem com a natureza. 
De acordo com o que vem discutido até aqui, a constituição da arte se deu num processo dialético no qual fora engendrada pela atividade do trabalho, mas se desvincula da sua utilidade prática, e retorna a ela ainda no período de constituição do ser social e das sociedades primitivas ao ser vinculada a atividade da caça. Ou ainda, 
Estas pinturas rupestres deviam exigir, portanto, uma auto consciência criadora que era acompanhada de certo prazer, suscitado pelo reconhecimento de perfeição com que era cumprido o encargo utilitário. Deste modo, no próprio seio da arte, como atividade diretamente útil, a autoconsciência criadora do artista pré-histórico e o prazer estético correlato impeliam-no a superar o marco utilitário do encargo mágico e a assegurar, novamente, como a arte de todos os tempos a relativa autonomia de estético sem a qual não se poderia falar propriamente de arte (VASQUEZ, 1968, p.82). 
Dessa forma, queremos a partir deste ponto trazer a discussão para a sociedade contemporânea, numa tentativa de compreender quais as relações entre a arte e a sociedade capitalista. 
1.4. Arte e Sociedade 
Em todas as sociedades prevaleceram tipos diferentes de arte, e ela surgiu e se manteve porque fora aceita e reconhecida pela sociedade e, também, porque foram desenvolvidas por artistas que a desenvolveram de acordo com as relações sociais que vigoraram nela.
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Essa afirmação confirma a relação de interioridade e referência entre arte e sociedade, visto que de uma forma ou outra, as diferentes formas de expressão artística em todas as sociedades, buscaram afirmar ou negar determinados traços da sociedade. 
Mais do que isso, a arte e a sociedade são indissociáveis, no sentido de que os seus idealizadores, ou seja, os artistas são seres que convivem na sociedade e extraem dela os sentidos e a orientação do seu trabalho, e também porque cada nova atividade do trabalho artístico expressa determinada forma de relação do sujeito artístico com a sociedade. 
Como vemos não faz sentido pensar a arte de forma gratuita, ou seja, a produção da arte por ela mesma, ou sob um estreito ligamento ao lúdico, ou ainda como a expressão mais direta de um individualismo e sem influência de qualquer condicionamento. 
Certamente a arte expressa nas suas atividades, formas de relações humanas que, por sua vez, só existem e se mantém na vida em sociedade. É na sociedade que o artista cria e objetiva suas riquezas humanas, fazendo surgir um novo meio de comunicação que será absorvido por outros indivíduos. 
Da mesma forma que a arte se influencia pelas experiências individuais e atende a necessidade, também individual, ela expressa e defende interesses de determinados grupo sociais. Disso se conclui que, a arte esteve presente historicamente na humanidade e carregou consigo interesses históricos e disseminou influencias desde o surgimento da sua atividade. 
Quando afirmamos que a relação entre arte e sociedade responde a determinações históricas, queremos dizer que a arte é suscetível de novas configurações e expressões que derivam da própria transformação do homem, enquanto artista, e da sociedade. 
Segundo Vazquez (1968), a relação entre arte e sociedade tem um caráter problemático que deriva da própria arte, pois como atividade criadora tende a se reger por criações que privilegiam o universal e o genêro humano, mas só se materializam na atividade particular do artista. 
Vazquez (1968) descreve essa tensão da seguinte forma: 
O particular e o universal se unem na criação artística tão harmonicamente que basta acentuar excessivamente um ou outro termo para que esta dialética se quebre, não sem graves consequências para a própria arte. As vezes, é o artista que rompe essa unidade por horror ao particular (ao seu tempo, à sua classe, à sua sociedade); às vezes, é a sociedade que empurra a arte para um caminho falso, pela ânsia de se impor sua particularidade (seus valores, suas ideias e seus interesses).(p.124)
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A arte pode atender a diversos objetivos, porém sua finalidade essencial é enriquecer o território humano, satisfazer um desejo e necessidade de comunicação que não se esgota numa simples imitação da realidade, mas, pretende a partir da sua disseminação, criar outra realidade. 
O valor artístico e estético de uma determinada forma de atividade artística somente é alcançado quando o artista consegue objetivar na sua obra conteúdos “ideológico e emocional humano”, que possibilita ao homem um aumento da sua própria realidade. 
Neste ponto consiste a transformação da realidade, os indivíduos ao se apropriarem de um valor estético e artístico, apreendem seu conteúdo e suas significações de um modo que, ao retornar a sua realidade ela já não é a mesma, mas, é transformada pela apreensão propiciada pelo contato com a obra de arte. 
Em determinadas sociedades históricas prevaleceram as condições para que a sociedade se reconhecesse na arte, porém desde o Renascimento10 surgem novos tipos de relações que vão erodindo as bases do feudalismo, fazendo emergir uma nova classe social: a burguesia. 
Nessa sociedade, como afirma o autor, cresce em escala significativa a capacidade produtiva, a capacidade de domínio do homem sobre a natureza e, mais do que isso, as diferentes formas de domínio sobre o próprio homem. 
Já abordamos acima, como o modo de produção capitalista, engendrado pela classe burguesa, inverte a ordem da produção. O homem passa a ser um meio de produção, se torna mercadoria usada e explorada para a produção de mercadorias, que ao serem vendidas no mercado, permite ao capitalista acumular riquezas materiais. 
Neste sentido, a crescente produção material, sob a ordem do capital, impõe aos homens formas de relação com os produtos do trabalho, atingindo também a arte, pois esta passa a ser pensada na lógica do mercado, perdendo seu caráter criativo e concreto, ganhando outras significações. 
O que resulta de todas essas transformações na sociedade é a crescente coisificação do homem e de sua atividade, que passa a ser cooptada e pensada segundo a lógica do mercado. 
10 Período final da Idade Média e inicio da Idade Moderna, que acontece a transição do feudalismo para o capitalismo, caracterizada pela ruptura dos valores medievais e uma revalorização do “antropocentrismo”. Essa mudança de paradigma é expressa também através da arte
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É nessa sociedade também que a arte reaparece como atividade que expressa e possibilita o reconhecimento do homem com a sua humanidade, existindo passa a existir, de forma nítida uma contradição entre arte e sociedade. 
Num mundo em que tudo se quantifica e abstrai, a arte – que é a esfera mais alta da expressão do concreto humano, do qualitativo – entra em contradição em esse mundo alienado e aparece, por sua vez, como um insubornável reduto do humano. Pela primeira vez, arte e sociedade entram em contradição radical. A primeira se opõe à segunda como o propriamente humano ao que nega o homem; a sociedade se opõe ao artista enquanto este resiste a deixar-se coisificar, enquanto busca expressar o humano.(Vazquez, 1968, p.126) 
Criação, no sentido fiel do termo, significa oposição à qualquer forma de produção que se desenvolve sob o capital. Dessa forma, o artista é impelido a concretizar suas formas de objetivação, priorizando a genericidade humana, em objetos concretos que se desenvolvem sem o reconhecimento e a legitimidade da sociedade ou de suas formas de dominação. 
Nessa conjuntura de dominação, exploração e alienação do trabalho, a arte desempenha papel de fundamental e de essencial importância pois, opõe-se ao mundo do mercado – desumanizado de forma extrema - para defender e buscar a recuperação de um mundo humano, das riquezas humanas. 
Esse posicionamento, por parte dos artistas, levou de fato ao rompimento de qualquer vinculação com o modo capitalista de pensar a reprodução da vida material e a arte. A necessidade de liberdade para construir suas criações, levou o artista ao rompimento com essas normas e regimentos da sociedade capitalista. 
É desta forma que podemos considerar que, embora sejam os anseios de criação que norteiam o rompimento entre a sociedade capitalista e a arte, essa atitude anuncia uma condição que reflete a conjuntura social, ao passo que, somente nesta sociedade alienada e alienante, o artista pode perceber o quanto essa condição social, lhe empurram enquanto artista e enquanto homem, a tornar-se uma coisa perante a ordem do capital. 
O rompimento do artista, fora se condensando nas suas obras, ao passo que passam a exprimir proposições e ideologias que se vinculam a um determinado interesse social, podendo se tornar ponto de partida para o entendimento da condição social e humana. A verdadeira arte, como afirma Vazquez (1968) é aquela que revela “aspectos essenciais da
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condição humana” (p.128), e por isso a comunicabilidade é imprescindível a toda forma de arte que se propõe a elevar o conjunto da humanidade. 
Para que isso seja possível é necessário desnudar a quanto essa sociedade burguesa, pela suas imposições e sua lógica mercadológica, torna o trabalho um tormento que frustra qualquer tentativa de realiza-lo como forma de produção criativa e consciente, voltada a satisfação de necessidades, essencialmente humanas. 
A arte cumpre assim um papel fundamental nessa sociedade de contradições, pois possibilita que esta objetivação se realize de forma artística, ou seja, como atividade que tenha sentido na sociedade e se realize de forma livre no sentido de elevar o gênero humano. 
A arte, como o trabalho, é criação de uma realidade na qual se plasmam finalidades humanas, mas nesta nova realidade domina sobretudo sua utilidade espiritual, isto é, sua capacidade de expressar o ser humano em toda sua plenitude, sem as limitações do trabalho. A utilidade da obra artística depende de sua capacidade, mas a necessidade geral que o homem sente de humanizar tudo quanto toca, de afirmar sua essência, de afirmar sua essência e de se reconhecer no mundo objetivo e criado por ele (VASZQUEZ, 1968, p. 71) 
A produção verdadeiramente artística, objetivada de forma livre e consciente permite o exercício da liberdade, que foi essencial ao desenvolvimento do ser social e essencial para que ele possa se manter e, assim lutar para se libertar de falsas concepções de liberdade, donde a atividade do trabalho possa se realizar na direção da satisfação das necessidades humanas e a apropriação dos seus resultados possa se dar de forma equitativa. 
Ao mesmo tempo em que a arte precisa de comunicabilidade, independente de sua forma de expressão, o público deve ter o anseio de se afastar de tudo que é manifestação de arte comprometida pela coisificação do mundo dos homens. 
A arte deve desempenhar esforços no sentido de manifestar ao publico as condições que desumanizam o conjunto das relações sociais, tornando-se solidário a todas as formas de lutas sociais que buscam a sobreposição do homem em detrimento de uma sociabilidade dilacerada do homem, tanto a um nível particular quanto na dimensão universal. 
Todas essas formas de resistência da arte e do verdadeiro artista, contribuem para a conscientização e, consequentemente, supõe formas de superação da ordem social que deve, na ação dos homens encontrar as ações necessárias para sua transformação. Contudo é necessário que o público também reconheça as formas de arte que não estão vinculadas ao
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objetivo de desalienação social, o que supõe outras formas de reflexão e não somente as manifestações artísticas. 
Ainda que o objeto artístico de fato traga proposições que vão ao sentido de contribuir para a conscientização dos homens, essa reflexão deve estar iluminada por teorias que permitam interpretar os fenômenos sociais, culturais, econômicos, políticos e ideológicos que são propagados na sociedade e que nos envolvem. 
Dessa forma, o homem precisa de um conjunto de conhecimentos de diversos ramos de estudos como a filosofia, a antropologia, as ciências sociais que, possibilitam entender a humanidade de forma histórica, entender as formas de exploração e opressão que são mantidas e reproduzidas na sociedade. 
Esse conhecimento, é necessário para enriquecer as reflexões propostas na arte mas, também para que, numa sociedade onde o mercado se apropria da arte e a oferece como mercadoria, a massificação da arte nem passa a ser produzida por pseudo-artistas e defendem e disseminam interesses que, por serem voltados a acumulação da riqueza material são contrários ao enriquecimento da humanidade. 
Vazquez (1968) menciona uma pseudo-arte que significa uma potencialidade artística produzida ou cooptada pelo mercado para satisfação de necessidades mercadológicas. Haja vista a massificação das formas artísticas, a produção industrial de arte e o seu espalhamento devido as formas tecnológicas de comunicação social (rádio, televisão e internet) são colocados no mercado diversos produtos que, se dizem, artístico mas que na realidade buscam o interesse de uma determinada classe social. 
A arte de massas – mesmo quando se apresenta na forma mais banal e, aparentemente, menos importante, ou quanto toca fugazmente nos problemas humanos mais profundos, para finalmente conservar-se em sua superfície, depois de ocultar as contradições vivas e reais – essa pseudo-arte cumpre uma função ideológica bem definida: manter o homem-massa em sua condição de homem-massa, fazer com que se sinta em tal massificação como em seu próprio elemento e, por conseguinte, fechar as janelas que poderiam permiti-lhes vislumbrar um mundo verdadeiramente humano, e, com isso, a possibilidade de tomar consciência de sua alienação, bem como os caminhos para destruí-la (p.286). 
Dessa forma, podemos concluir que a arte é consolidada como objetivação decorrente da objetivação do trabalho, não como algo que se deu de um momento a outro, mas, como uma construção dentro de um processo histórico, e, por isso é necessariamente
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pensa-la e exercitá-la juntamente com outras objetivações que permitiram a sua criação e o seu aprimoramento, bem como novas formas de manifestação artística oriundas da sociedade moderna. 
1.5. Arte engajada11 nas experiências da história recente do Brasil: Centro Popular de Cultura– CPC, Teatro do Oprimido e Hip Hop. 
Diante do que viemos expondo até aqui, queremos abordar algumas formas de expressão artísticas, cujo engajamento política que foram de grande importância para contribuir com o despertar de consciência das massas populares, munindo os trabalhadores de informações que pudessem dar sentido ao reconhecimento da luta de classes. 
Ligado à União Nacional de Estudantes o Centro Popular Cultural (CPC), existiu de 1961 a 1964, a partir da iniciativa de universitários, intelectuais, artistas e simpatizantes da causa pela qual se dispunha a lutar a CPC, qual seja a conscientização em massa. Para Boal (2000) o objetivo era, a partir das diversas formas de abordagem12, sobretudo as formas artísticas, pudessem fazer a “transformação massiva da consciência política do povo brasileiro” (p.13). 
Durante o breve período de existência, o CPC fez a divulgação de dezenas peças de teatro, cujo objetivo era que a partir das problemáticas representadas nas peças, as os trabalhadores pudessem tomar contato com a sua própria realidade, com as formas ideológicas que sustentas as relações desiguais no sistema capitalista, bem como as formas com as quais poderiam se organizar e buscar superar essas condições. 
De forma didática, as peças eram pensadas e apresentadas em sindicato, assembleias estudantis, nas ruas ou praças ou qualquer lugar que pudesse reunir certo número de pessoas, e todo o enredo se concentrava no esforço de deixar compreensíveis os processos históricos que engendram as desigualdades, desnaturalizando -as. 
O que nos interessa é mostrar o quanto as formas artísticas podem estar comprometidas com o desvelamento das contradições do real. É certo que as dificuldades são muitas e incontáveis, mas a arte é uma ferramenta e forma de representar o real. 
11 O que nos faz usar essas duas formas de expressão artísticas para exemplificar arte engajada é a inegável importância dessas iniciativas no contexto brasileiro. Pois são esforços de contribuir para o desvelamento das contradições, levando a população trabalhadora que esta distanciada do conhecimento político, as informações que os possibilitariam reconhecer os mecanismos de opressão e exploração. 
12 Boal (2000) cita diversas formas de abordagens e divulgação das informações com a publicação de dezenas de livros, revistas cujo a de maior destaque foi a Cadernos do Povo, além da edição de dois discos, no qual a música Canção do Subdesenvolvido, música que teve grande sucesso no Brasil (p.13)
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A vida do CPC não foi longa e a esse respeito Boal (2000) considera que o distanciamento das verdadeiras massas, bem como as formas de representações13 não foram suficientemente pensado sob a ótica da classe trabalhadora, que ainda que pudessem ser o alvo do discurso ali apresentado ainda tinham uma participação muito passiva nessas expressões artísticas. 
De fato, conforme nos afirma Boal (2008) o teatro é uma ação política, assim como o são todas as ações do homem. É nessa perspectiva que o teatrólogo coloca o exercício teatral como uma arma que pode contribuir para a construção da libertação. 
Na década de 1960, o Teatro do Oprimido apresenta uma é uma junção de técnicas artísticas e teatrais usada de forma a permitir que as classes menos favorecidas e mais prejudicadas pela voracidade das relações capitalistas, possam aproximar-se do conhecimento necessário para que as contradições possam ser desveladas e, em diferentes técnicas possam ser aplicadas nas luta social e política e nas expressões da questão social. 
A participação dos sujeitos no teatro, como protagonistas das cenas constituem um ensaio para a transformação da sociedade e todas as técnicas adotadas tem uma estreita ligação, e tornam fértil a reflexão ética e da política, da história e da filosofia (p.15). 
As técnicas apresentadas pelo TO são varias e não se limitam ao espaço teatral e buscam a possibilidade de que os sujeitos percebam o mundo sob a dimensão de inúmeras expressões artísticas: a poesia, a música e a imagem. 
As frutificações dessas ações artísticas servem para multiplicar e expandir e articular diferentes grupos, possibilitando reconhecer e juntar forças através do reconhecimento de outras formas de opressão e, consequentemente, possibilitam o exercício da solidariedade. 
Os jogos fazem parte do conjunto de técnicas adotadas pelo Teatro do Oprimido e, constituem a possibilidade de exercitar a reflexão acerca da necessidade e existência de leis que são pensadas, a princípio, na perspectiva de organizar as relações mas, que no fim se tornam, instrumento de servil obediência. A proposta é construir estratégias para que a reflexão possibilite o exercício da liberdade. 
13 No livro “As imagens de um teatro popular” Boal (2000) , faz uma analise da trajetória e das contradições do CPC, que pode ter seu insucesso ligado a dificuldade de compreender que certas formas de relação com a classe a qual se destinavam o seu trabalho, na realidade mantinham as formas ideológicas de representação social do sistema vigente, reproduzindo as hierarquias e as contradições de relações entre classes distintas, umas vez o CPC foi pensando e executado pela majoritariamente por jovens da classe média.
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TCC QUE SITA O FORUM HIP HOP MSP

  • 1. CENTRO UNIVERSITÁRIO – FMU CURSO DE SERVIÇO SOCIAL CAMILA SALAMIM MILKA SILVA HIP HOP: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, RESISTÊNCIA E JUVENTUDE. São Paulo 2013
  • 2. CAMILA SALAMIM MILKA SILVA HIP HOP: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, RESISTÊNCIA E JUVENTUDE. Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Centro Universitário FMU, Curso de Serviço Social, como exigência para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social sob orientação do Profº. Msº. Marcelo Gallo. São Paulo 2013
  • 3. Ficha catalográfica SALAMIM, Camila Victorio; SILVA, Milka. Hip hop: Participação política, resistência e juventude. São Paulo: Centro Universitário FMU, Curso de Serviço Social, Trabalho de Conclusão de Curso, 2013, 186 páginas. Hip hop, participação política, resistência e juventude
  • 4. CAMILA VICTORIO SALAMIM MILKA SILVA HIP HOP: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, RESISTÊNCIA E JUVENTUDE. Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Centro Universitário FMU, Curso de Serviço Social, como exigência para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social, sendo da banca a orientadora Profº. Msº. Marcelo Gallo e leitoras Profª Drª Elza Koumrouyan e Profª Msª Roberta Vilela Moreno. São Paulo, 13 de Junho de 2013. ___________ Nota ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________
  • 5. Aos nossos filhos Matheus Victório Santos e Geovani Silva Lemes.
  • 6. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado as forças necessárias para concluir essa etapa tão importante na minha vida. Agradeço aos meus pais: Mirian Maria (in Memórian) e Severino Joaquim (in Memórian), por terem me dado à luz, mas principalmente, por tudo que poderíamos ter vivido se a vida tivesse nos permitido. Por tudo que a memória de vocês significa e simboliza na minha vida! Agradeço aos meus familiares, meus irmãos: Luana Silva, Silvia Patrícia, Sandro Roberto e Jaqueline Miriam e a todos os meus sobrinhos pessoas importantíssimas e fundamentais para a realização deste objetivo. Agradeço também, a minha sogra Eunice Pereira, por ter me ajudado de todas as formas nos cuidados com meu filho, nesses momentos em que precisei me ausentar. Agradeço, imensamente e com todo o amor que há em mim, ao meu esposo Renato Lemes e meu filho Geovani Silva por terem sido os melhores companheiros e incentivadores que uma pessoa pode ter, por terem compreendido meus momentos de ausência e por acreditarem na minha capacidade de vencer os obstáculos que foram surgindo durante o processo da minha formação profissional. E também, agradeço ao orientador Marcelo Gallo, por ter assumido a direção desse trabalho no momento mais crítico de sua construção e, mesmo assim, ter tido a paciência e a gentileza de nos auxiliar e nos apoiar. Agradeço a todos os professores do curso que contribuíram ao longo desse processo, mas, especialmente à professora Elza Koumrouyan e a professora Maria Lúcia Mira, e às minhas supervisoras de campo de estágio, Cassia Maria Gellerth e Regina Célia de Souza, profissionais competentes que levarei como exemplos e referências para o meu exercício profissional e minha vida pessoal também. À todos os integrantes do Fórum de Hip Hop Municipal de São Paulo, por terem nos recebido e contribuído imensamente, de forma rica e provocativa para o processo da nossa pesquisa, dos quais sem a cooperação e a colaboração nada disso teria sido possível. Muito Obrigado! E, finalmente, agradeço a todas as companheiras de sala, sem exceção, meu muito obrigado! Mas, principalmente à Camila Salamin por ter me acompanhado durante todo esse período, e ter acreditado no tema e aceito o desafio de me acompanhar na construção desse trabalho, e, sobretudo, por ter acreditado na gente em todas as vezes que nem eu mesma acreditava! MILKA SILVA
  • 7. AGRADECIMENTOS Muitas pessoas contribuíram para a concretização deste trabalho, espero assim não esquecer ninguém. Primeiramente agradeço aos professores que permearam toda a minha formação em especial para a Prof.ª Elza Koumrouyan e a Prof.ª Maria Lúcia Garcia Mira. Outra docente que não poderia deixar de lembrar o orientador Prof. Marcello Gallo, um obrigado especial, pela dedicação e incentivo que nós levaram ao final desse trabalho. Agradeço a todas as pessoas de maneira direta ou indireta fizeram parte do meu estágio, em especial á Maria José Marino e Luciana Stocco, por toda a competência, ética e compreensão, pois, durante este processo de formação, nutriram meus primeiros passos rumo à minha futura atuação. Não poderia deixar de expressar minha gratidão aos militantes do Fórum Municipal de Hip Hop, falar o quão frutífera foi essa companhia e a todas as conversas de valor inestimável que pude participar. Sou devedora também a todos (as) companheiros (as) da graduação, e a enriquecimento a partir de debates, questionamentos, impasses que enfrentamos durante esses três anos e meio de curso. E a uma amiga em particular Milka Silva por aceitar esse desafio de escrever este trabalho, pela sua companhia, paciência, dedicação e a confiança durante esse processo, e mais do que isso pela pessoa que você realmente é. A toda minha família, aos meus irmãos e em especial a minha mãe Deise, que sempre esteve ao meu lado e nunca, nunca mesmo desistiu, obrigada. Ao meu esposo Christiano e ao meu herói Matheus, agradeço por enfrentarem esse desafio ao meu lado e peço perdão pela minha ausência que se fez necessário. Enfim, a todos que estiveram comigo nesse percurso, aos velhos e novos amigos de sempre, o meu profundo respeito e afeto. CAMILA SALAMIM
  • 8. RESUMO Este trabalho irá fazer uma reflexão sobre como a dimensão política da cultura Hip Hop pode fornecer aos jovens elementos para intervir na realidade. Faremos uma reflexão histórica sobre o Hip Hop como ele está vinculado à uma forma de resistência ao sistema vigente, tornando-se assim instrumento que permite compreender e expressar as formas de opressão vivenciadas nas periferias. Através dos quatro elementos do hip hop a juventude encontra maneiras de manifestar-se frente todas as formas de violência e violação de direitos cometida pelo Estado. Por efeito da lógica capitalista, vivenciamos uma dicotomia da cultura, onde a parte cooptada é absorvida pela mídia emanando interesses individuais, em contra partida, permanecem na base da cultura os ideais de resistência e de fortalecimento da ideologia. Diante da inquietação em compreender como o Hip Hop vem atuado para a transformação dessa sociabilidade através da participação política, buscou-se a aproximação com o Fórum Municipal Hip Hop – SP a fim de realizar a pesquisa de campo. Durante esse processo utilizamos da observação participante como metodologia de pesquisa e, podemos sutilmente penetrar nas relações de força expostas da construção da Semana de Hip Hop 2013 e desvendar o significado político desta ação. Palavras chaves: Hip Hop, Participação Política, Resistência e Juventude.
  • 9. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 :EVENTO QUESTÃO FEMININA 125 FIGURA 2:HIP HOP: OCUPAÇÃO PRESTES MAIA 125 FIGURA 3: BATE PAPO: formatação de políticas públicas 126 LISTA DE SIGLAS ASMM - Associação São Mateus em Movimento CCGJNPP - Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra, Pobre e Periférica CCJ - Centro Cultural de Juventude CEU - Centro de Ensino Unificado CPC – Centro Popular de Cultura CJ - Coordenadoria de Juventude do município de São Paulo CRAS - Centro de Referencia da Assistência Social CREAS - Centro de Referencia Especializada da Assistência Social ETEC - Escola Técnica Estadual FMHH-SP - Fórum de Hip Hop Municipal de São Paulo HH - Hip Hop MASP - Museu de Arte de São Paulo MMM - Movimento Mães de Maio MP - Ministério Público de São Paulo PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira PT - Partido dos Trabalhadores SEPPIR - Secretaria Especial de Promoção de Igualdade Racial SHH - Semana de Hip Hop TO - Teatro do Oprimido UNEAFRO - União de Núcleos de Educação Popular para Negros VAI - Valorização de Iniciativas Culturais
  • 10. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 CAPÍTULO I - TRABALHO, ARTE E SOCIABILIDADE. ............................................... 22 1.1. Trabalho e ser social .............................................................................................. 23 1.2. Do trabalho ontológico e criativo ao trabalho alienado ........................................... 30 1.3. Práxis Artística ...................................................................................................... 36 1.4. Arte e Sociedade .................................................................................................... 39 1.5. Arte engajada nas experiências da história recente do Brasil: Centro Popular de Cultura, Teatro do Oprimido e Hip Hop. ......................................................................... 45 CAPÍTULO II - HIP HOP: ORIGEM E ESSÊNCIA ........................................................... 51 2.1. O que é Hip Hop? .................................................................................................. 52 2.2. A herança Afro. ..................................................................................................... 55 2.3. A questão racial: Contexto fundante do hip hop nos EUA. ..................................... 59 2.4. Conjuntura política e social nos Estados Unidos e no mundo. ................................ 67 2.5. Transformações culturais e políticas: juventude e hip hop no Brasil. ...................... 76 CAPÍTULO III - PESQUISA DE CAMPO .......................................................................... 88 3.1. Metodologia De pesquisa .......................................................................................... 89 3.2. Fórum Hip Hop Municipal – SP ............................................................................. 90 3.3. CAMINHOS PERCORRIDOS PARA PESQUISA ................................................ 94 3.3.1. Reuniões Fórum Municipal de Hip Hop – SP .................................................. 94 3.3.2. Audiência Contra o Genocídio da Juventude Negra e Periférica .................... 107 3.3.3. Caminhada “10 D – Dez direitos que o estado não garante” .......................... 110 3.3.4. Inauguração Espaço Povo Forte .................................................................... 112 3.3.5. Capacitação FUNARTE ................................................................................ 116 3.3.6. Associação São Mateus em movimento ........................................................ 117 3.4. SEMANA DE HIP HOP ...................................................................................... 118 3.4.1. Existe diálogo em SP- Secretário de Cultura ................................................. 118 3.4.2. Câmara: debate sobre o genocídio da juventude negra ................................... 118 3.4.3. Debate hip hop: movimento ou entretenimento? ........................................... 122 3.5. Pós-semana de HIP HOP ..................................................................................... 123
  • 11. 3.5.1. EXISTE DIALOGO EM SP- Encontro Secretário de Cultura e o Movimento Hip Hop Organizado. ................................................................................................. 123 3.5.2. Encontro com Prefeito Fernando Haddad. ..................................................... 126 3.5.3. Agenda Fórum Municipal de Hip Hop – SP ...................................................... 126 ANÁLISE DA PESQUISA PARTICIPANTE .................................................................... 129 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 140 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 143 ANEXO ............................................................................................................................. 147 Lei nº 14485 de 19 de julho de 2007 de São Paulo.......................................................... 147
  • 12. 11 INTRODUÇÃO Este trabalho de pesquisa nasce do desejo de entender de que forma o hip hop, ao contribuir para o despertar da consciência política, permite aos jovens reconhecerem-se como sujeitos de direitos e a partir disso, como se inserem nos espaços público para debater e propor políticas que interessam a juventude periférica. Para entendermos como isso se processa é necessário fazer uma busca teórica sobre a questão da arte enquanto materialização de uma ideologia que tanto pode ser vista e entendida como formadora de uma opinião critica ao sistema capitalista vigente ou como mais uma estratégia de manipulação e alienação de um de terminado grupo social. No entanto não obstante destacar que este movimento artístico se materializa em um espaço geográfico determinado por múltiplas expressões da questão social, logo, entender como na cidade de São Paulo isso ocorre é mais um desafio posto as pesquisadoras. O surgimento e complexificação das cidades está estreitamente ligado às transformações decorrentes da Revolução Industrial, tanto no que diz respeito à sua existência objetiva, quanto à sociabilidade e às relações sociais que vão ser estabelecidas a partir das novas formas de relação de trabalho, sequenciadas por mudanças decorrentes das transformações tecnológicas. Esses ambientes urbanos são caracterizados pela crescente fragmentação e acentuação das desigualdades sociais, cujos interesses antagônicos são disputados por diferentes ideologias que neles se rebatem. Neste panorama, existem diversos “microgrupos de sociabilidade” formados por jovens, que se reúnem com o objetivo de discutir suas visões de mundo, sua condição na sociedade e se contrapor às formas correntes de dominação. O modo como expressam essas posições e contraposições é feito por meio de formas, cada vez mais, criativas, constituindo, assim, uma diversa gama de “tribos urbanas1” composta por indivíduos, majoritariamente, jovens. (FILHO, 2004). 1 Esse termo é usado para caracterizar grupos que, partilham de uma mesma ideologia e cultura e se distinguem visivelmente pela estética adotada e pelas preferências artísticas. Atualmente nas grandes cidades existem diversas tribalizações urbanas que, utilizam diferentes formas de expressar seus posicionamento políticos e culturais dentre os quais podemos citar os punks, mangue bits, skinheads, carecas do subúrbido, rudie boys, clubers, sambistas, além dos hip hoppers. (SILVA, 1998)
  • 13. 12 Há que se considerar que ser jovem, hoje em dia, não é somente uma questão cronológica, quando se leva em conta as transformações pelas quais essa concepção foi passando ao longo do tempo. Atualmente, sabe-se que ela está fortemente relacionado a um estado de espírito, pois, ser jovem é ser moderno, ou seja, é romper com os modelos clássicos da sociedade e estar sempre aberto ao novo, ao contemporâneo. Esse modo de conceber a juventude é uma ideia inserida pela lógica capitalista, devido ao potencial de lucratividade dela decorrente, em função de seu potencial publicitário e de seu poder de marketing. Mas, bem ao contrário a toda forma de publicidade que hoje circula nos diferentes espaços midiáticos, a realidade que se tem é outra, para não se dizer, completamente diferente da que é veiculada nos meios de comunicação. De fato, os jovens conseguiram avançar muito, conquistaram espaços de participação social e protagonizaram lutas significativas no século XX, porém essa utopia que durante muito tempo os impulsionou para a luta em busca de transformação social, enfraqueceu-se e, embora ainda presente em alguns movimentos de juventude, tem pouca, ou nenhuma, visibilidade social. O fato é que a sociedade na qual vivemos hoje, já não é aquela de poucas décadas atrás. Muitas coisas se modificaram, e a ofensiva neoliberal e toda a sua lógica empregnou-se no pensamento político espalhando-se por todas as esferas da vida social, a partir da reconfiguração do mundo do trabalho. Contrário à repressão e proibição do pleno exercício da cidadania, que se viveu em tempos de ditadura, a instauração da democracia no país, trouxe para o cenário nacional novas possibilidades para que as lutas populares, os sindicatos, partidos políticos, e os movimentos sociais vissem contemplados os seus interesses na agenda pública, uma vez que poderiam, agora, exercer livremente os seus papeis, saindo, portanto, da clandestinidade. Não obstante, a participação social tenha sido reconhecida como direito constitucional a partir de 1988, esse reconhecimento e legitimação se dão, também nos espaços dos Conselhos de Direitos, considerando que, neles, a participação popular é uma necessidade para que se alcance o objetivo para o qual foram designados E, mais ainda, para que os sujeitos, público alvo das políticas, possam ser atores sociais políticos fundamentais para gestão pública, voltada para o interesse social, assim como propõe a Constituição Federal. Contudo, após mais de vinte anos de ditadura, de repressão política e impedimentos do exercício da cidadania, e instaurada a democracia participativa, a sociedade, ainda, não
  • 14. 13 apresentou mudanças significativas na cultura política e permanece sem tomar partido nas questões que dizem respeito à sociedade como um todo. Conforme Rosenfield (1994), Se tomarmos a história recente do nosso país, neste imenso exercício de democracia que foram as manifestações em prol das eleições diretas para presidente da República, observaremos a criação de uma cena pública democrática única em nossa história. Ela é, de um lado, a culminação política de um processo de democratização social da sociedade brasileira em seu conjunto, fruto de um efetivo processo de realização da liberdade política, mas, de outro, ela anuncia, no fato de que seus objetivos não foram alcançados, um retorno destes indivíduos aos lugares de onde surgiram. (p.87) Essa desmobilização política se deve à questões políticas, propriamente ditas, como a falta de exercício político, descrença nos mecanismos do exercício de participação social e desvalorização do exercício de gestores públicos. Mas, também, se deve à conjuntura social que, pautada na sociabilidade burguesa, se centra na busca pela realização de interesses classistas, individuais e singulares, atendendo a uma lógica imposta pelo ideário neoliberal.2. Rosenfield (1994) afirma também que: A apatia política e a inércia dos cidadãos diante dos assuntos políticos tornam-se um problema estrutural da democracia moderna. (...) O grupo dos governados, volta-se para as suas atividades pessoais e privadas, sendo destituídos da possibilidade de intervir politicamente nos assuntos públicos. O social tende assim a uma desarticulação política, podendo resultar numa decomposição da sociedade enquanto tal. (...) A padronização dos comportamentos faz com que os indivíduos, voltados para a satisfação dos seus interesses materiais, através do consumo de objetos recorrentemente novos, fujam das suas responsabilidades no tocante à coletividade (p. 75-6) No contexto da luta de classes, a mais bem elaborada democracia pode se tornar a perpetuação de interesses de classes, caso os sujeitos sociais não possam, e/ou não se sintam 2 Ver Elaine Bering , Ivanete Bochetti e Evilásio Salvador.
  • 15. 14 motivados a se apoderar de seus papéis e desempenhar com a firmeza necessária o exercício da cidadania, pois só ela pode garantir e legitimar, de fato, a democracia no país. Se, para as pessoas que vivenciaram o estado paternalista no período 1930 a 1945 e, em seguida, o estado ditatorial, no período de 1964 a1985, ainda restam muitos resquícios de inanição política que as impossibilitam reconhecer-se como sujeitos da história, detentoras de direitos e, inclusive, deveres do exercício político. No caso dos jovens esse processo de auto reconhecimento político parece tornar-se mais difícil. Sobre o tema, Dayrell (2010) afirma que: Podemos inferir que os jovens, de uma maneira geral, não se percebem como atores, sujeitos de uma ação que possa interferir na sua realidade e nas instituições. Isso parece demonstrar certa descrença nas formas de engajamentos políticos mais tradicionais, falta de um conhecimento mais amplo sobre a vida política e a pouca experiência dos jovens em ações como essas. Mas também nos alerta para uma visão muito restrita das possibilidades de intervenção na sua realidade como atores, sujeitos e cidadãos. O desinteresse da grande maioria dos jovens pelos assuntos da política, em contrapartida, cede lugar para diversos outros interesses que vão, desde questões que envolvam sexualidade, estética corporal, vida profissional, diversão até outras questões que representam formas de sentirem-se incluídos e participantes dessa sociedade, sem que tudo isso signifique interesse em compreender a sua própria condição na sociedade. Tal situação torna-se, ainda mais preocupante se olharmos para os jovens que residem nas periferias das grandes cidades, pois a estes, além da inexistência de condições básicas de infraestrutura e diversas formas de vulnerabilidade social3, soma-se a precarização 3 Tratar da questão da exploração da mão de obra do trabalhador e coloca-lo na situação de um sujeito em condições de vulnerabilidade social é uma estratégia utilizada pela sociologia Francesa que atende ao ideário neoliberal que enquadra os sujeitos como se pertencentes a um sistema quase que biológico do ponto de vista analítico. (ver: Serge Paugan, Robert Castel, entre outros).
  • 16. 15 do ensino público, que nesta sociabilidade vem formando um exercito de analfabetos funcionais4. A evasão escolar e defasagem idade/série, (que ainda existe e vem sendo reduzido por conta de políticas sociais de repasse de renda que vinculam sue ordenamento financeiro a frequência escolar não é o garantidor do ensino de qualidade), em quase todos os casos, e está condicionado a desigualdade social que, alavanca uma série de motivações impeditivas e dificultadoras da freqüência regular nos espaços escolares devido a necessidade de complementar a renda familiar. Contudo, essa experiência é vivenciada por alguns jovens que alcançam a possibilidade de se inserir no mercado de trabalho, exercendo atividade remunerada da qual pode somar valor à renda familiar. Para outros tantos jovens essa possibilidade não é vislumbrada e as consequências que daí decorrem, ganham visibilidade em muitos casos, no acúmulo de frustrações e negativas do mercado de trabalho, como por exemplo, a alegação da falta de experiência profissional ou a defasagem idade/série. Mas, vale registrar que a permanência dos jovens e a completude do ciclo escolar não, necessariamente, significam que haverá uma apreensão eficiente de informações necessárias para o amadurecimento intelectual e autonomia desses cidadãos. É uma situação que tem sido reproduzida historicamente, pois esses espaços constituem-se como local estratégico de assimilação das regras sociais5, modeladas pela dinâmica da sociedade capitalista (GUZZO e FILHO, 2005). A falta de absorção de conhecimentos que lhe permitam conhecer a história da país e, consequentemente, sua própria história impedem o amadurecimento intelectual e o reconhecimento do que está posto na sociedade através, de diversos outros mecanismo de alienação dentre os quais a mídia aparece como um símbolo significativamente forte. Outro ponto que merece destaque é o fato de que estes jovens que tão residem em lugares segregados e rotulados, que foram construídos historicamente. Segundo KOWARIC 4 Por analfabetos funcionais entende-se o sujeito que consegue fazer as quatro operações matemática,e ler um texto simples sem que com isso consigo fazer outras analogias que não foram construídas no espaço da sala de aula durante as series do ensino fundamental I e II (ver Sposito e Carrano); 5 A discussão sobre o sistema educacional brasileiro como um dos pilares centrais de reprodução da desigualdade social no país, está disponível em artigo publicado na internet, sob o título “Desigualdade social e sistema educacional brasileiro: a urgência da educação emancipadora”, disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-98432005000200005&script=sci_arttext> Acessado em: 24/04/2013.
  • 17. 16 (1993) as periferias6 são bairros afastados do centro, que foram sendo formados pelos constantes fluxos migratórios internos, resultantes do processo de industrialização que ocorreu no país, a partir de meados da década de 1950, quando a classe trabalhadora passou a ser requisitada de forma cada vez mais intensa para compor o exercito de trabalhadores necessários à reprodução do capital. O fato é que esses espaços, que foram sendo ocupados numa velocidade considerável, foram se constituindo nos locais em que as formas históricas de pobreza, miséria e violência encontraram solo fértil e propício para, não só se instaurarem, mas, também, deitarem raízes e perpetuarem as mesmas condições do início do processo de favelização que se assistiu nos centros urbanos. A impossibilidade dos jovens refletirem sobre esses processos históricos de reprodução das desigualdades sociais, é o que favorece a somatória de fatores que sustentam o processo de exclusão, marginalização consequentes da alienação política e social dos trabalhadores, tornando insólita a possibilidade de se contrapor a essa situação. Sobre o tema, Abramo (Apud FLORENTINO, 2008), afirma que, (...) a geração jovem mais recente aparece principalmente marcada pela negatividade, pela ausência da capacidade da reflexão crítica da ordem social, pela passividade em relação aos valores e práticas sociais inscritas nas tendências sociais da época; essas ausências revelariam um desvio, uma traição da própria essência da condição juvenil. Dentre os motivadores da aparente desmobilização da juventude nos assuntos políticos e de interesse público são diversos. Os motivadores desse distanciamento , podem ser o “descrédito na atuação dos políticos, a falta de estímulo a participação social nas 6 Kowarick (1993) faz uma analise sobre o modo como a expansão industrial e os fluxos migratórios ensejaram as condições o processo de “favelização”, que resultaram na composição de grandes, múltiplos territórios ocupados em locais sem estrutura. Esses territórios constituem, até hoje, as favelas e/ou comunidades, que salvo avanços muito pontuais, continuam a ter a mesma carência de equipamento e políticas publicas, visto que estas parece que não acompanharam o desenvolvimento das periferias e continuam a concentrar na região central e nas suas proximidades o maior numero de equipamentos públicos.
  • 18. 17 diferentes estâncias, além da falha política de educação pública que não permite o acumulo de conhecimento. De todo modo, conforme pontuado por Dayrell (2010) Parece-nos também que os jovens indicam que o caminho da participação política mais organizada pertence ao mundo adulto e, mais ainda, a um determinado tipo de engajamento político mais tradicional, reduzindo a participação política a uma ação reivindicativa junto às instituições constituídas como a Câmara Municipal, os vereadores ou administração municipal. O fato é que o papel que os jovens deveriam desempenhar nos assuntos do país, a partir da sua localidade ou região é , via de regra, substituído por diversas outras atividades que possam lhes dar um significado e uma perspectiva de inserção. Tais atividades (diversão, consumo de droga licitas e ilícitas, cuidados exagerados com o corpo, individualidade, a busca pelo sucesso pessoal) acabam enfraquecendo ou .estagnando o processo do reconhecimento de sua condição de classe e de sujeitos de direitos7 e, o mais importante, como sujeitos políticos. Quando muito, o conhecimento frágil sobre o que seja democracia e cidadania, os permite fazer leituras rasas e superfíciais, que não dão conta de gerar e dar sustentação à ações que, persigam os interesses/direitos que digam respeito, diretamente, à transformação das periferias. Porém, os territórios guardam sua própria cultura, visão de mundo e de sociedade, no qual buscam explicar e expressar o mundo a partir do ponto de vista daqueles que se encontram alijados dos processos e relações sociais, bem como das condições, mais básicas, de sobrevivência e de vida. Para as periferias, a estratégia por ela encontrada foi a cultura, que passa a ser a instrumento usado para levantar e mobilizar uma grande parcela da sociedade que, inconsciente dos processos levam a determinadas condições mantinham-se resignadas politicamente (ROCHA et. Al, 2001). 7 Kehl (2004) aborda a questão do consumismo e afirma que o capitalismo se apropria da juventude a favor dos interesses do mercado. O desemprego cria necessidade do sujeito permanecer com os pais por mais tempo que o necessário, pois não desenvolve sua autonomia e dependência ao mesmo tempo em que transforma essa condição numa falsa sensação de sucesso perante a sociedade, pois através da simbologia dos bens que adquire representa uma condição subjetiva de estar sempre de bem com a vida e cheio de vida pela frente.
  • 19. 18 Como um produto cultural das periferias, o hip hop nasceu nos guetos do Bronx, em Nova York (EUA), na década de 1960 e se espalhou pelo mundo devido à sua capacidade criativa e inovadora de juntar arte e cultura, no sentido de expressar as desigualdades sociais e as contradições da sociedade burguesa. Também considerado como uma tribo urbana, o hip hop, e toda a ideologia que permeia essa vasta cultura urbana, tem adquirido visibilidade e ganhado, cada vez mais, adeptos em todo o mundo devido à capacidade de combinar a elevação da autoestima, a possibilidade de identificação e pertencimento a um grupo social, pelo princípio contestatório e também, porque possibilita o preenchimento de vazio das formas precárias de educação (FILHO, 2004; ROCHA et. Al, 200 O hip hop, embora não tenha surgido com sentido político, aos poucos, às manifestações artísticas foram somadas questões que pudessem expressar as preocupações cotidianas do espaços das periferias, a começar por uma consciência em aceitar estigmas que relacionam a periferia (e seus moradores) à violência e criminalidade, bem como a intenção de transformação da realidade agindo sobre ela (ROCHA, et. Al, 2001). A trajetória do hip hop no Brasil, e em São Paulo, particularmente, foi construída por diversos percalços e obstáculos que se transformaram concretamente na matéria prima de sua arte e expressão. Como uma das expressões da questão social, a cultura hip hop adentra os espaços urbanos, reivindicando, através de pinturas, musicas e dança o espaço e direitos que são negados aos jovens. Há, claramente, na relação do hip hop com a sociedade interesses divergentes aos modelos padrões nela vigentes. Nesse sentido, a periferia passa a ter voz própria e alcança todos os quadrantes da cidade, deixando evidente o conhecimento de que dispunham sobre os processos históricos que geraram as periferias e as diversas formas de exclusão social. O hip hop manifestou-se não somente através das ideias que foram sendo transmitidas (e/ou registradas), nas letras de suas músicas, mas, também, no estilo próprio de se vestir, estilo este que traz implícito um significado, que, também, lhe é peculiar. Mas, ao mesmo tempo em que as ideias e criações tem autoria reconhecida pela sociedade, o mercado aproveita-se delas para, além de cooptá-las, atribuir a todas as formas de manifestação cultural presentes no hip hop, o status de mercadoria, descaracterizando, assim, o teor da luta de classes e de contestação e ou denúncia da realidade.
  • 20. 19 Nesse processo, a criatividade artística e a estética hip hop tornaram- se mercadorias, e, nessa condição, foram esvaziadas de sua ideologia e de seu compromisso com a transformação societária, com vistas a uma sociedade igualitária (SANTOS, 2002; FÉLIX, 2005; ROCHA,2001e FILHO, 2004) e, em seu lugar, introduziu-se uma ideologia, que encobre e escamoteia as relações sociais que o hip hop objetivava explicitar. Como vemos, o hip hop é uma ferramenta que possibilita aos jovens da periferia se conhecer politicamente, apoderar-se de sua história, desvendar mecanismos de opressão e de perpetuação da miséria e da violência presentes nas periferias. Num espaço território no qual o Estado permanece ausente, é de importância incontestável que a periferia se organize no sentido de manter viva a cultura que, por diversas vezes constitui-se na única forma de aprender a fazer uma leitura critica da sociedade e romper com a naturalização das desigualdades sociais e de um olhar fatalista sobre a sociedade. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo compreender o hip hop contribui para o entendimento da realidade e estimulo à participação de forma a contribuir para que o Estado reconheça, legitime e efetive os direitos dos jovens através de políticas públicas correspondentes. Para tanto, elegemos como hipótese de trabalho que a participação social dos jovens do hip hop, nos espaços e equipamentos públicos que, por direito lhes pertence, constitui-se em valioso instrumento de luta pela garantia dos direitos, construção e efetivação de políticas públicas. Temos como hipótese que, a aparente resistência do hip hop em se introduzir e participar de espaços formais da política contribui para o fortalecimento de concepções ideológicas acerca das políticas sociais, dificultando a ampliação e conquista de direitos. Nessa intenção saímos a campo e participamos de algumas atividades do hip hop na região Metropolitana de São Paulo e optamos por realizar a pesquisa no Fórum Municipal de Hip Hop – SP, pois esse espaço tem mais relação com o objetivo da nossa pesquisa. As contradições estão postas na sociedade, porém e para que a democracia se efetive e se realize é necessário que o Estado reconheça, legitime e efetive os direitos através das políticas públicas e, essa questão somente será concretizada se os jovens, os hipp hoppers, ocuparem os espaços que lhes pertencem, enquanto cidadãos, eleitores e sujeitos políticos e sociais.
  • 21. 20 Compreender como se dá essa relação entre os jovens e o poder público, poderá contribuir para pensarmos as possibilidades que possam ser construídas pela relação entre cultura e política, para garantir e ampliar os direitos da juventude luta diariamente pra sobreviver. Como cultura que esta ligada a um projeto societário, o hip hop é uma forma de leitura da realidade, uma filosofia que permite compreender a realidade que engendra, a situação vivenciada cotidianamente pelos moradores da periferia. A questão que colocamos é como essa cultura artística tem agido para transformação do que está posto, pela via política. Através do materialismo histórico procuramos abordar como a sociabilidade é histórica e corresponde ao grau de desenvolvimento das forças produtivas, trazendo diversas expressões da questão social e como um determinado grupo de organiza para construir possibilidades de quebrar esse ciclo de desinformação através da arte, e como isso contribui para que a consciência de classe possa florescer e a, a partir disso, como esses sujeitos se abrem para o reconhecimento do que está posto e como usam o conhecimento que tem para transformação concreta da realidade quem vivem (ANTUNES, 2004 ; NETTO e BRAZ, 2011). No capítulo I, abordaremos o papel do trabalho na constituição do ser social e o surgimento da arte. Duas formas de objetivação que, em tese, levariam o homem ao domínio de si mesmo e de suas potencialidades de forma emancipadora, através de uma sociabilidade livre e ética. Porém, com o advento do capitalismo esse quadro se inverte de forma que trabalho e arte passam a constituir o conjunto de mercadoria a venda na sociedade, apontando as possibilidades encontradas pelos artistas que resistem e posicionam contra essa lógica, como alguns do hip hop. Para a construção do capítulo dialogamos, principalmente, com Vazquez (1968), Antunes (2004), Netto e Braz (2011) e Chauí (2000). No capítulo II, apontaremos o contexto histórico e os acontecimentos na esfera economica, política e social que dera origem a criação de uma cultura artística que, marginalizada, se propõe a ser o conjunto de ideias que possibilitariam o jovem da periferia, a maioria negro, pobre e estigmatizado a olhar sua condição na história, reconhecer os mecanismos da opressão e lutar politicamente para a inversão do quadro. No III capítulo, mostraremos o caminho percorrido para a pesquisa, a analise dos resultados da pesquisa participante, que realizamos no Fórum Municipal de Hip Hop –SP, com grupo de jovens que são de periferia e que através dos elementos e do discurso do hip hop, puderam compreender a realidade capitalista e lutam cotidianamente, através da junção de arte, militância e participação social, para que as periferias tenham acesso as políticas
  • 22. 21 públicas de qualidade, que possibilitem o acesso da juventude a oportunidades de estar em contato com outras referencias e possibilidades que ele pode ajudar a construir, em detrimento de um mundo desesperançado e banalizado pela violência (social, física e letal) do Estado.
  • 23. 22 CAPÍTULO I - TRABALHO, ARTE E SOCIABILIDADE.
  • 24. 23 1.1. Trabalho e ser social Queremos, para os fins propostos neste trabalho, anunciar a concepção de homem e de mundo a ser abordada em nossa pesquisa. Isso porque, acreditamos que o homem é um ser histórico e cultural, que se construiu e vem se transformando através da atividade do trabalho. Contudo, as modificações que o trabalho vem sofrendo desde as suas formas primitivas, essenciais e ontológicas, acarretam modificações também nas formas de sociabilidade que a humanidade experimenta a cada novo tempo histórico. Pensar a humanidade de forma histórica coloca-nos a necessidade de retonar ao processo de constituição do homem como ser social, ou seja, retonar ao processo de humanização do homem, captando o trabalho como a atividade que funda o ser social. O trabalho é atividade na qual o homem interage com a natureza, modificando-a para responder às suas necessidades. Nessa interação, mediada pelos objetos que cria, o homem transforma a si mesmo e transforma o meio em que vive. Como resultados da interação com a natureza, e da interação entre os homens, as objetivações concretizam as idealizações que responderiam as necessidades que o homem precisa superar para garantir sua existência. As objetivações do trabalho se colocam em níveis distintos, quais sejam: num primeiro momento se caracteriza pela busca de satisfação das suas necessidades imediatas o que leva o homem a desenvolver a construção de ferramentas que lhe permitem saciar a fome, a sede, o frio e etc., assim como, e, simultaneamente, a criar outras formas de convivência e sociabilidade que, por sua vez, lhe colocam novas necessidades. Mas, o homem não cria somente produtos para o trabalho, ele cria também, valores (linguagem, arte, ciência, religião) que lhe permite transformar a sua forma de relacionar-se consigo mesmo e com os demais à sua volta. Assim, somente através do trabalho pode-se compreender o homem como um ser historicamente construído por sua própria atividade, e compreender a transformação de um ser meramente biológico, instintivo e natural no ser social, dotado de capacidades exclusivamente humanas. Pensado nesta perspectiva, ou ainda, no trabalho como a condição para criação de toda forma de vida humana, e como a condição fundamental para a criação do próprio homem, Engels (Apud ANTUNES, 2004), afirma que nossos antepassados primatas, em face de suas necessidades foram dando respostas a elas também no sentido corpóreo.
  • 25. 24 Para ilustrar este desenvolvimento o autor faz uma narrativa do processo em que tais primatas, na busca pela sua sobrevivência e numa interação imediata com a natureza, deixam de ser quadrúpedes e assumem a posição ereta e, consequentemente, são levados à descoberta e desenvolvimento das mãos. A posição ereta passa a ser mais do que uma condição, se transforma numa necessidade para o manuseio da natureza, para a subsistência da espécie. O homem primitivo, portanto, ao buscar formas de saciar suas necessidades mais básicas (fome e sede) numa interação imediata com a natureza descobre que pode empregar as suas mãos em atividades que lhe permitiram manusear e sentir a matéria de outras formas, abrindo-lhe, assim, uma extensa gama de novas potencialidades a serem, por ele, desenvolvidas. A evolução das mãos e as habilidades desenvolvidas a partir do seu constante manuseio desempenham papel fundamental, pois permitem, que elas vão se constituindo como produto do próprio trabalho, permitindo aos primatas mediar a sua interação com a natureza, a partir da sua corporalidade. Torna possível, nessa perspectiva, compreender a forma como o trabalho também atinge o corpo biológico, e o transforma como produto e síntese do trabalho. Em outras palavras, a descoberta e o emprego das mãos acarretou, ainda que de forma indireta e ocasional, o desenvolvimento de outros sentidos e partes do organismo desse animal primata, ancestral do homem. Dito nas palavras de Engels (Apud ANTUNES, 2004) nessa consequente transformação, “O aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a adaptação concomitante dos pés ao andar em posição ereta exerceram indubitavelmente, em virtude da referida correlação, certa influência sobre outras partes do organismo” (p.14) Nesse processo, nota-se, portanto, que a atividade do trabalho possibilitou não somente a transformação na composição biológica e física do homem, mas, também, uma modificação na sua forma de convívio e relação com seus semelhantes e com a natureza. Foram necessários milhares de anos, um grande período de tempo, para que esse primata alcançasse as condições que lhe dessem possibilidades de se organizar em tribos. Ao formar as tribos e comunidades, esse ser primitivo, deixa de ser nômade, ou seja, passa a desenvolver certa sociabilidade advinda das consequências do trabalho. É, neste sentido, que o trabalho transforma o homem num ser social, permitindo-lhe distanciar-se da natureza, reconhecer-se e a conviver com os outros da mesma espécie. Esse distanciamento da natureza é proporcionado pela mediação dos objetos que o homem desenvolve para interagir com ela. Como processo teleológico, o uso da consciência diferencia o trabalho desenvolvido pelo homem da atividade desempenhada pelos animais.
  • 26. 25 Esse nível de evolução é propiciado pela experiência que o homem, a partir da evolução do cérebro, vai acumulando e que, em larga medida, lhe permite aperfeiçoar não somente os objetos e ferramentas construídas para e pelo trabalho, como também lhe permite aperfeiçoar os seus sentidos. Isso significa que o desenvolvimento do cérebro, permite a evolução do órgão do ouvido, do olfato e da visão. Essas diferenciações constituem saltos ontológicos, que coloca o homem de forma nítida e clara, numa vantagem incomparável em relação aos demais animais, na medida em que lhe permite a cada tempo, desenvolver de forma mais acentuada as suas potencialidades que desembocarão na consciência de si mesmo e do seu corpo. Podemos assim compreender como o trabalho desenvolve papel fundamental e central na constituição do homem como ser social, uma vez que é por intermédio dele que o homem amplia as suas formas de conhecimento e, também, o seu domínio da natureza. O trabalho torna possível ao homem interagir com a natureza e construir novas formas de sociabilidade, através de técnicas que mudam a sua forma de alimentar-se, de abrigar-se do frio e construir abrigo. Essas transformações, essas mudanças possibilitadas pelos resultados do trabalho, mudam a forma do homem satisfazer algumas das suas necessidades, mas básicas. Por exemplo, a descoberta do fogo permitiu o cozimento dos alimentos e da carne obtida através da caça. O fogo significou possibilidades de segurança e, mais uma vez, a evolução dos sentidos, pois, ao cozer os alimentos, permitiu ao homem aguçar o paladar, e elencar predileções entre um determinado tipo de caça ou vegetais, lhe desenvolvendo a possibilidade de escolhas. Todas essas evoluções das formas concretas de subsistências da espécie primitiva possibilitaram, simultaneamente, a evolução do organismo biológico do primata, e mais do que isso, permitiram a sua humanização. Esses avanços do trabalho - saltos ontológicos – foram permitindo que as sociedades primitivas fossem cada vez mais, se destacando dos demais animais. Ou seja, de forma cada vez mais evoluída aqueles seres instintivos, graças ao advento das mãos e dos sentidos, vão se organizando em grupos, colocando a necessidade de uma organização, com forma cada vez mais complexas formas de comunicação. Comunicar-se amplamente com os outros seres impôs-se como exigência aos homens para que os instrumentos e técnicas de trabalho que desenvolveram fossem universalizados. Tal exigência permitiu-lhes, após um tempo de comunicação por sons e ruídos, evoluir a laringe e os órgãos da fala, articular e organizar sons carregados de sentidos e informações
  • 27. 26 que foram se configurando em uma linguagem articulada e generalizada pelo grupo de convívio. O homem, ao mesmo tempo em que responde a determinada necessidade, desenvolve outras ainda mais complexas, e já nas formas iniciais e primitivas de organizações tribais, as formas e instrumentos de trabalho vão se complexificando através das gerações, criando novas formas de atividades ao passo em que possibilita ao ser primitivo ir se constituindo, a cada salto ontológico, num ser cada vez mais social. Sobre o trabalho como transformação da natureza e constituição do ser social, como viemos descrevendo até aqui, Netto e Braz (2011) afirmam categoricamente que o trabalho é a interação do homem com a natureza, transformando-a e dominando-a para satisfação de suas necessidades. Na verdade, os autores preocupam-se em argumentar de forma a tornar claro o entendimento de que trabalho é atividade exclusivamente humana. Pois ainda que os animais tenham certo domínio de determinadas funções e as executam de forma perfeita, o fazem para garantir a reprodução e manutenção da espécie, e, de forma determinada geneticamente, pois, sua própria natureza o concebe “programado” para execução de tais tarefas (confecção de ninhos, de tocas, estocamento de alimento e etc.), ou seja, ele age instintivamente e naturalmente, suas ações não são mediadas pela consciência (NETTO e BRAZ, 2011, p.40). Segundo, ainda, Netto e Braz (2011) três pontos que caracterizam o trabalho desenvolvido pelo homem, da atividade natural dos animais que busca satisfazer necessidades. O primeiro, se deve ao fato de que o trabalho necessita ferramentas, instrumentos e objetos que permitam ao homem mediar sua relação com a natureza, e a medida que o ser social vai, cada vez mais, desenvolvendo-se e complexificando-se, mais desenvolvidos e complexos vão se tornando tais objetos. A segunda premissa deve-se ao fato de que trabalho não é uma “determinação genética”, pois exige, para seu cumprimento e entendimento, a saturação da mesma atividade para acumulação de conhecimentos sobre o seu processo, de forma a desenvolver nesse ser pouco evoluído, conhecimentos e habilidades que vão se aprimorando com o passar do tempo. E, finalmente, afirmam os autores, que o trabalho não é atividade que responde a necessidades fixas e invariáveis, uma vez que as respostas a tais necessidades também não são fixas. Essa afirmação significa, necessariamente que, se as formas de necessidades que o homem carrega são diversas, também o são as formas que ele busca responde-las e, essas respostas, por sua vez, implicam na criação de outras novas necessidades.
  • 28. 27 Incontestavelmente, a atividade do trabalho, tal qual realizada pelo homem, em nada se assemelha à atividade desenvolvida pelos animais. Ou, mais precisamente, nas palavras de Marx (Apud NETTO e BRAZ, 2011): […] O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza […] Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais de trabalho. […] Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. (p.41) O trabalho se distingue da atividade dos animais porque supõe mediações entre o sujeito (homem) e objeto (matérias) do trabalho, mediações que são concretizadas pelos instrumentos criados pelo homem para lhe permitir/facilitar a interação com a natureza. Esse mesmos instrumentos (desde a machadinha primitiva até o mais avançado instrumento tecnológico) colocam ao homem questões que dizem respeito aos fins a que se destinam o objeto a ser elaborado, isto porque, da finalidade destinada ao instrumento, faz-se a escolha dos materiais utilizados que colocam em exercício a idealização, ou seja, a antecipação do resultado do seu trabalho. Essa capacidade de idealizar os instrumentos e técnicas para o trabalho é mediada pela consciência, ou seja, trata-se de uma atividade “teleologicamente direcionada”, Conforme afirmam Netto e Braz (2011): De uma parte, o fim ( a finalidade) é como que antecipado nas representações do sujeito: idealmente (mentalmente, nos seu cerebro), antes de efetivar a atividade do trabalho, o sujeito prefigura o resultado da sua ação.[…] sua finalidade parte de uma finalidade que é antecipada idealmente, é sublinhar que sua atividade tem como ponto de partida uma intencionalidade prévia […] conduzida a partir do fim proposto pelo sujeito (42). Como idealização, objetivação e concretização do concreto pensado, o trabalho permite ao homem atuar e se constituir como um ser teleológico, o que em outros termos significa dizer que o homem idealiza, na sua consciência o resultado do seu trabalho, da sua atividade de acordo com a finalidade que se propõe. Justamente por ter essa capacidade de idealizar mentalmente a sua atividade, só o homem pode escolher entre alternativas - usar esta ou aquela matéria de forma criteriosa.
  • 29. 28 Neste ponto encontra-se a gênese da liberdade: a possibilidade de escolher livremente entre alternativas. Dessa forma o homem, num larguíssimo espaço de tempo, através do trabalho, vai, cada vez mais, afastando- se do ser natural e se constituindo como um ser social, e que só existe em sociedade. (NETTO e BRAZ,2011). Nas palavras de Barroco (2010), A sociabilidade é inerente a todas atividades humanas, expressando-se no fato ontológico de que o homem só pode constituir-se como tal em relação com outros homens e em consequência essa relação; ela significa reciprocidade social, reconhecimento mútuo de seres de uma mesma espécie que partilham uma mesma atividade e dependem uns dos outros para viver.” (p.22) Certamente, foram as respostas criadas para responder as suas necessidades primárias e materiais que deram a oportunidade do ser orgânico, ir tomando consciência de si mesmo e do seu corpo, tornando possível desenvolver a consciência em suas capacidades, acumular conhecimento, aumentar em escala exponencial as suas condições de sobrevivência e através da vida em comunidade o homem foi se tornando um ser cada vez mais social (ANTUNES, 2004). O ser social é, portanto, resultado de determinações que foram se colocando através do trabalho. O homem, a cada nova atividade torna-se um ser cada vez mais social. Somente ele idealiza e objetiva, por isso é certo dizer que o trabalho é condição exclusiva dos homens, “é a essência do homem, sua realidade essencial” (VAZQUEZ, 2007). Por fim, podemos concluir que, de fato, o trabalho rompeu com padrões naturais de sobrevivência, visto que passou a mediar a interação do homem com a natureza através de instrumentos por ele criados e que, não somente, condensam a consciência, mas, ao mesmo tempo, engendram as condições para que as objetivações se tornem universais. Em síntese, trata-se de um sistema de relações sociais que estão interligadas historicamente. Essa reciprocidade, conforme citamos acima, nos traz a afirmação de que o trabalho é, necessariamente, coletivo, pois aquilo que o trabalho acumula (conhecimento, habilidade, instrumentos) são transmitidos, através da mediação da linguagem, permitindo a sua genericidade e universalização (BARROCO, 2010) Destaca-se que, embora o sujeito realiza a ação do trabalho, ele interage com o objeto numa relação mediada por instrumentos de trabalho, que, por sua vez, já são produtos do trabalho. Dito de outra forma, do mesmo modo que ele utiliza uma ferramenta (produto do trabalho de outro), o resultado do seu próprio trabalho passa a não lhe pertencer mais
  • 30. 29 exclusivamente como objeto seu, privado e exclusivo. Esse resultado (nova ferramenta, nova habilidade ou conhecimento) passa a ser adotados pelos demais no convívio em comunidade, ou seja, ele se universaliza (ANTUNES, 2004). De todas essas afirmações desenvolvidas até aqui, conclui-se que não haveria o desenvolvimento do ser sem a sua universalização, pois para que o trabalho pudesse, a longo prazo, ser subjetivado pelos homens, seus resultados devem estar para além de quem o idealizou e objetivou. Esse desprendimento que se realiza entre sujeito da ação e o resultado dela, significa que o trabalho tem duas dimensões: objetiva e subjetiva. Conforme abordado por Netto e Braz (2011), a dimensão subjetiva se realiza a partir da concepção de que o trabalho é algo individual, no entanto, é concebido como consciência, pois se mostra como concretização da consciência, o que significa entender que o trabalho é mediado pela consciência devido a sua capacidade teleológica. Ao concretizar ele objetiva, dentro de determinadas condições que já estão dadas aquilo que colocou na sua consciência, este é o caráter objetivo do trabalho e por isso é correto afirma que o homem é produto da sua consciência. Em outras palavras, podemos afirmar que o homem é produto de sua consciência. Assim, se a subjetividade é a consciência, logo os homens passam a ter autoconsciência, ou seja, passam a ter consciência de que pertencem a uma mesma espécie – a humana. A arte, a ciência, a filosofia, a religião, a gastronomia e outras tantas formas de objetivação humana, constituem um sistema de objetivações que fizeram emergir e desenvolver o ser social, mas, a partir da objetivação elementar e fundamental que é o trabalho. O trabalho é a objetivação primeira que permitiu ao homem desenvolver outras formas de objetivações que, se autonomizam à medida que se desenvolvem. Desse modo, Netto e Braz (2011), descrevem esse processo da seguinte forma: Quanto mais se desenvolve o ser social, tanto mais diversificadas são as suas objetivações. Assim, no seu desenvolvimento, ele produz objetivações que, embora relacionadas ao processo do trabalho, dele se afastam progressivamente – objetivações crescentemente ideais (isto é, no mundo das ideias) de que são exemplos as formas iniciais do pensamento mágico, nas quais estão contido os vetores que, após uma evolução multimilenar, apresentar-se-ão diferenciados nas expressões do pensamento religioso, da reflexão científica e filosófica e da arte” (p.50 – grifos do autor)
  • 31. 30 A centralidade do trabalho, no evoluir e desenvolver de uma série de objetivações do homem, possibilitou a ele constituir-se, constituir o meio em que vive e criar uma sociabilidade humana a partir do desenvolvimento do seu sistema de objetivações, vindo a constituir o conceito de práxis. A expressão práxis refere-se, em geral, a ação, atividade, e, (...) à atividade livre, universal, criativa e auto-criativa, por meio da qual o homem cria (faz, produz), e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico e a si mesmo; atividade específica ao homem, que o torna basicamente diferente de todos os outros seres. Nesse sentido, o homem pode ser considerado como um ser da práxis. (BOTTOMORE apud BOURGUIGNON, 2008;p.61) De forma ontológica, o trabalho assume a condição de objetivação privilegiada, que garante a condição da vida humana, pois não há possibilidade de suprimi-lo da existência da humanidade. O trabalho, como objetivação especificamente humana, só pode ser realizado pelo homem, uma vez que é atividade consciente, e permite fundar o conjunto das objetivações. O trabalho realiza a essência do homem, através de um conjunto de qualidades e possibilidades que este ser veio desenvolvendo ao longo da larga trajetória da humanidade. 1.2. Do trabalho ontológico e criativo ao trabalho alienado Pensar o trabalho numa perspectiva radical, nos leva a concepção de que o homem é uma contínua tensão entre o seu ser genérico e sua singularidade. Queremos dizer com isso que, o homem é inerentemente um ser singular, e carrega essa condição durante toda a sua existência. Porém, este mesmo ser não é somente singular, ao passo que carrega consigo a genericidade humana, que diz respeito a toda uma herança histórica e cultural, de uma sociabilidade que sintetiza o curso e evolução da própria humanidade. Analisando a história da humanidade e do desenvolvimento deste ser social, em dado momento, podemos constatar que a disparidade entre singularidade e genericidade causa uma transgressão, um empobrecimento do gênero humano, pois este ser (social) só se expressa singular e genericamente na medida em que é um ser dotado de capacidade de objetivações (NETTO e BRAZ, 2011).
  • 32. 31 A objetivação é a capacidade que o homem tem de construir meios para se manter enquanto tal, ou seja, na medida em que pode ampliar e aperfeiçoar as condições para sua própria existência. É a objetivação dos sujeitos singulares que traduz as condições da existência humana. A capacidade de objetivações se manifesta nos sujeitos em níveis de pouca complexidade (gestos, modos de ser e atitudes) ou em formas muito privilegiadas e duradouras como o trabalho, a arte e a ciência. De fato, são inúmeras as formas de objetivação e o homem só mantém a sua existência na medida em que pode exercer sua objetividade, e dentro desse larguíssimo tempo de construção da história da humanidade, as objetivações dos homens constituem o acervo da humanidade, universalizada e objetivadas pelos indivíduos. A interiorização e subjetivação das objetivações humanas podem tornar o homem mais rico, no sentido de que tem consigo as conquistas e construções da sua espécie e do seu gênero, o humano. Donde se conclui que o homem rico é aquele que conseguiu objetivar, conseguiu se apropriar, conseguiu tornar seu uma riqueza de objetivações humanas, que não unicamente aquelas que dizem respeito as formas de subsistência (NETTO e BRAZ, 2011). A riqueza subjetiva de cada homem resulta da riqueza de objetivações que ele pode se apropriar. E é a modalidade peculiar pela qual cada homem se apropria das objetivações socais que responde pela configuração de sua personalidade. (p.57) Neste ponto, é necessário reforçar uma condição que não somente impede como impossibilita a apreensão dessas objetivações e, consequentemente, o enriquecimento do ser social, pensado numa perspectiva humano genérica. No seu processo de amadurecimento, e conforme as condições socias que lhe são oferecidas, cada homem vai se apropriando das objetivações existentes na sua sociedade; nessa apropriação reside o processo de construção de sua subjetividade. A subjetividade de cada homem não se elabora nem a partir do nada, nem num quadro de isolamentos: elabora-se a partir das objetivações existentes e no conjunto de interações em que o ser singular se insere. (NETTO e BRAZ, 2011, p. 57) Apropriar-se da arte, da ciência, da filosofia e etc., na nossa sociedade é uma condição praticamente impossível quando o acesso a essas objetivações são ditados pela posição de
  • 33. 32 classe. Significa que o indivíduo necessitaria, não somente tempo mas, condições e recursos financeiros para se aproximar e mergulhar nessas objetivações da humanidade. A sociabilidade hoje, na sociedade capitalista moderna, expressa diretamente uma condição social, pois as formas de relações sociais, a constituição das famílias e todo um sistema de legislações que privilegiam a garantem a continuação da propriedade privada impedem o conhecimento e aproximação dos homens das formas de objetivações. Reiterando o que viemos dizendo até aqui, o trabalho é a condição de humanidade. O homem é um ser prático e social que se constitui pelo trabalho e que se realiza no trabalho. O trabalho é uma objetivação dos homens, e esteve – e sempre estará - presente em todos os tipos de organização social que já existiram na terra. O trabalho esteve presente desde os primatas e seguiu alcançando dimensões e complexidades diferentes, evoluindo e constituindo novas formas de produção que perpassaram as sociedades primitivas, a sociedade escravocrata, a sociedade feudal até chegar no trabalho sob a égide do capital. Netto e Braz (2011) afirmam que o modo de produção capitalista se iniciou no século XVIII e seguiu transformando relações e modos de produção da vida até o século XIX, quando na entrada do século XX o modo de produção capitalista já era uma condição planetária. O capitalismo é uma relação social, no qual existem os detentores dos meios de produção e os que, destituído de qualquer forma de produção, tem somente a sua força de trabalho para ser vendida ao capitalista. O valor recebido pelo trabalhador, através do salário será um valor ínfimo, apenas o necessário para que ele se mantenha e se reproduza como trabalhador. De todas as formas de degradação que o homem já experimentara, na sociedade capitalista, o trabalho assume oposição direta com ele nos seguintes sentidos. Num primeiro momento, porque o homem não se reconhece naquilo que faz, o produto de seu trabalho não lhe pertence e por não lhe pertencer, o homem o encara como algo com quem não tem nenhuma vinculação. E ainda porque o trabalho, nos ditames do capital, coloca o homem em oposição consigo mesmo à medida que não lhe permite se reconhecer nos seus iguais e, mais grave ainda, não permite ao homem o seu reconhecimento enquanto tal, ou seja, o homem não consegue em face desta atividade reconhecer a sua condição e genericidade humana. Ou mais precisamente,
  • 34. 33 Na medida em que o trabalho estranhado 1) estranha do homem a sua natureza, 2) [e o homem] de si mesmo, de sua própria função ativa, de sua atividade vital; ela estranha do homem o gênero [humano]. Faz-lhe da vida genérica apenas um meio da vida individual. Primeiro estranha a vida genérica, assim como estranha a vida individual. Segundo, faz da ultima, em sua abstração, um fim da primeira, igualmente em sua forma abstrata e estranhada. (MARX, 2008, p. 84) O que se pode observar é que na sociedade capitalista, o trabalho que é realizado, ao invés de garantir a realização dos homens, se colaca a eles como sua negação. Nessa sociedade capitalista, as objetivações dos homens, os produtos de suas consciências se autonomizam e a criatura, ganha vida própria diante do criador. A alienação é o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, e dão independência a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma, pois se deixam governar por ela, como se a ela tivesse sido dado poder em si e por si mesma. Ou seja, os homens não se reconhecem na obra que criam, fazendo-a um produto estranhado, separado dos homens, superior a eles e com poder sobre eles (CHAUÍ, 2000). O homem se aliena do seu trabalho e se aliena de si mesmo. O trabalho, como vimos, e tal como fora abordado na fase inicial deste trabalho, na sua fase ontológica, demonstrou que qualquer homem, por mais limitado que seja, pode se desenvolver ilimitadamente. Ainda que os homens tenham capacidades diferentes, ainda que seu histórico de vida e suas faculdades sejam diferentes, ainda que possuam dotes distintos, qualquer homem pode se desenvolver de forma ilimitada. De forma clara, vemos que as objetivações, ou melhor, o sistema de objetivações, ainda que constitua a garantia da existência e da reprodução do homem enquanto tal, enquanto ser social, sob formas históricas e determinadas essas objetivações tornam-se o seu contrário. Mais precisamente, o trabalho sob o comando do capital, o trabalho não emancipado, o trabalho nos marcos da propriedade burguesa vira maldição, vira um castigo, uma alienação. E como é próprio da sociedade burguesa tornar o conjunto das relações humanas alienado, não é apenas o trabalho que é alienado, o trabalho alienado determina a alienação da vida dos homens, alienação da sociedade. Essa lógica de alienação da produção e, consequentemente, do conjunto de relações sociais que envolvem a vida em sociedade, pode ser observada na forma equivocada de
  • 35. 34 conceber o salário como resultada de um determinado tempo de trabalho livre8, empregado na produção de mercadorias e do qual resulta no salário, pago ao trabalhador. Na realidade o salário, o salário é o custo de reprodução do trabalho, ou seja, a quantia necessária para que o trabalhador se reproduza enquanto tal, que aparecem aos trabalhadores como resultados do que produziram num determinado tempo de trabalho. Daí a oscilação no valor dos salários, que são o valor pago ao dispêndio da força de trabalho tornado mercadoria e que é, erroneamente atribuído as formas distintas de trabalho profissional (MARX Apud ANTUNES, 2004). A alienação social, segundo Chauí (2000) é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, julgam- se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade; no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações (CHAUÍ, 2000). Ainda que o trabalho afirme e consolide o homem como ser criativo, o advento do trabalho assalariado, por sua própria natureza, poda a propriedade criativa dessa atividade, ao passo em que o torna uma forma de alienação que se estende a todas as outras formas de relações sociais. Em que pese o fato de que o homem é um ser ontocriativo, e desde sua emergência como ser pensante, este busca estratégias de saciar necessidades e transformar a realidade. Na sociedade moderna e capitalista, a necessidade do homem será transformar a situação de exploração e subserviência do homem ao capital. Essa é a finalidade do proletariado, ao se valer de uma série de objetivações (movimento sociais, greves e mobilizações), numa práxis revolucionária em busca da emancipação humana e política. E neste sentido, afirma Vazquez que, A atividade propriamente humana apenas se verifica quando os atos dirigidos a um objeto pra transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou fim, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real. Nesse caso, os atos não só são determinados casualmente por um estado anterior que se 8 Ver “Salário, preço e Lucro”, no livro “Dialética do trabalho: Escritos de Marx e Engels” (Antunes, 2004)
  • 36. 35 verificou efetivamente – determinação do passado pelo presente -, como também por algo que ainda não em uma existência efetiva e que, no entanto, determina e regula os diferentes atos antes de desembocar em um resultado real; ou seja, a determinação não vem do passado, mas sim, do futuro” (2007, p. 220) Certamente que, toda atividade verdadeiramente humana requer certa consciência de sua finalidade, que está sujeita ao curso da própria atividade, rege todo o caminho da busca pelo objetivo e revela a atitude dos sujeitos em face da realidade. Dessa forma, atividade dos trabalhadores, ainda no século XVIII, ao negar a realidade efetiva, buscam por uma realidade diferente daquela que vinham experimentando, buscavam uma realidade que pudesse contemplar as sua reais necessidades. Nesse sentido, como afirma Vazquez (2007) os fins são produtos da consciência, e suas atividades são governadas de modo consciente, ou seja, de uma consciência social. Numa relação de interioridade, a consciência estabelece objetivos em que toda a ação se subordinará ao alcance desta finalidade. A classe trabalhadora buscava, de forma política e autônoma, o reconhecimento da questão social e, consequentemente o reconhecimento de que uma determinada classe, ao acumular toda a riqueza decorrente do trabalho social, relegava a outra classe a miséria e penumbra, sendo por isso, necessário a intervenção do estado para “amenizar” a voracidade do capital, estipular jornada máxima de trabalho e um ambiente de trabalho menos insalubre. De certo os homens fazem a história, mas, o fazem em condições predeterminadas. A práxis, como forma de transformação consciente da realidade, torna possível agir no sentido de buscar a transformação da realidade, no entanto, as condições enfrentadas nem sempre, e quase nunca, são aquelas escolhidas por eles, tornando necessário, uma adequação da ação a finalidade (VAZQUEZ, 2007). Numa sociedade divida em classes, a busca por interesses antagônicos, instaura uma luta que se realiza de diferentes formas, com estratégias para mediar o confronto aberto e luta política. Dentre essas armas, encontra-se a arte e, queremos então, a partir deste ponto compreender as formas como pode constituir o conjunto de objetivações que se propõe a transformação do capitalismo e de suas desigualdades.
  • 37. 36 1.3. Práxis Artística Segundo Vazquez (1968) para a produção de objetos que se caracterizam como obras de arte, o trabalho necessita ser elevado a um grau considerável, na qual sua produtividade já não estivesse tão ligada a saciação de necessidades práticas e utilitárias. Como primeiro ponto a ser deduzido de tal afirmação, podemos considerar que a arte, num primeiro momento, deve estar desobrigada de uma função prática, da mesma forma em que a religião, a filosofia, a sociologia e diversas outras objetivações também não estão diretamente ligadas a satisfação esta finalidade. Como segundo ponto a ser considerada, a arte como resultante de um trabalho que coloca finalidades que não dizem respeito a garantia de subsistência física e material, mas sim como atividade prática posterior a objetivação primeira dos homens que é o trabalho, e consequentemente, o reconhecimento do seu traço histórico e social. Dessa forma, é inegável a indissociabilidade existente entre arte e trabalho, sendo que desde os tempos paleolíticos, e durante toda a trajetória e desenvolvimento da humanidade, esta condição esteve presente e mais, do que isso, pode se manter enquanto trabalho livre e por livre, tornou-se criativo. Essa indissociabilidade permitiu o desenvolvimento do ser social e, consequentemente, o desenvolvimento de seus gostos estéticos, a sua inclinação a certa tendência artística, suas habilidades e concepções para designar o belo e o feio, num relação muito próxima com a sensibilidade e a práxis desenvolvida e objetivada em arte. Porém, com o advento da sociedade industrial e sob o modelo de produção capitalista, a divisão do trabalho eleva-se a um nível extremo em que distancia as mãos que produzem e a consciência que objetiva o trabalho, e elimina a sua potencialidade criativa. É nessa sociedade também que a arte passa a ser considerada de forma desvinculada do trabalho ontológico, ou seja, e se manifesta de forma autônoma e desprendida dessa objetivação que a fundou. A produção artística, na sociedade capitalista, está submetida as leis do mercado, ou seja, o trabalho ontológico e criativo que realiza o artista estará vinculado ao trabalho que gera lucro, e então passa a ser regido pela capacidade de agregar valor de troca, gerar lucro e passará a ser produzido com esta finalidade. À produção artística, filosófica ou científica são atribuídos uma necessidade de representar uma certa utilidade imediata, pratica e não necessariamente um convite à reflexão e problematização das formas de relação que são regidas pelo interesse do capital.
  • 38. 37 Sobre essa necessidade, em contraponto ao exercício da reflexão e critica do que nos é dado como algo natural, Vazquez (2007) argumenta que: Em um mundo regido pelas necessidades práticas imediatas – em um sentido estreitamente utilitário – não só as atividades artísticas e a própria política, particularmente a revolucionária, são improdutivas ou impráticas por excelência, uma vez que postas em relação com os interesses imediatos, pessoais, carecem de utilidade, á que seus atos só produzem prazer estético em um caso, ou fome, miséria e perseguições no outro. (p.35) Mas, ainda referindo as origens da arte, Vazquez (1968) localiza na era período paleolítico superior, a gênese da arte, quando o homem ao talhar animais ou fazer as pinturas nas cavernas galgou novos patamares de evolução do seu trabalho. Essa elevação dos níveis de trabalho, dirá o autor, se processou num período de centenas de milhares de anos no qual o homem passou a exercer um domínio cada vez maior sobre as matérias que manipulava. A evolução das ferramentas pode ser usada para exemplificar o evoluir da atividade do trabalho na era paleolítica. Se primeiramente, o objetivo que impulsiona a sua criação faz surgir ferramentas rústicas e grosseiras que foram sendo aprimoradas e aperfeiçoadas, ao mesmo tempo em que significam um maior domínio da natureza também significaram a evolução dos sentidos humanos, o enriquecimento do seu conhecimento sobre a matéria (peso, cor, proporção,dureza etc.) e o aumento de sua sensibilidade e percepção perante tais objetos. Somente o conhecimento elevado e o domínio da matéria sobre a qual seriam moldadas ferramentas e utensílios permitiram ao homem atribuir novas qualidades que não pertencem aos objetos por natureza. Essa nova capacidade, desenvolvida ainda nas formas primárias de trabalho, instituiu um novo tipo de relação com os objetos ao lhe proporcionar que o autor chama de “qualidades estéticas.”(VAZQUEZ, 1968, p.74) Assim, a objetivação artística deveu-se à capacidade instituída pela atividade do trabalho, ou seja, a partir do momento em que o homem desenvolveu a capacidade de instituir qualidades aos objetos do seu trabalho, a partir de um julgamento acerca das finalidades a que se destinavam. Esse julgamento, se atenderia ou não determinada necessidade, se cumpriria ou não determinada função teve papel fundamental na passagem do trabalho à arte, pois possibilitou que o trabalho se tornasse uma atividade de criação de objetos.
  • 39. 38 Mais adiante, considerando o progresso na fabricação dos produtos do trabalho devido a saturação das formas e processos da atividade, Vazquez (1968) faz a seguinte conclusão acerca dessa passagem do trabalho a arte: A realização de uma forma mais perfeita devia ser necessariamente acompanhada de certa consciência da própria capacidade criadora, ainda que fosse apenas a consciência de ter realizado um trabalho mais eficaz ou perfeito. Finalmente, esta consciência da qualidade (ou eficácia) do objeto útil criado deve ter sido acompanhada de certo prazer, de certa satisfação consigo mesmo, que tinha sua fonte na contemplação do objeto no qual se plasmavam suas forças criadoras, isto é, na assimilação de seu conteúdo humano(p. 75). O trabalho mais desenvolvido e aperfeiçoado possibilitou a passagem do trabalho útil ao trabalho estético, a partir do momento em que ele, desde as sociedades primitivas, passou a atender a dois interesses: sua utilidade material e utilidade espiritual. E quando o interesse espiritual assumiu uma maior relevância em detrimento do interesse utilitário, alteraram-se também o valor atribuído a esse objeto pois, eles passa a representar um valor estético. O valor estético dos objetos produzidos pelo trabalho, as diversas formas de expressão artística, as musicas, poemas, pinturas são respostas a necessidades humano genérica de responder as capacidades historicamente desenvolvidas pelo homem na trajetória do ser social, e que foram mediadas pelo trabalho. A valoração do objeto, independentemente do seu valor utilitário, significou que o homem passou a reconhecer e ver afirmadas no produto do seu trabalho a sua potencialidade criadora. Nisso se constata que, assim como afirma Plekhânov (1969), o trabalho é muito anterior a arte e através dele o homem conseguiu chegar ao desenvolvimento dela. Como já abordado, o desenvolvimento da estética permitiu uma maior identificação do homem com o objeto do seu trabalho, o homem cria objetos que não, necessariamente, estão vinculados a um interesse prático, porém, com o advento da figuração9 a arte passa a ser vinculada a uma utilidade inicialmente vinculada à magia, expressando o seu ligamento com uma utilidade prática que seria a caça de animais. 9 Segundo Vazquez (1968) ainda no período paleolítico os homens pré-históricos passaram a desenhar figuras no interior das cavernas, e todas elas passaram a ter um significado de poder destinado a compensar a limitação do homem perante as forças da natureza. (p.78)
  • 40. 39 Vemos assim que a arte, analisada de uma maneira histórica relacionada a própria transformação do home como ser social, está sempre se metamorfoseando e redirecionando os seus objetivos. Dessa forma, Vazquez (1968) faz a descrição do período em que a arte passa do estético ao útil, ao passo em que sua função passa ser exercer influencias na caça. O que se observa é um retorno a utilidade pratica, porém ao retornar a esta condição traz consigo a capacidade e o poder de duplicar a realidade. O realismo presente nas figurações – o animal flechado e ferido – permite a apropriação da arte por todos os seres do gênero humano, á medida que lhes possibilitam compreender não somente o conteúdo e o apelo místico, mas reconhecer nas pinturas um determinado modo de relação do homem com a natureza. De acordo com o que vem discutido até aqui, a constituição da arte se deu num processo dialético no qual fora engendrada pela atividade do trabalho, mas se desvincula da sua utilidade prática, e retorna a ela ainda no período de constituição do ser social e das sociedades primitivas ao ser vinculada a atividade da caça. Ou ainda, Estas pinturas rupestres deviam exigir, portanto, uma auto consciência criadora que era acompanhada de certo prazer, suscitado pelo reconhecimento de perfeição com que era cumprido o encargo utilitário. Deste modo, no próprio seio da arte, como atividade diretamente útil, a autoconsciência criadora do artista pré-histórico e o prazer estético correlato impeliam-no a superar o marco utilitário do encargo mágico e a assegurar, novamente, como a arte de todos os tempos a relativa autonomia de estético sem a qual não se poderia falar propriamente de arte (VASQUEZ, 1968, p.82). Dessa forma, queremos a partir deste ponto trazer a discussão para a sociedade contemporânea, numa tentativa de compreender quais as relações entre a arte e a sociedade capitalista. 1.4. Arte e Sociedade Em todas as sociedades prevaleceram tipos diferentes de arte, e ela surgiu e se manteve porque fora aceita e reconhecida pela sociedade e, também, porque foram desenvolvidas por artistas que a desenvolveram de acordo com as relações sociais que vigoraram nela.
  • 41. 40 Essa afirmação confirma a relação de interioridade e referência entre arte e sociedade, visto que de uma forma ou outra, as diferentes formas de expressão artística em todas as sociedades, buscaram afirmar ou negar determinados traços da sociedade. Mais do que isso, a arte e a sociedade são indissociáveis, no sentido de que os seus idealizadores, ou seja, os artistas são seres que convivem na sociedade e extraem dela os sentidos e a orientação do seu trabalho, e também porque cada nova atividade do trabalho artístico expressa determinada forma de relação do sujeito artístico com a sociedade. Como vemos não faz sentido pensar a arte de forma gratuita, ou seja, a produção da arte por ela mesma, ou sob um estreito ligamento ao lúdico, ou ainda como a expressão mais direta de um individualismo e sem influência de qualquer condicionamento. Certamente a arte expressa nas suas atividades, formas de relações humanas que, por sua vez, só existem e se mantém na vida em sociedade. É na sociedade que o artista cria e objetiva suas riquezas humanas, fazendo surgir um novo meio de comunicação que será absorvido por outros indivíduos. Da mesma forma que a arte se influencia pelas experiências individuais e atende a necessidade, também individual, ela expressa e defende interesses de determinados grupo sociais. Disso se conclui que, a arte esteve presente historicamente na humanidade e carregou consigo interesses históricos e disseminou influencias desde o surgimento da sua atividade. Quando afirmamos que a relação entre arte e sociedade responde a determinações históricas, queremos dizer que a arte é suscetível de novas configurações e expressões que derivam da própria transformação do homem, enquanto artista, e da sociedade. Segundo Vazquez (1968), a relação entre arte e sociedade tem um caráter problemático que deriva da própria arte, pois como atividade criadora tende a se reger por criações que privilegiam o universal e o genêro humano, mas só se materializam na atividade particular do artista. Vazquez (1968) descreve essa tensão da seguinte forma: O particular e o universal se unem na criação artística tão harmonicamente que basta acentuar excessivamente um ou outro termo para que esta dialética se quebre, não sem graves consequências para a própria arte. As vezes, é o artista que rompe essa unidade por horror ao particular (ao seu tempo, à sua classe, à sua sociedade); às vezes, é a sociedade que empurra a arte para um caminho falso, pela ânsia de se impor sua particularidade (seus valores, suas ideias e seus interesses).(p.124)
  • 42. 41 A arte pode atender a diversos objetivos, porém sua finalidade essencial é enriquecer o território humano, satisfazer um desejo e necessidade de comunicação que não se esgota numa simples imitação da realidade, mas, pretende a partir da sua disseminação, criar outra realidade. O valor artístico e estético de uma determinada forma de atividade artística somente é alcançado quando o artista consegue objetivar na sua obra conteúdos “ideológico e emocional humano”, que possibilita ao homem um aumento da sua própria realidade. Neste ponto consiste a transformação da realidade, os indivíduos ao se apropriarem de um valor estético e artístico, apreendem seu conteúdo e suas significações de um modo que, ao retornar a sua realidade ela já não é a mesma, mas, é transformada pela apreensão propiciada pelo contato com a obra de arte. Em determinadas sociedades históricas prevaleceram as condições para que a sociedade se reconhecesse na arte, porém desde o Renascimento10 surgem novos tipos de relações que vão erodindo as bases do feudalismo, fazendo emergir uma nova classe social: a burguesia. Nessa sociedade, como afirma o autor, cresce em escala significativa a capacidade produtiva, a capacidade de domínio do homem sobre a natureza e, mais do que isso, as diferentes formas de domínio sobre o próprio homem. Já abordamos acima, como o modo de produção capitalista, engendrado pela classe burguesa, inverte a ordem da produção. O homem passa a ser um meio de produção, se torna mercadoria usada e explorada para a produção de mercadorias, que ao serem vendidas no mercado, permite ao capitalista acumular riquezas materiais. Neste sentido, a crescente produção material, sob a ordem do capital, impõe aos homens formas de relação com os produtos do trabalho, atingindo também a arte, pois esta passa a ser pensada na lógica do mercado, perdendo seu caráter criativo e concreto, ganhando outras significações. O que resulta de todas essas transformações na sociedade é a crescente coisificação do homem e de sua atividade, que passa a ser cooptada e pensada segundo a lógica do mercado. 10 Período final da Idade Média e inicio da Idade Moderna, que acontece a transição do feudalismo para o capitalismo, caracterizada pela ruptura dos valores medievais e uma revalorização do “antropocentrismo”. Essa mudança de paradigma é expressa também através da arte
  • 43. 42 É nessa sociedade também que a arte reaparece como atividade que expressa e possibilita o reconhecimento do homem com a sua humanidade, existindo passa a existir, de forma nítida uma contradição entre arte e sociedade. Num mundo em que tudo se quantifica e abstrai, a arte – que é a esfera mais alta da expressão do concreto humano, do qualitativo – entra em contradição em esse mundo alienado e aparece, por sua vez, como um insubornável reduto do humano. Pela primeira vez, arte e sociedade entram em contradição radical. A primeira se opõe à segunda como o propriamente humano ao que nega o homem; a sociedade se opõe ao artista enquanto este resiste a deixar-se coisificar, enquanto busca expressar o humano.(Vazquez, 1968, p.126) Criação, no sentido fiel do termo, significa oposição à qualquer forma de produção que se desenvolve sob o capital. Dessa forma, o artista é impelido a concretizar suas formas de objetivação, priorizando a genericidade humana, em objetos concretos que se desenvolvem sem o reconhecimento e a legitimidade da sociedade ou de suas formas de dominação. Nessa conjuntura de dominação, exploração e alienação do trabalho, a arte desempenha papel de fundamental e de essencial importância pois, opõe-se ao mundo do mercado – desumanizado de forma extrema - para defender e buscar a recuperação de um mundo humano, das riquezas humanas. Esse posicionamento, por parte dos artistas, levou de fato ao rompimento de qualquer vinculação com o modo capitalista de pensar a reprodução da vida material e a arte. A necessidade de liberdade para construir suas criações, levou o artista ao rompimento com essas normas e regimentos da sociedade capitalista. É desta forma que podemos considerar que, embora sejam os anseios de criação que norteiam o rompimento entre a sociedade capitalista e a arte, essa atitude anuncia uma condição que reflete a conjuntura social, ao passo que, somente nesta sociedade alienada e alienante, o artista pode perceber o quanto essa condição social, lhe empurram enquanto artista e enquanto homem, a tornar-se uma coisa perante a ordem do capital. O rompimento do artista, fora se condensando nas suas obras, ao passo que passam a exprimir proposições e ideologias que se vinculam a um determinado interesse social, podendo se tornar ponto de partida para o entendimento da condição social e humana. A verdadeira arte, como afirma Vazquez (1968) é aquela que revela “aspectos essenciais da
  • 44. 43 condição humana” (p.128), e por isso a comunicabilidade é imprescindível a toda forma de arte que se propõe a elevar o conjunto da humanidade. Para que isso seja possível é necessário desnudar a quanto essa sociedade burguesa, pela suas imposições e sua lógica mercadológica, torna o trabalho um tormento que frustra qualquer tentativa de realiza-lo como forma de produção criativa e consciente, voltada a satisfação de necessidades, essencialmente humanas. A arte cumpre assim um papel fundamental nessa sociedade de contradições, pois possibilita que esta objetivação se realize de forma artística, ou seja, como atividade que tenha sentido na sociedade e se realize de forma livre no sentido de elevar o gênero humano. A arte, como o trabalho, é criação de uma realidade na qual se plasmam finalidades humanas, mas nesta nova realidade domina sobretudo sua utilidade espiritual, isto é, sua capacidade de expressar o ser humano em toda sua plenitude, sem as limitações do trabalho. A utilidade da obra artística depende de sua capacidade, mas a necessidade geral que o homem sente de humanizar tudo quanto toca, de afirmar sua essência, de afirmar sua essência e de se reconhecer no mundo objetivo e criado por ele (VASZQUEZ, 1968, p. 71) A produção verdadeiramente artística, objetivada de forma livre e consciente permite o exercício da liberdade, que foi essencial ao desenvolvimento do ser social e essencial para que ele possa se manter e, assim lutar para se libertar de falsas concepções de liberdade, donde a atividade do trabalho possa se realizar na direção da satisfação das necessidades humanas e a apropriação dos seus resultados possa se dar de forma equitativa. Ao mesmo tempo em que a arte precisa de comunicabilidade, independente de sua forma de expressão, o público deve ter o anseio de se afastar de tudo que é manifestação de arte comprometida pela coisificação do mundo dos homens. A arte deve desempenhar esforços no sentido de manifestar ao publico as condições que desumanizam o conjunto das relações sociais, tornando-se solidário a todas as formas de lutas sociais que buscam a sobreposição do homem em detrimento de uma sociabilidade dilacerada do homem, tanto a um nível particular quanto na dimensão universal. Todas essas formas de resistência da arte e do verdadeiro artista, contribuem para a conscientização e, consequentemente, supõe formas de superação da ordem social que deve, na ação dos homens encontrar as ações necessárias para sua transformação. Contudo é necessário que o público também reconheça as formas de arte que não estão vinculadas ao
  • 45. 44 objetivo de desalienação social, o que supõe outras formas de reflexão e não somente as manifestações artísticas. Ainda que o objeto artístico de fato traga proposições que vão ao sentido de contribuir para a conscientização dos homens, essa reflexão deve estar iluminada por teorias que permitam interpretar os fenômenos sociais, culturais, econômicos, políticos e ideológicos que são propagados na sociedade e que nos envolvem. Dessa forma, o homem precisa de um conjunto de conhecimentos de diversos ramos de estudos como a filosofia, a antropologia, as ciências sociais que, possibilitam entender a humanidade de forma histórica, entender as formas de exploração e opressão que são mantidas e reproduzidas na sociedade. Esse conhecimento, é necessário para enriquecer as reflexões propostas na arte mas, também para que, numa sociedade onde o mercado se apropria da arte e a oferece como mercadoria, a massificação da arte nem passa a ser produzida por pseudo-artistas e defendem e disseminam interesses que, por serem voltados a acumulação da riqueza material são contrários ao enriquecimento da humanidade. Vazquez (1968) menciona uma pseudo-arte que significa uma potencialidade artística produzida ou cooptada pelo mercado para satisfação de necessidades mercadológicas. Haja vista a massificação das formas artísticas, a produção industrial de arte e o seu espalhamento devido as formas tecnológicas de comunicação social (rádio, televisão e internet) são colocados no mercado diversos produtos que, se dizem, artístico mas que na realidade buscam o interesse de uma determinada classe social. A arte de massas – mesmo quando se apresenta na forma mais banal e, aparentemente, menos importante, ou quanto toca fugazmente nos problemas humanos mais profundos, para finalmente conservar-se em sua superfície, depois de ocultar as contradições vivas e reais – essa pseudo-arte cumpre uma função ideológica bem definida: manter o homem-massa em sua condição de homem-massa, fazer com que se sinta em tal massificação como em seu próprio elemento e, por conseguinte, fechar as janelas que poderiam permiti-lhes vislumbrar um mundo verdadeiramente humano, e, com isso, a possibilidade de tomar consciência de sua alienação, bem como os caminhos para destruí-la (p.286). Dessa forma, podemos concluir que a arte é consolidada como objetivação decorrente da objetivação do trabalho, não como algo que se deu de um momento a outro, mas, como uma construção dentro de um processo histórico, e, por isso é necessariamente
  • 46. 45 pensa-la e exercitá-la juntamente com outras objetivações que permitiram a sua criação e o seu aprimoramento, bem como novas formas de manifestação artística oriundas da sociedade moderna. 1.5. Arte engajada11 nas experiências da história recente do Brasil: Centro Popular de Cultura– CPC, Teatro do Oprimido e Hip Hop. Diante do que viemos expondo até aqui, queremos abordar algumas formas de expressão artísticas, cujo engajamento política que foram de grande importância para contribuir com o despertar de consciência das massas populares, munindo os trabalhadores de informações que pudessem dar sentido ao reconhecimento da luta de classes. Ligado à União Nacional de Estudantes o Centro Popular Cultural (CPC), existiu de 1961 a 1964, a partir da iniciativa de universitários, intelectuais, artistas e simpatizantes da causa pela qual se dispunha a lutar a CPC, qual seja a conscientização em massa. Para Boal (2000) o objetivo era, a partir das diversas formas de abordagem12, sobretudo as formas artísticas, pudessem fazer a “transformação massiva da consciência política do povo brasileiro” (p.13). Durante o breve período de existência, o CPC fez a divulgação de dezenas peças de teatro, cujo objetivo era que a partir das problemáticas representadas nas peças, as os trabalhadores pudessem tomar contato com a sua própria realidade, com as formas ideológicas que sustentas as relações desiguais no sistema capitalista, bem como as formas com as quais poderiam se organizar e buscar superar essas condições. De forma didática, as peças eram pensadas e apresentadas em sindicato, assembleias estudantis, nas ruas ou praças ou qualquer lugar que pudesse reunir certo número de pessoas, e todo o enredo se concentrava no esforço de deixar compreensíveis os processos históricos que engendram as desigualdades, desnaturalizando -as. O que nos interessa é mostrar o quanto as formas artísticas podem estar comprometidas com o desvelamento das contradições do real. É certo que as dificuldades são muitas e incontáveis, mas a arte é uma ferramenta e forma de representar o real. 11 O que nos faz usar essas duas formas de expressão artísticas para exemplificar arte engajada é a inegável importância dessas iniciativas no contexto brasileiro. Pois são esforços de contribuir para o desvelamento das contradições, levando a população trabalhadora que esta distanciada do conhecimento político, as informações que os possibilitariam reconhecer os mecanismos de opressão e exploração. 12 Boal (2000) cita diversas formas de abordagens e divulgação das informações com a publicação de dezenas de livros, revistas cujo a de maior destaque foi a Cadernos do Povo, além da edição de dois discos, no qual a música Canção do Subdesenvolvido, música que teve grande sucesso no Brasil (p.13)
  • 47. 46 A vida do CPC não foi longa e a esse respeito Boal (2000) considera que o distanciamento das verdadeiras massas, bem como as formas de representações13 não foram suficientemente pensado sob a ótica da classe trabalhadora, que ainda que pudessem ser o alvo do discurso ali apresentado ainda tinham uma participação muito passiva nessas expressões artísticas. De fato, conforme nos afirma Boal (2008) o teatro é uma ação política, assim como o são todas as ações do homem. É nessa perspectiva que o teatrólogo coloca o exercício teatral como uma arma que pode contribuir para a construção da libertação. Na década de 1960, o Teatro do Oprimido apresenta uma é uma junção de técnicas artísticas e teatrais usada de forma a permitir que as classes menos favorecidas e mais prejudicadas pela voracidade das relações capitalistas, possam aproximar-se do conhecimento necessário para que as contradições possam ser desveladas e, em diferentes técnicas possam ser aplicadas nas luta social e política e nas expressões da questão social. A participação dos sujeitos no teatro, como protagonistas das cenas constituem um ensaio para a transformação da sociedade e todas as técnicas adotadas tem uma estreita ligação, e tornam fértil a reflexão ética e da política, da história e da filosofia (p.15). As técnicas apresentadas pelo TO são varias e não se limitam ao espaço teatral e buscam a possibilidade de que os sujeitos percebam o mundo sob a dimensão de inúmeras expressões artísticas: a poesia, a música e a imagem. As frutificações dessas ações artísticas servem para multiplicar e expandir e articular diferentes grupos, possibilitando reconhecer e juntar forças através do reconhecimento de outras formas de opressão e, consequentemente, possibilitam o exercício da solidariedade. Os jogos fazem parte do conjunto de técnicas adotadas pelo Teatro do Oprimido e, constituem a possibilidade de exercitar a reflexão acerca da necessidade e existência de leis que são pensadas, a princípio, na perspectiva de organizar as relações mas, que no fim se tornam, instrumento de servil obediência. A proposta é construir estratégias para que a reflexão possibilite o exercício da liberdade. 13 No livro “As imagens de um teatro popular” Boal (2000) , faz uma analise da trajetória e das contradições do CPC, que pode ter seu insucesso ligado a dificuldade de compreender que certas formas de relação com a classe a qual se destinavam o seu trabalho, na realidade mantinham as formas ideológicas de representação social do sistema vigente, reproduzindo as hierarquias e as contradições de relações entre classes distintas, umas vez o CPC foi pensando e executado pela majoritariamente por jovens da classe média.