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Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 37
Aspectos Fundamentais Sobre a Extrusão de
Massas de Cerâmicas Vermelhas
Manuel J. Ribeiro1
*, António A.L. Ferreira1
e João A. Labrincha2
1
ESTG, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, 4900 Viana do Castelo, Portugal
2
Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro (UIMC), Universidade de Aveiro,
3800-193, Aveiro, Portugal
*email: ribeiro@estg.ipvc.pt
Resumo: A extrusão é um processo de conformação plástica, limitada à fabricação de
objetos de seção constante, muito utilizada na indústria cerâmica vermelha: conformação de
tijolos e tarugos (bastonetes) para prensagem plástica de telhas. Existem vários fatores que
afetam o rendimento do processo e a qualidade dos produtos finais, entre eles destacam-se: a
composição e a preparação das massas cerâmicas, a plasticidade das massas, os moldes (bo-
quilhas) usados, o tipo de extrusora e a qualidade do vácuo.
Dentre os fatores referidos a plasticidade é uma propriedade de difícil caracterização,
uma vez que a maior ou menor plasticidade de uma massa depende de múltiplos aspectos,
entre os quais se podem destacar: o teor de umidade da massa, os diferentes tipos de minerais
argilosos existentes (a composição da massa) hábito ou forma dos cristais e ainda a própria
granulometria das partículas envolvidas. Há ainda o fato da determinação da plasticidade
depender frequentemente da habilidade do operador, fornecendo, por isso mesmo, uma avali-
ação meramente qualitativa. Além disso os valores obtidos para diferentes ensaios não são
diretamente comparáveis.
Neste trabalho é feita, em primeiro lugar, uma revisão da influência de alguns parâmetros
principais no processo de extrusão, assim como sobre o conceito de plasticidade, de um ponto
de vista estritamente cerâmico, procurando-se depois relacioná-la com a extrudibilidade das
respectivas massas.
Palavras-chaves: extrusão, cerâmica vermelha, plasticidade
muito siliciosa). A mistura final, habitualmente feita atra-
vés de um dosador, depende das plasticidades relativas de
cada uma das argilas e do grau de plasticidade pretendido
para a mistura. Uma das vantagens da utilização de pelo
menos duas argilas de diferentes plasticidades é precisa-
mente o fácil ajuste da plasticidade da mistura às condi-
ções de processamento (à extrusão).
A estes tipos de argilas vermelhas (principalmente às
menos plásticas) estão associadas quantidades significati-
vas de inertes, sendo os mais frequentes grãos de sílica e
de calcário (carbonato de cálcio). Os problemas a eles as-
sociados, principalmente no caso do calcário, podem sur-
gir apenas após a queima, tais como descontinuidades
(fissuras, buracos, etc.), rachaduras provocados pela forte
desgaseificação (caso do calcário) e irregularidades na
superfície dos produtos extrudados (riscos e inchamentos).
1. A Composição e a Preparação das
Massas Cerâmicas
A primeira condição para atingir bons resultados na
extrusão de produtos cerâmicos é ter uma massa para
extrusão que apresente as menores variações possíveis, em
termos de1,2
:
a) composição;
b) grau de moagem;
c) teor de umidade.
Acomposição das argilas e consequentemente da mas-
sa vermelha determina parcialmente a plasticidade de tra-
balho. De um modo muito genérico poderá afirmar-se que
a maioria das massas para extrusão de cerâmicas verme-
lhas é constituída fundamentalmente por duas argilas, uma
muito plástica (frequentemente ilítica ou ilitico-mont-
morilonítica) e por outra pouco plástica (normalmente
38 Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003
De forma a evitar estes tipos de problema antes da entrada
na extrusora, é aconselhável a passagem da massa cerâmi-
ca por uma série de moinhos; o primeiro deverá ser de
maior abertura (p.ex. moinho de galgas) e depois por um
par de laminadores (moinhos de rolos) em que o último
deve estar regulado com um afastamento entre rolos de
1,0-1,5 mm, limitando desta forma o tamanho médio dos
grãos dos inertes na entrada da extrusora.
Atualmente sabe-se que o grau de moagem das massas
é um dos fatores que pode influenciar a plasticidade das
massas vermelhas. Assim, uma moagem mais fina tem
como consequência um aumento da superfície específica
das partículas da massa, o que provoca um aumento da
plasticidade3
.
2. A Plasticidade
Quando se trata de avaliar a adaptação de uma massa
plástica a determinado processo de conformação, o termo
trabalhabilidade é usado frequentemente como sinônimo
de plasticidade. De fato, em termos práticos, podemos
definir dois tipos diferentes de plasticidade: “boa” e “má”.
Se a massa se adapta perfeitamente a um processo especí-
fico de conformação, define-se a plasticidade como “boa”;
por outro lado se a massa ao ser conformada origina defei-
tos no produto ou demonstra dificuldades na conforma-
ção, a plasticidade é considerada como “má”2
. Esta análi-
se traduz, de certa forma, o conceito prático de plasticidade
e que é muitas vezes definida como sendo o grau de defor-
mação de uma massa até ela entrar em ruptura3
.
A plasticidade também depende de fatores intrínsecos
à própria massa, tais como: os diferentes tipos de minerais
argilosos existente na massa, a própria granulometria das
partículas envolvidas (fatores já referidos anteriormente)
e o hábito ou forma dos cristais. As argilas com composi-
ções mineralógicas diferentes apresentam comportamen-
tos plásticos diferentes, embora os seus teores de água
possam ser iguais. Existe mesmo uma escala de plasticidade
em função do tipo de material argiloso3
:
Se compararmos o comportamento plástico de vários
minerais argilosos, a montmorilonita, por exemplo, requer
mais água para ser trabalhada do que a caulinita, uma vez
que além do filme de água que envolve as partículas, exis-
te outra água que ocupa os espaços intercamadas estrutu-
rais na montmorilonita. Por outro lado as partículas ou cris-
tais de montmorilonita têm tamanhos e espessuras médias
inferiores aos dos cristais de caulinita, apresentando, por
isso mesmo, maior superfície específica.
Quanto ao grau de cristalinidade e tomando como
exemplo a caulinita, pode-se afirmar que uma caulinita mal
cristalizada apresenta maior plasticidade do que uma
caulinita bem cristalizada, porque esta última apresenta
cristais de dimensão e espessura média superior3
.
Existem diversos métodos de medição e caracteriza-
ção da plasticidade de uma massa argilosa, embora a sua
determinação experimental dependa, em alguns casos, da
maior ou menor habilidade do operador, sendo a compara-
ção de resultados entre os diferentes ensaios problemáti-
ca. Entre eles destacam-se neste trabalho, o índice de
plasticidade de Atterberg, o índice de plasticidade de
Pfefferkorn e as curvas tensão/deformação.
2.1 Índice de Plasticidade de Atterberg
Em geral uma massa mais plástica aceita mais água até
fluir (comportamento de uma barbotina). Isto significa que
uma argila mais plástica precisa de mais água, para desen-
volver a plasticidade, do que outra menos plástica. Este é
o fundamento de índice de plasticidade deAtterberg. Quan-
do pequenas quantidades de água são adicionadas, pouco
a pouco, a uma massa seca, alcança-se inicialmente um
estado em que esta começa a apesentar alguma coesão.
Este estado corresponde à quantidade mínima de água
requerida para formação de um filme estável envolvendo
cada partícula argilosa. Se continuar a ser adicionada mais
água, a massa plástica torna-se cada vez mais mole, alcan-
çando-se um estado em que começa a fluir sob ação do seu
próprio peso (passa a comportar-se como uma barbotina).
O índice de plasticidade deAtterberg (IPA) é dado por:
IPA = Ll
- Lp
(1)
em que o limite plástico (Lp
) é o teor de água, expresso
em percentagem do peso de massa seca a 110 ºC, acima do
qual a massa argilosa pode ser enrolada em rolos, com cer-
ca de 3-4 mm de diâmetro e cerca de 15 cm de compri-
mento, e em que o limite líquido (Ll
) é o teor de água,
expresso em percentagem do peso de massa seca a 110 ºC,
acima do qual a massa flui como um líquido quando ligei-
ramente agitada2,3
.
2.2 Índice de Plasticidade de Pfefferkorn
O método de Pfefferkorn avalia a plasticidade, de uma
massa ou de uma argila, medindo o grau de deformação
sofrido por um corpo de prova cilíndrico, sujeito à queda
de um punção de uma altura constante e com um peso bem
definido (1,192 kg). Para esse efeito fazem-se diversos
ensaios sobre amostras da mesma massa com diferentes
teores de água.
O coeficiente de plasticidade determinado por este
método, corresponde à percentagem de água presente, para
a qual o corpo de prova apresenta uma deformação de 30%,
em relação à sua dimensão inicial. O grau de deformação
do cilindro (h0
/h1
), isto é, a relação entre a altura inicial do
cilindro (h0
) e a altura após a deformação (h1
), se for infe-
rior a 2,5 significa que a massa é difícil de trabalhar por
estar demasiado seca, por outro lado, se a relação for su-
Bentonita > Argila plástica > Argila Refratária > Caulim
(ball-clay) (fire-clay)
Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 39
perior a 4 a massa está muito pastosa. A percentagem de
água correspondente a uma relação de deformação de
3,3 (média entre 2,5 e 4) dá-nos o índice de plasticidade
de Pfefferkorn. Quanto maior for este índice maior será a
plasticidade de uma massa2,3
.
2.3 Curvas Tensão/Deformação
Neste método um corpo de prova cilíndrico previamente
moldado (com 3,3 cm de diâmetro e 4,3 cm de altura) é
sujeito a um teste de compressão, a velocidade constante,
e até um máximo de deformação de cerca de 70% (ou até
se atingir o limite da célula de carga)4
. Teoricamente as
curvas tensão/deformação de uma massa cerâmica argilo-
sa são do tipo apresentado na Fig. 1. Até o ponto A (deno-
minado por ponto de fluência) o material mostra um com-
portamento elástico. A partir desse ponto, o aumento
contínuo do movimento de compressão dá origem a um
comportamento plástico (zona plástica do material) em que
a deformação do corpo de prova ocorre para valores de
tensão aproximadamente constantes (zonas plásticas mais
extensas indicam massas mais plásticas). Finalmente, quan-
do se atinge o ponto B (ponto de máxima deformação) a
ruptura do corpo de prova tem início e a tensão cai rapida-
mente. No entanto, na maioria dos casos, após atingido
este limite regista-se um anormal crescimento da tensão,
originada pelo aumento da área das bases de suporte (pro-
vocado pela fissura lateral do corpo de prova)4,5
.
Também o teor de umidade da mistura de argilas inter-
fere na plasticidade, assim, nas argilas magras, os valores
de máxima plasticidade que se conseguem obter, pela pre-
sença de água, são menores do que os obtidos nas argilas
mais plásticas (denominadas também por argilas gordas).
Este fato deve-se à menor capacidade de fixação de água
pela areia, que faz parte da composição e do maior tama-
nho de partículas das argilas magras.
Por outro lado, dado que as condições de fluxo do
material argiloso através da extrusora dependem basica-
mente da sua plasticidade, compreende-se facilmente a
necessidade de manter o mais constante possível a com-
posição da massa argilosa, para que o valor da plasticidade
se mantenha constante1
.
A Fig. 2 apresenta curvas de tensão/deformação de uma
massa de cerâmica vermelha, obtida por mistura de duas
argilas (uma mais plástica e uma mais magra) onde se fez
variar o teor de umidade entre 18,5-21,4%. Como se pode
observar, variações de cerca de 1% no teor de umidade
dão origem a comportamentos plásticos muito diferentes
(quantidades de umidade inferiores dão origem a menores
zonas plásticas) por outro lado, menores teores de água
provocam um aumento do ponto de fluência (aumento da
tensão mínima necessária para existir deformação plástica).
3. A Extrusão
A extrusão é usada para o processamento de produtos
cerâmicos há mais de 150 anos, tendo a tecnologia sofrido
pequenas alterações a partir da década de 50 do século
passado. No entanto este processo de conformação indus-
trial tem se revelado essencial nas industrias cerâmicas de
barro vermelho (telhas e tijolos). É uma técnica de produ-
ção associada a uma elevada produtividade, principalmente
para produtos de seção transversal constante (tijolo) e muito
importante em termos de homogeneização e retirada do ar
da massa6,7
.
Como referido anteriormente, a plasticidade das mas-
sas interfere na qualidade final dos produtos extrudados.
Para isso deve-se, sempre que possível, extrudar as mas-
sas na zona de máxima plasticidade evitando situações des-
vantajosas em termos de extrusão.
Nas massas com elevados teores de umidade, perto do
limite líquido (Ll
), facilmente ocorre o deslizamento entre
partículas, pelo que a massa argilosa tenderá a agarrar-se
às hélices da extrusora e fluir pelo centro da fieira com
maior velocidade. Algo semelhante ocorrerá se diminuir-
mos o teor de umidade e trabalharmos abaixo da zona de
Figura 1. Curva tensão/deformação teórica de uma massa cerâ-
mica plástica.
Figura 2. Curvas tensão/deformação de uma massa vermelha
em função do teor de umidade
40 Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003
máxima plasticidade. O atrito nas paredes da extrusora
aumenta e a massa argilosa tenderá também a fluir com
maior velocidade no centro, enquanto que as forças de
compressão desenvolvidas no interior da extrusora e o
desgaste dos diversos componentes metálicos aumentam1,8
.
As forças de compressão no interior de uma extrusora
apresentam dois picos em zonas diferentes (Fig. 3). O pri-
meiro, de baixa intensidade, surge logo no fim da primeira
hélice junto ao cortador interno na entrada da câmara de
vácuo, onde surge a primeira restrição à passagem da mas-
sa. O outro pico, com início na zona de pré-compressão e
máximo à entrada da sobre boca, tem maior intensidade e
define a zona onde se desenvolvem as forças de compres-
são do material e onde se desenvolvem desgastes elevados
dos componentes da extrusora.
Quanto menos plástica for a massa argilosa, maior sen-
sibilidade terá a possíveis variações de umidade. Uma va-
riação de 1, 2 ou 3% de umidade numa massa plástica po-
derá não se notar em termos de extrusão, mas numa massa
magra provocará uma alteração total da plasticidade a das
condições de fluxo através da boquilha, devido à menor
força de coesão entre as partículas8
.
Dado que as condições de fluxo do material argiloso
através da extrusora dependem basicamente da sua
plasticidade, compreende-se facilmente a necessidade de
manter o mais constante possível as características da massa
(composição, grau de moagem, teor de umidade, etc.) para
que o valor da plasticidade se mantenha. Nesse sentido
pode-se observar como diferem as pressões de extrusão e
consequentemente os os gastos com energia elétrica no
motor, quando se extruda duas massas com plasticidades
muito diferentes (Fig. 4.)
De um modo geral, pode-se afirmar que argilas gordas
com elevada plasticidade, deslizam melhor sobre a super-
fície da hélice, traduzindo-se numa maior pressão e,
consequentemente, numa melhor homogeneização e
Figura 4. Variação da pressão de extrusão e da potência exercida
pelo motor em função do teor de umidade, para uma massa mais
plástica e para outra menos plástica.
Figura 5. Representação esquemática de dois tipos diferentes de
fieiras (conjunto composto pela foca e pelo molde).
Figura 3. Corte de uma extrusora de dupla hélice, com o respec-
tivo gráfico de pressões exercidas no seu interior e a identifica-
ção das diferentes zonas.
Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 41
se tornar o diâmetro do molde, maior será a sua velocidade
de saída e menor será a compactação da massa (menor
atrito específico)1
.
4. Defeitos na Extrusão de Tijolos
4.1 Deformações e Trincas
As diferenças de velocidade de saída da argila através
do molde, traduzem-se em diferenças de pressão de
extrusão e, consequentemente, em diferenças de
compactação da massa. A uma maior velocidade de saída
corresponde uma maior pressão e portanto uma maior
compactação do produto extrudido.
Nas zonas de menor velocidade de saída de massa, as
partículas argilosas ficam submetidas à tração e,
consequentemente, a distância entre partículas será maior,
pelo que, durante a secagem essas zonas contraem mais
do que as que foram extrudadas a maior pressão (maior
velocidade). Estas diferenças de contração aumentam as
forças de tração, que se criam nas zonas da peça extrudadas
a menor pressão, originando deformações e roturas de se-
cagem1
.
Um dos sistemas mais usados no equilíbrio dos mol-
des baseia-se nos princípios expostos. As diferenças de
velocidade na seção de saída do molde são detectadas pela
determinação das eventuais diferenças de contração, apre-
sentadas em diferentes zonas das peças. Para efetuar este
controle, marca-se na superfície de um tijolo, à saída do
molde, uma distância fixa através de um marcador de dis-
tância preciso (p.ex. craveira) ver Fig. 6. Coloca-se, a se-
guir, a peça para secar, procurando assegurar que a seca-
gem se efetue da forma mais uniforme possível e após a
secagem mede-se a contração nas diferentes zonas do tijo-
lo, previamente marcadas. Os resultados obtidos com o
tijolo da Fig. 6 evidenciam que o molde está desequilibra-
do, com uma velocidade de saída crescente do ponto 1
para o ponto 4. As tensões de tração a que foram submeti-
compactação da massa argilosa na zona de saída (boqui-
lha). Por outro lado, argilas magras, de baixa plasticidade,
grão áspero e elevado atrito, devem ser utilizadas no fabri-
co de peças com grande seção de saída, o que pressupõe
menor travamento no molde e menor pressão de extrusão.
3.1 A Fieira (O Conjunto sobre Boca e Molde)
O transporte, a compactação e a extrusão das massas
cerâmicas são ações desenvolvidas pelas hélices da
extrusora. A economia energética, a regularidade do fluxo
e a pressão adequada de extrusão são fatores que estão
dependentes do tipo de fieira (diâmetro na saída, conicidade
e comprimento da foca) e da plasticidade da massa8
.
A fieira, conjunto composto pela foca e pelo molde
(Fig. 3) deve cumprir com as seguintes funções:
a) eliminar as variações ou diferenças de fluxo argilo-
so que não se conseguiram corrigir pela ação das
hélices;
b) diminuir as laminações que se formam devido ao
ordenamento das partículas argilosas;
c) transformar o fluxo helicoidal de argila num fluxo
retilíneo paralelo ao eixo da extrusora;
d) compensar as diferenças de transporte de massa en-
tre a periferia e o eixo da hélice;
e) igualar as velocidades ao longo da seção, para que a
entrada de massa no molde se faça de modo comple-
tamente uniforme (evitando, deste modo, deforma-
ções na hélice e/ou descentragem do molde, em
consequência das diferenças de pressão no fluxo ar-
giloso)8
.
Quando se trabalha com argilas de baixa plasticidade
(massas magras) deverão utilizar-se fieiras com focas mais
compridas e menos cônicas. Neste tipo de massas, o atrito
sobre a superfície da foca é muito maior que o atrito entre
as camadas da massa, pelo que esta flui com mais facilida-
de pelo centro, podendo originar tensões nas peças à saída
do molde. O atrito da massa sobre a superfície da foca au-
menta com a conicidade desta, pelo que para igualar as
velocidades de saída torna-se necessário utilizar focas de
baixa conicidade, ou seja, mais compridas (Fig. 5)1
.
No entanto, ao utilizar-se focas mais compridas, está-
se a reduzir o atrito específico sobre a superfície da foca,
mas ao mesmo tempo a aumentar a superfície de atrito dis-
ponível e consequentemente a resistência oferecida ao es-
coamento (um aumento de 10 cm no comprimento da foca,
pode representar uma diminuição de 10 a 15% na quanti-
dade de massa extrudida, para a mesma pressão de traba-
lho).
De um modo geral, pode-se afirmar que uma argila
magra necessitará de uma foca mais comprida que uma
argila gorda, uma vez que nesta última a diminuição de
velocidade de extrusão, provocada pelo atrito sobre a su-
perfície da foca, não é tão elevada. Finalmente, para o
mesmo comprimento e conicidade na foca, quanto maior
Figura 6. Representação esquemática do resultado do controle
realizado num tijolo extrudado, em que o molde se encontra de-
sequilibrado.
42 Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003
das as zonas 1 e 2 determinam a ocorrência de gretas e
fissuras durante a secagem. Para as evitar, neste caso, se-
ria necessário aumentar a velocidade de saída nas zonas 1
e 2, ou seja reequilibrar o molde de forma a igualar as
velocidades de saída do tijolo1
.
4.2 As Laminações
As laminações são diferentes estruturas constituídas nos
produtos extrudados pela tendência natural das partículas
argilosas, de hábito lamelar, se orientarem paralelamente
às paredes da extrusora ou às pás das hélices.
Tais heterogeneidades podem originar nas fases poste-
riores de processamento diversos defeitos tais como fissuras
e mesmo quebras do material devidas a retrações diferenci-
ais em diferentes partes das peças conformadas. A Fig. 7
ilustra diferentes tipos de laminações que ocorrem no inte-
rior de corpos cerâmicos extrudados9
. À esquerda são visí-
veis as laminações provocadas pelo deslizar da massa no
interior de um tubo, enquanto que à direita são bem evi-
dentes as orientações provocadas pela hélice propulsora.
Este tipo de imagens são obtidas por congelamento do
corpo acabado de ser extrudado, processo que permite sali-
entar a ligação entre as diferentes camadas compactadas de
massa argilosa, por expansão da água congelada. Esta téc-
nica é meramente informativa, uma vez que o fato do mate-
rial fissurar sob condições de congelamento, não implica
que venha a fissurar durante a secagem e/ou queima.
Consegue-se evitar a formação de fissuras por lamina-
ções melhorando o comportamento do material durante a
secagem, redesenhando o molde ou melhorando a extru-
dabilidade da massa1
.
5. Comentários Finais
Para a obtenção de elevados rendimentos e bons níveis
de qualidade na extrusão de produtos cerâmicos é neces-
sário ficar atento à preparação da massa, escolhendo e con-
trolando adequadamente as matérias primas e controlando
rigorosamente o teor de umidade, com o intuito de se ob-
ter a plasticidade mais adequada. É ainda necessário ade-
quar a velocidade de extrusão (que condiciona a pressão
de extrusão) e o molde ao tipo de material extrudado. O
revestimento das paredes internas da extrusora deverá ser
rugoso e a hélice bem polida, para que o avanço da massa
na extrusora ocorra corretamente9
.
O cumprimento de tais premissas permitirá bons índi-
ces de rendimento e de qualidade no processamento por
extrusão, assim como uma utilização mais rentável do equi-
pamento (menor desgaste, menor número de operações de
manutenção etc).
Referências
1. Cordeiro, P. “Moldes de fieira, fatores de funcionamen-
to acerto e afinação-Parte I”, Cerâmicas, n. 17, p. 81-
84, Set.-Nov., 1993.
2. Carty,W.M.; Lee, C. “The Characterization of Plasticity”,
Science of Whitewares, Published by the American
Ceramic Society, p. 89-101, USA, 1996.
3. Gomes, C.F. “Argilas - O que são e para que servem”,
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1988.
4. Ribeiro, M.J.; Ferreira, J.M.; Labrincha, J.A. “Plastic
Behaviour of Differnt Ceramic Pastes Processed by
Extrusion”, (em publicação).
5. Norton, F.H. “Fine Ceramics: Technology and
Applications”, Mc Graw-Hill, New York, 1988.
6. Reed, J.S.; Martin, T.J.; Carlson, W.G. “Mechanics of
Extrusion”, Science of Whitewares, Published by the
American Ceramic Society, p. 157-168, USA, 1996.
7. Blackburn, S.; Lawson, T.A. “Mullite-Alumina
Composites by Extrusion”, J. Am. Ceram. Soc., n. 75,
v. 4, p. 953-57, 1992.
8. Facincani, E. “Tecnología Cerámica - Los Ladrillos”,
Faenza Editrice Iberica S.L., Castellón, 1993.
9. Onada, G.Y.; Hench, L.L. “Ceramic Processing Before
Firing”, John Wiley & Sons, New York, 1978.
Figura 7. Fissurações provocada por laminações numa secção
longitudinal do produto extrudado (à esquerda) e numa secção
transversal (à direita).

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Extrusão de massas cerâmicas Aspectos Fundamentais Sobre a Extrusão de Massas de Cerâmicas Vermelhas

  • 1. Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 37 Aspectos Fundamentais Sobre a Extrusão de Massas de Cerâmicas Vermelhas Manuel J. Ribeiro1 *, António A.L. Ferreira1 e João A. Labrincha2 1 ESTG, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, 4900 Viana do Castelo, Portugal 2 Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro (UIMC), Universidade de Aveiro, 3800-193, Aveiro, Portugal *email: ribeiro@estg.ipvc.pt Resumo: A extrusão é um processo de conformação plástica, limitada à fabricação de objetos de seção constante, muito utilizada na indústria cerâmica vermelha: conformação de tijolos e tarugos (bastonetes) para prensagem plástica de telhas. Existem vários fatores que afetam o rendimento do processo e a qualidade dos produtos finais, entre eles destacam-se: a composição e a preparação das massas cerâmicas, a plasticidade das massas, os moldes (bo- quilhas) usados, o tipo de extrusora e a qualidade do vácuo. Dentre os fatores referidos a plasticidade é uma propriedade de difícil caracterização, uma vez que a maior ou menor plasticidade de uma massa depende de múltiplos aspectos, entre os quais se podem destacar: o teor de umidade da massa, os diferentes tipos de minerais argilosos existentes (a composição da massa) hábito ou forma dos cristais e ainda a própria granulometria das partículas envolvidas. Há ainda o fato da determinação da plasticidade depender frequentemente da habilidade do operador, fornecendo, por isso mesmo, uma avali- ação meramente qualitativa. Além disso os valores obtidos para diferentes ensaios não são diretamente comparáveis. Neste trabalho é feita, em primeiro lugar, uma revisão da influência de alguns parâmetros principais no processo de extrusão, assim como sobre o conceito de plasticidade, de um ponto de vista estritamente cerâmico, procurando-se depois relacioná-la com a extrudibilidade das respectivas massas. Palavras-chaves: extrusão, cerâmica vermelha, plasticidade muito siliciosa). A mistura final, habitualmente feita atra- vés de um dosador, depende das plasticidades relativas de cada uma das argilas e do grau de plasticidade pretendido para a mistura. Uma das vantagens da utilização de pelo menos duas argilas de diferentes plasticidades é precisa- mente o fácil ajuste da plasticidade da mistura às condi- ções de processamento (à extrusão). A estes tipos de argilas vermelhas (principalmente às menos plásticas) estão associadas quantidades significati- vas de inertes, sendo os mais frequentes grãos de sílica e de calcário (carbonato de cálcio). Os problemas a eles as- sociados, principalmente no caso do calcário, podem sur- gir apenas após a queima, tais como descontinuidades (fissuras, buracos, etc.), rachaduras provocados pela forte desgaseificação (caso do calcário) e irregularidades na superfície dos produtos extrudados (riscos e inchamentos). 1. A Composição e a Preparação das Massas Cerâmicas A primeira condição para atingir bons resultados na extrusão de produtos cerâmicos é ter uma massa para extrusão que apresente as menores variações possíveis, em termos de1,2 : a) composição; b) grau de moagem; c) teor de umidade. Acomposição das argilas e consequentemente da mas- sa vermelha determina parcialmente a plasticidade de tra- balho. De um modo muito genérico poderá afirmar-se que a maioria das massas para extrusão de cerâmicas verme- lhas é constituída fundamentalmente por duas argilas, uma muito plástica (frequentemente ilítica ou ilitico-mont- morilonítica) e por outra pouco plástica (normalmente
  • 2. 38 Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 De forma a evitar estes tipos de problema antes da entrada na extrusora, é aconselhável a passagem da massa cerâmi- ca por uma série de moinhos; o primeiro deverá ser de maior abertura (p.ex. moinho de galgas) e depois por um par de laminadores (moinhos de rolos) em que o último deve estar regulado com um afastamento entre rolos de 1,0-1,5 mm, limitando desta forma o tamanho médio dos grãos dos inertes na entrada da extrusora. Atualmente sabe-se que o grau de moagem das massas é um dos fatores que pode influenciar a plasticidade das massas vermelhas. Assim, uma moagem mais fina tem como consequência um aumento da superfície específica das partículas da massa, o que provoca um aumento da plasticidade3 . 2. A Plasticidade Quando se trata de avaliar a adaptação de uma massa plástica a determinado processo de conformação, o termo trabalhabilidade é usado frequentemente como sinônimo de plasticidade. De fato, em termos práticos, podemos definir dois tipos diferentes de plasticidade: “boa” e “má”. Se a massa se adapta perfeitamente a um processo especí- fico de conformação, define-se a plasticidade como “boa”; por outro lado se a massa ao ser conformada origina defei- tos no produto ou demonstra dificuldades na conforma- ção, a plasticidade é considerada como “má”2 . Esta análi- se traduz, de certa forma, o conceito prático de plasticidade e que é muitas vezes definida como sendo o grau de defor- mação de uma massa até ela entrar em ruptura3 . A plasticidade também depende de fatores intrínsecos à própria massa, tais como: os diferentes tipos de minerais argilosos existente na massa, a própria granulometria das partículas envolvidas (fatores já referidos anteriormente) e o hábito ou forma dos cristais. As argilas com composi- ções mineralógicas diferentes apresentam comportamen- tos plásticos diferentes, embora os seus teores de água possam ser iguais. Existe mesmo uma escala de plasticidade em função do tipo de material argiloso3 : Se compararmos o comportamento plástico de vários minerais argilosos, a montmorilonita, por exemplo, requer mais água para ser trabalhada do que a caulinita, uma vez que além do filme de água que envolve as partículas, exis- te outra água que ocupa os espaços intercamadas estrutu- rais na montmorilonita. Por outro lado as partículas ou cris- tais de montmorilonita têm tamanhos e espessuras médias inferiores aos dos cristais de caulinita, apresentando, por isso mesmo, maior superfície específica. Quanto ao grau de cristalinidade e tomando como exemplo a caulinita, pode-se afirmar que uma caulinita mal cristalizada apresenta maior plasticidade do que uma caulinita bem cristalizada, porque esta última apresenta cristais de dimensão e espessura média superior3 . Existem diversos métodos de medição e caracteriza- ção da plasticidade de uma massa argilosa, embora a sua determinação experimental dependa, em alguns casos, da maior ou menor habilidade do operador, sendo a compara- ção de resultados entre os diferentes ensaios problemáti- ca. Entre eles destacam-se neste trabalho, o índice de plasticidade de Atterberg, o índice de plasticidade de Pfefferkorn e as curvas tensão/deformação. 2.1 Índice de Plasticidade de Atterberg Em geral uma massa mais plástica aceita mais água até fluir (comportamento de uma barbotina). Isto significa que uma argila mais plástica precisa de mais água, para desen- volver a plasticidade, do que outra menos plástica. Este é o fundamento de índice de plasticidade deAtterberg. Quan- do pequenas quantidades de água são adicionadas, pouco a pouco, a uma massa seca, alcança-se inicialmente um estado em que esta começa a apesentar alguma coesão. Este estado corresponde à quantidade mínima de água requerida para formação de um filme estável envolvendo cada partícula argilosa. Se continuar a ser adicionada mais água, a massa plástica torna-se cada vez mais mole, alcan- çando-se um estado em que começa a fluir sob ação do seu próprio peso (passa a comportar-se como uma barbotina). O índice de plasticidade deAtterberg (IPA) é dado por: IPA = Ll - Lp (1) em que o limite plástico (Lp ) é o teor de água, expresso em percentagem do peso de massa seca a 110 ºC, acima do qual a massa argilosa pode ser enrolada em rolos, com cer- ca de 3-4 mm de diâmetro e cerca de 15 cm de compri- mento, e em que o limite líquido (Ll ) é o teor de água, expresso em percentagem do peso de massa seca a 110 ºC, acima do qual a massa flui como um líquido quando ligei- ramente agitada2,3 . 2.2 Índice de Plasticidade de Pfefferkorn O método de Pfefferkorn avalia a plasticidade, de uma massa ou de uma argila, medindo o grau de deformação sofrido por um corpo de prova cilíndrico, sujeito à queda de um punção de uma altura constante e com um peso bem definido (1,192 kg). Para esse efeito fazem-se diversos ensaios sobre amostras da mesma massa com diferentes teores de água. O coeficiente de plasticidade determinado por este método, corresponde à percentagem de água presente, para a qual o corpo de prova apresenta uma deformação de 30%, em relação à sua dimensão inicial. O grau de deformação do cilindro (h0 /h1 ), isto é, a relação entre a altura inicial do cilindro (h0 ) e a altura após a deformação (h1 ), se for infe- rior a 2,5 significa que a massa é difícil de trabalhar por estar demasiado seca, por outro lado, se a relação for su- Bentonita > Argila plástica > Argila Refratária > Caulim (ball-clay) (fire-clay)
  • 3. Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 39 perior a 4 a massa está muito pastosa. A percentagem de água correspondente a uma relação de deformação de 3,3 (média entre 2,5 e 4) dá-nos o índice de plasticidade de Pfefferkorn. Quanto maior for este índice maior será a plasticidade de uma massa2,3 . 2.3 Curvas Tensão/Deformação Neste método um corpo de prova cilíndrico previamente moldado (com 3,3 cm de diâmetro e 4,3 cm de altura) é sujeito a um teste de compressão, a velocidade constante, e até um máximo de deformação de cerca de 70% (ou até se atingir o limite da célula de carga)4 . Teoricamente as curvas tensão/deformação de uma massa cerâmica argilo- sa são do tipo apresentado na Fig. 1. Até o ponto A (deno- minado por ponto de fluência) o material mostra um com- portamento elástico. A partir desse ponto, o aumento contínuo do movimento de compressão dá origem a um comportamento plástico (zona plástica do material) em que a deformação do corpo de prova ocorre para valores de tensão aproximadamente constantes (zonas plásticas mais extensas indicam massas mais plásticas). Finalmente, quan- do se atinge o ponto B (ponto de máxima deformação) a ruptura do corpo de prova tem início e a tensão cai rapida- mente. No entanto, na maioria dos casos, após atingido este limite regista-se um anormal crescimento da tensão, originada pelo aumento da área das bases de suporte (pro- vocado pela fissura lateral do corpo de prova)4,5 . Também o teor de umidade da mistura de argilas inter- fere na plasticidade, assim, nas argilas magras, os valores de máxima plasticidade que se conseguem obter, pela pre- sença de água, são menores do que os obtidos nas argilas mais plásticas (denominadas também por argilas gordas). Este fato deve-se à menor capacidade de fixação de água pela areia, que faz parte da composição e do maior tama- nho de partículas das argilas magras. Por outro lado, dado que as condições de fluxo do material argiloso através da extrusora dependem basica- mente da sua plasticidade, compreende-se facilmente a necessidade de manter o mais constante possível a com- posição da massa argilosa, para que o valor da plasticidade se mantenha constante1 . A Fig. 2 apresenta curvas de tensão/deformação de uma massa de cerâmica vermelha, obtida por mistura de duas argilas (uma mais plástica e uma mais magra) onde se fez variar o teor de umidade entre 18,5-21,4%. Como se pode observar, variações de cerca de 1% no teor de umidade dão origem a comportamentos plásticos muito diferentes (quantidades de umidade inferiores dão origem a menores zonas plásticas) por outro lado, menores teores de água provocam um aumento do ponto de fluência (aumento da tensão mínima necessária para existir deformação plástica). 3. A Extrusão A extrusão é usada para o processamento de produtos cerâmicos há mais de 150 anos, tendo a tecnologia sofrido pequenas alterações a partir da década de 50 do século passado. No entanto este processo de conformação indus- trial tem se revelado essencial nas industrias cerâmicas de barro vermelho (telhas e tijolos). É uma técnica de produ- ção associada a uma elevada produtividade, principalmente para produtos de seção transversal constante (tijolo) e muito importante em termos de homogeneização e retirada do ar da massa6,7 . Como referido anteriormente, a plasticidade das mas- sas interfere na qualidade final dos produtos extrudados. Para isso deve-se, sempre que possível, extrudar as mas- sas na zona de máxima plasticidade evitando situações des- vantajosas em termos de extrusão. Nas massas com elevados teores de umidade, perto do limite líquido (Ll ), facilmente ocorre o deslizamento entre partículas, pelo que a massa argilosa tenderá a agarrar-se às hélices da extrusora e fluir pelo centro da fieira com maior velocidade. Algo semelhante ocorrerá se diminuir- mos o teor de umidade e trabalharmos abaixo da zona de Figura 1. Curva tensão/deformação teórica de uma massa cerâ- mica plástica. Figura 2. Curvas tensão/deformação de uma massa vermelha em função do teor de umidade
  • 4. 40 Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 máxima plasticidade. O atrito nas paredes da extrusora aumenta e a massa argilosa tenderá também a fluir com maior velocidade no centro, enquanto que as forças de compressão desenvolvidas no interior da extrusora e o desgaste dos diversos componentes metálicos aumentam1,8 . As forças de compressão no interior de uma extrusora apresentam dois picos em zonas diferentes (Fig. 3). O pri- meiro, de baixa intensidade, surge logo no fim da primeira hélice junto ao cortador interno na entrada da câmara de vácuo, onde surge a primeira restrição à passagem da mas- sa. O outro pico, com início na zona de pré-compressão e máximo à entrada da sobre boca, tem maior intensidade e define a zona onde se desenvolvem as forças de compres- são do material e onde se desenvolvem desgastes elevados dos componentes da extrusora. Quanto menos plástica for a massa argilosa, maior sen- sibilidade terá a possíveis variações de umidade. Uma va- riação de 1, 2 ou 3% de umidade numa massa plástica po- derá não se notar em termos de extrusão, mas numa massa magra provocará uma alteração total da plasticidade a das condições de fluxo através da boquilha, devido à menor força de coesão entre as partículas8 . Dado que as condições de fluxo do material argiloso através da extrusora dependem basicamente da sua plasticidade, compreende-se facilmente a necessidade de manter o mais constante possível as características da massa (composição, grau de moagem, teor de umidade, etc.) para que o valor da plasticidade se mantenha. Nesse sentido pode-se observar como diferem as pressões de extrusão e consequentemente os os gastos com energia elétrica no motor, quando se extruda duas massas com plasticidades muito diferentes (Fig. 4.) De um modo geral, pode-se afirmar que argilas gordas com elevada plasticidade, deslizam melhor sobre a super- fície da hélice, traduzindo-se numa maior pressão e, consequentemente, numa melhor homogeneização e Figura 4. Variação da pressão de extrusão e da potência exercida pelo motor em função do teor de umidade, para uma massa mais plástica e para outra menos plástica. Figura 5. Representação esquemática de dois tipos diferentes de fieiras (conjunto composto pela foca e pelo molde). Figura 3. Corte de uma extrusora de dupla hélice, com o respec- tivo gráfico de pressões exercidas no seu interior e a identifica- ção das diferentes zonas.
  • 5. Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 41 se tornar o diâmetro do molde, maior será a sua velocidade de saída e menor será a compactação da massa (menor atrito específico)1 . 4. Defeitos na Extrusão de Tijolos 4.1 Deformações e Trincas As diferenças de velocidade de saída da argila através do molde, traduzem-se em diferenças de pressão de extrusão e, consequentemente, em diferenças de compactação da massa. A uma maior velocidade de saída corresponde uma maior pressão e portanto uma maior compactação do produto extrudido. Nas zonas de menor velocidade de saída de massa, as partículas argilosas ficam submetidas à tração e, consequentemente, a distância entre partículas será maior, pelo que, durante a secagem essas zonas contraem mais do que as que foram extrudadas a maior pressão (maior velocidade). Estas diferenças de contração aumentam as forças de tração, que se criam nas zonas da peça extrudadas a menor pressão, originando deformações e roturas de se- cagem1 . Um dos sistemas mais usados no equilíbrio dos mol- des baseia-se nos princípios expostos. As diferenças de velocidade na seção de saída do molde são detectadas pela determinação das eventuais diferenças de contração, apre- sentadas em diferentes zonas das peças. Para efetuar este controle, marca-se na superfície de um tijolo, à saída do molde, uma distância fixa através de um marcador de dis- tância preciso (p.ex. craveira) ver Fig. 6. Coloca-se, a se- guir, a peça para secar, procurando assegurar que a seca- gem se efetue da forma mais uniforme possível e após a secagem mede-se a contração nas diferentes zonas do tijo- lo, previamente marcadas. Os resultados obtidos com o tijolo da Fig. 6 evidenciam que o molde está desequilibra- do, com uma velocidade de saída crescente do ponto 1 para o ponto 4. As tensões de tração a que foram submeti- compactação da massa argilosa na zona de saída (boqui- lha). Por outro lado, argilas magras, de baixa plasticidade, grão áspero e elevado atrito, devem ser utilizadas no fabri- co de peças com grande seção de saída, o que pressupõe menor travamento no molde e menor pressão de extrusão. 3.1 A Fieira (O Conjunto sobre Boca e Molde) O transporte, a compactação e a extrusão das massas cerâmicas são ações desenvolvidas pelas hélices da extrusora. A economia energética, a regularidade do fluxo e a pressão adequada de extrusão são fatores que estão dependentes do tipo de fieira (diâmetro na saída, conicidade e comprimento da foca) e da plasticidade da massa8 . A fieira, conjunto composto pela foca e pelo molde (Fig. 3) deve cumprir com as seguintes funções: a) eliminar as variações ou diferenças de fluxo argilo- so que não se conseguiram corrigir pela ação das hélices; b) diminuir as laminações que se formam devido ao ordenamento das partículas argilosas; c) transformar o fluxo helicoidal de argila num fluxo retilíneo paralelo ao eixo da extrusora; d) compensar as diferenças de transporte de massa en- tre a periferia e o eixo da hélice; e) igualar as velocidades ao longo da seção, para que a entrada de massa no molde se faça de modo comple- tamente uniforme (evitando, deste modo, deforma- ções na hélice e/ou descentragem do molde, em consequência das diferenças de pressão no fluxo ar- giloso)8 . Quando se trabalha com argilas de baixa plasticidade (massas magras) deverão utilizar-se fieiras com focas mais compridas e menos cônicas. Neste tipo de massas, o atrito sobre a superfície da foca é muito maior que o atrito entre as camadas da massa, pelo que esta flui com mais facilida- de pelo centro, podendo originar tensões nas peças à saída do molde. O atrito da massa sobre a superfície da foca au- menta com a conicidade desta, pelo que para igualar as velocidades de saída torna-se necessário utilizar focas de baixa conicidade, ou seja, mais compridas (Fig. 5)1 . No entanto, ao utilizar-se focas mais compridas, está- se a reduzir o atrito específico sobre a superfície da foca, mas ao mesmo tempo a aumentar a superfície de atrito dis- ponível e consequentemente a resistência oferecida ao es- coamento (um aumento de 10 cm no comprimento da foca, pode representar uma diminuição de 10 a 15% na quanti- dade de massa extrudida, para a mesma pressão de traba- lho). De um modo geral, pode-se afirmar que uma argila magra necessitará de uma foca mais comprida que uma argila gorda, uma vez que nesta última a diminuição de velocidade de extrusão, provocada pelo atrito sobre a su- perfície da foca, não é tão elevada. Finalmente, para o mesmo comprimento e conicidade na foca, quanto maior Figura 6. Representação esquemática do resultado do controle realizado num tijolo extrudado, em que o molde se encontra de- sequilibrado.
  • 6. 42 Cerâmica Industrial, 8 (1) Janeiro/Fevereiro, 2003 das as zonas 1 e 2 determinam a ocorrência de gretas e fissuras durante a secagem. Para as evitar, neste caso, se- ria necessário aumentar a velocidade de saída nas zonas 1 e 2, ou seja reequilibrar o molde de forma a igualar as velocidades de saída do tijolo1 . 4.2 As Laminações As laminações são diferentes estruturas constituídas nos produtos extrudados pela tendência natural das partículas argilosas, de hábito lamelar, se orientarem paralelamente às paredes da extrusora ou às pás das hélices. Tais heterogeneidades podem originar nas fases poste- riores de processamento diversos defeitos tais como fissuras e mesmo quebras do material devidas a retrações diferenci- ais em diferentes partes das peças conformadas. A Fig. 7 ilustra diferentes tipos de laminações que ocorrem no inte- rior de corpos cerâmicos extrudados9 . À esquerda são visí- veis as laminações provocadas pelo deslizar da massa no interior de um tubo, enquanto que à direita são bem evi- dentes as orientações provocadas pela hélice propulsora. Este tipo de imagens são obtidas por congelamento do corpo acabado de ser extrudado, processo que permite sali- entar a ligação entre as diferentes camadas compactadas de massa argilosa, por expansão da água congelada. Esta téc- nica é meramente informativa, uma vez que o fato do mate- rial fissurar sob condições de congelamento, não implica que venha a fissurar durante a secagem e/ou queima. Consegue-se evitar a formação de fissuras por lamina- ções melhorando o comportamento do material durante a secagem, redesenhando o molde ou melhorando a extru- dabilidade da massa1 . 5. Comentários Finais Para a obtenção de elevados rendimentos e bons níveis de qualidade na extrusão de produtos cerâmicos é neces- sário ficar atento à preparação da massa, escolhendo e con- trolando adequadamente as matérias primas e controlando rigorosamente o teor de umidade, com o intuito de se ob- ter a plasticidade mais adequada. É ainda necessário ade- quar a velocidade de extrusão (que condiciona a pressão de extrusão) e o molde ao tipo de material extrudado. O revestimento das paredes internas da extrusora deverá ser rugoso e a hélice bem polida, para que o avanço da massa na extrusora ocorra corretamente9 . O cumprimento de tais premissas permitirá bons índi- ces de rendimento e de qualidade no processamento por extrusão, assim como uma utilização mais rentável do equi- pamento (menor desgaste, menor número de operações de manutenção etc). Referências 1. Cordeiro, P. “Moldes de fieira, fatores de funcionamen- to acerto e afinação-Parte I”, Cerâmicas, n. 17, p. 81- 84, Set.-Nov., 1993. 2. Carty,W.M.; Lee, C. “The Characterization of Plasticity”, Science of Whitewares, Published by the American Ceramic Society, p. 89-101, USA, 1996. 3. Gomes, C.F. “Argilas - O que são e para que servem”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1988. 4. Ribeiro, M.J.; Ferreira, J.M.; Labrincha, J.A. “Plastic Behaviour of Differnt Ceramic Pastes Processed by Extrusion”, (em publicação). 5. Norton, F.H. “Fine Ceramics: Technology and Applications”, Mc Graw-Hill, New York, 1988. 6. Reed, J.S.; Martin, T.J.; Carlson, W.G. “Mechanics of Extrusion”, Science of Whitewares, Published by the American Ceramic Society, p. 157-168, USA, 1996. 7. Blackburn, S.; Lawson, T.A. “Mullite-Alumina Composites by Extrusion”, J. Am. Ceram. Soc., n. 75, v. 4, p. 953-57, 1992. 8. Facincani, E. “Tecnología Cerámica - Los Ladrillos”, Faenza Editrice Iberica S.L., Castellón, 1993. 9. Onada, G.Y.; Hench, L.L. “Ceramic Processing Before Firing”, John Wiley & Sons, New York, 1978. Figura 7. Fissurações provocada por laminações numa secção longitudinal do produto extrudado (à esquerda) e numa secção transversal (à direita).