SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  46
Télécharger pour lire hors ligne
Pinhão Indígena
A Culinária do Paraná


    Helena Menezes




        Curitiba
         2008
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL
Departamento Regional do Paraná
Presidente
Darci Piana
Diretor Regional
Vitor Monastier
Diretoria Administrativa e Financeira
Edmundo Knaut
Diretoria de Educação Profissional e Tecnologia
Ito Vieira
Coordenadoria de Educação
Lucymara Carpim
Coordenadoria de Marketing
Ana Paula Zettel

Menezes, Helena Maria, 1952-
       Pinhão Indígena - Culinária do Paraná / Helena Maria Menezes. -
Curitiba : SENAC, 2008.
       224p. : il. ; 23 x 30 cm.

      ISBN 85-00000-00-0

       1. Paraná - Gastronomia 2. Pinhão - Comidas 3. História - Culinária.
I. Título
                                                                 CDD 000
                                                              000.000000

Esta obra está protegida quanto aos direitos autorais e editoriais.
A reprodução parcial de seu conteúdo é permitida somente para fins
educacionais e culturais, desde que citada a fonte.

© Textos de Helena Maria Menezes, 2008.
Contato helenammenezes@gmail.com

© Fotografias Adalberto Camargo, Alessandra Gnoatto Azevedo, Amaryllis
Munhoz Kanayama, Bira Fotógrafo, Caio Francisco Coronel, Carlos Ruggi,
Danielle Prim, Helena Menezes, Letícia Rodrigues, Lina Faria, Marcos Cézar
de Araújo, Paulo Leon Hardt, Sian Sene, Zig Koch.

Coordenação Editorial | Helena Menezes e Adalberto Camargo

Capa, projeto gráfico e ilustrações | Adalberto Camargo

Foto capa | Zig Koch

Agradecimentos ao Prof. Carlos Roberto Antunes dos Santos, Darci Piana,
Prof. Ito Vieira, Zig Koch, Roberto Gava e Vera Andrion.


Novembro de 2008.
Sumário




Agradecimento .............................................................................................. 8

Apresentação ............................................................................................... 10

Introdução ....................................................................................................14

A Comida Missioneira - Ciclo das Descobertas...................................24

Ciclo das Águas ............................................................................................. 40

A Comida do Litoral - Ciclo das Fazendas Jesuíticas ................................. 52

Ciclo das Faisqueiras ......................................................................................74

Encarte - Complexo Gastronômico Senac Paraná ................................ 94

A Comida dos Campos Gerais - Ciclo das Invernadas ...........................114

Ciclo da Erva Mate........................................................................................142

A Comida do Norte - Ciclo do Café ...........................................................154

A Comida de Curitiba - Ciclo do Crescimento Urbano ............................162

Comida dos Franceses da Argélia ............................................................... 180

Comida dos Italianos ....................................................................................187

Comida dos Alemães ....................................................................................194

Comida dos Eslavos - poloneses, ucranianos e russos .............................. 206

Comida dos Holandeses ...............................................................................212
Memórias da autora...................................................................................217
Referências Bibliográficas....................................................................... 222
O tema da alimentação, finalmente, começa a invadir a História,
impulsionando maior diálogo multi, inter e transdisciplinar, fazendo com
que as editoras invistam cada vez mais nesta área, transformando em best-
sellers até mesmo manuais de receitas culinárias. As pesquisas acadêmicas
– muitas das quais redundaram em dissertações e teses de pós-graduação
– que abrangem processos históricos com enfoques social, cultural,
econômico, político, tecnológico, nutricional ou antropológico, e mesmo
como monografias sobre determinados alimentos, buscam recuperar os
tempos da memória gustativa, possibilitando as desejáveis articulações
entre a História e outras disciplinas. Os sucessos editoriais nos domínios
da História da Alimentação revelam duas grandes paixões do público
consumidor: o gosto pela História e pela Gastronomia.
   Há hoje uma obsessão pela história da mesa, fazendo com que a
gastronomia saia da cozinha e passe a ser objeto de estudo com a devida
atenção ao imaginário, ao simbólico, às representações e às diversas formas
de sociabilidade ativa. Nesse sentido, a questão da alimentação deve se situar
no centro das atenções dos historiadores e de reflexões sobre a evolução da
sociedade, pois é a disciplina que oferece um suporte fundamental e projeta
perspectivas. Hoje os estudos sobre a comida e a alimentação invadem as
ciências humanas, a partir da premissa que a formação do gosto alimentar
não se dá, exclusivamente pelo seu aspecto nutricional, biológico. O
alimento constitui uma categoria histórica, pois os padrões de permanência
e mudanças dos hábitos e práticas alimentares têm referências na própria
dinâmica social. Os alimentos, além de alimentos, são atitudes, ligadas aos
usos, costumes, protocolos, condutas e situações. Nenhum alimento que
entra na nossa boca é neutro. A historicidade da sensibilidade gastronômica
explica e é explicada pelas manifestações culturais e sociais, como espelho
de uma época e que marcaram uma época. Do exposto, constata-se que a
História da Alimentação, que foi por muito tempo ignorada principalmente
pela historiografia brasileira, demonstra agora sua vitalidade, pois diz muito
sobre a educação, a civilidade e a cultura dos indivíduos. Nesse sentido, o
prazer peculiar proporcionado pela História da Alimentação mostra que o
que se come é tão importante quanto: quando se come, onde se come, como
se come e com quem se come. Este é o lugar da alimentação na História.
  As cozinhas locais, regionais, nacionais e internacionais são produtos da
miscigenação cultural. As culinárias revelam vestígios das trocas culturais,


10 | Pinhão Indígena - A culinária do Paraná                      Helena Menezes
Apresentação

fazendo com que a gastronomia deixe a cozinha e passe a ser objeto
das diversas formas de sociabilidade ativa. Os temas da cozinha e da
mesa regional paranaense revelam os tempos da memória gustativa, e tem
suas origens nos contornos das cozinhas indígena, portuguesa e africana,
dando um verdadeiro salto cultural pelas cozinhas caipira e imigrante. A
gastronomia paranaense é diversa, a partir de uma riqueza étnica e cultural
que inventou uma mesa ampla com pratos produzidos pelos povos locais
ou trazidos por diversos migrantes e imigrantes, num processo permanente
de adaptação e readaptação.
  Na verdade inexiste uma cozinha tipicamente paranaense, pois o seu
arcabouço constitui uma mescla de sabores os mais diversos, passando
pela culinária local (luso-brasileira) e dando verdadeiros saltos culturais ao
encontrar a cozinha caipira e imigrante. Desta forma o saber gastronômico
local e regional somado àqueles saberes externos, permitiu permanências e
mudanças sendo que alguns pratos se mantiveram e outros foram adaptados
diante das circunstâncias do gosto e das práticas alimentares, tudo isto
como produto da dinâmica do processo histórico das diversas regiões do
Estado do Paraná.
   A construção da cozinha local e regional, a partir da fundamentação de que
o alimento constitui uma categoria histórica, é marcada por novas condições
materiais, novos utensílios, novas tecnologias, novos ingredientes, novos
alimentos, novos caminhos, novas rotas de abastecimento, novos mercados,
novos hábitos alimentares, novos imaginários; muita invenção e criatividade.
A partir daí se pode permitir uma viagem gastronômica pelo Paraná.
  Os diversos pratos que povoam e compõem a culinária curitibana e
paranaense, reforçando o que já foi salientado, são produtos das cozinhas
locais somadas às variedades gastronômicas provenientes das diversas
etnias (italiana, alemã, eslava, francesa, árabe e japonesa) e acrescentadas às
variedades das cozinhas regionais (mineira, gaúcha, nordestina e baiana).
   Portanto, há, em Curitiba e no Paraná, cozinha para todos os gostos, para
todos os paladares. Através da prática de vida e da pesquisa, a chef Helena
Menezes nos apresenta, neste trabalho, pratos da cozinha paranaense desde
os indígenas até nossos dias, com receitas colhidas pelas informações ao
longo de sua incursão pela cozinha do Paraná. Com uma linguagem acessível
e interessante, dá um enfoque que é, em síntese, o relato do começo desta
mescla de sabores que começou muito antes dos tropeiros.

                                                                Apresentação | 11
Com visível orgulho esta profissional desenvolve seu trabalho, evidenciado
pelo cuidado que dedica a cada pormenor seja na sua cozinha preparando
os pratos, seja estudando a história da nossa gastronomia.
   Como seu professor no curso de História da Alimentação, pude perceber
que seu empenho vai além do fogão e da mesa. Como acadêmico, vejo que
a autora está desatrelada do fato de existir ou não uma cozinha paranaense,
qual é seu arcabouço e suas complexidades. A meu ver, o maior interesse em
seu trabalho é demonstrado através do que, para ela, tornou-se o fator mais
importante dentro da sua profissão: contar, a partir de um saber construído
ao longo de uma vida, a história de determinados pratos que, com toda
certeza, podem ser considerados da cozinha de nosso estado.




   Carlos Roberto Antunes dos Santos é professor titular, Mestre em História do Brasil e
orientador do curso de mestrado na Universidade Federal do Paraná-UFPR, onde foi reitor
nos anos 1998 a 2002. É Doutor em História pela Universidade de Paris X Nanterre, França
e Pós-Doutor em História pela Universidade de Paris III, França. É Presidente da Associação
Brasileira de Pesquisadores em História Econômica, Consultor ad-hoc do CNPq, CAPES
e FINEP, escritor e membro da Academia Paranaense de Letras. Coordenador do projeto
integrado de pesquisa “Os sabores da sociedade”, autor das obras “História da Alimentação
no Paraná” e Vida material, Vida Econômica”, como também de publicações científicas em
revistas especializadas no Brasil e exterior.


12 | Pinhão Indígena - A culinária do Paraná                                 Helena Menezes
Pinha, o fruto da Araucária.
                               foto | Zig Koch
A Comida Missioneira
Ciclo das Descobertas
“Há muitos anos atrás, o
                                                       Rio Iguaçu corria livre, sem
                                                       corredeiras e nem cataratas.
                                                       Em suas margens habitavam
                                                       índios kaingangs, que
                                                       acreditavam que o grande pajé
                                                       M’Boy era o deus-serpente, filho
                                                       de Tupã.
                                                       Ignobi, cacique da tribo, tinha
                                                       uma formosa filha, virgem,
                                                       chamada de Naipí, que iria ser
                                                       consagrada ao culto do deus
                                                       M’Boy, divindade com a forma
                                                       de grande serpente.
                                                       Tarobá, jovem guerreiro da
                                                       tribo da outra margem do
                                                       rio, se enamora de Naipi e no
                                                       dia da consagração da jovem,
                                                       fogem para o rio que num
                                                       lamento, os chama: “— Tarobá,
                                                       Naipí, vem comigo!”
                                                       Ambos desceram o rio numa
                                                       canoa. M’Boy, furioso com os
                                                       fugitivos, na forma de uma
                                                       grande serpente, penetrou na
                                                       terra e retorceu-se, provocou
                                                       desmoronamentos que foram
                                                       caindo sobre o rio, formando
                                                       os abismos das cataratas.
                                                       Envolvidos pelas águas, caíram
                                                       de grande altura.
                                                       Tarobá transformou-se numa
                                                       imensa palmeira, à beira do
                                                       abismo, e Naipí, numa pedra
                                                       junto da grande cachoeira,
                                                       constantemente açoitada pela
                                                       força das águas.
                                                       Vigiados por M’Boy, o Deus-
                                                       serpente, permanecem
                                                       ali, Tarobá condenado a
                                                       contemplar eternamente sua
Cataratas do Iguaçu.
                                                       amada sem poder tocá-la.”
                       foto | Caio Francisco Coronel
“Abandonei
      pouco a pouco
    os pensamentos
 que vestem a alma
     de um europeu,
e mais do que tudo
      a idéia de que
  o homem adquire
  força pelo punhal
        e pela adaga.
             Ensinarei
          aos homens
         a conquistar
       pela bondade,
 não pela matança.
    Privar um índio
   de sua liberdade
   significa matá-lo.
           Ele precisa
        respirar o ar
        da natureza,
        andar livre e
   solto inclusive de
  suas vestes. Nada
 pode aprisioná-lo.
    Ele é livre, como
        seu espírito”.




                         Dom Alvar Nuñes Cabeza de Vaca.
                                         foto | arquivo da autora
   Alvar Nuñez
  Cabeza de Vaca
Ao longo da história da colonização das Américas, o registro das mesmas
em livros se fez a partir de lutas e carnificinas entre desbravadores e
indígenas. Na história do Paraná, no entanto, os índios aparecem também
como colaboradores.
   Passional e aventureiro, o conquistador espanhol Dom Alvar Nuñez Cabeza
de Vaca, o descobridor das Cataratas do Iguaçú, guardava o íntimo desejo de
perpetuar a paz entre os indígenas, aos quais prezava sinceramente. Aprendera
a conhecer a personalidade do índio da surpreendente e inusitada “tierra roja”,
região fértil e arrebatadora. Percebera o adelantado que este índio era dócil e
obediente à natureza, sentia que eram verdadeiramente livres e agradecidos a
M’Boy por desfrutar da excepcional natureza. Dom Cabeza era verdadeiro em
seu desejo de proteger aquele povo que intuia, era sábio e guardava tantos
conhecimentos empíricos quanto qualquer filósofo europeu.
   Respeitava o desejo de liberdade dos indígenas, sua sede perene de contato
com a natureza. Reconhecia a resistência de seus corpos jovens e firmes até
longa idade, os cabelos negros dos quase anciãos. A firme porém delicada
maneira de tratar das mulheres índias, o aveludado toque das suas peles,
limpas e perfumadas com os longos banhos no rio fresco. A falta de pelos
lhes dava uma característica de asseio sob a ausência de suores. Os cabelos
lisos reforçavam a impressão de sempre penteados, os dentes perolados pela
mastigação de frutas e vegetais. O sorriso doce estampado, à mercê dos
muitos trabalhos de suas responsabilidades, feitos sob o despudor respeitoso
de seus corpos nús, distantes da noção do pecado. Em suas lembranças,
o alegre burburinho das crianças em sons de risos felizes e inocentes no
farfalhar da água, o gargalhado como arrulhar de bandos de pássaros. Mas
principalmente o modo doce de sorrir, mascarando um pretensioso porém
silencioso e forte orgulho de suas raízes. Julgava Dom Cabeza que estas
duas características, afabilidade e orgulho eram essenciais para estabelecer
a personalidade daqueles homens e mulheres que possuíam um modo tão
diferenciado de vida. Os kaingangs, indígenas tupís-guaranis que havia
encontrado no caminho da expedição de sua chegada à nova terra, que
atravessara à pé e que se chamaria Paraná.
   Reconhecia uma diferença nestes índios trançadores de palhas de milho,
alegres e simpáticos que ofertavam aos recém-chegados os balaios nascidos
de suas mãos cheios de oferendas da terra, frutos doces como abacaxis,
araçás, ariticuns, gabirobas, goiabas, pitangas, mangas, mamãos, maracujás
enormes, vermelhas e suculentas melancias. Dotados de um conhecimento

                                      A Comida Missioneira - Ciclo das Descobertas | 29
Águia sulamericana Uiraçú. Está desenhada
foto | arquivo da autora
                                                        no Brasão da Bandeira do Paraná.




intuitivo das leis sagradas que regiam a natureza, possuíam uma encantadora
vivacidade, que os tornava plenos de civilidade. Quiçá a proximidade das
águas em grande quantidade os tornara mansos e humildes, com capacidade
de agradecer a natureza pródiga da terra que lhes cabia.
   Ao escrever suas memórias, fazia referência detalhada à exuberância da
flora. De seu encantamento pela fauna, guardava duas lembranças. A primeira,
aterradora, era de um tigre comendo um soldado de sua comitiva depois de
rugir toda a noite na mata escura. Era na verdade, uma onça pintada faminta.
A mais fascinante, porém, era do vôo de uma imensa águia que apelidou
de Hárpia, numa alusão aos seres metade mulher-metade águia da mitologia
grega, devido ao assovio longo e estridente quando, guinando, as imensas
aves alçavam vôo em busca de comida para seus filhotes. Tão inesquecível
quanto assustador também, o pavoroso uivo das presas, enormes macacos.

30 | Pinhão Indígena - A culinária do Paraná                              Helena Menezes
A águia sul-americana era surpreendente: possuía em torno do pescoço
uma auréola de penas, que se eriçava à medida que se aproximava do
alimento ou que ouvia ruído quando tomavam sol nas copas das árvores.
Seu tamanho era descomunal, quase um metro de altura, sua envergadura
em vôo de asas abertas era de dois metros. Calculava o peso das fêmeas
entre nove e dez quilos. Os nativos chamavam a ave de Uiraçú. Comparado
ao falcão gerifalte europeu, que os nobres ostentavam nos ombros como
símbolo de poder, esta águia era descomunal, nunca poderia ser levada
nos ombros. Era símbolo livre, como os índios. Sem barganha. Pensava no
resgate pedido pelos sarracenos em troca do filho do Duque de Borgonha,
que feito refém, fora barganhado por doze falcões. Um gerifalte branco
era o preferido de Leonor de Aquitânia, que o levava nos ombros em
seus passeios pelo Vale de Aarão (Val de Arans) condado intocado nas
montanhas de Lérida, na Espanha.
   Margeando a Região do Ivaí, foi na foz do Rio Iguaçu que Dom Cabeza
provou pela primeira vez além dos doces frutos, tubérculos assados. Conheceu
a aipy dos índios e encantou-se com a batata-doce assada, espetada no galho
da árvore, sapecada na fogueira. Na “hacienda” de Ontiveiros, atual cidade
de Guaira, que teve sua data de fundação somente em 1554 ainda com o
nome de Ontiveiros, onde Dom Cabeza se instalou mais tarde, as índias a
serviço da cozinha preparavam a batata doce no vapor da calda de açúcar
negro da Madeira, até esta amaciar e caramelar. O açúcar era ouro, já que as
sacas que havia trazido eram poucas.
   As criadas indígenas aprimoraram as apaçokas de pinhão (de pilar,
apaçocar no pilão) e adicionaram sobras de carnes assadas e peixes secos
às mesmas. A farinha de beiju servia para render o prato. Quando usada, era
levada à assadeira para absorver os resíduos da carne que fora assada e desta
maneira a farinha, além de úmida, ficava temperada. Só ao ser levada para
a mesa, era misturada ao pinhão, moído ou inteiro tão somente enfeitando
o prato principal de carne.
  As frutas eram excelência em sobremesa, já que explodiam em doçura e
sabor. Nascido numa região desértica da Espanha notou, surpreendido, a
qualidade destas terras para a agricultura. Os dezoito anos que havia andado
à pé, nu e descalço pelos desertos da Flórida até o México, antes de vir
para a América do Sul, fez com que percebesse que os tesouros que todos
buscavam eram, na verdade, os frutos que esta terra produzia em magnífica
recriação da natureza.

                                     A Comida Missioneira - Ciclo das Descobertas | 31
Anos mais tarde descobriria porque estes vegetais de paladar
surpreendente não fizeram sucesso nas cortes de Espanha: o rico solo
vermelho é que conferia aos frutos da terra um sabor inigualável. Quando
de seu retorno a Sevilha, constatou que a abóbora mudava seu sabor para
cenouras, a batata doce enfraquecera até um tom de palidez de gosto
doentio, e a incrível batata amarela (batata salsa) por sua vez, tresandava
a nabos. Mesmo a yuca, como até hoje é conhecida a aipy indígena na
Europa, mudava seu indescritível e acentuado sabor selvagem para um
sabor fraco e indefinido.




Batada doce caramelada com açúcar mascavo.               foto | Alessandra Gnoatto Azevedo
Receita indígena missioneira.


32 | Pinhão Indígena - A culinária do Paraná                        Helena Menezes
Com a adocicada aipy (daí o nome aipim) as índias faziam creme com
açúcar negro e leite. A receita se fazia com um litro de leite fervente, onde se
acrescentavam dois copos de aipy ralado cru e um copo de açúcar. Após ferver
por cinco minutos, a mistura transformava-se em um creme firme, gomado. Além
da cor amarelinha, a textura do creme transitava entre a seda e o veludo.
  O pudim de aipy era uma variação deste creme, e era feito assado em
banho-maria, no forno de brasas do quintal. Receita antiga das índias que
serviam aos senhores espanhóis na região missioneira de Sete Quedas em
Guaira, era feita de suco de laranja e aipy cozido. Nesta receita a aipy servia
para dar consistência ao pudim.




Pudim de aipim com laranja, receita indígena missioneira.                    foto | Paulo Leonhardt



                                            A Comida Missioneira - Ciclo das Descobertas | 33
O Ciclo das Águas
                    Usina Paranaense de Itaipú Binacional,
                           a maior hidrelétrica do planeta
“Divinamente infernal,
                                um privilégio vê-las,
                                uma temeridade enfrentá-las...
                                é tão forte a correnteza
                                que as canoas correm
                                com muita fúria.
                                O rio dá uns saltos por
                                uns penhascos enormes
                                e a água golpeia a terra
                                com tanta força que de
                                muito longe se ouve o ruído...”


                                                   Cabeza de Vaca

foto | Caio Francisco Coronel
A Comida do Litoral
Ciclo das Fazendas Jesuíticas
Em Paranaguá, o pequeno
                              grupo de índios moradores da
                              ilha da Cotinga aguardava,
                              ao entardecer, o barco que
                              os levaria de volta para casa,
                              depois de feitas as compras
                              de mantimentos.
                              Sentados nos bancos da pequena
                              praça entre o mercado antigo
                              e o rio que margeia a ilha
                              de Valadares em completo
                              silêncio, era como se prestassem
                              homenagem ao espírito
                              das águas.




                              O moderno corte de cabelo
                              denunciava o ano de 2008,
                              de outra forma poderiam ser
                              confundidos com seus
                              antepassados do século XVII.
                              O mesmo semblante sereno,
                              quase doce daqueles que
                              ao se deparar com os barbudos
                              portugueses, a eles se juntaram
                              espontaneamente nas catas
                              e faisqueiras da primeira mina
                              de ouro do Brasil descoberta
                              na baía de Paranaguá,
                              margeada por suas trinta
                              interessantes ilhas.




Barco ao entardecer.
       foto | Danielle Prim
Bufê de Barreado em Curitiba.
O Ciclo das Faisqueiras

                 foto | Bira Fotógrafo
Bufê de Barreado com
banana e pimenta.
foto | Marcos Cézar de Araújo
foto | Zig Koch
Bufê completo de Barreado.
“Era o sr. Rocha Loures o
homem mais próprio para
esta empresa, porquanto
habitando em sua infância em
Guarapuava, em companhia
de seu pai o capitão Antônio
da Rocha Loures, teve ali
conhecimento com o índio
Condá, também menino, que
depois retraindo-se aos bosques
se tornou formidável e temido
entre os seus; e aquela amizade
de infância fez com que o índio
se oferecesse a acompanhá-
lo na exploração, cujo perigo
ele previa e a segurança do
índio fazia lhe desprezar; aí
se reconheceu o império que
o índio exercia sobre os mais
chefes, que apresentando-se
em atitude hostil nos campos
de Nonohay, sua voz a bem de
seu amigo, foi bastante para os
desarmar e franquearam-lhe a
passagem; a isto e a um pouco
de conhecimento que tem
o Sr. Rocha Loures da língua
dos índios, se devem estarem
hoje estes selvagens menos
ferozes e mais socegados.

            Presidente da província   Campos Gerais - Cachoeira do Lageado
                     de São Paulo”.   do Pedregulho, no Cânion do Quartelá.
A Comida dos Campos Gerais
Ciclo das Invernadas




                       foto | Zig Koch
Missões Jesuíticas no Paraná
Destruídas pelos incêndios e pela cobiça, as 12 reduções do Paraná
desapareceram. Foram eliminados todos os vestígios da passagem
dos jesuítas e suas poucas construções em solo paranaense.
Nosso legado se fazia no campo do conhecimento agropastorial,
sendo que a arquitetura do princípio das missões com suas
imponentes igrejas, era impraticável catarata acima.
Também porque aos poucos, o interesse em negociar riquezas,
óleos e comestíveis com a Europa tomou lugar nas naus
que iam e vinham com materiais de construção.
Acantonados nas matas, os índios aos poucos
retornaram sob intervenção de
Rocha Loures, e as lavouras
ressurgiram,
exuberantes.




                            Estrada das Missões: novo traçado saindo de Ponta Grossa
                            direto até Corrientes, na Argentina.
fonte: http://www.itcg.pr.gov.br
cidades                                ilustração | Adalberto Camargo

reduções jesuíticas

limites do estado do Paraná atual
Ciclo da Erva Mate
“Uma interessante planta cresce
                            em abundância nas matas
                            próximas de Curitiba, é essa
                            árvore, conhecida pelo nome de
                            árvore-do-mate ou árvore da
                            congonha, que fornece a famosa
                            erva ou mate do Paraguai.
                            Uma vez que, à época da minha
                            viagem, a situação política
                            tornava quase impossíveis as
                            comunicações entre o Paraguai,
                            Buenos Aires e Montevidéu, as
                            pessoas vinham dessas cidades
                            buscar o mate em Paranaguá”

Chimarrão com mate.
                                                 Saint-Hilaire
          foto | Zig Koch
A Comida do Norte
Ciclo do Café
“Estava o Norte do Paraná
                  desbravado. Os colonizadores
                  já com filhos e netos, foram
                  ficando, pois que haviam
                  transformado a rica região.
                  Campos plantados onde vales
                  verdejantes a perder de vista
                  dão conta da força do norte
                  do Paraná, força esta que
                  sustenta o estado.
                  Apelidado de Celeiro do
                  Brasil, o Paraná ganhou o
                  título de maior produtor de
                  grãos entre eles, a soja. Dos
                  Campos Gerais até o final do
                  mapa do estado, plantações
                  estão cobrindo desde a beira
                  das estradas até onde a vista
                  alcança, trazendo prosperidade
                  e beleza aos campos, matizando
                  de incontáveis tons de verde
                  e transformando os vales em
                  autênticos quadros de um
                  acervo de obras de artes,
                  cujo autor é Deus. As plantações
                  estão lado a lado com as
                  poucas paisagens de pinheiros
                  que restaram. No norte do
                  Paraná, se pode ainda observar
                  capões de pinheiros nas
                  margens da Rodovia do Café,
                  que restaram da derrubada
                  para confecção dos navios das
                  esquadras portuguesas do
                  Brasil das faisqueiras”.
foto | Zig Koch
A Comida de Curitiba
Ciclo do Crescimento Urbano




                              foto | Zig Koch
“No Palácio das Necessidades de Lisboa, que é o Ministério dos
Negócios Estrangeiros, finalmente atendem o meu pedido e mandam-
me para o sul do Brasil, sou nomeado Cônsul em Curitiba. Estamos
em 1919, tenho 34 anos. Não me deixam ficar em Curitiba, não lhes
convém, a colônia portuguesa está bem ciente da perseguição que
me fizeram. Na Embaixada portuguesa no Rio de Janeiro, César,
meu irmão também cônsul, é o Encarregado de Negócios, felizmente.
Movimenta-se, consegue que 34 prestigiados cidadãos portugueses,
residentes em Curitiba, subscrevam um “protesto contra uma
campanha miserável movida contra o Cônsul português por criaturas
sem vislumbre de senso moral”. A iniciativa de César dá resultado:
no final do ano cancelam a suspensão. Mas continuo sob mira, e não
quero ser alvo.
  “Que horas são? Tenho sede, Angelina dá-me água.”
  “Daqui a pouco vou precisar do robe, acho que o deixei aos pés
da cama. Não correspondo às expectativas dos militares mas eles
continuam a prestigiar-me, não sei porquê. Em 1929 nomeiam-me
Cônsul em Antuérpia, na Bélgica. Ali permaneço durante 9 anos. Com
apenas 50 anos já sou o decano do corpo diplomático. O rei belga,
Leopoldo III, simpatiza muito comigo, por duas vezes me condecora.
Mas em 38 sou nomeado Cônsul em Bordéus, França. Peço para ser
mantido em Antuérpia, cidade onde fiz tantos amigos. Salazar, para
minha consternação, recusa o pedido e sigo para Bordéus. De Lisboa
acabo de receber más notícias, proibições.
  Que horas são? Tenho sede, Angelina dá-me água.”
  “De outras vezes o sonho converte-se em pesadelo, ânsias, ao
acordar a minha apetência é gritar. Em 39 rebenta a II Guerra
Mundial. Os alemães invadem a Polónia e os Países Baixos e a França,
Paris é ocupada. Depois a horda ariana começa a descer para sul
e sudoeste, vêm aí os assassinos! Milhares e milhares de refugiados
de guerra acampam nos jardins do Consulado e nas ruas vizinhas.
Franceses, belgas, holandeses, checos, austríacos e até alemães. Judeus
mas também cristãos. Querem vistos para o meu país, querem vistos
para a Vida. Mas de Lisboa acabo de receber más notícias, proibições:
com a Presidência do Conselho, Salazar acumula agora a pasta de
Ministro dos Negócios Estrangeiros e proíbe que se passem vistos
a refugiados de guerra, principalmente a israelitas. Outra vez me
desilude o moço de Santa Comba. Diz-se católico mas esqueceu-se do
amor ao próximo que Jesus apregoava e praticava para exemplo
de todos os fiéis. Que faço eu? Acato a ordem do Presidente do
Conselho? Impassível, vou então ficar à janela a assistir à matança
dos inocentes? Não, não e não! Não sou cúmplice da chacina, vou
desobedecer a Salazar, vou passar os vistos e salvar os perseguidos.
Prefiro estar com Deus contra um homem, do que estar com um
homem contra Deus.
  Que horas são? Tenho sede, Angelina dá-me água.”
Cuscuz com pinhão.
foto | Sian Sene
Comida dos Franceses da Argélia
Comida dos Alemães
foto | Paulo Leonhardt
Sagú de leite com canela.   foto | Paulo Leonhardt
Comida dos Holandeses

Contenu connexe

En vedette

En vedette (6)

Uerj ime mkt-regina tupinambá_20071110 - parte 1 -
Uerj ime mkt-regina tupinambá_20071110 - parte 1 -Uerj ime mkt-regina tupinambá_20071110 - parte 1 -
Uerj ime mkt-regina tupinambá_20071110 - parte 1 -
 
Obesidad infantil
Obesidad infantilObesidad infantil
Obesidad infantil
 
Saxony, German
Saxony, GermanSaxony, German
Saxony, German
 
Sachsen - Karolina Kubasik
Sachsen - Karolina KubasikSachsen - Karolina Kubasik
Sachsen - Karolina Kubasik
 
DrivingYourPassions-2pwz8.pdf
DrivingYourPassions-2pwz8.pdfDrivingYourPassions-2pwz8.pdf
DrivingYourPassions-2pwz8.pdf
 
6 tips to create popular articles on your blog
6 tips to create popular articles on your blog6 tips to create popular articles on your blog
6 tips to create popular articles on your blog
 

Similaire à Pinhao indigena

Gastronomia
GastronomiaGastronomia
Gastronomialaohu
 
Planejamento de aula - receitas de famílias - patrimônio cultural
Planejamento de aula - receitas de famílias - patrimônio culturalPlanejamento de aula - receitas de famílias - patrimônio cultural
Planejamento de aula - receitas de famílias - patrimônio culturalDirce Cristiane Camilotti
 
Contribuição da Gastronomia Francesa na culinária Brasileira
Contribuição da Gastronomia Francesa na culinária BrasileiraContribuição da Gastronomia Francesa na culinária Brasileira
Contribuição da Gastronomia Francesa na culinária BrasileiraJaqueline Leal
 
TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANFORMAÇÕES
TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANFORMAÇÕESTRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANFORMAÇÕES
TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANFORMAÇÕESGisele Regina
 
QUEIJO ARTESANAL DE MINAS patrimônio cultural do Brasil VOLUME I Dossiê int...
QUEIJO ARTESANAL DE MINAS patrimônio cultural do Brasil VOLUME I Dossiê int...QUEIJO ARTESANAL DE MINAS patrimônio cultural do Brasil VOLUME I Dossiê int...
QUEIJO ARTESANAL DE MINAS patrimônio cultural do Brasil VOLUME I Dossiê int...Sertãobras
 
Trilhos do sabor ppt final
Trilhos do sabor ppt finalTrilhos do sabor ppt final
Trilhos do sabor ppt finalRaquel Antunes
 
Carlos Dória - apresentação do Movimento Viva Mesa
Carlos Dória - apresentação do Movimento Viva MesaCarlos Dória - apresentação do Movimento Viva Mesa
Carlos Dória - apresentação do Movimento Viva MesaSertãobras
 
Poster "Origens e Sabores do Coração de Portugal"
Poster "Origens e Sabores do Coração de Portugal"Poster "Origens e Sabores do Coração de Portugal"
Poster "Origens e Sabores do Coração de Portugal"Ilda Bicacro
 
Manioca, Centro Gastronômico
Manioca, Centro GastronômicoManioca, Centro Gastronômico
Manioca, Centro GastronômicoMicaela Redondo
 
3 o significado_alimentacao_na_familia uma visçao antropologica
3 o significado_alimentacao_na_familia uma visçao antropologica3 o significado_alimentacao_na_familia uma visçao antropologica
3 o significado_alimentacao_na_familia uma visçao antropologicamarcusramos007
 
Bibliotecadigital.fgv.br dspace-bitstream-handle-10438-2696-cpdoc2009 anaclau...
Bibliotecadigital.fgv.br dspace-bitstream-handle-10438-2696-cpdoc2009 anaclau...Bibliotecadigital.fgv.br dspace-bitstream-handle-10438-2696-cpdoc2009 anaclau...
Bibliotecadigital.fgv.br dspace-bitstream-handle-10438-2696-cpdoc2009 anaclau...Carlos Bacelar
 
A cozinha brasileira e seu lado social - Ana Luiza Trajano
A cozinha brasileira e seu lado social - Ana Luiza TrajanoA cozinha brasileira e seu lado social - Ana Luiza Trajano
A cozinha brasileira e seu lado social - Ana Luiza TrajanoExpoGestão
 
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-1
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-1Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-1
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-1Ezequiel Redin
 

Similaire à Pinhao indigena (20)

Gastronomia
GastronomiaGastronomia
Gastronomia
 
Planejamento de aula - receitas de famílias - patrimônio cultural
Planejamento de aula - receitas de famílias - patrimônio culturalPlanejamento de aula - receitas de famílias - patrimônio cultural
Planejamento de aula - receitas de famílias - patrimônio cultural
 
Contribuição da Gastronomia Francesa na culinária Brasileira
Contribuição da Gastronomia Francesa na culinária BrasileiraContribuição da Gastronomia Francesa na culinária Brasileira
Contribuição da Gastronomia Francesa na culinária Brasileira
 
TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANFORMAÇÕES
TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANFORMAÇÕESTRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANFORMAÇÕES
TRADIÇÕES AÇORIANAS E SUAS GRANDES TRANFORMAÇÕES
 
QUEIJO ARTESANAL DE MINAS patrimônio cultural do Brasil VOLUME I Dossiê int...
QUEIJO ARTESANAL DE MINAS patrimônio cultural do Brasil VOLUME I Dossiê int...QUEIJO ARTESANAL DE MINAS patrimônio cultural do Brasil VOLUME I Dossiê int...
QUEIJO ARTESANAL DE MINAS patrimônio cultural do Brasil VOLUME I Dossiê int...
 
Brasilidades sabores
Brasilidades saboresBrasilidades sabores
Brasilidades sabores
 
Trilhos do sabor ppt final
Trilhos do sabor ppt finalTrilhos do sabor ppt final
Trilhos do sabor ppt final
 
Carlos Dória - apresentação do Movimento Viva Mesa
Carlos Dória - apresentação do Movimento Viva MesaCarlos Dória - apresentação do Movimento Viva Mesa
Carlos Dória - apresentação do Movimento Viva Mesa
 
Poster "Origens e Sabores do Coração de Portugal"
Poster "Origens e Sabores do Coração de Portugal"Poster "Origens e Sabores do Coração de Portugal"
Poster "Origens e Sabores do Coração de Portugal"
 
Manioca, Centro Gastronômico
Manioca, Centro GastronômicoManioca, Centro Gastronômico
Manioca, Centro Gastronômico
 
Projeto lú
Projeto lúProjeto lú
Projeto lú
 
Geografia dos sabores
Geografia dos saboresGeografia dos sabores
Geografia dos sabores
 
2003 aline cabralbezerra
2003 aline cabralbezerra2003 aline cabralbezerra
2003 aline cabralbezerra
 
Engenhos de rapadura do cariri cearense
Engenhos de rapadura do cariri cearenseEngenhos de rapadura do cariri cearense
Engenhos de rapadura do cariri cearense
 
3 o significado_alimentacao_na_familia uma visçao antropologica
3 o significado_alimentacao_na_familia uma visçao antropologica3 o significado_alimentacao_na_familia uma visçao antropologica
3 o significado_alimentacao_na_familia uma visçao antropologica
 
Bibliotecadigital.fgv.br dspace-bitstream-handle-10438-2696-cpdoc2009 anaclau...
Bibliotecadigital.fgv.br dspace-bitstream-handle-10438-2696-cpdoc2009 anaclau...Bibliotecadigital.fgv.br dspace-bitstream-handle-10438-2696-cpdoc2009 anaclau...
Bibliotecadigital.fgv.br dspace-bitstream-handle-10438-2696-cpdoc2009 anaclau...
 
Dialogus 2010 v6n2
Dialogus 2010 v6n2Dialogus 2010 v6n2
Dialogus 2010 v6n2
 
A cozinha brasileira e seu lado social - Ana Luiza Trajano
A cozinha brasileira e seu lado social - Ana Luiza TrajanoA cozinha brasileira e seu lado social - Ana Luiza Trajano
A cozinha brasileira e seu lado social - Ana Luiza Trajano
 
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-1
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-1Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-1
Periódico Extensão Rural (Santa Maria) 2014-1
 
Cartilha Culinária
Cartilha CulináriaCartilha Culinária
Cartilha Culinária
 

Plus de receitaspraticas

Plus de receitaspraticas (20)

Comida de peão
Comida de peãoComida de peão
Comida de peão
 
Receitas cozinha alentejana
Receitas cozinha alentejanaReceitas cozinha alentejana
Receitas cozinha alentejana
 
Receita saudável e nutritiva
Receita saudável e nutritivaReceita saudável e nutritiva
Receita saudável e nutritiva
 
Receita saudável e nutritiva queneles
Receita saudável e nutritiva   quenelesReceita saudável e nutritiva   queneles
Receita saudável e nutritiva queneles
 
Receitas ovos 00
Receitas ovos 00Receitas ovos 00
Receitas ovos 00
 
Receitas de sopas 01
Receitas de sopas 01Receitas de sopas 01
Receitas de sopas 01
 
Panqueca divertida
Panqueca divertidaPanqueca divertida
Panqueca divertida
 
Peixe pizza
Peixe pizzaPeixe pizza
Peixe pizza
 
Receitas de sopas 00
Receitas de sopas 00Receitas de sopas 00
Receitas de sopas 00
 
Receitas light
Receitas lightReceitas light
Receitas light
 
Receitas light iogurte
Receitas light iogurteReceitas light iogurte
Receitas light iogurte
 
Receitas light sobremesa
Receitas light sobremesaReceitas light sobremesa
Receitas light sobremesa
 
Receitas práticas e mais saudáveis
Receitas práticas e mais saudáveisReceitas práticas e mais saudáveis
Receitas práticas e mais saudáveis
 
Quibe de grão de bico
Quibe de grão de bicoQuibe de grão de bico
Quibe de grão de bico
 
Bolo integral jaqueline
Bolo integral jaquelineBolo integral jaqueline
Bolo integral jaqueline
 
Receitas 00
Receitas 00Receitas 00
Receitas 00
 
Receitas light pasta
Receitas light pastaReceitas light pasta
Receitas light pasta
 
Receitas preparações a base de soja
Receitas   preparações a base de sojaReceitas   preparações a base de soja
Receitas preparações a base de soja
 
Macarrão de natal maybe
Macarrão de natal maybeMacarrão de natal maybe
Macarrão de natal maybe
 
Receitas shakes de frutas
Receitas   shakes de frutasReceitas   shakes de frutas
Receitas shakes de frutas
 

Dernier

Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxReinaldoMuller1
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptssuser2b53fe
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...HELENO FAVACHO
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasSocorro Machado
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSOLeloIurk1
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxTailsonSantos1
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdfmarlene54545
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosLucianoPrado15
 
Antero de Quental, sua vida e sua escrita
Antero de Quental, sua vida e sua escritaAntero de Quental, sua vida e sua escrita
Antero de Quental, sua vida e sua escritaPaula Duarte
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfWagnerCamposCEA
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 

Dernier (20)

Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptxSeminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
Seminário Biologia e desenvolvimento da matrinxa.pptx
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
PROJETO DE EXTENSÃO I - TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Relatório Final de Atividade...
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
19- Pedagogia (60 mapas mentais) - Amostra.pdf
 
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenosmigração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
migração e trabalho 2º ano.pptx fenomenos
 
Antero de Quental, sua vida e sua escrita
Antero de Quental, sua vida e sua escritaAntero de Quental, sua vida e sua escrita
Antero de Quental, sua vida e sua escrita
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdfReta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
Reta Final - CNU - Gestão Governamental - Prof. Stefan Fantini.pdf
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 

Pinhao indigena

  • 1.
  • 2.
  • 3.
  • 4.
  • 5.
  • 6. Pinhão Indígena A Culinária do Paraná Helena Menezes Curitiba 2008
  • 7. SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL Departamento Regional do Paraná Presidente Darci Piana Diretor Regional Vitor Monastier Diretoria Administrativa e Financeira Edmundo Knaut Diretoria de Educação Profissional e Tecnologia Ito Vieira Coordenadoria de Educação Lucymara Carpim Coordenadoria de Marketing Ana Paula Zettel Menezes, Helena Maria, 1952- Pinhão Indígena - Culinária do Paraná / Helena Maria Menezes. - Curitiba : SENAC, 2008. 224p. : il. ; 23 x 30 cm. ISBN 85-00000-00-0 1. Paraná - Gastronomia 2. Pinhão - Comidas 3. História - Culinária. I. Título CDD 000 000.000000 Esta obra está protegida quanto aos direitos autorais e editoriais. A reprodução parcial de seu conteúdo é permitida somente para fins educacionais e culturais, desde que citada a fonte. © Textos de Helena Maria Menezes, 2008. Contato helenammenezes@gmail.com © Fotografias Adalberto Camargo, Alessandra Gnoatto Azevedo, Amaryllis Munhoz Kanayama, Bira Fotógrafo, Caio Francisco Coronel, Carlos Ruggi, Danielle Prim, Helena Menezes, Letícia Rodrigues, Lina Faria, Marcos Cézar de Araújo, Paulo Leon Hardt, Sian Sene, Zig Koch. Coordenação Editorial | Helena Menezes e Adalberto Camargo Capa, projeto gráfico e ilustrações | Adalberto Camargo Foto capa | Zig Koch Agradecimentos ao Prof. Carlos Roberto Antunes dos Santos, Darci Piana, Prof. Ito Vieira, Zig Koch, Roberto Gava e Vera Andrion. Novembro de 2008.
  • 8. Sumário Agradecimento .............................................................................................. 8 Apresentação ............................................................................................... 10 Introdução ....................................................................................................14 A Comida Missioneira - Ciclo das Descobertas...................................24 Ciclo das Águas ............................................................................................. 40 A Comida do Litoral - Ciclo das Fazendas Jesuíticas ................................. 52 Ciclo das Faisqueiras ......................................................................................74 Encarte - Complexo Gastronômico Senac Paraná ................................ 94 A Comida dos Campos Gerais - Ciclo das Invernadas ...........................114 Ciclo da Erva Mate........................................................................................142 A Comida do Norte - Ciclo do Café ...........................................................154 A Comida de Curitiba - Ciclo do Crescimento Urbano ............................162 Comida dos Franceses da Argélia ............................................................... 180 Comida dos Italianos ....................................................................................187 Comida dos Alemães ....................................................................................194 Comida dos Eslavos - poloneses, ucranianos e russos .............................. 206 Comida dos Holandeses ...............................................................................212 Memórias da autora...................................................................................217 Referências Bibliográficas....................................................................... 222
  • 9. O tema da alimentação, finalmente, começa a invadir a História, impulsionando maior diálogo multi, inter e transdisciplinar, fazendo com que as editoras invistam cada vez mais nesta área, transformando em best- sellers até mesmo manuais de receitas culinárias. As pesquisas acadêmicas – muitas das quais redundaram em dissertações e teses de pós-graduação – que abrangem processos históricos com enfoques social, cultural, econômico, político, tecnológico, nutricional ou antropológico, e mesmo como monografias sobre determinados alimentos, buscam recuperar os tempos da memória gustativa, possibilitando as desejáveis articulações entre a História e outras disciplinas. Os sucessos editoriais nos domínios da História da Alimentação revelam duas grandes paixões do público consumidor: o gosto pela História e pela Gastronomia. Há hoje uma obsessão pela história da mesa, fazendo com que a gastronomia saia da cozinha e passe a ser objeto de estudo com a devida atenção ao imaginário, ao simbólico, às representações e às diversas formas de sociabilidade ativa. Nesse sentido, a questão da alimentação deve se situar no centro das atenções dos historiadores e de reflexões sobre a evolução da sociedade, pois é a disciplina que oferece um suporte fundamental e projeta perspectivas. Hoje os estudos sobre a comida e a alimentação invadem as ciências humanas, a partir da premissa que a formação do gosto alimentar não se dá, exclusivamente pelo seu aspecto nutricional, biológico. O alimento constitui uma categoria histórica, pois os padrões de permanência e mudanças dos hábitos e práticas alimentares têm referências na própria dinâmica social. Os alimentos, além de alimentos, são atitudes, ligadas aos usos, costumes, protocolos, condutas e situações. Nenhum alimento que entra na nossa boca é neutro. A historicidade da sensibilidade gastronômica explica e é explicada pelas manifestações culturais e sociais, como espelho de uma época e que marcaram uma época. Do exposto, constata-se que a História da Alimentação, que foi por muito tempo ignorada principalmente pela historiografia brasileira, demonstra agora sua vitalidade, pois diz muito sobre a educação, a civilidade e a cultura dos indivíduos. Nesse sentido, o prazer peculiar proporcionado pela História da Alimentação mostra que o que se come é tão importante quanto: quando se come, onde se come, como se come e com quem se come. Este é o lugar da alimentação na História. As cozinhas locais, regionais, nacionais e internacionais são produtos da miscigenação cultural. As culinárias revelam vestígios das trocas culturais, 10 | Pinhão Indígena - A culinária do Paraná Helena Menezes
  • 10. Apresentação fazendo com que a gastronomia deixe a cozinha e passe a ser objeto das diversas formas de sociabilidade ativa. Os temas da cozinha e da mesa regional paranaense revelam os tempos da memória gustativa, e tem suas origens nos contornos das cozinhas indígena, portuguesa e africana, dando um verdadeiro salto cultural pelas cozinhas caipira e imigrante. A gastronomia paranaense é diversa, a partir de uma riqueza étnica e cultural que inventou uma mesa ampla com pratos produzidos pelos povos locais ou trazidos por diversos migrantes e imigrantes, num processo permanente de adaptação e readaptação. Na verdade inexiste uma cozinha tipicamente paranaense, pois o seu arcabouço constitui uma mescla de sabores os mais diversos, passando pela culinária local (luso-brasileira) e dando verdadeiros saltos culturais ao encontrar a cozinha caipira e imigrante. Desta forma o saber gastronômico local e regional somado àqueles saberes externos, permitiu permanências e mudanças sendo que alguns pratos se mantiveram e outros foram adaptados diante das circunstâncias do gosto e das práticas alimentares, tudo isto como produto da dinâmica do processo histórico das diversas regiões do Estado do Paraná. A construção da cozinha local e regional, a partir da fundamentação de que o alimento constitui uma categoria histórica, é marcada por novas condições materiais, novos utensílios, novas tecnologias, novos ingredientes, novos alimentos, novos caminhos, novas rotas de abastecimento, novos mercados, novos hábitos alimentares, novos imaginários; muita invenção e criatividade. A partir daí se pode permitir uma viagem gastronômica pelo Paraná. Os diversos pratos que povoam e compõem a culinária curitibana e paranaense, reforçando o que já foi salientado, são produtos das cozinhas locais somadas às variedades gastronômicas provenientes das diversas etnias (italiana, alemã, eslava, francesa, árabe e japonesa) e acrescentadas às variedades das cozinhas regionais (mineira, gaúcha, nordestina e baiana). Portanto, há, em Curitiba e no Paraná, cozinha para todos os gostos, para todos os paladares. Através da prática de vida e da pesquisa, a chef Helena Menezes nos apresenta, neste trabalho, pratos da cozinha paranaense desde os indígenas até nossos dias, com receitas colhidas pelas informações ao longo de sua incursão pela cozinha do Paraná. Com uma linguagem acessível e interessante, dá um enfoque que é, em síntese, o relato do começo desta mescla de sabores que começou muito antes dos tropeiros. Apresentação | 11
  • 11. Com visível orgulho esta profissional desenvolve seu trabalho, evidenciado pelo cuidado que dedica a cada pormenor seja na sua cozinha preparando os pratos, seja estudando a história da nossa gastronomia. Como seu professor no curso de História da Alimentação, pude perceber que seu empenho vai além do fogão e da mesa. Como acadêmico, vejo que a autora está desatrelada do fato de existir ou não uma cozinha paranaense, qual é seu arcabouço e suas complexidades. A meu ver, o maior interesse em seu trabalho é demonstrado através do que, para ela, tornou-se o fator mais importante dentro da sua profissão: contar, a partir de um saber construído ao longo de uma vida, a história de determinados pratos que, com toda certeza, podem ser considerados da cozinha de nosso estado. Carlos Roberto Antunes dos Santos é professor titular, Mestre em História do Brasil e orientador do curso de mestrado na Universidade Federal do Paraná-UFPR, onde foi reitor nos anos 1998 a 2002. É Doutor em História pela Universidade de Paris X Nanterre, França e Pós-Doutor em História pela Universidade de Paris III, França. É Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica, Consultor ad-hoc do CNPq, CAPES e FINEP, escritor e membro da Academia Paranaense de Letras. Coordenador do projeto integrado de pesquisa “Os sabores da sociedade”, autor das obras “História da Alimentação no Paraná” e Vida material, Vida Econômica”, como também de publicações científicas em revistas especializadas no Brasil e exterior. 12 | Pinhão Indígena - A culinária do Paraná Helena Menezes
  • 12. Pinha, o fruto da Araucária. foto | Zig Koch
  • 13. A Comida Missioneira Ciclo das Descobertas
  • 14. “Há muitos anos atrás, o Rio Iguaçu corria livre, sem corredeiras e nem cataratas. Em suas margens habitavam índios kaingangs, que acreditavam que o grande pajé M’Boy era o deus-serpente, filho de Tupã. Ignobi, cacique da tribo, tinha uma formosa filha, virgem, chamada de Naipí, que iria ser consagrada ao culto do deus M’Boy, divindade com a forma de grande serpente. Tarobá, jovem guerreiro da tribo da outra margem do rio, se enamora de Naipi e no dia da consagração da jovem, fogem para o rio que num lamento, os chama: “— Tarobá, Naipí, vem comigo!” Ambos desceram o rio numa canoa. M’Boy, furioso com os fugitivos, na forma de uma grande serpente, penetrou na terra e retorceu-se, provocou desmoronamentos que foram caindo sobre o rio, formando os abismos das cataratas. Envolvidos pelas águas, caíram de grande altura. Tarobá transformou-se numa imensa palmeira, à beira do abismo, e Naipí, numa pedra junto da grande cachoeira, constantemente açoitada pela força das águas. Vigiados por M’Boy, o Deus- serpente, permanecem ali, Tarobá condenado a contemplar eternamente sua Cataratas do Iguaçu. amada sem poder tocá-la.” foto | Caio Francisco Coronel
  • 15. “Abandonei pouco a pouco os pensamentos que vestem a alma de um europeu, e mais do que tudo a idéia de que o homem adquire força pelo punhal e pela adaga. Ensinarei aos homens a conquistar pela bondade, não pela matança. Privar um índio de sua liberdade significa matá-lo. Ele precisa respirar o ar da natureza, andar livre e solto inclusive de suas vestes. Nada pode aprisioná-lo. Ele é livre, como seu espírito”. Dom Alvar Nuñes Cabeza de Vaca. foto | arquivo da autora Alvar Nuñez Cabeza de Vaca
  • 16. Ao longo da história da colonização das Américas, o registro das mesmas em livros se fez a partir de lutas e carnificinas entre desbravadores e indígenas. Na história do Paraná, no entanto, os índios aparecem também como colaboradores. Passional e aventureiro, o conquistador espanhol Dom Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, o descobridor das Cataratas do Iguaçú, guardava o íntimo desejo de perpetuar a paz entre os indígenas, aos quais prezava sinceramente. Aprendera a conhecer a personalidade do índio da surpreendente e inusitada “tierra roja”, região fértil e arrebatadora. Percebera o adelantado que este índio era dócil e obediente à natureza, sentia que eram verdadeiramente livres e agradecidos a M’Boy por desfrutar da excepcional natureza. Dom Cabeza era verdadeiro em seu desejo de proteger aquele povo que intuia, era sábio e guardava tantos conhecimentos empíricos quanto qualquer filósofo europeu. Respeitava o desejo de liberdade dos indígenas, sua sede perene de contato com a natureza. Reconhecia a resistência de seus corpos jovens e firmes até longa idade, os cabelos negros dos quase anciãos. A firme porém delicada maneira de tratar das mulheres índias, o aveludado toque das suas peles, limpas e perfumadas com os longos banhos no rio fresco. A falta de pelos lhes dava uma característica de asseio sob a ausência de suores. Os cabelos lisos reforçavam a impressão de sempre penteados, os dentes perolados pela mastigação de frutas e vegetais. O sorriso doce estampado, à mercê dos muitos trabalhos de suas responsabilidades, feitos sob o despudor respeitoso de seus corpos nús, distantes da noção do pecado. Em suas lembranças, o alegre burburinho das crianças em sons de risos felizes e inocentes no farfalhar da água, o gargalhado como arrulhar de bandos de pássaros. Mas principalmente o modo doce de sorrir, mascarando um pretensioso porém silencioso e forte orgulho de suas raízes. Julgava Dom Cabeza que estas duas características, afabilidade e orgulho eram essenciais para estabelecer a personalidade daqueles homens e mulheres que possuíam um modo tão diferenciado de vida. Os kaingangs, indígenas tupís-guaranis que havia encontrado no caminho da expedição de sua chegada à nova terra, que atravessara à pé e que se chamaria Paraná. Reconhecia uma diferença nestes índios trançadores de palhas de milho, alegres e simpáticos que ofertavam aos recém-chegados os balaios nascidos de suas mãos cheios de oferendas da terra, frutos doces como abacaxis, araçás, ariticuns, gabirobas, goiabas, pitangas, mangas, mamãos, maracujás enormes, vermelhas e suculentas melancias. Dotados de um conhecimento A Comida Missioneira - Ciclo das Descobertas | 29
  • 17. Águia sulamericana Uiraçú. Está desenhada foto | arquivo da autora no Brasão da Bandeira do Paraná. intuitivo das leis sagradas que regiam a natureza, possuíam uma encantadora vivacidade, que os tornava plenos de civilidade. Quiçá a proximidade das águas em grande quantidade os tornara mansos e humildes, com capacidade de agradecer a natureza pródiga da terra que lhes cabia. Ao escrever suas memórias, fazia referência detalhada à exuberância da flora. De seu encantamento pela fauna, guardava duas lembranças. A primeira, aterradora, era de um tigre comendo um soldado de sua comitiva depois de rugir toda a noite na mata escura. Era na verdade, uma onça pintada faminta. A mais fascinante, porém, era do vôo de uma imensa águia que apelidou de Hárpia, numa alusão aos seres metade mulher-metade águia da mitologia grega, devido ao assovio longo e estridente quando, guinando, as imensas aves alçavam vôo em busca de comida para seus filhotes. Tão inesquecível quanto assustador também, o pavoroso uivo das presas, enormes macacos. 30 | Pinhão Indígena - A culinária do Paraná Helena Menezes
  • 18. A águia sul-americana era surpreendente: possuía em torno do pescoço uma auréola de penas, que se eriçava à medida que se aproximava do alimento ou que ouvia ruído quando tomavam sol nas copas das árvores. Seu tamanho era descomunal, quase um metro de altura, sua envergadura em vôo de asas abertas era de dois metros. Calculava o peso das fêmeas entre nove e dez quilos. Os nativos chamavam a ave de Uiraçú. Comparado ao falcão gerifalte europeu, que os nobres ostentavam nos ombros como símbolo de poder, esta águia era descomunal, nunca poderia ser levada nos ombros. Era símbolo livre, como os índios. Sem barganha. Pensava no resgate pedido pelos sarracenos em troca do filho do Duque de Borgonha, que feito refém, fora barganhado por doze falcões. Um gerifalte branco era o preferido de Leonor de Aquitânia, que o levava nos ombros em seus passeios pelo Vale de Aarão (Val de Arans) condado intocado nas montanhas de Lérida, na Espanha. Margeando a Região do Ivaí, foi na foz do Rio Iguaçu que Dom Cabeza provou pela primeira vez além dos doces frutos, tubérculos assados. Conheceu a aipy dos índios e encantou-se com a batata-doce assada, espetada no galho da árvore, sapecada na fogueira. Na “hacienda” de Ontiveiros, atual cidade de Guaira, que teve sua data de fundação somente em 1554 ainda com o nome de Ontiveiros, onde Dom Cabeza se instalou mais tarde, as índias a serviço da cozinha preparavam a batata doce no vapor da calda de açúcar negro da Madeira, até esta amaciar e caramelar. O açúcar era ouro, já que as sacas que havia trazido eram poucas. As criadas indígenas aprimoraram as apaçokas de pinhão (de pilar, apaçocar no pilão) e adicionaram sobras de carnes assadas e peixes secos às mesmas. A farinha de beiju servia para render o prato. Quando usada, era levada à assadeira para absorver os resíduos da carne que fora assada e desta maneira a farinha, além de úmida, ficava temperada. Só ao ser levada para a mesa, era misturada ao pinhão, moído ou inteiro tão somente enfeitando o prato principal de carne. As frutas eram excelência em sobremesa, já que explodiam em doçura e sabor. Nascido numa região desértica da Espanha notou, surpreendido, a qualidade destas terras para a agricultura. Os dezoito anos que havia andado à pé, nu e descalço pelos desertos da Flórida até o México, antes de vir para a América do Sul, fez com que percebesse que os tesouros que todos buscavam eram, na verdade, os frutos que esta terra produzia em magnífica recriação da natureza. A Comida Missioneira - Ciclo das Descobertas | 31
  • 19. Anos mais tarde descobriria porque estes vegetais de paladar surpreendente não fizeram sucesso nas cortes de Espanha: o rico solo vermelho é que conferia aos frutos da terra um sabor inigualável. Quando de seu retorno a Sevilha, constatou que a abóbora mudava seu sabor para cenouras, a batata doce enfraquecera até um tom de palidez de gosto doentio, e a incrível batata amarela (batata salsa) por sua vez, tresandava a nabos. Mesmo a yuca, como até hoje é conhecida a aipy indígena na Europa, mudava seu indescritível e acentuado sabor selvagem para um sabor fraco e indefinido. Batada doce caramelada com açúcar mascavo. foto | Alessandra Gnoatto Azevedo Receita indígena missioneira. 32 | Pinhão Indígena - A culinária do Paraná Helena Menezes
  • 20. Com a adocicada aipy (daí o nome aipim) as índias faziam creme com açúcar negro e leite. A receita se fazia com um litro de leite fervente, onde se acrescentavam dois copos de aipy ralado cru e um copo de açúcar. Após ferver por cinco minutos, a mistura transformava-se em um creme firme, gomado. Além da cor amarelinha, a textura do creme transitava entre a seda e o veludo. O pudim de aipy era uma variação deste creme, e era feito assado em banho-maria, no forno de brasas do quintal. Receita antiga das índias que serviam aos senhores espanhóis na região missioneira de Sete Quedas em Guaira, era feita de suco de laranja e aipy cozido. Nesta receita a aipy servia para dar consistência ao pudim. Pudim de aipim com laranja, receita indígena missioneira. foto | Paulo Leonhardt A Comida Missioneira - Ciclo das Descobertas | 33
  • 21. O Ciclo das Águas Usina Paranaense de Itaipú Binacional, a maior hidrelétrica do planeta
  • 22. “Divinamente infernal, um privilégio vê-las, uma temeridade enfrentá-las... é tão forte a correnteza que as canoas correm com muita fúria. O rio dá uns saltos por uns penhascos enormes e a água golpeia a terra com tanta força que de muito longe se ouve o ruído...” Cabeza de Vaca foto | Caio Francisco Coronel
  • 23. A Comida do Litoral Ciclo das Fazendas Jesuíticas
  • 24. Em Paranaguá, o pequeno grupo de índios moradores da ilha da Cotinga aguardava, ao entardecer, o barco que os levaria de volta para casa, depois de feitas as compras de mantimentos. Sentados nos bancos da pequena praça entre o mercado antigo e o rio que margeia a ilha de Valadares em completo silêncio, era como se prestassem homenagem ao espírito das águas. O moderno corte de cabelo denunciava o ano de 2008, de outra forma poderiam ser confundidos com seus antepassados do século XVII. O mesmo semblante sereno, quase doce daqueles que ao se deparar com os barbudos portugueses, a eles se juntaram espontaneamente nas catas e faisqueiras da primeira mina de ouro do Brasil descoberta na baía de Paranaguá, margeada por suas trinta interessantes ilhas. Barco ao entardecer. foto | Danielle Prim
  • 25. Bufê de Barreado em Curitiba.
  • 26. O Ciclo das Faisqueiras foto | Bira Fotógrafo
  • 27. Bufê de Barreado com banana e pimenta.
  • 28. foto | Marcos Cézar de Araújo
  • 29. foto | Zig Koch
  • 30. Bufê completo de Barreado.
  • 31. “Era o sr. Rocha Loures o homem mais próprio para esta empresa, porquanto habitando em sua infância em Guarapuava, em companhia de seu pai o capitão Antônio da Rocha Loures, teve ali conhecimento com o índio Condá, também menino, que depois retraindo-se aos bosques se tornou formidável e temido entre os seus; e aquela amizade de infância fez com que o índio se oferecesse a acompanhá- lo na exploração, cujo perigo ele previa e a segurança do índio fazia lhe desprezar; aí se reconheceu o império que o índio exercia sobre os mais chefes, que apresentando-se em atitude hostil nos campos de Nonohay, sua voz a bem de seu amigo, foi bastante para os desarmar e franquearam-lhe a passagem; a isto e a um pouco de conhecimento que tem o Sr. Rocha Loures da língua dos índios, se devem estarem hoje estes selvagens menos ferozes e mais socegados. Presidente da província Campos Gerais - Cachoeira do Lageado de São Paulo”. do Pedregulho, no Cânion do Quartelá.
  • 32. A Comida dos Campos Gerais Ciclo das Invernadas foto | Zig Koch
  • 33. Missões Jesuíticas no Paraná Destruídas pelos incêndios e pela cobiça, as 12 reduções do Paraná desapareceram. Foram eliminados todos os vestígios da passagem dos jesuítas e suas poucas construções em solo paranaense. Nosso legado se fazia no campo do conhecimento agropastorial, sendo que a arquitetura do princípio das missões com suas imponentes igrejas, era impraticável catarata acima. Também porque aos poucos, o interesse em negociar riquezas, óleos e comestíveis com a Europa tomou lugar nas naus que iam e vinham com materiais de construção. Acantonados nas matas, os índios aos poucos retornaram sob intervenção de Rocha Loures, e as lavouras ressurgiram, exuberantes. Estrada das Missões: novo traçado saindo de Ponta Grossa direto até Corrientes, na Argentina.
  • 34. fonte: http://www.itcg.pr.gov.br cidades ilustração | Adalberto Camargo reduções jesuíticas limites do estado do Paraná atual
  • 36. “Uma interessante planta cresce em abundância nas matas próximas de Curitiba, é essa árvore, conhecida pelo nome de árvore-do-mate ou árvore da congonha, que fornece a famosa erva ou mate do Paraguai. Uma vez que, à época da minha viagem, a situação política tornava quase impossíveis as comunicações entre o Paraguai, Buenos Aires e Montevidéu, as pessoas vinham dessas cidades buscar o mate em Paranaguá” Chimarrão com mate. Saint-Hilaire foto | Zig Koch
  • 37. A Comida do Norte Ciclo do Café
  • 38. “Estava o Norte do Paraná desbravado. Os colonizadores já com filhos e netos, foram ficando, pois que haviam transformado a rica região. Campos plantados onde vales verdejantes a perder de vista dão conta da força do norte do Paraná, força esta que sustenta o estado. Apelidado de Celeiro do Brasil, o Paraná ganhou o título de maior produtor de grãos entre eles, a soja. Dos Campos Gerais até o final do mapa do estado, plantações estão cobrindo desde a beira das estradas até onde a vista alcança, trazendo prosperidade e beleza aos campos, matizando de incontáveis tons de verde e transformando os vales em autênticos quadros de um acervo de obras de artes, cujo autor é Deus. As plantações estão lado a lado com as poucas paisagens de pinheiros que restaram. No norte do Paraná, se pode ainda observar capões de pinheiros nas margens da Rodovia do Café, que restaram da derrubada para confecção dos navios das esquadras portuguesas do Brasil das faisqueiras”. foto | Zig Koch
  • 39. A Comida de Curitiba Ciclo do Crescimento Urbano foto | Zig Koch
  • 40. “No Palácio das Necessidades de Lisboa, que é o Ministério dos Negócios Estrangeiros, finalmente atendem o meu pedido e mandam- me para o sul do Brasil, sou nomeado Cônsul em Curitiba. Estamos em 1919, tenho 34 anos. Não me deixam ficar em Curitiba, não lhes convém, a colônia portuguesa está bem ciente da perseguição que me fizeram. Na Embaixada portuguesa no Rio de Janeiro, César, meu irmão também cônsul, é o Encarregado de Negócios, felizmente. Movimenta-se, consegue que 34 prestigiados cidadãos portugueses, residentes em Curitiba, subscrevam um “protesto contra uma campanha miserável movida contra o Cônsul português por criaturas sem vislumbre de senso moral”. A iniciativa de César dá resultado: no final do ano cancelam a suspensão. Mas continuo sob mira, e não quero ser alvo. “Que horas são? Tenho sede, Angelina dá-me água.” “Daqui a pouco vou precisar do robe, acho que o deixei aos pés da cama. Não correspondo às expectativas dos militares mas eles continuam a prestigiar-me, não sei porquê. Em 1929 nomeiam-me Cônsul em Antuérpia, na Bélgica. Ali permaneço durante 9 anos. Com apenas 50 anos já sou o decano do corpo diplomático. O rei belga, Leopoldo III, simpatiza muito comigo, por duas vezes me condecora. Mas em 38 sou nomeado Cônsul em Bordéus, França. Peço para ser mantido em Antuérpia, cidade onde fiz tantos amigos. Salazar, para minha consternação, recusa o pedido e sigo para Bordéus. De Lisboa acabo de receber más notícias, proibições. Que horas são? Tenho sede, Angelina dá-me água.” “De outras vezes o sonho converte-se em pesadelo, ânsias, ao acordar a minha apetência é gritar. Em 39 rebenta a II Guerra Mundial. Os alemães invadem a Polónia e os Países Baixos e a França, Paris é ocupada. Depois a horda ariana começa a descer para sul e sudoeste, vêm aí os assassinos! Milhares e milhares de refugiados de guerra acampam nos jardins do Consulado e nas ruas vizinhas. Franceses, belgas, holandeses, checos, austríacos e até alemães. Judeus mas também cristãos. Querem vistos para o meu país, querem vistos para a Vida. Mas de Lisboa acabo de receber más notícias, proibições: com a Presidência do Conselho, Salazar acumula agora a pasta de Ministro dos Negócios Estrangeiros e proíbe que se passem vistos a refugiados de guerra, principalmente a israelitas. Outra vez me desilude o moço de Santa Comba. Diz-se católico mas esqueceu-se do amor ao próximo que Jesus apregoava e praticava para exemplo de todos os fiéis. Que faço eu? Acato a ordem do Presidente do Conselho? Impassível, vou então ficar à janela a assistir à matança dos inocentes? Não, não e não! Não sou cúmplice da chacina, vou desobedecer a Salazar, vou passar os vistos e salvar os perseguidos. Prefiro estar com Deus contra um homem, do que estar com um homem contra Deus. Que horas são? Tenho sede, Angelina dá-me água.”
  • 42. Comida dos Franceses da Argélia
  • 44. foto | Paulo Leonhardt
  • 45. Sagú de leite com canela. foto | Paulo Leonhardt