1. Oficina de leitura
O signo
O índice
O ícone
O símbolo
O signo linguístico (linguagem verbal, não
verbal, mista, as cores – vocábulo gírio e
expressões idiomáticas)
Despertar o olhar para o mundo ao redor – o
texto não é composto apenas por palavras...
5. Oficina de leitura
MEMÓRIA (Roseana Murray)
Há pouco tempo,
aqui havia uma padaria.
Pronto - não há mais.
Há pouco tempo
aqui havia uma casa,
cheia de cantos, recantos,
corredores impregnados
de infância e encanto.
Pronto - não há mais.
Uma farmácia,
uma quitanda.
Pronto - não há mais.
A cidade destrói, constrói,
reconstrói.
Uma árvore, um bosque.
Pronto - nunca mais.
6. Oficina de leitura
POEMA DA CIRCUNSTÂNCIA (Mario Quintana)
Onde estão os meus verdes?
Os meus azuis?
O arranha-céu comeu!
E ainda falam nos mastodontes, nos brontossauros,
nos tiranossauros,
Que mais sei eu...
Os verdadeiros monstros, os Papões, são eles, os arranha céus!
Daqui
Do fundo
Das suas goelas
Só vemos o céu, estreitamente, através de suas empinadas
gargantas ressecas.
Para que lhes serviu beberem tanta luz?!
Defronte
À janela onde trabalho
Há uma grande árvore...
Mas já estão gestando um monstro de permeio!
Sim, uma grande árvore...Enquanto há verde,
Pastai, pastai, os olhos meus...
Uma grande árvore muito verde...Ah,
Todos os meus olhares são de adeus
Como um último olhar de um condenado! (Fábrica – Legião Urbana)
7. Oficina de leitura
DETALHES (Luis Fernando Veríssimo)
O velho porteiro do palácio chega em casa, trêmulo. Como sempre que tem
baile no palácio, sua mulher o espera com café da manhã reforçado. Mas desta
vez ele nem olha para a xícara fumegante, o bolo, a manteiga, as geleias. Vai
direto à aguardente. Atira-se na sua poltrona perto do fogão e toma um longo
gole de bebida, pelo gargalo.
- Helmuth, o que foi?
- Espera, Helga. Deixa eu me controlar primeiro.
Toma outro gole de aguardente.
- Conta, homem! O que houve com você? Aconteceu alguma coisa no baile?
- Co-começou tudo bem. As pessoas chegando, todo mundo de gala, todos com
convite, tudo direitinho. Sempre tem, é claro, o filhinho de papai sem convite
que quer levar na conversa, mas já estou acostumado. Comigo não tem
conversa. De repente, chega a maior carruagem que eu já vi. Enorme. E toda de
ouro. Puxada por três parelhas de cavalos brancos. Cavalões! Elefantes! De
dentro da carruagem, salta uma dona. Sozinha. Uma beleza. Eu me preparo
para barrar a entrada dela porque mulher desacompanhada não entra no baile
do palácio. Mas essa dona tão bonita, tão sei lá, radiante, que eu não digo nada
e deixo ela entrar.
8. Oficina de leitura
- Bom, Helmuth. Até aí...
- Espera. O baile continua. Tudo normal. Às vezes rola um bêbado pela
escadaria, mas nada de mais. E então bate a meia-noite. Há um rebuliço na
porta do palácio. Olho para trás e vejo uma mulher maltrapilha que desce
pela escadaria, correndo. Ela perde uma sapato. E o príncipe atrás dela.
- O príncipe?
- Ele mesmo. E gritando para eu segurar a esfarrapada. “Segura! Segura!”
Me
preparo para segurá-la quando ouço uma espécie de “vum” acompanhado
de um
clarão. Me viro e...
- E o quê, meu Deus?
O porteiro esvazia a garrafa com um último gole.
- Você não vai acreditar.
- Conta!
- A tal carruagem. A de ouro. Tinha se transformado numa abóbora.
-Numa o quê?
9. Oficina de leitura
- Eu disse que você não ia acreditar.
- Uma abóbora?
- E os cavalos em ratos.
- Helmuth...
- Não tem mais aguardente?
- Acho que você já bebeu demais por hoje.
- Juro que não bebi nada!
- Esse trabalho no palácio está acabando com você, Helmuth. Pede
para ser transferido para o almoxarifado.
10. Oficina de leitura
Velha história (Mario Quintana)
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que
apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenino e
inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o
homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e
pincelou com iodo a garganta do coitado. Depois guardou-o no
bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no
quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia,
o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho.
Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante
vê-los no “171” – o homem, grave, de preto, com uma das mãos
segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o
jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho,
enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava
laranjada por um canudinho especial.
11. Oficina de leitura
Velha história (Mario Quintana)
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do
rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do
primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que
roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos
teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para
o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!...”
Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o
peixinho na água. E a água fez um redemoinho, que foi depois
serenando, serenando... até que o peixinho morreu afogado.