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INTUIÇÃO©
                                             O DESAFIO DO INCONSCIENTE


                                                                                                                                     Por Homero Reis, M.Sc.
                                                                                                                                          Brasília, 12/08/05.



                                                                                                                                                  Para meus alunos.



                                               Intuição é uma qualidade cada vez mais
                                               apreciada no       mundo acadêmico        e
                                               corporativo, por essa razão é tema de
                                               pesquisa profunda na Ontologia da
                                               Linguagem. Maturana e seus discípulos a
                                               têm estudado como uma forma de
                                               aprendizagem imediata. Algo que nos é
                                               dado como flashes rapidíssimos que alertam
                                               sobre um perigo, indicam uma saída para
                                               um impasse profissional, dão pistas de como
                                               contornar uma situação, fornecem uma
                                               visão clara – ainda que não demonstrável -
                                               do observador que está à nossa frente. São
segundos da mais legítima percepção, que, para os treinados, ajudam a encontrar soluções.
Os céticos acreditam que essas impressões instantâneas são apenas frutos da imaginação.
Ontologicamente falando, a intuição é uma forma de intervir num espaço relacional ou numa
relação conversacional baseado na confiança que se tem naquilo que nos é dado
espontaneamente.
Chamada de sexto sentido, a intuição é um atributo inerente a todas as pessoas. Não é mais
feminino que masculino, embora se cultive a idéia de que as mulheres sejam mais intuitivas
que os homens. Não é um tipo de inspiração divina, portanto não é preciso ser místico, nem
religioso para se acreditar nela e aprender a usa-la. A intuição é o conhecimento que surge
sem o uso da lógica ou da razão e que se manifesta de diversas formas: sonhos, visões
diurnas, sensações corporais, conhecimento puro, insights e criatividade, além de outras.

Etimologicamente, intuição vem do latim intueri, que significa dar uma olhada. Numa explicação
mais simples a intuição é um modus operandi do cérebro. Goleman – Inteligência Emocional –
diz que “esse órgão é uma máquina de extrair padrões e, com base neles, faz antecipações de
acordo com o aprendizado e com a experiência; sejam eles conscientes ou não”.

 É importante distinguir intuição de sorte. Um goleiro pode ter a sorte de cair para o lado certo e
pegar o pênalti – fenômeno estudados pelos estatísticos e probabilistas. Mas pode usar sua
intuição, proveniente de anos de experiência, e se jogar para o lado que acredita ser o correto.
Nesse caso, pegar o pênalti não vai ser obra do acaso ou adivinhação. É um pressentimento
baseado no conhecimento decorrente da intuição.
Do ponto de vista fisiológico o córtex órbito-frontal é a região onde ocorrem as intuições e é
uma das últimas estruturas do cérebro a amadurecer. Isso explica por que os adolescentes
tomam decisões sem pensar tanto nas conseqüências. As pesquisas da ontologia da
linguagem têm demonstrado que os neuropeptídios - proteínas sintetizadas pelos neurônios -
encontrados no estômago são similares aos do cérebro. Portanto, quando alguém afirma,
então, que suas ''entranhas'' apontaram o que deveria ser feito, não está usando mera figura de
linguagem, está expressando a verdade intuitiva que seu corpo revela.
             © - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução do todo ou de parte, por qualquer meio, sem a prévia autorização do autor.


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Para Carl Gustav Jung a intuição é uma das quatro maneiras do homem entender a realidade.
As outras são: sensação, pensamento e sentimento. Segundo Jung, a intuição utiliza a psique
para discernir sobre fatos e pessoas. Segundo ele, as características de um ser intuitivo são,
basicamente:
    1. Observação holística,
    2. Confiança nos pressentimentos,
    3. Consciência ou visão de futuro, e,
    4. Imaginação.
Uma frase que melhor define a intuição é a que diz: ''Sei o que fazer, mas não sei por quê''. A
maioria das pessoas já sentiu medo de tomar uma decisão sabidamente acertada, mas
impulsiva, e depois se arrependeu de não ter agido de imediato. A intuição simplesmente sabe,
instantaneamente. Enquanto a razão trabalha, a intuição procede em flashes. A intuição capta
vislumbres da realidade em fragmentos e pedaços, normalmente em forma simbólica. Esses
símbolos precisam ser interpretados e montados para que surja uma figura coerente. O difícil é
fazer essa interpretação. Os especialistas asseguram que é possível aumentar a capacidade
intuitiva, desde que a razão saia de férias. Minha sugestão é dizer à lógica que ela merece um
descanso.

É preciso disciplina e tempo para reconstruir as distinções ontológicas que favorecem a
capacidade de se desenvolver a intuição:

    1. Relaxamento é essencial, porque o ritmo alucinado de vida é inimigo público das
       impressões instantâneas;

    2. Momentos de silêncio para aquietar o corpo, as emoções e a linguagem, também
       ajudam a intuição a fluir facilmente;

    3. Exercícios respiratórios e meditações mudam a freqüência adrenérgética do coração -
       que faz a pessoa ficar ansiosa - para a freqüência vagal - tranqüila, que oferece
       espaço para manifestações intuitivas.

Ouvir a intuição se tornou uma expressão banalizada, mas é a partir do silêncio que se pode
obter melhor desempenho. As pessoas muitas vezes precisam parar de lutar e encontrar uma
calma confiante para conseguir entender o que se passa no seu contexto. A intuição faz
enxergar o futuro próximo. O processo intuitivo colabora então com a performance do coach,
na medida em quem se silencia a preocupação e/ou esforço para o entendimento de uma
conversação, e se permite uma “observação flutuante” de todo o contexto. Assim, o
observador, acreditando nas “imagens” que lhe são reveladas instantaneamente, deixa que
uma parte mais profunda de si mesmo possa emergir. O silêncio e a serenidade trazem a
intuição necessária para o melhor desempenho.

Investir na intuição contribui na hora de se fazer um diagnóstico relacional. Como todo
profissional, o coach é bombardeado por uma infinidade de dados oriundos do “coachado”, e
deve ser capaz de identificar rapidamente o que de fato importa. O profissional que sabe
escutar a intuição e que tem a visão do todo é mais efetivo em suas interações
conversacionais.

A manifestação da intuição se dá devido à enorme quantidade de informações sensoriais,
coletadas e armazenadas na mente, e que estão disponíveis instantaneamente, diante de um
problema ou de uma inquietação. Aprender a ir além dos limites da razão e discernir esse
avançar como uma competência do ser é um dos requisitos ''básicos'' da interação de coach.

O perfil do coach, portanto, requer saber trafegar entre o desconhecido - a idéia intuitiva,
inovadora - e o conhecido - o real. O que faz a diferença é a agilidade com que o se alterna
esses dois comportamentos. O coach deve lidar com mais riscos que o profissional clássico.
Deve saber avaliar rapidamente a situação e conduzir a pessoa a um novo posicionamento
diante da queixa, descobrindo assim novas possibilidades. Isso nem sempre é possível



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utilizando-se das ferramentas racionais, posto serem elas fortes mecanismos de defesa. Então,
deve-se ouvir a intuição, mas aprendendo a reconhecer como ela se manifesta.

Desenvolver a habilidade intuitiva capacita o coach a ajudar o outro a projetar-se no futuro,
utilizando-se de “informações” que lhe são dadas pelo contexto conversacional. Aqui tudo é
fundamental: o local, o cheiro, a estética, o clima emocional, a própria conversa, etc. Ser
intuitivo é perceber o que está em volta do fato.

Cientistas não têm intuição sobre arte - só sobre ciência. Músicos costumam ter flashes
criativos sobre música. Pode parecer estranho, mas é o conhecimento adquirido e a
experiência acumulada que faz o profissional ter um canal aberto com a intuição. As pessoas
não têm mais talento, têm mais paixão por seus assuntos, e é essa paixão que as faz perceber
coisas que outros não percebem. Aí está uma nova distinção das distinções. Einstein investia
tempo, todos os dias, viajando pelo imensurável espaço além da atmosfera terrestre com sua
imaginação intuitiva. Quem quiser ter mais intuição sobre alguma coisa deve aumentar sua
paixão sobre ela. Às vezes, é preciso deixar de lado a mania de querer provar. Nem tudo é
exato. Há um mundo de possibilidades naquilo que sentimos. Acreditar nessa possibilidade nos
torna observadores mais competentes. Por isso digo que “não vivemos em mundos perfeitos,
vivemos em mundos possíveis”.



Alguns exemplos de processos intuitivos:

1 - Gladwell conta a história de uma estátua grega que estava para ser adquirida pelo Getty
Museum da Califórnia por US$ 10 milhões. O museu contratou geólogos e advogados, que,
depois de 14 meses fazendo os mais diferentes testes e checando documentos, confirmaram a
autenticidade da obra. Posteriormente à compra, três historiadores de arte viram a estátua e,
em menos de um minuto, chegaram à conclusão de que era falsa. Outra rodada de estudos
constatou a falsificação. Baseados no pressentimento, os três acertaram, enquanto a equipe de
especialistas que verificaram racionalmente a estátua errou.

2 - Desde os anos 80, o psicólogo John Gottman, da Universidade de Washington, vem
trabalhando com casais em seu Love Lab. Gottman deixa o casal numa sala e grava sua
conversa. Depois de ver três minutos da gravação, o psicólogo é capaz de dizer se o
casamento vai durar ou não com 95% de certeza.

3 - Experiente treinador de tênis, Vic Braden descobriu que tinha a capacidade de “divinhar”
quando um jogador iria fazer dupla falta - o que, no tênis, significa errar o saque duas vezes
consecutivo. Ele só não sabia o que o levava a ter tal pressentimento. Várias empresas
bancaram, em vão, testes em busca da chave do tesouro. Aposentado, mas ainda adivinhador
Braden só sabe que alguma coisa em seu inconsciente o ''liga'' para ver o “invisível”.

4 - Uma psicóloga chamada Nalini Ambady pediu a um grupo de estudantes que avaliasse o
comportamento de um professor vendo um vídeo de apenas dez segundos. A avaliação deles
foi a mesma de uma turma que estudou durante um semestre com o tal professor. Nalini fez o
mesmo teste com outro grupo de alunos. Desta vez, o vídeo tinha somente dois segundos.
Mesmo assim, o resultado foi bastante parecido. Ou seja: as primeiras impressões podem ser
muito reveladoras.

5 - Para demonstrar como a experiência e/ou a falta de maturidade podem influir na intuição, o
autor conta dois casos que aconteceram em Nova York. No primeiro, há um relato sobre dois
jovens policiais que mataram um homem com vários tiros ao imaginarem que ele estava
puxando um revólver para atirar, quando o sujeito estava apenas pegando a carteira para
apresentar os documentos. Todo mundo toma decisões rápidas. Quem se baseia em
preconceitos e aparência pode intuir mal, enquanto quem sabe ouvir a voz interior reconhece
instantaneamente os bons pressentimentos. Estar atento aos pequenos detalhes faz toda a
diferença.

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A intuição é a bola da vez entre os estudiosos dos fenômenos da Ontologia da Linguagem, que
a consideram essencial para o sucesso pessoal e profissional. Alguns exemplos da utilidade da
intuição:
    •   Permite ter visão de futuro (e saber como fazê-la funcionar);

    •   Ajuda a identificar membros produtivos de um grupo;

    •   Mobiliza a energia da equipe para determinado foco;

    •   Auxilia a investigar as oportunidades e a examinar problemas antes que surjam de fato;

    •   Faz discernir qual informação é importante rapidamente (e descartar aquela que não é
        relevante), no processo conversacional;

    •   Ajuda a não desviar a atenção de um objetivo por causa de dúvidas ou receios;
    •   Facilita a intimidade dos relacionamentos, porque valoriza as relações.


A intuição é muito útil para nos orientar neste mundo mediano em que
vivemos, situado entre o muito pequeno e o extremamente grande. O conhecimento dito
quot;intuitivoquot;, é o momento subjetivo da mais imediata forma de atividade que o observador
desenvolve na natureza e na sociedade, com vistas à produção da sua existência.

Nosso cérebro não foi projetado para quot;compreenderquot; as realidades subatômicas ou
macroscópicas da relação espaço-temporal. Na verdade ele foi projetado para nos oferecer
condições de interação no limite de nossas relações. A racionalidade, ao reduzir a realidade à
objetividade, desconectou-nos da vivência integral. O mundo racional é apenas um dos lados
da vida. A intuição é a ferramenta que nos coloca em contato com outros lados.

Einstein, por exemplo, graças à sua intuição, nos fez perceber que existem fenômenos ocultos
nas relações físicas, ainda não acessíveis ao conhecimento humano formal. No entanto, é
precisamente o desconhecimento desta realidade subjacente que nos faz “imaginar” o
desconhecido como possível, no entanto indemonstrável. Vale dizer, Einstein, por causa da
sua intuição, não aceitou a demonstração racional como algo intrínseco à ciência, mas
acrescentou ao mundo “objetivo” a subjetividade da imaginação criativa, fruto intuitivo de seu
modelo cósmico. Essa foi a razão de seu sucesso como pensador. Mas é bom que se ressalve
que os termos quot;subjetividade e imaginação criativaquot; não são sinônimos de quot;inexplicáveisquot;.

A INTUIÇÃO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS
Aqui, o processo do conhecimento é análogo ao processo de trabalho: a matéria-bruta são os
dados sensórios; os instrumentos quot;de trabalhoquot; - no caso, instrumentos de cognição - as formas
inatas do pensamento e da linguagem; e o produto final o conhecimento. O que forja a
quot;identidadequot; entre a estrutura da mente humana e a estrutura da realidade objetiva (sem essa
identidade não haveria como o juízo se adequar ao fato, isto é, não existiria a quot;verdadequot;), foi o
mesmo mecanismo responsável pela adaptação dos organismos vivos ao meio ambiente, a
saber: a seleção natural.

Mas será que existe alguma maneira alternativa de se aceder à verdade? Ou seja, será que
existe uma outra forma de conhecimento que não seja essa combinação experiência/raciocínio
lógico-matemático? Penso que sim, e acho que tal alternativa - a intuição - tem um papel
importante nas ciências cujo objeto de investigação é precisamente os quot;universais formaisquot; do
pensamento e da linguagem. Por quê? Ora, se há em nossas mentes formas e princípios inatos
e a priori, com queria Kant, então o conhecimento de tais princípios é, em larga medida, um
reconhecimento. Os matemáticos e os lógicos, cientistas que se distinguem pelo acentuado
pendor ao cartesianismo, são também, via de regra, homens altamente intuitivos.

A bem da verdade, a intuição é essencial em todas as ciências quot;humanasquot;, dado que nessas
ciências, o ser humano é ao mesmo tempo sujeito e objeto do conhecimento. Ou seja, o que

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distingue a metodologia das ciências naturais da metodologia das ciências humanas é,
precisamente, a função de destaque que a intuição desempenha nesta última.

Com efeito, um físico, ao olhar para o céu, não sabe o que vai encontrar lá. Aquele ponto
luminoso pode ser uma estrela, um planeta, uma galáxia distante ou algo absolutamente
desconhecido. Somente após um laborioso processo de confronto com uma profusão de dados
já registrados é que o físico começará a ter uma idéia do que seja tal ponto de luz. Já um
cientista da sociedade, um coach, por exemplo, ao interagir com outro observador já “sabe” de
antemão do que se trata; ou seja, antes mesmo de uma análise minuciosa, tem ele uma idéia -
vaga, sem contornos, quot;intuitivaquot; - do que seja aquela situação. Dito em outros termos, nas
ciências humanas o ponto de partida do processo cognitivo é sempre uma idéia vaga e
imprecisa, uma verdade meramente esboçada, aquilo que Kant denominou de conhecimento
quot;antepredicativoquot; da realidade - em oposição ao conhecimento quot;teórico-predicativoquot;, que advém
após os procedimentos da análise.

No plano epistemológico, o que distingue um racionalista de um irracionalista não é o fato dos
racionalistas menosprezarem a intuição como quot;momentoquot; do processo cognitivo. Todos os
quot;bonsquot; racionalistas conhecem a função da intuição em tal processo. Para eles, a antítese
intuição/razão é uma falácia. Aliás, quem busca a verdade sabe, por intuição, que alguma
verdade existe. Mesmo que seja a verdade que o observador quer que seja.

Marx, que, sem sombra de dúvida foi um grande pensador racionalista do século XIX, quer se
concorde com ele ou não, disse certa vez que tudo que é humano não lhe era estranhoquot;.
Significa dizer que, ao menos nas ciências da sociedade e do espírito, o pensador jamais parte
do absolutamente zero.

Realmente, o que distingue o racionalista do irracionalista é que este último tende a exagerar o
papel da intuição no processo do conhecimento, às vezes negligenciando por completo os
rigores da análise. Para essa turma, todo conhecimento quot;profundoquot; da realidade é sempre fruto
de uma grande quot;sacaçãoquot;. E como as sacações geniais pressupõem gênios, os irracionalistas
estão sempre idolatrando quot;grandes homensquot;, sendo Nietzsche, atualmente, o dileto guru,
principalmente de Maturana, Echeverria e, modéstia à parte, meu. Pelo menos no que se refere
aos processos de coaching; embora não façamos parte dos irracionalistas.

A INTUIÇÃO NO PROCESSO DO CONHECIMENTO
Observamos o mundo não apenas com nossos sentidos, mas também com nossas distinções:
experiências, vivências e aprendizagens através do tempo.

Sabe-se, no entanto, que temos dois tipos de distinções: um que se forma no transcurso da
vida individual, mediante a interação do indivíduo com o meio e através do processo de
aprendizado; e outro, mais primitiva, que se transmite de uma geração a outra por meio da
herança genética.

Trata-se esta última de uma distinção que começou a se formar no exato momento em que o
primeiro organismo vivo surgiu sobre a face da Terra (logo, uma distinção que, em larga
medida, é anterior ao gênero humano).

Essas informações arquetípicas do meio ambiente que, antes de constarem no cérebro, já
estavam presentes nos genes, constituem aquele conhecimento quot;a prioriquot; da realidade (quot;a
prioriquot; com relação ao indivíduo) que, para a imensa maioria das pessoas, é inquestionável.

Quando falo em intuição, portanto, refiro-me àquela percepção do mundo intimamente
associada a esse conhecimento inato: um conhecimento cuja função é orientar o indivíduo
dentro das fronteiras relacionais do seu habitat, e que é um instrumento de sobrevivência entre
distintos observadores.




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Essas informações são evidências (para Descartes, a intuição é a visão da evidência). Mas tais
evidências, tais verdades quot;apriorísticasquot; são, em larga medida, verdades quot;regionaisquot;, isto é,
verdades atinentes aos fatos e aos fenômenos do nosso mundo mediano.

Claro que podemos falar de uma intuição quot;secundáriaquot;, associada aos conhecimentos
quot;culturaisquot; que obtemos graças à nossa interação com o mundo ou que nos são transmitidos
pela sociedade através da construção da linguagem, da emocionalidade e da corporalidade.

A intuição quot;secundáriaquot;, ao meu ver, não é um ato, mas um quot;processoquot; perceptivo
subconsciente (nada a ver com quot;inconscientequot;) em que o sujeito se vale mais da imagem e
menos do conceito. Ademais, a intuição é um raciocínio não tanto por indução ou por dedução,
mas por quot;abduçãoquot;.

A quot;abduçãoquot; é um raciocínio por analogia. Foi o semiologista Peirce quem primeiro utilizou o
termo quot;abduçãoquot; para designar esse tipo de raciocínio, que em inglês significa quot;raptoquot;,
quot;rapinagemquot;. Umberto Eco explica essa modalidade de operação mental do seguinte modo: “Se
tenho um resultado curioso no campo dos fenômenos ainda não estudados, não posso
procurar uma Lei daquele campo [...]. Preciso 'raptar' ou 'tomar emprestada' uma lei de noutro
lugar. Como vêem, devo raciocinar por analogia,quot; ou mais ousadamente, intuir”.

Assim, particularmente, assumo que é a intuição que liga a ciência (enquanto informação
sistematizada), ao mundo da vida, isto é, ao mundo cotidiano em que vivemos, agimos,
fazemos projetos, nos relacionamos.
Em outros termos, é nesse nosso mundo científico-capitalista regido pelas formais e
impiedosas leis da oferta e da procura; leis que, como as regras de qualquer jogo de azar,
dividem os homens em vencedores e perdedores (estes a grande maioria); que transformam a
sociedade humana num cruel campo de batalha, mas que, graças aos antagonismos que
criam, reproduzem sempre de uma forma ampliada a riqueza dos homens, é que se redescobre
os processos intuitivos (portanto não lógico-racionalistas) como uma alternativa um pouco mais
humana de relacionamento.

A GUISA DE CONCLUSÃO
A palavra intuição é compreendida de diferentes maneiras por diferentes pessoas. Para uns ela
é o discernimento rápido, a percepção clara e imediata. Para outros é a capacidade de
pressentir acontecimentos ou caminhos que levam a soluções de difíceis problemas. Mas onde
e como se origina a intuição? Qual o seu significado?

Os ensinamentos escolares são, muitas vezes e em muitas matérias, extensos e áridos, tendo
pouco a ver com a realidade natural. Desde cedo os estudantes têm as suas mentes
empanturradas de teorias abstratas na maior parte criadas pelo cérebro humano. O ideal seria
aprender observando o inter-relacionamento da natureza com suas florestas, rios, mares,
montanhas, fauna e flora, com o homem em sua capacidade pessoal e social de
transformação, preservando a alegria de viver em diversidade.

Os meios de comunicação também pressionam a mente com uma enormidade de informações
elaboradas de tal forma que penetram em nosso íntimo com formas negativas e destrutivas. Os
vídeo games e vídeo clipe também dão a sua contribuição no embrutecimento da sensibilidade
infantil. Isso tudo sobrecarrega a mente. Ou então, a própria vaidade leva o indivíduo a
complicar as coisas para valorizá-las ao invés de buscar a firmeza que há na simplificação.
Assim, de geração em geração a intuição se tem esvaído da face da Terra.

Muitos estudiosos estão percebendo que a busca frenética do cérebro para querer
compreender tudo está levando a uma congestão mental, travando a tomada de decisões
porque os seres humanos estão perdendo a capacidade de distinguir intuitivamente o caminho
mais adequado. Sobrecarregados e inseguros ficam rodeando os problemas, fazendo analises
sobre analises. Vacilantes, perderam a intuição até para as coisas mais simples.



                                              6
A intuição se tornou tão misteriosa e desconhecida devido ao próprio afastamento dos seres
humanos que a deixaram de lado para se apegar com exclusividade ao raciocínio, quando na
verdade, intuição e raciocínio deveriam trabalhar juntos.

Algumas pessoas que não se deixaram dominar de todo pelo intelecto e que por isso mesmo
ainda conservam alguma capacidade intuitiva, por vezes vislumbram idéias tão fortes que ao
falarem, demonstram tanta firmeza e convicção que para muitos se afigura como ousadia ou
impertinência, porque suas palavras são tão penetrantes que extravasam qualquer limitação,
indo direto ao âmago do problema sem maiores rodeios ou delongas. Aqui temos uma
esperança relacional, considerando que é isso que a ontologia da linguagem se propõe a fazer
e é isso que as atuações de coaching buscam.

Contudo, tais pessoas sempre encontram resistência exatamente da parte dos seres humanos
predominantemente intelectivos, os quais se sentem afrontados por não perceberem que não
se trata apenas de agilidade mental, mas sim da utilização de uma certa capacidade intuitiva
perdida por eles, a qual os capacitaria a enxergar mais longe. Por isso mesmo não conseguem
compreender com a mesma rapidez, procurando criar dificuldades com o seu desprezo ao
invés de oferecerem o seu apoio e reconhecimento. A desconfiança impossibilita que haja uma
sadia união de esforços. Mas num futuro não muito distante, espero, os seres humanos estarão
alcançando o real significado dos processos relacionais, pois estarão adquirindo as distinções
do equilíbrio entre a intuição e o raciocínio.

Intuição é um caminho para o saber, igual a qualquer outra fonte de informação como
enxergar, escutar, ler, etc. E como nestas outras fontes, você pode treinar-se para usar sua
intuição. Com sua intuição educada, então, será possível decidir mais rápido, com menos
esforço e com maior senso de realização.
Por fim, Aqui vão algumas práticas, que podem ajudá-lo no processo, de treinamento de sua
intuição.
   1. Abra-se para as novidades. Assim, sua intuição poderá se infiltrar na sua consciência
      ao invés de ser filtrada pela sua consciência.

   2. Respeite suas próprias emoções, sensações, sentimentos, pensamentos, pois quanto
      maior contato você tiver com o que você sente, mais fácil fica ouvir sua intuição.

   3. Respeite a intuição dos outros. Isto não quer dizer que você deve aceitar tudo que os
      outros dizem, mas sim entender que nem tudo pode ser explicado.

   4. Desista da vaidade e do medo de errar. Lembre-se: erros não destroem uma carreira, a
      vaidade sim. A vaidade é o quot;liquidificadorquot; de intuição.

   5. Lembre-se que a intuição está sempre correta, mas fique alerta para a interpretação
      que você pode estar somando a ela. Você pode estar interpretando mal.

   6. Entenda que a sua intuição chega a você passando por uma série de filtros
      (pressupostos culturais, preconceitos, falsas premissas) e que por isso alguns
      pensamentos intuitivos passam um mau pedaço para chegar até você ... e nem sempre
      chegam inteiros.

   7. Teste sua intuição, comece a atuar de acordo com ela e busque descobrir o que está
      aprendendo.

Pratique escutar e confiar na sua intuição, para pequenas e grandes decisões. Afinal, quando
chega o momento, você nunca terá todos os elementos para poder decidir racionalmente,
mesmo...


Reflitam em paz!
Homero Reis

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Intuição e o desafio do inconsciente

  • 1. INTUIÇÃO© O DESAFIO DO INCONSCIENTE Por Homero Reis, M.Sc. Brasília, 12/08/05. Para meus alunos. Intuição é uma qualidade cada vez mais apreciada no mundo acadêmico e corporativo, por essa razão é tema de pesquisa profunda na Ontologia da Linguagem. Maturana e seus discípulos a têm estudado como uma forma de aprendizagem imediata. Algo que nos é dado como flashes rapidíssimos que alertam sobre um perigo, indicam uma saída para um impasse profissional, dão pistas de como contornar uma situação, fornecem uma visão clara – ainda que não demonstrável - do observador que está à nossa frente. São segundos da mais legítima percepção, que, para os treinados, ajudam a encontrar soluções. Os céticos acreditam que essas impressões instantâneas são apenas frutos da imaginação. Ontologicamente falando, a intuição é uma forma de intervir num espaço relacional ou numa relação conversacional baseado na confiança que se tem naquilo que nos é dado espontaneamente. Chamada de sexto sentido, a intuição é um atributo inerente a todas as pessoas. Não é mais feminino que masculino, embora se cultive a idéia de que as mulheres sejam mais intuitivas que os homens. Não é um tipo de inspiração divina, portanto não é preciso ser místico, nem religioso para se acreditar nela e aprender a usa-la. A intuição é o conhecimento que surge sem o uso da lógica ou da razão e que se manifesta de diversas formas: sonhos, visões diurnas, sensações corporais, conhecimento puro, insights e criatividade, além de outras. Etimologicamente, intuição vem do latim intueri, que significa dar uma olhada. Numa explicação mais simples a intuição é um modus operandi do cérebro. Goleman – Inteligência Emocional – diz que “esse órgão é uma máquina de extrair padrões e, com base neles, faz antecipações de acordo com o aprendizado e com a experiência; sejam eles conscientes ou não”. É importante distinguir intuição de sorte. Um goleiro pode ter a sorte de cair para o lado certo e pegar o pênalti – fenômeno estudados pelos estatísticos e probabilistas. Mas pode usar sua intuição, proveniente de anos de experiência, e se jogar para o lado que acredita ser o correto. Nesse caso, pegar o pênalti não vai ser obra do acaso ou adivinhação. É um pressentimento baseado no conhecimento decorrente da intuição. Do ponto de vista fisiológico o córtex órbito-frontal é a região onde ocorrem as intuições e é uma das últimas estruturas do cérebro a amadurecer. Isso explica por que os adolescentes tomam decisões sem pensar tanto nas conseqüências. As pesquisas da ontologia da linguagem têm demonstrado que os neuropeptídios - proteínas sintetizadas pelos neurônios - encontrados no estômago são similares aos do cérebro. Portanto, quando alguém afirma, então, que suas ''entranhas'' apontaram o que deveria ser feito, não está usando mera figura de linguagem, está expressando a verdade intuitiva que seu corpo revela. © - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução do todo ou de parte, por qualquer meio, sem a prévia autorização do autor. 1
  • 2. Para Carl Gustav Jung a intuição é uma das quatro maneiras do homem entender a realidade. As outras são: sensação, pensamento e sentimento. Segundo Jung, a intuição utiliza a psique para discernir sobre fatos e pessoas. Segundo ele, as características de um ser intuitivo são, basicamente: 1. Observação holística, 2. Confiança nos pressentimentos, 3. Consciência ou visão de futuro, e, 4. Imaginação. Uma frase que melhor define a intuição é a que diz: ''Sei o que fazer, mas não sei por quê''. A maioria das pessoas já sentiu medo de tomar uma decisão sabidamente acertada, mas impulsiva, e depois se arrependeu de não ter agido de imediato. A intuição simplesmente sabe, instantaneamente. Enquanto a razão trabalha, a intuição procede em flashes. A intuição capta vislumbres da realidade em fragmentos e pedaços, normalmente em forma simbólica. Esses símbolos precisam ser interpretados e montados para que surja uma figura coerente. O difícil é fazer essa interpretação. Os especialistas asseguram que é possível aumentar a capacidade intuitiva, desde que a razão saia de férias. Minha sugestão é dizer à lógica que ela merece um descanso. É preciso disciplina e tempo para reconstruir as distinções ontológicas que favorecem a capacidade de se desenvolver a intuição: 1. Relaxamento é essencial, porque o ritmo alucinado de vida é inimigo público das impressões instantâneas; 2. Momentos de silêncio para aquietar o corpo, as emoções e a linguagem, também ajudam a intuição a fluir facilmente; 3. Exercícios respiratórios e meditações mudam a freqüência adrenérgética do coração - que faz a pessoa ficar ansiosa - para a freqüência vagal - tranqüila, que oferece espaço para manifestações intuitivas. Ouvir a intuição se tornou uma expressão banalizada, mas é a partir do silêncio que se pode obter melhor desempenho. As pessoas muitas vezes precisam parar de lutar e encontrar uma calma confiante para conseguir entender o que se passa no seu contexto. A intuição faz enxergar o futuro próximo. O processo intuitivo colabora então com a performance do coach, na medida em quem se silencia a preocupação e/ou esforço para o entendimento de uma conversação, e se permite uma “observação flutuante” de todo o contexto. Assim, o observador, acreditando nas “imagens” que lhe são reveladas instantaneamente, deixa que uma parte mais profunda de si mesmo possa emergir. O silêncio e a serenidade trazem a intuição necessária para o melhor desempenho. Investir na intuição contribui na hora de se fazer um diagnóstico relacional. Como todo profissional, o coach é bombardeado por uma infinidade de dados oriundos do “coachado”, e deve ser capaz de identificar rapidamente o que de fato importa. O profissional que sabe escutar a intuição e que tem a visão do todo é mais efetivo em suas interações conversacionais. A manifestação da intuição se dá devido à enorme quantidade de informações sensoriais, coletadas e armazenadas na mente, e que estão disponíveis instantaneamente, diante de um problema ou de uma inquietação. Aprender a ir além dos limites da razão e discernir esse avançar como uma competência do ser é um dos requisitos ''básicos'' da interação de coach. O perfil do coach, portanto, requer saber trafegar entre o desconhecido - a idéia intuitiva, inovadora - e o conhecido - o real. O que faz a diferença é a agilidade com que o se alterna esses dois comportamentos. O coach deve lidar com mais riscos que o profissional clássico. Deve saber avaliar rapidamente a situação e conduzir a pessoa a um novo posicionamento diante da queixa, descobrindo assim novas possibilidades. Isso nem sempre é possível 2
  • 3. utilizando-se das ferramentas racionais, posto serem elas fortes mecanismos de defesa. Então, deve-se ouvir a intuição, mas aprendendo a reconhecer como ela se manifesta. Desenvolver a habilidade intuitiva capacita o coach a ajudar o outro a projetar-se no futuro, utilizando-se de “informações” que lhe são dadas pelo contexto conversacional. Aqui tudo é fundamental: o local, o cheiro, a estética, o clima emocional, a própria conversa, etc. Ser intuitivo é perceber o que está em volta do fato. Cientistas não têm intuição sobre arte - só sobre ciência. Músicos costumam ter flashes criativos sobre música. Pode parecer estranho, mas é o conhecimento adquirido e a experiência acumulada que faz o profissional ter um canal aberto com a intuição. As pessoas não têm mais talento, têm mais paixão por seus assuntos, e é essa paixão que as faz perceber coisas que outros não percebem. Aí está uma nova distinção das distinções. Einstein investia tempo, todos os dias, viajando pelo imensurável espaço além da atmosfera terrestre com sua imaginação intuitiva. Quem quiser ter mais intuição sobre alguma coisa deve aumentar sua paixão sobre ela. Às vezes, é preciso deixar de lado a mania de querer provar. Nem tudo é exato. Há um mundo de possibilidades naquilo que sentimos. Acreditar nessa possibilidade nos torna observadores mais competentes. Por isso digo que “não vivemos em mundos perfeitos, vivemos em mundos possíveis”. Alguns exemplos de processos intuitivos: 1 - Gladwell conta a história de uma estátua grega que estava para ser adquirida pelo Getty Museum da Califórnia por US$ 10 milhões. O museu contratou geólogos e advogados, que, depois de 14 meses fazendo os mais diferentes testes e checando documentos, confirmaram a autenticidade da obra. Posteriormente à compra, três historiadores de arte viram a estátua e, em menos de um minuto, chegaram à conclusão de que era falsa. Outra rodada de estudos constatou a falsificação. Baseados no pressentimento, os três acertaram, enquanto a equipe de especialistas que verificaram racionalmente a estátua errou. 2 - Desde os anos 80, o psicólogo John Gottman, da Universidade de Washington, vem trabalhando com casais em seu Love Lab. Gottman deixa o casal numa sala e grava sua conversa. Depois de ver três minutos da gravação, o psicólogo é capaz de dizer se o casamento vai durar ou não com 95% de certeza. 3 - Experiente treinador de tênis, Vic Braden descobriu que tinha a capacidade de “divinhar” quando um jogador iria fazer dupla falta - o que, no tênis, significa errar o saque duas vezes consecutivo. Ele só não sabia o que o levava a ter tal pressentimento. Várias empresas bancaram, em vão, testes em busca da chave do tesouro. Aposentado, mas ainda adivinhador Braden só sabe que alguma coisa em seu inconsciente o ''liga'' para ver o “invisível”. 4 - Uma psicóloga chamada Nalini Ambady pediu a um grupo de estudantes que avaliasse o comportamento de um professor vendo um vídeo de apenas dez segundos. A avaliação deles foi a mesma de uma turma que estudou durante um semestre com o tal professor. Nalini fez o mesmo teste com outro grupo de alunos. Desta vez, o vídeo tinha somente dois segundos. Mesmo assim, o resultado foi bastante parecido. Ou seja: as primeiras impressões podem ser muito reveladoras. 5 - Para demonstrar como a experiência e/ou a falta de maturidade podem influir na intuição, o autor conta dois casos que aconteceram em Nova York. No primeiro, há um relato sobre dois jovens policiais que mataram um homem com vários tiros ao imaginarem que ele estava puxando um revólver para atirar, quando o sujeito estava apenas pegando a carteira para apresentar os documentos. Todo mundo toma decisões rápidas. Quem se baseia em preconceitos e aparência pode intuir mal, enquanto quem sabe ouvir a voz interior reconhece instantaneamente os bons pressentimentos. Estar atento aos pequenos detalhes faz toda a diferença. 3
  • 4. A intuição é a bola da vez entre os estudiosos dos fenômenos da Ontologia da Linguagem, que a consideram essencial para o sucesso pessoal e profissional. Alguns exemplos da utilidade da intuição: • Permite ter visão de futuro (e saber como fazê-la funcionar); • Ajuda a identificar membros produtivos de um grupo; • Mobiliza a energia da equipe para determinado foco; • Auxilia a investigar as oportunidades e a examinar problemas antes que surjam de fato; • Faz discernir qual informação é importante rapidamente (e descartar aquela que não é relevante), no processo conversacional; • Ajuda a não desviar a atenção de um objetivo por causa de dúvidas ou receios; • Facilita a intimidade dos relacionamentos, porque valoriza as relações. A intuição é muito útil para nos orientar neste mundo mediano em que vivemos, situado entre o muito pequeno e o extremamente grande. O conhecimento dito quot;intuitivoquot;, é o momento subjetivo da mais imediata forma de atividade que o observador desenvolve na natureza e na sociedade, com vistas à produção da sua existência. Nosso cérebro não foi projetado para quot;compreenderquot; as realidades subatômicas ou macroscópicas da relação espaço-temporal. Na verdade ele foi projetado para nos oferecer condições de interação no limite de nossas relações. A racionalidade, ao reduzir a realidade à objetividade, desconectou-nos da vivência integral. O mundo racional é apenas um dos lados da vida. A intuição é a ferramenta que nos coloca em contato com outros lados. Einstein, por exemplo, graças à sua intuição, nos fez perceber que existem fenômenos ocultos nas relações físicas, ainda não acessíveis ao conhecimento humano formal. No entanto, é precisamente o desconhecimento desta realidade subjacente que nos faz “imaginar” o desconhecido como possível, no entanto indemonstrável. Vale dizer, Einstein, por causa da sua intuição, não aceitou a demonstração racional como algo intrínseco à ciência, mas acrescentou ao mundo “objetivo” a subjetividade da imaginação criativa, fruto intuitivo de seu modelo cósmico. Essa foi a razão de seu sucesso como pensador. Mas é bom que se ressalve que os termos quot;subjetividade e imaginação criativaquot; não são sinônimos de quot;inexplicáveisquot;. A INTUIÇÃO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS Aqui, o processo do conhecimento é análogo ao processo de trabalho: a matéria-bruta são os dados sensórios; os instrumentos quot;de trabalhoquot; - no caso, instrumentos de cognição - as formas inatas do pensamento e da linguagem; e o produto final o conhecimento. O que forja a quot;identidadequot; entre a estrutura da mente humana e a estrutura da realidade objetiva (sem essa identidade não haveria como o juízo se adequar ao fato, isto é, não existiria a quot;verdadequot;), foi o mesmo mecanismo responsável pela adaptação dos organismos vivos ao meio ambiente, a saber: a seleção natural. Mas será que existe alguma maneira alternativa de se aceder à verdade? Ou seja, será que existe uma outra forma de conhecimento que não seja essa combinação experiência/raciocínio lógico-matemático? Penso que sim, e acho que tal alternativa - a intuição - tem um papel importante nas ciências cujo objeto de investigação é precisamente os quot;universais formaisquot; do pensamento e da linguagem. Por quê? Ora, se há em nossas mentes formas e princípios inatos e a priori, com queria Kant, então o conhecimento de tais princípios é, em larga medida, um reconhecimento. Os matemáticos e os lógicos, cientistas que se distinguem pelo acentuado pendor ao cartesianismo, são também, via de regra, homens altamente intuitivos. A bem da verdade, a intuição é essencial em todas as ciências quot;humanasquot;, dado que nessas ciências, o ser humano é ao mesmo tempo sujeito e objeto do conhecimento. Ou seja, o que 4
  • 5. distingue a metodologia das ciências naturais da metodologia das ciências humanas é, precisamente, a função de destaque que a intuição desempenha nesta última. Com efeito, um físico, ao olhar para o céu, não sabe o que vai encontrar lá. Aquele ponto luminoso pode ser uma estrela, um planeta, uma galáxia distante ou algo absolutamente desconhecido. Somente após um laborioso processo de confronto com uma profusão de dados já registrados é que o físico começará a ter uma idéia do que seja tal ponto de luz. Já um cientista da sociedade, um coach, por exemplo, ao interagir com outro observador já “sabe” de antemão do que se trata; ou seja, antes mesmo de uma análise minuciosa, tem ele uma idéia - vaga, sem contornos, quot;intuitivaquot; - do que seja aquela situação. Dito em outros termos, nas ciências humanas o ponto de partida do processo cognitivo é sempre uma idéia vaga e imprecisa, uma verdade meramente esboçada, aquilo que Kant denominou de conhecimento quot;antepredicativoquot; da realidade - em oposição ao conhecimento quot;teórico-predicativoquot;, que advém após os procedimentos da análise. No plano epistemológico, o que distingue um racionalista de um irracionalista não é o fato dos racionalistas menosprezarem a intuição como quot;momentoquot; do processo cognitivo. Todos os quot;bonsquot; racionalistas conhecem a função da intuição em tal processo. Para eles, a antítese intuição/razão é uma falácia. Aliás, quem busca a verdade sabe, por intuição, que alguma verdade existe. Mesmo que seja a verdade que o observador quer que seja. Marx, que, sem sombra de dúvida foi um grande pensador racionalista do século XIX, quer se concorde com ele ou não, disse certa vez que tudo que é humano não lhe era estranhoquot;. Significa dizer que, ao menos nas ciências da sociedade e do espírito, o pensador jamais parte do absolutamente zero. Realmente, o que distingue o racionalista do irracionalista é que este último tende a exagerar o papel da intuição no processo do conhecimento, às vezes negligenciando por completo os rigores da análise. Para essa turma, todo conhecimento quot;profundoquot; da realidade é sempre fruto de uma grande quot;sacaçãoquot;. E como as sacações geniais pressupõem gênios, os irracionalistas estão sempre idolatrando quot;grandes homensquot;, sendo Nietzsche, atualmente, o dileto guru, principalmente de Maturana, Echeverria e, modéstia à parte, meu. Pelo menos no que se refere aos processos de coaching; embora não façamos parte dos irracionalistas. A INTUIÇÃO NO PROCESSO DO CONHECIMENTO Observamos o mundo não apenas com nossos sentidos, mas também com nossas distinções: experiências, vivências e aprendizagens através do tempo. Sabe-se, no entanto, que temos dois tipos de distinções: um que se forma no transcurso da vida individual, mediante a interação do indivíduo com o meio e através do processo de aprendizado; e outro, mais primitiva, que se transmite de uma geração a outra por meio da herança genética. Trata-se esta última de uma distinção que começou a se formar no exato momento em que o primeiro organismo vivo surgiu sobre a face da Terra (logo, uma distinção que, em larga medida, é anterior ao gênero humano). Essas informações arquetípicas do meio ambiente que, antes de constarem no cérebro, já estavam presentes nos genes, constituem aquele conhecimento quot;a prioriquot; da realidade (quot;a prioriquot; com relação ao indivíduo) que, para a imensa maioria das pessoas, é inquestionável. Quando falo em intuição, portanto, refiro-me àquela percepção do mundo intimamente associada a esse conhecimento inato: um conhecimento cuja função é orientar o indivíduo dentro das fronteiras relacionais do seu habitat, e que é um instrumento de sobrevivência entre distintos observadores. 5
  • 6. Essas informações são evidências (para Descartes, a intuição é a visão da evidência). Mas tais evidências, tais verdades quot;apriorísticasquot; são, em larga medida, verdades quot;regionaisquot;, isto é, verdades atinentes aos fatos e aos fenômenos do nosso mundo mediano. Claro que podemos falar de uma intuição quot;secundáriaquot;, associada aos conhecimentos quot;culturaisquot; que obtemos graças à nossa interação com o mundo ou que nos são transmitidos pela sociedade através da construção da linguagem, da emocionalidade e da corporalidade. A intuição quot;secundáriaquot;, ao meu ver, não é um ato, mas um quot;processoquot; perceptivo subconsciente (nada a ver com quot;inconscientequot;) em que o sujeito se vale mais da imagem e menos do conceito. Ademais, a intuição é um raciocínio não tanto por indução ou por dedução, mas por quot;abduçãoquot;. A quot;abduçãoquot; é um raciocínio por analogia. Foi o semiologista Peirce quem primeiro utilizou o termo quot;abduçãoquot; para designar esse tipo de raciocínio, que em inglês significa quot;raptoquot;, quot;rapinagemquot;. Umberto Eco explica essa modalidade de operação mental do seguinte modo: “Se tenho um resultado curioso no campo dos fenômenos ainda não estudados, não posso procurar uma Lei daquele campo [...]. Preciso 'raptar' ou 'tomar emprestada' uma lei de noutro lugar. Como vêem, devo raciocinar por analogia,quot; ou mais ousadamente, intuir”. Assim, particularmente, assumo que é a intuição que liga a ciência (enquanto informação sistematizada), ao mundo da vida, isto é, ao mundo cotidiano em que vivemos, agimos, fazemos projetos, nos relacionamos. Em outros termos, é nesse nosso mundo científico-capitalista regido pelas formais e impiedosas leis da oferta e da procura; leis que, como as regras de qualquer jogo de azar, dividem os homens em vencedores e perdedores (estes a grande maioria); que transformam a sociedade humana num cruel campo de batalha, mas que, graças aos antagonismos que criam, reproduzem sempre de uma forma ampliada a riqueza dos homens, é que se redescobre os processos intuitivos (portanto não lógico-racionalistas) como uma alternativa um pouco mais humana de relacionamento. A GUISA DE CONCLUSÃO A palavra intuição é compreendida de diferentes maneiras por diferentes pessoas. Para uns ela é o discernimento rápido, a percepção clara e imediata. Para outros é a capacidade de pressentir acontecimentos ou caminhos que levam a soluções de difíceis problemas. Mas onde e como se origina a intuição? Qual o seu significado? Os ensinamentos escolares são, muitas vezes e em muitas matérias, extensos e áridos, tendo pouco a ver com a realidade natural. Desde cedo os estudantes têm as suas mentes empanturradas de teorias abstratas na maior parte criadas pelo cérebro humano. O ideal seria aprender observando o inter-relacionamento da natureza com suas florestas, rios, mares, montanhas, fauna e flora, com o homem em sua capacidade pessoal e social de transformação, preservando a alegria de viver em diversidade. Os meios de comunicação também pressionam a mente com uma enormidade de informações elaboradas de tal forma que penetram em nosso íntimo com formas negativas e destrutivas. Os vídeo games e vídeo clipe também dão a sua contribuição no embrutecimento da sensibilidade infantil. Isso tudo sobrecarrega a mente. Ou então, a própria vaidade leva o indivíduo a complicar as coisas para valorizá-las ao invés de buscar a firmeza que há na simplificação. Assim, de geração em geração a intuição se tem esvaído da face da Terra. Muitos estudiosos estão percebendo que a busca frenética do cérebro para querer compreender tudo está levando a uma congestão mental, travando a tomada de decisões porque os seres humanos estão perdendo a capacidade de distinguir intuitivamente o caminho mais adequado. Sobrecarregados e inseguros ficam rodeando os problemas, fazendo analises sobre analises. Vacilantes, perderam a intuição até para as coisas mais simples. 6
  • 7. A intuição se tornou tão misteriosa e desconhecida devido ao próprio afastamento dos seres humanos que a deixaram de lado para se apegar com exclusividade ao raciocínio, quando na verdade, intuição e raciocínio deveriam trabalhar juntos. Algumas pessoas que não se deixaram dominar de todo pelo intelecto e que por isso mesmo ainda conservam alguma capacidade intuitiva, por vezes vislumbram idéias tão fortes que ao falarem, demonstram tanta firmeza e convicção que para muitos se afigura como ousadia ou impertinência, porque suas palavras são tão penetrantes que extravasam qualquer limitação, indo direto ao âmago do problema sem maiores rodeios ou delongas. Aqui temos uma esperança relacional, considerando que é isso que a ontologia da linguagem se propõe a fazer e é isso que as atuações de coaching buscam. Contudo, tais pessoas sempre encontram resistência exatamente da parte dos seres humanos predominantemente intelectivos, os quais se sentem afrontados por não perceberem que não se trata apenas de agilidade mental, mas sim da utilização de uma certa capacidade intuitiva perdida por eles, a qual os capacitaria a enxergar mais longe. Por isso mesmo não conseguem compreender com a mesma rapidez, procurando criar dificuldades com o seu desprezo ao invés de oferecerem o seu apoio e reconhecimento. A desconfiança impossibilita que haja uma sadia união de esforços. Mas num futuro não muito distante, espero, os seres humanos estarão alcançando o real significado dos processos relacionais, pois estarão adquirindo as distinções do equilíbrio entre a intuição e o raciocínio. Intuição é um caminho para o saber, igual a qualquer outra fonte de informação como enxergar, escutar, ler, etc. E como nestas outras fontes, você pode treinar-se para usar sua intuição. Com sua intuição educada, então, será possível decidir mais rápido, com menos esforço e com maior senso de realização. Por fim, Aqui vão algumas práticas, que podem ajudá-lo no processo, de treinamento de sua intuição. 1. Abra-se para as novidades. Assim, sua intuição poderá se infiltrar na sua consciência ao invés de ser filtrada pela sua consciência. 2. Respeite suas próprias emoções, sensações, sentimentos, pensamentos, pois quanto maior contato você tiver com o que você sente, mais fácil fica ouvir sua intuição. 3. Respeite a intuição dos outros. Isto não quer dizer que você deve aceitar tudo que os outros dizem, mas sim entender que nem tudo pode ser explicado. 4. Desista da vaidade e do medo de errar. Lembre-se: erros não destroem uma carreira, a vaidade sim. A vaidade é o quot;liquidificadorquot; de intuição. 5. Lembre-se que a intuição está sempre correta, mas fique alerta para a interpretação que você pode estar somando a ela. Você pode estar interpretando mal. 6. Entenda que a sua intuição chega a você passando por uma série de filtros (pressupostos culturais, preconceitos, falsas premissas) e que por isso alguns pensamentos intuitivos passam um mau pedaço para chegar até você ... e nem sempre chegam inteiros. 7. Teste sua intuição, comece a atuar de acordo com ela e busque descobrir o que está aprendendo. Pratique escutar e confiar na sua intuição, para pequenas e grandes decisões. Afinal, quando chega o momento, você nunca terá todos os elementos para poder decidir racionalmente, mesmo... Reflitam em paz! Homero Reis 7