Este documento descreve um projeto na ilha de Grande Canária, Espanha, que tem como objetivo promover o uso sustentável da água através da instalação de economizadores de água e campanhas de sensibilização. O projeto visa mobilizar a população rural e urbana para a proteção deste recurso natural escasso e testar novas abordagens de gestão da procura de água.
1. E24
GRANDE CANÁRIA (Canárias, Espanha)
A gestão racional da água,
tema mobilizador
A acção Elementos principais
O aprovisionamento de água é um objectivo crucial para a > Objectivo de gestão racional de um recurso natural raro, in-
Grande Canária. A gestão deste recurso, raro na ilha, conduz fluenciando a procura.
a breve prazo à necessidade de fazer escolhas de modelos de > Acção aparentemente simples, mas que põe em jogo mode-
desenvolvimento: será necessário aumentar as infra-estrutu- los de desenvolvimento e escolhas de sociedade.
ras de turismo balnear ou, pelo contrário, privilegiar a pro- > Objectivos importantes relacionados com as relações cidade-
tecção do ambiente e os modos de vida do meio rural insu- campo (concorrência entre serviços urbanos e agricultura em
lar? O grupo LEADER utiliza a experimentação de um econo- matéria de água); utilização do meio rural como laboratório;
mizador de água (promovido e introduzido localmente por mobilização simultânea das populações urbanas e rurais para
um particular) para mobilizar e sensibilizar a população para o desenvolvimento rural.
o desenvolvimento sustentável da ilha. A acção deveria > Tentativa de responder a problemas ligados à privatização de
igualmente contribuir para introduzir novamente valores e um serviço básico, de interesse colectivo.
actividades ancestrais (a cultura em socalcos, por exemplo) > Parceria público-privada ao serviço da promoção de algo ino-
profundamente alterados, quando não abandonados nestes vador.
últimos anos. > Utilização de uma nova tecnologia como alavanca de mobi-
lização social.
C o n t ex t o economia de água se terem generalizado na agricultura (gra-
A Grande Canária (“Gran Canaria”) é a mais povoada das 7 ças, designadamente, ao sistema de rega gota a gota), a fal-
ilhas habitadas do arquipélago das Canárias. A sua popula- ta de água é crónica e traduz-se pelo abandono acelerado
ção está igualmente repartida muito desigualmente: 400 000 das culturas em socalcos, daí a erosão dos solos e a degra-
dos 750 000 habitantes da ilha vivem na aglomeração de Las dação das paisagens.
Palmas. Mas a manutenção da agricultura não é só um problema eco-
lógico e económico. O abandono das actividades agrícolas,
A ilha sempre esteve confrontada a um importante défice de mesmo as mais rentáveis, por parte dos jovens, demonstra
recursos de água devido a uma pluviosidade desfavorável que estamos perante uma evolução profunda da sociedade
(entre 150 e 400 mm/ano). Este problema tem ganho pro- local. Os valores urbanos tomam a dianteira em relação aos
porções alarmantes nestes últimos anos com o crescimento valores rurais ancestrais; a relação do homem com a terra
demográfico, a urbanização e o desenvolvimento turístico mudou, o que representa, a breve prazo, uma ameaça para a
intensos da ilha. ilha, tendo em conta a sua grande fragilidade ecológica e o
papel incontornável da agricultura na luta contra a deserti-
O dessalinização da água do mar, técnica iniciada nos anos ficação.
60, permitiu resolver parcialmente o problema. O processo
responde hoje a cerca de 35% das necessidades em água, Ponto de partida
mas os seus custos são elevados. Um engenheiro industrial do Instituto Tecnológico das Caná-
rias descobriu a eficiência de um economizador de água
Para além disso, a privatização da distribuição da água, em numa formação de 3º ciclo em ambiente na Universidade de
1985, pôs em concorrência directa o consumo urbano e o Sevilha; um dos seus professores é originário de Saragoça
consumo para fins agrícolas: a companhia responsável pela (Aragão), cidade onde é utilizado com êxito um tipo de eco-
distribuição de água em Las Palmas, ao tentar contornar os nomizador de água a grande escala.
custos elevados do processo de dessalinização, realizou ofer-
tas de compra de água aos proprietários de poços em 1999 Segundo o en genheiro, o processo pode ter grande interes-
a 1,35 EUR/m; enquanto que os agricultores pagam a água se para as Canárias: trata-se de um dispositivo simples, que
entre 0,5 e 0,8 EUR/m;, a tarifa máxima que estes podem su- se fixa nas torneiras e que, ao aumentar a pressão da água
portar. à saída sob forma de jacto disperso permite uma economia
de água nas utilizações domésticas mais correntes (lavagem,
Com esta problemática da água, é o próprio futuro da agri- banhos de chuveiro, etc.). Daqui resulta uma economia mé-
cultura insular que está em jogo. Apesar das tecnologias de dia de 30% do consumo de uma família.
2. De regresso à Grande Canária, o engenheiro tentou chamar a > um estudo-diagnóstico completo sobre a utilização e a
atenção do sistema distribuidor de água de Las Palmas, que gestão racional da água;
o informou que a companhia não estava interessada em ven- > um programa de tarificação adaptado;
der menos água, bem pelo contrário... > a difusão dos resultados junto do grande público (jornais
e rádios locais) e do conjunto das municipalidades da
O engenheiro dirigiu-se então às autoridades municipais de Grande Canária.
Las Palmas que se mostraram interessadas, mas exigiram que
o sistema fosse primeiro testado em pequena escala, antes Orçamento e fontes de financiamento
de decidirem comprometer-se num investimento de grande O custo total do projecto eleva-se a cerca de 64 000 EUR, fi-
amplitude. Daí a ideia de testar o sistema em meio rural, an- nanciados em 75% pelo programa LEADER II.
tes de o transferir para o meio urbano.
Elementos inov ador es para a r egião
Por falta de interesse por parte dos diversos financiadores, o Mobilização e coesão social
promotor do projecto dirigiu-se ao grupo LEADER, que viu Apesar da sua e xecução estar ainda na fase inicial, a acção
nele uma alavanca de sensibilização e de mobilização a fa- já permitiu mobilizar um grande número de pessoas e insti-
vor do ambiente e do desenvolvimento local. tuições locais, enquadrando-se de imediato num objectivo
de mobilização do conjunto dos responsáveis e populações
Execução da ilha.
O grupo LEADER procurou então uma municipalidade rural
com uma população suficientemente concentrada para que a Identidade
experiência fosse transferível para o meio urbano, e não de- Enquanto que a falta de água nas Canárias sempre foi con-
masiado grande para que os resultados pudessem ser igual- siderada como um problema de oferta (pluviosidade insufi-
mente utilizáveis no meio rural difuso. O grupo LEADER aca- ciente, trabalhos hidráulicos inacabados, etc.), o projecto
bou por seleccionar a municipalidade de Teror (11 000 hab.), introduziu pela primeira vez uma lógica oposta, que é a ges-
cujo centro, escolhido como zona-teste, conta 7 000 habi- tão racional da procura. Esta nova iniciativa, que tenta
tantes. reduzir uma procura considerada excessiva, induz no consu-
Deu início um vasto processo de concertação entre as dife- midor um certo número de comportamentos que deixaram
rentes partes interessadas: o grupo LEADER, as autoridades de estar orientados por razões meramente económicas, mas
municipais, a empresa de fabrico e de distribuição dos eco- dizem respeito à sua relação com o seu espaço de vida e à
nomizadores fundada pelo engenheiro, assim como diversas protecção deste último.
associações e empresas locais. Foi criada uma parceria, que
resultou progressivamente num projecto global de gestão da Actividade e emprego
água pela procura. A acção inclui: O projecto é portador de novos ofícios no meio rural: para
> a instalação propriamente dita dos economizadores, tan- além da empresa que fabrica e fornece os economizadores
to em casa dos particulares como nas instituições públi- (criada pelo promotor do projecto), as acções de formação,
cas; a gestão da água, etc. são actividades que fazem apelo a no-
> utilizações demonstrativas para fins industriais ou comer- vas competências.
ciais;
> campanhas de sensibilização destinadas às populações lo- Gestão do espaço e dos recursos naturais
cais; A introdução de formações tais como a jardinagem, a educa-
> formações em gestão racional da água; ção ambiental e a formação em gestão da água vêm reforçar
> cursos de jardinagem e de manutenção do espaço tendo a importância deste recurso para manter um meio rural vivo
em conta a economia de água; e lutar contra a desertificação.
GRANDE CANÁRIA Contacto
A zona LEADER Medianas y Cumbres de Gran Canaria corres- Manuel Amador
ponde às partes da Grande Canária situadas a mais e 400 m AIDER Gran Canaria
de altitude, ou seja, 63% da superfície total da ilha. A zona C/ Queipo de Llano s/n
LEADER, que cobre 956 km2, conta 70 000 habitantes, ou Vega de San Mateo
seja cerca de 10% da população da ilha, maioritariamente Tel.: +34 28 66 07 38
concentrada nas encostas. O desequilíbrio demográfico em Fax: +34 28 66 07 08
proveito do litoral e das cidades, conjugado com um enve- E-mail: ader@infolapalma.com
lhecimento da população, acentuou-se fortemente nestes úl-
timos anos, pondo em perigo a sobrevivência da agricultura
e da pecuária. Ora, estas actividades desempenham um pa-
pel essencial na preservação do ambiente de uma região cujo
relevo é fortemente acidentado (desníveis que atingem
1 950 m) e com uma vegetação pobre.
1999 - Observatório Europeu LEADER/AEIDL