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CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO O QUE SÃO ARGUMENTOS


As falácias

Falácias são argumentos defeituosos ou fracos, raciocínios enganosos,
também chamados de “sofismas”. São formas que cometem erros formais
— quando desobedecem
algo em relação à lógica
— ou informais — quan-      entimemas
do têm problemas com o      Entimemas são silogismos completos em nossa
tipo de suporte que as pre- mente, mas incompletos na sua expressão. São
                            argumentos em que falta uma ou mais premissas.
missas dão às conclusões.   Veja este exemplo:
Há também argumentos
incompletos. [Lentime-         Se estiver chovendo, eu levarei meu guarda-chuva
mas] No capítulo 5 vamos       Portanto, levarei meu guarda-chuva
ver uma série de tipos de
argumentos falaciosos.      Neste argumento, falta a premissa “Está choven-
                               do.”. No dia-a-dia, usamos muitas formas como
                               essa, pois as premissas faltantes são óbvias ou
O formato padrão               implícitas e repeti-las pode cansar os ouvintes.
                               Contudo, é comum haver confusão justamente por
Expressões lingüísticas        causa de premissas faltantes. As entimemas ocor-
                               rem também quando as conclusões estão omissas:
têm muitos formatos dife-
rentes. Dependendo da                “Esse sujeito é um ladrão, ou então
criatividade do autor, uma                eu comerei meu chapéu”
frase pode ser mais ou        Ninguém em sã consciência se disporia a comer o
menos rebuscada, princi-      próprio chapéu. Portanto, a conclusão “Esse
palmente quando se pro-       sujeito é um ladrão” está implícita.
cura provocar um efeito
estético ou poético que
demonstre beleza, sofisticação ou erudição. Mas em argumentação, algumas
dessas construções podem ser inconvenientes, pois podem nos proporcionar
dificuldades em analisar a real estrutura lógica do argumento. É por essa
razão que, freqüentemente, temos que reconstruir o argumento de forma a
deixá-lo mais explícito, apresentando suas premissas com maior clareza e
sua conclusão bem destacada. Ajuda-nos muito nesta tarefa o chamado
formato padrão (standard form).

                                   Já que [premissa],
                FORMATO            e [premissa],
                 PADRÃO            e [premissa],
                                   Portanto, [conclusão]
Quando colocamos um argumento complexo em seu formato padrão,
obtemos nitidez que poderá nos auxiliar na investigação de sua validade e
                                                                             37
PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA


aceitabilidade. A seguir temos um exemplo que, como você perceberá, é
fictício:

          “Acabei de receber a informação de que, infelizmente, não é
          possível aceitar a cédula de votação do Sr. Etevaldo. Como
          pode ser claramente constatado, o Sr. Etevaldo é um alieníge-
          na, tendo chegado em sua nave espacial recentemente. Além
          do mais, pelo que me foi dito, o Sr. Etevaldo entrou neste país
          de forma ilegal, e, de acordo com nossas leis, isto impede que
          seu voto seja válido. Assim, eu gostaria que você informasse
          a ele que não podemos acolher o seu voto e que ele deve
          guardar já a sua arma de raios de plasma”

Nosso primeiro passo será localizar a conclusão. Neste caso, ela foi citada
logo no começo: “...não é possível aceitar a cédula de votação do Sr.
Etevaldo”. Esta já é uma diferença importante em relação ao formato
padrão, pois a conclusão veio antes de qualquer outra coisa. Agora vamos
localizar as premissas. Esta é uma delas: “...o Sr. Etevaldo é um alienígena”.
Outra premissa: “...entrou neste país de forma ilegal”, e finalmente “...de
acordo com nossas leis, isto impede que seu voto seja válido”. Com o uso
de algumas simplificações, já podemos montar o argumento em seu formato
padrão:

           Premissa:     Alienígenas ilegais não podem votar
           Premissa:     O Sr. Etevaldo é um alienígena ilegal
           Conclusão: O Sr. Etevaldo não pode votar
Note que montamos o formato padrão usando um modelo dedutivo válido,
ou seja, se aceitarmos temporariamente as premissas, somos obrigados a
também aceitar a conclusão. Esta é a forma mais forte de reconstruir o
argumento original.

Criticando o argumento

O Formato Padrão é útil para nos auxiliar no entendimento do que foi
proposto. Contudo, ele também serve para nos guiar durante a defesa
(contra-argumento). Por isso, proponho que nos coloquemos na pele do Sr.
Etevaldo por alguns instantes. De que forma poderíamos combater o
argumento acima? É claro que de nada adianta criticar a conclusão. Temos
que nos concentrar em atacar as premissas. Nisto o formato padrão nos
ajuda muito, já que, ao separar premissas e conclusões, evitamos criticar
estas últimas.


38
CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO O QUE SÃO ARGUMENTOS


          Uma forma de criticar a primeira premissa seria tentar buscar a lei
ou o decreto que determina que alienígenas ilegais não podem votar. Se essa
lei não existir ou se tiver sido revogada, então o argumento inteiro é
inválido.
          Para criticar a segunda premissa, pode-se apresentar evidências
que atestem que o Sr. Etevaldo não é um alienígena, mas apenas um cantor
de rock punk com um cabelo muito estranho. Ou então, que o Sr. Etevaldo
é mesmo um alienígena, mas é devidamente registrado e legalizado, tendo
passado por todas as condições para ser aceito dentro do país.
          Fica clara a grande vantagem da reconstrução em formato padrão:
todo o argumento ganha clareza e permite que nos concentremos em avaliar
cada um dos suportes dados à conclusão. Basta encontrar um problema com
uma das premissas para que todo o argumento fique comprometido. Na pior
das hipóteses, a crítica a uma das premissas irá forçar o outro argumentador
a buscar uma nova forma de justificar essa premissa, e assim o debate
prossegue de forma racional.

Táticas para montagem do formato padrão

Na montagem do formato padrão, somos auxiliados por padrões que
freqüentemente indicam onde se localizam os componentes importantes.
Usando essas informações, é possível estabelecer alguns passos para criar
boas versões padrões de argumentos.

Localizar a conclusão
A conclusão (alegação, julgamento, asserção) é o primeiro aspecto que
devemos determinar. Ela em geral está expressa no texto após algumas
palavras-chave típicas:

          ... portanto, [C]
          ... então, [C]
          ... assim, [C]
          ... desta forma, temos [C]
          ... segue que [C]
          ... de onde se conclui que [C]

Omitir informações desnecessárias
É útil omitir, no formato padrão, toda sorte de informação acessória e
desnecessária para as premissas e conclusões. Deve-se retirar fatos sem
importância, piadas, curiosidades, introduções, elogios, cumprimentos,
ataques à pessoa, tiradas irônicas, auto-elogio, informação repetida, etc.
Perdem-se a beleza poética e retórica, mas ganha-se em clareza.

                                                                          39
PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA


Localizar as premissas
Todas as premissas que oferecem suporte à conclusão devem ser localizadas
e explicitadas no formato padrão. Basta seguir os indicadores típicos:

         ... [P] mostra que [C]
         ... [P] nos leva a crer que [C]
         ... [P] sugere que [C]
         ... [C] foi provada por [P]
         ... [C] decorre de [P]
         ... desde que [P]
         ... porque [P]
         ... dado que [P]

Torne as frases autônomas
É freqüente, em uma construção lingüística, usarmos pronomes e outros
artifícios para evitar mencionar novamente o sujeito ou objeto do comentá-
rio. Durante a reconstrução, deve-se substituir os pronomes, para tornar as
frases explícitas e auto-suficientes:

         “... ele foi muito agressivo...”
         Quem foi?
          “... José foi muito agressivo...”

         “Isto foi ineficaz para conter ...”
         O que foi ineficaz?
         “A redução de impostos foi ineficaz para conter ...”

Um exemplo de argumento composto
Vimos que as premissas de um argumento podem ser fatos (evidências) ou
então podem ser conclusões de argumentos anteriores. Neste exemplo
vamos transformar um argumento de sua forma original para a forma padrão
e a seguir vamos usar o diagrama do triângulo que apresentamos anterior-
mente para mostrar como fica o suporte de um argumento por outro. Isto irá
exemplificar como podemos fazer desenhos construídos de forma encadea-
da. Eis o argumento inicial:

         “A venda controlada de armas, na qual o governo exige que
         seus proprietários a registrem, não irá prevenir que criminosos
         tenham acesso a essas armas, o que torna esse controle
         ineficaz na prevenção de crimes cometidos com armas de
         fogo”


40
CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO O QUE SÃO ARGUMENTOS


A transformação em formato padrão é relativamente simples, envolvendo
a criação de premissas que satisfaçam a intenção original do argumentador
(veja também o Princípio da Caridade, mais adiante):

        P1 Toda arma deve ser registrada por seu usuário
        P2 Falta de registro dificulta a prevenção de crimes
        P3 Criminosos têm acesso a armas sem registro
        C1 Registro de armas é ineficaz na prevenção de crimes
De todas as premissas usadas, a mais questionável parece ser a premissa P3,
pois fala que criminosos podem ter acesso a armas sem registro. [Lquestio-
nar] Todo o argumento
acima poderia ser questio-
nado simplesmente ao le-       questionar
vantarmos dúvidas sobre a      Durante um debate, aquele que ouve a exposição
aceitabilidade dessa pre-      do argumento poderia questionar qualquer uma
missa. Para que o debate       das premissas. Mas é claro que o bom senso tem
                               que imperar, e só devemos questionar aquelas que
prossiga, será necessário      realmente não parecem ser aceitáveis.
providenciar alguma forma
de suporte para essa pre-
missa e neste caso vamos fazer isso através de um outro argumento:

          “Um mercado negro de armamentos opera livremente no país
          e o governo é impotente para controlá-lo. Portanto, criminosos
          terão acesso a armas sem registro.”

A transformação deste argumento em uma forma padrão também é simples.

    P4 Há um mercado negro de armamentos operando no país
    P5 O governo não tem condições de controlá-lo
    P6 Criminosos têm acesso a esse mercado negro
    C2 Criminosos têm fácil acesso a armas de fogo sem registro

Todas essas premissas podem, em tese, ser suportadas
através de dados estatísticos ou históricos, ou seja,           C1
através de evidências — que devem ser apresentadas,
no caso de haver questionamentos. A conclusão C2 é                         P3
a nossa premissa P3 e assim, conseguimos dar suporte
                                                                      C2
ao nosso caso. O desenho ao lado mostra como seria
a construção dessa seqüência usando o modelo que          P1   P2
introduzimos anteriormente.
                                                                    P4 P5 P6

                                                                                41
PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA


O princípio da caridade
Toda vez que transformamos um argumento em sua forma padrão, somos
obrigados a executar algumas alterações importantes. O Princípio da
Caridade prega que devemos fazer essa reconstrução da forma mais forte,
ou seja, entendendo e explicitando as premissas com as quais o oponente
pareceu se preocupar, inclusive com as premissas implícitas. Isto parece
estar claro na reconstrução que fizemos acima, no exemplo envolvendo
armas não registradas.
          Para fazer isso, a reconstrução deve de alguma forma mostrar as
interpretações mais fortes das premissas que foram fornecidas, fazendo a
“caridade” de declará-las da maneira mais justa, principalmente se é óbvio
que elas fazem parte da intenção original do outro argumentador. Esta
medida irá realçar para ele que você tem a disposição de prosseguir com a
discussão de uma maneira justa, imparcial e produtiva. Veja como isto
poderia funcionar em um exemplo prático:

          “Arte é criativa. Aquela pilha de tijolos ali é criativa, portanto
          é arte!”

Arte é sempre uma questão difícil de discutir. Há duas formas de interpretar
a premissa “Arte é criativa”.

     a)   “Arte é criativa” significando “Todas as atividades artísticas
          envolvem criatividade”
          Nesta interpretação, procurou-se afirmar que toda expressão
          criativa é naturalmente artística, e isso daria certo suporte para a
          conclusão oferecida. Mas essa não é a única interpretação que a
          premissa admite.

     b)   “Arte é criativa” significando “Qualquer coisa que é criativa, é
          necessariamente uma forma de arte”
          Esta interpretação da premissa poderia ser mais facilmente
          questionada, já que, por exemplo, é possível dizer que “adminis-
          tração de empresas é freqüentemente criativa e não parece ser uma
          forma de arte”.

Assim, se nada tivéssemos contra a idéia de considerar administração de
empresas como uma forma de arte, a opção a) seria mais “caridosa” em
termos de interpretação.
          A reconstrução do argumento oponente pode também se ocupar
de limpá-lo, ou seja, eliminar premissas irrelevantes e alterar o linguajar de

42
CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO O QUE SÃO ARGUMENTOS


forma a tornar a frase mais clara e compreensível. Se o outro argumentador
concordar com nossa reconstrução, teremos sido caridosos em nossa
interpretação, além de ter melhorado a forma e conservado a essência. Outra
implicação do Princípio da Caridade é relativa ao que fazer com as
premissas que tenham caráter dúbio, com mais de uma interpretação. O
princípio sugere que se deve escolher a interpretação que providencie o mais
forte suporte à conclusão proposta.
          Porém, o Princípio da Caridade não deve ser levado a extremos:
caso faltem premissas para tornar o argumento do oponente mais sólido, não
é nossa obrigação fornecê-las durante a reconstrução. Não devemos
adicionar nada ao argumento original que não esteja claramente implícito
no que foi dito. Caso contrário, estaríamos construindo o nosso argumento,
e não reconstruindo o do oponente.

O encargo da prova
Vimos que quem propõe um argumento está alegando alguma coisa. Suas
premissas são, idealmente, suporte à alegação que está sendo proposta. O
Encargo da Prova é o princípio que afirma que aquele que está propondo a
alegação é também o responsável em providenciar seu suporte. Parece
óbvio, não? Mas existem enganos freqüentes derivados da má interpretação
desse princípio.
          Um desses enganos ocorre quando quem propõe uma alegação
exige, de quem a ouve, a prova de que ele está errado.

          “Minha teoria afirma que a Terra é, na verdade, oca e que há
          uma outra civilização morando embaixo da crosta”

                    “Puxa! Isso é bastante difícil de acreditar. Que
                    evidências você dispõe para mostrar que isso é
                    verdadeiro? Não consigo acreditar nisso que você
                    diz”

          “Ora, por que você duvida do que eu disse? Qual a prova que
          você tem de que não pode haver uma civilização embaixo da
          crosta terrestre?”

Quem ouve a alegação não tem que provar — nem refutar — nada: esta é
a posição na qual se é todo ouvidos, ou seja, quem está fazendo a alegação
é que deve providenciar todos os suportes necessários. Cabe aos ouvintes
apenas concordar ou questionar, dizendo, por exemplo, “Como foi que você
concluiu isso?” ou então “Não concordo com essa premissa, justifique-a”.
Neste último caso, o argumentador deve providenciar um novo argumento

                                                                         43

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  • 1. CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO O QUE SÃO ARGUMENTOS As falácias Falácias são argumentos defeituosos ou fracos, raciocínios enganosos, também chamados de “sofismas”. São formas que cometem erros formais — quando desobedecem algo em relação à lógica — ou informais — quan- entimemas do têm problemas com o Entimemas são silogismos completos em nossa tipo de suporte que as pre- mente, mas incompletos na sua expressão. São argumentos em que falta uma ou mais premissas. missas dão às conclusões. Veja este exemplo: Há também argumentos incompletos. [Lentime- Se estiver chovendo, eu levarei meu guarda-chuva mas] No capítulo 5 vamos Portanto, levarei meu guarda-chuva ver uma série de tipos de argumentos falaciosos. Neste argumento, falta a premissa “Está choven- do.”. No dia-a-dia, usamos muitas formas como essa, pois as premissas faltantes são óbvias ou O formato padrão implícitas e repeti-las pode cansar os ouvintes. Contudo, é comum haver confusão justamente por Expressões lingüísticas causa de premissas faltantes. As entimemas ocor- rem também quando as conclusões estão omissas: têm muitos formatos dife- rentes. Dependendo da “Esse sujeito é um ladrão, ou então criatividade do autor, uma eu comerei meu chapéu” frase pode ser mais ou Ninguém em sã consciência se disporia a comer o menos rebuscada, princi- próprio chapéu. Portanto, a conclusão “Esse palmente quando se pro- sujeito é um ladrão” está implícita. cura provocar um efeito estético ou poético que demonstre beleza, sofisticação ou erudição. Mas em argumentação, algumas dessas construções podem ser inconvenientes, pois podem nos proporcionar dificuldades em analisar a real estrutura lógica do argumento. É por essa razão que, freqüentemente, temos que reconstruir o argumento de forma a deixá-lo mais explícito, apresentando suas premissas com maior clareza e sua conclusão bem destacada. Ajuda-nos muito nesta tarefa o chamado formato padrão (standard form). Já que [premissa], FORMATO e [premissa], PADRÃO e [premissa], Portanto, [conclusão] Quando colocamos um argumento complexo em seu formato padrão, obtemos nitidez que poderá nos auxiliar na investigação de sua validade e 37
  • 2. PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA aceitabilidade. A seguir temos um exemplo que, como você perceberá, é fictício: “Acabei de receber a informação de que, infelizmente, não é possível aceitar a cédula de votação do Sr. Etevaldo. Como pode ser claramente constatado, o Sr. Etevaldo é um alieníge- na, tendo chegado em sua nave espacial recentemente. Além do mais, pelo que me foi dito, o Sr. Etevaldo entrou neste país de forma ilegal, e, de acordo com nossas leis, isto impede que seu voto seja válido. Assim, eu gostaria que você informasse a ele que não podemos acolher o seu voto e que ele deve guardar já a sua arma de raios de plasma” Nosso primeiro passo será localizar a conclusão. Neste caso, ela foi citada logo no começo: “...não é possível aceitar a cédula de votação do Sr. Etevaldo”. Esta já é uma diferença importante em relação ao formato padrão, pois a conclusão veio antes de qualquer outra coisa. Agora vamos localizar as premissas. Esta é uma delas: “...o Sr. Etevaldo é um alienígena”. Outra premissa: “...entrou neste país de forma ilegal”, e finalmente “...de acordo com nossas leis, isto impede que seu voto seja válido”. Com o uso de algumas simplificações, já podemos montar o argumento em seu formato padrão: Premissa: Alienígenas ilegais não podem votar Premissa: O Sr. Etevaldo é um alienígena ilegal Conclusão: O Sr. Etevaldo não pode votar Note que montamos o formato padrão usando um modelo dedutivo válido, ou seja, se aceitarmos temporariamente as premissas, somos obrigados a também aceitar a conclusão. Esta é a forma mais forte de reconstruir o argumento original. Criticando o argumento O Formato Padrão é útil para nos auxiliar no entendimento do que foi proposto. Contudo, ele também serve para nos guiar durante a defesa (contra-argumento). Por isso, proponho que nos coloquemos na pele do Sr. Etevaldo por alguns instantes. De que forma poderíamos combater o argumento acima? É claro que de nada adianta criticar a conclusão. Temos que nos concentrar em atacar as premissas. Nisto o formato padrão nos ajuda muito, já que, ao separar premissas e conclusões, evitamos criticar estas últimas. 38
  • 3. CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO O QUE SÃO ARGUMENTOS Uma forma de criticar a primeira premissa seria tentar buscar a lei ou o decreto que determina que alienígenas ilegais não podem votar. Se essa lei não existir ou se tiver sido revogada, então o argumento inteiro é inválido. Para criticar a segunda premissa, pode-se apresentar evidências que atestem que o Sr. Etevaldo não é um alienígena, mas apenas um cantor de rock punk com um cabelo muito estranho. Ou então, que o Sr. Etevaldo é mesmo um alienígena, mas é devidamente registrado e legalizado, tendo passado por todas as condições para ser aceito dentro do país. Fica clara a grande vantagem da reconstrução em formato padrão: todo o argumento ganha clareza e permite que nos concentremos em avaliar cada um dos suportes dados à conclusão. Basta encontrar um problema com uma das premissas para que todo o argumento fique comprometido. Na pior das hipóteses, a crítica a uma das premissas irá forçar o outro argumentador a buscar uma nova forma de justificar essa premissa, e assim o debate prossegue de forma racional. Táticas para montagem do formato padrão Na montagem do formato padrão, somos auxiliados por padrões que freqüentemente indicam onde se localizam os componentes importantes. Usando essas informações, é possível estabelecer alguns passos para criar boas versões padrões de argumentos. Localizar a conclusão A conclusão (alegação, julgamento, asserção) é o primeiro aspecto que devemos determinar. Ela em geral está expressa no texto após algumas palavras-chave típicas: ... portanto, [C] ... então, [C] ... assim, [C] ... desta forma, temos [C] ... segue que [C] ... de onde se conclui que [C] Omitir informações desnecessárias É útil omitir, no formato padrão, toda sorte de informação acessória e desnecessária para as premissas e conclusões. Deve-se retirar fatos sem importância, piadas, curiosidades, introduções, elogios, cumprimentos, ataques à pessoa, tiradas irônicas, auto-elogio, informação repetida, etc. Perdem-se a beleza poética e retórica, mas ganha-se em clareza. 39
  • 4. PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA Localizar as premissas Todas as premissas que oferecem suporte à conclusão devem ser localizadas e explicitadas no formato padrão. Basta seguir os indicadores típicos: ... [P] mostra que [C] ... [P] nos leva a crer que [C] ... [P] sugere que [C] ... [C] foi provada por [P] ... [C] decorre de [P] ... desde que [P] ... porque [P] ... dado que [P] Torne as frases autônomas É freqüente, em uma construção lingüística, usarmos pronomes e outros artifícios para evitar mencionar novamente o sujeito ou objeto do comentá- rio. Durante a reconstrução, deve-se substituir os pronomes, para tornar as frases explícitas e auto-suficientes: “... ele foi muito agressivo...” Quem foi? “... José foi muito agressivo...” “Isto foi ineficaz para conter ...” O que foi ineficaz? “A redução de impostos foi ineficaz para conter ...” Um exemplo de argumento composto Vimos que as premissas de um argumento podem ser fatos (evidências) ou então podem ser conclusões de argumentos anteriores. Neste exemplo vamos transformar um argumento de sua forma original para a forma padrão e a seguir vamos usar o diagrama do triângulo que apresentamos anterior- mente para mostrar como fica o suporte de um argumento por outro. Isto irá exemplificar como podemos fazer desenhos construídos de forma encadea- da. Eis o argumento inicial: “A venda controlada de armas, na qual o governo exige que seus proprietários a registrem, não irá prevenir que criminosos tenham acesso a essas armas, o que torna esse controle ineficaz na prevenção de crimes cometidos com armas de fogo” 40
  • 5. CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO O QUE SÃO ARGUMENTOS A transformação em formato padrão é relativamente simples, envolvendo a criação de premissas que satisfaçam a intenção original do argumentador (veja também o Princípio da Caridade, mais adiante): P1 Toda arma deve ser registrada por seu usuário P2 Falta de registro dificulta a prevenção de crimes P3 Criminosos têm acesso a armas sem registro C1 Registro de armas é ineficaz na prevenção de crimes De todas as premissas usadas, a mais questionável parece ser a premissa P3, pois fala que criminosos podem ter acesso a armas sem registro. [Lquestio- nar] Todo o argumento acima poderia ser questio- nado simplesmente ao le- questionar vantarmos dúvidas sobre a Durante um debate, aquele que ouve a exposição aceitabilidade dessa pre- do argumento poderia questionar qualquer uma missa. Para que o debate das premissas. Mas é claro que o bom senso tem que imperar, e só devemos questionar aquelas que prossiga, será necessário realmente não parecem ser aceitáveis. providenciar alguma forma de suporte para essa pre- missa e neste caso vamos fazer isso através de um outro argumento: “Um mercado negro de armamentos opera livremente no país e o governo é impotente para controlá-lo. Portanto, criminosos terão acesso a armas sem registro.” A transformação deste argumento em uma forma padrão também é simples. P4 Há um mercado negro de armamentos operando no país P5 O governo não tem condições de controlá-lo P6 Criminosos têm acesso a esse mercado negro C2 Criminosos têm fácil acesso a armas de fogo sem registro Todas essas premissas podem, em tese, ser suportadas através de dados estatísticos ou históricos, ou seja, C1 através de evidências — que devem ser apresentadas, no caso de haver questionamentos. A conclusão C2 é P3 a nossa premissa P3 e assim, conseguimos dar suporte C2 ao nosso caso. O desenho ao lado mostra como seria a construção dessa seqüência usando o modelo que P1 P2 introduzimos anteriormente. P4 P5 P6 41
  • 6. PENSAMENTO CRÍTICO E ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA O princípio da caridade Toda vez que transformamos um argumento em sua forma padrão, somos obrigados a executar algumas alterações importantes. O Princípio da Caridade prega que devemos fazer essa reconstrução da forma mais forte, ou seja, entendendo e explicitando as premissas com as quais o oponente pareceu se preocupar, inclusive com as premissas implícitas. Isto parece estar claro na reconstrução que fizemos acima, no exemplo envolvendo armas não registradas. Para fazer isso, a reconstrução deve de alguma forma mostrar as interpretações mais fortes das premissas que foram fornecidas, fazendo a “caridade” de declará-las da maneira mais justa, principalmente se é óbvio que elas fazem parte da intenção original do outro argumentador. Esta medida irá realçar para ele que você tem a disposição de prosseguir com a discussão de uma maneira justa, imparcial e produtiva. Veja como isto poderia funcionar em um exemplo prático: “Arte é criativa. Aquela pilha de tijolos ali é criativa, portanto é arte!” Arte é sempre uma questão difícil de discutir. Há duas formas de interpretar a premissa “Arte é criativa”. a) “Arte é criativa” significando “Todas as atividades artísticas envolvem criatividade” Nesta interpretação, procurou-se afirmar que toda expressão criativa é naturalmente artística, e isso daria certo suporte para a conclusão oferecida. Mas essa não é a única interpretação que a premissa admite. b) “Arte é criativa” significando “Qualquer coisa que é criativa, é necessariamente uma forma de arte” Esta interpretação da premissa poderia ser mais facilmente questionada, já que, por exemplo, é possível dizer que “adminis- tração de empresas é freqüentemente criativa e não parece ser uma forma de arte”. Assim, se nada tivéssemos contra a idéia de considerar administração de empresas como uma forma de arte, a opção a) seria mais “caridosa” em termos de interpretação. A reconstrução do argumento oponente pode também se ocupar de limpá-lo, ou seja, eliminar premissas irrelevantes e alterar o linguajar de 42
  • 7. CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO O QUE SÃO ARGUMENTOS forma a tornar a frase mais clara e compreensível. Se o outro argumentador concordar com nossa reconstrução, teremos sido caridosos em nossa interpretação, além de ter melhorado a forma e conservado a essência. Outra implicação do Princípio da Caridade é relativa ao que fazer com as premissas que tenham caráter dúbio, com mais de uma interpretação. O princípio sugere que se deve escolher a interpretação que providencie o mais forte suporte à conclusão proposta. Porém, o Princípio da Caridade não deve ser levado a extremos: caso faltem premissas para tornar o argumento do oponente mais sólido, não é nossa obrigação fornecê-las durante a reconstrução. Não devemos adicionar nada ao argumento original que não esteja claramente implícito no que foi dito. Caso contrário, estaríamos construindo o nosso argumento, e não reconstruindo o do oponente. O encargo da prova Vimos que quem propõe um argumento está alegando alguma coisa. Suas premissas são, idealmente, suporte à alegação que está sendo proposta. O Encargo da Prova é o princípio que afirma que aquele que está propondo a alegação é também o responsável em providenciar seu suporte. Parece óbvio, não? Mas existem enganos freqüentes derivados da má interpretação desse princípio. Um desses enganos ocorre quando quem propõe uma alegação exige, de quem a ouve, a prova de que ele está errado. “Minha teoria afirma que a Terra é, na verdade, oca e que há uma outra civilização morando embaixo da crosta” “Puxa! Isso é bastante difícil de acreditar. Que evidências você dispõe para mostrar que isso é verdadeiro? Não consigo acreditar nisso que você diz” “Ora, por que você duvida do que eu disse? Qual a prova que você tem de que não pode haver uma civilização embaixo da crosta terrestre?” Quem ouve a alegação não tem que provar — nem refutar — nada: esta é a posição na qual se é todo ouvidos, ou seja, quem está fazendo a alegação é que deve providenciar todos os suportes necessários. Cabe aos ouvintes apenas concordar ou questionar, dizendo, por exemplo, “Como foi que você concluiu isso?” ou então “Não concordo com essa premissa, justifique-a”. Neste último caso, o argumentador deve providenciar um novo argumento 43