O documento descreve um encontro de oração dos membros do Renovamento Carismático Católico na Igreja de Santa Isabel em Lisboa. O movimento tem ganhado força em Portugal e atrai dezenas de milhares de adeptos com missas próprias e encontros de oração para louvar a Deus. Os carismáticos acreditam na efusão do Espírito Santo e usam dons como falar em línguas desconhecidas durante a oração.
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
RCC semanário SOL (revista tabu)
1. A música ouve-se ainda antes de se
atravessar as portas da Igreja de Santa
Isabel, em Lisboa. É terça-feira à noite e
há dezenas de braços erguidos no ar. To-
dos cantam: «Vem Espírito Santo, Vemí».
Mal a música termina explodem numa
salva de palmas que contagia o altar; onde
um padre e sete católicos de mãos dadas
formam uma corrente.
Esta não é uma missa tradicional, mas
um encontro de oração dos membros do
o Renovamento Carismático está a ganhar força em Portugal e Renovamento Carismático, um movi-
tem cada vez mais adeptos entre os católicos. Serão já dezenas mento da Igreja Católica que tem cada
vez mais adeptos em Portugal. Chegou
de milhares em todo o país. Têm missas próprias, que frequentam
ao país em 1974e hoje terá dezenas de mi-
além das tradicionais, e encontros de oração para louvar a Deus lhares de seguidores de Norte a Sul. No
Texto de Joana Ferreira da Costa Fotografias de Raquel Wlse mundo, serão cerca de 110milhões.
2. A cada reunião há sempre uma cara
nova, garantem os fiéis que nesta noite
gelada e de chuva enchem quase metade
da igreja lisboeta. Quando há missa ca-
rismática é que o espaço «fica repleto, há
gente mesmo até à porta». Reúnem-se ali
mais de 300 pessoas.
As palmas põem fim a mais de hora e
meia de oração, sempre intercalada por
cânticos. Os carismáticos levam à letra
as palavras de Santo Agostinho, que di-
zia que «cantar é rezar duas vezes». Têm
um coro durante a oração e cantam sem-
pre que termina cada oração feita de im-
proviso por uma das oito pessoas senta-
das lado a lado nas cadeiras que enchem
o altar.
Há salmos, hinos tradicionais em latim
e uma língua desconhecida e incom-
preensível. «Rezamos em línguas, que é cheia. Além dos Carismáticos, também nha todas as terças-feiras. Rezava muito
um dos carismas do Espírito Santo», vai os Focolares ou o Movimento de Schoens- e iniciei um caminho de cura que me tor-
explicando João, 65 anos, um dos mem- tatt - que chegaram a Portugal na déca- nou uma mulher nova». Ali, tem sempre
bros do movimento. <<É dom que se
um da de 60 e 70do século XX pela mão de pa- vontade de regressar.
recebe, deixamo-nos ir e os sons saem dres - têm cada vez mais adeptos. Reú-
sem esforço. Mas nem todos os carismá- nem-se para rezar, em encontros onde Fugia do seminário
ticos o conseguem fazer e por isso cada também participam jovens e até crian- para a oração
um canta como pode». ças, ou em peregrinações. o padre João Luís Paixão também sai
A oração continua depois de mais um Numa das capelas do movimento de «destes encontros sempre a querer mais».
cântico, sempre ao ritmo do improviso. Nossa Senhora de Schoenstatt em Lisboa, Vem de Cacilhas, na outra margem do Te-
O microfone passa para a mão de uma no Restelo, juntam-se todos os domingos jo, para Santa Isabel, onde partilha o al-
das seis mulheres no altar. Nesta noite, dezenas e dezenas de famílias, com mui- tar com outros fiéis. «Para mim o Cris-
todas as orações se voltam para o Vatica- tianismo é encontro. Aqui há um encon-
no, onde o conclave está ainda reunido. «As pessoas vão à missa como tro com Deus, não só afectivo mas
Só no dia seguinte será escolhido o car- vão ao café, num ritual, e saem efectivo», diz o sacerdote, que ainda antes
deal Bergoglio como o sucessor de Bento com cara de enterro. Aqui de ser ordenado padre já era carismáti-
XVI. Por isso, falar do «vazío na cadeira libertam-se», diz o padre coo«Fugía do seminário para poder par-
de Pedro» é incontornável. Na oração ticipar na oração».
pede-se que os cardeais reunidos «façam tas crianças e jovens. «São missas leves, Para este pároco muitos católicos vivem
a vontade de Deus». Reza-se por João Pau- onde os padres são jovens e falam sobre a missa como mais um ritual, o que aju-
lo 11. Só depois por Bento XVI, o Papa a forma de ultrapassar os problemas e da a explicar o seu progressivo afasta-
.Eméríto, recolhido em Castel Gandolfo melhorar o dia-a-dia», conta Catarina, de mento das celebrações tradicionais. <<As
desde que resignou. 40 anos. «Sentimo-nos bem quando saía- pessoas vão à missa como vão ao café,
mos dali. Saímos alegres». num rítual, e saem com cara de enterro»,
Acolher os católicos para Foi isso que Ana, de 55 anos, divorcia- lamenta. «Aqui as pessoas libertam-se,
combater o afastamento da e afastada da Igreja há vários anos, deixam-se navegar. Rezamos com as
Num país onde o número de católicos descobriu nos carismáticos. «Reencon- mãos, rezamos com o corpo e extravasa-
está a diminuir e a participação nas mis- trei aqui o Jesus da minha infância», ex- mos a nossa alegria. Isso faz muita falta
sas de domingo é cada vez mais reduzi- plica. Foi o acolhimento que aqui rece- nos dias de hoje».
da, sobretudo nas-grandes cidades, há beu que a fez mudar de vida, deixando Os braços estão constantemente no ar
movimentos na Igreja que têm casa para trás o álcool. «Comecei por vir sozi- e muitos rezam de mãos abertas, como é ~
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3. o coro tem mais de uma
dezena de elementos e
canta durante toda a
oração, acompanhado pOr
um órgão. Há cânticos em,
latim e músicas tradicionais.
mas os carismáticos têm
repertório próprio, que é
cantado por todos os fiéis
nas cerimónias
tualidade ligada ao Espirito Santo.
«Este não é um movimento de ideias
teológicas ou de concepções sobre a
vida espiritual É umfenómeno místí-
00; as pessoasapaixonam-sepor Deus»,
explica Mário Pinto, professor de Di-
vulgar entre os padres. A forma como todos parti- Nessa noite Maria Emilia é o centro reito da Universidade Católica,que per-
cipam faz o tempo passar a correr, garante João. das atenções. Faz anos e tem direito a tence aos carismáticos há 24 anos. <<Não
«Vamo-nos libertando aos poucos. Mas lembro-me uma oração especial. De joelhos no há um fundador, não há regras. O que
que quando comecei a participar nos encontros, o centro do altar, o padre João e os ou- háé uma enorme en1rega».
tempo passava e nem me lembrava de fumar». tros carismáticos rodeiam-na e rezam O movimento chegou a Portugal
As missas carismáticas podem demorar duas ho- com as mãos sobre a sua cabeça. no mesmo ano da revolução de 25
ras, porque apesar de seguirem a liturgia tradicio- . de Abril, pela mão do padre Lapa,
nal há momentos de oração mais prolongados e a Sem fundador da comunidade Espiritana da Es-
música está sempre presente. E todos os meses há nem hierarquia trela, em Lisboa. O padre começou
encontros de oração que não duram menos de hora o Renovamento Carismático que nas- por formar um grupo de oração,
e meia. Ninguém parece importar-se. «As pessoas ceu na Universidade Católica de Du- que se encontrava semanalmente
querem libertar-se e aqui a entrega é grande», diz o quesne nos EUA,no frnalda década de para rezar à porta fechada. A pri-
padre João Luís. 60,defende uma renovação da espiri- meira missa aberta aconteceria no
4. PEDIDOS DE AJUDA traçadodépojsda~odafnJilcafaztemer Iamenlepranllroapoioem(luaSiÚ'eilSJIriaM;i-
SUBlRAMII% oplor. CoiDa!ljuda de cerca dedolsmU voIun- pais:allmelllaçlQehph4taçAoA adtasJ!l1!Pll-
VOWNTÁRIOS GARANTEM RESPOSTA táItos,aCáittasdlSbtlRdulefelç6es,roupasell- ra-setambémpua apoIarosdas !llPieaados.
SOCIAL DA IGREJA nandou com dinheiro nmdas de casa epropl- ·lnõentlvando-osaataroseu~~_
Os pecUdos de ajuda à Cái'itàssublram 60% DO nasdeestudáides,despesas comps,eledricl- AIgIejacatóJk:aéN&pClllSl!lvelJlOl'17460111as
i1DOpa55iIdo,sobnlluclO~Pi!P"M"*'derea- dadeesaúdea56.235famfUas. deacçAosoclal~p;ds.SIoaeclH!S.JBrntnsde
das de casa. facturàs de Ps e lUze prestaç6es «Vamosb!tdeserc:adavezmaisatlerieSosna infAnda,Jareseequlpasde~doinIr:ftIArtó,
bancárias. «Houve umaw:tleDto brutald05 pe- ~dãquelesquepodemosaludar».adIid- Çiijofimckm;gnento~dlfa laiiM+ilh+éIa
did05deajudaemrelaçãoa2OD. OnúJnerode teEqénioFonseca,lembIaDdoquea verbaan- ~daJgreja.DesdeoélllavaiDeJdoda
novos casos subiu 45%». expUca aoSOL Eusé- gariadaparaoFUndoSodaldaJpejaCsobretu- SitüaçIoeconóndéaque,~aoape-
DioFonseca,presidentedeSteorganlsmo.Noto- do através deContrlbutos de empresas) e pelo lo~bIspos,aspalÕqUJassetêm~
taL as 20 Cáritas dlocesanas espalhadas pelo peditórlonadoí:lalnlocbegaparafazerfaceao ~aumentarestesapoi()S,abavés.vo1un- .
pafsajudaram mais de 158300 pe5SQa!! o aao
n ~daSlluaçio.Parajá,esteOlpnismo tários.HáparóquJasondesesenem.,,380
PàSSadO.«Eospedidosvãoagravar-seestei1DO». catóDco prepara-se para rec:Iefil1II'as
pric:)rid;t- ~ PQrdia e se faz apoio doàiltili;árió a
a1eJ:taoresponsãveJ.,lembràndoqueocenário despara~ano;sabendoqueaescolbílvücer- . idôsosqueviVemSÓfl. .lF.(:.
final de 1974 e reuniu 120 pessoas. Em Fátima reúnem-se três memória dessa experiência», explica Mário Pin-
Na celebração seguinte, em Janei- mil pessoas, a capacidade to. <<É uma renovação dos dons do baptismo».
ro, eram já 200 e o movimento nun- múbna do espáço. Há cerca de três semanas, um grupo de 40crentes
ca mais parou de crescer. recebeu a infusão do Espírito. É nesta cerímônia
Por todo o país se formaram gru-
Mas houve anos em que os que os carismáticos acreditam que o Espírito San-
pos de oração, que podem rezar em pedidos foram tantos que se to se revela, dando a cada um dons, os chamados
conjunto, mesmo sem a presença de organizaram dois encontros carismas, que devem ser usados para o bem da co-
padres. Os grupos reúnem-se em pa- munidade. «O que acontece é muito semelhante ao
róquias onde os padres são carísmá- descrito nos actos dos Apóstolos durante os bap-
ticos ou permitem que as portas se Efusio do espírito tismos dos primeiros cristãos. Éum momento úni-
abram a estes católicos, como é o Todos os anos, durante a Quares- co e ínesquecível», remata Mário Pinto,
caso da paróquia de Santa Isabel. ma, realizam-se em Lisboa seminá-
O Vaticano viria a reconhecer o rios carismáticos, que duram vá- Reconquistar 0$ que se afastam
movimento já na década de 1990, rias semanas e culminam com este A existência destes movimentos católicos - com vida
dando-lhe estatutos próprios, mas acto, onde se renovam os dons do própria dentro e fora das paróquias - pode ajudar a
os carismáticos há muito que se baptismo. «A maioria das pessoas Igreja a recuperar terreno, agarrando uma franja
multiplicavam pelo mundo. foi baptizada em criança e não tem de católicos que se tem afastado das práticas da Igre-
ja. Sobretudo nas zonas urbanas, onde
a percentagem dos .que se afirmam ca-
tólicos é mais reduzida (26 %).
O coordenador do último retrato so-
bre os fieis no.país - Identidades Reli-
giosas em Portugal, divulgado no ano
passado pela Conferência Episcopal-
lembra que «os estudos mais recentes
demonstram que há muitos católicos
que vão irregularmente à missa e têm
uma vivência pessoal da sua fé».
Para Alfredo Teixeira, coordenador do
Centro de Estudos e Culturas da Univer-
sidade Católica, «muitas Ve'l.eS estas pes-
soas não vêem reconhecida a sua díver-
sidade e iniciam um caminho de afasta-
mento». Perante esta realidade, defende,
a Igreja tem duas opções: «Ou finge que
não vê estes fiéis que continuam a afas-
tar-se ou então encontra-lhes um lugar,
acelhendoas como preeísam» .•
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