Este documento descreve um estudo sobre a exposição humana aos fungos no meio ambiente na cidade universitária UFMA. Foram identificados 17 gêneros e 4 espécies de fungos nas amostras de ar coletadas, sendo o gênero Aspergillus o mais prevalente. O estudo objetiva educar a comunidade sobre os fungos do ar e suas implicações para a saúde, especialmente alergias respiratórias.
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Fungos Ambiente UFMA
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
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Volume 14 - Número 2 - 2º Semestre 2014
EXPOSIÇÃO HUMANA AOS FUNGOS DO MEIO AMBIENTE: IDENTIFICAÇÃO DO
AGENTE ETIOLÓGICO E EDUCAÇÃO DA COMUNIDADE
Juan Francisco Rodriguez Galindo Neto1; Geusa Felipa de Barros Bezerra2;
Maria do Desterro Soares Brandão Nascimento2
RESUMO
Os fungos são seres presentes em todos os ambientes que podem desencadear processos alérgicos em
pessoas sensíveis e principalmente em imunodeprimidos. Objetivou-se com esse estudo isolar e
classificar os gêneros e espécies identificadas na Cidade Universitária – UFMA. Para a coleta de
fungos do ar foram utilizados os métodos da placa exposta, repiques e microcultivos para melhor
identificação dos fungos. Durante a realização deste trabalho foi exposto um total de 180 placas, onde
337 colônias foram identificadas revelando um total de 17 gêneros e 4 espécies de fungos, sendo que
o gênero Aspergillus spp. foi o mais prevalente (33,47%), seguido do Cladosporium spp., (9,50%),
Penicillium spp., (8,80%), Alternaria spp., (4,74%), Curvularia spp., (3,76%). O conhecimento da
flora aeromicologica dos diferentes lugares pode ser determinante no diagnóstico de doenças do trato
respiratório. O presente trabalho demonstrou que o ar é uma verdadeira fonte de microorganismos
que podem causar as mais diversas reações alérgicas. Portanto, o entendimento da diversidade dos
fungos como aeroalérgenos tem como objetivo orientar a comunidade afim de diminuir os possíveis
casos de alergias.
Palavras-chave: Fungos, ar ambiente, alergia.
HUMAN EXPOSURE TO FUNGI THE ENVIRONMENT: ETIOLOGICAL AGENT
IDENTIFICATION AND EDUCATION COMMUNITY.
ABSTRACT
Fungi are present in all beings environments that can trigger allergic processes in sensitive people
and mainly in immunocompromised patients. The objective of this study to isolate and classify the
genera and species identified at University City - UFMA. To collect airborne fungal methods of
exposure, and raises microcultivations for better identification of fungi plate were used. During this
work was exposed a total of 180 plates, 337 colonies which were identified revealing a total of 16
genera and 4 species of different filamentous fungi, the Aspergillus spp. is the most prevalent
(33.47%), followed by Cladosporium spp, (9.50%), Penicillium spp, (8.80%), Alternaria spp .
(4.74%), Curvularia spp. (3.76%). The knowing the aeromicologica flora of different locations can
be instrumental in diagnosing diseases of the respiratory tract. The present study demonstrated that
air is a real source of microorganisms that are capable of causing the most diverse allergic reactions.
Therefore, understanding the diversity of fungi as aeroallergens aims to guide the community in order
to reduce the possible cases of allergies.
Keywords: Fungi, air environment, allergy.
2. 129
INTRODUÇÃO
Os fungos são organismos ubíquos, estão
presentes em todo o ambiente e comumente são
saprófitos, crescem tanto em material orgânico
em decomposição, como são agentes patogênicos
invasivos de tecido vivo. Eles estão dispersos
principalmente como esporos que são
componentes comuns do ar atmosférico
(BRETT, et al. 2005). Esporos de fungos estão
amplamente distribuídos na natureza e
demonstram diferentes tendências regionais
levando em consideração a latitude, o clima, a
umidade e, provavelmente, outros fatores, como
vegetação. Nos ambientes internos, o substrato
para o crescimento de fungos é outra importante
variável. (BUSH, 2006)
Esporos de várias espécies de fungos são
responsáveis por induzir numerosas doenças
humanas, tais como bronquite crônica, asma,
rinite, micoses alérgicas e pneumonite por
hipersensibilidade. Estes esporos são capazes de
penetrar nas vias respiratórias inferiores do
pulmão e mediar reações alérgicas. (SINITEAN,
2011).
São muitos os indivíduos que apresentam
alergia respiratória aos esporos de fungos. É
estimado em 20 a 30% entre os indivíduos
atópicos e até 6% na população
geral.(GRAVESEN, 1979).
Os fungos são diferentes das outras
classes de alérgenos devido ao fato de serem
mais viáveis e poderem germinar no muco de
seios nasais. Eles têm a capacidade de causar
infecções, reações alérgicas ou de
hipersensibilidade, ou efeitos tóxicos. O último é
devido à produção de micotoxinas, que têm
efeito tóxico conhecido, mas os efeitos na saúde
são difíceis de avaliar. Diante disso, talvez não
seja novo que os esporos dos fungos no ar
estejam associados com casos de doenças
respiratórias alérgicas como, rinite alérgica,
rinossinusite alérgica e asma alérgica.
(HAMILOS, 2009).
A exposição a esporos fúngicos é
determinante nas micoses adquiridas através do
trato respiratório. A imunidade inata desempenha
um papel preponderante na eliminação de
esporos inalados. (WALDORF, et al.,1989).
A produção de anticorpos não parece
contribuir decisivamente para a defesa do
hospedeiro. Dentro do trato respiratório, a
primeira linha de defesa contra os esporos
fúngicos é formado pela barreira mucociliar, os
esporos restantes são ingeridos e mortos por
monócitos / macrófagos. (AGERBERTH, 1999).
Além das barreiras físicas e da ativação
dos mecanismos da imunidade adaptativa
envolvendo macrófagos alveolares, indivíduos
saudáveis podem recorrer a uma forte e
independente linha de defesa secundaria formada
por granulócitos e neutrófilos. Eles atacam
principalmente hifas, que são muito grandes para
ingestão. (SCHONWETTER, 1995).
Na pele e pulmões de pessoas
imunocompetentes, um exército de antígenos é
apresentado pelas células apresentadoras de
antígenos (APCs), resultado da fagocitose de
esporos fúngicos intactos, partículas ou
antígenos solúveis libertados a partir do fungo
em crescimento. A ativação de linfócitos T e B
ativam as células e as respostas imunes humorais,
os quais são capazes de dar suporte à imunidade
inata (ROMANI, 1997; CRAMERI e BLASER,
2002).
Independentemente do tipo de sintomas
as alergias são doenças crônicas que afetam
seriamente a qualidade de vida e pode até mesmo
ser fatal. Portanto, lutar contra eles pode exigir
uma mudança de estilo de vida, uma
farmacoterapia de longo prazo e até mesmo a
imunoterapia. (SINGH, et al.,2008)
Nos últimos anos, verificou-se o aumento
na prevalência e morbidade das doenças
alérgicas respiratórias. As mudanças no estilo de
vida das populações têm justificado esses
aumentos. A imensa maioria da população
ocidental passou a habitar residências pequenas
e, quase sempre mal ventiladas. (PEREIRA,
2007).
No Brasil, SOLÉ (1998), utilizando o
International Study of Asthma and Allergies in
Childrens, encontrou prevalência de asma
diagnosticada entre 4,7% a 20,7% em crianças de
6 a 7 anos e entre 4,7% a 20,9% em adolescentes
de 13 a 14 anos. Em Recife (PE), encontrou uma
prevalência anual de asma de 27,16% em
crianças de 6 a 7 anos e de 18,1% em
adolescentes de 13 a 14 anos.
Ainda que com esses fatos, poucos
esforços foram feitos para se rastrear e relatar a
densidade de esporos de fungos em amostras de
3. 139
ar livre ao redor do mundo, e este tem sido um
obstáculo para estabelecer uma relação causal
entre fungos e demais doenças. (HAMILOS,
2009).
Apesar dos fungos terem reconhecida
participação em quadros de hipersensibilidade do
trato respiratório, as publicações sobre a presença
de fungos na atmosfera das cidades brasileiras
são reduzidas (GOMPERTZ et al. 1999).
Estudos feitos por MENEZES et al.
(2004) na cidade de Fortaleza (CE) e MEZZARI
et al. (2003) em Porto Alegre, ressaltam a
importância do conhecimento da microbiota
fúngica de cada região e dos respectivos
alérgenos gerados, assim como relaciona estes
conhecimentos com a sua fundamental
importância na educação sobre as doenças, no
tratamento específico das manifestações
alérgicas e na orientação sobre o controle
ambiental.
Por esta razão, é muito importante
conhecer a flora aeromicológica de cada
localidade ou região, antes de fazer qualquer
suposição sobre possíveis problemas
respiratórios e infecções (GONZÁLEZ et al,
2010), alem de ser importante para a
compreensão de todos os processos envolvidos
nestas patologias. (PONGRACIC et al, 2010).
O princípio constitucional da
indissociabilidade entre ensino e a pesquisa e é
um processo interdisciplinar, educativo, cultural,
científico e político que promove a interação
transformadora entre Universidade e outros
setores da sociedade. (FORPROEX, 2010).
À luz desse pensamento, foi realizado o
monitoramento e a identificação dos fungos
presentes no ar da Cidade Universitária do
Bacanga – UFMA – São Luis/MA, com relevante
importância para o entendimento das doenças
respiratórias de origem alérgica relacionadas
com fungos, cumprindo assim o nosso dever de
retornar esse conhecimento para a sociedade,
informando sobre a microbiota isolada no
presente trabalho.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa com fomento do edital
AEXT Nº 10/2010 compreendeu o
desenvolvimento das atividades de investigação
de fungos do ar na Cidade Universitária – UFMA
no período de janeiro de 2012 a fevereiro de
2013. As ações foram iniciadas em janeiro de
2012 com leitura e discussão bibliográfica. A
partir de março de 2012, no ambulatório do
Núcleo de Imunologia Básica e Aplicada (NIBA)
do Departamento de Patologia do Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde UFMA, relizou-se
as ações de divulgação da pesquisa onde eram
distribuídos folders explicando sobre o que são
fungos e que doenças podem causar.
Foram realizadas palestras em escolas
próximas à Cidade Universitária destacando
medidas preventivas a serem praticadas pelos
usuários da comunidade, assim como um
minicurso sobre os fungos do ar e a alergia
respiratória.
As coletas mensais na Cidade
Universitária foram dividas em cinco pontos:
· Norte: Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde – CCBS.
(2º33’10.53” S)
· Sul: Centro de Ciências Exatas e
Tecnológicas – CCET e Centro de
Ciências Humanas – CCH.
(2º33’18.69” S)
· Leste: Prédio de Odontologia.
(2º33’28.74” S)
· Oeste: Centro de Ciências Sociais
– CCSO. (2º33’22.13” S)
· Centro: Área de Vivência.
(2º33’23.06” S)
A coleta dos fungos para investigação da
microbiota fúngica propriamente dita foi
realizada de abril de 2012 a fevereiro de 2013.
Foi utilizado o método da placa exposta (método
gravitacional), contendo 10 ml Agar Sabouraud,
em placa de Petri de 10 cm de diâmetro, por 2 cm
de altura, durante 15 minutos a uma altura de
1,50 m do solo.
Após as coletas as placas foram fechadas
e transportadas para o Laboratório de Micologia
do Núcleo de Imunologia Básica e Aplicada do
Departamento de Patologia da Universidade
Federal do Maranhão, onde foram colocadas em
uma Incubadora BDO a 25°C por um período
médio de dois a quatro dias, observando-se o
crescimento das colônias diariamente.
Após crescimento suficiente das colônias,
estas foram observadas para identificação
18
4. 149
macroscópica das colônias fúngicas. Mediante o
crescimento das colônias, estas foram repicadas
em tubos de 16 x 150 mm com boca rosqueada,
contendo também Ágar Sabouraud disposto em
rampa (bisel) objetivando a pureza e o
isolamento.
O método de repique consiste em retirar
delicadamente pequenas amostras do micélio das
colônias com o auxílio de uma alça metálica,
devidamente esterilizada em chama de bico de
Bunsen, e em seguida transferido para os tubos
contendo o meio Agar Sabouraud disposto em
rampa com o cuidado minucioso de se aplicar as
amostras em dois ou três pontos enterrando-os
levemente no meio. Em seguida fecharam-se os
tubos de repique e colocaram-se os mesmos em
em uma Incubadora a 25°C até que as amostras
tornassem a crescer.
Os tubos de repique que obtiveram
isolamento e pureza das colônias após
crescimento foram separados e acondicionados
em refrigerador para posterior análise
microscópica e identificação. As colônias
consideradas impuras continuaram por processo
de repique para tubos secundários até isolamento
e pureza para posterior identificação.
Após o isolamento e com as colônias
puras, estas foram submetidas ao método de
microcultivo e posteriormente analisadas a
microscopia óptica comum, utilizando como
corante o azul de algodão (LACAZ et al., 2002).
Analise estatística – realizou-se uma
analise descritiva, onde foram calculadas as
medias e percentuais dos gêneros e espécies de
fungos identificados. Foram calculadas as UFC
por placa durante o período de isolamento e
classificação dos fungos.
RESULTADOS
Durante a realização deste trabalho, de
abril de 2012 a fevereiro de 2013, foi exposto um
total de 180 placas, nas quais foram contadas um
total de 337 colônias, revelando um total de 17
gêneros, dos quais somente duas espécies do
gênero Aspergillus spp., uma espécie de
Penicillium spp. e uma espécie de Alternaria spp.
foram identificadas, enquanto os demais só
foram identificados até gênero, cujas frequências
encontram-se na Tabela 1
Tabela 1 – Fungos no ar de ambientes externos isolados no Campus Universitário do Bacanga. Cidade Universitária da
UFMA. 2012 – 2013. São Luís-MA, Brasil.
Fungo
Filamentoso
Frequência de UFC / Ambiente avaliado
Gêneros CCSBS
Prédio de
Odontologia
Área de
Vivência
CCET/CCH CCSO
Aspergillus spp. +++++ ++++ +++ +++++ ++++
Aspergilus níger +++++ +++++ +++ +++ ++
Aspergillus fumigatus ++++ +++++ ++ ++ +
Cladosporium spp. ++++ +++ ++ ++ +++
Curvularia spp. +++ +++ +++ ++++ +++
Penicillium spp. +++ ++ ++++ +++ ++
Penicillium digitatum ++ ++ +++ ++ +
Alternaria spp. ++ +++ +++ ++++ +
Alternaria alternata ++++ ++++ +++ ++ ++
Fusarium spp. ++ +++ ++++ +++ +
Geotrichum spp. + ++ ++ +++ +
Drechslera spp. - +++ ++++ +++ ++
Rhizopus spp. + + - + +
Blastomyces spp. - - - - +
Sporothrix spp. - - - + +
5. 5
Nigrospora spp. + - + - +
Microsporum spp. + - + + -
Trichoderma spp. + - - - -
Scopulariopsis spp. + - - - -
Aureobasidium spp. + - - - -
Exophiala spp. + - - - -
+ (raramente); ++(baixo índice); +++(médio); ++++(alta freqüencia); +++++(em todas as amostras). UFC - Unidades
Formadoras de Colônia. CCBS (Norte); CCET/CCH (sul); Prédio de Odontologia (leste); Área de Vivência (centro);
CCSO (oeste).
A tabela acima mostra quais fungos estão
mais presente na atmosfera da Cidade
Universitária do Bacanga – UFMA,
evidenciando os gêneros mais comuns, a sua
frequência e o ambiente onde foram coletados.
A sazonalidade é uma informação
importante uma vez que podemos observar, em
que época do ano determinadas espécies são mais
amplamente distribuídas, é o que mostra a tabela
2.
Tabela 2 - Contagem total e porcentagem de gêneros/espécies de fungos no ar identificados na Cidade Universitária do
Bacanga – UFMA, São Luis/MA, Brasil, no período de abril de 2012 a fevereiro de 2013.
Gêneros/Espécies
2012 2013 Total
abr mai jun Jul Ago set Out Nov dez jan fev Total
(UFC)
Total
(%)
Aureobasidium 1 - - - - - - - - - 1 0,3
Alternaria alternate 1 2 1 - - - - 1 2 - - 7 2,1
Alternaria spp 1 1 2 5 3 2 1 - - 2 - 17 5,0
Aspergillus fumigates 8 5 5 2 3 5 6 8 6 4 - 52 15,43
Aspergillus spp 4 2 3 5 4 6 7 9 5 6 - 51 15,13
Aspergilus Níger 3 4 3 6 8 5 5 6 7 4 - 51 15,13
Blastomyces spp - 1 - - - - 1 - - - - 2 0,39
Cladosporium spp 3 2 6 8 11 5 3 3 6 1 - 48 14,24
Curvularia spp 1 - - 3 4 6 3 2 - - - 19 5,63
Drechslera - - - 2 1 2 1 - 1 - - 7 2,1
Exophiala spp - - - - - 1 - - - - - 1 0,3
Fusarium spp 2 - 2 - 3 1 1 4 1 1 - 15 4,45
Geotrichum spp 1 - 3 - - 2 1 - - 1 - 8 2,37
Microsporum spp - - 1 - - - 1 - - - - 2 0,6
Nigrospora spp 1 - 1 - - 1 1 - - - 4 1,18
Penicillium digitatum 1 2 3 1 1 2 2 1 - 1 - 14 4,15
Penicillium spp 2 3 5 8 4 1 1 2 3 2 - 31 9,2
Rhizopus spp - - - 1 - - 2 - - - - 3 0,9
Scopulariopsis spp - 1 - - - - - - - - - 1 0,3
Sporothrix spp - - - - 1 - - - - - - 1 0,3
Trichoderma spp - - - 1 - - - - 1 - - 2 0,6
Total 337 100,0
20
6. 6
Os fungos são sensíveis às mudanças de
temperaturas, podendo até se apresentar de
formas diferentes dependendo do clima e ainda
apresentar frequências diferentes dependendo da
estação do ano.
Tabela 3 - Contagem de gêneros de fungos anemófilos de acordo com o período de seca e o chuvoso,
de abril de 2012 a fevereiro de 2013, na Cidade Universitária do Bacanga – UFMA/ São Luis/MA.
A tabela 3 mostra quais gêneros são mais
frequentes em determinada época do ano,
levando em consideração aspectos climáticos
(estações do ano).
Neste trabalho ainda é possível obter os
dados referentes ao percentual da predominância
dos fungos isolados em cada ponto de coleta na
Cidade Universitária do Bacanga – UFMA.
Ao norte (2º33’10.53” S) – CCBS,
podemos notar que o fungo mais predominante
foi o gênero Aspergillus spp., incluindo as
espécies fumigatus e níger (60%), seguido do
Cladosporium spp. (15%), Penicillium spp.
(10%), Alternaria spp., incluindo a espécie
alternata (5%),Curvularia spp. (3%), Fusarium
spp (2%), Geotrichum (1%), e os outros
contabilizando (4%) do total.
Gêneros/Espécies
Estação
Seca Chuvosa
Aureobasidium - 1
Alternaria alternata 3 4
Alternaria spp 11 6
Aspergillus fumigatus 30 22
Aspergillus spp 36 15
Aspergilus Níger 37 14
Blastomyces spp 1 1
Cladosporium spp 36 12
Curvularia spp 18 1
Drechslera 7 -
Exophiala spp 1 -
Fusarium spp 10 5
Geotrichum spp 3 5
Microsporum spp 1 1
Nigrospora spp 2 2
Penicillium digitatum 7 7
Penicillium spp 19 12
Rhizopus spp 3 -
Scopulariopsis spp - 1
Sporothrix spp 1 -
Trichoderma spp 2 -
Total 228 109
21
7. Figura 1 – Frequencia de isolamento dos principais gêneros de fungos no ar da região do Centro de Ciências Biológicas
7
e da Saúde – CCBS/UFMA.
Ao sul (2º33’18.69” S) – CCET/CCH,
observamos que o gênero que obteve maior
frequência de isolamento foi o Aspergillus spp.,
incluindo a espécie fumigatus, (35%),
em seguida o Alternaria spp. (20%), Penicillium
spp. (15%), Cladosporium spp. (10%), Fusarium
spp. (6%), Geotrichum spp. (5%)e Drechslera
spp. (5%) e outros (4%).
40 Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas - Sul
35
30
25
20
15
10
5
Figura 2 - Frequencia de isolamento dos principais gêneros de fungos no ar da região do Centro de Ciência Exatas e
Tecnológicas e Centro de Ciências Humanas – CCET/CCH – UFMA.
Ao leste (2º33’28.74” S) - Prédio de
Odontologia, ficou evidente que os gêneros mais
frequentemente isolados foram Aspergillus spp.,
destacando-se a espécie níger (45%), seguido
pelo Alternaria spp. (15%), Penicillium spp.
(10%), Cladosporium spp. (8%), Fusarium
spp.(6%), Curvularia (5%), Drechslera (4%),
Geotrichum (3%) e outros (4%).
35
20
15
10
6
5 5
4
0
CCET
22
8. 8
Figura 3 - Frequencia de isolamento dos principais gêneros de fungos no ar da região do Predio de Odontologia da
Cidade Universitária – UFMA.
Ao oeste da Cidade Universitária UFMA
(2º33’22.13” S) – CCSO, pudemos ver que o
gênero que mais apareceu em nosso estudo foi o
Aspergillus spp. (40%), seguido do
Cladosporium spp. (15%),
do Curvularia spp. (10%), o Penicillium spp. e o
Alternaria spp. também com (10%), o
Drechslera spp. (5%), Fusarium spp. e
Geotrichum spp. (3%), e os demais (4%).
Figura 4 - Frequencia de isolamento dos principais gêneros de fungos no ar da região do Centro de Ciências Sociais –
CCSO/UFMA.
E ao centro da Cidade Universitária
UFMA (2º33’23.06” S) - Área de Vivência,
evidenciamos que o gênero Aspergillus spp.,
incluindo a espécie fumigatus, corresponderam a
(36%), seguido do Penicillium spp., incluindo a
espécie digitatum (20%), Alternaria spp.,
incluindo a espécie alternata (15%), Fusarium
spp. (10%), Drechslera spp. (10%),
Cladosporium spp. (3%), Geotrichum spp. (2%),
outros (4%).
23
9. Figura 5 - Frequencia de isolamento dos principais gêneros de fungos no ar da região da Área de Vivência
9
da Cidade Universitária – UFMA.
DISCUSSÃO
Já é sabido que os fungos são organismos
que estão presentes em todos os ambientes, ar,
água, solo, podendo o mesmo gênero que foi
encontrado aqui na América Latina, ser
encontrado também na Europa ou Ásia, com as
mesmas características e ciclo de vida. Muitos
desses fungos são patogênicos, podendo
colonizar e parasitar plantas, animais e humanos
e principalmente desencadear e agravar casos de
rinites e asma em pacientes imunodeprimidos.
A flutuação sazonal da concentração de
diferentes fungos é dinâmica e é afetada por
diversas variáveis, incluindo clima, fatores
meteorológicos e vegetação local (BURGE;
ROGERS, 2000). Em nosso trabalho podemos
observar que existe uma diferença nas
concentrações de esporos de fungos quando se
leva em consideração a época do ano. As
características climáticas do estado do Maranhão
são muito peculiares à da região nordeste, que
mostra ter somente duas estações bem definidas,
a estação seca (estiagem) e a estação chuvosa.
Com todas essas mudanças climáticas ao redor
do mundo, observamos que aqui no Maranhão a
estação chuvosa demorou a começar, o que pode
ter acarretado em diferenças no aparecimento e
prevalência de alguns gêneros não muito comuns
nessa época. Portanto foi possível demonstrar
que houve uma maior concentração de fungos
nos meses mais quentes.
Resultados semelhantes foram
observados em estudos anteriores realizados em
outras regiões como Taiwan na China, Porto
Alegre, que tem clima subtropical, e em
Melbourne, na Austrália, uma cidade de clima
temperado. (Y. - H. Wu et al, 2007; Mezzari et
al., 2002; Mitakakis and Guest, 2001).
Alguns dos gêneros encontrados por
BEZERRA et al. em 2011 na cidade de São Luis
– MA, como Cladosporium spp. e Curvularia
spp. citados entre os cinco predominantes, além
de outros, tais como Drechslera spp., Nigrospora
spp., Alternaria spp. comuns em temperaturas
elevadas, corroboram com nosso trabalho.
Em relação às alergias respiratórias, os
fungos tem papel preponderante no desencadear
dessas alergias, principalmente em crianças e
imunodeprimidos, por terem seu sistema
imunológico comprometido.
As alergias respiratórias como, rinites
alérgicas e asma estão aumentando muito em
todo o mundo (BRAMAN, 2006). Alem disso
numerosos estudos têm descrito a importância
das partículas biológicas dispersas no ar em
episódios ligados a estas doenças, incluindo as de
origem fúngica (HIDDLESTONE 1961; LEWIS
24
10. 10
ET AL, 2000;. GREEN ET AL. 2003; MARI ET
AL. 2003; NEWHOUSE E LEVETIN 2004;
CHO ET AL. 2005; GREEN ET AL. 2005A, B,
C, 2006A, B, C; SEMIK-ORZECH ET AL.
2008; AGASHE E CAULTON 2009).
Algumas investigações encontraram
correlação entre concentrações elevadas de tipos
específicos de esporos com morbidade e
mortalidade por asma. (PACKE E AYRES,
1985; TARGONSKI ET AL 1995;. DELFINO
ET AI. 1997; BLACK ET AL. 2000; CHEW ET
AL. 2000; LEWIS ET AI. 2000; NEWHOUSE E
LEVETIN 2004, RIVERA-MARIANI E
BOLAÑOS-ROSERO, 2012). E muitos desses
estudos também têm encontrado associação de
alergias respiratórias com as condições
meteorológicas que são adequadas para a
libertação de esporos, como por exemplo a
umidade e a temperatura (MORROW-BROWN
E JACKSON 1985; DAVIDSON ET AL. 1996;
LEWIS ET AL. 2000; LEVETIN E VAN DE
WATER 2001; TAYLOR E JONSSON 2004;
NASSER E PULIMOOD 2009, RIVERA-MARIANI
E BOLAÑOS-ROSERO, 2012).
Extratos destes agentes alergênicos
(fungos) são geralmente incluídos nos ensaios
para testes cutâneos e ensaios imunológicos para
a detecção de alergias. De acordo com o banco
de dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS) e da União Internacional de Sociedades
de Imunologia/ Subcomissão de Nomenclatura
de Alérgenos (IUIS), a maioria das proteínas
alergênicas completamente descritas de fungos,
correspondem a espécies tais como Aspergillus
spp, Penicillium spp, Fusarium spp, Alternaria
spp, entre outros. (RIVERA-MARIANI E
BOLAÑOS-ROSERO, 2012).
Em estudos relizados por
NAGHIBZADEH et al. em 2011, ficou
evidenciado que a prevalência de infecções
fúngicas é cerca de 7,4% entre os pacientes com
sinusite crônica. Eles também demonstraram que
o gênero Alternaria spp. é o maior agente
causador, sendo mais prevalente em pacientes
entre 30 e 40 anos, no entanto, sem diferença
entre sexos.
Nossos resultados são equivalentes ao
que ocorre em outros estados brasileiros,
mostrando que no ar da Cidade Universitária –
UFMA estão presentes os esporos dos fungos
mais comumente relacionados com os tipos de
alergias mais frequentes em pacientes atópicos.
No Brasil além do Alternaria spp. que é
considerado um potente desencadeador de
processos alérgicos, estudos de MEZZARI, et
al.(2002), mostraram que estão presentes no ar
esporos de Cladosporium spp., Curvularia spp.,
Fusarium spp., Aspergillus spp., Penicillium
spp., que também podem desencadear processos
alérgicos principalmente em indivíduos
imunossuprimidos.
Assim como no trabalho que MENESES
et.al., realizou em Fortaleza – CE em 2004, no
qual se evidenciou prevalência do gênero
Aspergillus spp., o nosso trabalho também tem
este gênero como o mais prevalente no ar da
Cidade Universitária do Bacanga/UFMA
(33,47%), seguido do Cladosporium spp.,
(9,50%), Penicillium spp., (8,80%), Alternaria
spp., (4,74%), Curvularia spp., (3,76%).
BEZERRA et al. (2011) na cidade de São
Luis – MA, encontraram como os gêneros mais
prevalentes Aspergillus sp., Penicillium spp.,
Cladosporium spp., Curvularia spp. e Fusarium
spp., que vem ao encontro com os nossos
resultados.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos, a
necessidade de conhecer a flora aeromicologica
dos diferentes lugares pode ser determinante no
diagnóstico de doenças do trato respiratório, uma
vez que a maioria dos agentes etiológicos
capazes de desencadear e/ou piorar o quadro
clinico de pessoas que sofrem com esses tipos de
patologias, esta disperso no ar atmosférico. E
estudos imunológicos e moleculares são muito
necessários, a fim de expandir o conhecimento
sobre estes organismos e seu papel nas doenças
alérgicas respiratórias.
As práticas extensionistas entram nesse
contexto, no sentido de informar a comunidade
frequentadora dos ambientes da Cidade
Universitária e do seu entorno, dos achados do
nosso trabalho informando-os sobre os fungos
existentes no ar através da distribuição de folders
informativos.
Embora os nossos resultados tenham sido
satisfatórios, mais estudos são necessários para
que possamos sair do âmbito das suposições e em
breve possamos soltar resultados reais da relação
que existe entre os fungos as causas das alergias
respiratórias no nosso Estado, fazendo assim o
25
11. 11
diagnóstico correto desse tipo de alergia e
realizando campanhas preventivas direcionadas
ao publico.
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Universitária, Av. dos Portugueses, 1966 –
Bacanga - CEP 65080-805 São Luis – MA.
juan.neto@hotmail.com.
2 – Docentes do Departamento de Patologia da
Universidade Federal Do Maranhão – Cidade
Universitária, Av. dos Portugueses, 1966 –
Bacanga - CEP 65080-805 São Luis – MA.
cnsd.ma@gmail.com; cnsd_ma@yahoo.com.br;
geusabezerra@yahoo.com.br;
geusafelipa@yahoo.com.br.
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