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ARMINIANISMO
E
METODISMO
Subsídio s para o estudo da
História das Doutrinas Cristãs

Jos é Gon çal ves Sal vad or
Junta Geral de Educação Cris tã
D A

IGREJA METODIS TA DO BRASIL
SÃO PAUL O

ÍNDICE
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I - Como se constrói uma
grande nação
- A situação Política
- O fator Político Religioso
CAPÍTULO II - Tiago Armínio no Cenário
de sua Pátria
- Os primeiros anos
- O preparo Escolar
- Armínio no exercício do pastorado
- O Mestre e o Polemista
- O fim da Jornada
CAPÍTULO III - As doutrinas arminianas
- A respeito de Deus
- A predestinação
- O homem no conceito de Armínio
16
1/

Jo sé Go nça lv es Sal va do r

- O problema do pecado
- O decreto eterno de Deus
- A obra de Cristo
- O lugar da graça na salvação do homem
- A perseverança cristã
CAPÍTULO IV - Organização e difusão do
arminianismo
- O arminianismo nos Países -Baixos
- Introdução e desenvolviment o na
Inglaterra
- O impacto sobre o calvinismo francês
- O arminianismo na Alemanha e outros
países
- A influência do arminianismo na Filosofia,
no Direito, na Política e nas Missões
Evangélicas
CAPÍTULO V - A Gênese do arminianismo
wesleyano
- A situação da Igreja Anglicana
- A influência do casal Samuel e Susana
Wesley
- O valor da dedicação pessoal
- A contribuição de Aldersgate
- A controvérsia predestinista
- O contato com as idéias de Tiago Armínio.
CAPÍTULO VI - Arminianismo e Metodismo

.4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo

- O espírito do metodismo
- Distinções doutrinárias:
a) O pecado original
b) A predestinação
c) A certeza da salvação
d) A justificação
e) A regeneração
f) A santificação
g) O conceito de Deus
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA

PR EF ÁC IO
B is p o
César
Da c o r
so
Fi lh o
Li , c o m pr az er , o s o r ig in ai s de st e
l iv r in ho .
Por
di v e r so s
mo t iv o s.
P r im e ir o , po r q u e e sc r it o s po r u m
co m pa nh ei r o
de
mi n is t ér io ,
c u jo
cu rr i cu l u m v i t a e , v en c id o at é a q u i,
v en ho
ac o mp a nh a nd o
d es de
o
pr in c íp io . D ep o is , po r q u e f r u t o de
es f o r ço s co m q u e el e se m pr e v e nc e no s
em p r e en di me nt o s q u e t o m a a p ei t o , e
da pi e da de si nc e r a e pr o f u n da q u e,
co mo a pa ná g io d e se u s d ia s, el e cu l t iv a
em t er mo s es t r it am en t e ev an g él i c o s.
En f i m, po r q u e c a mp o cu l t u r al d e s u ma
im po r t ân c ia pa r a nó s, q u an do no s
co nf r o nt am o s c o m o di l em a d o “ si m o u
nã o ” , em f a c e do c o nv it e q u e o F il ho de
D eu s no s f a z, t o ca nt e à r e de nç ão ca mp o cu l t u r al q u e el e l av r a co m m u it a
p r u d ên ci a e ci r cu n sp e c çã o .
Ab r a ng em mu it o s âm b it o s q ue s e
pr e nd em ao m ag no pr o b l em a - e, na
T er r a, s o mo s o u n ão l i v r es pa r a a ce i t ar
a c ha ma d a d e J es u s Cr is t o p ar a o
Re in o d e D eu s, o u s e, na T e r r a,
es t a mo s
ou
nã o
su je it o s
a
pr e de t er m in is mo , co m r ef e r ê nc ia à
sa l v aç ão et e r n a.
A b as e q u e se v al e, em g r an de
ex t en sã o , o au t o r , é a p es s o a d e
Ar mí ni o e a co nt r o v é r s i a a q u e el a de u
ca u sa . P ar a i ss o , e l e s e f o i à G eo g r af ia ,
à Hi st ó r i a, ao s i m pe r at iv o s da l ó g i c a e
ao s l am p ej o s d as ar m as t er ç ad a s n as

ar e na s d a T eo l o g i a. Co nt u d o , se u
t r ab al ho é m u it o su ci n t o p ar a m at é r ia
t ão ex t en s a e mu i t o si mp l es pa r a t e ma
t ão co m p l ica do .
O au t o r f o i, no me u en t en de r , f el iz
em r es sa l t ar q u e nó s, m et o d is t as ,
av a nç am o s m ai s na do u t r i na do l i v r e
ar b ít r io ,
que
o
pr ó pr io
pa s t o r
N ee r l an d ês .
De
f at o
pr ec is a mo s
di st in g u ir W es l ey de A r m ín io .
N ão p o de m o s j am ai s n eg ar q u e D e u s
pr e de st i no u mu it as co is as p ar a c e r t as
es f e r a s da v id a h u m an a, s o b r et u do n o
cu r so d a s co i sa s m at er i ai s. A s si m ,
q u em n ão co me r e b eb er , h á d e
su cu m b ir , e q u e m , de g r an de al t u r a , se
l an ça r n o e sp aç o de sa r m a do de p ár a q u ed as , h á d e mo r r er ao t o ca r o
so l o .Iss o, par a não ref erir à ina lte rab ili dad e
dos gra nde s fen ôme nos fís ico s das est açõ es,
das lua s, das chuv as, dos rai os, em que qua se
não pod emo s inter fer ir, sen ão par a nos so
res gua rdo de seu s efe ito s. Assi m, de u De us
se u Fi lh o Un ig ên it o, pa ra qu e to do o qu e
ne le cr ê, nã o pe re ça, ma s te nh a a vi da
et er na . At é aí va i a pr ed es ti na çã o de De us .
To da vi a, co me r e be be r, co mo la nç ar-no s,
de gr an de al tu ra , ao es pa ço e, ai nd a, cr er
no Fi lh o Un ig ên it o, é at it ud e qu e de pe nd e
16
1/

Jo sé Go nça lv es Sal va do r

de nó s. E aq ui é qu e es ta no ss o li vr e
ar bí tr io , no ss a li be rd ad e, segu ido s de
nos sos
dev ere s
e
con seq üe nte s
res pon sab ili dades.
Ma s o qu e de du zi mo s da Bí bl ia , da ló gi ca
e da ex per iên cia, de aco rdo com o que acab o
de decl ara r, é que , no cam po pro pri amen te
mor al
e esp irit ual
(re lig ioso ),
somo s
sob era nam ent e liv res. Par a iss o a Pro vid ênci a
nos
do to u de in te li gê nc ia , ra zã o e
co ns ci ên ci a, qu e no s co nd uz em ao se ns o de
no ss os
de ve re s
e
co ns eq üe nt es
re sp on sa bi li da de s, tã o vi vo em to do s nó s.
Se m dú vi da , só at é on de ch eg a no ss o
en te nd im en to e co mp re en sã o da s co isas , e
não do que não ent end emo s e não
com pre end emo s, podemos dar conta, máxime
a uma justi ça perfei ta.
Fa to qu e le va al gu ma s pe ss oa s a se
em ba ra lh ar em
e se
con fun dir em na
con sid era ção das det erm ina çõe s div in as
( me l ho r do q u e p r ed es t in aç ão d iv i n a) , é
n ão
d is t in g uir em,
pre sci ência
de
pre des tin açã o. Na pre sci ênc ia divi na de
fu tu ra s de li be ra çõ es hu ma na s ex is te ,
ap en as , pre vi são e não exi st e qua lq uer
inf lu ênc ia s obr e el as, ao pa ss o qu e na
pr ed es ti na çã o di vi na ha ve ri a co mp ul sã o

.4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo

sobre elas.
Fi na lm en te ,
é
ce rt o
qu e,
pe la
in te li gênc ia , ra zã o e con sci ênc ia, sen tim os
nos sos dev ere s e res pon sab ili dad e. Por tais
caminh os Deus nos ajuda com maior
ilumin ação de seu Espíri to. Entret anto, não nos
força a qualqu er decisã o. Daí dec or re qu e,
pa ss an do do s li mi te s da co nvi cçã o pa ra o
te rr en o do "s er ou nã o se r" , nós no s
enco nt ra mo s, po r ef ei to de um a le i
in co er cí ve l, na de pe ndência de nós mesmos,
isto é, na necessidade de praticar no ss as
próp ri as vo li çõ es. De ma is a ma is , sa be mo s,
de sob ejo , que , se ta l con di ção não fo sse a
do ser hum ano , nã o ha ve ri a pa ra el e
ne nh um se nt id o na do r da cu lp a, na ale gri a
do bem que fez , com o, de res to, nas
dec lar ações da justi ça.
Ag ra de ço ao Re v. Jo se Go nç al ve s
Sa lv ad or o pr iv ilé gi o de fa ze r es te br ev e
exór di o a se u tr ab al ho . Co m el e mu it o me
co ng ra tu lo à vi st a da co nt ri bui çã o qu e
traz, com seu livrin ho, à litera tura relig iosa em
portu guês.
I N T R O D U Ç Ã O
J o s é G o n ç a l ve s S a l va d o r
Es te li vr in ho, an te s de tu do , é ur na
sa ti sf aç ão a pe di do s qu e am ig os me
di ri gi ra m há te mp os , so li ci ta nd o pa ra
esc rev er alg um a coi sa a re spe ito das
rel açõ es ent re a Igreja Metodi sta e o
armini anismo . Em suas missiv as la men ta va m
el es hav er em no sso mei o de sco nh eci men to
quase total da histó ria e das doutri nas do
sistem a teológic o, ori gin ado com Tia go
Arm íni o, na Hol and a, em fin s do sé cu lo
XV I e, de ig ua l fo rm a, da s af in id ad es do
me tod ism o we sl ey ano com o me smo , a
pon to de se at rib ui r a amb os afi rm açõ es
que não lhe s são pec ul iar es.
Pus -me, en tã o, a ob se rv ar . Co nv er se i
co m de ze na s de pe ss oa s, arrola das numa
porção de denomi nações evangé licas, e
tam bém
li
jor na is
e
rev ist as.
Em
det erm ina do art ig o che ga va- se a di ze r qu e
o me to di sm o nã o dá im po rt ân ci a à gr aç a
de De us , qu e o ar min ia ni sm o é ep is co pa l, e
se nd o a Ig re ja Me to di st a ep is co pa l e
ar mi ni an a, ip so fa to , é um sistema papal.

Ora , ta is dec lara çõe s não con di zem com a
ver da de
e
só
re ve la m
la me nt áv el
ig no râ nc ia . A do ut ri na da gr aç a é
fu nd am en ta l em to do o me to di sm o. E
qu an to ao pr eten did o epi sco pal ism o, bas ta
esc lar ece r que o met odi smo in gl ês , fr ut o
di re to de Jo ão We sl ey , nã o é ep is co pa l.
Dev o le mbrar , ai nda , qu e o arm ini ani smo
hol and ês ado tou como forma de govern o
eclesi ástico o sistem a presb iter iano.
Minh as obser vaçõ es acab aram por dar
razã o aos meus am ig os mi ss iv is ta s, le va nd o me a es cr ev er as no ta s qu e id es le r. Tr at a se de tr ab al ho si mp le s, se m pr op ós it os de
eru diç ão; coi sa que nem de lev e pos suo .
Qui s tor ná-lo ace ssí vel ao mai or nú mer o de
pes soa s, par a, as sim , pre s ta r me lh or
se rv iç o. Li mi te i- me a me ia dú zi a de
pá gi na s sobre cada capítulo, ou pouco mais,
quando poderia escre ver cent ena s. Se me
apr ofu nda sse
no
est udo ,
far ia
obr a
vo lu mo sa , de ma io r cu st o e de int er ess e,
ta lv ez , só pa ra um a pe qu en a el it e. Em
to do ca so , as pi ca da s fi c am abertas.
Fa ço , no pr im ei ro ca pí tu lo , um a br ev e
an ál is e
da s
condi ções
geogr áficas ,
econôm icas, socia is, políti cas e re li gi os as do s
Pa ís es -Ba ix os no in íc io do s te mp os
16
1/

Jo sé Go nça lv es Sal va do r

mo de rn os , po is de ve mo s co nh ec er o
ce ná ri o on de os fa to s se pro ces sam e ond e
os ato res des emp enh am seu s pap éis . É
imp oss íve l a His tór ia sem a Geo gra fia . A
Hol and a, por exemplo, não se explica
independentemente do Mar do Nor te. Mes mo
as idé ias soc iai s, pol íti cas e rel igi osa s têm
no tá ve l re la çã o co m o ha bi ta t, ou se ja , o
am bi en te no se u ma is am pl o se nt id o. E
is to
ta mb ém
ex pl ic a
po rq ue
o
ar mi ni an is mo ge rm in ou on de o ca lv in ism o
já se ha vi a rad ica do. A épo ca exi gi a mai or
com pre ens ão do ho mem . A Re na sc en ça , os
se gu id or es de Du ns Sc ot us , fr an ci sc anos
em sua mai ori a, os arm ini ano s e out ros ,
tod os pug na vam por sua valorização.
No segund o capítu lo aparec e o vulto
inconf undív el de Ar mí ni o, qu e é fi gu ra
ce nt ra l no es tu do em ap re ço , para, então ,
no capítu lo seguin te, verifi carmos quais as
ca us as de su as id éi as e qu ai s as su as
co nc ep çõ es do ut ri ná ri as .
Já o ca pí tu lo IV é um el o na ca de ia da
ex po si çã o es ta be le ce nd o um a po nt e en tr e
o ar mi ni an ism o e o me to di sm o, e ne le se
di rá da or ga ni za çã o e ex pa ns ão do
ar mi ni an is mo . Co nv ém ob se rv ar , aí , a
in fl uê nc ia
qu e
aq ue le
ex er ce u
no

.4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo

pe ns am en to da ép oc a, pr im ei ro na Europa
e, depois, na América do Norte.
Os
do is
úl ti mo s
ca pí tu lo s
sã o
de di ca do s ao me to dis mo . At ra vé s de le s
pr oc ur ar ei mo st ra r co mo o ar mi ni an is mo
we sl ey an o se or ig in ou e se de se nv ol ve u,
se m con tac to dir eto com o arm ini ani smo do
teó log o hol and ês, e ma is , qu e em mui to s
po nt os se dif er en ci a do me sm o e se lh e
av an ta ja . Ce rt as do ut ri na s, de qu e o
ar mi ni an is mo ne m se qu er co gi to u e, se o
fe z, de ix ou -as em pl an o secundário, ocupam
lugar saliente no metodismo.
Os pre za dos le ito res iri am ad mir ar- se ,
co m cert ez a, das ref erê nci as que , a cad a
pas so, sur gir ão ao cal vin ism o. Ma s de sd e já
os pr ev en im os . Se ri a di fí ci l mo st ra r a
gênese do armini anismo holan dês e a sua
nature za sem re co rr er ao si st em a qu e lh e
de u ca us a. En fa ti za va -se ta nt o a so be ra ni a
ab so lu ta e ir re st ri ta de De us , em co mpl et a
ne gl ig ên ci a do ho me m, qu e a re aç ão te ri a
de su rg ir . Co mo di ri a He ge l, a te se
or ig in ou a an tí te se e, de am ba s, re su lt ou
a sí nt es e. No me u en te nd er , o me to dismo
representa a síntese, porque soube valer-se das
mais justas e melho res concep ções, quer do
calvin ismo
quer
do
ar mi ni an is mo .
En tr et an to , nã o é um a co is a e ne m outra.
O
metod ismo
tem
a
sua
própr ia
indivi duali dade. Da me sm a so rt e, qu ai sq ue r
re fe rê nc ia s
ao
pe la gi an is mo
e
ao
cat oli cis mo rom ano , visa m esc lar ece r as
que stõ es em es tu do . Ni ng ué m, po r is so ,
ju lg ue qu e pr et en do fa ze r po lê mi ca . Me u
ob je ti vo é o de to rna r me lh or co nh ec id o o
ar mi ni an is mo e re ve la r as af in id ad es e
di st in çõ es do metodismo com ele. Espero
conseguir isto.

CAPÍTULO 1

CO MO SE CO NS TR ÓI UM A
GR AN DE NA ÇÃ O

1 -

OS

PAÍSES-BAIXOS,

CONDIÇÕES

GEOGRÁFICAS.
A Ho la nd a e Bé lg ic a, ma is co nh ec id as
ou tr or a po r Paí ses -Bai xos , ocu pav am uma
fai xa de ter ras ao lon go do Ma r do No rt e,
na Eu ro pa No rt e Oc id en ta l. No le st e
conf ront avam-se com div ers os ter ritó rio s
ger mân icos e, no oes te, com a Pic ard ia e
Cam pan ha fra nce sas . Não tin ham , po is ,
fr on te ir as na tu ra is , sa lv o as ma rít im as ,
ap es ar de recortados por movimentados
cursos de água, como o Re no , o Es ca ld a e
ou tr os .
O ba ix o ní ve l do se u li to ra l fa cil ita va a
inv asã o
qua se
con sta nte
da
par te
con tin ent al
pe la s
ág ua s
do
ma r,
am ea ça nd o la vo ur as e re si dê nc ia s. Em
vista disso, fazia-se mister construir diques e
16
1/

Jo sé Go nça lv es Sal va do r

abrir can ais , opo r -se ao elem ento adv erso e
tra nsf orma r a pou co fé rt il pl an íc ie em so lo
ap ro ve it áv el . E, as sim , de se nv ol v eu -se ali ,
esp eci alme nte nas pro vínc ias do nor te, as
qua is vi er am a co ns ti tu ir a mo de rn a
Ho la nd a,
um
po vo
la bo r ios o
e
em pre end edo r, afe ito aos per igo s, dad o ao
com ér cio e amante da liberdade.
1 - O INTERCÂMBIO COMERCIAL.
À fa lt a de ma té ri as pr im as e de ví ve re s,
ti nh a o ho landês que voltar-se para o mar e
para o comércio. Depe nd en do de ou tra s
na çõ es , pr ec isa va es tre it ar re la çõ es com
ela s e faz er-se pacífic o. A pos içã o
geo grá fic a do país colocava-o, naturalmente,
como
intermediário
entre
as
re gi õe s
se te nt ri on ai s e as ce nt ra is e , at é as do
me io -di a,
ci rc un st ân ci as
a
qu e
se
ju nt ar am as do ca pi ta li sm o es t ra ng ei ro ,
gr aç as ao af lu xo de ju de us ex pu ls os de
Es pa nha e Po rt ug al , po r se us re is .
As in dú st ri as ma is pr os per ara m ent ão.
Mer cad ori as sub iam e des cia m seu s rios,
to rn an do -se al gu ns do s se us po rt os do s
ma is fr eq üe nt ad os em to da a Eu ro pa :
An tu ér pi a
e
Am st er dã .
De
lá
se
re ca mb ia vam te ci do s de di ve rso s tip os ,

.4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo

vid ro s, cr is ta is , rel ógio s, ba ca lha u e
inc lus ive o lat ão e o cob re que Po rtu ga l
tr af ic av a co m o Or ie nt e. Pa ra os Pa ís es Ba ix os rem eti am os lus os o açú ca r da Il ha
da Mad ei ra e do Br asi l, vin ho, aze ite , sal ,
art igo s da Áf ric a e es pec iar ias do Le va nt e.
Co m
a
de rr ot a
da
"A rm ad a
In ve nc ív el ", na qu al os ibé ric os per der am
o mel hor de sua s emb arc açõ es, pa ss ou a
Ho la nd a a pr ed om in ar no s ma re s ju nt o
co m
a
Ing lat er ra .
Dua s
de
su as
com pan hia s de co mé rci o gan hara m fa in a:
a da s Índ ia s Or ie nt ai s e a da s Ín di as
Oc id enta is . Te rr as do Índ ic o e da Áf ri ca
ca ír am so b se u do míni o, nã o es ca pa nd o à
su a co bi ça ne m o ri co no rd es te brasileiro.
3 - A VIDA SOCIAL.
To dos est es fa tor es rep er cu ti ram em su a
vid a soc ial e cu ltu ra l. A ar ist oc ra ci a ur ba na
e a ru ra l viv ia m pou co di st an ci ad as um a da
ou tr a.
O
nú me ro
de
ci da de s
er a
re lati vam ent e gra nde , emb ora de fra ca
den sid ade . Lei den e Ams terd ã, ent re as
mai ore s, con tava m ape nas uma s 20. 000
al ma s. To da s ti nh am di re it o a um
re pr es en ta nt e no go ver no pr ov in ci al , ou
se ja na As se mb lé ia (E st ad os Pr o vin cia is) .
O neg oc ian te ain da não era mu ito ric o, ma s
já usufruía posição de certo destaque. A ele, e
sobretudo ao ari sto cra ta, cab ia a mai or
inf luê nci a do gov ern o do pa ís.
Os ar tes ãos es ta va m con cen tr ado s na s
cid ade s, reu ni dos em co rp or aç õe s (g il de n) ,
ma is ou me no s pa re ci da s ao s mo de rn os
si nd ic at os op er ár io s. Go za va m de re la ti va
si tua ção eco nôm ica e de mod o ger al sab iam
ler . O res tan te da pop ula ção con st itu ía -se
de la vra do res e ma rin he iro s. O proletariado
era pouco numeroso.
Ta lve z a Hol and a fos se na épo ca o paí s
me lho r equ ili br ad o, so ci al me nt e. A ri qu ez a

e a cu lt ur a es ta va m ao al ca nc e de mu it os .
Já na Id ad e Mé di a os "I rm ão s da Vid a
Com um" tin ham est abe lec ido esc ola s par a
os fi lho s do po vo . Ho la nd es es fo ra m
Re mb ra nd t, Ro es br oe c, We sse l, Gro ot,
Era smo agr íco la, Gro tiu s, Spi noz a e Tia go
Ar mí ni o. In st ru çã o, es pí ri to me rc an ti l,
in te rc âm bi o co me rci al , ha ve ria m de cr ia r
no s cid ad ão s o sen so de li ber da de e o
am or à de mo cr ac ia . E ag or a, se m me do de
err ar, pod emo s acr esc ent ar que ao fat or
rel igi oso se dev e o ap ri mo ra me nt o de ss e
es pí ri to de in de pe nd ên ci a, de ap eg o à
li be rd ad e e de in te re ss e pe la do ut ri na da
Re forma.

4 - A SITUAÇÃO POLÍTICA.
Te nd o pe rt en ci do à Fr an ça , co mo do te
de Ma ri a de Bor gon ha, em vir tud e de seu
cas ame nto com Max imi lia no da Áust ria ,
vie ram os Paí ses -Bai xos a cai r sob o
dom íni o es pa nh ol , po rq ue Ca rl os V e se u
fi lh o Fe li pe II de sc en di am em li nh a di re ta
do s ha bs bu rg os au st rí ac os . Em su as
mã os est av am , tam bém , a Ale ma nha , pa rte
da Am é ri ca , Áf ri ca e re gi õe s da Ás ia . "O
so l nu nc a se pu nh a em tão vastos domínios",
como se veio a dizer.
:10

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

A po l ít ic a de st es ha bs bu rg os ja ma is
fo i be m ac olh id a no s Pa ís es-Ba ix os .
Ca rl os V fe z o má xi mo pa ra ce nt ra li za r o
po de r es ta ta l, us ur pa nd o ao po vo ve lh os
pri vil égi os já con sag rad os, nas cen do dai
ama rga ant ipa tia pa ra co m el e e se us
re pr es en ta nt es .
Um de se us er ro s mai s gra ves foi o de
que rer ext ing uir pel a força a inf luê ncia das
idé ias pro tes tan tes , já em fra nco pro gre sso
no sei o do pov o. Por ess a cau sa, em 152 3,
doi s fra des ago sti nho s, res pon dem a
in qué rit o em Br ux ela s, sen do a se gui r
que ima do s. São el es , He nr iq ue Vo es e
Jo ão Esc h , os do is pr ime ir os má rti re s da
Re fo rma . Ce nt en as de Ou tr os viera m
de po is . No me sm o an o su rg e o No vo
Te st am en to em ho la nd ês , tr ad uz id o de
Lu te ro . Os ge rm es do mi st icis mo de
Kem pis e de We sse l, se des per tam .
Rea cen de-se na alm a de ss a ge nt e am an te
da li be rd ad e o de se jo de co nh ec er a no va
fé . Qu er en do Fi li pe ap ag á-la co m mã o de
fe rr o, ma is el a se in ce nd ei a. In qu is iç ão ,
ex ec uç õe s, em prego de fo rça mi lit ar , tu do
se to rn a em vã o. O po vo se un e, os no br es
se
ar re gi me nt am ,
ma ri nh ei ro s
e
pe scad ore s se con ver tem em ter ror par a as
hos tes esp anh ola s. A ca us a ad qu ir e fo ro s

17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,)
e

27

de na ci on al id ad e. Co mb at e-se o in im ig o
em te rr a e no ma r. Pe la pá tr ia e pe la fé
re nu nci a-se a tu do . Qu an do Le id en já nã o
po de re si st ir ao sí ti o, Gu il he rm e de
Or an ge ma nd a ar ro mb ar os di qu es e
in un dá-la . Ma s a vit ór ia ca be , po r fi m, ao s
na cio na is .
Em
ho me na gem
ao
se u
he ro ís mo , a ci da de fo i pr em ia da com uma
universidade (1575).
Em 15 79 , af in al , as se te pr ov ín ci as do
no rt e re so lve ram su bsc re ver o tr ata do de
Ut rec ht, em vir tud e do qua l se co ns ti tu ía m
em na çã o in de pe nd en te , co m o no me de
Pr ov ín ci as Un id as . Em 15 88 dá -se a
de rr oc ad a da Ar mada Invencível. Em 1609,
Espanha e Holanda assinam um ar mi st íc io .
Es ta va ga nh a a in de pe nd ênc ia , e co m el a
o protestantismo também recebia o seu
reconhecimento.
5. O FATOR POLÍTICO-RELIGIOSO.
A ca us a da re vo lt a fo ra po lí ti ca e
re li gi os a.
De
um
lad o est ava m os
esp anh ói s e o rom ani smo , e do out ro os
sú di to s ne er la nd es es e a do ut ri na da
Re fo rm a. A Ig re ja Cat óli ca man tin ha-se
uni da ao Est ado e o apo iav a na lut a co nt ra
a fé pr ot es ta nt e. Ao s po uc os o el em en to
:11

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

re fo rma do
ass um iu
as
réd eas
do
mo vim ent o, de so rt e que , ao fi m da gue rra ,
o dom íni o pol íti co ta mb ém lhe per ten ci a. O
lu te ra ni sm o ce de ra pa ss o ao ca lv in is mo .
As ig re ja s for am tra nsf orm ada s em tem plo s
eva ngé lic os,
e
os
sac erdo te s
nã o
co nv er tid os à no va do ut rin a de ixa ra m o
pa ís , emb ora o tra tad o de Utr ech t gar ant iss e
a qua lqu er pes soa o di re it o de li vr e
co ns ci ên ci a. Co nt udo , o nú me ro de
cat ól ico s ai nda er a bem gra nde , ha ve ndo
de igu al fo rma muitos anabatistas, luteranos,
judeus, e socinianos.
Fo i du ra nt e os an os da gue rr a qu e o
pr ot es tan ti sm o se or ga ni zo u em Ig re ja . Já
po r vo lta de 156 1 su rg e ur na Co nf is sã o de
Fé , re di gi da pe lo jo ve m pa st or Gui do de
Br és ,
ju nt am en te
co m
tr ês
ou tr os
mi ni st ro s. Fo i gr aç as a el a qu e o
ca lv in is mo
ga nh ou
as ce nd ên ci a
no s
Pa ís es -Ba ixo s. De po is , em 15 63 , re úne mse pe la pr im ei ra ve z em sín odo os
del ega dos
de
vár ias
con gre gaç ões ,
est abe lece nd o o se u pr óp ri o si st em a de
go ve rn o, e po r cu jo mo del o tom ar am o da
igr ej a de Gen eb ra . Ado tou -se, ent ão , o
pre sbi ter ian ism o, mas em cad a uma das
set e pro vín cia s a adm ini str açã o ecl esi ást ica
era qua se aut ôno ma, vist o ser a Ho la nd a

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e

27

ma is um a co nf ed er aç ão de Es ta do s qu e
um a nação. Só poderia haver assembléia geral
(sínodo) quando todas as províncias dessem o
seu assentimento.
Em 1566 a Confissão Belga, de Guido de
Brés foi adotada oficialmente pelo sínodo de
Antuérpia. Quanto à idéia das relações ente
Estado e Igreja, vigorou a da autonomia desta,
se bem que aliada ao Estado.
A Igreja Holandesa pode orgulhar-se de suas
lutas e vitórias, de seu passado de Heroísmo e
martírio. Em suas fileiras militaram vultos do
porte de Guilherme de Orange, estadista e
patriota, Hugo Grotius, fundador do direito
internacional, Guilherme de Brés e Simão
Escópio, entre os grandes teólogos da
humanidade, convindo lembrar que também na
Confissão Belga se inspiraram mais tarde os
autores da Confissão de Westminster.
De
Tiago
Armínio
recebemos
uma
interpretação mais harmoniosa do caráter divino
e da personalidade do homem; por isso, tanto
melhor admirado quanto mais decorrer o tempo.
:12

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

CAPÍTULO II

TIAGO ARMÍNIO NO CENÁRIO DE
SUA PÁTRIA

No mu lt iv ar ia do ce ná ri o do s Pa íse sBa ix os su rg iu em fi ns do sé cu lo XV I a
fi gu ra de um pe rs on ag em , qu e br ev e
pa ss ar ia à Hi st ór ia . Os pa is de ra m-lh e o
no me de Jak obs Her ma nns , ou Her man sen ,
ma s Ele pre fer iu lat ini zá -lo pa ra Ar min ius ,
com o
se
cos tu ma va
ent ão .
Jak obs
cor res pon de a Jac ó, Jaim e ou Ti ago .
Out ro s já hav iam tid o idên tic o nom e no
pas sado , sagr and o-se pel o me no s do is
de le s co mo ca mp eõ es da li be rd ad e. Um fo i
aq uele ch ef e ge rm ân ic o qu e no an o 9
A. D. ve nc eu as le gi õe s do ro ma no Va ro . O
se gu nd o, mo de st o pa st or de ove lha s,
not abi liza ra-se nas cam pan has da vel ha
Lus itâ nia .
Qua nto ao ter cei ro, cab e-lhe gló ria ain da
ma ior , em bo ra ja ma is te nh a le va nt ad o um a

17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,)
e

27

es pa da ou lu ta do de ar ma s na mã o. Fo i,
po ré m, gr an de ba ta lh ad or , mi li ta nd o no
cam po árd uo das ati vid ade s esp iri tuai s. As
rev olu çõe s não se fa zem sem idé ias , e
Jak obs (Ti ago Armínio ), nos so bio gra fad o,
fo i ho me m de id éi as .
Lu to u po r um a in te rp re ta çã o ma is li be ra l
da
Te ol og ia ,
ex al ta nd o
a
di gni da de
hu ma na , se m de st ro na r a De us da gló ri a
qu e Lh e é de vid a, at ean do as cha mas de
uma rev olu ção que mai s e mai s se vem
ala str ando mu nd o af or a. Si m, po rq ue su a
in fl uê nc ia se es te nd eu ta mb ém a ou tr os
se to re s. El a se pr oj et ou s obr e a vi da
pol íti ca, eco nôm ica , soc ial e fil osóf ica . Dos
Paí ses-Bai xos sa lt ou pa ra as na çõ es
vi zi nh as , tr an sp ôs co nt in en te s, e ag or a
pe rc or re o un iv er so . Já é ca ud al , e
ni ng ué m a poderá deter.
1 . OS P RI ME I RO S AN OS DE S UA
VI DA .
Arm íni o sab ia
de spe rta r sim pat ias ,
por que de sde pe qu en o ma ni fe st ou bo as
qu al id ad es .
Er a
hu mi ld e,
in te li ge nt e,
op er os o, de di ca do. E is so lh e va le u
gr an je ar am izad es sin cer as, e com as qua is
pode con tar até ao fi m de su a jo rn ad a
:13

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

te rr en a. Te nd o na sc id o na pe qu en a ci da de
de Ou de wa te r, no su l da Ho la nd a, ao s 10
de ou tu br o de 156 0, teve a infe lic idad e de
per der o pai , o cute lei ro Herman n Jako bs,
alg uns ano s dep ois . A mãe , Ang éli ca, viu-se,
en tã o, em sé ri as di fi cu ld ad es pa ra ma nt erse e ao s tr ês fi lh os ór fã os .
Tia go enc ont rou daí a pou co val ios o
pro tet or na pes soa do ex-sac erd ote cat óli co
rom ano Teo dor o Em íli o, alm a bon dos a
con ver ti da ao pro te sta nt ism o. Pe rce be ndo
no
me ni no
qu al id ad es
ap ro ve it áv ei s,
en ca mi nh ou -o a Utr ech t a fim de ins tru ir-se.
Aos 15 ano s, a mor te fer e-lhe de no vo o
co ra çã o, ar re ba ta nd o-lh e o am ig o. Ma s o
Pa i cel est e não o aba ndo nou . O mat emá tic o
Rud olp h Sne liu s, in do a Ou de wa te r, su a
te rr a na ta l, ac ho u al i o jo ve m Ti ag o
Ar mí ni o e in te re ss ou -se po r e le , le va nd o-o
pa ra
Ma rb ur g,
on de
ex er cia
o
pr of es so ra do .
Po uc o
tem po
depo is ,
as
tr op as
es pa nh ol as
en tr ar am
em
Ou de wa te r,
sa qu ea nd o re si dê nc ia s e de st ru in do tu do à
su a pa ss ag em , de mo do qu e, qu an do
Ti ag o qu is re ve r os pa re nt es , so ub e -os
tod os mor tos . Só lhe res tav a con for mar-se
mai s uma vez e prosseguir no caminho da vida.

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e

27

2. O PREPARO ESCOLAR
Apó s os aco ntec imen tos aci ma nar rado s,
vam os enco ntr ar Ar mí ni o na ma je st os a
Ro te rd ã, nã o mu it o lo ng e da ma r. Aq ui ,
fa z va le r de no vo a ch av e má gi ca do se u
bo m ca rá te r, am pl ia nd o su a li st a de
am izad es . En tre el as des tac ou se de pr ont o
a de Ped ro Be rtiu s, Sê nio r, pa sto r da igreja
local , que o trato u como se fora da famíl ia e a
de seu filho , o jovem Pedro . Mais tarde
have ria este últim o de escre ver a biog rafia do
amigo de tanto s anos e cumpr ir a difíc il taref a
de profe rir a oração memo rial.
Be rt iu s ma nd ou se u fi lh o Pe dr o e
Ti ag o pa ra es tu da r na Un iv er si da de de
Lei den . Con qua nto rec ém -cr iad a, di ver so s
me str es em ine nte s re gia m su as cá te dr as
co m br il ha nt is mo , co mo o erudito Lambert
Danaeus e o ilustre João Dousa. Em 1578 o
velho amigo de Armín io, Rudol ph Snel ius,
juntou-se
ais
grupo
desses
eficientes
professores.
Fo ra m se is an os út ei s os qu e Ar mí ni o
pa ss ou e m Lei den . Est udo u Teo logi a,
Fil osof ia, Heb raic o, Lit era tura e out ras
dis cip lin as, sem pre com ass idu ida de, gosto
:14

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

e apr ove it am en to . Se u ex em pl o to rn ou -se
no tó ri o.
Mi ni st ros
do
Eva nge lho
e
aut ori dad es civ is se int ere ssa ram por e le.
No va s po rt as se lh e ab re m ! Ma nd am -no
en tã o
a
Ge ne br a,
a
Ro ma
do
pr ot es ta nt is mo ,
pa ra
cu rs ar
a
un iv er si da de. A Câm ara do Com érc io
as sum ia
a
res pon sab ili dad e
pe la
ma nu te nç ão do es tu da nt e, o qu al en tr av a
pe la ca sa dos vinte e um anos por essa época.
Na
cos mo pol ita
Gen ebr a o mo ço
nee rla ndê s fre qüe nto u as pr el eç õe s do s
pr of es so re s ao la do de co le ga s de vá ri as
na ci on al id ad es . Po nt if ic av a a li a fi gu ra de
Te odor o Bez a, suc ess or de Cal vin o, ain da
mai s
ext rem ado
do
qu e
ele
no
pr ed es ti ni sm o. Nã o fo i is to , po ré m, qu e o
lev ou a inco mpa tib ili zar-se com um dos
mes tre s, mas , sim , a im po rt ân ci a qu e se
da va ao en si no ar is to té li co . Tr an sfer iu -se,
em con seq üên cia , pa ra Bas iléa, sen do
rec ebi do al i co m si mp at ia . Co nv id ad o a
pr of er ir al gu ma s pr el e ções, tomou a epístola
aos Romanos como texto, e delas se
de si nc um bi u co m ag ra do ge ra l. Se u
pr es tígi o cr es ce u, a po nt o de a pr óp ri a
un iv er si da de qu er er di pl om á -lo co m o
ti tu lo de do ut or cm Te ol og ia : ho nr a qu e
re cu so u, al eg an do se r ai nd a mu it o jo ve m.

17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,)
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Lo go de po is re gr es so u a Ge ne br a, on de o
tr at a ram , ag or a, co m ma is at en çã o. Be za,
re spo nd en do a um a ca rt a vi nd a de
Ams te rd ã, na qu al se in da ga va de
Ar míni o, de u o me lh or te st em un ho quanto à
sua piedade e dons intelectuais.
Ao fi m deste s tr ês ano s de pr ov eit os os
est udo s, res ol ve u de sc er à It ál ia e ir a
Pá du a, on de o cé le br e T ia go Za ba re la
le ci on av a
Fi lo so fi a.
Vi si to u,
ta mb ém ,
ou tr as ci da de s e es te ve em Ro ma , qu e o
im pr es si on ou co m re al de sa gr ad o. Ma s,
na pá tr ia di st an te , in di ví du os ma ld os os
co me ça ra m a ma nc ha r-lh e a re pu ta çã o,
pr op al an do qu e co nf ab ul ar a co m os
je su ít as e ch eg ar a a be ij ar os sa pa to s do
Pa pa . Er a o pr in cí pi o da lu ta qu e t er ia de
en fr en ta r du ra nt e o re st o da vi da .
Fe li zm en te le va ra co ns ig o a Ad ri an o
Ju ni us na vi ag em e, po r is so , fá ci l lh e fo i
pr ovar que nem sequer vira o chefe da Igreja
Católica.
3.
ARMÍNIO
NO
EXERCÍCIO
DO
PASTORADO.
No
pr in ci pi o
de
15 88
a
Co rt e
Ec le si ást ic a de Am ste rd ã ch am ou -o a
exa me s, a fi m de co nf ia r-lh e en ca rg os
:15

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

pa st or ai s. Ap ro va do ta nt o em su a fé co mo
na s do ut ri na s pe la un an im id ad e do s
ju lg ad or es , em fe ve re ir o, Ar míni o en tr ou
no ex er cí ci o do se rv iç o di vi no . Em ag ost o
of er ec era m-lhe o pa sto rad o da imp ort ant e
igr ej a de Am st erd ã. Gr an de hon ra , se m
dú vid a, pa ra um mo ço de vin te e oi to an os ,
ma s a re sp on sa bi li da de nã o er a me no r,
se nd o
uma
da s
ci da de s
ma is
mo vi me nt ad as
na
ép oc a
po r
se u
in te rcâmbio comercial e pelo afluxo de
estrangeiros.
No come ço to do s o ol ha vam com
ex pe cta ti va . Os ma is ve lh os , ge ra lm en te
co ns er va do re s, re ce an do as in ov aç õe s de
um ra pa z qu e an da ra po r ou tr as te rr as ; os
ma is jo ve ns, es pe ran do al gué m que os
com pre end es se. Os dia s se pas sa ra m e
c om o te m po , A rm ín i o s e f e z m e re ce d o r
d a e st im a e a pr eç o do se u re ba nh o.
Pr eg av a co m sa be do ri a e po de r. Nã o
de ix av a im pu ne o ma l, ne m de co nf or ta r
os an gu sti ad os . Ho uv e qu em se re fe ri ss e
a el e ch am an do -o de "n av al ha pa ra fe ri r
os er ro s da ép oc a" e "f il et e da ve rda de ".
O li vr o de Ma la qu ia s e a ep ís to la ao s
Ro ma no s se rv ir am , en tã o , co mo ba se de
su as
ex po si çõ es. Se gu in do-se -lh es o
Ev an ge lh o de Ma rc os , o li vro de Jo na s e a

17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,)
e

27

epístola aos Gálatas. Em 1692 as preleções
versaram sobre as cartas dirigidas às sete
igrejas da Ásia.
O ri co ne go ci an te Ko or uh er t cr it ic av a,
en tã o, o ca lvi ni sm o ex tr em ad o, do mi na nt e
na Ho la nd a. Qu em , po r co ns eg ui nt e,
me lh or cr ed en ci ad o pa ra de fe ndê -lo qu e o
ex -al uno de Te odo ro Bez a? Ace ita a ta ref a,
que er a árd ua, d esi nc um bi u -se de la a
co nt en to , po ré m os es tu do s qu e pa ra is so
fi ze ra , le va ra m-no a de sc ob ri r ce rt as
im pl ic açõ es
sé ri as
na
do ut ri na
da
pr ed es ti na çã o. E o re su lt ad o nem o
po de re mo s pr ev er : qu er en do ap ag ar um a
br as a, at eo u um a fo gu ei ra , ne la cr es tan do
as pr óp ria s mã os .
Em br ev e as di sc us sõ es lh e to ma ra m
te mp o pr ec io so , co m pr ej uí zo s pa ra se us
es tu do s, se u pa st or ad o e su a famí li a. Os
adv er sár io s não lh e dav am des ca nso .
Mui tas vez es di sto rci am o sen ti do de sua s
pal av ras .
Em
15 91
tac ha ram -no
de
pel agi ano .
Pre cis amo s, no ent ant o, ser ver dad eir os
e diz er que , nes sa épo ca, sua s no vas id éia s
já não se coa dun av am in te ir am en te co m as
da Ig re ja Re fo rm ad a, Me sm o as si m,
:16

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

continuava gozando da estima geral, tanto que,
em 1594, as au to ri da de s o ch am ar am pa ra
co la bo ra r no pl an o de reforma das instituições
educativas locais.
Ti ag o Ar míni o ca so u -se , a 16 de
se te mb ro de 15 90 co m El iz ab et h Re al ,
se nh or a di st in ta , pr ep ar ad a e de bo a
po si çã o so ci al , po is se u ir mã o La wr en ce
er a
ju iz
em
Am st er dã .
El a
sa bi a
co mp re en dê -lo e se rv iu -lh e de am pa ro na s
ho ra s am ar ga s de su a vi da , qu er no me io
de contendas e calúnias, quer nos momentos de
enfermidade.
Uma pro va da ded ica ção de Tia go e sua
fam íli a par a co m os pa ro qu ia no s e
co nc id ad ão s, te mo-la du ra nt e os te rr ív ei s
di as em qu e mo rt íf er a pr ag a se al as tr ou na
ci da de . Or an do a De us , se nt ir am qu e lh es
pe di a fi ca re m ali , ao inv és de se afa sta rem
do per igo . Esc rev end o, nes ta oca siã o, ao
seu am igo J. Uyt ten bog ae rt , pas to r da
igr ej a de Ha ia , di ss e: "as si m eu te nh o-me
en co me nd ad o
e
a
mi nh a
vi da
à
mi se ri có rd ia
di vi na ,
ag ua rd an do ,
di ar ia me nt e, at é qu e a re qu ei ra de mi m .. .
e is to fa ço co m a mente quieta, tranqüila e
imperturbável".

17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,)
e

27

Em ci rc un st ân ci as tã o di fí ce is , Ti ag o
Ar mí nio
to rn ou -se
um
mo de lo
de
ab ne ga çã o; on de ho uv es se uma ov el ha
par a se r soc or rid a, lá se enc ont rar ia ele.
Gas par Br and t, se u bi óg ra fo, co nta , a
pr op ós ito , o se gu in te ca so : ac ha ndo -se o
pa st or , ce rt a ve z, nu m di st ri to po br e, ou vi u
ge mi do s fr ac os , pa rt id os do in te ri or de
hu mi ld e mo ra di a. En tr ou e vi u al gu ma s
pe ss oa s qu e pa re ci am do mi na da s pel a
enf erm ida de e pel a sed e. Dep oi s de as
soc or re r, de ixou rec urs os em din hei ro com
os viz inh os par a lhe s ma nte re m a
as si st ên ci a. Da va as si m pr ov as de bo m
sa ma ritano.
De out ra fei ta, tra tav a-se de doi s
mem bro s da Igr eja : uma se nh or a e um
va rã o. At ac ad os pe la te rr ív el pe st e,
sentiam-se perturbados no espírito. Por que?
Indagou de le s Ar míni o. Re sp on de ra m -lh e
qu e nã o ti nh am ce rte za da pr óp ri a
sa lv aç ão . O pa st or lh es fa lo u, en tã o, do
gr an de am or de De us, qu e ma nd ou Se u
Fi lh o ao mu nd o par a sal var a tod os os
pec ado res , ilu str and o o ens ino com as
Esc rit ura s. "Cre des iss o? — poi s ess a é a fé
pel a qua l so mo s ju st if ic ad os e ac ha mo s
pa z em
De us ".
Os
do is
en fe rm os
en co nt ra ra m o co nfo rt o qu e an el av am ,
:17

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

vi nd o o homem a falecer dias depois na maior
tranqüilidade.
A pes ti lên cia gra ss ou por out ra s par te s
da Hol and a, abr ind o ma is cla ros ond e a
gue rra já os dei xar a gra nde s. Le id en fo i
at in gi da . A un iv er si da de pe rd eu al gu ns de
se us me st re s il us tr es . E qu em os
su bs ti tu ir ia ? O no me de Ar mí ni o fo i
le mb ra do pa ra u ma da s va ga s, ef et iv an dose, de fat o, a esc olha de le, apó s ter
per cor rid o os com petentes trâmites legais.
4. ARMINIO: MESTRE E POLEMISTA.
Nã o er a co is a fá ci l pa ra Ti ag o Ar mí ni o
de ix ar o se u re ba nh o. Am st er dã qu er ia lh e be m, es ta nd o el e já id en ti fi ca do co m
os ha bi ta nt es . E, al ém di ss o, nu nc a
as pi ra ra a se r pr of es so r na Fa cu ld ad e de
Te ol og ia . De ou tr o la do , al gun s co le gas o
co ns id er av am
el em en to
perigo so
à
for maç ão das nova s ger açõ es de min ist ros .
Fra nz Gom aru s era o pri nci pal del es.
Cri tic ava -o e lan çav a sus pe ita s sobr e su as
cr en ça s. Fo i is so qu e le vo u Ar míni o a
re cu sa r o co nv it e. As au to ri da de s pú bl ic as
de Am st er dã tam bém não o que ria m ce der ,
por jul gar em sua pre sen ça ne ce ss ár ia à

17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,)
e

27

ci da de . Fo i qu an do , pa ra di sc ut ir o ca so ,
reuniram-se em Haia delegados de várias
igrejas. O Rev. Uy tt en bo ga er t to mo u a
de fe sa
de
Ti ag o,
pa ss an do ,
em
conseqüência, a ser elemento Suspeito para
muitos. Não contentes estes apelaram para o
,
chefe da Província, João Ol de nb or nv el dt , pa ra
qu e, po r in fl uê nc ia de le , os Cu ra do re s da
un ive rs id ad e nã o o in ve st is se m no ca rgo.
Os Cu ra do re s, po rém , co nf ir ma ra m a
de ci sã o.
Ag ia m
m a l,
en tã o,
os
in im ig os ,
en vol ve nd o o Es ta do em pr ob le ma alh eio à
sua alç ada . Afi nal , a igr eja de Ams ter dã
ced eu-o me di an te ac ord o, na s se gu in te s
ba se s: se ri a de si gn ad o, pr im ei ro , o se u
su bs ti tu to no pa st or ad o; di reito de re t or no
a Ar mí ni o, com o pá ro co da ig re ja , se o
qu is es se; at en de r ao pe di do de Ar mín io
pa ra tr at ar pe ss oa lm en te co m Go ma ru s do
pr ob le ma .
Caso
as
su sp ei ta s
pe rm an ece ss em de po is de st a co nf erê nc ia
en tr e am bo s, o pa st or recusaria o ingresso na
Faculdade.
Arm ínio e Gom ar us enc ont ra ram-se a 6
de ma io de 16 03 , em Ha ia , na pr es en ça do
Sí no do , co nf or me vo nta de do pr im ei ro . O
te ól og o de Le id en co me ço u lo go at ac an do
:18

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,)
e

27

o pa st or de Am st er dã , po r di sc or da r de
su a su po st a op in iã o so br e o ca pi tu lo VI I de
Ro ma no s. Ma s, dep ois de ouv ir sua s
exp lic açõ es, int eir ou-se de que era m
ace itá vei s e não cor res pon dia m ao que del e
se pro pal ava . Di sc ut ir am , ta mb ém , ou tr os
po nt os , re pl ic an do el e a to do s co m
se gu ra nç a.
A
re un iã o
en cer ro u-se
fr at er na lm en te. To da via ai nd a re st av a uma
ex ig em ia a se r tr an spo st a qu an to à
in ve st id ur a na cá te dr a. Ar mí ni o pr ec i sav a
sub met er-se a exa me de Teo log ia per ant e
um a com iss ão e def end er tes e de
dou tor ame nto . É esc usa do diz er-se qu e se
sa iu be m em tu do . A te se ve rs ou so br e a
na tu re za de De us , e os ju lg ad or es fo ra m
Fr an z Go ma ru s, Hu go Gr ot iu s, ju ri st a e
te ól og o, e Mé ru la , to do s el es possuidores
de respeitável cultura.

Es co lh eu o li vr o de Jo na s pa ra su as
pr el eç õe s. Ma s nã o po di a de ix ar de
re co rr er , ta mb ém , ao No vo Te st am en to ,
pa ra se fa ze r me lh or co mp re en di do . E is to
fo i o ba st an te pa ra de sp er ta r o ci úm e de
Go ma ru s, po is con sid era va tal coi sa um a
int rom iss ão em seu campo de en si no . O
ch oq ue
se ri a
in ev it áv el !
Am bo s
re pr es en ta ram
te nd ên ci as
di fe re nt es .
Go ma ru s
er a
do s
ma is
ri go rosos
calv ini sta s,
enq uan to
Arm íni o ado tav a
pos içã o mai s sua ve, sem , no ent ant o, cai r
no pel agi ani smo .

Em po ss ad o em
se u no vo
ca rgo,
Ar míni o
pr oc ur ou
desempenhá-lo
com
eficiência e dignidade. Numa carta, dat ada de
22 de set emb ro de 160 3, diz ia tê-lo ace ito ,
não pa ra bu sc ar ho nr as ou ri qu ez as e,
si m, pa ra se rv ir o Eva nge lho de Cri sto .
Pro fe ssores e alu nos o apr eci ava m. Com
est es
ins ist ia
a
que
bu sca sse m
a
ver dad ei ra
sab ed ori a
na s
Es cr it ur as ,
ex em pl if ican do-o el e me sm o, di ar iame nt e .

Ar mí ni o não po di a se r cu lp ad o pe la s
id éi as de ou tr os , in cl us iv e do s al un os, ma s
se us co nt en do re s nã o pe ns av am as sim e
lh e at ri bu ía m ve rd ad ei ro s di sp ar at es . Qu e
fa ze r, en tã o? Qu an do po ss ív el , ch am av aos pa ra um a co nf er ên ci a pe ss oa l, de mo do
a di sc ut ir em fr an came nte o ass unt o em
fo co. Se al gué m ti ves se ra zõe s ma is for tes
e coe ren tes , ace ita-las-ia por que seu des ejo
era descob rir a ver da de.

Do
ter ren o
pes soa l
pas sar am
ao
teo lóg ico ; da Facu ldad e as dis cus sões se
es pr ai ar am pe la s ig re ja s e, em br ev e, po r
to da s
as
pa rt es,
o
pr ob le ma
da
pr ed es ti na çã o to rn ou -se o "p ra to do di a”.
:19

J o s é GOnç a lr e .

irad.r

Um des se s det ra tor es fo i o clé rig o Fes tes
Hom miu s. Re uni ram -se
os
do is,
con ver ten do-se aqu ele ao po nt o de vis ta de
Ar míni o. Ou tr as ve ze s te ve qu e sa ir a
pú bl ic o pa ra se de fe nd er , ou co mp ar ec er
pe ra nt e
às
au to ri da de s,
ou
ai nd a ,
re sp on de r po r es cr it o. Di fa mar am-no até
no est ran gei ro, esp eci alm ent e na Ale man ha,
Fr an ça , In gl at er ra e Sa vó ia . Se m qu er er ,
de sp er ta va m interesse por suas opiniões e o
faziam conhecido.

17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,)
e

27
36

José Go nçalves Salva dor

A sit uaç ão agr avo u-se a tal pon to que as
aut ori dad es ac ha ra m po r bem re un ir em
Ha ia os do is pr in cip ai s co n ten dor es, Tia go
e Fra nz Gom aru s, com a pre sen ça de oit o
mi ni st ro s da s Pr ov ínc ia s Un id as , qua tro do
su l e qua tr o do no rt e. A pa z ci vi l es ta va
am ea ça da e qu er ia m sa be r o qu e ha vi a
co nt ra Ar mí ni o. Er a o qu e es te de se ja va :
se r ac us ad o fa ce a fa ce e nã o co mo se
fa zi a.
Go ma ru s co mp ar ec eu e lo go o at ac ou ,
af ir ma nd o qu e en si na va a ju st if ica çã o do
ho me m pe ra nt e De us de mo do es tra nh o.
Ma s el e re sp on de u qu e su a op in iã o
co nc er ne nt e ao as su nt o es ta va co nf or me
a Ig re ja Re fo rm ad a, po is cr ia que a
jus tif ica ção era pel a fé , me dia nte a gra ça de
Deu s.
Ha via , de fa to , di fe re nç a en tre am bos ,
po rq ue Gom ar us da va to da a ên fa se à
gr aç a de De us , ma s ne ga va o va lo r da fé
co mo o el em en to do la do hu ma no .
Ar mí ni o pr o cura va con cil iar as dua s coi sas .
Por fim o Con sel ho ach ou qu e a
co nt ro vé rs ia
nã o
er a
de
mu it a
im po rt ân ci a.
O
es se nc ia l
se ria
a
to le râ nc ia mú tu a, de sd e qu e ho uv es se
bo m es pí ri to no s do is . Go ma ru s, po ré m,

miin ia nimn o e Al eto dsmo

20

ca re ci a de st e se nt im en to , mo ti vo pe lo qu al
mu it os di zia m: "é pr ef er íve l co mp ar ec er
pe ra nt e o tr ib un al di vi no co m a fé do
pas tor Arm íni o do que com a ca rid ad e do
teó lo go Gom arus ".
A ma ior di fi cu lda de est ava jus tam ent e
na dou tri na da pr ed es ti na çã o, en si na da
po r Go ma ru s e pe lo s ca l vin is ta s ma is
ri go ro so s. No co nc ei to de Ar mí ni o, a
pr ede st in aç ão ia de en co nt ro à na tu re za
de De us e a do ho me m, ge ra va o
de se sp er o, ti ra va o es tí mu lo pa ra uma vi da
de sa nt id ad e e di mi nu ía a im po rt ân ci a do
Ev an ge lh o. Co nt ud o, de su a pa rt e, a
ni ng ué m im po ri a su as id éi as ; ha ve ri a
pa z. Go ma ru s, ao co nt rá ri o, nã o pe rd ia
opo rtu nid ade par a con den á-lo, fosse na
uni ver sid ade , nos púlpitos ou perante os
chefes das Províncias.
5 . O FI M DA JO RN AD A.
A sa úd e de Ar mí ni o, ab al ad a de sd e há
mu it o, em me ado s de 160 0 agr av ou-se
ain da ma is. Os est ud os, as dis cus sõe s e os
dev ere s uni vers itá rio s exi gia m mai ore s
esf or ço s do qu e el e re al me nt e po di a
ex pe nd er . Se us me mbro s fora m aco me tid os
de lan gor , seu est ôm ago ma l tol era va os
21

josf4 Go n ça l v es S a l va d o r

al im en to s e ai nd a po r ci ma , fa zi am -lh e
pa de ce r
mui to
sua s
afe cçõ es
hip oco ndr íac as.
Viu -se obr iga do, por iso , a ret ira r-se par a
a cid ade nat al e ali sub me ter-se aos
cu id ad os de um mé di co . Du ra nt e es te
la ps o de te mp o Os am ig os tr ad uz ir am
su as ob ra s do la ti m pa ra o ve rná cu lo e
es cr ev er am al gu ma s ou tr as . O fo go da
co nt ro vér sia se ala str ou ma is int ens ame nte ,
obr iga ndo -o a com par ece r de nov o per ant e
as aut ori dad es civ is e a dis cut ir, ma is um a
vez , com Gom aru s, che fe dos rea cio nár io s.
As dis cus sõe s for am ver bai s, mas cad a
um ter ia que apr ese ntar , dep ois , por esc rit o,
as sua s raz ões , par a ult eri or dec isã o do
Sí no do a co nv oc ar -se pa ra br ev e. A
do en ça pr ogre diu sem que os clí nic os a
pud ess em ata lha r. Par a seu s ini mig os ist o
con sti tuí a pro va evi den te de cas tig o div ino .
Os am ig os , no ent an to , la me nt av am os
pa de cim en to s de Ar mí ni o, o qu al so fr ia
tu do pi ed os am en te e or av a se mpr e pe lo s
se us e pe la Ig re ja . Re pe ti a co m fe rv or
He br eu s 13 :2 0-21 :
"O ra , o De us da pa z, qu e to rn ou a
tr az er de nt re os mo rt os a Jes us nos so

A r min ia n is mo e M eto d is mo

39

Sen hor , o gra nde Pas tor das ove lha s, pe lo
san gue da et er na al ia nç a, vo s ap er fe iç oe
em to do o be m, pa ra cu mpri rde s a sua
von tad e, ope ran do em vós o que é
agr adá vel dia nte de le , po r Je su s Cr is to , a
qu em se ja a gl ór ia pa ra to do o se mpre.
Amém"
O Re v. Ba rt ol om eu Pr oe vo st iu s, se u
di sc íp ul o e, ma is ta rd e, pa st or em
Am st er dã , di zi a que o texto não mais lhe saía
do pensamento.
Assistiram-no, também, durante toda a
enfermidade, Simão Episcópio, Uyt te nb og ae r,
Ad ri an o
Bo rr iu s,
bo ns
am ig os
e
te st em un ha s de su a fi de li da de a Je su s
Cr is to .
O te st am en to qu e de ixo u é um ex em pl o
e fé e um a pr ov a da si nc er id ad e de se us
pr op ós it os . Ne le de cl ar av a co nf ia r a al ma
às mã os de De us , a cu ja pr es en ça ir ia se m
te mo r, te nd o a ce rte za de qu e O se rv ir a
co m si mp li ci da de e le al me nt e, ja ma is se
de sv ia nd o de su a vo ca çã o. E acr es ce nt av a
na da te r en si na do em sã co ns ci ên ci a qu e
fo ss e co nt rá ri o às Es cr it ur as . Se mp re
bu sc ar a a ex pa ns ão da verdade cristã.
22

josf4 Go n ça l v es S a l va d o r

Af in al , a 19 de ou tu br o, Ti ag o Ar mí ni o
de sc an so u em pa z. Mo rr eu co mo ju st o.
Ap en as co m 49 an os . Se m dú vi da um a
gr an de pe rd a e qu em ma is a se nt iu fo ra m
os seu s ínt imo s. De seu s set e fil hos ,
res tar am-lhe só doi s, po is qu as e to do s já o
ha vi am pr ec ed id o no ca mi nh o do cé u.
La wr en ce
to rn ou -se
ne go ci an te
em
Am st er dã e o outro, Daniel, ganhou reputação
como médico.
Pe dr o Be rt iu s, re ge nt e da Fa cu ld ad e de
Te ol og ia , que pre sid iu à sol eni dad e do
mem ori al, dis se de Arm íni o, no di sc ur so :
"vi ve u na Ho la nd a um ho me m a qu em os
qu e nã o o co nh ec ia m nã o o po di am
es ti ma r su fi ci en te men te ; aq ue le s qu e nã o
o es ti ma va m ja ma is o ha vi am con hec ido
suf ici en te men te" .
Dom in gos Ban d, Hu go Gro ti us e Da ni el
He iu si us , de di ca ra m ao am ig o e me st re
inesquecível significativos poemas elegíacos.

C AP I T U L O I I I

A r min ia n is mo e M eto d is mo

39

AS DO UT RI NA S AR MI NI AN A S

Po r ma is or ig in al qu e al gu ém no s
pa re ça , de sc ob ri mos , ao an al is ar mo s su as
id éi as qu e el as re fl et em um con jun to de Ia
tôr es e cir cun stâ nci as. Nun ca brotam
sim ple sme nte da raz ão. Alg o lhe s est imu lou
o apa rec ime nto . Ist o par a nad a diz er do
mu ito que se rec ebe por her anç a, di re ta ou
in di re ta me nt e. Fo i as si m co m os gr an de s
pe nsado res ,
fil ósof os,
mora list as,
soc iólo gos, pol íti cos, etc . E Tiago Armínio se
inclui nessa regra.
As di fi cu ld ad es ge ra is qu e os Pa ís es Ba ix os
en fr en ta ram
du ra nt e
al gum as
dé ca da s do sé cu lo XV I, ca la ra m fun do em
sua
vida
econ ômi ca,
polí tica ,
soci al,
inte lect ual e re li gi os a. A gue rr a da
in de pe nd ên cia , co nt ra o do mí ni o esp anh ol,
int ole ran te, fan átic o, pro duz iu ver dad eir a
tra nsfo rm aç ão en tr e os ne er la nd es es . De
um la do de se nv ol ve u-se o ape go à
li be rd ad e, ta nt o ci vil co mo re li gi os a e do
ou tr o, fo me nt ou a at iv id ad e co me rc ia l e
23

josf4 Go n ça l v es S a l va d o r

in te le ct ua l.
Ali ás,
seg und o
fri sam os
ant eri orm ent e, os ger mes de tud o isso já
vinham de tempos passados.
Era nat ura l que , em ter ren o com o esse ,
des abr och ass e tam bém o es pí ri to de
to le râ nc ia . E de fa to , vem os es ta di st as do
po rt e de Jo ão Ol de nb or nv el dt ad vo ga re m
a abs olu ta lib erd ade de con sci ênc ia par a
tod os, fosse m pro te st an te s, rom an is ta s, ou
so ci ni an os . Hu go Gro ti us pe n sa va de
ig ua l mo do . Co ub e, po ré m ao ci da dã o
Di rk Ko or nh er t at ea r as ch is pa s da
co nt ro vé rs ia qu e du ra nt e anos agitaria a
Igreja
Reformada
dos
Países-Baixos,
influ enc iad o, cer tam ent e, pel a obr a ant ical vin ist a de Seb as tiã o Cas tel lio , pub lic ada
em
157 8,
a
qua l
vin ha
exe rce ndo
co ns id er áv el
in fl uê nc ia
a
fa vo r,
da
li be rd ad e de pe ns a me nt o.
De sd e
15 44
es se
te ól og o
vi nh a
at ac an do im pl aca ve lm en te as id éi as de
Ca lv in o, na Su íç a . No co nc ei to de
Koo rnh ert todas as fo rma s de rel igi ão
dev iam ser tol era das , mas , ao ext ern ar seu
pon to de vis ta, fer iu uma das dou tri nas
fun dam ent ais do cal vin ism o, úni co sis tem a
que o Es ta do fa vo re ci a.

A r min ia n is mo e M eto d is mo

39

Lo go a se gu ir, em 16 02 , do is mi ni str os
de De lf t ad er ir am ao se u mo do de pe ns ar ,
co mb at en do a do ut ri na da pr ed es ti na çã o
en si na da po r Be za . Est e mes tre emi nen te,
con for me dis sem os, tin ha ido mai s lo ng e do
qu e o pr óp ri o Ca lvi no , de so rte a
de sco nt en ta r al gu ns de su a co nf is sã o. Nã o
se co nf or ma va m ele s co m que Deus
dec ret ass e, só por si mesm o, a que da do
hom em an te s ai nd a de o ha ve r cr ia do . Is so
fa zia de De us , co mo dizia João Kolman, um
tirano e executor.
Hav ia, poi s, nos Paí ses -Bai xos , um a
cor ren te de moder ado s e tol er ant es , a qua l
se
fi lia vam
ne go cia nte s,
magis tra dos ,
teólog os e min ist ros eva ngé lic os. Gas par
Kol hares , her ói de Lei den , e Rud olp h
Sne liu s, pat ron o de Arm íni o, era m d est es .
Em me io da re fr ega , es cre ve u o te ól og o
Gu il la um e p r o f e s s o r e m L e i d e n , u m
t r a t a d o n o q u a l af ir ma va qu e, em
ma té ri a de re li gi ão , nã o de ve ha ve r
co ns tr an gi me nt o. Aí es tá , po r co ns eg ui nt e,
um a sí nt es e do espírito da época.
Or a, Ti ag o Ar mí ni o vi vi a ne ss a Ho la nd a
do sé cu lo XV I, hosp ita leir a, libe ral, de vist as
lar gas, aman te da lib erda de, cio sa dos
dir ei to s de seu s cid adã os , agi tad a, no
24

josf4 Go n ça l v es S a l va d o r

ent ant o, pe la f orç a da s ar ma s e pe la
aç ão da s id éi as . Ho me m cul to, sin cer o e
de esp íri to ele vad o, não tar dar ia a esb arrar
com o dogmatismo de sua Igreja.
A teologia eclesiástic a ten dia cad a vez mai s
a sob rep or -se à teo logi a bíb lic a, em pr ej uí zo
da
pr óp ri a Es c ri tu ra . Di sc or da r da s
do ut ri nas já est abe lec ida s, imp ort ava em
ato de qua se her esi a.
Duas
dela s
cons titu íam
como
que
verd adei ros
dogma s:
a
da
elei ção
inc ond icio nal (ou, sup rala psa rian ism o) e a da
gra ça irre sist ível. Send o aque la ata cada
pelo s mini stro s de Delf t, nin gué m est ar ia em
me lho re s con di çõe s par a def end ê-la qu e o
pi ed os o e cu lt o Ti ag o Ar mí ni o. Es te
ac ei to u o con vit e, ma s, à me did a que
est uda va e di scu ti a o pro ble ma , tan to ma is
se enc ami nha va nou tra
dir eçã o. Em
res ulta do de tu do , ac ab ou po r se r
co ns id er ad o "o fu nd ad or da es co la anticalvinista na Teologia Reformada". (1)
Do
supralapsariansimo
pas sou
ao
inf ral aps ari ani smo , que ain da é ca lv in is mo ,
po ré m ma is su av e. Te ve , en tã o, qu e
de fe nder -se, es cre ven do di ve rsa s ob ras ,
ond e esp el ha va o se u pen sam ent o, as qua is

A r min ia n is mo e M eto d is mo

39

che gar am às nos sas mão s com o pre cio sa s
re líq ui as . Tr ês de nt re el as se de st ac am ,
toda s de 16 08 , e sã o: "C ar ta a Hi po ly tu s a
Co ll ib us ",
"U ma
De cla raç ão
de
Sen tim ent os" e "Ap olo gia ".
Em 162 9 um dos fi lh os pub lic ou as su as
obr as com ple ta s, ten do Jam es Nic hol s
tra du zid o-as do La tim par a o In glê s, em
195 3. Por el as po de mo s ho je av al ia r as
co nc ep çõ es re li gi os as de Armínio.
Ve ja mo s, en tã o, se m ma is de lo ng a s, os
re sp ec ti vo s pontos fundamentais.
1. A RESPEITO DE DEUS.
O ca lv in is mo da va ên fa se à do ut ri na da
so be ra ni a de Deu s, fa zen do tud o dep en der
de Sua exc el sa von ta de e de Sua onipotência.
Por Sua vontade criou todas coisas pa ra um
fi m de te rm in ad o, re al iz an do -as at ra vé s de
Se u po de r ab so lu to. Ag e, po r co ns eg ui nt e,
co mo Lhe apr az e só Ele con he ce se us
des ígn io s. Se a uns pre des tino u pa ra a
sa lv aç ão e a ou tr os ne go u ta l pr iv il ég io , é
porque julgou ser isto justo.
Arm ínio sus ten tav a a sob era nia de Deu s
sem
cai r
em ri go ri sm o.
Ma s
nã o
25

josf4 Go n ça l v es S a l va d o r

co nc or da va co m qu e Ele de te rm i nas se os
ato s do s se res li vre s, e nem ai nda que
fosse ina ces sí vel à cap ac ida de hum ana ,
tan to que os cr iar a à Sua ima gem e Se lhe s
rev ela ra de muit os mod os, no pass ado e,
af in al , co mp le ta me nt e, na pe ss oa de Se u
Fi lh o Je su s Cri sto . A rev ela ção é pro va de
Sua boa von tad e par a com os homens e da
capacidade receptiva deles.
Ur na co isa nã o po de se r bo a po rq ue
De us nã o que r qu e se ja bo a. Ê im po ss íve l
se r as si m, po rq ue a ju st iç a de De us nã o
pe rm it e. A pr ed es ti na çã o, em vi st a di ss o,
nã o po de se r at o de De us , ne m se ex al ta
ao Cr ia do r, re ba ix an do-Lhe a própria criação.
(2)

2. QUANTO À PREDESTINAÇÃO.
Como dissemos, foi o pomo da discórdia.
Te od or o Be za , suc es so r de Ca lvi no ,
Go ma ru s
e
ou tro s
su st en ta va m
o
ca l vi ni sm o ex tr em ad o. Pa ra el es , De us
ma ni fe st ar a a Su a gl ór ia po r um de cr et o
et er no , se gu nd o o qu al ti nh a, em Su a
mi se ri có rd ia ,
es co lh id o
de te rm in ad o
nú me ro de ho me ns pa ra a sa lva çã o, e
de ixa do os re st an te s ao se u de s tin o, que

A r min ia n is mo e M eto d is mo

39

era a con den açã o. Seg und o Alb ert Hen ry
New ma m, no seu liv ro “A Man ual of Chu rch
His tor y”, Vol . II, pág . 339 , s ão de Gom aru s
as
seg uin tes
ex pr es sõ es :
"D eu s
co ns id er ou o ho me m, no de cr et o da
re pr ov aç ão , nã o co mo ca íd o, ma s an te s
da qu ed a, e o próprio decreto da reprovação
precedeu ao da criação".
Aí est ava a pre des tin açã o inc ond ici ona l,
est abe lec ida pel a von tad e e sab edo ria de
Deu s, ant es, até , que os mun dos e os seres
fossem criados.
Arm íni o viu as imp lic açõ es de tal dou tri na.
Ao inv és de glo rif ica r a Deu s, reb aix ava -o e
emp obr eci a a obr a re de nt or a de Cr is to . A
Cr uz pe rd ia se u va lo r tr an sc en de nt al e o
ho me m nã o po di a re sp on de r, de si me sm o,
ao ap el o do Sa lv ad or : "s im " ou "n ão ".
Po is se gu nd o es sa do ut ri na De us já ha vi a
pr ede st in ad o, po r Su a vo nt ad e, os qu e ia m
sa lv ar -se , e só est es, de fa to, se sa lva ria m.
A que da e a sal vaç ão dec or ri am po r ig ua l
do pl an o di vi no . To do s os ho me ns ca i ria m
em Adã o. Mas aos esc olh ido s o Cri ado r
con ced eri a os mei os de sal vaç ão e nen hum
del es ser ia cap az de res is tir à Sua gra ça.
Cre r, per sev era r na fé e ser sal vo ser iam
coi sas par a ele s ine vitá vei s. Os dem ais
26

josf4 Go n ça l v es S a l va d o r

fic aria m à mar gem de ss e pr iv il ég io . De us
se to rn av a ar bi tr ár io e in ju st o. A Deu s,
por tan to, cab ia a cul pa pel a int rod uçã o do
pec ado
no
mun do
e,
também,
a
responsabilidade pela queda do homem.
Co mo co nc il ia r tu do is so co m a
pe rf ei çã o mo ra l de De us ? Cu lp ar ao
ho me m
po r
fa lt a
qu e
lh e
fo ra
de te rmi na da , se ri a in ju st iç a, qu an do a
ju st iç a é um do s fu n dam ent os da gló ria de
Deu s. Nem Ele pod e, por at o ar bit rá rio de
Sua von tad e, sa lva r ao inj us to, co mo não
pod e
co nd en ar
ni ng ué m
in de pe nd en te me nt e de su a fé . De us é
sempre coerente consigo mesmo.
Arm íni o, por ess a raz ão, vol tou -se par a o
inf ral aps ari an is mo . Ou , me lh or , ac ei to u a
pr ed es ti na çã o
co nd i ci on al .
De us
só
pr ed es ti no u ap ós a qu ed a, le va nd o em
co ns id er aç ão , po r Su a pr es ci ên ci a, a
at it ud e do ho me m em fa ce da te nt aç ão .
L og o, a pr ed es ti na çã o er a co ns eq üê nc ia
do at o hu ma no e, de mo do al gu m, o
re su lt ad o de um de cr et o pr ee st ab el ec id o
po r De us . E, as si m, q ue da re al ça va a
im po rt ân ci a e a re sp on sa bi li da de da
criatura sem deixar com o Criador toda a culpa.

A r min ia n is mo e M eto d is mo

39

3. O HOMEM NO CONCE ITO DE TIAGO
ARMÍN IO.
O su pr al ap sa ri an is mo gl or if ic av a a
De us , an ul an do o ho me m: ma s, qu an do
Arm íni o se de te ve a ex am in ar me lh or o
pr ob le ma , co nc lu iu , co m a Es cr it ur a, qu e
a ex al ta çã o do Cr ia do r ex ig ia a li be rd ad e
do ho me m. De Su as di vin as mã os sa íra um
se r ra ci on al , fe it o, es pi ri tu alme nte , à Sua
sem elh anç a, e não um aut ôm ato. Dot ar a-o
com a cap ac ida de de esc ol ha e op ção ; fê -lo
res pon sá vel pe la co ns eq ü ên ci a de ss a
es co lh a;
de u-lh e
di sp os iç õe s
pa ra
co nh ec er a De us e go za r a vi da et er na .
Bê nç ão ou ma ld iç ão , e re co mp en sa ou
ca st ig o sã o o fr ut o de su as de ci sõ es . Po r
is so di z a Es cr it ur a: "Aq ue le qu e qu is er ",
"aqu ele que cre r", "faz e ist o e viv e", e "sê
fie l e dar -te-ei a co ro a da vi da ".
Ma s,
ad mi ti da
a
pr ed es ti na çã o
ab so lu ta ,
o
li vr e-ar bí tr io
to rn a -se
im po ss ív el , po rq ue a vo n ta de já se ac ha
de te rm in ad a em se u ex er cí ci o. Qu al qu er
ordem dada ao homem, nestas condições, é
contra-senso.
4. O PROBLEMA DO PECADO
27

josf4 Go n ça l v es S a l va d o r

Se o ho me m qu is es se , po de ri a ma nt er se no es ta do em qu e De us o cr ia ra , me sm o
em fa ce da te nt aç ão . Er a li vre e ti nh a
ca pa ci da de pa ra Lh e ob ed ec er . To da vi a,
ag iu
nou tr a
di re çã o,
es co lh en do ,
co ns ci en te me nt e, o ma l, co m o qu e se
to rn ou pe ca do r e, po r is so , é re sp on sá ve l
po r su a fa lt a. Só as si m, re al me nt e, o
pe ca do e po ssív el po rq ue é de so be di ên ci a
vo lu nt ár ia . Da í a po si çã o, cl ar am en te
ag os ti ni an a, de Ar mí ni o, ne ss e se nt id o,
qu an do fe z su as as pa la vra s do Bi sp o de
Hi po na : "pe ca do é de ta l mo do um ma l
vo lu nt ár io , qu e nã o po de se r de fo rm a
alguma pecado até que seja voluntário".
Se ,
po ré m,
a
qu ed a
es ta va
pr ed et er mi na da ,
e
fo rç o sam ent e
se
cum pri ria , o pec ado dei xa de exi sti r , poi s
não ho uv e li vr e es co lh a. O ho me m ag iu
so b o im pu ls o d e uma fo rç a ir re si st ív el ,
qu e no ca so er a a von ta de so be rana de
Ti ag o Ar mí ni o, o il us tr e te ól og o de
Am st er dã ta mb ém es po sa va a id éi a de um
de cr et o di vi no , ma s o co nc eb ia de ma ne ir a
mu it o di ve rs a do s ca lvi ni st as . Er a um
"d ec re to gr ac io so ". Po r ele Deu s re so lve ra,
des de a ete rn ida de , en via r ao mu ndo Seu
Fil ho na qua lid ad e de Sal vad or . To dos

A r min ia n is mo e M eto d is mo

39

De us . Nã o pe ca ra, de fa to , po r si me smo . A
cu lp a recaia sobre Deus.
Ar mí ni o es ta va lo ng e de co nc or da r co m
es ta s co nclu sõe s. Par a ele o hom em era
res pon sá vel tam bém pel a tr an sg re ss ão , e o
pe ca do , um fat o irrel ut av el me nt e re al .
Po rq ue o ho me m er a li vre , pe ca ra e, co mo
pe ca do r, me rec ia o cas ti go de sua má
esc ol ha. Deu s pod ia ch am á -lo a co nt as .
Ni ng ué m Lh e po de im pu ta r su as pr óp ri as
fa lta s. Ca da um é se nh or de se u de st in o.
Aq ue le qu e se perde, perde-se por culpa sua.
O arm ini ani smo , ena lte cen do o val or do
hom em sem dim inu ir o car áte r de Deu s,
deu , ent ão, à obr a div ina um cunho ético de
que se ressentia o calvinismo.

5. O DECRETO ETERNO DE DEUS.
qua nto s cre ssem nEl e e ace ita sse m Sua
obr a red ent ora , ser iam jus tif icado s e salvo s,
mas
quan tos
perm anec esse m
volu ntar iame nte em seu s del ito s e pec ado s,
ser iam cond ena dos. Sua vontade, por
conseguinte, era que todos cressem e f ssem
o
salvos. Po r Su a cu lp a ni ng ué m se pe rd er ia .
Er a a pr om es sa do Evangelho.
Pa ra Ar mí ni o, o ho me m sa lv a va -se nã o
po rq ue ti ves se sid o ele ito , e sim ao
con trá rio . Por ace ita r a Cri sto com o
Sal vad or é que se tor nav a ele ito . A ele içã o
dec orr e da ide ntifica ção do pec ado r red imi do
com a obr a do Fil ho eterno de Deus.
Deu s,
em
Sua
mis eri cór dia ,
já
pro vid enc iou tud o que se faz ia mis ter à
sal vaç ão dos pec ado res . E mai s: pô -la ao
al ca nc e de qu an to s a qu is er em . Re st a,
so me nt e, a ca da um , en tr ar na ar ca qu e
El e pr ep ar ou . Se o ho me m qu er , De us o
sa lv a. Ne m só o ho me m, e ne m De us só .
Sã o os do is co op er an do pa ra o me sm o fi m.
To dav ia os ar mi nia no s, co m ex ce çã o do s
me to di st as , pa re ce m da r pr e ce dê nc ia à
aç ão hu ma na , co m o qu e te nd ia m pa ra o
pe la gi an is mo . O ho me m ca mi nh a pa ra
De us e De us ve m ao seu encontro.
6 . A O BR A DE CR IS TO .
Ti ag o Ar mí ni o in si st ia e m qu e a vi da
et er na se of er ec ia a to do s os ho me ns
me di an te a ob ra ex pi at ór ia de Je su s
Cri st o. Ou me lho r: a sal vaç ão era uni ver sal ,
por que Se u sa cr if íc io fo ra de ex te ns a
am pl it ud e. O Fi lh o de De us mo rr er a po r
to do s os ho me ns . Se u sa ng ue ba st ar a

su fi ci en te me nt e pa ra re di mi r to da a
hu ma ni da de . N e le hav ia sup rim ent o par a
tod os os pec ado res . A ma is abj eta cri at ura
tin ha a sua sal vaç ão gar ant ida at ra vés do
Ver bo di vi no , de sd e qu e se vo lt as se pa ra
El e e O ac ei ta ss e de co ra çã o. Je su s
ja ma is se re cu sa ri a a re ce be r a o pe cad or
arrependido.
Já , de ig ua l mo do , se nã o po di a af ir ma r
ta l q ua nto à do ut ri na ca lv in is ta . Po r el a,
Cr is to vi er a sa lv ar ao s qu e De us de
an tem ão es co lh er a pa ra is so . Se u sa ngu e
be ne fi ci av a
a
e ss es
so me nt e.
Ao s
re pr ov ad os o sa cr if íc io nã o ap ro ve it av a. A
ob ra
ex pi at ór ia
li mi ta va -se ,
po r
co ns eg ui nt e, a um gr up o ap en as : os
pr ed es ti na do s (p ar a a sa lva çã o) . Ma s,
se gu nd o
a
po siçã o
ar min ian a,
a
pos sib ili dad e da sal vaç ão ex ist e pa ra to do s
e não dep en de de de te rm in aç ão (e sco lh a)
di vin a. A vo nt ad e hum ana é fa tor "si ne qua
non ": Cri sto red im e aos que O ac ei ta m
co mo Sa lv ad or . Is to é: sa lv a ao s qu e
qu ei ra m ser salvos.
Ar mí ni o ju lg av a a ob ra de Cr is to , co mo
ad mi ti da pel os cal vin ist as, um ato hor rív el
da par te de Deu s. Sim , po rq ue te nd o
de cr et ad o a sa lv aç ão de al gu ns , e st es de
qua lqu er mo do ser ia m sal vos , sem hav er
nec ess ida de do sa cr if íc io de Se u pr óp ri o
Fi lh o. Al ém di ss o se ri a pr ov a de ma ld ade ,
por que , pod en do sa lva r a tod os , não o qui s.
Jo ão We sl ey , o fu nd ad or do Me to di sm o,
di ri a, sé cu lo s de po is , qu e ta l at it ud e fa zi a
a Deus pior que o diabo.
7 . O LU GA R DA GR AÇ A DE DE US NA
SA LV AÇ ÃO DO HO ME M.
Ai nd a qu e o ar mi ni an is mo re al ce o va lo r
hu ma no , nã o de ve mo s co nf un di r se u
po nt o de vi st a co m o do pe la gi an is mo ,
po is am bo s se di st in gu em nã o só qu an to
ao co nc ei to do ho me m, ma s, ta mb ém ,
qu an to ao do pe ca do e da gr aç a di vi na .
Pe lá gi o en si na va qu e o pe ca do de Adã o
som ent e afe tar a a est e, nas cen do-lhe os
fil hos e, de ig ua l mo do , to do s os de ma is
de sce nd ent es ,
co m
id ên ti ca s
po ss ib il id ad es às qu e e le ti ve ra an te s de
ca ir . A sua fal ta con sis tia , ape nas , em mau
exe mpl o par a as
ger ações seguintes.
Ninguém, portanto, nasce pecador, send
o
ve rí di co di ze r-se qu e to do s tr az em
co ns ig o o do m da gr aça, ou se ja : os me io s
in at os pa ra at in gi r a sa lva çã o, ca so se
fa ça pr ec is o. Aq ue le qu e ca ir , po de rá
re er gu er -se po r si me sm o. De us já co lo co u
à di sp os iç ão de ca da um os re cu rs os pa ra
ta nt o. Pel ág io , p or ém , co nc eb ia es se s
me io s co mo di sp os iç õe s in di vi du ai s e

in fl uê nc ia s ext er na s e não com o au xil io
pes soa l de Deu s, at ra vés do se u Es pí ri to .
Po r ex em pl o: a le it ur a do s Ev an ge lh os , a
imitação do procedimento de Nosso Senhor, etc.
Ar mí ni o
ap ro xi ma va -se
ma is
de
Ag os ti nh o e, em mu it os po nt os , er a
ag os ti ni an o, de fa to. Nã o ac ei ta va f oss e o
pe ca do de Ad ão só de co ns eq üê nc ia
in di vid ua l, po is af et ar a a na tu re za hu ma na
e en vo lve ra to da a ra ça . To do s ca ír am em
Ad ão . Ag or a, só pe la gr aç a de De us po de
o ho me m re gen er ar-se e ob te r a sa lva çã o.
Se m el a tu do é im po ss ív el ao pe ca do r.
"S em mi m na da po de is ", dis ser a bem
Jes us. Tod avi a, Arm íni o dis cor dav a tan to de
Ago sti nho com o de Cal vin o, qua ndo neg ava
ter o hom em fi ca do re du zi do pe lo pe ca do à
in at iv id ad e. Ho uv e al go qu e o ho me m nã o
pe rd eu . Ai nd a lh e re st a a ca pa ci da de de
re sp on de r à gr aç a de De us e ac ei tá-la ou
re cu sá -la . No ut ra s pa la vr as : ai nd a po ss ui
li be rd ad e
e
vo li çã o
e,
as sim ,
é
re sp on sá ve l po r su as de ci sõ es . O hom em
ai nd a pode dizer "sim" ou "não" ao seu Criador.
Pa ra Ti ag o Ar mí ni o a gr aç a de De us é a
aç ão op er ante do Esp íri to di vin o jun to ao
hom em . É dom gra tui to e, com o ta l, nã o
de pe nd e de qu al qu er mé ri to do ho me m.
De us a reparte a todos os Seus filhos. Admitia,
contudo, que, ex ce pc io na lm en te , al gu ém
po de ri a de ix ar de re ce bê-la . En tr et an to ,
ne nh um a pe ss oa é fo rç ad a a ac ei tá -la . A
gr aç a ce le st ia l po de , si m, se r re cu sa da
pe lo ho me m, se gundo as seguintes passagens
bíblicas: "E estais esquecido s da exo rta ção
que , com o a fi lho s, dis cor re con vos co: Fi lh o
me u, nã o me no sp re ze s a co rr eç ão qu e
ve m do Se nh or , nem de sma ie s qua nd o po r
ele és re pr ov ad o" (Hb . 12: 5), e em Mt 23: 37
as sig nif ica tiv as exp res sõe s do lamen to de
Cri sto
sobre
Jer usa lém :
"Je rus alé m,
Jer usa lém ! que ma tas os pro fe tas e
ape dre jas os que te fo ram en via do s!
qu an ta s ve ze s qu is eu re un ir os te us
fi lh os, co mo a ga li nh a aj un ta os se us
pi nt in ho s de ba ix o da s as as , e vós nã o o
qui se ste s!" Em Lc 7:3 0, lê -se : "Ma s os
fa ris eu s e os int ér pr ete s da le i rej ei ta ra m,
qua nto a si me smo s, o de sí gn io de De us ,
nã o te nd o si do ba ti za do s po r e le ". No
co nc ei to de Ar mí ni o a gr aç a p od e
ta mb ém ser re sis ti da, con fo rme a def esa
de Est evã o per an te o Sinéd ri o: "H om en s de
dur a ce rvi z e in ci rc un ci so s de co ra ção e de
ouv ido s, vós sem pr e re sis ti s ao Esp ír ito
San to: as si m co mo fi ze ra m vo ss os pa is ,
ta mb ém vó s o fa ze is" (At 7:5 1). Igu alm ent e,
a gra ça de Deu s pode se r re ce bi da em vã o ,
no s di ze re s de Pa ul o: "E nó s, na
qu al id ad e de co op er ad or es com el e,
ta mb ém vo s ex or tamo s a qu e nã o
re ce ba is em vã o a gr aç a de De us " ( 2C o

6:1).
Se o pe cad or con co rd a em re ce be r o
au xíl io di vin o, Deu s o co loc a em nov a
con di ção .
No vas
per spe ct iva s
se
de sc or ti na rã o à su a fr en te . O ca mi nh o da
gl ór ia et er na se ab ri rá pe ra nt e se us ol ho s.
Ma s é ap en as o ca mi nh o. A gl ór ia só se
en co nt ra no té rm in o. Im po rt a, po is ,
pa lmil há -lo at é ao fi m. O ho me m te m qu e
se mo ve r e pi sar, às veze s, card os e
pedr egul hos
fer inos .
Sobr evi r-lhe-ão
tr is te za s e se du çõ es . Po ré m, se mp re qu e
de se je pr os se gui r, sen ti rá que não se
enc ont ra sozin ho : Jes us , o Sa lva do r
co mp as si vo , ca mi nh a a se u la do e lh e
re vig ora
as
fo rç as .
Je su s
nu nc a
de sa mp ar a ao s qu e se ac ol he re m à Su a
so mb ra am ig a. Se qu is er em ve nc er ,
ja ma is lh es faltará o auxílio de Deus, através
do Seu Filho.
E, de st e mo do , já en tr am os na
do ut ri na da pe rs everança cristã.

8. A PE RS EV ER AN ÇA MIS TA .
De fi na mo-la ,
pa ra
me lh or
a
co mp re en de rm os . En ten de-se, por es sa
dou tr ina , que o cre nte em Je sus , uma ve z
re ge ne ra do , ja ma is ca ir á da gr aç a di vi na ,
vi nd o a pe rd er -se de no vo . A as si st ên ci a
de De us é de ta l mo do ef ic ie nt e qu e e le
se rá ma nt id o no ca mi nh o e sa lv o po r fi m.
Na da o ar re ba ta rá de Su as mã os .
Co nf or me Jo 10: 27 -29; Rm 11: 29; 2Tm
1:1 2; 2T m 4:1 8 e out ras pas sa gen s. Er a o
pon to de vis ta dos sup ra lap sa ria nos e o é,
ainda, sobretudo, das igrejas Reformadas ou
calvinistas.
É in te re s sa nt e qu e Ag os ti nh o, se nd o
pr ed es ti ni st a, es pos ou id éi a bem co nt rá ri a,
ad mi tin do que at é o el ei to po di a ca ir e se r
co nd en ad o. Os ar mi ni an os , lu te ra no s,
qu aq ue rs , me to di st as e ou tr os ad ot am
ma is ou me no s es ta úl ti ma po si çã o. To do s
co nc or da m em qu e a pe rs e ve ra nç a nã o
de pe nd e ex cl us iva me nt e de De us . O cr en te
nec ess ita faz er a sua par te, por que a div ina
o ser á sem pre . E a bas e se enc ont ra em
tex tos , com o Mt 24: 12 -13 : "E po r se
mu lti pl ica r a in iq üi da de , o am or de mu i tos
se esf ria rá. Aqu e le, por ém , que per se ver ar
até o fi m, ess e ser á sal vo" . Em Cl 1:2 3 est á
dit o: "Se é que per man ece is na fé ,
al ic er ça do s e fi rme s, nã o vo s de ixa nd o
af as ta r da es pe ra nç a d o ev an ge lh o qu e
ou vis te s, e que fo i pr ega do a toda criatura
debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tor nei
min ist ro" . Dan do con sel hos a Tim óte o,
Pau lo diz : "E tu , ó Ti mó te o, gu ar da o qu e
te fo i co nf ia do , ev it an do os fa lat óri os

inú te is e pro fa nos , e as con tra di çõe s do
sa be r, co mo fa ls am en te lh e ch am am , po is
al gu ns pr ofes san do -o, se des via ram da fé" .
(1Tm 6:2 0-21) . Outra s pas sag ens que se
dev em exa min ar, enc ont ram -se em Rm 9: 6:
2T m 2: 17 -18 ; 2T m 4: 10 ; 2P d 2: 1-2; H b
2: 1; Hb 3: 14 : Hb 6: 4 a 6, e vs . 11 ;
1J o2: 6, 9 e 19 ; e Ap 3:1 a 3.
Arm íni o par ece ter sid o mai s con sis ten te
que os seu s seg ui dor es , vis to que eles
der am ma io r ênf ase à von tad e e aos
esf orç os do hom em, com o que ten dia m
par a
o
pel agi an is mo .
Fo ra m,
po r
co ns eg ui nt e, ai nd a ma is li be ra is do que o
mestre.
Ti ag o Ar mí ni o nu nc a si st em at iz ou su as
do ut ri na s.
Exp ô-las
seg und o
as
cir cun stâ nci as
e
só
com
vis tas
a
dete rm in ad as
qu es tõ es
e
pe ss oa s.
Ja ma is pe ns ou , ce rt a me nte , em esc rev er
um a obr a de Te olo gia Si st em áti ca, e
dou tri nas hou ve, con hec ida s ago ra com o
arm ini ana s, em que nem seq uer pen sar a.
Iss o foi obr a de seu s dis cíp ulo s, al gu ns do s
qu ai s fi gu r am en tr e os ma is no tá ve is
pe ns ado res dos Pa ís es -Ba ixo s, po den do
en qua drar -se ao la do do s ma io re s te ól ogo s
da Ig re ja .
É di fí ci l, me sm o, ju lg ar a qu em da r a
pr im az ia e cr éd it o, se a Si mã o Ep is có pi o,
au to r da
pri me ira
con fi ss ão
de
fé
arm in ian a, con sti tu ída de vin te e cin co
ca pí tu lo s, e, ai nda , um a Ap ol og ia e um a
In st itu ti on es Th eo lo gi ca e, ou se a Ph il ip
va n Li mb or ch , pr ofessor no Ginásio arminiano
de Amsterdã e redator da mai s com ple ta
exp osi ção da dou tri na de Arm íni o, em sua
"Th eo lo gi a Ch ri st ia na ", ou , ai nd a, se a
St ep he n Cu rc el la eus ou a Jo hn Le Cl er c.
Fo ra m es se s os co nt in ua do re s do
in ol vi dá ve l me st re da Un iv er si da de de
Le id en e in icia do r de um do s mo vim en to s
qu e ma io r in fl uê nc ia tê m ex er ci do na vi da
da hu ma ni da de : Ti ag o Ar mí ni o, Ar mi nius, ou
Hermanns.
REFERÊNCIAS E NOTAS:
(1) Enciclopédia Britânica, vol II: pág. 386.
(2) Newman, Albert Henry - A Manual of Church History,
Vol II: pág. 339.

C A P Í T U L O

I V

OR GA NI ZA ÇÃ O E DI FU SÃ O DO
AR MI NI AN IS MO

Co m a mo rt e de Ar mí ni o o mo vi me nt o
nã o ce ss ou . As id éi as ne m se mp re
de sa pa re ce m co m os se us ge ni to re s.
Mu it as ve ze s é de po is qu e ad qu ir em
ma io r fo rç a, se en co nt ra m qu em as
in co rp or e à pr óp ri a vi da . Fo i o qu e se
pa sso u na Ho la nd a co m o ar mi ni an ism o.
Am ig os
e
di sc í pu lo s
le va ra m-no
ad ia nt e. Ho me ns , co nf or me já fr isam os , da
env er gad ur a de Olde nbo rn ve ldt , Hu go
Gro ti os , Jo ha n Uy tt en bo ga er t, qu e er a o
ma is
ínt im o de
Ar mí ni o, e Si mã o
Ep is có pi o, se u su ce ss or em Le id en .
Mui tas pes soa s de pro jeç ão e ma is de um a
dez ena de pas tores se incluíram, desde logo,
entre os adeptos.
Assim, a controvérsia prosseguiu, cada vez
mais acesa, agitando os Países-Baixos,
env olv end o, tam bém , a pol íti ca, em raz ão
das afi nid ade s qu e ha vi a do Es ta do co m a
Ig re ja Re fo rm ad a e do pr ópr io ca rá te r d o
mo vi me nt o. Ac on te ce qu e Ol de nb or nve ld t, al ém de si mp át ic o ao ar mi ni an is mo ,
de fe nd ia o re gi me re pu bl ic an o, en qu an to
qu e o pr ín ci pe Ma ur íc io de Or an ge
pu gn av a pe lo na ci on al is mo ce nt ra li za do r
e er a su pr al ap sa ri an o. O ar mi ni an is mo
ad vo ga va a to le rân cia e a lib erd ad e
rel igi osa , ao pas so que o cal vin ism o ten dia
Ia m as co is as em ta l pé , qu an do
Ol de nb or nv el dt , ch ef e da Pr ov ín ci a de
Ho la nd a, pe di u ao s se gu id or es de Ar mí ni o ,
is to
em
16 10 ,
pr ep ar as se m
um a
de cl ar aç ão de su a fé , a qu al ve io a se r
co nh ec id a co mo "R ep re se nt açã o" , a fi m
de se r ap re se nt ad a ao Go ve rn o, pa ra ,
de ss e mod o, con seg uir fosse m tol era dos ,
pel o men os. Daí , também , a den omi naç ão
que se lhe s deu de "Re pre sen tan tes ".
Re di gi ra m, po is , o cé le br e do cum en to ,
ne le ex po ndo os ci nc o pontos fundamentais,
seguintes, por nós assim resumidos:
1) De us , po r me io de um de cr et o
et er no e im ut áv el, res olv eu sal var , atr avé s
de Jes us Cri sto , a tod os que O ac ei ta ss em
co mo Sa lv ad or e Lh e fo ss em fi éi s at é ao
fim , e con den ar aos que viv ess em ali ena dos
dEle, con for me Jo 3: 16 : "P or qu e De us
am ou o mu nd o de ta l ma ne ira qu e de u se u
Fi lh o un ig ên ito , pa ra qu e to do aq ue le que
nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

par a
o
do gma tis mo
e
era
pou co
dem ocr áti co. Aqu ele pro cur ava rea lça r o
val or do hom em, ao pas so que est e
ex al ta va a so be ra ni a de De us . Co mo se
po de ri am , en tão, nessas condições conciliar
os dois pontos de vista?
2) Jes us é o Sal va dor
do mu ndo ,
hav end o ef etu ado um sac rif íci o po r to dos
os hom ens e em par ti cu lar , pel o in di ví du o.
A re den çã o é un ive rs al . Ma s só se sa lva m
os que se arrependerem e crerem nEle.

Ni ng ué m po de , po r si só , fa ze r
qu al qu er be m ou atingir a salvação.
3)

4) O pe ca do r ne ce ss it a da gr aç a de
De us , se m a qual nada lhe é possível; todavia,
ela não é irresistível.

De us , po r Su a gr aç a, as si st e ao
cr en te e o aj ud a a tu do ve nc er , ca so de se je
o au xíl io di vin o e nã o pe rm aneça inativo.
5)

Os ca lvi ni st as re tru ca ra m co m uma
"C on tr a-Re pr es en taç ão ". A po lêmi ca se
am ar go u. Os co nt end or es pe rderam a
serenidade. Os argumentos já não tinham
eloqü ên ci a ba st an te . Ir mã os pe la cr en ça e
pe lo sa ng ue se ent reg ara m à lut a arm ada ,
leg and o-nos exe mpl o dos mai s tri ste s.
Af ina l, Mau ríc io ve nce u, apo iad o pe lo s
cal vin ist as ,
ma s,
dia le tic ame nte
os
arm ini ano s per man ece ram de pé . Nin gué m
os de rr ib ou , em bo ra Ol de nb or nv el dt foss e
de ca pi ta do na pr is ão e Gr ot iu s ti ve ss e de
ex il ar-se da pátria.
Já qua se sen hor da sit uaç ão, dá o
prí nci pe de Ora nge . na qu al id ad e de
St ad th ol de r do s Es ta do s Ge ra is , in te ir a
sol ida rie dad e ao Sín odo que se aca bav a de
con voc ar, pre te nd en do , po r es se me io ,
un if ic ar , ta mb ém , a ad mi ni stra ção rel igi osa .
A mag na ass emb léi a tev e lug ar na cid ade
de Do rt du ra nt e se te me se s (1 3 no ve mb ro
de 16 18 a 9 de mai o de 161 9), e nel a
est ive ram pre sen tes 84 teó log os e 18
delegados seculares. Diversos governos civis,
onde o pr ot es ta nt is mo do ti po Re fo rm ad o
fo ra ad mi ti do , ma ndar am rep res ent ant es: a
Ing lat er ra, o Pal at in ado , Hes se, Suíç a e
Bre me n. De ixa ram de com parec er os da
Fra nç a e Br an de nb ur go .
À fr en te do pa rt id o ar mi ni an o ac ha vase Sim ão Epi scó pio , seu pri nci pal gui a
teo lóg ico des de a mo rt e de Ar mí ni o. Er am
qu at or ze , co m el e, ma s ne m tod os ti nh am
di re it o
a
vo to .
Al iá s
to ma ra m-se
pr ov id ênci as pa ra qu e os co ns id er ad os

he te ro do xo s pe rd es se m a h ab il it aç ão pa ra
o
co nc la ve .
O
pr óp ri o
Sí no do
se
pr edi sp us er a a ma nt er se us pa dr õe s e a
su bj ug ar a “he re si a ” do s Re pr es en ta nt es
(a rm in ia no s) . Po uc o se po de ri a es pe ra r
em fa ce dis so. E, de fa to, con qua nto f oss e
bel íss ima a ex po siç ão do ut rin ár ia de
Ep is có pi o, os ad ep to s do ar mi ni an ism o
fora m ta ch ad os de he re ges e co nf ir ma da a
"C on tr a-Re pr ese nt aç ão ",
a
"C on fi ss ão
Be lg a" e o "C at ec is mo de He ide lb er g" .
Os mi ni st ro s ar mi ni an os ti ve ra m qu e
op ta r en tr e o "A to de Ce ss aç ão ", qu e os
ob ri ga va a si le nc ia r qua nto às sua s
cre nça s, e o exí lio . O inter ess ant e é que se
que ria ext ing uir a fog uei ra, esp alh and o-lhe
as bra sas , sem se perce be r qu e el as ir ia m
co nt in ua r a ar de r no ut ro s lu ga re s. Ia m
le vá-la s pa ra o es tr an ge ir o, on de ta mb ém
ge rm in ari am . In cl us iv e de le ga do s da s
na çõ es , pr es en te s ao Sí no do , ac ol he ra m
co m si mp at ia a be m fu nd am en ta da defesa
das idéias arminianas.
Qua ndo , ma is ta rd e, apó s a mo rte de
Mau ríc io, oco rri da em 16 25 , os ex il ad os
re gr es sa ra m à pá tr ia , o mo vime nt o já ha vi a
ga nh ad o
ma io r
am pl it ud e.
E
as
au to ri da de s tr at am , da i em di an te , co m
ma is
cl em ên ci a
ao s
ad ep to s
do
ar mi ni an is mo , fa cu lt an do -lh es o pr iv il ég io
de ed if icar em igr eja s par a si e de ter em as
sua s esc ola s par tic ulares .
Am ste rdã e Roter dã tor na ram -se, ent ão ,
os
seu s cen tro s pri nci pai s.
Naq uel a
est abe lec era m um sem iná rio teoló gi co pa ra
o pr ep ar o de mi ni st ro s, e em cu ja s
cá te dr as
se
asse ntar am
os
ilust res
Epis cópi o, Limb orch , Curc ella eus, Le Clerc,
Cattenburg e outros.
Org ani zan do-se
em
com uni dad e
ecl esi ást ica , os arm ini an os ad ot ar am o
si st em a pr es bi te ria no co mo fo rma de
go ve rn o. Co ns ta , no en ta nt o, que al gun s
mi ni st ro s se incli nav am , pre fer ent eme nte ,
par a o reg ime epi sco pal , confo rm e ex is ti a
na Ig re ja da In gl at er ra (A ng li ca na ).
Ep is có pi o re di gi u uma Con fis são de Fé,
des tin ada a ser vir de pad rão dou tri nár io ,
ma s ne nh um pa st or er a ob ri ga do a ac ei tála ou a pres tar-lhe jura ment o. A tole rânc ia do
armi nian ismo via-se ref let id a aqu i ma is uma
vez ,
e
ain da
dep ois
se
af rou xou
paulatinamente, com grandes prejuízos para o
sistema.
O pro gre sso do arm ini ani smo foi peq uen o
nos Paí ses-Baixos. É que seu rival, o
calvinismo, já se havia radicado for tem ent e nas
pro vín cia s do nor te, qua ndo ele des pon tou

al i, es ta va me lh or or ga ni za do e co nt av a
co m o ap ói o do Es ta do . Nã o o pod er ia
de sa lo ja r, as si m, tã o fa ci lm en te . Ma s,
tam bém , est e, fo i imp ote nte par a elim iná -lo .
Ain da hoje se mantém lado a lado, se bem que
o número de suas co ng re ga çõ es e de se us
pa stor es sej a re du zid o. A Ig re ja Re fo rm ad a
co ns er va a pr ed om in ân ci a.
Co nt ud o, no estr an ge ir o, a in fl uê nc ia
do ar mi ni an is mo se ac en tu a di a a dia e nos
mais vari ados seto res. Em dive rsos país es,
onde o ca lvi ni sm o te ve ép oc as de
es pl en do r, pe rd eu mu ito de se u br il ho co m
a in tr od uç ão da s id éi as ar mi ni an as ,
es pe ci al me nt e na In gl at er ra , EU A e ou tr as
pa rt es . Al ém dis so, obr igo u, por mai s de
uma vez , cer tos teó log os afe iço ad os ao
ca lvi ni sm o a lh e su av iza re m al gum as
ar es ta s, ta l co mo su ce de u co m Am yr al du s,
na Fr an ça; Ri ch ar d Ba xte r, na Ing lat err a, e
Nat ana el Tay lor , nos Est ado s Unidos ,
che gan do tod os ele s, como ver emo s, a
cri are m nov os sistemas teológicos.
O AR MI NI AN IS MO NA IN GL AT ER RA
Na In gl at er ra o ar mi ni an is mo
se
in tr od uz iu de ma nei ra int ere ssa nte . Ent re
os pre sen tes ao Sín odo de Dor t, ach ava -se
o clé rig o Joh n Hal es, de Eto n, pro fes sor de
gre go em Oxfo rd, desd e 1612 . Cont ou ele
mesm o que, ouvin do o arr azo ado de Sim ão
Epi scó pio sobre Joã o 3:1 6, qua ndo def end ia
naq uel e
con cla ve
a
doutr ina
dos
Rep res ent ant es (ar min ian os) , des ped iu-se
de Cal vin o, ou sej a, de sua dou tri na, com
um ad eu s. Re gr es sa nd o à pá tr ia , to rn ou -se
lá def en so r ar do ros o do arm ini ani smo .
Nov os sim pat iza nte s sur gir am, não obs tant e
ang lica nos e cal vin ista s lhe s mov ess em
opo siçã o.
À
cor ren te
de
ten dên cia s
arm ini ana s, que se vin ha des envol ven do no
paí s, ind epe nde nte men te da con tin ent al,
gra ças sobretudo às idéias do pregador Pedro
Raro (1531-1599), de Cam bri dge , jun tav a-se,
ago ra, a de Joh n Hal es.
A par tir de mea dos do sécul o XVI I o
imp act o do arm ini ani smo sobre a te ol og ia
da Ig re ja An gl ic ana fa zia -se se nt ir, po r
is so , com maior realce.
Te nd o pe rm an ec id o fi el à te ol og ia
ro ma ni st a at é à asc ens ão de Edu ard o VI , a
Igr ej a da Ing lat er ra abr aço u, a segu ir, por
algu m temp o, o luter anis mo, ader indo , afi nal,
ao ca lv in is mo , pa ra de po is ma nt er -se en tr e
o pr ot es ta nt is mo e o ro ma ni smo . Ca nn on
di z be m do es pí rit o an gl ic an o, qu an do
de cl ar a: "O an gl ic an is mo fo i um te to qu e
ag as al ho u mu it as op in iõ es ". ( 1) Nã o se
de via es tra nh ar que o arm ini ani smo ach ass e
lug ar ao lad o das dem ais concepções e

costumes adotados pela referida Igreja;
naturalme nt e à cu st a de re aç õe s e
co nt ra te mp os . Po r ex em pl o, qu an do , em
15 95 , Pe dr o Ba ro
le va nt ou
a su a
co nt ro vé rs ia , a opo siç ão res pon deu-lhe com
os
"Ar tigo s de
Lam bet h",
for tem ent e
cal vin ist as. Já o mes mo não acon tece u no
rei nad o de Jam es I, ao tem po de Wi lli am
Lau d, bis po de Lon dre s e ar ce bi sp o de
Ca nt uá ri a, a pa rt ir de 16 33 . Co mo lí de r
dos
an gli can os,
mov eu
Lau d
ten az
cam pan ha
con tra
o
cal vin ism o.
Na
dis cus são que , em 162 2, sus ten tou con tr a o
je su ít a Fi sh er , re ve lo u su as in cl in aç õe s
pa ra o ar mi ni anism o, dan do à fé um a
int er pre taç ão rac ion al, de so rte a fa zer do
hom em ope ran te com Deu s na obr a de sua
sal vaçã o. Ta nt o qua nt o lh e per mi tia m as
fu nç õe s ep isc op ai s, ob te ve que o re i Ca rlo s
I pu se sse à fr en te da s pa ró qu ia s clé rig os
de ten dên cia s sem elh ant es às sua s, ma s
tão arb itrá rio s se tor nar am os doi s, por fim ,
e a tal pon to des conten tar am pr inc ipa lme nte
os ca lvi ni sta s, que est es, sob a direção de
Oliver Cromwell, executaram a ambos e
organi za ra m um go ve rn o re pu bl ic an o.
É da í em di an te qu e o arminianismo
ganha terreno, absorvido, em parte, pelos
ang lo-cat óli cos
e,
em
par te,
pel os
lat itu din ari ano s,
ass im
cha mad os
os
pri mei ros por sua s sim pat ias rom ani sta s e os
últ imo s, pe la imp or tân cia que
ra zão nas di sc us sõe s rel igi osa s.

da va m à

Os doi s gru pos per ten cia m à Igr eja
Ang lica na , um a Hi gh Ch ur ch , o ou tr o a
Low Chu rc h, ou se qu is er mo s: à Al ta e à
Ba ixa Ig re ja . Os la ti tu di na ria no s, emb ora
pro tes tan tes ma is ort odo xos , de mo do
al gum , de sej ava m na Igre ja, um cal vin ismo
rígi do e por ist o, vie ram a se r co gn om in ad os
de "A rm in ia no s de Ca mb ri dg e" . Ao pri me iro
gru po pe rte nc era m Hoo ke r, Lau d, Lan ce lot
An dr ews , e ao se gu nd o, ao qu al , at é ce rt o
po nt o se po de co ns id er ar ar mi ni an o, Lo rd
Fa lk la nd ,
Jo hn
Ha le s,
Ch il ling wort h,
Jere mias
Tay lor, Whi chcote , Cudw orth ,
Wil kins e outr os, dive rsos dos quai s fili ados
aos Plat onis tas de Cambr id ge .
É im po rt an te le mb ra r, a in da , a po si çã o
qu e ne ss a mes ma épo ca tom ou o pur itan o,
dis sid ente , Ric hard
Baxt er
(1615-1691),
esforçando-se por conciliar o calvinismo e o
arminianismo.
O Bi sp o Bu rn et , em 16 99 , de u no vo
im pu ls o às te n dên cia s arm ini ana s, qua ndo
pub lic ou sua obr a "Exp osi ção dos Tri nta e
Nov e Art igos ", ded ica da ao rei Gui lhe rme III .
Ne la , ao in te rp re ta r o Ar ti go XV II , qu e
tr at av a da Pr edes tin açã o, deu -lhe sen tid o
arm ini ano e lhe atr ibu iu igu al val ide z ao

cal vin ist a. Que r diz er que tan to imp ort ava
um qua nt o o ou tr o. Am bo s p od ia m se r
ac ei to s. H av ia lu ga r na Ig re ja pa ra as du as
po si çõ es .
Já no sé cu lo se gu in te o re du to
ar mi ni an o se ap re se nt a na va ng ua rd a. O
qu ad ro tem , ago ra, nov o asp ect o: os "Tr int a
e Nov e Art igo s" são , ainda, calvinistas, mas o
clero anglicano, de modo geral, é arm ini ano em
sua s con cep çõe s. É bom lem bra rmo s des te
fat o, vis to que o fut uro org ani zad or do
me tod ism o viv eu nes se séc ulo e faz ia par te
do min ist éri o da igr eja of ici al (An gli can a) .
Os wesl eyano s não seri am, pois , os únic os a
abra çar o armi nia nis mo . À me sma lin ha de
pen sam ent o se fi lia m os Ba ti st as Ge ra is, da
In gl at er ra; os Qu aqu er s ; os Ba ti st as Li vre s,
dos Est ado s Uni dos da Amé ric a; os
Rep res ent ant es, da Ho la nd a ; a Ig re ja
Pr es bi te ri an a Cu mb er la nd , do s EU A; e
outros mais.
O ARM INI ANIN MO NA FRA NÇA
Na Fra nç a tam bé m o arm in ian ism o
rep er cut iu mu it o ce do , co mo be m co mp ro va
a po si çã o to ma da po r al gun s profes sores da
Academ ia de Saumur, onde se ensina va,
antes , a te ol og ia de Ca lv in o. A pa rt ir de
16 33 co nt av a es sa fa c uld ade em seu rol ,
di ver so s me st re s no táve is, den tre os qua is
se des tac ava m Lou is Cap ell us, Moy sés
Amy ral dus e Jos ué Pla cae us. Não se
con fo rma ndo ele s com o cal vin ism o pu ro ,
ad ot ar am po nt o de vi st a me di an ei ro , en tr e
a dou tri na da Igr ej a Ref orm ada e a dos
arm in ian os , to rna nd o-se conhe cid o por
cal vin ism o uni ver sal ist a ou hip oté tic o.
Doi s pontos era m fun dam ent ais nes ta
nov a con cep ção teo lóg ica : o da aç ão do
Es pí ri to di vi no e o da Gr aç a. En te nd ia m os
seu s
aut ore s
que
Deu s
não
agi a
coe rci tiv am ent e sobre os sen tim ent os do
hom em, mas sim atua ndo , pri mei ram ent e,
so bre o int ele cto e, ent ão, atr avé s des te,
so bre a alm a. O int el ect o, uma ve z
esc lar ec ido , é que le vav a a al ma à
re gen er aç ão . De us er a a ca us a pr im ár ia da
sa lva çã o. O hom em , po ré m, ti nh a a su a
pa rte ; me re cia ce rt a co ns id er açã o. O
se gu nd o po nt o, re fe re nt e à Gr aç a, te ve em
Am yral dus o mai s ard oro so def ens or.
Ens ina va ess e mes tre da Academia de
Saumur a interessante concepção da existência
da Gra ça uni ver sal hip oté tic a, que ele
exp res sav a na se gu in te li ngu ag em : há em
De us o de sejo
(ve ll ei ta s, af fe ct us ) qu e
to do s se ar re pe nd am e se ja m sa lv os
(ar mi ni an is m o ),
ma s por
um mo ti vo
qua lqu er a Gr aça não é ced id a a tod os
(ca lvi nis mo ). Par a tan to Deu s env iou Seu
Fil ho ao mu nd o, ma s as c on di çõ es
ex ig id as sã o um ób i ce a qu e to do s

pa rt ic ip em da sa lv aç ão .

(2 )

Há
em
Am yr al du s
um
ide ali smo
un ive rsa lis ta ao lad o de um par tic ula ris mo
cal vin ist a
ac ent ua do.
A
sal vaç ão
é
uni ver sa l ape nas hi pot eti cam ent e, ao pas so
que o núm ero dos sal vos é lim ita do, porqu e
ne m to do s re ce be m a Gr aç a. Ap es ar di st o
o il us tr e pro fe sso r de Sau mu r tev e que
defend er
sua
dou tri na,
con si de ra da
in co ns is te nt e co m os pa dr õe s da ma gn a
as se mblé ia de Dor t, por qua nto do is sí no dos
nac ion ai s ass im o en te nd ia m.
To da vi a um di sc íp ul o, Cl au de Pa jo n,
pr ofe sso r em 166 6 na me sma esc ola , não
só con tin uou a susten tar as idé ias de
Am yra ldu s, ma s ava nço u ain da ma is,
en si na nd o qu e a op er aç ão do Es pí ri to
so br e o in te le ct o també m se faz por meios
exte rnos, tais como os evan gelho s, as
ci rc un st ân ci as , et c.
Na In gl at er ra ad ot ar am po si çã o mais ou
meno s seme lhan te à de Amyr aldu s, War dlaw ,
John Br ow n e Ja me s Ri ch ar ds e no s EU A
algu ns teól ogos da Nova Ingl ater ra, como
Emmo ns, Tayl or, Park e Beman.
O ARM INI ANI SMO NA ALE MAN HA
E que dir emo s da Ale man ha, ber ço do
prot est ant ism o e de tan tos pen sado res
emi nen tes ? Se qui serm os, pod emo s recu ar
ao s te mp os da Re fo rm a. Co me ce mo s pe lo
in ol vid áv el Ph il ip Me la nc ht on , am ig o ín ti mo
de Lu te ro e se u co ad ju to r na cé le br e
Co nf is sã o de Au gs bu rg o. Ne nh um outro
viveu tão perto do coração do grande reformador
e nem me lho r lhe sec und ou os esf or ço s
naq ue les tem pos da agi tad a car rei ra. Hão
de ser col oca dos sem pre na lis ta das
gra nde s ami zad es.
Mel anc hto n,
não
obs tan te,
era
qua tor ze ano s ma is no vo do que Lute ro,
pro vin ha de fa míl ia be m do ta da e re ce be ra
ed uc aç ão ma is ap rim or ad a. Du as pes soa s,
por tan to, de ida des e psi col ogi as dif ere nte s.
Mas os do is se co mp le ta ram. A ca lma de
Me la nc ht on se con trapô s muita s vezes à
impet uosid ade de Martin ho Lute ro, ao passo
que o con ser van tis mo do ex -mon ge de
Wit ten ber g sal vou o com pan hei ro de
de sca mba r com o seu lib era lis mo para
sit ua çõe s per igo sa s, tal com o su ced eu em
Aug sbu rgo ao di sc uti r com os teó lo gos
rom ano s, po r ord em do imp era do r Ca rlo s V,
os te rmo s da co nf is sã o do ut ri ná ri a do
pr ote st an ti sm o al em ão .
Ni ng ué m po de im ag in ar qu e ru mo
to ma ri a o mo vi me nt o lu te ra no se m o
au xí li o de Ph il ip Me la nc ht on .

Lu te ro e Me la nc ht on se dav am mu it o
be m. N ot e-se , po ré m, qu e su as te ol og ia s
di ve rg em em al gu ns po nt os . Me la nc ht on ,
po r exe mp lo, em seu con ce ito s obr e a
Igr ej a enf ati zav a a im po rt ân ci a da ra zã o, e
po r is so é el a co ns ti tu íd a do s qu e ac ei ta m
a ve rd ad ei ra do ut ri na do cr is ti an is mo . Pa ra
Lu tero a Igr eja é a com unh ão dos fié is.
Mel anc hto n pen sav a da San ta Cei a com o
sím bol o do sa cri fíc io de Cri sto , rec e ben do-O
ape nas aqu e les que tiv ess em fé n Ele .
Lut ero, no en ta nt o, er a re al is ta , em bo ra
re je itas se a tra ns ub st an ci aç ão . Ou tr o po nt o
é o que di z re sp ei to à sa lva çã o do ho me m:
Ma rt in ho Lu te ro co lo ca va o ho me m na
in te ir a de pen dênci a de Deu s, enq uan to que
o com pan hei ro e a mig o tam bém exi gia a co par tic ipa ção da von tad e hum ana . No
con cei to de Mela nch ton trê s ele men tos
con cor riam par a se efe tiva r a sal vaçã o: o
Esp írit o San to, a ver dad e bíb lica e a vontade,
sendo que o Espírito é a causa eficiente, a
Palavra é o me io par a alc an çá -la , ma s,
dep ois de tud o, sem o ex er cíc io da
von tad e, o hom em nã o a con se gue . É o que
se chama de "sinergismo".
Algumas
das
idéias de
Melanchton
provocaram depois ver dad ei ra agi taç ão na
Ale ma nha , di vid ind o a Igr ej a em dua s ala s:
os con ser vad ore s e os fi lip ist as ou
sin erg istas .
As
cont rové rsia s
somen te
cess aram em 1580 , com a “Fórm ula de
Co nc ór di a”, e um a de la s fo i, ex at am en te ,
sobr e a pre des ti na ção . Af ina l, a que stã o
fi cou
def ini da
ne sse
do cu me nt o,
do
se gu in te mo do : “É da vo nt ad e de De us
sa lv ar a to do s. A Su a Gr aç a é un iv er sa l.
En tr et an to Êle sa lv a ap en as ao s qu e
ac ei ta re m a Cr is to . De us sa lv a em
co ns id er aç ão ao s mé ri to s de Cr is to ”. O
ca lv in is mo , en tã o, ma is uma vez, cedia
caminho.
Pou co dep oi s a co ntr ové rsi a vol ta a
ati var -se co m a che gad a à Al em anh a do
su íço Sam ue l Hu bb er. Ob ri gad o a de ix ar a
pá tr ia po r ca us a de se us co nc ei to s an ti ca lv inis tas , fi lio u -se à Ig rej a Lut er ana ,
ser vin do com o pa sto r em Tu bin ga e, a
seg ui r, co mo pro fe ss or da Un ive rsi dad e de
Wi tte nbe rg. Log o se pôs a ens ina r a
dou tri na do abs olut o uni ver sal ism o: Deu s
des de a ete rni dad e ele ger a tod os os
hom ens par a a sa lva ção , me smo sem le va r
em con ta a fé . Or a, is to , er a de ma is ,
co nt ra ri an do at é o es pí ri to da “Fórmu la de
Con cór dia ”. Em con seq üên cia , doi s col ega s
saíram a campo e lhe rebateram as idéias.
Até no sei o da Ig re ja Cat ól ica Rom an a
se dis cut ia o mo me nt os o pr ob le ma do li vr e
ar bí tr io e da pa rt e do ho me m na sua

sal vaç ão.
Dom ini can os
(to mi sta s)
e
Fra nc is ca nos
(sc ot ist as )
ne le
se
en vo lve ra m. Re ac en dem -no ao tem po da
Ref orm a, Mic hae l Baj us e seu s col ega s
tam bém
scotistas,
todos
favoráveis
à
participação do homem, ao pass o que os
opo nen tes
se
fi rma vam
em
S ant o
Ago sti nh o. Qua ndo os jes uít as qui ser am
faz er o mes mo, Cor nél io Jansen, bisp o de
Ypre s, e mais algu ns comp anhe iros da
abad ia de Po rt -Ro ia l se le va nt ar am em
de fe sa
da
do ut ri na
da
sal vaç ão
exc lus iva me nte pel a gra ça, con for me a
acr edi tavam esp osad a por aqu ele teó logo
nor te-afr ica no (Ag ost inho ). E o resu lta do
ve io de pr on to : um a pe rt in az pe rs eg ui çã o
mo vi da pel os inf lue nte s je su íta s con tr a os
jan sen ist as , a qua l co lim ou com a fun daç ão,
por est es, de nov a ins tit uiç ão ecl e siá sti ca,
ind epe nde nte de Rom a: a Vel ha Igr eja
Cat óli ca, dos Paí ses -Ba ixo s. Apó s o
Con cílio do Vat ica no (18 70 ), um no vo ra mo
se de st ac ou da Ig re ja Ro ma na , po r ca us a
do dog ma da inf ali bil ida de pap al, uni ndo -se
à Vel ha Igr eja Católica.
O ARMINIANISMO EM TEMPOS DE
RENASCENÇA
Agora, podem os leitores compreender melhor
por que es cr ev em os al gu re s a re sp ei to de
Ar mí ni o, di ze nd o qu e su as id éi as re fl et ia m
Arminianismo e metodismo
Arminianismo e metodismo
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  • 1. ARMINIANISMO E METODISMO Subsídio s para o estudo da História das Doutrinas Cristãs Jos é Gon çal ves Sal vad or Junta Geral de Educação Cris tã D A IGREJA METODIS TA DO BRASIL SÃO PAUL O ÍNDICE PREFÁCIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I - Como se constrói uma grande nação - A situação Política - O fator Político Religioso CAPÍTULO II - Tiago Armínio no Cenário de sua Pátria - Os primeiros anos - O preparo Escolar - Armínio no exercício do pastorado - O Mestre e o Polemista - O fim da Jornada CAPÍTULO III - As doutrinas arminianas - A respeito de Deus - A predestinação - O homem no conceito de Armínio
  • 2. 16 1/ Jo sé Go nça lv es Sal va do r - O problema do pecado - O decreto eterno de Deus - A obra de Cristo - O lugar da graça na salvação do homem - A perseverança cristã CAPÍTULO IV - Organização e difusão do arminianismo - O arminianismo nos Países -Baixos - Introdução e desenvolviment o na Inglaterra - O impacto sobre o calvinismo francês - O arminianismo na Alemanha e outros países - A influência do arminianismo na Filosofia, no Direito, na Política e nas Missões Evangélicas CAPÍTULO V - A Gênese do arminianismo wesleyano - A situação da Igreja Anglicana - A influência do casal Samuel e Susana Wesley - O valor da dedicação pessoal - A contribuição de Aldersgate - A controvérsia predestinista - O contato com as idéias de Tiago Armínio. CAPÍTULO VI - Arminianismo e Metodismo .4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo - O espírito do metodismo - Distinções doutrinárias: a) O pecado original b) A predestinação c) A certeza da salvação d) A justificação e) A regeneração f) A santificação g) O conceito de Deus CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA PR EF ÁC IO B is p o César Da c o r so Fi lh o Li , c o m pr az er , o s o r ig in ai s de st e l iv r in ho . Por di v e r so s mo t iv o s. P r im e ir o , po r q u e e sc r it o s po r u m co m pa nh ei r o de mi n is t ér io , c u jo
  • 3. cu rr i cu l u m v i t a e , v en c id o at é a q u i, v en ho ac o mp a nh a nd o d es de o pr in c íp io . D ep o is , po r q u e f r u t o de es f o r ço s co m q u e el e se m pr e v e nc e no s em p r e en di me nt o s q u e t o m a a p ei t o , e da pi e da de si nc e r a e pr o f u n da q u e, co mo a pa ná g io d e se u s d ia s, el e cu l t iv a em t er mo s es t r it am en t e ev an g él i c o s. En f i m, po r q u e c a mp o cu l t u r al d e s u ma im po r t ân c ia pa r a nó s, q u an do no s co nf r o nt am o s c o m o di l em a d o “ si m o u nã o ” , em f a c e do c o nv it e q u e o F il ho de D eu s no s f a z, t o ca nt e à r e de nç ão ca mp o cu l t u r al q u e el e l av r a co m m u it a p r u d ên ci a e ci r cu n sp e c çã o . Ab r a ng em mu it o s âm b it o s q ue s e pr e nd em ao m ag no pr o b l em a - e, na T er r a, s o mo s o u n ão l i v r es pa r a a ce i t ar a c ha ma d a d e J es u s Cr is t o p ar a o Re in o d e D eu s, o u s e, na T e r r a, es t a mo s ou nã o su je it o s a pr e de t er m in is mo , co m r ef e r ê nc ia à sa l v aç ão et e r n a. A b as e q u e se v al e, em g r an de ex t en sã o , o au t o r , é a p es s o a d e Ar mí ni o e a co nt r o v é r s i a a q u e el a de u ca u sa . P ar a i ss o , e l e s e f o i à G eo g r af ia , à Hi st ó r i a, ao s i m pe r at iv o s da l ó g i c a e ao s l am p ej o s d as ar m as t er ç ad a s n as ar e na s d a T eo l o g i a. Co nt u d o , se u t r ab al ho é m u it o su ci n t o p ar a m at é r ia t ão ex t en s a e mu i t o si mp l es pa r a t e ma t ão co m p l ica do . O au t o r f o i, no me u en t en de r , f el iz em r es sa l t ar q u e nó s, m et o d is t as , av a nç am o s m ai s na do u t r i na do l i v r e ar b ít r io , que o pr ó pr io pa s t o r N ee r l an d ês . De f at o pr ec is a mo s di st in g u ir W es l ey de A r m ín io . N ão p o de m o s j am ai s n eg ar q u e D e u s pr e de st i no u mu it as co is as p ar a c e r t as es f e r a s da v id a h u m an a, s o b r et u do n o cu r so d a s co i sa s m at er i ai s. A s si m , q u em n ão co me r e b eb er , h á d e su cu m b ir , e q u e m , de g r an de al t u r a , se l an ça r n o e sp aç o de sa r m a do de p ár a q u ed as , h á d e mo r r er ao t o ca r o so l o .Iss o, par a não ref erir à ina lte rab ili dad e dos gra nde s fen ôme nos fís ico s das est açõ es, das lua s, das chuv as, dos rai os, em que qua se não pod emo s inter fer ir, sen ão par a nos so res gua rdo de seu s efe ito s. Assi m, de u De us se u Fi lh o Un ig ên it o, pa ra qu e to do o qu e ne le cr ê, nã o pe re ça, ma s te nh a a vi da et er na . At é aí va i a pr ed es ti na çã o de De us . To da vi a, co me r e be be r, co mo la nç ar-no s, de gr an de al tu ra , ao es pa ço e, ai nd a, cr er no Fi lh o Un ig ên it o, é at it ud e qu e de pe nd e
  • 4. 16 1/ Jo sé Go nça lv es Sal va do r de nó s. E aq ui é qu e es ta no ss o li vr e ar bí tr io , no ss a li be rd ad e, segu ido s de nos sos dev ere s e con seq üe nte s res pon sab ili dades. Ma s o qu e de du zi mo s da Bí bl ia , da ló gi ca e da ex per iên cia, de aco rdo com o que acab o de decl ara r, é que , no cam po pro pri amen te mor al e esp irit ual (re lig ioso ), somo s sob era nam ent e liv res. Par a iss o a Pro vid ênci a nos do to u de in te li gê nc ia , ra zã o e co ns ci ên ci a, qu e no s co nd uz em ao se ns o de no ss os de ve re s e co ns eq üe nt es re sp on sa bi li da de s, tã o vi vo em to do s nó s. Se m dú vi da , só at é on de ch eg a no ss o en te nd im en to e co mp re en sã o da s co isas , e não do que não ent end emo s e não com pre end emo s, podemos dar conta, máxime a uma justi ça perfei ta. Fa to qu e le va al gu ma s pe ss oa s a se em ba ra lh ar em e se con fun dir em na con sid era ção das det erm ina çõe s div in as ( me l ho r do q u e p r ed es t in aç ão d iv i n a) , é n ão d is t in g uir em, pre sci ência de pre des tin açã o. Na pre sci ênc ia divi na de fu tu ra s de li be ra çõ es hu ma na s ex is te , ap en as , pre vi são e não exi st e qua lq uer inf lu ênc ia s obr e el as, ao pa ss o qu e na pr ed es ti na çã o di vi na ha ve ri a co mp ul sã o .4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo sobre elas. Fi na lm en te , é ce rt o qu e, pe la in te li gênc ia , ra zã o e con sci ênc ia, sen tim os nos sos dev ere s e res pon sab ili dad e. Por tais caminh os Deus nos ajuda com maior ilumin ação de seu Espíri to. Entret anto, não nos força a qualqu er decisã o. Daí dec or re qu e, pa ss an do do s li mi te s da co nvi cçã o pa ra o te rr en o do "s er ou nã o se r" , nós no s enco nt ra mo s, po r ef ei to de um a le i in co er cí ve l, na de pe ndência de nós mesmos, isto é, na necessidade de praticar no ss as próp ri as vo li çõ es. De ma is a ma is , sa be mo s, de sob ejo , que , se ta l con di ção não fo sse a do ser hum ano , nã o ha ve ri a pa ra el e ne nh um se nt id o na do r da cu lp a, na ale gri a do bem que fez , com o, de res to, nas dec lar ações da justi ça. Ag ra de ço ao Re v. Jo se Go nç al ve s Sa lv ad or o pr iv ilé gi o de fa ze r es te br ev e exór di o a se u tr ab al ho . Co m el e mu it o me co ng ra tu lo à vi st a da co nt ri bui çã o qu e traz, com seu livrin ho, à litera tura relig iosa em portu guês.
  • 5. I N T R O D U Ç Ã O J o s é G o n ç a l ve s S a l va d o r Es te li vr in ho, an te s de tu do , é ur na sa ti sf aç ão a pe di do s qu e am ig os me di ri gi ra m há te mp os , so li ci ta nd o pa ra esc rev er alg um a coi sa a re spe ito das rel açõ es ent re a Igreja Metodi sta e o armini anismo . Em suas missiv as la men ta va m el es hav er em no sso mei o de sco nh eci men to quase total da histó ria e das doutri nas do sistem a teológic o, ori gin ado com Tia go Arm íni o, na Hol and a, em fin s do sé cu lo XV I e, de ig ua l fo rm a, da s af in id ad es do me tod ism o we sl ey ano com o me smo , a pon to de se at rib ui r a amb os afi rm açõ es que não lhe s são pec ul iar es. Pus -me, en tã o, a ob se rv ar . Co nv er se i co m de ze na s de pe ss oa s, arrola das numa porção de denomi nações evangé licas, e tam bém li jor na is e rev ist as. Em det erm ina do art ig o che ga va- se a di ze r qu e o me to di sm o nã o dá im po rt ân ci a à gr aç a de De us , qu e o ar min ia ni sm o é ep is co pa l, e se nd o a Ig re ja Me to di st a ep is co pa l e ar mi ni an a, ip so fa to , é um sistema papal. Ora , ta is dec lara çõe s não con di zem com a ver da de e só re ve la m la me nt áv el ig no râ nc ia . A do ut ri na da gr aç a é fu nd am en ta l em to do o me to di sm o. E qu an to ao pr eten did o epi sco pal ism o, bas ta esc lar ece r que o met odi smo in gl ês , fr ut o di re to de Jo ão We sl ey , nã o é ep is co pa l. Dev o le mbrar , ai nda , qu e o arm ini ani smo hol and ês ado tou como forma de govern o eclesi ástico o sistem a presb iter iano. Minh as obser vaçõ es acab aram por dar razã o aos meus am ig os mi ss iv is ta s, le va nd o me a es cr ev er as no ta s qu e id es le r. Tr at a se de tr ab al ho si mp le s, se m pr op ós it os de eru diç ão; coi sa que nem de lev e pos suo . Qui s tor ná-lo ace ssí vel ao mai or nú mer o de pes soa s, par a, as sim , pre s ta r me lh or se rv iç o. Li mi te i- me a me ia dú zi a de pá gi na s sobre cada capítulo, ou pouco mais, quando poderia escre ver cent ena s. Se me apr ofu nda sse no est udo , far ia obr a vo lu mo sa , de ma io r cu st o e de int er ess e, ta lv ez , só pa ra um a pe qu en a el it e. Em to do ca so , as pi ca da s fi c am abertas. Fa ço , no pr im ei ro ca pí tu lo , um a br ev e an ál is e da s condi ções geogr áficas , econôm icas, socia is, políti cas e re li gi os as do s Pa ís es -Ba ix os no in íc io do s te mp os
  • 6. 16 1/ Jo sé Go nça lv es Sal va do r mo de rn os , po is de ve mo s co nh ec er o ce ná ri o on de os fa to s se pro ces sam e ond e os ato res des emp enh am seu s pap éis . É imp oss íve l a His tór ia sem a Geo gra fia . A Hol and a, por exemplo, não se explica independentemente do Mar do Nor te. Mes mo as idé ias soc iai s, pol íti cas e rel igi osa s têm no tá ve l re la çã o co m o ha bi ta t, ou se ja , o am bi en te no se u ma is am pl o se nt id o. E is to ta mb ém ex pl ic a po rq ue o ar mi ni an is mo ge rm in ou on de o ca lv in ism o já se ha vi a rad ica do. A épo ca exi gi a mai or com pre ens ão do ho mem . A Re na sc en ça , os se gu id or es de Du ns Sc ot us , fr an ci sc anos em sua mai ori a, os arm ini ano s e out ros , tod os pug na vam por sua valorização. No segund o capítu lo aparec e o vulto inconf undív el de Ar mí ni o, qu e é fi gu ra ce nt ra l no es tu do em ap re ço , para, então , no capítu lo seguin te, verifi carmos quais as ca us as de su as id éi as e qu ai s as su as co nc ep çõ es do ut ri ná ri as . Já o ca pí tu lo IV é um el o na ca de ia da ex po si çã o es ta be le ce nd o um a po nt e en tr e o ar mi ni an ism o e o me to di sm o, e ne le se di rá da or ga ni za çã o e ex pa ns ão do ar mi ni an is mo . Co nv ém ob se rv ar , aí , a in fl uê nc ia qu e aq ue le ex er ce u no .4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo pe ns am en to da ép oc a, pr im ei ro na Europa e, depois, na América do Norte. Os do is úl ti mo s ca pí tu lo s sã o de di ca do s ao me to dis mo . At ra vé s de le s pr oc ur ar ei mo st ra r co mo o ar mi ni an is mo we sl ey an o se or ig in ou e se de se nv ol ve u, se m con tac to dir eto com o arm ini ani smo do teó log o hol and ês, e ma is , qu e em mui to s po nt os se dif er en ci a do me sm o e se lh e av an ta ja . Ce rt as do ut ri na s, de qu e o ar mi ni an is mo ne m se qu er co gi to u e, se o fe z, de ix ou -as em pl an o secundário, ocupam lugar saliente no metodismo.
  • 7. Os pre za dos le ito res iri am ad mir ar- se , co m cert ez a, das ref erê nci as que , a cad a pas so, sur gir ão ao cal vin ism o. Ma s de sd e já os pr ev en im os . Se ri a di fí ci l mo st ra r a gênese do armini anismo holan dês e a sua nature za sem re co rr er ao si st em a qu e lh e de u ca us a. En fa ti za va -se ta nt o a so be ra ni a ab so lu ta e ir re st ri ta de De us , em co mpl et a ne gl ig ên ci a do ho me m, qu e a re aç ão te ri a de su rg ir . Co mo di ri a He ge l, a te se or ig in ou a an tí te se e, de am ba s, re su lt ou a sí nt es e. No me u en te nd er , o me to dismo representa a síntese, porque soube valer-se das mais justas e melho res concep ções, quer do calvin ismo quer do ar mi ni an is mo . En tr et an to , nã o é um a co is a e ne m outra. O metod ismo tem a sua própr ia indivi duali dade. Da me sm a so rt e, qu ai sq ue r re fe rê nc ia s ao pe la gi an is mo e ao cat oli cis mo rom ano , visa m esc lar ece r as que stõ es em es tu do . Ni ng ué m, po r is so , ju lg ue qu e pr et en do fa ze r po lê mi ca . Me u ob je ti vo é o de to rna r me lh or co nh ec id o o ar mi ni an is mo e re ve la r as af in id ad es e di st in çõ es do metodismo com ele. Espero conseguir isto. CAPÍTULO 1 CO MO SE CO NS TR ÓI UM A GR AN DE NA ÇÃ O 1 - OS PAÍSES-BAIXOS, CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS. A Ho la nd a e Bé lg ic a, ma is co nh ec id as ou tr or a po r Paí ses -Bai xos , ocu pav am uma fai xa de ter ras ao lon go do Ma r do No rt e, na Eu ro pa No rt e Oc id en ta l. No le st e conf ront avam-se com div ers os ter ritó rio s ger mân icos e, no oes te, com a Pic ard ia e Cam pan ha fra nce sas . Não tin ham , po is , fr on te ir as na tu ra is , sa lv o as ma rít im as , ap es ar de recortados por movimentados cursos de água, como o Re no , o Es ca ld a e ou tr os . O ba ix o ní ve l do se u li to ra l fa cil ita va a inv asã o qua se con sta nte da par te con tin ent al pe la s ág ua s do ma r, am ea ça nd o la vo ur as e re si dê nc ia s. Em vista disso, fazia-se mister construir diques e
  • 8. 16 1/ Jo sé Go nça lv es Sal va do r abrir can ais , opo r -se ao elem ento adv erso e tra nsf orma r a pou co fé rt il pl an íc ie em so lo ap ro ve it áv el . E, as sim , de se nv ol v eu -se ali , esp eci alme nte nas pro vínc ias do nor te, as qua is vi er am a co ns ti tu ir a mo de rn a Ho la nd a, um po vo la bo r ios o e em pre end edo r, afe ito aos per igo s, dad o ao com ér cio e amante da liberdade. 1 - O INTERCÂMBIO COMERCIAL. À fa lt a de ma té ri as pr im as e de ví ve re s, ti nh a o ho landês que voltar-se para o mar e para o comércio. Depe nd en do de ou tra s na çõ es , pr ec isa va es tre it ar re la çõ es com ela s e faz er-se pacífic o. A pos içã o geo grá fic a do país colocava-o, naturalmente, como intermediário entre as re gi õe s se te nt ri on ai s e as ce nt ra is e , at é as do me io -di a, ci rc un st ân ci as a qu e se ju nt ar am as do ca pi ta li sm o es t ra ng ei ro , gr aç as ao af lu xo de ju de us ex pu ls os de Es pa nha e Po rt ug al , po r se us re is . As in dú st ri as ma is pr os per ara m ent ão. Mer cad ori as sub iam e des cia m seu s rios, to rn an do -se al gu ns do s se us po rt os do s ma is fr eq üe nt ad os em to da a Eu ro pa : An tu ér pi a e Am st er dã . De lá se re ca mb ia vam te ci do s de di ve rso s tip os , .4 yt ai ni an is mo e Me to dis mo vid ro s, cr is ta is , rel ógio s, ba ca lha u e inc lus ive o lat ão e o cob re que Po rtu ga l tr af ic av a co m o Or ie nt e. Pa ra os Pa ís es Ba ix os rem eti am os lus os o açú ca r da Il ha da Mad ei ra e do Br asi l, vin ho, aze ite , sal , art igo s da Áf ric a e es pec iar ias do Le va nt e. Co m a de rr ot a da "A rm ad a In ve nc ív el ", na qu al os ibé ric os per der am o mel hor de sua s emb arc açõ es, pa ss ou a Ho la nd a a pr ed om in ar no s ma re s ju nt o co m a Ing lat er ra . Dua s de su as com pan hia s de co mé rci o gan hara m fa in a: a da s Índ ia s Or ie nt ai s e a da s Ín di as Oc id enta is . Te rr as do Índ ic o e da Áf ri ca ca ír am so b se u do míni o, nã o es ca pa nd o à su a co bi ça ne m o ri co no rd es te brasileiro. 3 - A VIDA SOCIAL. To dos est es fa tor es rep er cu ti ram em su a vid a soc ial e cu ltu ra l. A ar ist oc ra ci a ur ba na e a ru ra l viv ia m pou co di st an ci ad as um a da ou tr a. O nú me ro de ci da de s er a re lati vam ent e gra nde , emb ora de fra ca den sid ade . Lei den e Ams terd ã, ent re as mai ore s, con tava m ape nas uma s 20. 000 al ma s. To da s ti nh am di re it o a um re pr es en ta nt e no go ver no pr ov in ci al , ou se ja na As se mb lé ia (E st ad os Pr o vin cia is) .
  • 9. O neg oc ian te ain da não era mu ito ric o, ma s já usufruía posição de certo destaque. A ele, e sobretudo ao ari sto cra ta, cab ia a mai or inf luê nci a do gov ern o do pa ís. Os ar tes ãos es ta va m con cen tr ado s na s cid ade s, reu ni dos em co rp or aç õe s (g il de n) , ma is ou me no s pa re ci da s ao s mo de rn os si nd ic at os op er ár io s. Go za va m de re la ti va si tua ção eco nôm ica e de mod o ger al sab iam ler . O res tan te da pop ula ção con st itu ía -se de la vra do res e ma rin he iro s. O proletariado era pouco numeroso. Ta lve z a Hol and a fos se na épo ca o paí s me lho r equ ili br ad o, so ci al me nt e. A ri qu ez a e a cu lt ur a es ta va m ao al ca nc e de mu it os . Já na Id ad e Mé di a os "I rm ão s da Vid a Com um" tin ham est abe lec ido esc ola s par a os fi lho s do po vo . Ho la nd es es fo ra m Re mb ra nd t, Ro es br oe c, We sse l, Gro ot, Era smo agr íco la, Gro tiu s, Spi noz a e Tia go Ar mí ni o. In st ru çã o, es pí ri to me rc an ti l, in te rc âm bi o co me rci al , ha ve ria m de cr ia r no s cid ad ão s o sen so de li ber da de e o am or à de mo cr ac ia . E ag or a, se m me do de err ar, pod emo s acr esc ent ar que ao fat or rel igi oso se dev e o ap ri mo ra me nt o de ss e es pí ri to de in de pe nd ên ci a, de ap eg o à li be rd ad e e de in te re ss e pe la do ut ri na da Re forma. 4 - A SITUAÇÃO POLÍTICA. Te nd o pe rt en ci do à Fr an ça , co mo do te de Ma ri a de Bor gon ha, em vir tud e de seu cas ame nto com Max imi lia no da Áust ria , vie ram os Paí ses -Bai xos a cai r sob o dom íni o es pa nh ol , po rq ue Ca rl os V e se u fi lh o Fe li pe II de sc en di am em li nh a di re ta do s ha bs bu rg os au st rí ac os . Em su as mã os est av am , tam bém , a Ale ma nha , pa rte da Am é ri ca , Áf ri ca e re gi õe s da Ás ia . "O so l nu nc a se pu nh a em tão vastos domínios", como se veio a dizer.
  • 10. :10 J o s é GOnç a lr e . irad.r A po l ít ic a de st es ha bs bu rg os ja ma is fo i be m ac olh id a no s Pa ís es-Ba ix os . Ca rl os V fe z o má xi mo pa ra ce nt ra li za r o po de r es ta ta l, us ur pa nd o ao po vo ve lh os pri vil égi os já con sag rad os, nas cen do dai ama rga ant ipa tia pa ra co m el e e se us re pr es en ta nt es . Um de se us er ro s mai s gra ves foi o de que rer ext ing uir pel a força a inf luê ncia das idé ias pro tes tan tes , já em fra nco pro gre sso no sei o do pov o. Por ess a cau sa, em 152 3, doi s fra des ago sti nho s, res pon dem a in qué rit o em Br ux ela s, sen do a se gui r que ima do s. São el es , He nr iq ue Vo es e Jo ão Esc h , os do is pr ime ir os má rti re s da Re fo rma . Ce nt en as de Ou tr os viera m de po is . No me sm o an o su rg e o No vo Te st am en to em ho la nd ês , tr ad uz id o de Lu te ro . Os ge rm es do mi st icis mo de Kem pis e de We sse l, se des per tam . Rea cen de-se na alm a de ss a ge nt e am an te da li be rd ad e o de se jo de co nh ec er a no va fé . Qu er en do Fi li pe ap ag á-la co m mã o de fe rr o, ma is el a se in ce nd ei a. In qu is iç ão , ex ec uç õe s, em prego de fo rça mi lit ar , tu do se to rn a em vã o. O po vo se un e, os no br es se ar re gi me nt am , ma ri nh ei ro s e pe scad ore s se con ver tem em ter ror par a as hos tes esp anh ola s. A ca us a ad qu ir e fo ro s 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 de na ci on al id ad e. Co mb at e-se o in im ig o em te rr a e no ma r. Pe la pá tr ia e pe la fé re nu nci a-se a tu do . Qu an do Le id en já nã o po de re si st ir ao sí ti o, Gu il he rm e de Or an ge ma nd a ar ro mb ar os di qu es e in un dá-la . Ma s a vit ór ia ca be , po r fi m, ao s na cio na is . Em ho me na gem ao se u he ro ís mo , a ci da de fo i pr em ia da com uma universidade (1575). Em 15 79 , af in al , as se te pr ov ín ci as do no rt e re so lve ram su bsc re ver o tr ata do de Ut rec ht, em vir tud e do qua l se co ns ti tu ía m em na çã o in de pe nd en te , co m o no me de Pr ov ín ci as Un id as . Em 15 88 dá -se a de rr oc ad a da Ar mada Invencível. Em 1609, Espanha e Holanda assinam um ar mi st íc io . Es ta va ga nh a a in de pe nd ênc ia , e co m el a o protestantismo também recebia o seu reconhecimento. 5. O FATOR POLÍTICO-RELIGIOSO. A ca us a da re vo lt a fo ra po lí ti ca e re li gi os a. De um lad o est ava m os esp anh ói s e o rom ani smo , e do out ro os sú di to s ne er la nd es es e a do ut ri na da Re fo rm a. A Ig re ja Cat óli ca man tin ha-se uni da ao Est ado e o apo iav a na lut a co nt ra a fé pr ot es ta nt e. Ao s po uc os o el em en to
  • 11. :11 J o s é GOnç a lr e . irad.r re fo rma do ass um iu as réd eas do mo vim ent o, de so rt e que , ao fi m da gue rra , o dom íni o pol íti co ta mb ém lhe per ten ci a. O lu te ra ni sm o ce de ra pa ss o ao ca lv in is mo . As ig re ja s for am tra nsf orm ada s em tem plo s eva ngé lic os, e os sac erdo te s nã o co nv er tid os à no va do ut rin a de ixa ra m o pa ís , emb ora o tra tad o de Utr ech t gar ant iss e a qua lqu er pes soa o di re it o de li vr e co ns ci ên ci a. Co nt udo , o nú me ro de cat ól ico s ai nda er a bem gra nde , ha ve ndo de igu al fo rma muitos anabatistas, luteranos, judeus, e socinianos. Fo i du ra nt e os an os da gue rr a qu e o pr ot es tan ti sm o se or ga ni zo u em Ig re ja . Já po r vo lta de 156 1 su rg e ur na Co nf is sã o de Fé , re di gi da pe lo jo ve m pa st or Gui do de Br és , ju nt am en te co m tr ês ou tr os mi ni st ro s. Fo i gr aç as a el a qu e o ca lv in is mo ga nh ou as ce nd ên ci a no s Pa ís es -Ba ixo s. De po is , em 15 63 , re úne mse pe la pr im ei ra ve z em sín odo os del ega dos de vár ias con gre gaç ões , est abe lece nd o o se u pr óp ri o si st em a de go ve rn o, e po r cu jo mo del o tom ar am o da igr ej a de Gen eb ra . Ado tou -se, ent ão , o pre sbi ter ian ism o, mas em cad a uma das set e pro vín cia s a adm ini str açã o ecl esi ást ica era qua se aut ôno ma, vist o ser a Ho la nd a 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 ma is um a co nf ed er aç ão de Es ta do s qu e um a nação. Só poderia haver assembléia geral (sínodo) quando todas as províncias dessem o seu assentimento. Em 1566 a Confissão Belga, de Guido de Brés foi adotada oficialmente pelo sínodo de Antuérpia. Quanto à idéia das relações ente Estado e Igreja, vigorou a da autonomia desta, se bem que aliada ao Estado. A Igreja Holandesa pode orgulhar-se de suas lutas e vitórias, de seu passado de Heroísmo e martírio. Em suas fileiras militaram vultos do porte de Guilherme de Orange, estadista e patriota, Hugo Grotius, fundador do direito internacional, Guilherme de Brés e Simão Escópio, entre os grandes teólogos da humanidade, convindo lembrar que também na Confissão Belga se inspiraram mais tarde os autores da Confissão de Westminster. De Tiago Armínio recebemos uma interpretação mais harmoniosa do caráter divino e da personalidade do homem; por isso, tanto melhor admirado quanto mais decorrer o tempo.
  • 12. :12 J o s é GOnç a lr e . irad.r CAPÍTULO II TIAGO ARMÍNIO NO CENÁRIO DE SUA PÁTRIA No mu lt iv ar ia do ce ná ri o do s Pa íse sBa ix os su rg iu em fi ns do sé cu lo XV I a fi gu ra de um pe rs on ag em , qu e br ev e pa ss ar ia à Hi st ór ia . Os pa is de ra m-lh e o no me de Jak obs Her ma nns , ou Her man sen , ma s Ele pre fer iu lat ini zá -lo pa ra Ar min ius , com o se cos tu ma va ent ão . Jak obs cor res pon de a Jac ó, Jaim e ou Ti ago . Out ro s já hav iam tid o idên tic o nom e no pas sado , sagr and o-se pel o me no s do is de le s co mo ca mp eõ es da li be rd ad e. Um fo i aq uele ch ef e ge rm ân ic o qu e no an o 9 A. D. ve nc eu as le gi õe s do ro ma no Va ro . O se gu nd o, mo de st o pa st or de ove lha s, not abi liza ra-se nas cam pan has da vel ha Lus itâ nia . Qua nto ao ter cei ro, cab e-lhe gló ria ain da ma ior , em bo ra ja ma is te nh a le va nt ad o um a 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 es pa da ou lu ta do de ar ma s na mã o. Fo i, po ré m, gr an de ba ta lh ad or , mi li ta nd o no cam po árd uo das ati vid ade s esp iri tuai s. As rev olu çõe s não se fa zem sem idé ias , e Jak obs (Ti ago Armínio ), nos so bio gra fad o, fo i ho me m de id éi as . Lu to u po r um a in te rp re ta çã o ma is li be ra l da Te ol og ia , ex al ta nd o a di gni da de hu ma na , se m de st ro na r a De us da gló ri a qu e Lh e é de vid a, at ean do as cha mas de uma rev olu ção que mai s e mai s se vem ala str ando mu nd o af or a. Si m, po rq ue su a in fl uê nc ia se es te nd eu ta mb ém a ou tr os se to re s. El a se pr oj et ou s obr e a vi da pol íti ca, eco nôm ica , soc ial e fil osóf ica . Dos Paí ses-Bai xos sa lt ou pa ra as na çõ es vi zi nh as , tr an sp ôs co nt in en te s, e ag or a pe rc or re o un iv er so . Já é ca ud al , e ni ng ué m a poderá deter. 1 . OS P RI ME I RO S AN OS DE S UA VI DA . Arm íni o sab ia de spe rta r sim pat ias , por que de sde pe qu en o ma ni fe st ou bo as qu al id ad es . Er a hu mi ld e, in te li ge nt e, op er os o, de di ca do. E is so lh e va le u gr an je ar am izad es sin cer as, e com as qua is pode con tar até ao fi m de su a jo rn ad a
  • 13. :13 J o s é GOnç a lr e . irad.r te rr en a. Te nd o na sc id o na pe qu en a ci da de de Ou de wa te r, no su l da Ho la nd a, ao s 10 de ou tu br o de 156 0, teve a infe lic idad e de per der o pai , o cute lei ro Herman n Jako bs, alg uns ano s dep ois . A mãe , Ang éli ca, viu-se, en tã o, em sé ri as di fi cu ld ad es pa ra ma nt erse e ao s tr ês fi lh os ór fã os . Tia go enc ont rou daí a pou co val ios o pro tet or na pes soa do ex-sac erd ote cat óli co rom ano Teo dor o Em íli o, alm a bon dos a con ver ti da ao pro te sta nt ism o. Pe rce be ndo no me ni no qu al id ad es ap ro ve it áv ei s, en ca mi nh ou -o a Utr ech t a fim de ins tru ir-se. Aos 15 ano s, a mor te fer e-lhe de no vo o co ra çã o, ar re ba ta nd o-lh e o am ig o. Ma s o Pa i cel est e não o aba ndo nou . O mat emá tic o Rud olp h Sne liu s, in do a Ou de wa te r, su a te rr a na ta l, ac ho u al i o jo ve m Ti ag o Ar mí ni o e in te re ss ou -se po r e le , le va nd o-o pa ra Ma rb ur g, on de ex er cia o pr of es so ra do . Po uc o tem po depo is , as tr op as es pa nh ol as en tr ar am em Ou de wa te r, sa qu ea nd o re si dê nc ia s e de st ru in do tu do à su a pa ss ag em , de mo do qu e, qu an do Ti ag o qu is re ve r os pa re nt es , so ub e -os tod os mor tos . Só lhe res tav a con for mar-se mai s uma vez e prosseguir no caminho da vida. 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 2. O PREPARO ESCOLAR Apó s os aco ntec imen tos aci ma nar rado s, vam os enco ntr ar Ar mí ni o na ma je st os a Ro te rd ã, nã o mu it o lo ng e da ma r. Aq ui , fa z va le r de no vo a ch av e má gi ca do se u bo m ca rá te r, am pl ia nd o su a li st a de am izad es . En tre el as des tac ou se de pr ont o a de Ped ro Be rtiu s, Sê nio r, pa sto r da igreja local , que o trato u como se fora da famíl ia e a de seu filho , o jovem Pedro . Mais tarde have ria este últim o de escre ver a biog rafia do amigo de tanto s anos e cumpr ir a difíc il taref a de profe rir a oração memo rial. Be rt iu s ma nd ou se u fi lh o Pe dr o e Ti ag o pa ra es tu da r na Un iv er si da de de Lei den . Con qua nto rec ém -cr iad a, di ver so s me str es em ine nte s re gia m su as cá te dr as co m br il ha nt is mo , co mo o erudito Lambert Danaeus e o ilustre João Dousa. Em 1578 o velho amigo de Armín io, Rudol ph Snel ius, juntou-se ais grupo desses eficientes professores. Fo ra m se is an os út ei s os qu e Ar mí ni o pa ss ou e m Lei den . Est udo u Teo logi a, Fil osof ia, Heb raic o, Lit era tura e out ras dis cip lin as, sem pre com ass idu ida de, gosto
  • 14. :14 J o s é GOnç a lr e . irad.r e apr ove it am en to . Se u ex em pl o to rn ou -se no tó ri o. Mi ni st ros do Eva nge lho e aut ori dad es civ is se int ere ssa ram por e le. No va s po rt as se lh e ab re m ! Ma nd am -no en tã o a Ge ne br a, a Ro ma do pr ot es ta nt is mo , pa ra cu rs ar a un iv er si da de. A Câm ara do Com érc io as sum ia a res pon sab ili dad e pe la ma nu te nç ão do es tu da nt e, o qu al en tr av a pe la ca sa dos vinte e um anos por essa época. Na cos mo pol ita Gen ebr a o mo ço nee rla ndê s fre qüe nto u as pr el eç õe s do s pr of es so re s ao la do de co le ga s de vá ri as na ci on al id ad es . Po nt if ic av a a li a fi gu ra de Te odor o Bez a, suc ess or de Cal vin o, ain da mai s ext rem ado do qu e ele no pr ed es ti ni sm o. Nã o fo i is to , po ré m, qu e o lev ou a inco mpa tib ili zar-se com um dos mes tre s, mas , sim , a im po rt ân ci a qu e se da va ao en si no ar is to té li co . Tr an sfer iu -se, em con seq üên cia , pa ra Bas iléa, sen do rec ebi do al i co m si mp at ia . Co nv id ad o a pr of er ir al gu ma s pr el e ções, tomou a epístola aos Romanos como texto, e delas se de si nc um bi u co m ag ra do ge ra l. Se u pr es tígi o cr es ce u, a po nt o de a pr óp ri a un iv er si da de qu er er di pl om á -lo co m o ti tu lo de do ut or cm Te ol og ia : ho nr a qu e re cu so u, al eg an do se r ai nd a mu it o jo ve m. 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 Lo go de po is re gr es so u a Ge ne br a, on de o tr at a ram , ag or a, co m ma is at en çã o. Be za, re spo nd en do a um a ca rt a vi nd a de Ams te rd ã, na qu al se in da ga va de Ar míni o, de u o me lh or te st em un ho quanto à sua piedade e dons intelectuais. Ao fi m deste s tr ês ano s de pr ov eit os os est udo s, res ol ve u de sc er à It ál ia e ir a Pá du a, on de o cé le br e T ia go Za ba re la le ci on av a Fi lo so fi a. Vi si to u, ta mb ém , ou tr as ci da de s e es te ve em Ro ma , qu e o im pr es si on ou co m re al de sa gr ad o. Ma s, na pá tr ia di st an te , in di ví du os ma ld os os co me ça ra m a ma nc ha r-lh e a re pu ta çã o, pr op al an do qu e co nf ab ul ar a co m os je su ít as e ch eg ar a a be ij ar os sa pa to s do Pa pa . Er a o pr in cí pi o da lu ta qu e t er ia de en fr en ta r du ra nt e o re st o da vi da . Fe li zm en te le va ra co ns ig o a Ad ri an o Ju ni us na vi ag em e, po r is so , fá ci l lh e fo i pr ovar que nem sequer vira o chefe da Igreja Católica. 3. ARMÍNIO NO EXERCÍCIO DO PASTORADO. No pr in ci pi o de 15 88 a Co rt e Ec le si ást ic a de Am ste rd ã ch am ou -o a exa me s, a fi m de co nf ia r-lh e en ca rg os
  • 15. :15 J o s é GOnç a lr e . irad.r pa st or ai s. Ap ro va do ta nt o em su a fé co mo na s do ut ri na s pe la un an im id ad e do s ju lg ad or es , em fe ve re ir o, Ar míni o en tr ou no ex er cí ci o do se rv iç o di vi no . Em ag ost o of er ec era m-lhe o pa sto rad o da imp ort ant e igr ej a de Am st erd ã. Gr an de hon ra , se m dú vid a, pa ra um mo ço de vin te e oi to an os , ma s a re sp on sa bi li da de nã o er a me no r, se nd o uma da s ci da de s ma is mo vi me nt ad as na ép oc a po r se u in te rcâmbio comercial e pelo afluxo de estrangeiros. No come ço to do s o ol ha vam com ex pe cta ti va . Os ma is ve lh os , ge ra lm en te co ns er va do re s, re ce an do as in ov aç õe s de um ra pa z qu e an da ra po r ou tr as te rr as ; os ma is jo ve ns, es pe ran do al gué m que os com pre end es se. Os dia s se pas sa ra m e c om o te m po , A rm ín i o s e f e z m e re ce d o r d a e st im a e a pr eç o do se u re ba nh o. Pr eg av a co m sa be do ri a e po de r. Nã o de ix av a im pu ne o ma l, ne m de co nf or ta r os an gu sti ad os . Ho uv e qu em se re fe ri ss e a el e ch am an do -o de "n av al ha pa ra fe ri r os er ro s da ép oc a" e "f il et e da ve rda de ". O li vr o de Ma la qu ia s e a ep ís to la ao s Ro ma no s se rv ir am , en tã o , co mo ba se de su as ex po si çõ es. Se gu in do-se -lh es o Ev an ge lh o de Ma rc os , o li vro de Jo na s e a 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 epístola aos Gálatas. Em 1692 as preleções versaram sobre as cartas dirigidas às sete igrejas da Ásia. O ri co ne go ci an te Ko or uh er t cr it ic av a, en tã o, o ca lvi ni sm o ex tr em ad o, do mi na nt e na Ho la nd a. Qu em , po r co ns eg ui nt e, me lh or cr ed en ci ad o pa ra de fe ndê -lo qu e o ex -al uno de Te odo ro Bez a? Ace ita a ta ref a, que er a árd ua, d esi nc um bi u -se de la a co nt en to , po ré m os es tu do s qu e pa ra is so fi ze ra , le va ra m-no a de sc ob ri r ce rt as im pl ic açõ es sé ri as na do ut ri na da pr ed es ti na çã o. E o re su lt ad o nem o po de re mo s pr ev er : qu er en do ap ag ar um a br as a, at eo u um a fo gu ei ra , ne la cr es tan do as pr óp ria s mã os . Em br ev e as di sc us sõ es lh e to ma ra m te mp o pr ec io so , co m pr ej uí zo s pa ra se us es tu do s, se u pa st or ad o e su a famí li a. Os adv er sár io s não lh e dav am des ca nso . Mui tas vez es di sto rci am o sen ti do de sua s pal av ras . Em 15 91 tac ha ram -no de pel agi ano . Pre cis amo s, no ent ant o, ser ver dad eir os e diz er que , nes sa épo ca, sua s no vas id éia s já não se coa dun av am in te ir am en te co m as da Ig re ja Re fo rm ad a, Me sm o as si m,
  • 16. :16 J o s é GOnç a lr e . irad.r continuava gozando da estima geral, tanto que, em 1594, as au to ri da de s o ch am ar am pa ra co la bo ra r no pl an o de reforma das instituições educativas locais. Ti ag o Ar míni o ca so u -se , a 16 de se te mb ro de 15 90 co m El iz ab et h Re al , se nh or a di st in ta , pr ep ar ad a e de bo a po si çã o so ci al , po is se u ir mã o La wr en ce er a ju iz em Am st er dã . El a sa bi a co mp re en dê -lo e se rv iu -lh e de am pa ro na s ho ra s am ar ga s de su a vi da , qu er no me io de contendas e calúnias, quer nos momentos de enfermidade. Uma pro va da ded ica ção de Tia go e sua fam íli a par a co m os pa ro qu ia no s e co nc id ad ão s, te mo-la du ra nt e os te rr ív ei s di as em qu e mo rt íf er a pr ag a se al as tr ou na ci da de . Or an do a De us , se nt ir am qu e lh es pe di a fi ca re m ali , ao inv és de se afa sta rem do per igo . Esc rev end o, nes ta oca siã o, ao seu am igo J. Uyt ten bog ae rt , pas to r da igr ej a de Ha ia , di ss e: "as si m eu te nh o-me en co me nd ad o e a mi nh a vi da à mi se ri có rd ia di vi na , ag ua rd an do , di ar ia me nt e, at é qu e a re qu ei ra de mi m .. . e is to fa ço co m a mente quieta, tranqüila e imperturbável". 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 Em ci rc un st ân ci as tã o di fí ce is , Ti ag o Ar mí nio to rn ou -se um mo de lo de ab ne ga çã o; on de ho uv es se uma ov el ha par a se r soc or rid a, lá se enc ont rar ia ele. Gas par Br and t, se u bi óg ra fo, co nta , a pr op ós ito , o se gu in te ca so : ac ha ndo -se o pa st or , ce rt a ve z, nu m di st ri to po br e, ou vi u ge mi do s fr ac os , pa rt id os do in te ri or de hu mi ld e mo ra di a. En tr ou e vi u al gu ma s pe ss oa s qu e pa re ci am do mi na da s pel a enf erm ida de e pel a sed e. Dep oi s de as soc or re r, de ixou rec urs os em din hei ro com os viz inh os par a lhe s ma nte re m a as si st ên ci a. Da va as si m pr ov as de bo m sa ma ritano. De out ra fei ta, tra tav a-se de doi s mem bro s da Igr eja : uma se nh or a e um va rã o. At ac ad os pe la te rr ív el pe st e, sentiam-se perturbados no espírito. Por que? Indagou de le s Ar míni o. Re sp on de ra m -lh e qu e nã o ti nh am ce rte za da pr óp ri a sa lv aç ão . O pa st or lh es fa lo u, en tã o, do gr an de am or de De us, qu e ma nd ou Se u Fi lh o ao mu nd o par a sal var a tod os os pec ado res , ilu str and o o ens ino com as Esc rit ura s. "Cre des iss o? — poi s ess a é a fé pel a qua l so mo s ju st if ic ad os e ac ha mo s pa z em De us ". Os do is en fe rm os en co nt ra ra m o co nfo rt o qu e an el av am ,
  • 17. :17 J o s é GOnç a lr e . irad.r vi nd o o homem a falecer dias depois na maior tranqüilidade. A pes ti lên cia gra ss ou por out ra s par te s da Hol and a, abr ind o ma is cla ros ond e a gue rra já os dei xar a gra nde s. Le id en fo i at in gi da . A un iv er si da de pe rd eu al gu ns de se us me st re s il us tr es . E qu em os su bs ti tu ir ia ? O no me de Ar mí ni o fo i le mb ra do pa ra u ma da s va ga s, ef et iv an dose, de fat o, a esc olha de le, apó s ter per cor rid o os com petentes trâmites legais. 4. ARMINIO: MESTRE E POLEMISTA. Nã o er a co is a fá ci l pa ra Ti ag o Ar mí ni o de ix ar o se u re ba nh o. Am st er dã qu er ia lh e be m, es ta nd o el e já id en ti fi ca do co m os ha bi ta nt es . E, al ém di ss o, nu nc a as pi ra ra a se r pr of es so r na Fa cu ld ad e de Te ol og ia . De ou tr o la do , al gun s co le gas o co ns id er av am el em en to perigo so à for maç ão das nova s ger açõ es de min ist ros . Fra nz Gom aru s era o pri nci pal del es. Cri tic ava -o e lan çav a sus pe ita s sobr e su as cr en ça s. Fo i is so qu e le vo u Ar míni o a re cu sa r o co nv it e. As au to ri da de s pú bl ic as de Am st er dã tam bém não o que ria m ce der , por jul gar em sua pre sen ça ne ce ss ár ia à 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 ci da de . Fo i qu an do , pa ra di sc ut ir o ca so , reuniram-se em Haia delegados de várias igrejas. O Rev. Uy tt en bo ga er t to mo u a de fe sa de Ti ag o, pa ss an do , em conseqüência, a ser elemento Suspeito para muitos. Não contentes estes apelaram para o , chefe da Província, João Ol de nb or nv el dt , pa ra qu e, po r in fl uê nc ia de le , os Cu ra do re s da un ive rs id ad e nã o o in ve st is se m no ca rgo. Os Cu ra do re s, po rém , co nf ir ma ra m a de ci sã o. Ag ia m m a l, en tã o, os in im ig os , en vol ve nd o o Es ta do em pr ob le ma alh eio à sua alç ada . Afi nal , a igr eja de Ams ter dã ced eu-o me di an te ac ord o, na s se gu in te s ba se s: se ri a de si gn ad o, pr im ei ro , o se u su bs ti tu to no pa st or ad o; di reito de re t or no a Ar mí ni o, com o pá ro co da ig re ja , se o qu is es se; at en de r ao pe di do de Ar mín io pa ra tr at ar pe ss oa lm en te co m Go ma ru s do pr ob le ma . Caso as su sp ei ta s pe rm an ece ss em de po is de st a co nf erê nc ia en tr e am bo s, o pa st or recusaria o ingresso na Faculdade. Arm ínio e Gom ar us enc ont ra ram-se a 6 de ma io de 16 03 , em Ha ia , na pr es en ça do Sí no do , co nf or me vo nta de do pr im ei ro . O te ól og o de Le id en co me ço u lo go at ac an do
  • 18. :18 J o s é GOnç a lr e . irad.r 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27 o pa st or de Am st er dã , po r di sc or da r de su a su po st a op in iã o so br e o ca pi tu lo VI I de Ro ma no s. Ma s, dep ois de ouv ir sua s exp lic açõ es, int eir ou-se de que era m ace itá vei s e não cor res pon dia m ao que del e se pro pal ava . Di sc ut ir am , ta mb ém , ou tr os po nt os , re pl ic an do el e a to do s co m se gu ra nç a. A re un iã o en cer ro u-se fr at er na lm en te. To da via ai nd a re st av a uma ex ig em ia a se r tr an spo st a qu an to à in ve st id ur a na cá te dr a. Ar mí ni o pr ec i sav a sub met er-se a exa me de Teo log ia per ant e um a com iss ão e def end er tes e de dou tor ame nto . É esc usa do diz er-se qu e se sa iu be m em tu do . A te se ve rs ou so br e a na tu re za de De us , e os ju lg ad or es fo ra m Fr an z Go ma ru s, Hu go Gr ot iu s, ju ri st a e te ól og o, e Mé ru la , to do s el es possuidores de respeitável cultura. Es co lh eu o li vr o de Jo na s pa ra su as pr el eç õe s. Ma s nã o po di a de ix ar de re co rr er , ta mb ém , ao No vo Te st am en to , pa ra se fa ze r me lh or co mp re en di do . E is to fo i o ba st an te pa ra de sp er ta r o ci úm e de Go ma ru s, po is con sid era va tal coi sa um a int rom iss ão em seu campo de en si no . O ch oq ue se ri a in ev it áv el ! Am bo s re pr es en ta ram te nd ên ci as di fe re nt es . Go ma ru s er a do s ma is ri go rosos calv ini sta s, enq uan to Arm íni o ado tav a pos içã o mai s sua ve, sem , no ent ant o, cai r no pel agi ani smo . Em po ss ad o em se u no vo ca rgo, Ar míni o pr oc ur ou desempenhá-lo com eficiência e dignidade. Numa carta, dat ada de 22 de set emb ro de 160 3, diz ia tê-lo ace ito , não pa ra bu sc ar ho nr as ou ri qu ez as e, si m, pa ra se rv ir o Eva nge lho de Cri sto . Pro fe ssores e alu nos o apr eci ava m. Com est es ins ist ia a que bu sca sse m a ver dad ei ra sab ed ori a na s Es cr it ur as , ex em pl if ican do-o el e me sm o, di ar iame nt e . Ar mí ni o não po di a se r cu lp ad o pe la s id éi as de ou tr os , in cl us iv e do s al un os, ma s se us co nt en do re s nã o pe ns av am as sim e lh e at ri bu ía m ve rd ad ei ro s di sp ar at es . Qu e fa ze r, en tã o? Qu an do po ss ív el , ch am av aos pa ra um a co nf er ên ci a pe ss oa l, de mo do a di sc ut ir em fr an came nte o ass unt o em fo co. Se al gué m ti ves se ra zõe s ma is for tes e coe ren tes , ace ita-las-ia por que seu des ejo era descob rir a ver da de. Do ter ren o pes soa l pas sar am ao teo lóg ico ; da Facu ldad e as dis cus sões se es pr ai ar am pe la s ig re ja s e, em br ev e, po r to da s as pa rt es, o pr ob le ma da pr ed es ti na çã o to rn ou -se o "p ra to do di a”.
  • 19. :19 J o s é GOnç a lr e . irad.r Um des se s det ra tor es fo i o clé rig o Fes tes Hom miu s. Re uni ram -se os do is, con ver ten do-se aqu ele ao po nt o de vis ta de Ar míni o. Ou tr as ve ze s te ve qu e sa ir a pú bl ic o pa ra se de fe nd er , ou co mp ar ec er pe ra nt e às au to ri da de s, ou ai nd a , re sp on de r po r es cr it o. Di fa mar am-no até no est ran gei ro, esp eci alm ent e na Ale man ha, Fr an ça , In gl at er ra e Sa vó ia . Se m qu er er , de sp er ta va m interesse por suas opiniões e o faziam conhecido. 17.1) 7'711 (1,7 1S111 0 .11etadt,m7,) e 27
  • 20. 36 José Go nçalves Salva dor A sit uaç ão agr avo u-se a tal pon to que as aut ori dad es ac ha ra m po r bem re un ir em Ha ia os do is pr in cip ai s co n ten dor es, Tia go e Fra nz Gom aru s, com a pre sen ça de oit o mi ni st ro s da s Pr ov ínc ia s Un id as , qua tro do su l e qua tr o do no rt e. A pa z ci vi l es ta va am ea ça da e qu er ia m sa be r o qu e ha vi a co nt ra Ar mí ni o. Er a o qu e es te de se ja va : se r ac us ad o fa ce a fa ce e nã o co mo se fa zi a. Go ma ru s co mp ar ec eu e lo go o at ac ou , af ir ma nd o qu e en si na va a ju st if ica çã o do ho me m pe ra nt e De us de mo do es tra nh o. Ma s el e re sp on de u qu e su a op in iã o co nc er ne nt e ao as su nt o es ta va co nf or me a Ig re ja Re fo rm ad a, po is cr ia que a jus tif ica ção era pel a fé , me dia nte a gra ça de Deu s. Ha via , de fa to , di fe re nç a en tre am bos , po rq ue Gom ar us da va to da a ên fa se à gr aç a de De us , ma s ne ga va o va lo r da fé co mo o el em en to do la do hu ma no . Ar mí ni o pr o cura va con cil iar as dua s coi sas . Por fim o Con sel ho ach ou qu e a co nt ro vé rs ia nã o er a de mu it a im po rt ân ci a. O es se nc ia l se ria a to le râ nc ia mú tu a, de sd e qu e ho uv es se bo m es pí ri to no s do is . Go ma ru s, po ré m, miin ia nimn o e Al eto dsmo 20 ca re ci a de st e se nt im en to , mo ti vo pe lo qu al mu it os di zia m: "é pr ef er íve l co mp ar ec er pe ra nt e o tr ib un al di vi no co m a fé do pas tor Arm íni o do que com a ca rid ad e do teó lo go Gom arus ". A ma ior di fi cu lda de est ava jus tam ent e na dou tri na da pr ed es ti na çã o, en si na da po r Go ma ru s e pe lo s ca l vin is ta s ma is ri go ro so s. No co nc ei to de Ar mí ni o, a pr ede st in aç ão ia de en co nt ro à na tu re za de De us e a do ho me m, ge ra va o de se sp er o, ti ra va o es tí mu lo pa ra uma vi da de sa nt id ad e e di mi nu ía a im po rt ân ci a do Ev an ge lh o. Co nt ud o, de su a pa rt e, a ni ng ué m im po ri a su as id éi as ; ha ve ri a pa z. Go ma ru s, ao co nt rá ri o, nã o pe rd ia opo rtu nid ade par a con den á-lo, fosse na uni ver sid ade , nos púlpitos ou perante os chefes das Províncias. 5 . O FI M DA JO RN AD A. A sa úd e de Ar mí ni o, ab al ad a de sd e há mu it o, em me ado s de 160 0 agr av ou-se ain da ma is. Os est ud os, as dis cus sõe s e os dev ere s uni vers itá rio s exi gia m mai ore s esf or ço s do qu e el e re al me nt e po di a ex pe nd er . Se us me mbro s fora m aco me tid os de lan gor , seu est ôm ago ma l tol era va os
  • 21. 21 josf4 Go n ça l v es S a l va d o r al im en to s e ai nd a po r ci ma , fa zi am -lh e pa de ce r mui to sua s afe cçõ es hip oco ndr íac as. Viu -se obr iga do, por iso , a ret ira r-se par a a cid ade nat al e ali sub me ter-se aos cu id ad os de um mé di co . Du ra nt e es te la ps o de te mp o Os am ig os tr ad uz ir am su as ob ra s do la ti m pa ra o ve rná cu lo e es cr ev er am al gu ma s ou tr as . O fo go da co nt ro vér sia se ala str ou ma is int ens ame nte , obr iga ndo -o a com par ece r de nov o per ant e as aut ori dad es civ is e a dis cut ir, ma is um a vez , com Gom aru s, che fe dos rea cio nár io s. As dis cus sõe s for am ver bai s, mas cad a um ter ia que apr ese ntar , dep ois , por esc rit o, as sua s raz ões , par a ult eri or dec isã o do Sí no do a co nv oc ar -se pa ra br ev e. A do en ça pr ogre diu sem que os clí nic os a pud ess em ata lha r. Par a seu s ini mig os ist o con sti tuí a pro va evi den te de cas tig o div ino . Os am ig os , no ent an to , la me nt av am os pa de cim en to s de Ar mí ni o, o qu al so fr ia tu do pi ed os am en te e or av a se mpr e pe lo s se us e pe la Ig re ja . Re pe ti a co m fe rv or He br eu s 13 :2 0-21 : "O ra , o De us da pa z, qu e to rn ou a tr az er de nt re os mo rt os a Jes us nos so A r min ia n is mo e M eto d is mo 39 Sen hor , o gra nde Pas tor das ove lha s, pe lo san gue da et er na al ia nç a, vo s ap er fe iç oe em to do o be m, pa ra cu mpri rde s a sua von tad e, ope ran do em vós o que é agr adá vel dia nte de le , po r Je su s Cr is to , a qu em se ja a gl ór ia pa ra to do o se mpre. Amém" O Re v. Ba rt ol om eu Pr oe vo st iu s, se u di sc íp ul o e, ma is ta rd e, pa st or em Am st er dã , di zi a que o texto não mais lhe saía do pensamento. Assistiram-no, também, durante toda a enfermidade, Simão Episcópio, Uyt te nb og ae r, Ad ri an o Bo rr iu s, bo ns am ig os e te st em un ha s de su a fi de li da de a Je su s Cr is to . O te st am en to qu e de ixo u é um ex em pl o e fé e um a pr ov a da si nc er id ad e de se us pr op ós it os . Ne le de cl ar av a co nf ia r a al ma às mã os de De us , a cu ja pr es en ça ir ia se m te mo r, te nd o a ce rte za de qu e O se rv ir a co m si mp li ci da de e le al me nt e, ja ma is se de sv ia nd o de su a vo ca çã o. E acr es ce nt av a na da te r en si na do em sã co ns ci ên ci a qu e fo ss e co nt rá ri o às Es cr it ur as . Se mp re bu sc ar a a ex pa ns ão da verdade cristã.
  • 22. 22 josf4 Go n ça l v es S a l va d o r Af in al , a 19 de ou tu br o, Ti ag o Ar mí ni o de sc an so u em pa z. Mo rr eu co mo ju st o. Ap en as co m 49 an os . Se m dú vi da um a gr an de pe rd a e qu em ma is a se nt iu fo ra m os seu s ínt imo s. De seu s set e fil hos , res tar am-lhe só doi s, po is qu as e to do s já o ha vi am pr ec ed id o no ca mi nh o do cé u. La wr en ce to rn ou -se ne go ci an te em Am st er dã e o outro, Daniel, ganhou reputação como médico. Pe dr o Be rt iu s, re ge nt e da Fa cu ld ad e de Te ol og ia , que pre sid iu à sol eni dad e do mem ori al, dis se de Arm íni o, no di sc ur so : "vi ve u na Ho la nd a um ho me m a qu em os qu e nã o o co nh ec ia m nã o o po di am es ti ma r su fi ci en te men te ; aq ue le s qu e nã o o es ti ma va m ja ma is o ha vi am con hec ido suf ici en te men te" . Dom in gos Ban d, Hu go Gro ti us e Da ni el He iu si us , de di ca ra m ao am ig o e me st re inesquecível significativos poemas elegíacos. C AP I T U L O I I I A r min ia n is mo e M eto d is mo 39 AS DO UT RI NA S AR MI NI AN A S Po r ma is or ig in al qu e al gu ém no s pa re ça , de sc ob ri mos , ao an al is ar mo s su as id éi as qu e el as re fl et em um con jun to de Ia tôr es e cir cun stâ nci as. Nun ca brotam sim ple sme nte da raz ão. Alg o lhe s est imu lou o apa rec ime nto . Ist o par a nad a diz er do mu ito que se rec ebe por her anç a, di re ta ou in di re ta me nt e. Fo i as si m co m os gr an de s pe nsado res , fil ósof os, mora list as, soc iólo gos, pol íti cos, etc . E Tiago Armínio se inclui nessa regra. As di fi cu ld ad es ge ra is qu e os Pa ís es Ba ix os en fr en ta ram du ra nt e al gum as dé ca da s do sé cu lo XV I, ca la ra m fun do em sua vida econ ômi ca, polí tica , soci al, inte lect ual e re li gi os a. A gue rr a da in de pe nd ên cia , co nt ra o do mí ni o esp anh ol, int ole ran te, fan átic o, pro duz iu ver dad eir a tra nsfo rm aç ão en tr e os ne er la nd es es . De um la do de se nv ol ve u-se o ape go à li be rd ad e, ta nt o ci vil co mo re li gi os a e do ou tr o, fo me nt ou a at iv id ad e co me rc ia l e
  • 23. 23 josf4 Go n ça l v es S a l va d o r in te le ct ua l. Ali ás, seg und o fri sam os ant eri orm ent e, os ger mes de tud o isso já vinham de tempos passados. Era nat ura l que , em ter ren o com o esse , des abr och ass e tam bém o es pí ri to de to le râ nc ia . E de fa to , vem os es ta di st as do po rt e de Jo ão Ol de nb or nv el dt ad vo ga re m a abs olu ta lib erd ade de con sci ênc ia par a tod os, fosse m pro te st an te s, rom an is ta s, ou so ci ni an os . Hu go Gro ti us pe n sa va de ig ua l mo do . Co ub e, po ré m ao ci da dã o Di rk Ko or nh er t at ea r as ch is pa s da co nt ro vé rs ia qu e du ra nt e anos agitaria a Igreja Reformada dos Países-Baixos, influ enc iad o, cer tam ent e, pel a obr a ant ical vin ist a de Seb as tiã o Cas tel lio , pub lic ada em 157 8, a qua l vin ha exe rce ndo co ns id er áv el in fl uê nc ia a fa vo r, da li be rd ad e de pe ns a me nt o. De sd e 15 44 es se te ól og o vi nh a at ac an do im pl aca ve lm en te as id éi as de Ca lv in o, na Su íç a . No co nc ei to de Koo rnh ert todas as fo rma s de rel igi ão dev iam ser tol era das , mas , ao ext ern ar seu pon to de vis ta, fer iu uma das dou tri nas fun dam ent ais do cal vin ism o, úni co sis tem a que o Es ta do fa vo re ci a. A r min ia n is mo e M eto d is mo 39 Lo go a se gu ir, em 16 02 , do is mi ni str os de De lf t ad er ir am ao se u mo do de pe ns ar , co mb at en do a do ut ri na da pr ed es ti na çã o en si na da po r Be za . Est e mes tre emi nen te, con for me dis sem os, tin ha ido mai s lo ng e do qu e o pr óp ri o Ca lvi no , de so rte a de sco nt en ta r al gu ns de su a co nf is sã o. Nã o se co nf or ma va m ele s co m que Deus dec ret ass e, só por si mesm o, a que da do hom em an te s ai nd a de o ha ve r cr ia do . Is so fa zia de De us , co mo dizia João Kolman, um tirano e executor. Hav ia, poi s, nos Paí ses -Bai xos , um a cor ren te de moder ado s e tol er ant es , a qua l se fi lia vam ne go cia nte s, magis tra dos , teólog os e min ist ros eva ngé lic os. Gas par Kol hares , her ói de Lei den , e Rud olp h Sne liu s, pat ron o de Arm íni o, era m d est es . Em me io da re fr ega , es cre ve u o te ól og o Gu il la um e p r o f e s s o r e m L e i d e n , u m t r a t a d o n o q u a l af ir ma va qu e, em ma té ri a de re li gi ão , nã o de ve ha ve r co ns tr an gi me nt o. Aí es tá , po r co ns eg ui nt e, um a sí nt es e do espírito da época. Or a, Ti ag o Ar mí ni o vi vi a ne ss a Ho la nd a do sé cu lo XV I, hosp ita leir a, libe ral, de vist as lar gas, aman te da lib erda de, cio sa dos dir ei to s de seu s cid adã os , agi tad a, no
  • 24. 24 josf4 Go n ça l v es S a l va d o r ent ant o, pe la f orç a da s ar ma s e pe la aç ão da s id éi as . Ho me m cul to, sin cer o e de esp íri to ele vad o, não tar dar ia a esb arrar com o dogmatismo de sua Igreja. A teologia eclesiástic a ten dia cad a vez mai s a sob rep or -se à teo logi a bíb lic a, em pr ej uí zo da pr óp ri a Es c ri tu ra . Di sc or da r da s do ut ri nas já est abe lec ida s, imp ort ava em ato de qua se her esi a. Duas dela s cons titu íam como que verd adei ros dogma s: a da elei ção inc ond icio nal (ou, sup rala psa rian ism o) e a da gra ça irre sist ível. Send o aque la ata cada pelo s mini stro s de Delf t, nin gué m est ar ia em me lho re s con di çõe s par a def end ê-la qu e o pi ed os o e cu lt o Ti ag o Ar mí ni o. Es te ac ei to u o con vit e, ma s, à me did a que est uda va e di scu ti a o pro ble ma , tan to ma is se enc ami nha va nou tra dir eçã o. Em res ulta do de tu do , ac ab ou po r se r co ns id er ad o "o fu nd ad or da es co la anticalvinista na Teologia Reformada". (1) Do supralapsariansimo pas sou ao inf ral aps ari ani smo , que ain da é ca lv in is mo , po ré m ma is su av e. Te ve , en tã o, qu e de fe nder -se, es cre ven do di ve rsa s ob ras , ond e esp el ha va o se u pen sam ent o, as qua is A r min ia n is mo e M eto d is mo 39 che gar am às nos sas mão s com o pre cio sa s re líq ui as . Tr ês de nt re el as se de st ac am , toda s de 16 08 , e sã o: "C ar ta a Hi po ly tu s a Co ll ib us ", "U ma De cla raç ão de Sen tim ent os" e "Ap olo gia ". Em 162 9 um dos fi lh os pub lic ou as su as obr as com ple ta s, ten do Jam es Nic hol s tra du zid o-as do La tim par a o In glê s, em 195 3. Por el as po de mo s ho je av al ia r as co nc ep çõ es re li gi os as de Armínio. Ve ja mo s, en tã o, se m ma is de lo ng a s, os re sp ec ti vo s pontos fundamentais. 1. A RESPEITO DE DEUS. O ca lv in is mo da va ên fa se à do ut ri na da so be ra ni a de Deu s, fa zen do tud o dep en der de Sua exc el sa von ta de e de Sua onipotência. Por Sua vontade criou todas coisas pa ra um fi m de te rm in ad o, re al iz an do -as at ra vé s de Se u po de r ab so lu to. Ag e, po r co ns eg ui nt e, co mo Lhe apr az e só Ele con he ce se us des ígn io s. Se a uns pre des tino u pa ra a sa lv aç ão e a ou tr os ne go u ta l pr iv il ég io , é porque julgou ser isto justo. Arm ínio sus ten tav a a sob era nia de Deu s sem cai r em ri go ri sm o. Ma s nã o
  • 25. 25 josf4 Go n ça l v es S a l va d o r co nc or da va co m qu e Ele de te rm i nas se os ato s do s se res li vre s, e nem ai nda que fosse ina ces sí vel à cap ac ida de hum ana , tan to que os cr iar a à Sua ima gem e Se lhe s rev ela ra de muit os mod os, no pass ado e, af in al , co mp le ta me nt e, na pe ss oa de Se u Fi lh o Je su s Cri sto . A rev ela ção é pro va de Sua boa von tad e par a com os homens e da capacidade receptiva deles. Ur na co isa nã o po de se r bo a po rq ue De us nã o que r qu e se ja bo a. Ê im po ss íve l se r as si m, po rq ue a ju st iç a de De us nã o pe rm it e. A pr ed es ti na çã o, em vi st a di ss o, nã o po de se r at o de De us , ne m se ex al ta ao Cr ia do r, re ba ix an do-Lhe a própria criação. (2) 2. QUANTO À PREDESTINAÇÃO. Como dissemos, foi o pomo da discórdia. Te od or o Be za , suc es so r de Ca lvi no , Go ma ru s e ou tro s su st en ta va m o ca l vi ni sm o ex tr em ad o. Pa ra el es , De us ma ni fe st ar a a Su a gl ór ia po r um de cr et o et er no , se gu nd o o qu al ti nh a, em Su a mi se ri có rd ia , es co lh id o de te rm in ad o nú me ro de ho me ns pa ra a sa lva çã o, e de ixa do os re st an te s ao se u de s tin o, que A r min ia n is mo e M eto d is mo 39 era a con den açã o. Seg und o Alb ert Hen ry New ma m, no seu liv ro “A Man ual of Chu rch His tor y”, Vol . II, pág . 339 , s ão de Gom aru s as seg uin tes ex pr es sõ es : "D eu s co ns id er ou o ho me m, no de cr et o da re pr ov aç ão , nã o co mo ca íd o, ma s an te s da qu ed a, e o próprio decreto da reprovação precedeu ao da criação". Aí est ava a pre des tin açã o inc ond ici ona l, est abe lec ida pel a von tad e e sab edo ria de Deu s, ant es, até , que os mun dos e os seres fossem criados. Arm íni o viu as imp lic açõ es de tal dou tri na. Ao inv és de glo rif ica r a Deu s, reb aix ava -o e emp obr eci a a obr a re de nt or a de Cr is to . A Cr uz pe rd ia se u va lo r tr an sc en de nt al e o ho me m nã o po di a re sp on de r, de si me sm o, ao ap el o do Sa lv ad or : "s im " ou "n ão ". Po is se gu nd o es sa do ut ri na De us já ha vi a pr ede st in ad o, po r Su a vo nt ad e, os qu e ia m sa lv ar -se , e só est es, de fa to, se sa lva ria m. A que da e a sal vaç ão dec or ri am po r ig ua l do pl an o di vi no . To do s os ho me ns ca i ria m em Adã o. Mas aos esc olh ido s o Cri ado r con ced eri a os mei os de sal vaç ão e nen hum del es ser ia cap az de res is tir à Sua gra ça. Cre r, per sev era r na fé e ser sal vo ser iam coi sas par a ele s ine vitá vei s. Os dem ais
  • 26. 26 josf4 Go n ça l v es S a l va d o r fic aria m à mar gem de ss e pr iv il ég io . De us se to rn av a ar bi tr ár io e in ju st o. A Deu s, por tan to, cab ia a cul pa pel a int rod uçã o do pec ado no mun do e, também, a responsabilidade pela queda do homem. Co mo co nc il ia r tu do is so co m a pe rf ei çã o mo ra l de De us ? Cu lp ar ao ho me m po r fa lt a qu e lh e fo ra de te rmi na da , se ri a in ju st iç a, qu an do a ju st iç a é um do s fu n dam ent os da gló ria de Deu s. Nem Ele pod e, por at o ar bit rá rio de Sua von tad e, sa lva r ao inj us to, co mo não pod e co nd en ar ni ng ué m in de pe nd en te me nt e de su a fé . De us é sempre coerente consigo mesmo. Arm íni o, por ess a raz ão, vol tou -se par a o inf ral aps ari an is mo . Ou , me lh or , ac ei to u a pr ed es ti na çã o co nd i ci on al . De us só pr ed es ti no u ap ós a qu ed a, le va nd o em co ns id er aç ão , po r Su a pr es ci ên ci a, a at it ud e do ho me m em fa ce da te nt aç ão . L og o, a pr ed es ti na çã o er a co ns eq üê nc ia do at o hu ma no e, de mo do al gu m, o re su lt ad o de um de cr et o pr ee st ab el ec id o po r De us . E, as si m, q ue da re al ça va a im po rt ân ci a e a re sp on sa bi li da de da criatura sem deixar com o Criador toda a culpa. A r min ia n is mo e M eto d is mo 39 3. O HOMEM NO CONCE ITO DE TIAGO ARMÍN IO. O su pr al ap sa ri an is mo gl or if ic av a a De us , an ul an do o ho me m: ma s, qu an do Arm íni o se de te ve a ex am in ar me lh or o pr ob le ma , co nc lu iu , co m a Es cr it ur a, qu e a ex al ta çã o do Cr ia do r ex ig ia a li be rd ad e do ho me m. De Su as di vin as mã os sa íra um se r ra ci on al , fe it o, es pi ri tu alme nte , à Sua sem elh anç a, e não um aut ôm ato. Dot ar a-o com a cap ac ida de de esc ol ha e op ção ; fê -lo res pon sá vel pe la co ns eq ü ên ci a de ss a es co lh a; de u-lh e di sp os iç õe s pa ra co nh ec er a De us e go za r a vi da et er na . Bê nç ão ou ma ld iç ão , e re co mp en sa ou ca st ig o sã o o fr ut o de su as de ci sõ es . Po r is so di z a Es cr it ur a: "Aq ue le qu e qu is er ", "aqu ele que cre r", "faz e ist o e viv e", e "sê fie l e dar -te-ei a co ro a da vi da ". Ma s, ad mi ti da a pr ed es ti na çã o ab so lu ta , o li vr e-ar bí tr io to rn a -se im po ss ív el , po rq ue a vo n ta de já se ac ha de te rm in ad a em se u ex er cí ci o. Qu al qu er ordem dada ao homem, nestas condições, é contra-senso. 4. O PROBLEMA DO PECADO
  • 27. 27 josf4 Go n ça l v es S a l va d o r Se o ho me m qu is es se , po de ri a ma nt er se no es ta do em qu e De us o cr ia ra , me sm o em fa ce da te nt aç ão . Er a li vre e ti nh a ca pa ci da de pa ra Lh e ob ed ec er . To da vi a, ag iu nou tr a di re çã o, es co lh en do , co ns ci en te me nt e, o ma l, co m o qu e se to rn ou pe ca do r e, po r is so , é re sp on sá ve l po r su a fa lt a. Só as si m, re al me nt e, o pe ca do e po ssív el po rq ue é de so be di ên ci a vo lu nt ár ia . Da í a po si çã o, cl ar am en te ag os ti ni an a, de Ar mí ni o, ne ss e se nt id o, qu an do fe z su as as pa la vra s do Bi sp o de Hi po na : "pe ca do é de ta l mo do um ma l vo lu nt ár io , qu e nã o po de se r de fo rm a alguma pecado até que seja voluntário". Se , po ré m, a qu ed a es ta va pr ed et er mi na da , e fo rç o sam ent e se cum pri ria , o pec ado dei xa de exi sti r , poi s não ho uv e li vr e es co lh a. O ho me m ag iu so b o im pu ls o d e uma fo rç a ir re si st ív el , qu e no ca so er a a von ta de so be rana de Ti ag o Ar mí ni o, o il us tr e te ól og o de Am st er dã ta mb ém es po sa va a id éi a de um de cr et o di vi no , ma s o co nc eb ia de ma ne ir a mu it o di ve rs a do s ca lvi ni st as . Er a um "d ec re to gr ac io so ". Po r ele Deu s re so lve ra, des de a ete rn ida de , en via r ao mu ndo Seu Fil ho na qua lid ad e de Sal vad or . To dos A r min ia n is mo e M eto d is mo 39 De us . Nã o pe ca ra, de fa to , po r si me smo . A cu lp a recaia sobre Deus. Ar mí ni o es ta va lo ng e de co nc or da r co m es ta s co nclu sõe s. Par a ele o hom em era res pon sá vel tam bém pel a tr an sg re ss ão , e o pe ca do , um fat o irrel ut av el me nt e re al . Po rq ue o ho me m er a li vre , pe ca ra e, co mo pe ca do r, me rec ia o cas ti go de sua má esc ol ha. Deu s pod ia ch am á -lo a co nt as . Ni ng ué m Lh e po de im pu ta r su as pr óp ri as fa lta s. Ca da um é se nh or de se u de st in o. Aq ue le qu e se perde, perde-se por culpa sua. O arm ini ani smo , ena lte cen do o val or do hom em sem dim inu ir o car áte r de Deu s, deu , ent ão, à obr a div ina um cunho ético de que se ressentia o calvinismo. 5. O DECRETO ETERNO DE DEUS. qua nto s cre ssem nEl e e ace ita sse m Sua obr a red ent ora , ser iam jus tif icado s e salvo s, mas quan tos perm anec esse m volu ntar iame nte em seu s del ito s e pec ado s, ser iam cond ena dos. Sua vontade, por conseguinte, era que todos cressem e f ssem o salvos. Po r Su a cu lp a ni ng ué m se pe rd er ia .
  • 28. Er a a pr om es sa do Evangelho. Pa ra Ar mí ni o, o ho me m sa lv a va -se nã o po rq ue ti ves se sid o ele ito , e sim ao con trá rio . Por ace ita r a Cri sto com o Sal vad or é que se tor nav a ele ito . A ele içã o dec orr e da ide ntifica ção do pec ado r red imi do com a obr a do Fil ho eterno de Deus. Deu s, em Sua mis eri cór dia , já pro vid enc iou tud o que se faz ia mis ter à sal vaç ão dos pec ado res . E mai s: pô -la ao al ca nc e de qu an to s a qu is er em . Re st a, so me nt e, a ca da um , en tr ar na ar ca qu e El e pr ep ar ou . Se o ho me m qu er , De us o sa lv a. Ne m só o ho me m, e ne m De us só . Sã o os do is co op er an do pa ra o me sm o fi m. To dav ia os ar mi nia no s, co m ex ce çã o do s me to di st as , pa re ce m da r pr e ce dê nc ia à aç ão hu ma na , co m o qu e te nd ia m pa ra o pe la gi an is mo . O ho me m ca mi nh a pa ra De us e De us ve m ao seu encontro. 6 . A O BR A DE CR IS TO . Ti ag o Ar mí ni o in si st ia e m qu e a vi da et er na se of er ec ia a to do s os ho me ns me di an te a ob ra ex pi at ór ia de Je su s Cri st o. Ou me lho r: a sal vaç ão era uni ver sal , por que Se u sa cr if íc io fo ra de ex te ns a am pl it ud e. O Fi lh o de De us mo rr er a po r to do s os ho me ns . Se u sa ng ue ba st ar a su fi ci en te me nt e pa ra re di mi r to da a hu ma ni da de . N e le hav ia sup rim ent o par a tod os os pec ado res . A ma is abj eta cri at ura tin ha a sua sal vaç ão gar ant ida at ra vés do Ver bo di vi no , de sd e qu e se vo lt as se pa ra El e e O ac ei ta ss e de co ra çã o. Je su s ja ma is se re cu sa ri a a re ce be r a o pe cad or arrependido. Já , de ig ua l mo do , se nã o po di a af ir ma r ta l q ua nto à do ut ri na ca lv in is ta . Po r el a, Cr is to vi er a sa lv ar ao s qu e De us de an tem ão es co lh er a pa ra is so . Se u sa ngu e be ne fi ci av a a e ss es so me nt e. Ao s re pr ov ad os o sa cr if íc io nã o ap ro ve it av a. A ob ra ex pi at ór ia li mi ta va -se , po r co ns eg ui nt e, a um gr up o ap en as : os pr ed es ti na do s (p ar a a sa lva çã o) . Ma s, se gu nd o a po siçã o ar min ian a, a pos sib ili dad e da sal vaç ão ex ist e pa ra to do s e não dep en de de de te rm in aç ão (e sco lh a) di vin a. A vo nt ad e hum ana é fa tor "si ne qua non ": Cri sto red im e aos que O ac ei ta m co mo Sa lv ad or . Is to é: sa lv a ao s qu e qu ei ra m ser salvos. Ar mí ni o ju lg av a a ob ra de Cr is to , co mo ad mi ti da pel os cal vin ist as, um ato hor rív el da par te de Deu s. Sim , po rq ue te nd o de cr et ad o a sa lv aç ão de al gu ns , e st es de qua lqu er mo do ser ia m sal vos , sem hav er nec ess ida de do sa cr if íc io de Se u pr óp ri o
  • 29. Fi lh o. Al ém di ss o se ri a pr ov a de ma ld ade , por que , pod en do sa lva r a tod os , não o qui s. Jo ão We sl ey , o fu nd ad or do Me to di sm o, di ri a, sé cu lo s de po is , qu e ta l at it ud e fa zi a a Deus pior que o diabo. 7 . O LU GA R DA GR AÇ A DE DE US NA SA LV AÇ ÃO DO HO ME M. Ai nd a qu e o ar mi ni an is mo re al ce o va lo r hu ma no , nã o de ve mo s co nf un di r se u po nt o de vi st a co m o do pe la gi an is mo , po is am bo s se di st in gu em nã o só qu an to ao co nc ei to do ho me m, ma s, ta mb ém , qu an to ao do pe ca do e da gr aç a di vi na . Pe lá gi o en si na va qu e o pe ca do de Adã o som ent e afe tar a a est e, nas cen do-lhe os fil hos e, de ig ua l mo do , to do s os de ma is de sce nd ent es , co m id ên ti ca s po ss ib il id ad es às qu e e le ti ve ra an te s de ca ir . A sua fal ta con sis tia , ape nas , em mau exe mpl o par a as ger ações seguintes. Ninguém, portanto, nasce pecador, send o ve rí di co di ze r-se qu e to do s tr az em co ns ig o o do m da gr aça, ou se ja : os me io s in at os pa ra at in gi r a sa lva çã o, ca so se fa ça pr ec is o. Aq ue le qu e ca ir , po de rá re er gu er -se po r si me sm o. De us já co lo co u à di sp os iç ão de ca da um os re cu rs os pa ra ta nt o. Pel ág io , p or ém , co nc eb ia es se s me io s co mo di sp os iç õe s in di vi du ai s e in fl uê nc ia s ext er na s e não com o au xil io pes soa l de Deu s, at ra vés do se u Es pí ri to . Po r ex em pl o: a le it ur a do s Ev an ge lh os , a imitação do procedimento de Nosso Senhor, etc. Ar mí ni o ap ro xi ma va -se ma is de Ag os ti nh o e, em mu it os po nt os , er a ag os ti ni an o, de fa to. Nã o ac ei ta va f oss e o pe ca do de Ad ão só de co ns eq üê nc ia in di vid ua l, po is af et ar a a na tu re za hu ma na e en vo lve ra to da a ra ça . To do s ca ír am em Ad ão . Ag or a, só pe la gr aç a de De us po de o ho me m re gen er ar-se e ob te r a sa lva çã o. Se m el a tu do é im po ss ív el ao pe ca do r. "S em mi m na da po de is ", dis ser a bem Jes us. Tod avi a, Arm íni o dis cor dav a tan to de Ago sti nho com o de Cal vin o, qua ndo neg ava ter o hom em fi ca do re du zi do pe lo pe ca do à in at iv id ad e. Ho uv e al go qu e o ho me m nã o pe rd eu . Ai nd a lh e re st a a ca pa ci da de de re sp on de r à gr aç a de De us e ac ei tá-la ou re cu sá -la . No ut ra s pa la vr as : ai nd a po ss ui li be rd ad e e vo li çã o e, as sim , é re sp on sá ve l po r su as de ci sõ es . O hom em ai nd a pode dizer "sim" ou "não" ao seu Criador. Pa ra Ti ag o Ar mí ni o a gr aç a de De us é a aç ão op er ante do Esp íri to di vin o jun to ao hom em . É dom gra tui to e, com o ta l, nã o de pe nd e de qu al qu er mé ri to do ho me m. De us a reparte a todos os Seus filhos. Admitia, contudo, que, ex ce pc io na lm en te , al gu ém
  • 30. po de ri a de ix ar de re ce bê-la . En tr et an to , ne nh um a pe ss oa é fo rç ad a a ac ei tá -la . A gr aç a ce le st ia l po de , si m, se r re cu sa da pe lo ho me m, se gundo as seguintes passagens bíblicas: "E estais esquecido s da exo rta ção que , com o a fi lho s, dis cor re con vos co: Fi lh o me u, nã o me no sp re ze s a co rr eç ão qu e ve m do Se nh or , nem de sma ie s qua nd o po r ele és re pr ov ad o" (Hb . 12: 5), e em Mt 23: 37 as sig nif ica tiv as exp res sõe s do lamen to de Cri sto sobre Jer usa lém : "Je rus alé m, Jer usa lém ! que ma tas os pro fe tas e ape dre jas os que te fo ram en via do s! qu an ta s ve ze s qu is eu re un ir os te us fi lh os, co mo a ga li nh a aj un ta os se us pi nt in ho s de ba ix o da s as as , e vós nã o o qui se ste s!" Em Lc 7:3 0, lê -se : "Ma s os fa ris eu s e os int ér pr ete s da le i rej ei ta ra m, qua nto a si me smo s, o de sí gn io de De us , nã o te nd o si do ba ti za do s po r e le ". No co nc ei to de Ar mí ni o a gr aç a p od e ta mb ém ser re sis ti da, con fo rme a def esa de Est evã o per an te o Sinéd ri o: "H om en s de dur a ce rvi z e in ci rc un ci so s de co ra ção e de ouv ido s, vós sem pr e re sis ti s ao Esp ír ito San to: as si m co mo fi ze ra m vo ss os pa is , ta mb ém vó s o fa ze is" (At 7:5 1). Igu alm ent e, a gra ça de Deu s pode se r re ce bi da em vã o , no s di ze re s de Pa ul o: "E nó s, na qu al id ad e de co op er ad or es com el e, ta mb ém vo s ex or tamo s a qu e nã o re ce ba is em vã o a gr aç a de De us " ( 2C o 6:1). Se o pe cad or con co rd a em re ce be r o au xíl io di vin o, Deu s o co loc a em nov a con di ção . No vas per spe ct iva s se de sc or ti na rã o à su a fr en te . O ca mi nh o da gl ór ia et er na se ab ri rá pe ra nt e se us ol ho s. Ma s é ap en as o ca mi nh o. A gl ór ia só se en co nt ra no té rm in o. Im po rt a, po is , pa lmil há -lo at é ao fi m. O ho me m te m qu e se mo ve r e pi sar, às veze s, card os e pedr egul hos fer inos . Sobr evi r-lhe-ão tr is te za s e se du çõ es . Po ré m, se mp re qu e de se je pr os se gui r, sen ti rá que não se enc ont ra sozin ho : Jes us , o Sa lva do r co mp as si vo , ca mi nh a a se u la do e lh e re vig ora as fo rç as . Je su s nu nc a de sa mp ar a ao s qu e se ac ol he re m à Su a so mb ra am ig a. Se qu is er em ve nc er , ja ma is lh es faltará o auxílio de Deus, através do Seu Filho. E, de st e mo do , já en tr am os na do ut ri na da pe rs everança cristã. 8. A PE RS EV ER AN ÇA MIS TA . De fi na mo-la , pa ra me lh or a co mp re en de rm os . En ten de-se, por es sa dou tr ina , que o cre nte em Je sus , uma ve z re ge ne ra do , ja ma is ca ir á da gr aç a di vi na ,
  • 31. vi nd o a pe rd er -se de no vo . A as si st ên ci a de De us é de ta l mo do ef ic ie nt e qu e e le se rá ma nt id o no ca mi nh o e sa lv o po r fi m. Na da o ar re ba ta rá de Su as mã os . Co nf or me Jo 10: 27 -29; Rm 11: 29; 2Tm 1:1 2; 2T m 4:1 8 e out ras pas sa gen s. Er a o pon to de vis ta dos sup ra lap sa ria nos e o é, ainda, sobretudo, das igrejas Reformadas ou calvinistas. É in te re s sa nt e qu e Ag os ti nh o, se nd o pr ed es ti ni st a, es pos ou id éi a bem co nt rá ri a, ad mi tin do que at é o el ei to po di a ca ir e se r co nd en ad o. Os ar mi ni an os , lu te ra no s, qu aq ue rs , me to di st as e ou tr os ad ot am ma is ou me no s es ta úl ti ma po si çã o. To do s co nc or da m em qu e a pe rs e ve ra nç a nã o de pe nd e ex cl us iva me nt e de De us . O cr en te nec ess ita faz er a sua par te, por que a div ina o ser á sem pre . E a bas e se enc ont ra em tex tos , com o Mt 24: 12 -13 : "E po r se mu lti pl ica r a in iq üi da de , o am or de mu i tos se esf ria rá. Aqu e le, por ém , que per se ver ar até o fi m, ess e ser á sal vo" . Em Cl 1:2 3 est á dit o: "Se é que per man ece is na fé , al ic er ça do s e fi rme s, nã o vo s de ixa nd o af as ta r da es pe ra nç a d o ev an ge lh o qu e ou vis te s, e que fo i pr ega do a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tor nei min ist ro" . Dan do con sel hos a Tim óte o, Pau lo diz : "E tu , ó Ti mó te o, gu ar da o qu e te fo i co nf ia do , ev it an do os fa lat óri os inú te is e pro fa nos , e as con tra di çõe s do sa be r, co mo fa ls am en te lh e ch am am , po is al gu ns pr ofes san do -o, se des via ram da fé" . (1Tm 6:2 0-21) . Outra s pas sag ens que se dev em exa min ar, enc ont ram -se em Rm 9: 6: 2T m 2: 17 -18 ; 2T m 4: 10 ; 2P d 2: 1-2; H b 2: 1; Hb 3: 14 : Hb 6: 4 a 6, e vs . 11 ; 1J o2: 6, 9 e 19 ; e Ap 3:1 a 3. Arm íni o par ece ter sid o mai s con sis ten te que os seu s seg ui dor es , vis to que eles der am ma io r ênf ase à von tad e e aos esf orç os do hom em, com o que ten dia m par a o pel agi an is mo . Fo ra m, po r co ns eg ui nt e, ai nd a ma is li be ra is do que o mestre. Ti ag o Ar mí ni o nu nc a si st em at iz ou su as do ut ri na s. Exp ô-las seg und o as cir cun stâ nci as e só com vis tas a dete rm in ad as qu es tõ es e pe ss oa s. Ja ma is pe ns ou , ce rt a me nte , em esc rev er um a obr a de Te olo gia Si st em áti ca, e dou tri nas hou ve, con hec ida s ago ra com o arm ini ana s, em que nem seq uer pen sar a. Iss o foi obr a de seu s dis cíp ulo s, al gu ns do s qu ai s fi gu r am en tr e os ma is no tá ve is pe ns ado res dos Pa ís es -Ba ixo s, po den do en qua drar -se ao la do do s ma io re s te ól ogo s da Ig re ja . É di fí ci l, me sm o, ju lg ar a qu em da r a
  • 32. pr im az ia e cr éd it o, se a Si mã o Ep is có pi o, au to r da pri me ira con fi ss ão de fé arm in ian a, con sti tu ída de vin te e cin co ca pí tu lo s, e, ai nda , um a Ap ol og ia e um a In st itu ti on es Th eo lo gi ca e, ou se a Ph il ip va n Li mb or ch , pr ofessor no Ginásio arminiano de Amsterdã e redator da mai s com ple ta exp osi ção da dou tri na de Arm íni o, em sua "Th eo lo gi a Ch ri st ia na ", ou , ai nd a, se a St ep he n Cu rc el la eus ou a Jo hn Le Cl er c. Fo ra m es se s os co nt in ua do re s do in ol vi dá ve l me st re da Un iv er si da de de Le id en e in icia do r de um do s mo vim en to s qu e ma io r in fl uê nc ia tê m ex er ci do na vi da da hu ma ni da de : Ti ag o Ar mí ni o, Ar mi nius, ou Hermanns. REFERÊNCIAS E NOTAS: (1) Enciclopédia Britânica, vol II: pág. 386. (2) Newman, Albert Henry - A Manual of Church History, Vol II: pág. 339. C A P Í T U L O I V OR GA NI ZA ÇÃ O E DI FU SÃ O DO AR MI NI AN IS MO Co m a mo rt e de Ar mí ni o o mo vi me nt o nã o ce ss ou . As id éi as ne m se mp re de sa pa re ce m co m os se us ge ni to re s. Mu it as ve ze s é de po is qu e ad qu ir em ma io r fo rç a, se en co nt ra m qu em as in co rp or e à pr óp ri a vi da . Fo i o qu e se pa sso u na Ho la nd a co m o ar mi ni an ism o. Am ig os e di sc í pu lo s le va ra m-no ad ia nt e. Ho me ns , co nf or me já fr isam os , da env er gad ur a de Olde nbo rn ve ldt , Hu go Gro ti os , Jo ha n Uy tt en bo ga er t, qu e er a o ma is ínt im o de Ar mí ni o, e Si mã o Ep is có pi o, se u su ce ss or em Le id en . Mui tas pes soa s de pro jeç ão e ma is de um a dez ena de pas tores se incluíram, desde logo, entre os adeptos. Assim, a controvérsia prosseguiu, cada vez mais acesa, agitando os Países-Baixos, env olv end o, tam bém , a pol íti ca, em raz ão das afi nid ade s qu e ha vi a do Es ta do co m a Ig re ja Re fo rm ad a e do pr ópr io ca rá te r d o
  • 33. mo vi me nt o. Ac on te ce qu e Ol de nb or nve ld t, al ém de si mp át ic o ao ar mi ni an is mo , de fe nd ia o re gi me re pu bl ic an o, en qu an to qu e o pr ín ci pe Ma ur íc io de Or an ge pu gn av a pe lo na ci on al is mo ce nt ra li za do r e er a su pr al ap sa ri an o. O ar mi ni an is mo ad vo ga va a to le rân cia e a lib erd ad e rel igi osa , ao pas so que o cal vin ism o ten dia Ia m as co is as em ta l pé , qu an do Ol de nb or nv el dt , ch ef e da Pr ov ín ci a de Ho la nd a, pe di u ao s se gu id or es de Ar mí ni o , is to em 16 10 , pr ep ar as se m um a de cl ar aç ão de su a fé , a qu al ve io a se r co nh ec id a co mo "R ep re se nt açã o" , a fi m de se r ap re se nt ad a ao Go ve rn o, pa ra , de ss e mod o, con seg uir fosse m tol era dos , pel o men os. Daí , também , a den omi naç ão que se lhe s deu de "Re pre sen tan tes ". Re di gi ra m, po is , o cé le br e do cum en to , ne le ex po ndo os ci nc o pontos fundamentais, seguintes, por nós assim resumidos: 1) De us , po r me io de um de cr et o et er no e im ut áv el, res olv eu sal var , atr avé s de Jes us Cri sto , a tod os que O ac ei ta ss em co mo Sa lv ad or e Lh e fo ss em fi éi s at é ao fim , e con den ar aos que viv ess em ali ena dos dEle, con for me Jo 3: 16 : "P or qu e De us am ou o mu nd o de ta l ma ne ira qu e de u se u Fi lh o un ig ên ito , pa ra qu e to do aq ue le que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna". par a o do gma tis mo e era pou co dem ocr áti co. Aqu ele pro cur ava rea lça r o val or do hom em, ao pas so que est e ex al ta va a so be ra ni a de De us . Co mo se po de ri am , en tão, nessas condições conciliar os dois pontos de vista? 2) Jes us é o Sal va dor do mu ndo , hav end o ef etu ado um sac rif íci o po r to dos os hom ens e em par ti cu lar , pel o in di ví du o. A re den çã o é un ive rs al . Ma s só se sa lva m os que se arrependerem e crerem nEle. Ni ng ué m po de , po r si só , fa ze r qu al qu er be m ou atingir a salvação. 3) 4) O pe ca do r ne ce ss it a da gr aç a de De us , se m a qual nada lhe é possível; todavia, ela não é irresistível. De us , po r Su a gr aç a, as si st e ao cr en te e o aj ud a a tu do ve nc er , ca so de se je o au xíl io di vin o e nã o pe rm aneça inativo. 5) Os ca lvi ni st as re tru ca ra m co m uma "C on tr a-Re pr es en taç ão ". A po lêmi ca se am ar go u. Os co nt end or es pe rderam a serenidade. Os argumentos já não tinham eloqü ên ci a ba st an te . Ir mã os pe la cr en ça e pe lo sa ng ue se ent reg ara m à lut a arm ada , leg and o-nos exe mpl o dos mai s tri ste s.
  • 34. Af ina l, Mau ríc io ve nce u, apo iad o pe lo s cal vin ist as , ma s, dia le tic ame nte os arm ini ano s per man ece ram de pé . Nin gué m os de rr ib ou , em bo ra Ol de nb or nv el dt foss e de ca pi ta do na pr is ão e Gr ot iu s ti ve ss e de ex il ar-se da pátria. Já qua se sen hor da sit uaç ão, dá o prí nci pe de Ora nge . na qu al id ad e de St ad th ol de r do s Es ta do s Ge ra is , in te ir a sol ida rie dad e ao Sín odo que se aca bav a de con voc ar, pre te nd en do , po r es se me io , un if ic ar , ta mb ém , a ad mi ni stra ção rel igi osa . A mag na ass emb léi a tev e lug ar na cid ade de Do rt du ra nt e se te me se s (1 3 no ve mb ro de 16 18 a 9 de mai o de 161 9), e nel a est ive ram pre sen tes 84 teó log os e 18 delegados seculares. Diversos governos civis, onde o pr ot es ta nt is mo do ti po Re fo rm ad o fo ra ad mi ti do , ma ndar am rep res ent ant es: a Ing lat er ra, o Pal at in ado , Hes se, Suíç a e Bre me n. De ixa ram de com parec er os da Fra nç a e Br an de nb ur go . À fr en te do pa rt id o ar mi ni an o ac ha vase Sim ão Epi scó pio , seu pri nci pal gui a teo lóg ico des de a mo rt e de Ar mí ni o. Er am qu at or ze , co m el e, ma s ne m tod os ti nh am di re it o a vo to . Al iá s to ma ra m-se pr ov id ênci as pa ra qu e os co ns id er ad os he te ro do xo s pe rd es se m a h ab il it aç ão pa ra o co nc la ve . O pr óp ri o Sí no do se pr edi sp us er a a ma nt er se us pa dr õe s e a su bj ug ar a “he re si a ” do s Re pr es en ta nt es (a rm in ia no s) . Po uc o se po de ri a es pe ra r em fa ce dis so. E, de fa to, con qua nto f oss e bel íss ima a ex po siç ão do ut rin ár ia de Ep is có pi o, os ad ep to s do ar mi ni an ism o fora m ta ch ad os de he re ges e co nf ir ma da a "C on tr a-Re pr ese nt aç ão ", a "C on fi ss ão Be lg a" e o "C at ec is mo de He ide lb er g" . Os mi ni st ro s ar mi ni an os ti ve ra m qu e op ta r en tr e o "A to de Ce ss aç ão ", qu e os ob ri ga va a si le nc ia r qua nto às sua s cre nça s, e o exí lio . O inter ess ant e é que se que ria ext ing uir a fog uei ra, esp alh and o-lhe as bra sas , sem se perce be r qu e el as ir ia m co nt in ua r a ar de r no ut ro s lu ga re s. Ia m le vá-la s pa ra o es tr an ge ir o, on de ta mb ém ge rm in ari am . In cl us iv e de le ga do s da s na çõ es , pr es en te s ao Sí no do , ac ol he ra m co m si mp at ia a be m fu nd am en ta da defesa das idéias arminianas. Qua ndo , ma is ta rd e, apó s a mo rte de Mau ríc io, oco rri da em 16 25 , os ex il ad os re gr es sa ra m à pá tr ia , o mo vime nt o já ha vi a ga nh ad o ma io r am pl it ud e. E as au to ri da de s tr at am , da i em di an te , co m ma is cl em ên ci a ao s ad ep to s do ar mi ni an is mo , fa cu lt an do -lh es o pr iv il ég io
  • 35. de ed if icar em igr eja s par a si e de ter em as sua s esc ola s par tic ulares . Am ste rdã e Roter dã tor na ram -se, ent ão , os seu s cen tro s pri nci pai s. Naq uel a est abe lec era m um sem iná rio teoló gi co pa ra o pr ep ar o de mi ni st ro s, e em cu ja s cá te dr as se asse ntar am os ilust res Epis cópi o, Limb orch , Curc ella eus, Le Clerc, Cattenburg e outros. Org ani zan do-se em com uni dad e ecl esi ást ica , os arm ini an os ad ot ar am o si st em a pr es bi te ria no co mo fo rma de go ve rn o. Co ns ta , no en ta nt o, que al gun s mi ni st ro s se incli nav am , pre fer ent eme nte , par a o reg ime epi sco pal , confo rm e ex is ti a na Ig re ja da In gl at er ra (A ng li ca na ). Ep is có pi o re di gi u uma Con fis são de Fé, des tin ada a ser vir de pad rão dou tri nár io , ma s ne nh um pa st or er a ob ri ga do a ac ei tála ou a pres tar-lhe jura ment o. A tole rânc ia do armi nian ismo via-se ref let id a aqu i ma is uma vez , e ain da dep ois se af rou xou paulatinamente, com grandes prejuízos para o sistema. O pro gre sso do arm ini ani smo foi peq uen o nos Paí ses-Baixos. É que seu rival, o calvinismo, já se havia radicado for tem ent e nas pro vín cia s do nor te, qua ndo ele des pon tou al i, es ta va me lh or or ga ni za do e co nt av a co m o ap ói o do Es ta do . Nã o o pod er ia de sa lo ja r, as si m, tã o fa ci lm en te . Ma s, tam bém , est e, fo i imp ote nte par a elim iná -lo . Ain da hoje se mantém lado a lado, se bem que o número de suas co ng re ga çõ es e de se us pa stor es sej a re du zid o. A Ig re ja Re fo rm ad a co ns er va a pr ed om in ân ci a. Co nt ud o, no estr an ge ir o, a in fl uê nc ia do ar mi ni an is mo se ac en tu a di a a dia e nos mais vari ados seto res. Em dive rsos país es, onde o ca lvi ni sm o te ve ép oc as de es pl en do r, pe rd eu mu ito de se u br il ho co m a in tr od uç ão da s id éi as ar mi ni an as , es pe ci al me nt e na In gl at er ra , EU A e ou tr as pa rt es . Al ém dis so, obr igo u, por mai s de uma vez , cer tos teó log os afe iço ad os ao ca lvi ni sm o a lh e su av iza re m al gum as ar es ta s, ta l co mo su ce de u co m Am yr al du s, na Fr an ça; Ri ch ar d Ba xte r, na Ing lat err a, e Nat ana el Tay lor , nos Est ado s Unidos , che gan do tod os ele s, como ver emo s, a cri are m nov os sistemas teológicos. O AR MI NI AN IS MO NA IN GL AT ER RA Na In gl at er ra o ar mi ni an is mo se in tr od uz iu de ma nei ra int ere ssa nte . Ent re os pre sen tes ao Sín odo de Dor t, ach ava -se o clé rig o Joh n Hal es, de Eto n, pro fes sor de gre go em Oxfo rd, desd e 1612 . Cont ou ele
  • 36. mesm o que, ouvin do o arr azo ado de Sim ão Epi scó pio sobre Joã o 3:1 6, qua ndo def end ia naq uel e con cla ve a doutr ina dos Rep res ent ant es (ar min ian os) , des ped iu-se de Cal vin o, ou sej a, de sua dou tri na, com um ad eu s. Re gr es sa nd o à pá tr ia , to rn ou -se lá def en so r ar do ros o do arm ini ani smo . Nov os sim pat iza nte s sur gir am, não obs tant e ang lica nos e cal vin ista s lhe s mov ess em opo siçã o. À cor ren te de ten dên cia s arm ini ana s, que se vin ha des envol ven do no paí s, ind epe nde nte men te da con tin ent al, gra ças sobretudo às idéias do pregador Pedro Raro (1531-1599), de Cam bri dge , jun tav a-se, ago ra, a de Joh n Hal es. A par tir de mea dos do sécul o XVI I o imp act o do arm ini ani smo sobre a te ol og ia da Ig re ja An gl ic ana fa zia -se se nt ir, po r is so , com maior realce. Te nd o pe rm an ec id o fi el à te ol og ia ro ma ni st a at é à asc ens ão de Edu ard o VI , a Igr ej a da Ing lat er ra abr aço u, a segu ir, por algu m temp o, o luter anis mo, ader indo , afi nal, ao ca lv in is mo , pa ra de po is ma nt er -se en tr e o pr ot es ta nt is mo e o ro ma ni smo . Ca nn on di z be m do es pí rit o an gl ic an o, qu an do de cl ar a: "O an gl ic an is mo fo i um te to qu e ag as al ho u mu it as op in iõ es ". ( 1) Nã o se de via es tra nh ar que o arm ini ani smo ach ass e lug ar ao lad o das dem ais concepções e costumes adotados pela referida Igreja; naturalme nt e à cu st a de re aç õe s e co nt ra te mp os . Po r ex em pl o, qu an do , em 15 95 , Pe dr o Ba ro le va nt ou a su a co nt ro vé rs ia , a opo siç ão res pon deu-lhe com os "Ar tigo s de Lam bet h", for tem ent e cal vin ist as. Já o mes mo não acon tece u no rei nad o de Jam es I, ao tem po de Wi lli am Lau d, bis po de Lon dre s e ar ce bi sp o de Ca nt uá ri a, a pa rt ir de 16 33 . Co mo lí de r dos an gli can os, mov eu Lau d ten az cam pan ha con tra o cal vin ism o. Na dis cus são que , em 162 2, sus ten tou con tr a o je su ít a Fi sh er , re ve lo u su as in cl in aç õe s pa ra o ar mi ni anism o, dan do à fé um a int er pre taç ão rac ion al, de so rte a fa zer do hom em ope ran te com Deu s na obr a de sua sal vaçã o. Ta nt o qua nt o lh e per mi tia m as fu nç õe s ep isc op ai s, ob te ve que o re i Ca rlo s I pu se sse à fr en te da s pa ró qu ia s clé rig os de ten dên cia s sem elh ant es às sua s, ma s tão arb itrá rio s se tor nar am os doi s, por fim , e a tal pon to des conten tar am pr inc ipa lme nte os ca lvi ni sta s, que est es, sob a direção de Oliver Cromwell, executaram a ambos e organi za ra m um go ve rn o re pu bl ic an o. É da í em di an te qu e o arminianismo ganha terreno, absorvido, em parte, pelos ang lo-cat óli cos e, em par te, pel os lat itu din ari ano s, ass im cha mad os os pri mei ros por sua s sim pat ias rom ani sta s e os
  • 37. últ imo s, pe la imp or tân cia que ra zão nas di sc us sõe s rel igi osa s. da va m à Os doi s gru pos per ten cia m à Igr eja Ang lica na , um a Hi gh Ch ur ch , o ou tr o a Low Chu rc h, ou se qu is er mo s: à Al ta e à Ba ixa Ig re ja . Os la ti tu di na ria no s, emb ora pro tes tan tes ma is ort odo xos , de mo do al gum , de sej ava m na Igre ja, um cal vin ismo rígi do e por ist o, vie ram a se r co gn om in ad os de "A rm in ia no s de Ca mb ri dg e" . Ao pri me iro gru po pe rte nc era m Hoo ke r, Lau d, Lan ce lot An dr ews , e ao se gu nd o, ao qu al , at é ce rt o po nt o se po de co ns id er ar ar mi ni an o, Lo rd Fa lk la nd , Jo hn Ha le s, Ch il ling wort h, Jere mias Tay lor, Whi chcote , Cudw orth , Wil kins e outr os, dive rsos dos quai s fili ados aos Plat onis tas de Cambr id ge . É im po rt an te le mb ra r, a in da , a po si çã o qu e ne ss a mes ma épo ca tom ou o pur itan o, dis sid ente , Ric hard Baxt er (1615-1691), esforçando-se por conciliar o calvinismo e o arminianismo. O Bi sp o Bu rn et , em 16 99 , de u no vo im pu ls o às te n dên cia s arm ini ana s, qua ndo pub lic ou sua obr a "Exp osi ção dos Tri nta e Nov e Art igos ", ded ica da ao rei Gui lhe rme III . Ne la , ao in te rp re ta r o Ar ti go XV II , qu e tr at av a da Pr edes tin açã o, deu -lhe sen tid o arm ini ano e lhe atr ibu iu igu al val ide z ao cal vin ist a. Que r diz er que tan to imp ort ava um qua nt o o ou tr o. Am bo s p od ia m se r ac ei to s. H av ia lu ga r na Ig re ja pa ra as du as po si çõ es . Já no sé cu lo se gu in te o re du to ar mi ni an o se ap re se nt a na va ng ua rd a. O qu ad ro tem , ago ra, nov o asp ect o: os "Tr int a e Nov e Art igo s" são , ainda, calvinistas, mas o clero anglicano, de modo geral, é arm ini ano em sua s con cep çõe s. É bom lem bra rmo s des te fat o, vis to que o fut uro org ani zad or do me tod ism o viv eu nes se séc ulo e faz ia par te do min ist éri o da igr eja of ici al (An gli can a) . Os wesl eyano s não seri am, pois , os únic os a abra çar o armi nia nis mo . À me sma lin ha de pen sam ent o se fi lia m os Ba ti st as Ge ra is, da In gl at er ra; os Qu aqu er s ; os Ba ti st as Li vre s, dos Est ado s Uni dos da Amé ric a; os Rep res ent ant es, da Ho la nd a ; a Ig re ja Pr es bi te ri an a Cu mb er la nd , do s EU A; e outros mais. O ARM INI ANIN MO NA FRA NÇA Na Fra nç a tam bé m o arm in ian ism o rep er cut iu mu it o ce do , co mo be m co mp ro va a po si çã o to ma da po r al gun s profes sores da Academ ia de Saumur, onde se ensina va, antes , a te ol og ia de Ca lv in o. A pa rt ir de 16 33 co nt av a es sa fa c uld ade em seu rol , di ver so s me st re s no táve is, den tre os qua is se des tac ava m Lou is Cap ell us, Moy sés
  • 38. Amy ral dus e Jos ué Pla cae us. Não se con fo rma ndo ele s com o cal vin ism o pu ro , ad ot ar am po nt o de vi st a me di an ei ro , en tr e a dou tri na da Igr ej a Ref orm ada e a dos arm in ian os , to rna nd o-se conhe cid o por cal vin ism o uni ver sal ist a ou hip oté tic o. Doi s pontos era m fun dam ent ais nes ta nov a con cep ção teo lóg ica : o da aç ão do Es pí ri to di vi no e o da Gr aç a. En te nd ia m os seu s aut ore s que Deu s não agi a coe rci tiv am ent e sobre os sen tim ent os do hom em, mas sim atua ndo , pri mei ram ent e, so bre o int ele cto e, ent ão, atr avé s des te, so bre a alm a. O int el ect o, uma ve z esc lar ec ido , é que le vav a a al ma à re gen er aç ão . De us er a a ca us a pr im ár ia da sa lva çã o. O hom em , po ré m, ti nh a a su a pa rte ; me re cia ce rt a co ns id er açã o. O se gu nd o po nt o, re fe re nt e à Gr aç a, te ve em Am yral dus o mai s ard oro so def ens or. Ens ina va ess e mes tre da Academia de Saumur a interessante concepção da existência da Gra ça uni ver sal hip oté tic a, que ele exp res sav a na se gu in te li ngu ag em : há em De us o de sejo (ve ll ei ta s, af fe ct us ) qu e to do s se ar re pe nd am e se ja m sa lv os (ar mi ni an is m o ), ma s por um mo ti vo qua lqu er a Gr aça não é ced id a a tod os (ca lvi nis mo ). Par a tan to Deu s env iou Seu Fil ho ao mu nd o, ma s as c on di çõ es ex ig id as sã o um ób i ce a qu e to do s pa rt ic ip em da sa lv aç ão . (2 ) Há em Am yr al du s um ide ali smo un ive rsa lis ta ao lad o de um par tic ula ris mo cal vin ist a ac ent ua do. A sal vaç ão é uni ver sa l ape nas hi pot eti cam ent e, ao pas so que o núm ero dos sal vos é lim ita do, porqu e ne m to do s re ce be m a Gr aç a. Ap es ar di st o o il us tr e pro fe sso r de Sau mu r tev e que defend er sua dou tri na, con si de ra da in co ns is te nt e co m os pa dr õe s da ma gn a as se mblé ia de Dor t, por qua nto do is sí no dos nac ion ai s ass im o en te nd ia m. To da vi a um di sc íp ul o, Cl au de Pa jo n, pr ofe sso r em 166 6 na me sma esc ola , não só con tin uou a susten tar as idé ias de Am yra ldu s, ma s ava nço u ain da ma is, en si na nd o qu e a op er aç ão do Es pí ri to so br e o in te le ct o també m se faz por meios exte rnos, tais como os evan gelho s, as ci rc un st ân ci as , et c. Na In gl at er ra ad ot ar am po si çã o mais ou meno s seme lhan te à de Amyr aldu s, War dlaw , John Br ow n e Ja me s Ri ch ar ds e no s EU A algu ns teól ogos da Nova Ingl ater ra, como Emmo ns, Tayl or, Park e Beman. O ARM INI ANI SMO NA ALE MAN HA E que dir emo s da Ale man ha, ber ço do
  • 39. prot est ant ism o e de tan tos pen sado res emi nen tes ? Se qui serm os, pod emo s recu ar ao s te mp os da Re fo rm a. Co me ce mo s pe lo in ol vid áv el Ph il ip Me la nc ht on , am ig o ín ti mo de Lu te ro e se u co ad ju to r na cé le br e Co nf is sã o de Au gs bu rg o. Ne nh um outro viveu tão perto do coração do grande reformador e nem me lho r lhe sec und ou os esf or ço s naq ue les tem pos da agi tad a car rei ra. Hão de ser col oca dos sem pre na lis ta das gra nde s ami zad es. Mel anc hto n, não obs tan te, era qua tor ze ano s ma is no vo do que Lute ro, pro vin ha de fa míl ia be m do ta da e re ce be ra ed uc aç ão ma is ap rim or ad a. Du as pes soa s, por tan to, de ida des e psi col ogi as dif ere nte s. Mas os do is se co mp le ta ram. A ca lma de Me la nc ht on se con trapô s muita s vezes à impet uosid ade de Martin ho Lute ro, ao passo que o con ser van tis mo do ex -mon ge de Wit ten ber g sal vou o com pan hei ro de de sca mba r com o seu lib era lis mo para sit ua çõe s per igo sa s, tal com o su ced eu em Aug sbu rgo ao di sc uti r com os teó lo gos rom ano s, po r ord em do imp era do r Ca rlo s V, os te rmo s da co nf is sã o do ut ri ná ri a do pr ote st an ti sm o al em ão . Ni ng ué m po de im ag in ar qu e ru mo to ma ri a o mo vi me nt o lu te ra no se m o au xí li o de Ph il ip Me la nc ht on . Lu te ro e Me la nc ht on se dav am mu it o be m. N ot e-se , po ré m, qu e su as te ol og ia s di ve rg em em al gu ns po nt os . Me la nc ht on , po r exe mp lo, em seu con ce ito s obr e a Igr ej a enf ati zav a a im po rt ân ci a da ra zã o, e po r is so é el a co ns ti tu íd a do s qu e ac ei ta m a ve rd ad ei ra do ut ri na do cr is ti an is mo . Pa ra Lu tero a Igr eja é a com unh ão dos fié is. Mel anc hto n pen sav a da San ta Cei a com o sím bol o do sa cri fíc io de Cri sto , rec e ben do-O ape nas aqu e les que tiv ess em fé n Ele . Lut ero, no en ta nt o, er a re al is ta , em bo ra re je itas se a tra ns ub st an ci aç ão . Ou tr o po nt o é o que di z re sp ei to à sa lva çã o do ho me m: Ma rt in ho Lu te ro co lo ca va o ho me m na in te ir a de pen dênci a de Deu s, enq uan to que o com pan hei ro e a mig o tam bém exi gia a co par tic ipa ção da von tad e hum ana . No con cei to de Mela nch ton trê s ele men tos con cor riam par a se efe tiva r a sal vaçã o: o Esp írit o San to, a ver dad e bíb lica e a vontade, sendo que o Espírito é a causa eficiente, a Palavra é o me io par a alc an çá -la , ma s, dep ois de tud o, sem o ex er cíc io da von tad e, o hom em nã o a con se gue . É o que se chama de "sinergismo". Algumas das idéias de Melanchton provocaram depois ver dad ei ra agi taç ão na Ale ma nha , di vid ind o a Igr ej a em dua s ala s: os con ser vad ore s e os fi lip ist as ou
  • 40. sin erg istas . As cont rové rsia s somen te cess aram em 1580 , com a “Fórm ula de Co nc ór di a”, e um a de la s fo i, ex at am en te , sobr e a pre des ti na ção . Af ina l, a que stã o fi cou def ini da ne sse do cu me nt o, do se gu in te mo do : “É da vo nt ad e de De us sa lv ar a to do s. A Su a Gr aç a é un iv er sa l. En tr et an to Êle sa lv a ap en as ao s qu e ac ei ta re m a Cr is to . De us sa lv a em co ns id er aç ão ao s mé ri to s de Cr is to ”. O ca lv in is mo , en tã o, ma is uma vez, cedia caminho. Pou co dep oi s a co ntr ové rsi a vol ta a ati var -se co m a che gad a à Al em anh a do su íço Sam ue l Hu bb er. Ob ri gad o a de ix ar a pá tr ia po r ca us a de se us co nc ei to s an ti ca lv inis tas , fi lio u -se à Ig rej a Lut er ana , ser vin do com o pa sto r em Tu bin ga e, a seg ui r, co mo pro fe ss or da Un ive rsi dad e de Wi tte nbe rg. Log o se pôs a ens ina r a dou tri na do abs olut o uni ver sal ism o: Deu s des de a ete rni dad e ele ger a tod os os hom ens par a a sa lva ção , me smo sem le va r em con ta a fé . Or a, is to , er a de ma is , co nt ra ri an do at é o es pí ri to da “Fórmu la de Con cór dia ”. Em con seq üên cia , doi s col ega s saíram a campo e lhe rebateram as idéias. Até no sei o da Ig re ja Cat ól ica Rom an a se dis cut ia o mo me nt os o pr ob le ma do li vr e ar bí tr io e da pa rt e do ho me m na sua sal vaç ão. Dom ini can os (to mi sta s) e Fra nc is ca nos (sc ot ist as ) ne le se en vo lve ra m. Re ac en dem -no ao tem po da Ref orm a, Mic hae l Baj us e seu s col ega s tam bém scotistas, todos favoráveis à participação do homem, ao pass o que os opo nen tes se fi rma vam em S ant o Ago sti nh o. Qua ndo os jes uít as qui ser am faz er o mes mo, Cor nél io Jansen, bisp o de Ypre s, e mais algu ns comp anhe iros da abad ia de Po rt -Ro ia l se le va nt ar am em de fe sa da do ut ri na da sal vaç ão exc lus iva me nte pel a gra ça, con for me a acr edi tavam esp osad a por aqu ele teó logo nor te-afr ica no (Ag ost inho ). E o resu lta do ve io de pr on to : um a pe rt in az pe rs eg ui çã o mo vi da pel os inf lue nte s je su íta s con tr a os jan sen ist as , a qua l co lim ou com a fun daç ão, por est es, de nov a ins tit uiç ão ecl e siá sti ca, ind epe nde nte de Rom a: a Vel ha Igr eja Cat óli ca, dos Paí ses -Ba ixo s. Apó s o Con cílio do Vat ica no (18 70 ), um no vo ra mo se de st ac ou da Ig re ja Ro ma na , po r ca us a do dog ma da inf ali bil ida de pap al, uni ndo -se à Vel ha Igr eja Católica. O ARMINIANISMO EM TEMPOS DE RENASCENÇA Agora, podem os leitores compreender melhor por que es cr ev em os al gu re s a re sp ei to de Ar mí ni o, di ze nd o qu e su as id éi as re fl et ia m