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NÃO TEMAIS
          DEUS AUXILIA O MISSIONÁRIO NOS MOMENTOS DE PERSEGUIÇÃO


INTRODUÇÃO:

      Queridos irmãos e irmãs...

     Segundo o Calendário Litúrgico hoje é o 12º Domingo do Tempo Comum e o 5º
Domingo após o Pentecostes.

      O Lecionário nos propõe as seguintes leituras bíblicas para hoje:

             1ª Leitura: Jr 20,10-13
             2ª Leitura: Rm 5, 12-15
             Evangelho: Mt 10,26-33

        Através da leitura destes textos somos convidados a refletir sobre as dificuldades
enfrentadas quando assumimos nosso posto de missionários de Jesus. Diante destas
dificuldades, o que os textos nos ensinam é que Deus está sempre ao nosso lado, jamais nos
abandona. Por isso não devemos ter medo... apenas confiança em Deus.

        A primeira leitura apresenta o exemplo de um profeta Jeremias. Ele é o paradigma do
profeta sofredor. Daquele que sofreu perseguição, solidão, abandono... tudo isso por causa da
Palavra; no entanto, ele não deixou de confiar em Deus e de anunciar – com coerência e
fidelidade – as mensagens de Deus.

       Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos
projetos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto-
suficiência gera morte.

      Na leitura do Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os adverte de
que enfrentarão perseguições e incompreensões; mas acrescenta: “não temais”.

      Enquanto Igreja Metodista, nós nos compreendemos como uma “Comunidade
Missionária a Serviço do Povo”.

      Consideramo-nos individualmente, como missionários e missionárias enviados por Jesus
para o Campo Missionário.

      Assim como os discípulos, apontados no texto de Mateus, nós também somos enviados
a proclamar o Reino, portanto sofreremos também as dificuldades e as perseguições que nos
cabem.

      Portanto, convido-os neste instante a refletirmos sobre o texto bíblico proposto na leitura
do Evangelho (Mateus 10,26-33).

      Ouçamos a leitura do texto sagrado.
TEXTO: Mateus 10,26-33


            26 Portanto, não os temais; pois nada há encoberto, que não venha a ser
            revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido.

            27 O que vos digo às escuras, dizei -o a plena luz; e o que se vos diz ao ouvido,
            proclamai -o dos eirados.

            28 Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes,
            aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.

            29 Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra
            sem o consentimento de vosso Pai.

            30 E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.

            31 Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais.

            32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o
            confessarei diante de meu Pai, que está nos céus;

            33 mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de
            meu Pai, que está nos céus.



CONTEXTO:

      Durante o primeiro século muitos cristãos provindos do judaísmo continuavam
freqüentando as Sinagogas.

       Na época em que o Evangelho de Mateus foi escrito, por volta dos anos 80 a 90dC estes
cristãos/judeus ou judeus/cristãos começaram a ser perseguidos e expulsos das Sinagogas.
Estamos falando portanto de judeus, perseguindo judeus-cristãos.

       Nesta mesma época o imperador romano era Domiciano. O primeiro dentre os
imperadores de Roma a perseguir com tirania os cristãos. Segundo o historiador Justo
Gonzáles, no seu livro A Era dos Mártires, Domiciano “parece ter sido o primeiro imperador a
perceber que a nova fé representava uma ameaça às velhas tradições romanas”. (A Era dos
Mártires, p. 59)

     A comunidade cristã pra qual Mateus escreve (possivelmente, a de Antioquia da Síria) é
uma comunidade com grande compromisso missionário. É uma comunidade verdadeiramente
empenhada em levar as Boas Novas de Jesus aos homens.

      No entanto, estes missionários conviviam no seu dia a dia com muitas dificuldades e
perseguições. Isto estava levando-os a um certo desânimo e uma certa frustração. Eles não
sabiam que caminho percorrer, estavam perturbados e confusos.
É neste contexto que Mateus compõe uma espécie de “manual do missionário
cristão”.

      Para mostrar que a atividade missionária é um imperativo da vida cristã, Mateus
apresenta a missão dos discípulos como a continuação da missão de Cristo.

      Este texto maior, onde nosso texto se insere, é conhecido como “discurso da missão”.

      Nele Jesus define os conteúdos do anúncio e as atitudes fundamentais que os
missionários devem assumir, enquanto testemunhas do “Reino”. Ensina-os a como enfrentar os
momentos difíceis e as perseguições.



MENSAGEM

       A mensagem central do texto que fizemos a leitura é: “não temais”. Em apenas oito
versículos ela aparece três vezes.

     Só por curiosidade, saiba que esta é uma expressão que aparece 366 vezes na Bíblia.
Podemos usar uma para cada dia do ano, inclusive no ano bissexto.

     O que vemos neste texto é um convite à superação do medo. Para expor essa idéia
Mateus vai fazer três apontamentos, apresentando ditos de Jesus:

      No primeiro apontamento (vers. 26.27), Jesus pede aos discípulos que não deixem o
medo impedir a proclamação pública da Boa Nova.

     A mensagem de Jesus não pode correr o risco de ficar – por causa do medo – restrita a
um pequeno grupo, que por comunidade ou covardia se tranca nas quatro paredes.

      O desafio de Jesus é que esta mensagem seja proclamada com coragem, com
convicção, com coerência, de cima dos telhados, a fim de mudar o mundo e tornar-se uma
mensagem de salvação.

      No segundo apontamento (vers. 28), Jesus recomenda aos discípulos que não se
deixem vencer pelo medo da morte física.

       O que é decisivo, para o discípulo, não é que os perseguidores o possam eliminar
fisicamente; mas o que é decisivo, para o discípulo, é perder a possibilidade de chegar à vida
plena, à vida eterna…

       Enquanto preparava o sermão, recebi um e-mail da “Missão Portas Abertas”. A primeira
notícia do e-mail era esta:

             O coronel do exercito iraniano Hamid Pourmand, que também era pastor de uma
             congregação da Assembléia de Deus na cidade de Bandar-i Bushehr, foi preso
             em setembro do ano passado, enquanto participava de uma conferência de
             igrejas perto de Teerã, acusado de proselitismo e de apostasia por ter se
             convertido ao cristianismo. A punição para esses crimes no Irã é a pena de morte.
As vezes pensamos que a perseguição aos cristãos seja coisa do passado, mas o que
vemos é que há muitos irmãos e irmãs sofrendo por amor ao evangelho. Pessoas colocando
suas vidas em risco por pregarem a fé que experimentaram.

       Mesmo vivendo num ambiente hostil ao evangelho este coronel/pastor (iraniano) não se
intimidou. Mesmo sabendo da lei de seu povo, ele pregava a Palavra de Deus. Gostaria que
outras pessoas experimentassem a mesma salvação que ele experimentou.

      Um texto que me vem à mente é o de Apocalipse que diz: “Sê fiel até à morte e te darei
a coroa da vida”. Ou mesmo as palavras do apóstolo Paulo: “Se vivemos, para o SENHOR
vivemos; se morremos, para o SENHOR morremos; queira vivamos ou morramos somos do
SENHOR”

       No terceiro apontamento (vers. 29-31), Jesus convida os discípulos a confiarem
plenamente em Deus. Para ilustrar a ação de Deus, Mateus recorre a duas figuras de
linguagem: a dos pássaros de que Deus cuida e a dos cabelos que Deus conta.

       Deus é apresentado como um “Pai”, cheio de amor e de ternura, sempre preocupado em
cuidar dos seus “filhos”, em entendê-los e em protegê-los.

       A certeza de ser filho de Deus é, sem dúvida, algo que alimenta a capacidade do
discípulo em empenhar-se – sem medo, sem prevenções, sem preconceitos, sem condições –
na missão.



ILUSTRAÇÃO

             Lembro-me quando criança... tinha medo do escuro... as vezes estava assistindo
      televisão no quarto dos meus pais e dava vontade de ir ao banheiro... só que ele ficava
      do outro lado da casa... tinha que atravessar um corredor escuro... Quando falava para o
      meu pai estava com medo ele dizia: “pode ir que eu estou te olhando”... Isso era o
      suficiente para eu encontrar forças para vencer o medo. O Meu pai estava me olhando,
      por isso não precisava ficar com medo.

            Nada – nem as dificuldades, nem as perseguições – conseguem calar o discípulo
      que confia no cuidado e no amor de Deus Pai.

            As últimas palavras deste texto (vers. 32-33) contêm uma séria advertência de
      Jesus: atitude do discípulo diante da perseguição condicionará o seu destino último…

            Aqueles que se mantiveram fiéis a Deus e aos seus projetos e que
      testemunharam sem medo a Palavra encontrarão vida eterna; mas aqueles que
      procuraram proteger-se, acomodar-se numa vida morna, sem riscos, sem desafios, e
      também sem coerência, terão recusado a vida eterna: esses não poderão fazer parte da
      comunidade cristã.
APLICAÇÃO PASTORAL

       Das várias lições que podemos tirar deste texto, gostaria de destacar o fato de que como
cristãos, se desejamos viver coerentemente os desafios da missão, sofreremos perseguições.

       Ainda que nem todas as formas de perseguições sejam parecidas com as de Domiciano
(no 1º séc) ou do Irã (no séc XXI)..

      Podemos dizer que em muitos lugares se inventou formas menos sangrentas, mas
certamente mais refinadas do que as de Domiciano ou do Irã para calar os discípulos de Jesus.

       As vezes é dentro do próprio lar, no ambiente de trabalho, no espaço acadêmico, na
vizinhança... que nos sentimos ameaçados. Sentimo-nos desautorizados, ridicularizados,
menosprezados por causa de nossa fé.

      Quando tentamos testemunhar o amor de Deus a algumas pessoas, sofremos uma
avalanche. Sentimo-nos soterrados numa montanha de descrença. Somos considerados
antiquados, pessoas muito ingênuas.

      Diante disso nos sentimos como a comunidade de Mateus: assustados, confusos,
desorientados, interrogando-nos se vale a pena continuar a remar contra a maré… Se vale a
pena continuar a pregar o evangelho às pessoas...

      É a todos nós, que Jesus diz: “não temais”. As palavras do SENHOR são de ânimo...
Não tenham medo de nada disso, pois eu estou com vocês. Faça o que eu mando porque é o
melhor a ser feito.

        Eu os salvei, os vocacionei, os preparei para a missão... e sou eu mesmo quem vou
livrá-los das perseguições. Por isso mesmo não sintam medo.

      Lembrem-se: Eis que estou convosco até a consumação dos séculos...

     Lembremo-nos meus amados irmãos e irmãs que aquele que nos vocacionou, nos dará
bom êxito na realização da missão.

      A Palavra de Deus não pode ser calada, escondida, escamoteada; mas tem de ser
pregada com intrepidez através de palavras, gestos e atitudes.

     É para isto que o SENHOR nos vocacionou... somos arautos desta mensagem... Palavra
de Deus.

      Portanto nos momentos mais difíceis da missão... lembremo-nos Ele está conosco.


                                                                  Rev. Paulo Dias Nogueira
                                                      IMCP – Culto Vespertino – 19/06//2005

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Não temais deus auxilia o missionário nos momentos de perseguição - 19 06 2005 - 5 dom após o pentecostes - culto matutino

  • 1. NÃO TEMAIS DEUS AUXILIA O MISSIONÁRIO NOS MOMENTOS DE PERSEGUIÇÃO INTRODUÇÃO: Queridos irmãos e irmãs... Segundo o Calendário Litúrgico hoje é o 12º Domingo do Tempo Comum e o 5º Domingo após o Pentecostes. O Lecionário nos propõe as seguintes leituras bíblicas para hoje: 1ª Leitura: Jr 20,10-13 2ª Leitura: Rm 5, 12-15 Evangelho: Mt 10,26-33 Através da leitura destes textos somos convidados a refletir sobre as dificuldades enfrentadas quando assumimos nosso posto de missionários de Jesus. Diante destas dificuldades, o que os textos nos ensinam é que Deus está sempre ao nosso lado, jamais nos abandona. Por isso não devemos ter medo... apenas confiança em Deus. A primeira leitura apresenta o exemplo de um profeta Jeremias. Ele é o paradigma do profeta sofredor. Daquele que sofreu perseguição, solidão, abandono... tudo isso por causa da Palavra; no entanto, ele não deixou de confiar em Deus e de anunciar – com coerência e fidelidade – as mensagens de Deus. Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projetos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto- suficiência gera morte. Na leitura do Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os adverte de que enfrentarão perseguições e incompreensões; mas acrescenta: “não temais”. Enquanto Igreja Metodista, nós nos compreendemos como uma “Comunidade Missionária a Serviço do Povo”. Consideramo-nos individualmente, como missionários e missionárias enviados por Jesus para o Campo Missionário. Assim como os discípulos, apontados no texto de Mateus, nós também somos enviados a proclamar o Reino, portanto sofreremos também as dificuldades e as perseguições que nos cabem. Portanto, convido-os neste instante a refletirmos sobre o texto bíblico proposto na leitura do Evangelho (Mateus 10,26-33). Ouçamos a leitura do texto sagrado.
  • 2. TEXTO: Mateus 10,26-33 26 Portanto, não os temais; pois nada há encoberto, que não venha a ser revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido. 27 O que vos digo às escuras, dizei -o a plena luz; e o que se vos diz ao ouvido, proclamai -o dos eirados. 28 Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo. 29 Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. 30 E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados. 31 Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais. 32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; 33 mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus. CONTEXTO: Durante o primeiro século muitos cristãos provindos do judaísmo continuavam freqüentando as Sinagogas. Na época em que o Evangelho de Mateus foi escrito, por volta dos anos 80 a 90dC estes cristãos/judeus ou judeus/cristãos começaram a ser perseguidos e expulsos das Sinagogas. Estamos falando portanto de judeus, perseguindo judeus-cristãos. Nesta mesma época o imperador romano era Domiciano. O primeiro dentre os imperadores de Roma a perseguir com tirania os cristãos. Segundo o historiador Justo Gonzáles, no seu livro A Era dos Mártires, Domiciano “parece ter sido o primeiro imperador a perceber que a nova fé representava uma ameaça às velhas tradições romanas”. (A Era dos Mártires, p. 59) A comunidade cristã pra qual Mateus escreve (possivelmente, a de Antioquia da Síria) é uma comunidade com grande compromisso missionário. É uma comunidade verdadeiramente empenhada em levar as Boas Novas de Jesus aos homens. No entanto, estes missionários conviviam no seu dia a dia com muitas dificuldades e perseguições. Isto estava levando-os a um certo desânimo e uma certa frustração. Eles não sabiam que caminho percorrer, estavam perturbados e confusos.
  • 3. É neste contexto que Mateus compõe uma espécie de “manual do missionário cristão”. Para mostrar que a atividade missionária é um imperativo da vida cristã, Mateus apresenta a missão dos discípulos como a continuação da missão de Cristo. Este texto maior, onde nosso texto se insere, é conhecido como “discurso da missão”. Nele Jesus define os conteúdos do anúncio e as atitudes fundamentais que os missionários devem assumir, enquanto testemunhas do “Reino”. Ensina-os a como enfrentar os momentos difíceis e as perseguições. MENSAGEM A mensagem central do texto que fizemos a leitura é: “não temais”. Em apenas oito versículos ela aparece três vezes. Só por curiosidade, saiba que esta é uma expressão que aparece 366 vezes na Bíblia. Podemos usar uma para cada dia do ano, inclusive no ano bissexto. O que vemos neste texto é um convite à superação do medo. Para expor essa idéia Mateus vai fazer três apontamentos, apresentando ditos de Jesus: No primeiro apontamento (vers. 26.27), Jesus pede aos discípulos que não deixem o medo impedir a proclamação pública da Boa Nova. A mensagem de Jesus não pode correr o risco de ficar – por causa do medo – restrita a um pequeno grupo, que por comunidade ou covardia se tranca nas quatro paredes. O desafio de Jesus é que esta mensagem seja proclamada com coragem, com convicção, com coerência, de cima dos telhados, a fim de mudar o mundo e tornar-se uma mensagem de salvação. No segundo apontamento (vers. 28), Jesus recomenda aos discípulos que não se deixem vencer pelo medo da morte física. O que é decisivo, para o discípulo, não é que os perseguidores o possam eliminar fisicamente; mas o que é decisivo, para o discípulo, é perder a possibilidade de chegar à vida plena, à vida eterna… Enquanto preparava o sermão, recebi um e-mail da “Missão Portas Abertas”. A primeira notícia do e-mail era esta: O coronel do exercito iraniano Hamid Pourmand, que também era pastor de uma congregação da Assembléia de Deus na cidade de Bandar-i Bushehr, foi preso em setembro do ano passado, enquanto participava de uma conferência de igrejas perto de Teerã, acusado de proselitismo e de apostasia por ter se convertido ao cristianismo. A punição para esses crimes no Irã é a pena de morte.
  • 4. As vezes pensamos que a perseguição aos cristãos seja coisa do passado, mas o que vemos é que há muitos irmãos e irmãs sofrendo por amor ao evangelho. Pessoas colocando suas vidas em risco por pregarem a fé que experimentaram. Mesmo vivendo num ambiente hostil ao evangelho este coronel/pastor (iraniano) não se intimidou. Mesmo sabendo da lei de seu povo, ele pregava a Palavra de Deus. Gostaria que outras pessoas experimentassem a mesma salvação que ele experimentou. Um texto que me vem à mente é o de Apocalipse que diz: “Sê fiel até à morte e te darei a coroa da vida”. Ou mesmo as palavras do apóstolo Paulo: “Se vivemos, para o SENHOR vivemos; se morremos, para o SENHOR morremos; queira vivamos ou morramos somos do SENHOR” No terceiro apontamento (vers. 29-31), Jesus convida os discípulos a confiarem plenamente em Deus. Para ilustrar a ação de Deus, Mateus recorre a duas figuras de linguagem: a dos pássaros de que Deus cuida e a dos cabelos que Deus conta. Deus é apresentado como um “Pai”, cheio de amor e de ternura, sempre preocupado em cuidar dos seus “filhos”, em entendê-los e em protegê-los. A certeza de ser filho de Deus é, sem dúvida, algo que alimenta a capacidade do discípulo em empenhar-se – sem medo, sem prevenções, sem preconceitos, sem condições – na missão. ILUSTRAÇÃO Lembro-me quando criança... tinha medo do escuro... as vezes estava assistindo televisão no quarto dos meus pais e dava vontade de ir ao banheiro... só que ele ficava do outro lado da casa... tinha que atravessar um corredor escuro... Quando falava para o meu pai estava com medo ele dizia: “pode ir que eu estou te olhando”... Isso era o suficiente para eu encontrar forças para vencer o medo. O Meu pai estava me olhando, por isso não precisava ficar com medo. Nada – nem as dificuldades, nem as perseguições – conseguem calar o discípulo que confia no cuidado e no amor de Deus Pai. As últimas palavras deste texto (vers. 32-33) contêm uma séria advertência de Jesus: atitude do discípulo diante da perseguição condicionará o seu destino último… Aqueles que se mantiveram fiéis a Deus e aos seus projetos e que testemunharam sem medo a Palavra encontrarão vida eterna; mas aqueles que procuraram proteger-se, acomodar-se numa vida morna, sem riscos, sem desafios, e também sem coerência, terão recusado a vida eterna: esses não poderão fazer parte da comunidade cristã.
  • 5. APLICAÇÃO PASTORAL Das várias lições que podemos tirar deste texto, gostaria de destacar o fato de que como cristãos, se desejamos viver coerentemente os desafios da missão, sofreremos perseguições. Ainda que nem todas as formas de perseguições sejam parecidas com as de Domiciano (no 1º séc) ou do Irã (no séc XXI).. Podemos dizer que em muitos lugares se inventou formas menos sangrentas, mas certamente mais refinadas do que as de Domiciano ou do Irã para calar os discípulos de Jesus. As vezes é dentro do próprio lar, no ambiente de trabalho, no espaço acadêmico, na vizinhança... que nos sentimos ameaçados. Sentimo-nos desautorizados, ridicularizados, menosprezados por causa de nossa fé. Quando tentamos testemunhar o amor de Deus a algumas pessoas, sofremos uma avalanche. Sentimo-nos soterrados numa montanha de descrença. Somos considerados antiquados, pessoas muito ingênuas. Diante disso nos sentimos como a comunidade de Mateus: assustados, confusos, desorientados, interrogando-nos se vale a pena continuar a remar contra a maré… Se vale a pena continuar a pregar o evangelho às pessoas... É a todos nós, que Jesus diz: “não temais”. As palavras do SENHOR são de ânimo... Não tenham medo de nada disso, pois eu estou com vocês. Faça o que eu mando porque é o melhor a ser feito. Eu os salvei, os vocacionei, os preparei para a missão... e sou eu mesmo quem vou livrá-los das perseguições. Por isso mesmo não sintam medo. Lembrem-se: Eis que estou convosco até a consumação dos séculos... Lembremo-nos meus amados irmãos e irmãs que aquele que nos vocacionou, nos dará bom êxito na realização da missão. A Palavra de Deus não pode ser calada, escondida, escamoteada; mas tem de ser pregada com intrepidez através de palavras, gestos e atitudes. É para isto que o SENHOR nos vocacionou... somos arautos desta mensagem... Palavra de Deus. Portanto nos momentos mais difíceis da missão... lembremo-nos Ele está conosco. Rev. Paulo Dias Nogueira IMCP – Culto Vespertino – 19/06//2005