1. h t t p : / / b i o c i e n c i a o n l i n e . w i x . c o m / b i o c i e n c i a o n l i n e
Cultivo de Plantas
Medicinais
Marcelo Rigotti
2015
Biocienciaonline
Unidade 1.
Boas práticas de cultivo de plantas
medicinais
2. Curso Online - Cultivo de Plantas Medicinais
Boas práticas de cultivo de plantas medicinais 1
Cultivo de Plantas Medicinais
Unidade 1. Boas práticas de cultivo de plantas
medicinais
1.1. Histórico da Agroecologia
1.2. Bases e fundamentos da Agroecologia
1.3. Objetivos da Agricultura Orgânica
1.4. Diferenças entre plantas medicinais cultivadas e colhidas em seu habitat
1.5. Preferência pelo mercado de plantas medicinais
1.6. A importância da produção correta das plantas medicinais
1.7. Princípios climatológicos que influem no cultivo das plantas medicinais
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Boas práticas de cultivo de plantas medicinais 2
1. Boas práticas de cultivo de plantas
medicinais
1.1. Histórico da Agroecologia
A Agroecologia apareceu no inicio dos anos 70, mas como pratica é empregada desde
quando o homem interferiu nos ecossistemas naturais, modificando-os a partir da
domesticação de espécies vegetais e animais (perto de 10.000 anos a.C.). Este processo
foi acompanhado pela consolidação de culturas que apareceram com o desenvolvimento
da tecnologia na agricultura, que concretizaram a primeira revolução agrícola como tal.
Porém houve um distanciamento do homem em relação à natureza, que passou a atuar
de forma degradante sobre os recursos naturais, com o passar do tempo foi-se
desenvolvendo o pensamento cientifico que colocou em dúvida a relação de degradação
que o homem mantinha com a natureza.
A revolução agrícola, baseada no progresso científico da agricultura mediante o
desenvolvimento de variedades melhoradas, aplicação de fertilizantes e agrotóxicos,
rompeu com os processos tecnológicos anteriores que foram consolidados durante
muito tempo mediante a experimentação no campo pelos agricultores através de êxitos e
erros. Esta revolução trouxe a deterioração dos meios de comunicação e transmissão das
praticas agrícolas, assim como a transformação de muitas sociedades rurais e seus
sistemas de produção como resultado de sua desestruturação social e tecnológica. Estas
técnicas antiecológicas no espaço sócio produtivo deterioraram mais ainda a relação da
sociedade com a natureza, aumentando a sua imagem destrutiva em relação à natureza.
Os aspectos mais relevantes desta revolução agrícola que continua ate a atualidade
estabelecem:
• Supressão da vegetação natural mediante o sistema contínuo de cultivo da terra.
• Expansão de novos cultivos de variedades melhoradas (híbridos).
• Melhoramento do preparo da área mediante a mecanização e substituição da
tração animal.
• Importação de técnicas de cultivo geradas no hemisfério norte.
• Introdução de insumos químicos estranhos aos ecossistemas (fertilizantes,
inseticidas, fungicidas e herbicidas).
Este processo causou a redução drástica da biodiversidade, deterioração constante das
bases de produção, geração de resíduos de contaminantes nas cadeias alimentícias,
limitando as possibilidades de auto-suficiência alimentar de nossos povos.
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Eis que surge o redescobrimento da Agroecologia, com a oportunidade de se opor a
estes sistemas de produção de degradação, inserindo uma nova concepção de agricultura
e em alguns casos melhorando, a partir de um novo esquema frente à realidade concreta
em que se desenvolvem estes sistemas de produção.
1.2. Bases e fundamentos da Agroecologia
A Agroecologia é uma forma de agricultura ligada às ciências biológicas e sociais,
centrada na sustentabilidade de seus sistemas de produção. Um dos principais pilares da
Agroecologia é a variabilidade de produtos não se prendendo em monoculturas. Nesse
sentido entendemos que a Agroecologia é o estudo dos agroecossistemas considerados
como o resultado de um processo coevolutivo entre a sociedade e a natureza. A
Agroecologia oferece um fundamento teórico, que implica que:
Os agroecossistemas possuem um potencial agrícola sustentável, e este potencial tem
sido estabelecido a partir da transmissão do conhecimento. Estes agroecossistemas têm
evoluído de maneira que a sustentação do componente social depende da manutenção da
natureza. A conservação e estabilidade destes agroecossistemas estão abertos a outros
conhecimentos.
1.3. Objetivos da Agricultura Orgânica
O manejo orgânico é um sistema de produção desenvolvido que evita o uso de
praguicidas, fertilizantes químicos e qualquer outro produto de origem sintético. Se
apóia em praticas como a rotação de cultivos, utilização de resíduos de colheita, esterco
de animais, resíduos orgânicos, adubos verdes, compostagem, controle biológico, etc.
Os benefícios emanados das praticas agroecológicas se concretizam através de una
serie de tecnologias de baixo custo e mínimo impacto ambiental. Estas premissas gerais
se expressam em objetivos concretos de caráter cultural, social e econômico que guiam
a ação agroecológica até uma dimensão eco política. São esses os objetivos:
• Produzir alimentos e produtos vegetais de alta qualidade em quantidade
suficiente.
• Fomentar e intensificar os ciclos bióticos dentro do sistema agrícola que
compreendem os microorganismos, a flora e a fauna do solo, as plantas e os animais.
• Aproveitar racionalmente os recursos locais reduzindo ao mínimo a dependência
de fatores externos.
• Operar na forma de um “sistema fechado”, no que se refere a utilização de
matéria orgânica e nutrientes minerais para garantir a sustentabilidade.
• Evitar todas as formas de contaminação que possam resultar das técnicas
agrícolas.
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Boas práticas de cultivo de plantas medicinais 4
• Manter a diversidade genética do sistema agrícola e de seu entorno incluindo a
proteção de habitat de plantas e animais silvestres.
• Garantir a segurança alimentar e a saúde das famílias agro produtoras.
• Garantir uma gestão econômica rentável e independente da unidade agro
produtiva.
• Gerar fontes de trabalho que incrementem a qualidade de vida do meio rural.
• Fomentar modelos alternos de organização entre produtores e consumidores.
• Incrementar os níveis de auto-suficiência alimentar a escala regional.
• Revalorizar o conhecimento da agricultura tradicional e indígena através do
resgate da agro-tecnologia tradicional.
• Conservar a biodiversidade genética local, assim como as variedades
tradicionais de cultivos.
1.4. Diferenças entre plantas medicinais cultivadas e colhidas
em seu habitat
A colheita de espécies nativas em seu habitat é melhor porque mantém o uso de plantas
nativas por populações humanas locais e incentiva a proteção e manutenção de
populações nativas e seu habitat e a diversidade genética de populações de plantas. Em
contrapartida a colheita descontrolada pode conduzir à extinção do ecótipo e mesmo da
espécie. O acesso comum ao recurso torna difícil o controle da retirada das plantas de
seu habitat. Na maioria dos casos as informações sobre a biologia dos recursos naturais
é carente e os rendimentos em produtividades anuais não são conhecidos. As plantas
colhidas podem não ser conhecidas ou catalogadas.
O beneficio do cultivo alivia a pressão sobre as espécies raras e de crescimento lento, as
quais são as mais suscetíveis à ameaça de extinção. Em contrapartida desvaloriza os
recursos da planta e seu habitat economicamente e reduz o incentivo para conservar o
ecossistema. Estreita a diversidade genética do pool de genes da planta porque os
parentes selvagens de espécies cultivadas se tornam negligenciados. Pode conduzir a
conversão do habitat para o cultivo. A espécie cultivada pode tornar-se invasiva e ter
impactos negativos no ecossistema. A reintrodução de plantas pode conduzir a poluição
genética de populações nativas.
1.5. Preferência pelo mercado de plantas medicinais
A cadeia de comercialização seja industrial ou informal preferem plantas colhidas em
seu habitat porque são mais baratas e por que não requerem infra-estrutura e
investimento. Muitas espécies são solicitadas em pequenas quantidades, o que não torna
o cultivo economicamente viável. Nem todas as partes da planta em grandes áreas de
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cultivo são utilizadas (por exemplo: produção de flores de calêndula). As técnicas de
cultivo nem sempre são bem sucedidas ou não existem, por exemplo: uma planta se
desenvolve melhor no seu habitat do que em cultivo. Nenhum tipo de pesticida é usado.
Acredita-se que as plantas nativas são mais ricas em compostos ativos. Em
contrapartida há o risco de adulteração e o risco de contaminações com a colheita não
higiênica ou em relação à qualidade das plantas após a colheita.
Preferem material cultivado porque garante a fonte continua do material vegetal. Torna
confiável a identificação botânica. Os genótipos podem ser padronizados ou
melhorados. Os padrões de qualidade são fáceis de serem mantidos. A pós-colheita
pode ser controlada mais facilmente. O volume e o preço da produção podem ser
mantidos por um período de tempo maior. O preço do recurso excedente é relativamente
estável. A certificação como produção orgânica é possível. Em contrapartida o cultivo é
mais dispendioso do que a colheita no habitat natural. Necessita de investimento
substancial antes e durante a produção.
Em relação às comunidades é melhor a colheita selvagem porque fornece o acesso à
renda sem o investimento prévio. Fornece ervas medicinas para necessidades básicas no
cuidado a saúde. Mantém os recursos para as populações rurais por longo período (se
for feito sustentavelmente). Em contrapartida a reivindicação pelas áreas de extração
cria problemas de posse. Este recurso pode se tornar escasso com o passar do tempo até
a sua total extinção. O cultivo pode se tornar interessante porque fixa a fonte constante
de ervas medicinas. Favorece a valorização da área, mas em contrapartida o
investimento para os pequenos produtores é elevado. A competição pela produção em
grande escala aplica uma pressão sobre os pequenos produtores e sobre a extração
selvagem. Os benefícios são alocados para outra parte e os usuários tradicionais do
recurso não têm nenhum retorno do benefício.
1.6. A importância da produção correta das plantas
medicinais
Um dos aspectos mais importantes na produção de plantas medicinais é o de alcançar
altos rendimentos de material vegetal e elevados conteúdos de princípios ativos. Isto
depende tanto de fatores internos da planta como aqueles relacionados com o adequado
crescimento da espécie em questão, principalmente em relação as condições climáticas,
pois como seres vivos que são, as plantas estão em constante interação com o meio que
as rodeia. Essencialmente o clima influi em um momento determinado no seu
crescimento e desenvolvimento e em especial na produção de seus metabólitos
secundários.
É necessário que o manejo da cultura se baseie em princípios agrícolas baseados em
rotações e policultivos e também que se realize a colheita no momento apropriado em
relação aos requerimentos climatológicos.
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Um rendimento significativo dos cultivos com pouco investimento de capital pode dar
certo quando se cumpre o plantio na época correta e se utilizem adequadas densidades e
espaçamentos.
De acordo com a época, seu manejo depende tanto de fatores climáticos, como
fisiológicos da planta; determinadas variações de temperatura, luz e precipitações
influenciam diretamente na germinação, crescimento e desenvolvimento das plantas, e
estes fatores não se comportam por igual para todas, nem durante todo seu ciclo de vida.
De acordo com as condições climáticas em cada lugar o desenvolvimento das plantas
pode variar, por exemplo, Matricaria recutita L. (camomila), Calendula officinalis L.
(calêndula), Mentha piperita L. (hortelã pimenta) entre outras, demandam época
específica de plantio, porque requerem determinadas condições climáticas (mais baixas
temperaturas e intensidade solar), no entanto numerosas espécies tem outras exigências
e devem ser plantadas na primavera (março-abril) porque suas folhas caem no inverno e
alcançam a maturidade necessária para serem coletadas. Como exemplos podem citar:
Passiflora incarnata L. (maracujá), Zingiber officinale Roscoe (gengibre), etc. e muitas
podem ser cultivardas durante todo o ano como a Lippia alba (Mill.) N. E. Burn (erva-
cidreira), Piper auritum Kunth (anís), Plecthranthus amboinicus (Lour.) Spreng (hortelã
gorda).
A determinação da densidade de cultivo desempenha um papel importante em seu
comportamento vegetativo, ou seja, deve ser levada em consideração, a altura da planta;
a planta é herbácea ou arbustiva; sua forma de crescimento é ereta, rasteira ou muito
ramificada e também a parte da planta que se vai colher; alem do aproveitamento da
energia luminosa que é captada pelas folhas quando o espaço entre as plantas está
totalmente coberto.
Os sistemas de produção como: rotação de culturas e policultivos são práticas com um
papel decisivo na produção das plantas pelos benefícios que trazem ao influir sobre o
solo e suas propriedades e quando se combinam cultivos que se estimulem mutuamente
ou que ao menos não causem dificuldades entre si. Os policultivos estão associados a
exploração mais completa pelas plantas o que traz menor emprego dos recursos se
fossem plantadas sozinhas. Entre os maiores benefícios está a utilização eficiente dos
recursos solo, água, luz e nutrientes pela variedade do sistema radicular e hábitos de
crescimento das plantas que se cultivam, o que origina o máximo aproveitamento da
energia luminosa e de todas as camadas do solo, enquanto a água e nutrientes tem suas
perdas reduzidas e sua reciclagem melhorada. Desta forma as plantas cultivadas em
relação às suas características biológicas e fisiológicas produzem diversas melhorias
como adubar o solo, manter a umidade ou evitar a erosão.
Vantagens da consorciação de espécies:
a) Cultivos com diferentes tipos de raízes, com associações de cultivo compostos
por espécies com sistemas radiculares diferentes ou complementares, pode-se explorar
maior volume do solo e também captar mais nutrientes ao estar continuamente
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disponíveis e igualmente ter maior acesso a nutrientes relativamente imóveis como o
fósforo.
Nas espécies de raiz fasciculadas, as plantas fazem uso fundamentalmente dos
horizontes superiores do solo, as mesmas tendem a manter unidas as partículas do solo
promovendo uma boa estrutura que os protege da erosão como o fazem as poaceas,
entre elas Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. (capim cidreira). Enquanto as espécies de
raiz pivotante, que possui pelos absorventes que se encontram nos horizontes inferiores
do solo, tomam a água e os nutrientes nestes níveis, maximizando seu fluxo até a parte
superior, é o caso das apiáceas como Foeniculum vulgare Mill. (funcho), as
leguminosas como Cajanus cajan L. (guandu) e também as árvores cujas raízes podem
alcançar grandes profundidades.
b) Cultivos com diferentes requerimentos de luz, muitas plantas tem necessidades
especiais de estarem expostas a luz solar ou não; a complementação fisiológica pode
manifestar-se empregando nas associações espécies que se adaptem aos ambientes bem
ensolarados como Aloe vera (L.) N. L. Burm. (babosa), Ocimum tenuiflorun L.
(alfavaca), com as que necessitam condições mais sombreadas como Eryngium foetidum
L. (coentro), Zingiber officinale Roscoe (gengibre), entre outras, que promovem um
melhor aproveitamento da luz.
c) Cultivos com diferentes requerimentos de umidade, para o melhor
aproveitamento da água (disponibilidade superficial e subterrânea) se devem associar
aquelas que têm grandes necessidades de umidade como Mentha spicata L. (hortelã),
com as que necessitam umidade moderada como Plantago major L. (tanchagem) e com
as tolerantes a seca como Rosmarinus officinalis L. (alecrim) e Thymus vulgaris L.
(tomilho).
d) Cultivos com diferentes exigências quanto a matéria orgânica, algumas espécies
por suas exigências podem ser consideradas como esgotantes dos recursos do solo
porque necessitam de muito nutriente para seu crescimento, o que reafirma a
necessidade do emprego de rotações para não empobrecer o solo, entre elas se
encontram Origanum majorana L. (manjerona), Calendula officinalis L. (calêndula),
entre as menos exigentes a Matricaria recutita L. (camomila), Melissa officinalis L.
(melissa).
O manejo da cultura é um aspecto de grande importância no caso das plantas medicinais
em relação tanto ao órgão a coletar, como a uma serie de fatores que vão influir sobre as
porcentagens dos princípios ativos. Aspectos como o momento da colheita (idade,
estado de desenvolvimento, etc.) e também os fatores climáticos, que em muitos casos
vão determinar a época do ano e hora do dia para realizá-la.
No que se refere à idade das plantas, no caso de Plecthranthus amboinicus (Lour.)
Spreng (hortelã gorda) espécie em que são feitas várias coletas de suas folhas, se
determinou que a primeira coleta se realize entre 5-6 meses de idade onde apresenta
maior proporção de folhas e talos com alto conteúdo de óleo essencial. Em A. vera
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(babosa) se inicia a colheita de suas 5-6 folhas inferiores a partir dos 24 meses de idade
que é quando apresenta a maior concentração de polissacarídeos.
Com relação ao estado de desenvolvimento, foi comprovado que em Matricaria recutita
L. (camomila) se colhem as flores quando as pétalas estão totalmente despregadas,
estado considerado de ótimo desenvolvimento, pois quando estão em forma de botões
ou na maturidade (apresentam as pétalas para baixo) os conteúdos do óleo essencial e de
seu principal componente (alfa bisabolol) são mais baixos.
Relativo à época do ano e a hora do dia se pode dizer, por exemplo, que em Brugmansia
candida Pers. (campainha) as folhas coletadas na época de inverno eram mais ricas em
alcalóides tropânicos que aquelas coletadas no verão e igualmente se coletadas em horas
da manhã em comparação com as horas da tarde. O mesmo ocorre com Matricaria
recutita L. (camomila) cujos estudos demonstraram que nas flores coletadas entre 9:00 e
11:00 horas da manhã eram maiores as porcentagens de óleo essencial em comparação
com as coletadas no período da tarde; em ambos os casos ocorreu influencia da
temperatura e da luz.
1.7. Princípios climatológicos que influem no cultivo das
plantas medicinais
No complexo ambiental onde crescem as plantas, o clima exerce grande influencia em
relação aos princípios ativos. A luz, temperatura e precipitações fundamentalmente têm
um efeito marcante sobre sua presença nas plantas; assim como a velocidade do vento,
fator pouco estudado experimentalmente é determinante. Em muitos casos se sabe que
pela ação do vento, ocorre aumento da evaporação de óleos essenciais, e ainda no caso
dos alcalóides tropânicos o aumento da transpiração nas plantas faz com que seja maior
o conteúdo de líquido que sobe das raízes para as folhas. Não ficou comprovado que
através deste caminho se aumente o conteúdo nas folhas nas espécies produtoras destes
alcalóides.
A luz é possivelmente o fator mais significativo e está muito relacionado com a
temperatura e varia com a estação do ano e a hora do dia; é menor no outono e inverno
por causa da inclinação dos raios solares e pelo grau de nebulosidade alto e mais intenso
em horas do meio-dia devido à elevação angular maior em relação ao sol. A luz
favorece o crescimento dos tecidos que na fase jovem é contínua, isto causa a
acumulação dos princípios ativos.
A temperatura também tem um importante papel na produção de metabolitos
secundários, pois tem influencia em grande parte no crescimento rápido e no equilíbrio
entre o processo de fotossíntese e respiração e, por conseguinte na produção dos
princípios ativos.
Com relação às precipitações, as mesmas podem causar modificações fundamentais
sobre os efeitos ecológicos de outros fatores, por exemplo, atua como regulador das
temperaturas. No caso das plantas cultivadas, a irrigação é também um elemento a ser
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considerado. As chuvas, também influenciam na distribuição geográfica da produção de
plantas, tornando muitas espécies limitadas em terras úmidas ou com água corrente,
lagunas e pântanos. A distribuição irregular nas estações do ano, divididas em seca e
chuvosa, em excesso ou em falta, afetam os princípios ativos seriamente.
Relativo à influência dos fatores climáticos em espécies produtoras de alcalóides, foi
verificado em Cuba, em Brugmansia candida que em plantações a sombra com
diminuição da luz em 33%, as porcentagens de alcalóide diminuíram significativamente
comparado com o cultivo ao sol. Também é feito referências para esta solanácea, que as
porcentagens caem quando a colheita é feita por vários dias sob calor forte.
Temperaturas muito altas ou muito baixas afetaram a porcentagem dos alcalóides. No
período precedente a colheita a temperatura tem grande importância, pois neste período
de tempo grande parte do material aproveitável é produzida e a temperatura média
mínima de 18°C (30 dias antes da colheita) resultaram no melhor para a colheita do
principio ativo.
Com relação às precipitações, foi pesquisado que em Datura ocorre a diminuição em
suas porcentagens de alcalóides depois de vários dias de chuva, quando as plantas
crescem sob condições de seca os conteúdos de alcalóides diminuem, porque a falta de
água provoca a excreção de alcalóides pelas folhas além de sais minerais pela epiderme.
Estas substâncias excretadas podem ser lavadas mais tarde das folhas pela chuva, o que
explicaria o baixo conteúdo destas nas folhas depois ou em dias chuvosos seguidos por
uma seca. Em B. candida cultivado em Cuba foi determinado em um estudo quantitativo
a influência das precipitações e foi verificado que o excesso ou a escassez de chuva
fazem com que diminuam as porcentagens de alcalóides e que a soma das precipitações
de aproximadamente 240 mm, nos 30 dias antes da colheita era o apropriado.
Em seminário na universidade de Talca, Chile, em 1996 foi comentado sobre a
influência da temperatura nas espécies produtoras de glicosidios. Foi notificado que em
espécies de Digitalis purpurea as temperaturas altas e intensidade luminosa favorecem a
concentração de alcalóides, desde que era encontrado o conteúdo máximo deste
princípio ativo quando a colheita era feita no período da tarde e mínimo quando pela
manhã.
No que se refere a influencia que exercem nas espécies produtoras de óleo essencial, as
respostas são muito variadas; as altas temperaturas de maneira geral aumentam sua
volatilização, além do mais podem ocorrer variações tanto nas porcentagens de óleo
como nos seus componentes, citando-se que em Mentha piperita L. (hortelã pimenta),
por exemplo, o cultivo a sombra e com temperaturas altas afetaram tanto as
porcentagens do óleo como sua qualidade ao apresentar menor conteúdo de mentol e
maior de mentona.
Em relação às precipitações, se explica que as abundante ou insuficientes chuvas são
desvantajosas para o conteudo de óleo essencial, o que foi comprovado em M. piperita
L. e em Origanum majorana L. (manjerona); tambem se avaliou que as abundantes
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precipitações incrementaram as porcentagens nos frutos de Coriandrum sativum L.
(coentro) e nas raízes de Valeriana officinalis L. (valeriana).
Finalmente pode se argumentar como alguns princípios agro climáticos são básicos na
produção de plantas medicinais e que o rendimento dos cultivos é influenciado pelo
manejo do cultivo (tanto sua capacidade de adaptação, as técnicas e métodos culturais e
os sistemas de produção agrícola) e do meio, fundamentalmente o clima, onde o mesmo
vai se desenvolver.