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Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 1
Unidade 1.
Introdução
1.1. O que é Fitoterapia?
1.2. História e surgimento da Fitoterapia;
1.3. Fitoterapia como medicina alternativa;
1.4. Etnobotânica.
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 2
1.1. O que é Fitoterapia?
A palavra Fitoterapia é formada por dois radicais gregos: fito vem de
phyton, que significa planta, e terapia vem de therapia, que significa
tratamento. Ou seja, tratamento utilizando plantas medicinais.
A Fitoterapia foi criada para designar tradições populares de tratamento,
nas quais as plantas medicinais são usadas como medicamento. O uso
terapêutico de plantas medicinais ficou restrito à abordagem leiga desde o
salto tecnológico da indústria farmacêutica ocorrido nas décadas de 50 e
60.
Recentemente, as plantas medicinais consideradas medicamentos de
segunda categoria, voltaram a ser usadas com a comprovação de ações
farmacológicas relevantes e de uma excelente relação de custo-benefício.
A Alemanha foi o país que investiu primeiro e saiu na frente nesse campo.
Pesquisadores dessa área concluíram ser importante sistematizar e
estudar as tradições populares do uso de plantas medicinais, como forma
de ter uma estratégia para investigação e comprovação farmacológica.
No Brasil, entretanto a Fitoterapia não é reconhecida, apesar do número
expressivo de pesquisas com plantas.
A etnofarmacologia (estudo da farmacologia popular de um determinado
grupo cultural) tem ganhado importância cada vez maior para o
desenvolvimento de novos medicamentos à base de plantas medicinais.
As plantas medicinais têm sido um importante recurso terapêutico desde
os primórdios da antiguidade até nossos dias. No passado, representavam
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 3
a principal forma de cura conhecida. Em todos os registros sobre médicos
famosos da antigüidade, tais como Hipócrates, Avicena e Paracelcius, as
plantas medicinais ocupavam lugar de destaque em sua prática.
A partir das plantas descritas e usadas pelo conhecimento popular, foram
descobertos diversos medicamentos usados até hoje pela medicina. Os
salicilatos, por exemplo, foram descobertos através de estudos no
Salgueiro Branco (Salix alba), que era usado pelos índios norte-
americanos no tratamento de dor e febre.
Já os digitálicos foram isolados da Dedaleira (Digitalis purpurea), usada
por curandeiros europeus no tratamento de edemas.
O reino vegetal, além de ser o maior reservatório de moléculas orgânicas
conhecido, é um poderoso laboratório de produção de substâncias
medicinais. Até hoje diversas moléculas com estrutura complexa
dependem de síntese biológica, pois a produção em laboratório não pode
ser feita ou é economicamente inviável, como é o caso dos digitálicos, da
pilocarpina ou dos esteróides. Por isso as plantas medicinais são usadas
até hoje como matéria-prima para a fabricação de medicamentos.
O uso terapêutico de plantas medicinais é dos traços mais característicos
da espécie humana. É tão antigo quanto o Homo sapiens, e encontrado
em praticamente todas as civilizações ou grupos culturais conhecidos.
A Fitoterapia praticada no Brasil é originária de várias tradições diferentes,
criando um sistema heterogêneo de uso das plantas medicinais.
A Fitoterapia é uma terapia que utiliza material vegetal processado ou
bruto. Existem várias subdisciplinas envolvidas: a identificação botânica
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 4
das plantas utilizadas; o conhecimento agrícola para o cultivo da droga
vegetal; a fitoquímica a extração e a elucidação estrutural de substâncias
ativas; a farmacologia para o modo de ação das substâncias ativas e os
testes finais para o uso clínico do produto.
1.2. História e surgimento da Fitoterapia
Fitoterapia corresponde hoje à "Matéria Médica" que foi um compêndio
utilizado no passado. Antes da introdução da química sintética, todos os
remédios eram produtos naturais, e esses “medicamentos” foram
incluídos nas diferentes farmacopéias.
A diferença entre a moderna e a velha Fitoterapia é que hoje em dia a
extração da droga bruta pode ser padronizada para certo conteúdo de
princípios ativos, para assim, garantir a dosagem correta e que seja
possível de ser reproduzida.
O termo Fitoterapia foi usado pela primeira pelo médico francês Leclerc e
o conceito foi aprimorado por Weiss, na Alemanha.
Através de experimentos, a sabedoria popular passou para os
descendentes e através do cultivo das plantas foi possível passar esse
conhecimento por várias gerações sem perder as suas características.
História
O uso medicinal dos produtos naturais tem sido relatado entre os
sumérios há aproximadamente 4.000 anos a.C., que utilizava, entre outros
produtos o ópio. Na China, o ginseng, ruibarbo e Ma-Huang (Ephedra)
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 5
têm sido utilizados por pelo menos 5.000 anos. Os egípcios também
tinham um bom conhecimento dos medicamentos naturais.
O "Papiro de Ebers", datado de cerca de 1550 a.C., menciona dentre
outras plantas a Aloe e Myrrha. Hipócrates (460-377 a.C.), conhecido
como o pai da medicina, foi o mais brilhante dos médicos gregos e usou
um grande número de plantas como remédio. Os gregos dominaram a
tecnologia dos medicamentos durante o período romano. Durante
primeiro século d.C., Dioscórides descreveu em sua obra "The Materia
Medica" cerca de 500 plantas medicinais: sua origem botânica, produção
e utilização. Este livro e as obras do médico Galenos (século II d.C.), que
utilizou várias centenas de plantas medicinais, perdurou até a Idade
Média, quando o conhecimento da plantas medicinais passou a ser
preservado pelos árabes e pelos monges cristãos, que cultivavam
especiarias e plantas medicinais nos jardins dos mosteiros.
As plantas medicinais foram descritas em "Kräuterbücher", L. Fuchs, no
século 16, e foi importante na conservação deste valioso conhecimento.
Em 1803 o farmacêutico alemão Sertürner conseguiu o isolamento da
morfina do ópio. Este evento iniciou uma nova época, com foco no
isolamento e caracterização de substâncias farmacologicamente ativas das
plantas medicinais.
Com o advento da química orgânica sintética, o interesse pelo uso de
plantas medicinais declinou na medicina ocidental durante grande parte
do século 20. Nas últimas décadas houve um crescente interesse em
produtos naturais, em parte devido a uma suspeita sobre a segurança dos
sintéticos, os remédios não naturais. No entanto, ambos devem ser
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 6
usados, às vezes juntos, na medicina convencional, ou na medicina
complementar ou alternativa.
A sabedoria popular no uso das plantas impulsionou o seu consumo por
todos os grupos sociais durante séculos. Foram encontrados indícios da
utilização das plantas em todas as civilizações estudadas. O princípio de
todo conhecimento está espalhado pelos vários berços da civilização tais
como europeu de onde surgiu a melissa (Melissa officinalis), da África
apareceu a arruda (Ruta graveolens), dos índios brasileiros surgiu a
caapeba (Piper umbellatum) e da Ásia o gengibre (Zingiber officinale).
1.3. Fitoterapia como medicina alternativa
Hoje, aproximadamente 40% dos remédios farmacêuticos disponíveis vem
de plantas. A aplicação de tratamentos a base de ervas têm se tornado
comum e enfoca mais na capacidade do corpo em se auto curar, o que se
opõe ao combate apenas ao sintoma específico dos remédios
farmacêuticos.
Ainda que o uso de ervas medicinais seja comum, não é massivamente
utilizada pela população, nem é aceito pela comunidade científica. Muitas
pessoas estão se voltando para remédios a base de ervas para evitar o
lado nocivo dos remédios farmacêuticos, quando eles falham no seu
processo de cura ou quando a indústria médica não tem tratamento para
a doença.
Em um estudo feito pelo Centro Nacional de Estatísticas da Saúde (Estados
Unidos), mortes em decorrência do uso de drogas farmacêuticas, ervas, e
vitaminas foram comparadas entre os anos 1981-1993. O estudo mostrou
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 7
que apenas uma pessoa morreu como um resultado direto de tomar
suplementos de vitaminas, entretanto, aproximadamente 100.000
pessoas morreram como um resultado direto do uso dos remédios
farmacêuticos. Nenhuma fatalidade ocorreu pelo uso de ervas. O estudo
foi baseado em incidentes onde em todos os três produtos mencionados,
os pacientes seguiram sua dosagem recomendada.
Geralmente, as pessoas são encorajadas a usar ervas como um
suplemento que ajuda a melhorar a saúde, em vez de utilizar quando
ficam doentes. Quando alguém é atacado por uma doença geralmente usa
os remédios farmacêuticos, que trata apenas o sintoma em vez de atacar
a fonte da doença. Muitas ervas podem ser utilizadas juntas com os
remédios farmacêuticos. Uma erva pode atuar no corpo de várias formas:
pode limpar o corpo de impurezas ou de uma doença, pode reconstruir o
sistema imunológico, ou pode fortalecer um órgão afetado.
As plantas podem ser usadas isoladamente para combater um ou mais
destes problemas, e ervas específicas são utilizadas para doenças
específicas embora exista freqüentemente mais que uma erva que pode
auxiliar no tratamento de uma doença.
Algumas plantas são utilizadas na formulação de loções, shampus, e
cremes. Outras ervas são recomendadas internamente na formulação de
pílulas, tinturas, infusões, decocção, ou crus. Uma infusão, ou chá, é uma
fórmula em que a parte medicinal de uma erva são mergulhadas em água
quente por dois a cinco minutos. Uma decocção é parecida com uma
infusão, entretanto, as raízes, caules, e outros materiais fibrosos são
fervidos por um período mais longo de tempo.
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 8
Nos rótulos da maioria dos produtos a base de ervas há uma dosagem
sugerida. O ideal seria você procurar um especialista para obter uma
recomendação eficiente.
1.4. Etnobotânica
A Etnobotânica é a ciência que investiga as relações entre as culturas e
usos de plantas, baseando-se, sobre a forma como as plantas são
utilizadas nas sociedades humanas (alimentos, medicamentos,
cosméticos, usos religiosos, tinturaria, têxteis, em construções, como
ferramentas, moeda, vestuário, na literatura, em rituais e na vida social).
Este campo é bastante amplo e abrange as plantas usadas na medicina
tradicional dos povos tribais, a história da agricultura, crenças
supersticiosas sobre as plantas, plantas que podem ser usados como
corantes, plantas utilizam como tecidos, entre outros usos.
O termo etnobotânica foi descrito em 1895 pelo botânico Harshberger.
No ano de 1542 o artista renascentista Leonhart Fuchs, escreveu a obra
“The History Stirpium” onde foram descritas 400 plantas nativas da
Áustria e Alemanha. John Ray (1686-1704) cunhou a primeira definição de
"espécie" em sua obra “History Plantarum”, onde definiu que uma
espécie é um conjunto de indivíduos que dão origem através da
reprodução de novos indivíduos semelhantes a si mesmos.
Em 1753 Carl Linnaeus escreveu “Species Plantarum”, que incluiu
informações sobre cerca de 5.900 plantas. Linnaeus inventou o método
binomial de nomenclatura, em que todas as espécies tinham um nome
com duas partes (gênero, espécie). No século 19 Alexander von Humboldt
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 9
coletou dados no novo mundo, e as viagens de James Cook, trouxeram
coleções e informações sobre plantas do Sul do Pacífico.
Edward Palmer recolheu artefatos e espécimes botânicos dos povos no
oeste norte-americano e México a partir de 1860 a 1890. Uma vez que
existiam dados suficientes, o campo da “Botânica aborígena” foi fundado,
era o estudo de todas as formas do mundo vegetal que povos indígenas
usavam como alimentos, medicamentos, tecidos, enfeites, etc.
Leopold Glueck medico alemão do final do século 19, teve publicada sua
obra onde descrevia os usos tradicionais medicinais de plantas por
comunidades rurais na Bósnia (1896) este foi considerado o primeiro
trabalho moderno na área da etnobotânica.
No início, os estudos etnobotânicos das espécies não eram muito
confiáveis, porque os botânicos e os antropólogos não trabalhavam
juntos. Os botânicos focavam na identificação das espécies e como as
plantas eram usadas em vez de incluir como as plantas se encaixavam na
vida das pessoas, por outro lado, os antropólogos estavam interessados
no papel cultural das plantas e não no aspecto científico. Sendo assim, os
primeiros dados etnobotânicos não incluíram os estudos das duas
ciências. No início do século XX, botânicos e antropólogos passaram a
colaborar entre si e então finalmente, a coleta de dados confiáveis e
detalhados começou a ser feita.
Hoje, o conhecimento da etnobotânica requer uma variedade de
habilidades: formação em botânica para a identificação e preservação de
espécies, formação antropológica para entender os conceitos culturais em
torno da percepção das plantas, formação linguística, pelo menos o
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 10
suficiente para transcrever termos locais e entender a morfologia nativa,
sintaxe e semântica.
Informações importantes sobre os usos tradicionais de plantas ainda
permanece preservados com as culturas nativas. Entretanto os nativos são
relutantes em compartilhar seus conhecimentos com precisão para os
estranhos, por desconfiança ou medo.
O uso da sabedoria popular na medicina ocorre em todas as comunidades
por todo o mundo (Smitherman et al. 2005). Como resultado da busca
continua para achar um tratamento para as doenças, que são especificas
em cada comunidade, tem sido desenvolvido uma extensa farmacopéia de
plantas medicinais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde
(O.M.S.) em torno de 80% das pessoas em todo mundo usam a medicina
tradicional nos primeiros cuidados na saúde. A medicina tradicional tem
atingido importância econômica rapidamente, em países em
desenvolvimento é certamente um dos meios de tratamento mais
acessíveis e até mesmo o único tratamento encontrado.
A demanda mundial por ervas medicinais esta crescendo e o mercado de
fitoterápicos em 1999 foi de 19,4 bilhões de dólares. Muitas drogas têm
entrado no mercado internacional através da exploração da medicina
popular. Estima-se que 25% das drogas prescritas contenham princípios
ativos derivados de plantas. É estimada a existência de aproximadamente
400.000 espécies de plantas vasculares em uso e em torno de um terço é
utilizado com propósitos medicinais.
Em torno de 122 compostos, 80% dos quais são usados com os mesmos
propósitos etnobotânicos, são derivados de 94 espécies de plantas.
Fitoterapia – Princípios e Práticas
Unidade 1. Introdução Página 11
Muitos ingredientes ativos têm sido descobertos de plantas baseadas em
informações etnofarmacológicas e patenteados como drogas.
Maprouneacina isolado da planta Maprounnea africana é utilizada como
anti-diabética, o taxol, obtido do Taxus breviflora, é usado como droga
anti-tumoral e a artemisinina, descoberta da Artemisia annua, é usada
como um potente composto anti-malarial.
Os métodos etnobotânicos incluem entrevistas com a comunidade em
questão sobre as plantas, partes das plantas utilizadas, formas de uso, etc.
Uma seleção é feita com as plantas de maior interesse para a
farmacobotânica, as plantas utilizadas na medicina tradicional são
selecionadas pela população porque são efetivas contra uma determinada
doença.

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Fitoterapia unidade 1

  • 1. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 1 Unidade 1. Introdução 1.1. O que é Fitoterapia? 1.2. História e surgimento da Fitoterapia; 1.3. Fitoterapia como medicina alternativa; 1.4. Etnobotânica.
  • 2. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 2 1.1. O que é Fitoterapia? A palavra Fitoterapia é formada por dois radicais gregos: fito vem de phyton, que significa planta, e terapia vem de therapia, que significa tratamento. Ou seja, tratamento utilizando plantas medicinais. A Fitoterapia foi criada para designar tradições populares de tratamento, nas quais as plantas medicinais são usadas como medicamento. O uso terapêutico de plantas medicinais ficou restrito à abordagem leiga desde o salto tecnológico da indústria farmacêutica ocorrido nas décadas de 50 e 60. Recentemente, as plantas medicinais consideradas medicamentos de segunda categoria, voltaram a ser usadas com a comprovação de ações farmacológicas relevantes e de uma excelente relação de custo-benefício. A Alemanha foi o país que investiu primeiro e saiu na frente nesse campo. Pesquisadores dessa área concluíram ser importante sistematizar e estudar as tradições populares do uso de plantas medicinais, como forma de ter uma estratégia para investigação e comprovação farmacológica. No Brasil, entretanto a Fitoterapia não é reconhecida, apesar do número expressivo de pesquisas com plantas. A etnofarmacologia (estudo da farmacologia popular de um determinado grupo cultural) tem ganhado importância cada vez maior para o desenvolvimento de novos medicamentos à base de plantas medicinais. As plantas medicinais têm sido um importante recurso terapêutico desde os primórdios da antiguidade até nossos dias. No passado, representavam
  • 3. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 3 a principal forma de cura conhecida. Em todos os registros sobre médicos famosos da antigüidade, tais como Hipócrates, Avicena e Paracelcius, as plantas medicinais ocupavam lugar de destaque em sua prática. A partir das plantas descritas e usadas pelo conhecimento popular, foram descobertos diversos medicamentos usados até hoje pela medicina. Os salicilatos, por exemplo, foram descobertos através de estudos no Salgueiro Branco (Salix alba), que era usado pelos índios norte- americanos no tratamento de dor e febre. Já os digitálicos foram isolados da Dedaleira (Digitalis purpurea), usada por curandeiros europeus no tratamento de edemas. O reino vegetal, além de ser o maior reservatório de moléculas orgânicas conhecido, é um poderoso laboratório de produção de substâncias medicinais. Até hoje diversas moléculas com estrutura complexa dependem de síntese biológica, pois a produção em laboratório não pode ser feita ou é economicamente inviável, como é o caso dos digitálicos, da pilocarpina ou dos esteróides. Por isso as plantas medicinais são usadas até hoje como matéria-prima para a fabricação de medicamentos. O uso terapêutico de plantas medicinais é dos traços mais característicos da espécie humana. É tão antigo quanto o Homo sapiens, e encontrado em praticamente todas as civilizações ou grupos culturais conhecidos. A Fitoterapia praticada no Brasil é originária de várias tradições diferentes, criando um sistema heterogêneo de uso das plantas medicinais. A Fitoterapia é uma terapia que utiliza material vegetal processado ou bruto. Existem várias subdisciplinas envolvidas: a identificação botânica
  • 4. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 4 das plantas utilizadas; o conhecimento agrícola para o cultivo da droga vegetal; a fitoquímica a extração e a elucidação estrutural de substâncias ativas; a farmacologia para o modo de ação das substâncias ativas e os testes finais para o uso clínico do produto. 1.2. História e surgimento da Fitoterapia Fitoterapia corresponde hoje à "Matéria Médica" que foi um compêndio utilizado no passado. Antes da introdução da química sintética, todos os remédios eram produtos naturais, e esses “medicamentos” foram incluídos nas diferentes farmacopéias. A diferença entre a moderna e a velha Fitoterapia é que hoje em dia a extração da droga bruta pode ser padronizada para certo conteúdo de princípios ativos, para assim, garantir a dosagem correta e que seja possível de ser reproduzida. O termo Fitoterapia foi usado pela primeira pelo médico francês Leclerc e o conceito foi aprimorado por Weiss, na Alemanha. Através de experimentos, a sabedoria popular passou para os descendentes e através do cultivo das plantas foi possível passar esse conhecimento por várias gerações sem perder as suas características. História O uso medicinal dos produtos naturais tem sido relatado entre os sumérios há aproximadamente 4.000 anos a.C., que utilizava, entre outros produtos o ópio. Na China, o ginseng, ruibarbo e Ma-Huang (Ephedra)
  • 5. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 5 têm sido utilizados por pelo menos 5.000 anos. Os egípcios também tinham um bom conhecimento dos medicamentos naturais. O "Papiro de Ebers", datado de cerca de 1550 a.C., menciona dentre outras plantas a Aloe e Myrrha. Hipócrates (460-377 a.C.), conhecido como o pai da medicina, foi o mais brilhante dos médicos gregos e usou um grande número de plantas como remédio. Os gregos dominaram a tecnologia dos medicamentos durante o período romano. Durante primeiro século d.C., Dioscórides descreveu em sua obra "The Materia Medica" cerca de 500 plantas medicinais: sua origem botânica, produção e utilização. Este livro e as obras do médico Galenos (século II d.C.), que utilizou várias centenas de plantas medicinais, perdurou até a Idade Média, quando o conhecimento da plantas medicinais passou a ser preservado pelos árabes e pelos monges cristãos, que cultivavam especiarias e plantas medicinais nos jardins dos mosteiros. As plantas medicinais foram descritas em "Kräuterbücher", L. Fuchs, no século 16, e foi importante na conservação deste valioso conhecimento. Em 1803 o farmacêutico alemão Sertürner conseguiu o isolamento da morfina do ópio. Este evento iniciou uma nova época, com foco no isolamento e caracterização de substâncias farmacologicamente ativas das plantas medicinais. Com o advento da química orgânica sintética, o interesse pelo uso de plantas medicinais declinou na medicina ocidental durante grande parte do século 20. Nas últimas décadas houve um crescente interesse em produtos naturais, em parte devido a uma suspeita sobre a segurança dos sintéticos, os remédios não naturais. No entanto, ambos devem ser
  • 6. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 6 usados, às vezes juntos, na medicina convencional, ou na medicina complementar ou alternativa. A sabedoria popular no uso das plantas impulsionou o seu consumo por todos os grupos sociais durante séculos. Foram encontrados indícios da utilização das plantas em todas as civilizações estudadas. O princípio de todo conhecimento está espalhado pelos vários berços da civilização tais como europeu de onde surgiu a melissa (Melissa officinalis), da África apareceu a arruda (Ruta graveolens), dos índios brasileiros surgiu a caapeba (Piper umbellatum) e da Ásia o gengibre (Zingiber officinale). 1.3. Fitoterapia como medicina alternativa Hoje, aproximadamente 40% dos remédios farmacêuticos disponíveis vem de plantas. A aplicação de tratamentos a base de ervas têm se tornado comum e enfoca mais na capacidade do corpo em se auto curar, o que se opõe ao combate apenas ao sintoma específico dos remédios farmacêuticos. Ainda que o uso de ervas medicinais seja comum, não é massivamente utilizada pela população, nem é aceito pela comunidade científica. Muitas pessoas estão se voltando para remédios a base de ervas para evitar o lado nocivo dos remédios farmacêuticos, quando eles falham no seu processo de cura ou quando a indústria médica não tem tratamento para a doença. Em um estudo feito pelo Centro Nacional de Estatísticas da Saúde (Estados Unidos), mortes em decorrência do uso de drogas farmacêuticas, ervas, e vitaminas foram comparadas entre os anos 1981-1993. O estudo mostrou
  • 7. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 7 que apenas uma pessoa morreu como um resultado direto de tomar suplementos de vitaminas, entretanto, aproximadamente 100.000 pessoas morreram como um resultado direto do uso dos remédios farmacêuticos. Nenhuma fatalidade ocorreu pelo uso de ervas. O estudo foi baseado em incidentes onde em todos os três produtos mencionados, os pacientes seguiram sua dosagem recomendada. Geralmente, as pessoas são encorajadas a usar ervas como um suplemento que ajuda a melhorar a saúde, em vez de utilizar quando ficam doentes. Quando alguém é atacado por uma doença geralmente usa os remédios farmacêuticos, que trata apenas o sintoma em vez de atacar a fonte da doença. Muitas ervas podem ser utilizadas juntas com os remédios farmacêuticos. Uma erva pode atuar no corpo de várias formas: pode limpar o corpo de impurezas ou de uma doença, pode reconstruir o sistema imunológico, ou pode fortalecer um órgão afetado. As plantas podem ser usadas isoladamente para combater um ou mais destes problemas, e ervas específicas são utilizadas para doenças específicas embora exista freqüentemente mais que uma erva que pode auxiliar no tratamento de uma doença. Algumas plantas são utilizadas na formulação de loções, shampus, e cremes. Outras ervas são recomendadas internamente na formulação de pílulas, tinturas, infusões, decocção, ou crus. Uma infusão, ou chá, é uma fórmula em que a parte medicinal de uma erva são mergulhadas em água quente por dois a cinco minutos. Uma decocção é parecida com uma infusão, entretanto, as raízes, caules, e outros materiais fibrosos são fervidos por um período mais longo de tempo.
  • 8. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 8 Nos rótulos da maioria dos produtos a base de ervas há uma dosagem sugerida. O ideal seria você procurar um especialista para obter uma recomendação eficiente. 1.4. Etnobotânica A Etnobotânica é a ciência que investiga as relações entre as culturas e usos de plantas, baseando-se, sobre a forma como as plantas são utilizadas nas sociedades humanas (alimentos, medicamentos, cosméticos, usos religiosos, tinturaria, têxteis, em construções, como ferramentas, moeda, vestuário, na literatura, em rituais e na vida social). Este campo é bastante amplo e abrange as plantas usadas na medicina tradicional dos povos tribais, a história da agricultura, crenças supersticiosas sobre as plantas, plantas que podem ser usados como corantes, plantas utilizam como tecidos, entre outros usos. O termo etnobotânica foi descrito em 1895 pelo botânico Harshberger. No ano de 1542 o artista renascentista Leonhart Fuchs, escreveu a obra “The History Stirpium” onde foram descritas 400 plantas nativas da Áustria e Alemanha. John Ray (1686-1704) cunhou a primeira definição de "espécie" em sua obra “History Plantarum”, onde definiu que uma espécie é um conjunto de indivíduos que dão origem através da reprodução de novos indivíduos semelhantes a si mesmos. Em 1753 Carl Linnaeus escreveu “Species Plantarum”, que incluiu informações sobre cerca de 5.900 plantas. Linnaeus inventou o método binomial de nomenclatura, em que todas as espécies tinham um nome com duas partes (gênero, espécie). No século 19 Alexander von Humboldt
  • 9. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 9 coletou dados no novo mundo, e as viagens de James Cook, trouxeram coleções e informações sobre plantas do Sul do Pacífico. Edward Palmer recolheu artefatos e espécimes botânicos dos povos no oeste norte-americano e México a partir de 1860 a 1890. Uma vez que existiam dados suficientes, o campo da “Botânica aborígena” foi fundado, era o estudo de todas as formas do mundo vegetal que povos indígenas usavam como alimentos, medicamentos, tecidos, enfeites, etc. Leopold Glueck medico alemão do final do século 19, teve publicada sua obra onde descrevia os usos tradicionais medicinais de plantas por comunidades rurais na Bósnia (1896) este foi considerado o primeiro trabalho moderno na área da etnobotânica. No início, os estudos etnobotânicos das espécies não eram muito confiáveis, porque os botânicos e os antropólogos não trabalhavam juntos. Os botânicos focavam na identificação das espécies e como as plantas eram usadas em vez de incluir como as plantas se encaixavam na vida das pessoas, por outro lado, os antropólogos estavam interessados no papel cultural das plantas e não no aspecto científico. Sendo assim, os primeiros dados etnobotânicos não incluíram os estudos das duas ciências. No início do século XX, botânicos e antropólogos passaram a colaborar entre si e então finalmente, a coleta de dados confiáveis e detalhados começou a ser feita. Hoje, o conhecimento da etnobotânica requer uma variedade de habilidades: formação em botânica para a identificação e preservação de espécies, formação antropológica para entender os conceitos culturais em torno da percepção das plantas, formação linguística, pelo menos o
  • 10. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 10 suficiente para transcrever termos locais e entender a morfologia nativa, sintaxe e semântica. Informações importantes sobre os usos tradicionais de plantas ainda permanece preservados com as culturas nativas. Entretanto os nativos são relutantes em compartilhar seus conhecimentos com precisão para os estranhos, por desconfiança ou medo. O uso da sabedoria popular na medicina ocorre em todas as comunidades por todo o mundo (Smitherman et al. 2005). Como resultado da busca continua para achar um tratamento para as doenças, que são especificas em cada comunidade, tem sido desenvolvido uma extensa farmacopéia de plantas medicinais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (O.M.S.) em torno de 80% das pessoas em todo mundo usam a medicina tradicional nos primeiros cuidados na saúde. A medicina tradicional tem atingido importância econômica rapidamente, em países em desenvolvimento é certamente um dos meios de tratamento mais acessíveis e até mesmo o único tratamento encontrado. A demanda mundial por ervas medicinais esta crescendo e o mercado de fitoterápicos em 1999 foi de 19,4 bilhões de dólares. Muitas drogas têm entrado no mercado internacional através da exploração da medicina popular. Estima-se que 25% das drogas prescritas contenham princípios ativos derivados de plantas. É estimada a existência de aproximadamente 400.000 espécies de plantas vasculares em uso e em torno de um terço é utilizado com propósitos medicinais. Em torno de 122 compostos, 80% dos quais são usados com os mesmos propósitos etnobotânicos, são derivados de 94 espécies de plantas.
  • 11. Fitoterapia – Princípios e Práticas Unidade 1. Introdução Página 11 Muitos ingredientes ativos têm sido descobertos de plantas baseadas em informações etnofarmacológicas e patenteados como drogas. Maprouneacina isolado da planta Maprounnea africana é utilizada como anti-diabética, o taxol, obtido do Taxus breviflora, é usado como droga anti-tumoral e a artemisinina, descoberta da Artemisia annua, é usada como um potente composto anti-malarial. Os métodos etnobotânicos incluem entrevistas com a comunidade em questão sobre as plantas, partes das plantas utilizadas, formas de uso, etc. Uma seleção é feita com as plantas de maior interesse para a farmacobotânica, as plantas utilizadas na medicina tradicional são selecionadas pela população porque são efetivas contra uma determinada doença.