1. EducadaMente - Psicologia Educacional
Rita Leonardo Feijao - Psicologa
Educacional e de Orientaçao vocacional
2. O que é a dislexia?
A dislexia consiste numa perturbação de aprendizagem específica de
origem neurológica. É caracterizada pela dificuldade em reconhecer a
palavra de forma exacta e/ou fluente. Este tipo de dificuldade é
consequência de um déficit na percepção da componente fonológica da
palavra.
Como consequência desta problemática podem surgir dificuldades na
compreensão do material lido e ainda, pelo facto de não serem
desenvolvidos hábitos de leitura, pode surgir um vocabulário e um nível
de cultura geral limitado.
Assim, é cada vez mais aceite a Teoria do Défice Fonológico: défice
cognitivo específico que assenta na dificuldade do processamento
fonológico, com gravidade variável e independente do Q.I.. Em
resumo, as crianças com Dislexia têm dificuldade em reflectir sobre a
estrutura sonora das palavras (metafonologia).
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3. Como se desenvolve o processo de leitura?
Ao aprender a ler, a criança passa pelo seguinte processo:
1º Aprendizagem das regras
corresponde a um fonema);
de
descodificação
(o
grafema
2º Aprendizagem das especificidades morfológicas e ortográficas.
Concomitantemente, desenvolve-se a automatização. Com a
automatização crescente e o aumento do vocabulário de
reconhecimento rápido, a leitura passa a constituir um meio de se
obter informação, de estudar, de aprender e de prazer. As
capacidades linguísticas necessárias para desenvolver a leitura
modificam-se com o tempo. Os leitores fluentes usam a combinação
da informação fonológica com a semântica durante o
reconhecimento das palavras.
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4. Assim, a leitura “madura” depende da integração de várias
competências:
• Descodificação fonémica (percepção dos sons da fala);
• Especificidades ortográficas (forma correcta de escrever as
palavras) e morfológicas (estrutura da forma das palavras);
• Acesso ao léxico (conjunto de palavras que as pessoas de uma
determinada língua têm à sua disposição para se expressarem,
oralmente ou por escrito)
• Acesso à semântica (significado das palavras).
Assim, a dislexia caracteriza-se numa falha ao nível da
descodificação fonética que afecta todo este processo.
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5. Será que a dislexia se manifesta em todas as línguas?
Na maioria das línguas ocidentais, existe alguma variabilidade referente
à consistência das conversões grafema-fonema.
O inglês poderá ser considerado o mais “opaco”, pois existem
inúmeras excepções relativamente às conversões grafena-fonema e
muitas palavras irregulares. Ou seja, para além do princípio alfabético,
existe uma aprendizagem extensa das especificidades ortográficas.
Estes aspectos dificultam a aprendizagem da língua em crianças que
apresentam déficit fonológico.
O espanhol (castelhano) é considerado “transparente", pois a relação
grafema-fonema é directa e consistente, é uma língua facilitadora no
que respeita à sua aprendizagem.
O português será “intermédio”.
Quanto mais transparentes forem as ortografias, menos manifestações
de dislexia teremos, pois o volume de informação é menor.
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6. As classificações das Dislexias têm variado ao longo
do tempo. Actualmente, a classificação mais usada é
a seguinte:
A. Dislexia Fonológica
B. Dislexia de Superfície
Na dislexia fonológica, a dificuldade principal consiste na aquisição dos
princípios alfabéticos da conversão grafema-fonema.
Na dislexia de superfície, o problema principal reside na dificuldade em
adquirir o princípio ortográfico.
No entanto, esta separação nítida, que é possível de se fazer nas
situações adquiridas dos adultos, não é tão clara nas dislexias
desenvolvimentais. Isto porque a aquisição dos princípios ortográficos
está intrinsecamente ligada ao princípio alfabético, e nas crianças com
dislexia fonológica ambos os processos estão afectados, podendo
variar o grau de défice apresentado.
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7. Confusões frequentes sobre a dislexia…
Excluem-se das Dislexias:
Causa puramente visual: embora haja investigação sobre o papel das
alterações visuais e vísuo-motoras, a maioria não se deve a esta etiologia.
Estas alterações vísuo-motoras estão presentes, em algumas crianças
com dislexia fonológica, dado apresentarem pequenas alterações da
orientação espacial e da percepção visual, contudo não têm sido
demonstrados como a causa, mas apenas como co-ocorrência, e cujo
significado ainda está por esclarecer.
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8. Perfil cognitivo de crianças disléxicas …
As crianças com Dislexia apresentam, na sua maioria, um perfil
cognitivo típico:
1. Défice da consciência fonológica (metafonologia);
2. Alterações na segmentação fonémica e na fluência fonológica;
3. Défice da memória verbal a curto prazo e da memória de trabalho
(repetição de dígitos, memorização da sequência de palavras e
aritmética mental);
4. Défice da nomeação rápida (dificuldade em evocar as palavras,
que será tanto mais deficitária quanto maior for a rapidez exigida);
5. Défice na repetição de não-palavras ou palavras sem significado
Rita capacidade de aprender outras
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(esta dificuldade influencia aLeonardoOrientaçao vocacional
Educacional e de
9. Principais manifestações da dislexia nas competências
de leitura e escrita:
•
Um atraso na aquisição das competências da leitura e escrita;
•
Dificuldades acentuadas ao nível do processamento e consciência
fonológica;
•
Leitura silábica, decifratória, hesitante, sem ritmo, com bastantes
incorrecções e erros de antecipação;
•
Velocidade de leitura bastante lenta para a idade e para o nível
escolar;
•
Omite ou adiciona letras e sílabas (ex: famosa-fama; casaco-casa; livrolivo; batata-bata; biblioteca/bioteca; ...);
•
Confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças subtis de
grafia ou de som (a-o; o-u; a-e; p-t; b-v; s-ss-ç; s-z; f-t; m-n; v-u; f-v; g-j; chj-x; v-z; nh-lh-ch; ão-am; ão-ou; ou-on; au-ao; etc.);
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10. • 7. Confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar,
mas com diferente orientação no espaço (b-d; d-p; b-q; d-q; ae;…);
•
Inversões parciais ou totais de sílabas ou palavras (ai-ia; per-pré;
fla-fal; me-em; sal-las; pla-pal; ra-ar;…);
•
Substituição de palavras por outras de estrutura similar, porém
com significado diferente (saltou-salvou; cubido-bicudo;...);
•
Substituição de palavras inteiras por outras semanticamente
vizinhas;
•
Problemas na compreensão semântica e na análise
compreensiva de textos lidos;
•
Dificuldades em exprimir as suas ideias e pensamentos em
palavras;
•
Ilegibilidade da escrita, letra rasurada, disforme e irregular,
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presença de muitos erros ortográficos e dificuldades ao nível da
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11. Outros sintomas que podem estar associados
• Problemas ao nível da dominância lateral (lateralidade
difusa, confunde a direita e esquerda, lateralidade
cruzada);
• Problemas ao nível da motricidade fina e do esquema
corporal;
• Problemas na percepção visuo-espacial;
• Problemas na orientação espacio-temporal;
• A escrita pode surgir em espelho;
• Problemas ao nível da motricidade fina e do esquema
corporal;
Etc...
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12. Nota: Não é necessário que estejam presentes, todos estes
indicadores em simultâneo, para que seja diagnosticada um
caso de dislexia. Estes indicadores devem apenas alertar para a
possibilidade de um caso de dislexia, já que é preciso
compreender a razão destes comportamentos.
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13. Com que idade se pode diagnosticar uma
dislexia?
Segundo vário autores, não se pode falar de dislexia (ou melhor
... não se pode fazer um diagnóstico definitivo) antes dos 7 anos,
ou para ser mais rigoroso, antes de pelo menos um ano de
escolaridade, pois anteriormente a esta idade erros similares são
banais pela sua frequência.
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14. Dislexia e Matemática …
Inicialmente vamos esclarecer o que é ter dificuldades em
matemática. As pessoas geralmente consideram que não são
boas a matemática, quando de facto querem dizer que
apresentam dificuldades em aritmética. A aritmética é uma parte
da matemática e está associada aos raciocínios lógicos,
perceptivos e sensoriais: formas, tamanhos, espaço, dimensão e
quantidade.
Alguns disléxicos têm problemas na aritmética e em outros aspectos
da matemática, que envolvam de forma mais declarada estas
competências .
Muitos disléxicos têm dificuldades para adquirirem rapidez e
fluência em simples cálculos: adição, subtracção, multiplicação,
divisão e na tabuada, mas eles poderão ter, não obstante, boa
habilidade em matemática.
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15. Este facto acontece porque não há áreas do cérebro que só se
ocupem especificamente da leitura e soletração. As áreas
usadas para a linguagem escrita são usadas também para
outros materiais simbólicos, incluindo números, fórmulas,
gráficos, diagramas, espaço-tempo, etc.
Assim, se há um problema nessas partes do cérebro, será
afectado o processamento eficiente de qualquer material
simbólico, linguagem e matemática incluídos. Tal significa que
as falhas em uma área de aprendizagem podem estar
frequentemente vinculadas a falhas em outras áreas.
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16. Semelhanças entre a linguagem e a matemática…
• Ambas são linguagens representadas por símbolos que apresentam
pequena ou nenhuma relação com as situações e eventos que eles
descrevem. Portanto usar uma letra /a/ ou um número /4/ é uma
representação simbólica igualmente. Pouco ou nada tem haver com a
representação concreta;
• Os dois símbolos (letras ou números) têm estruturas e requerem uma
ordem e sequência para serem usados eficientemente;
• Os dois requerem facilidade verbal, para uma aprendizagem fluente e
memorização. Memória a curto prazo é também importante para
ambos;
Essas são só algumas das semelhanças entre linguagem e
matemática. Quando nós consideramos tudo isso, não é surpresa
que indivíduos com dificuldades na linguagem do tipo da dislexia
tenham frequentemente dificuldades em matemática;
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17. Encontramos dois subgrupos de disléxicos que
apresentam dificuldades em matemática:
1. Aqueles que compreendem os conceitos mas são incapazes de
representá-los no papel, isto é, eles sabem que processo ou
operação usar, mas não conseguem fazê-lo com precisão. Por
exemplo: Compreendem uma situação problema, sabem até que
operação deveriam fazer, mas não conseguem “traduzir” na
escrita.
2. Aqueles que têm pouca, ou nenhuma ideia, por que motivo os
números ou símbolos são usados. Essas pessoas não compreendem
os conceitos subentendidos em matemática.
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18. Como ajudar um aluno disléxico na disciplina
de matemática.
A intervenção baseia-se na estimulação da aprendizagem nas
seguintes áreas: manipular, seriar, classificar, transportar, juntar,
copiar. Portanto falamos em desenvolver o pensamento préoperacional e operacional, segundo Piaget.
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