Inezita Barroso é uma importante figura da música brasileira raiz. Ela defende o nacionalismo em suas apresentações por todo o Brasil, incentivando a preservação da cultura popular. Sua carreira inclui gravações premiadas, shows de rádio e TV, e ensino sobre folclore. Aos 90 anos, continua resistindo à modernização que ameaça engolir a cultura popular e incentivando jovens artistas a recriarem a autenticidade brasileira.
Conheça a história e cultura por trás da cidade de São Paulo
1. A revista de todos os povos
Novembro de 2010
Nesta edição:
A metamorfose
DA BARRA FUNDA
A história DA
FREGUESIA DO Ó
Artigos: RÁDIO, TV
E INEZITA BARROSO
Praça Ramos
A cultura popular
de Azevedo,
ao fundo o
antigo prédio
do Mappin,
1942
EM SANTO AMARO
2.
3. ÍNDICE ÍNDICE
05
EM FOCO
Conheça alguns dos
principais atrativos
da cidade
06
FOTO DA CAPA
O Mappin: um dos
pontos comerciais
mais importantes
da cidade
07
ARTIGO
Inezita Barroso:
a caipira do
asfalto
13
ARTIGO
Uma cena
radiofônica da
Paulicéia
18
ACONTECE
Revelando São Paulo:
o interior pra
paulista ver
MUTANTE CIDADE ORIGEM ARTIGO MÚSICA CULTURA POPULAR RETRATOS
Barra Rui Ohtake: Freguesia Os 60 anos Melodias Santo Estação
Funda urbanismo e estética do Ó da televisão portuguesas Amaro da Luz
08 12 14 20 22 26 30
CAPA: FOTO DO ACERVO DO CLUBE PORTUGUÊS DE SÃO PAULO
4. Carta ao Leitor
CARTA AO LEITOR
Caro leitor,
O intuito da nossa revista é proporcionar a você, um acesso prático e versátil a tudo o que acontece em São Paulo, através de uma
prestação de serviço especializada e de uma forma prazerosa de se ler.
Eventos culturais, informações, lazer e entretenimento fazem parte da nossa perspectiva de divulgação e acessibilidade para toda a sua família.
Nossa equipe trabalha constantemente em função do seu bem estar e a cada dia oferece um conteúdo diversificado e atualizado. Toda
essa dedicação tem como finalidade contribuir para o seu pleno conforto e comodidade.
O objetivo da Expressão SP, além de fazer parte da sua vida de maneira agradável e eficaz, é princi-
palmente proporcionar a você um levantamento do que a cidade tem de melhor para oferecer.
Para a nossa equipe é uma enorme satisfação compartilhar com todos os leitores nossos
planos e projetos. Elaboramos as páginas da nossa revista pensando em cada sen-
sação e resultados que serão proporcionados a vocês.
É por todas essas razões que a Expressão SP tem orgulho em ser
paulistana e atuar para promover essa cidade tão surpreen-
dente e exuberante.
Atenciosamente,
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Editora de Arte: Roberta de Donno
As mensagens devem trazer a assinatura, o Repórteres: Fabíola Santana, Michelle Barros, Roberta de Donno,
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clareza, as cartas poderão ser publicadas www.expressaosp.com.br
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5. EM FOCO
Casarões antigos
foram preservados
em meio a evolução
e o crescimento
da cidade
Fotos abaixo:
1. Mercado Municipal
2. Prédio do Banespa
3. Faculdade de São Bento
FOTOS ROSANA LAMEU
São Paulo: vale a pena conhecer
A história de vários povos se encontra aqui
U m dos maiores centros urbanos do país.
Trata-se da cidade de São Paulo, que
além de ser uma grande metrópole tam-
bém é considerada a cidade dos sonhos. Com
sua estrutura arquitetônica, a diversificada culi-
tempos atuais, além de um programa indicado
para toda a família. Andar pela cidade de São
Paulo, pode ser mais do que um passeio de fim
de semana pois nos remete a conhecer uma
parte da cultura e histórias da nossa cidade.
3. presença do idioma
nativo entre eles, o
cultivo de suas
crenças e costumes
que não se perde-
nária, os parques e a arte de várias regiões podem O parque do Ibirapuera, um dos pontos de ram em meio à dis-
ser facilmente encontrados nas típicas feiras encontro mais conhecidos e frequentados por tância e a convivên-
livres, espalhadas em muitos pontos da cidade. visitantes de todas as faixas etárias é um dos cia com a população
Em São Paulo é comum achar tudo o que se cartões postais da cidade. Nele está localizado brasileira. Muito pelo
procura em um único lugar. Prova disso são os um dos maiores monu- contrário, todos aprenderam a apreciar, respei-
centros comerciais, que são verdadeiras atrações 2. mentos de São Paulo o tar e a praticar essas novas tendências, que já
tanto para turistas como para moradores. Na Obelisco Mausoléu, comemoram mais de cem anos no Brasil.
famosa Rua Vinte e Cinco de Março, temos um que foi construído Outra particularidade de bairros típicos em
turbilhão de ofertas que se dividem em: roupas, em referência aos São Paulo é o Bexiga, onde predomina a
calçados, brinquedos, acessórios, comida. São que lutaram contra comunidade italiana. Conceituada por sua
inúmeros os produtos vendidos nas lojas, nas a ditadura de Getúlio culinária especializada em massas e molhos
barracas e bancas espalhadas por toda a extensão Vargas, durante a caseiros, o bairro envolve toda a cidade com
da rua e das calçadas mais famosas da cidade. tirania de seu governo as comemorações religiosas que acontecem
Bem próximo a Vinte militar. São inúmeras as anualmente. Toda a renda do evento é reverti-
1. e Cinco, temos o pessoas que transitam por ali, praticam espor- da em benefícios assistenciais à instituições
imponente Mercado tes, passeiam, descansam, namoram. Porém voltadas para atender as necessidades das pes-
Municipal de São são poucos os que sabem o que este monumen- soas carentes e melhorias do bairro.
Paulo. Local procu- to realmente significa para a sociedade. Como podemos observar, São Paulo é o lugar
rado tanto por sua O bairro da Liberdade por sua vez, trás toda onde tudo acontece ao mesmo tempo. E sempre
variedade em mer- a harmonia e consagração típica do Japão em tem uma programação bem acessível para todos
cadorias horti-frutti, meio ao dia-a-dia dos paulistanos. É uma forma os gostos, estilos e classes sociais. Cabe aos pau-
como pela culinária de conhecer o oriente e suas tradições, sem sair listanos aproveitar ao máximo esses recursos e
sendo o prato principal o do país. Estão concentradas no bairro todas as desfrutá-los da melhor maneira possível.
tradicional Sanduíche de Mortadela. Sua bela tendências, hábitos, cultura e tradições orien-
arquitetura panorâmica é preservada até os tais. Desde a culinária até os trajes típicos, a ROSANA LAMEU
05
6. FOTO DA CAPA
O antigo prédio do Mappin
Conheça a história de um dos pontos comerciais mais importantes da cidade
THAÍS MATARAZZO
O prédio que aparece na capa desta
edição de Expressão SP é um dos
símbolos do centro da capital pau-
lista. O antigo prédio do Mappin, na
praça Ramos de Azevedo (defronte ao
O Mappin foi uma das lojas pioneiras no
comércio varejista, sinônimo de megaloja
numa época em que não existiam shop-
pings centers em São Paulo. Durante os
anos de 1930, inovou ao colocar etiquetas
tipos de produtos em suas prateleiras.
A história desta loja começou na
Inglaterra, depois da Revolução Industrial,
em 1774, quando as famílias de comer-
ciantes Mappin e Webb inauguraram na
Teatro Municipal), atualmente está ocu- com preços nas vitrines e nas vendas a cre- cidade de Sheffield uma sofisticada loja de
pado pelas Casas Bahia. diário. Era possível encontrar todos os prataria e artigos finos.
Na cidade de São Paulo o Mappin foi
inaugurado em 1913, na rua Quinze de
O prédio do Novembro para atender às ricas famílias
Mappin em dos cafeicultores paulistas. Em 1919, a loja
seu auge e mudou-se para a praça do Patriarca, vinte
abaixo, anúncios anos depois inaugurou sua sede na praça
característicos Ramos de Azevedo, em prédio construído
da época pelo arquiteto Elisário Bahiana (1891-
1980), o mesmo que fez o viaduto do Chá
e o Jockey Club.
O Mappin possuía um comércio cheio de
glamour. No prédio da praça Ramos, no
quarto andar, às cinco da tarde, as senhoras
da alta sociedade costumavam se reunir para
tomar chá à moda inglesa. Todo esse charme
durou até fins da década de 1960.
Outro destaque do prédio é o relógio, que
nunca atrasava, ainda está lá, mas sem fun-
cionamento. A loja se tornou um ponto de
referência para os paulistanos.
Foi considerado um dos melhores pontos
comerciais da cidade, milhares de pessoas
transitavam a pé por ali. As vitrines da loja
eram lindas e chamativas, recebiam um tra-
tamento todo especial de cenário, que muda-
va de tempos em tempos, antes de expor as
mercadorias.
Quando havia liquidações, que geralmen-
te eram anunciadas no rádio e na TV, os
clientes formavam filas quilométricas em
volta do quarteirão na Praça Ramos de
Azevedo.
06
7. ARTIGO
Inezita Barroso
Uma caipira do asfalto
JOSÉ DE ALMEIDA AMARAL JUNIOR*
S em dúvida alguma é das mais
importantes figuras da nossa
música raiz. O nacionalismo
convicto de Inezita é defendido em
cada uma de suas apresentações pelos
reada como atriz de cinema e foi par-
ceira de Paulo Autran, entre outros
importantes nomes no teatro. Em
1955 o LP “Vamos Falar de Brasil”
lhe rendeu o Premio Roquette Pinto.
o exterior, com o estrangeiro, é preci-
so primeiro que nos conheçamos e
nos respeitemos, caso contrário nunca
o faremos de modo soberano e segu-
ro. Não somos cowboys, embora mui-
palcos deste gigante país afora, entre Suas gravações foram apreciadas e tos assim o desejem. Desta forma,
eles o da TV Cultura, onde comanda levadas à Europa onde obtiveram abraça os veteranos e estimula os jo-
o tradicional “Viola, Minha Viola”, reconhecimento. Em sua carreira can- vens artistas a estudarem e recriarem
programa que há 30 anos semanal- tou na Rádio Clube do Recife, na a partir do que é autenticidade, do que
mente abre espaço para as manifesta- Bandeirantes e na Record de São é nosso. Como ela entoa numa canção
ções populares de nossa gente, cuja Paulo, entre outras. de Adauto Santos: “Eu sou do mato/
platéia, como ela mesma diz, ‘não Apaixonada pelos livros e pela pes- Sou caipira verdadeira”. Essa é Inezita
admite concessões’. quisa, formou-se em Bibliotecono- Barroso, estrela brasileira.
Inês Madalena Aranha de Lima nas- mia pela USP e deu aulas sobre fol-
ceu em São Paulo/ Capital, na Barra clore em faculdades de São Paulo. *José de Almeida Amaral Junior
Funda, em 04/03/1925. Era vizinha de Prestes a completar 60 anos de exito- Professor em Ciências Sociais,
Mário de Andrade, grande escritor e sa carreira artística, acredita que é Economista, pós-graduado em
poeta modernista. Desde pequena foi preciso muita resistência e tenacidade Sociologia e mestre em Políticas
incentivada pela família a apresentar- na divulgação da cultura popular que de Educação
se em clubes, festas e teatros. Aos vai sendo engolida cada vez mais pe- Colunista do Jornal Mundo Lusíada
sete anos começou a aprender violão los meios de comunicação em massa, e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz
e aos onze também ingressou no pela força do que chamam de ‘moder- de São Paulo
piano. Queriam dar uma boa forma- nidade’ e dos interesses modistas.
ção à menina. Mas, Inezita não tinha Enfurece-se com a injustiça e o
aspirações para a chamada música pouco caso que fazem com os
erudita. Adorava mesmo era o mundo caipiras. Sempre se remete,
popular, suas expressões folclóricas. como exemplo, às festas ju-
Especialmente o que chamamos de ninas nas escolas onde as
caipira. E não bastando os estudos de pessoas põem remendo na
violão e piano, ainda foi aprender a calça jeans dos alunos,
tocar viola. Do jeito mais correto o pintam o dente da crian-
possível para o instrumento: ‘de ouvi- ça de preto para ela ficar
do’. Como manda o figurino do inte- ‘bem banguela’ e ainda
rior. esfiapam o chapéu: puro
Apesar dos pais não apoiarem a preconceito, reclama a
‘vida de artista’, coisa mal vista espe- grande dama. Inezita
cialmente para moças, em 1950 Orgulhosa de sua gen- Barroso na
estreou como atriz ao participar do te, Inezita é um exemplo capa da
filme “Ângela”, de Tom Payne e para um país que pretende revista
Abílio Pereira de Almeida, pela cada vez mais globalizar- Radiolândia
Companhia Vera Cruz. Sua carreira se. Afinal de contas, de 1956
musical começou em paralelo, can- antes de qualquer
tando em rádio, quando virou Inezita coisa, para po-
Barroso, sobrenome herdado do mari- dermos tro-
do cujo irmão ator e locutor ajudou car com
sua carreira. Ela fez sua estréia em
disco no ano de 1951, com um 78
rpm: “Funeral de um Rei Nagô”
(Afro-brasileiro) e “Curupira”
FOTO ACERVO PESSOAL
(Canção amazônica) pelo selo Sinter.
Em 1953 outro 78 rpm e então dois
temas inesquecíveis: “Marvada pinga”
(Laureano e Torres) e “Ronda”
(Vanzolini) pela RCA Victor. Foi lau-
07
8. MUTANTE
A Barra Funda começa a mudar
Localizado na zona oeste, o bairro passa por uma
remodelação e perde parte de sua história arquitetônica
Casario da rua
Vitorino Camilo
THAÍS MATARAZZO
A São Paulo das três primeiras
décadas do século XX estava
em plena transformação, condu-
zida pela pujante economia cafeeira e
pela industrialização. Aqui chegaram
de Educação Bonni Consilii. Em fins do
século XIX a área foi loteada e arruada,
dando origem ao bairro da Barra Funda,
que em um primeiro momento ganhou
casas residenciais abastadas.
duas partes: a Barra Funda “de baixo” e
a “de cima”, esta divisão também gerou
discussões sobre o nome da região. Os
italianos residentes na parte “de cima”
afirmavam que a origem da designação
imigrantes de várias partes do mundo, Assim como a Barra Funda, outros era uma homenagem à uma localidade
em 1940, 80% da população da cidade bairros da capital (Santa Ifigênia, Brás e de sua terra natal chamada de Barafonda,
era formada por italianos, portugueses, Mooca) surgiram de loteamentos de chá- que significa local de muita confusão.
espanhóis e japoneses. Novos comporta- caras cujos terrenos foram cortados pela A versão dos moradores da parte “de
mentos, diferentes hábitos, influências estrada de ferro - a São Paulo Railway, baixo” apontavam uma característica da
culturais e políticas geravam um novo evento motivado pela economia cafeeira várzea do Tietê: onde os carroceiros, que
aspecto a São Paulo. em plena ascensão: a linha férrea servia buscavam areia para as construções,
Na antiga Chácara do Carvalho, per- para escoamento do plantio de café pro- aproveitavam as diversas lagoas forma-
tencente ao conselheiro Antônio Prado, duzido no interior do estado até o Porto das pelas cheias do rio Tietê e que torna-
foi construída uma bela casa sede, obra de Santos. A Barra Funda contava com vam fundas suas margens.
do arquiteto italiano Luigi Puci (respon- uma estação, armazéns e um pátio da Após a crise de 1929, muitas famí-
sável pelo projeto do Museu do Ipiranga), São Paulo Railway. lias endinheiradas abandonaram o
no local funciona desde 1937 o Instituto A linha do trem repartiu o bairro em bairro, chegaram então os imigrantes
08
9. italianos que aos poucos povoaram guardar materiais e objetos indesejáveis relembra que seu pai era jornalista e cos-
toda região, muitos deles trabalhavam dos moradores, em outras oportunidades tumava alugar casas grandes, na frente
na ferrovia, outros abriram pequenos eram alugados a baixos preços, fato que montava sua oficina, nos fundos instala-
comércios como sapatarias, serrarias e atraia a população mais desfavorecida. va sua família, e ainda, sublocava alguns
oficinas mecânicas. Yvone di Biasi Leporace, 87, morado- quartos e o porão: “minha mãe, que era
Construíram ao longo dos trilhos da ra do bairro nas décadas de 1930/40, filha de italianos, tomava conta da casa
Estrada de Ferro um casario modesto.
Essas novas casas contavam com bonitas
fachadas, eram geminadas e térreas, com
pequenas frentes, porão e terreno fundo.
Alguns casarões se tornaram cortiços
ACERVO CENTRO DE DOCUMENTÁRIO E MEMÓRIA DO SAMBA PAULISTA
(vide box).
Os porões dessas casas eram altos,
muitas vezes serviam de depósito para
ATIVIDADES CULTURAIS
DO INÍCIO DO SÉCULO XX
Desde o início do século XX a Desfile de cordões
Barra Funda contava com diversas carnavalescos entre
atividades culturais para seus mora- as ruas João
dores de Barros e
Em 1917, foi inaugurado o Conselheiro Brotero,
Theatro São Pedro na confluência na Barra Funda
das ruas Albuquerque Lins e Barra
Funda. O edifício, de estilo neoclás-
sico, era luxuoso e confortável. Um zavam os armazéns e pátio ferroviário das procissões religiosas, como
local digno da grande metrópole da São Paulo Railway, e ainda, o Largo também se influenciaram outros
que surgia. da Banana. cordões, nos dias de carnaval o
O teatro tornou-se ponto de Nas alturas das ruas Brigadeiro cordão passava nas ruas em fren-
encontro para os moradores da Galvão, Vitorino Camilo e Lopes de te as residências dos beneméritos
Barra Funda, de Santa Cecília, de Oliveira, havia por volta de 1900, um e os salões frequentados pela
Higienópolis e dos Campos Elíseos. hipódromo e uma coudelaria de cava- comunidade negra do centro da
Seu idealizador foi Manuel Ferreira los de corrida, dali deve ter sobrado o cidade.
Lopes, um jovem português que fez afamado bebedouro de animais do No final da década de 1930, o
fortuna com casas de espetáculos Largo da Banana. Grupo Carnavalesco da Barra
em São Paulo e no Rio de Janeiro. O local tinha esse nome, pois lá Funda foi fechado por pressão do
O projeto é de autoria do arquite- eram comercializadas bananas e outras governo de Getúlio Vargas, pois
to italiano Augusto Bernardelli frutas, que ali chegavam através de seus integrantes foram confun-
Marchesini, a execução da obra carroças puxadas por burros. Foi ali didos com membros do Partido
ficou a cargo do engenheiro Antonio que nasceu, segundo historiadores, o Integralista, opositor ao governo,
Alves Villares da Silva, colaborador samba paulista. por trajarem camisas verdes.
de Ramos de Azevedo. Era um espaço de lazer onde a comu- Até que em 1953, a associação
A partir dos anos 1920 o Theatro nidade negra que morava na Barra foi reativada como Camisa Verde e
São Pedro passou a funcionar pre- Funda, e trabalhavam nos armazéns da Branco, em menção a outra peça do
dominantemente como cinema, con- estrada de ferro, se divertia ao som das uniforme trajado por seus compo-
tinuou nessa atividade até meados rodas de samba, batuque e tiririca, nentes, a calça branca.
dos anos 60. Em 1998, após um segundo o escritor e pesquisador O Largo foi suprimido em mea-
período de decadência, foi total- Mário de Andrade, ali se tocava o dos da década de 1950, dele apenas
mente restaurado, a recuperação de samba rural paulista, uma mistura de sobraram lembranças e o registro
suas características arquitetônicas ritmos trazidos por ex-escravos do em alguns sambas como este do
originais resgatam a memória artís- interior de São Paulo misturado a compositor Geraldo Filme: Levo
tica paulistana. outros gêneros urbanos. saudades / Lá do Largo da Banana
No local onde hoje se encontra o Toda essa influência fez com que a / Onde nóis fazia samba / Todas as
complexo formado pelo Memorial Barra Funda também fosse palco da noites da semana / Deixo esse
da América Latina, o Viaduto criação do mais antigo cordão de samba / Que fiz com muito carinho
Pacaembu e o terreno que abriga o carnaval da cidade, de 1914: o Grupo / Levo no peito a saudade / Nas
prédio do PROCON (com frente Carnavalesco Barra Funda. mãos o meu cavaquinho / Adeus
para a Rua Barra Funda), se locali- O desfile era realizado nos moldes Barra Funda.
09
10. FACHADAS DA BARRA FUNDA
A arquitetura e o patrimônio históri- truídas pelo capomastro Domenico coisa foi transformada sem o cuidado
co e cultural da Barra Funda estão em Sordini. da preservação do estilo, da época, e
decadência. Comparando fotos antigas Em 1977, a fotógrafa Dulce Soares muita coisa foi se perdendo.”
com atuais nota-se uma transformação percorreu a Barra Funda a serviço da Atualmente dois marcos da arquite-
radical no bairro, muitas casas e casa- Secretaria de Estado da Cultura, o resul- tura no bairro se conservam como o
rões foram demolidos para dar lugar a tado foi o livro Barra Funda Esquinas, original: a primeira é a casa sede da
atual explosão imobiliária no bairro. Fachadas e Interiores, publicado pela Chácara do Carvalho, hoje atravessa-
O marco na arquitetura da região Imprensa Oficial do Estado, em 1983. Lá da pela Alameda Barão de Limeira,
aconteceu em 1930, quando chegaram está registrado o que restou da arquitetu- atual sede do Instituto de Educação
os primeiros imigrantes italianos, res- ra original do bairro. Na época, Dulce Bonni Consilii. A segunda é a casa
ponsáveis por boa parte do povoamen- declarou ao Jornal da Tarde: “… rara a que pertenceu ao intelectual Mário de
to da Barra Funda na primeira metade casa aqui que não tem adorno a não ser Andrade, atual Oficina da Palavra
do século XX. Depois veio a comuni- as novas ou as reformadas, muita Casa Mário de Andrade.
dade negra. A partir de meados de
1970, muitos migrantes nordestinos
passaram a habitar o bairro. Casa da década
Os capomastri, mestre-de-obras de 1930 na rua
italianos, introduziram novas técni- Vitorino Camilo
cas na construção civil, lideravam
projetos e participavam dos dese-
nhos das obras, muitos deles produ-
zidos em conjunto com os artistas
também italianos. Eles se preocupa-
vam mais com a fachada das casas
do que com sua divisão, quase todas
eram parecidas: pequena frente,
muito fundo, com quartos enfileira-
dos, uma entrada lateral, com cozi-
nhas e banheiros nos fundos. Outros
preferiam colocar o armazém ou bar
THAÍS MATARAZZO
na frente. Assim eram as casas da
Barra Funda, muitas delas cons-
e dos aluguéis, nos porões sempre mora- havia perigo, era muito sossego. Eu e muito grande e bonito, foi lá que o
va uma família negra. Quando anoitecia minhas irmãs brincávamos na rua, a samba ganhou seu lugar de destaque. O
era interessante observar que havia uma gente riscava os paralelepípedos da rua samba da Barra Funda foi então o res-
precária iluminação pública nas ruas, com carvão, mas a minha mãe sempre ponsável pela integração de artistas, uni-
então você via vários pontos de luz nas estava de olho. A maioria das ruas eram versitários, membros da comunidade e
calçadas, era a luz que saia dos porões asfaltadas e poucas de terra, vez ou outra craques de futebol. Lá viveu o
onde moravam as famílias negras”. tinha trânsito de carro, carroça ou bonde, Vassourinha, grande sambista e cantor
Assim, o bairro se tornou heterogêneo, nos costumávamos ir ao cinema, à Rádio de rádio que morreu jovem, era amigo
a comunidade negra se misturou à italia- Cosmos, às missas e passear pela Praça do meu tio. Não posso deixar de fazer
na e souberam viver em harmonia, em Marechal Deodoro que tinha um roseiral referência ao cordão carnavalesco
1934, segundo dados da prefeitura da lindo”, narra Yvone. Campos Elíseos, que saia da alameda
cidade de São Paulo a Barra Funda pos- A música, mais precisamente o samba, Olga, na Barra Funda, que era formado
suía 23.764 habitantes, a maioria forma- sempre esteve presente na Barra Funda pelos negros aristocratas, era então na
da por italianos e negros. (vide box). Armando de Moura, 65, não época, a elite negra”, conta Moura.
A Barra Funda foi o primeiro bairro a nasceu na Barra Funda como toda sua Todas essas histórias fazem parte
receber o bonde elétrico, em 1902, que família, inclusive seus avós, todos das reminiscências de uma Barra
ligava o local ao Largo São Bento. Esse faziam parte da comunidade negra do Funda que está preste a desaparecer.
desenvolvimento comercial se deu devi- bairro. Moura passou parte da sua infân- Quem anda hoje pelo bairro encontra
do à proximidade aos bairros elitizados cia e adolescência visitando seus paren- poucas lembranças dessa época, as
de Campos Elíseos e Higienópolis. tes, amante do samba, desde cedo, tomou casas das décadas de 1930 e casarões
A Barra Funda “de cima” da via férrea contato com esse ritmo, costumava fre- quase não existem mais, muitos foram
até a Olímpio da Silveira recebeu mais quentar o Salão São Paulo Chic. “Era na demolidos outros reformados ou trans-
influência dos bairros de Santa Cecília e rua Brigadeiro Galvão esquina com a formados em cortiços.
Campos Elísios. “Naquela época não rua Barra Funda, um casarão antigo Em 1988 o bairro passou por grande
10
11. mudança com a chegada do termi- bairro estão as enchentes e a falta de
nal intermodal, composto pela áreas verdes. Outra grande dificulda-
estação do metro Palmeiras-Barra de será o congestionamento: o aumen-
Funda, a estação de trens da to do número de veículos causará
CPTM e o terminal rodoviário. maior engarrafamento nas avenidas
Até então, era possível, encontrar Francisco Matarazzo e Marquês de
no bairro os tradicionais empórios São Vicente, e em outras vias impor-
THAÍS MATARAZZO
e mercearias, onde os comercian- tantes como o Elevado Costa e Silva,
tes ainda usavam antigas caderne- vulgo Minhocão.
tas para vender fiado. O advogado Edvaldo Godoy, presi-
Com o metrô chega o progresso e a dente da Associação de Moradores e
valorização da área, muitas casas e cor- Amigos da Barra Funda, aponta que
tiços foram desapropriados e deram uma grande área do bairro terá que ser
lugar a dezenas de novos prédios, com desapropriada para a chegada de novos
eles também veiram os supermercados, empreendimentos imobiliários, do
os maganizes e as butiques. Nesta época, total a ser derrubado 37% correspon-
moradores e especialistas previam que dem a galpões industriais que estão
em poucos anos haveria uma espécie de ociosos e outros 33% são residências,
explosão demográfica e imobiliária na “não podemos deixar que esse cenário
região: é o que está acontecendo. traçado pelo EIA-Rima (estudo de
Desde 2006 a Barra Funda passa por impacto ambiental) da Operação
uma nova fase de “remodelação”, mui- Urbana Água Branca, destrua parte da
tos terrenos passaram a ser supervalori- arquitetura do nosso bairro e da nossa
zados, segundo dados da prefeitura, história”, afirma Godoy.
daqui a cinco anos o número de morado- Segundo a prefeitura, o estudo de
res deve passar de 25 mil para 85 mil. impacto ambiental ainda não tem previ-
Muitas melhorias em diversas áreas são de implantação. Tudo passará por
necessitam ser realizadas para receber uma audiência pública, ainda sem data
Armando Moura e os os esses novos moradores e atender as marcada, sendo necessária após essa
bons tempos do samba necessidades dos que já estão estabe- audiência, uma aprovação pelo conselho
na Barra Funda lecidos ali. Entre outros problemas do municipal de meio ambiente.
THAÍS
MATARAZZO
ACERVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE SÃO PAULO
São Paulo
Chic em foto
de 1977:
o samba em
destaque
11
12. CIDADE
A união entre urbanismo e estética
O arquiteto Ruy Ohtake destaca a importância da urbanização para as cidades
RobeRta de donno
Entre seus projetos mais importan-
tes está o Expresso Tiradentes, espé-
cie de corredor de ônibus suspenso
que liga o Sacomã ao Parque D.
Pedro II. O arquiteto também ideali-
zou o projeto de adaptação do Estádio
do Morumbi para a copa de 2014. “A
Copa é vista como um campeonato,
no entanto ela deve deixar um legado
para a cidade”, afirma o arquiteto.
É de sua autoria, em parceria com
uma fabricante de tintas, o projeto de
colorir as casas da favela de
Heliópolis, conferindo uma identida-
de cultural ao bairro. “A rua é a sala
de estar dos moradores da favela”,
assim Ohtake justifica a sua iniciati-
va de torná-la mais agradável.
Bastante interessante também é um
projeto pessoal, ainda em fase de
criação, para a urbanização do entor-
Ohtake: no dos cruzamentos entre o rodoanel
urbanismo e e as rodovias. Seriam vilas padroni-
estética devem zadas, com casas, comércio, indús-
caminhar juntos tria, transporte, como mini-cidades
com capacidade para 250.000 mora-
O
dores, isto impediria a “favelização”
arquiteto Ruy Ohtake, conhe- “A saída para agregar todos estes do local e seria um bom exemplo de
cido por obras como o fatores seria unir vontade do poder que quando se planeja a urbanização
Instituto Tomie Ohtake, na público, recursos e foco no proble- é possível conciliar estética e urba-
Vila Madalena e a Embaixada do ma”, diz Ohtake. nismo.
Brasil em Tókio, tem vários proje-
tos, alguns já concretizados e outros
ainda em fase de criação, que exem-
plificam como a estética e o urba-
nismo podem andar juntos, mesmo
em uma grande cidade como São
Paulo.
Ohtake credita o agravamento da
questão social ao êxodo rural, que
ocupou as periferias e constituiu
as favelas, as quais representam
um terço da ocupação da cidade de
São Paulo. “O último plano urba-
nístico é da década de 30, houve
um crescimento que o urbanismo
Thiago Luiz amado gonçaLves
não conseguiu organizar”, justifica
o arquiteto.
O urbanista acredita que uma fun- Expresso Tiradentes:
ção importante da cidade é a beleza, um dos projetos
a estética o que fará com que o mais conhecidos
morador se reconheça como cidadão de Ohtake
e sinta orgulho do lugar onde mora.
12
13. ARTIGO
Uma cena radiofônica da Paulicéia
Saiba mais sobre a história do rádio na cidade de São Paulo
A radiodifusão iniciou-se no Brasil em
1922. Em matéria musical, o rádio
começou apresentando a música eru-
dita, partia de Chopin e vinha caminhando por
Toselli até chegar em Verdi. Depois, abando-
A programação musical era composta
por música erudita.
Mas, o povo queria mesmo era ouvir da
“torneirinha do bom som” a música popu-
lar. Em 1932, através do decreto 21.111, o
Élcio de Carvalho, entre outros.
As famílias costumavam se reunir na
sala em frente ao aparelho receptor, que
tinha lugar de destaque, para escutarem e
sentirem deliciosas sensações nas vozes
nou-se tudo isso, e o rádio começou a abraçar presidente Getúlio Vargas autorizava a vei- afinadas de Isaura Garcia, Vassourinha,
o samba, a marcha, o choro, o baião e outros culação de propaganda comercial pelo Agripina, Déo, Paraguassú, Helena Pinto
ritmos bem brasileiros, assim se escreve a rádio, então, foi possível a canalização de de Carvalho, Januário de Oliveira, Laís
parte popular da música do rádio. recursos, assim as emissoras puderam con- Marival, Nhá Zefa, Arnaldo Pescuma,
Até 1937 a capital paulista já contava tratar profissionais e artistas com exclusivi- entre outros cantores e artistas das déca-
com dez emissoras radiofônicas: Rádio dade, o rádio deixa o amadorismo e começa das de 1930/40. Neste momento ainda
Educadora Paulista - PRA-6 (1923), a se profissionalizar. não existiam os auditórios e os fãs se
Rádio São Paulo - PRA-5 (1927), Rádio A Rádio Record merece destaque neste amontoavam numa pequena sala para
Cruzeiro do Sul - PRB-6 (1927), Rádio aspecto: os locutores e produtores César verem seus ídolos através de um vidro,
Record - PRB-9 (1928), Rádio Cosmos Ladeira e Nicolau Tuma introduziram que isolava o som do estúdio de gravação
- PRB-7 (1934), Rádio Cultura - PRE-4 inovações no meio seguindo o modelo e era conhecido como “aquário”.
(1934), Rádio Excelsior - PRG-9 (1934), norte-americano, desde o destaque para a Ainda neste período eram considerados
Rádio Difusora - PRF-3 (1934), Rádio música popular até o pioneirismo nos for- os melhores programadores do rádio pau-
Bandeirantes - PRH-9 (1937), Rádio matos de programas de jornalismo, espor- lista: Otávio Gabus Mendes, Raul Duarte,
Tupi - PRG-2 (1937). tivo, radioteatro e outros. Em 1933, as Armando Bertoni e José Nicolini. O pri-
A Rádio Educadora Paulista, atual Rádios Cruzeiro do Sul e Cosmos, per- meiro grande e moderno auditório da
Gazeta, fundada em novembro de tencentes à família Byington, formaram cidade surgiu em maio de 1939, quando
1923, seguia a risca os objetivos do a primeira cadeia efetiva de transmissão a Rádio Cultura inaugurou sua nova sede
professor Roquette Pinto para servi- em território nacional, era a rede Verde- na avenida São João. O local era conhe-
ço da radiodifusão: Amarela. cido como “Palácio do Rádio” tal a sun-
“atender os interes- Logo, o rádio, seus artistas e profis- tuosidade de suas instalações. Foi esta
ses nacionais e sionais, começaram a ganhar a atenção emissora a responsável por um dos mais
finalidade edu- de jornais e revistas que criaram se- famosos programas de calouros da época:
cacional”. ções especiais com noticiários radio- Hora da Peneira ou Peneira Rodhine, com
fônicos. O primeiro cronista especiali- patrocínio da Indústria Rhodia, era sem-
zado no assunto, em São Paulo, foi pre apresentado aos sábados das duas às
Aristides de Basile, nas páginas do cinco da tarde. Sucesso absoluto, ficou no
Correio da Tarde, depois surgi- ar por cerca de 20 anos!
ram Ary Machado, Péricles Esse fascínio do rádio sobre o público
Amaral, Egas Muniz, constituiu um fenômeno, principalmente
Mauro e Thirso para as famílias pobres, foi uma janela
Pires, Gracy aberta para a fantasia: além de informativo
Graciano, trazia para os lares um mundo mágico
através das vozes dos artistas.
A Paulicéia, diferente do Rio de Janeiro,
cultivou não só o samba e a marcha como a
seresta, a modinha, a música caipira e outros
ritmos regionais e internacionais, pois
foram muitas as nacionalidades que
concorreram para a formação de
São Paulo, imprimindo-lhe
uma fisionomia essen-
cialmente multi-
cultural.
THAÍS
MATARAZZO
XX de nonono, 2010 FOTOS SXC 13
14. ORIGEM
Freguesia do Ó, um dos pioneiros
O bairro da Freguesia do Ó é um dos mais antigos de São Paulo,
no último mês de agosto completou 431 anos.
O português Manoel Preto, funda-
dor da Freguesia, foi um bandei-
rante muito abastado e um tanto
rude, o padre Justo Mansilla o considera-
va “Corsário y ladrón de índios”, confor-
sediada no Rio de Janeiro, para erguerem
uma capela em homenagem a santa de
sua devoção.
Em 1794, estando a capela em ruínas,
foi erguida uma outra e consagrada a Nª.
Em volta da nova construção deu-se o
núcleo de formação do bairro, elevado a
freguesia em 1796. Isolado da cidade
pelas frequentes inundações da várzea do
Tietê, o bairro chegou até 1940 ainda
me citado por Afonso de Taunay no livro Sª. Expectação do Ó, este curioso “Ó” estacionário. Foi a partir de 1945 com
História Antiga da Abadia de São Paulo. originou-se das sete antífonas cantadas loteamento de antigas chácaras que o
Na sua fazenda haviam mais de mil nas festa da Mãe do Senhor, todas come- local passou a ter efetiva ocupação, sur-
índios, que ele próprio capturava nos ser- çadas pela exclamação “ó”. Celebrada a giram dezenas de núcleos habitacionais
tões do Paraná e Rio Grande, chegando 18 de dezembro, tal solenidade veio rece- como: Itaberaba, Moinho Velho,
até o Uruguai. ber, em Portugal o nome de “Festa do Ó” Brasilândia e outros.
Devoto de Nossa Senhora da Esperança, oficialmente designada “Festa da O Largo Velho da Matriz, um ponto
em 1610, “não podendo acudir a missa Expectação do Parto da Santíssima alto da Freguesia, é um dos pontos histó-
por morar longe da vila”, juntamente com Virgem”; por fim, chamou-se “Festa de ricos do bairro. Na rua João Alves, núme-
sua esposa Águeda Rodrigues, dirigiram Nossa Senhora do Ó” e, assim Nossa ro 9, antiga Ladeira Velha da Freguesia,
um requerimento ao padre Mateus da Senhora do Ó ficou sendo uma das invo- existiu uma casa (demolida em 1979)
Costa Morim, autoridade apostólica cações da Virgem. que, segundo folclore popular, foi o local
Em 1896 a igreja sofreu um incêndio onde de criou Maria Domitila, a Marquesa
causado por um apicultor. Ele foi cha- de Santos. Nesta casa, ela teria recebido
mado para acabar com uma colméia a visita de seu enamorado, o imperador
sobre o altar e resolveu utilizar o fogo Dom Pedro I.
para espantar os insetos. Conclusão: a Em 1876, viviam na Freguesia de
igreja amanheceu em ruínas. Com ela Nossa Senhora do Ó, 2.023 habitantes, os
foram destruídos vários objetos e docu- quais dedicavam-se à plantação de cere-
mentos, restou a cabeça da imagem de ais para consumo próprio, à lavoura de
Nossa Senhora do Ó, que está na matriz cana-de-açucar e à criação de animais,
nova, construída em 1901. segundo Relatório da Comissão Central
de Estatística.
Já na década de 1970 o bairro já mos-
trava a degradação da arquitetura das
casas do século XVIII, a maioria desses
imóveis foram demolidos. Na ocasião,
THAÍS MATARAZZO
Vista parcial da
Igreja Matriz,
fundada em 1901
24
15. Largo da Matriz em
1942, ao fundo a
Igreja Matriz
ACERVO PIZZARIA DO BRUNO
muitos moradores formaram uma comis- continuam a sociedade inicial, Rui tuma todos os sábados à tarde, após
são em defesa desse patrimônio histórico, de Siqueira, um dos quatro filhos de assistir a missa na Igreja Matriz,
mas tudo foi em vão. João Machado de Siqueira, quem passar pela pizzaria e cumprimentar
Em 1943, o padre Eládio Correia e o atendeu a nossa equipe disse que o pessoal.
senhor Joaquim Fernandes fundaram o seu pai, que está com 90 anos, cos- Por lá já passaram muitas personalida-
Hospital Nossa Senhora do Ó, durante
duas décadas o prédio ficou vazio, lá hoje
funciona um supermercado. Até meados
da década de 60 a Freguesia do Ó tinha
um ar de cidade do interior, com poucos
prédios e muitas ruas em declive.
Atualmente o Largo da Matriz costuma
reunir cerca de 1500 pessoas nos finais de
semana, a praça é circundada por bares e
restaurante de vários estilos: alemão, nor-
destino e italiano, com destaque para a
Pizzaria do Bruno, aberta há 71 anos. No
início serviam aos clientes polenta e fran-
go, com o sucesso do estabelecimento
passaram a oferecer pizzas, aliás o local
foi o pioneiro em ter lançado a pizza frita
na cidade.
Seus fundadores são Bruno Bertucci
e João Machado de Siqueira, a pizza-
ria está no mesmo casarão em que foi
inaugurada: o ambiente relembra um
THAÍS MATARAZZO
clima dos anos 1940. Com três
ambientes diferentes, do salão térreo
é possível ter uma vista privilegiada
da cidade.
Os filhos e netos dos fundadores Casarões do século XIX restaurandos, transformaram-se em points do bairro
15
16. des importantes do mundo político, espor- Comunidade em geral, e em especial a Aguinaldo José Gonçalves.
tivo e artístico, como José Serra, Ratinho, do bairro da Freguesia do Ó, pode de Sua inclinação para as artes começou a
Sônia Abraão e o futebolista Sócrates. maneira totalmente gratuita, apreciar e manifestar-se muito cedo e de maneira
Siqueira nos conta que na época da praticar arte e cidadania, através de ofi- espontânea. Frequentou cursos de dese-
II Guerra Mundial quando houve o cinas, cursos, palestras, shows, filmes, nho e pintura. Seus primeiros trabalhos se
racionamento de vários alimentos, exposições, apresentações teatrais e orientaram voltados para a pintura sacra,
como a farinha, seu pai costumava outras atividades correlatas. O local pro- tendo inicialmente colaborado na decora-
desmanchar o macarrão para fazer a move um projeto permanente de ção de várias igrejas da capital. Depois,
massa da pizza, já famosa na região. “Resgate da História do Bairro da como autor exclusivo, realizou uma série
Até hoje as pizzas são feitas modo Freguesia do Ó”, através de livros, jor- de pinturas murais em igrejas e capelas
artesanal, ela não é assada direta no nais, folhetos e uma Exposição perma- da capital e do interior.
tijolo como em outros restaurantes, nente de fotos antigas do bairro. Desde que se estabeleceu na Freguesia
eles utilizam uma bandeja e ao mesmo Inaugurada em 1993, tem um auditório revelou um profundo interesse e uma
tempo é assada e frita, o resultado é com capacidade para 200 lugares, no grande ligação com a vida do bairro.
uma massa fininha e crocante. momento está ganhando uma reforma Sempre foi um membro ativo nas ativida-
Em 2006, a pizzaria venceu o prê- para ampliação do espaço. des comunitárias locais, fosse religiosas,
mio Paladar com a pizza de camarão O patrono da Casa de Cultura é o políticas, cívicas, culturais ou sociais.
eleita a melhor pelo juri popular do pintor Salvador Ligabue (1905-1982), Vale a pena fazer um passeio a pé ou de
jornal O Estado De S. Paulo. paulista de Itatiba, filho de pais italia- carro pelo bairro, entre ladeiras escondidas
O bairro conta com a Casa de Cultura nos. Ainda menino, sua família trans- ao redor da Matriz é possível encontrar
Salvador Ligabue, localizada no Largo feriu-se para a capital paulista. Seu algumas casas antigas do século XIX e
da Matriz, 215. Regularmente promove primeiro contato com a Freguesia ainda conversar com os moradores vetera-
atividades culturais junto à comunidade. ocorreu no ano de 1929 em virtude da nos que não dispensam uma boa prosa.
Segundo o diretor, Jarbas Mariz, todos visita ao antigo Seminário Provincial É visível a verticalização do bairro
os esforços são voltados à recuperação e de São Paulo onde seu irmão estudava, ocorrida nos últimos anos, a demolição
preservação da história do bairro. preparando-se para a vida religiosa. de casas térreas e a falta de restauração de
Mariz afirma que a Casa de Cultura é Posteriormente, foi convidado para alguns prédios históricos fazem com que
um patrimônio inestimável da cidade de realizar alguns trabalhos na Igreja a Freguesia deixe de ter aquele ar bucóli-
São Paulo. É um espaço público onde a Matriz de Nª. Sª. do Ó pelo Pároco co de cidade do interior.
Casa de Cultura:
atividades variadas para
moradores do bairro
THAÍS MATARAZZO
16
17. ACERVO PIZZARIA DO BRUNO
Pizzaria do
Bruno: há 71
anos no
mesmo local
ORIGEM DO NOME DA FREGUESIA DO Ó
A designação NOSSA SENHORA DO Ó originou-se das sete antífonas
catadas na festa da mãe do Senhor, todas iniciadas pela exclamação “Ó!”
Ó SABEDORIA, que saiste da boda Ó RAIZ DE JESSÉ, que sois Ó REI DAS GENTES, e objeto de
do altíssimo Como estandarte dos povos, seus desejos,
Atingindo de uma à outra extremidade Diante do qual os reis fecharão a boca, Pedra angular, que reunis em vós os
E dispondo de todas as coisas forte e Não tardais mais um momento! dois povos
suavemente, Vinde e salvai o homem que formaste
Vide para nos ensaiar o caminho da do limo da terra!
prudência Ó CHAVE DE DAVI, cetro da Casa de
Israel,
Que abris e ninguém pode fechais e nin- Ó EMANUEL, Rei legislador nosso,
Ó ADONAI, Senhor e condutor da guém pode abrir: Esperado das nações e seu salvador;
Casa de Israel, Vinde a tirai da prisão, o cativo que está Vinde, salvai-nos, Senhor, nosso
Que aparecestes a Moises nas chamas sentado Deus,
da Sarça ardente, Nas trevas e nas sombras da morte! Que os céus chuvam das alturas e as
E lhe destes, sobre o Monte Sinai, a lei nuvens
eterna: Nos tragam o salvador!
Vinde nos resgatar pela potencia de Ó SOL NASCENTE, esplendor de luz
vosso braço! eterna
E sol da justiça: vinde e iluminai!
Aquele que se senta nas trevas da
morte!
THAÍS MATARAZZO
17
18. ACONTECE
Interior para paulistano ver
Evento reúne gastronomia, cultura e arte típica do estado
RODRIGO BOTELHO
FOTOS RODRIGO BOTELHO
Bem diferente
de um ônibus,
mas muito mais
divertido
N ão é sempre que se tem a chance de
conhecer a rica cultura do Estado
de São Paulo num só lugar. Mas
quem esteve no Revelando São Paulo,
Festival da Cultura Paulista Tradicional,
espaços gastronômicos de deixar qual-
quer um com água na boca. São barracas
com comidas típicas de municípios do
interior, trazendo antigas receitas de
família feitas na hora, acompanhados de
tambores, com seus ritmos paulistas
peculiares – como jongo, samba e batu-
que de umbigada – também estavam lá.
Jogos e brincadeiras promovidas por
comunidades indígenas dividiam espaço
pôde sentir de perto um pouco da cultura, calorosos sorrisos. Apesar do forte vento com tudo isso.
artesanato e culinária de vários municípios e do frio cortante nos últimos dias do Um rancho tropeiro foi adaptado e trazi-
interioranos. evento, a recepção dos interioranos – e do para os paulistanos se sentirem no inte-
A XIV Edição do Revelando São Paulo seus pratos saborosos – faziam-nos rior. Cavalos, búfalos, mulas e bois, perso-
é um projeto realizado pelo Governo do esquecer do clima. nagens figurados em tropas e cavalhadas
Estado em parceria com a Secretaria de estavam lá. Crianças puderam conhecer o
Estado da Cultura. O evento, antes sediado Cultura e arte mundo do interior montando em carros de
no Parque da Água Branca, foi realizado No palco e nas ruas, 300 grupos de boi e charretes, enquanto adultos reviveram
entre os dias 10 e 19 de setembro no manifestações artísticas e folclóricas esti- atividades típicas no clima do local.
Parque Vila Guilherme/Trote, próximo ao veram presentes nos dias do evento.
metrô Carandiru, juntamente com a Abaçaí Cortejo de bonecos e cabeções, reiada, Mais que um evento
Organização Social de Cultura. folia de reis, sanfoneiros, catiras, adora- Não havia oportunidade melhor para
dores da Santa Cruz, caminheiros e realizar o X Festival da Amizade, do que
Gastronomia romeiros estiveram presentes. Modas de dentro do grandioso evento. Além de
No local, os visitantes conhecem 200 violas caipiras e noites de São João e dos abarcar tradições do Estado de São Paulo,
18
19. Representantes
dos Reis Magos
encantam
platéia do evento
o local atraiu também características cul- em especial no último dia, onde reuni- ralidade do estado para o paulistano
turais de outras regiões do país e também ram-se grupos de congos, caminheiros, conhecer ou relembrar. Afinal somos
de imigrantes. Países como Portugal, moçambiques, romeiros, irmandades reli- paulistanos, mas, antes de tudo, paulis-
Itália, Japão, Bolívia, Chile, Alemanha, giosas de variados segmentos, comunida- tas!
entre outros, trouxeram suas contribui- des indígenas, tropas e tropeiros ruma-
ções, adicionando tempero ao caldeirão ram ao Parque do Trote.
efervescente de cultura da capital mais Os visitantes tiveram contato
plural da América Latina. com as tradições do estado.
Segundo informações da Abaçaí, reali- Cristiane Oliveira, estudante
zadora do Revelando, milhares de pes- de administração, 24 anos,
soas compareceram ao longo do evento, saboreava um camarão de São
Vicente enquanto nos contava o que
mais gostou do evento – além do
camarão. “O mais interessante no
evento é identificar a diversidade
de culturas, nunca havia participado
SERVIÇO de uma festa de folia de reis e adorei.
Foi muito animado e relembra histó-
Prefeitura de São Paulo rias contadas pelos meus pais e avós”.
http://migre.me/1TECg Cristiane também dá uma dica do que
quer na próxima edição do evento.
Abaçaí Cultura e Arte “Seria muito interessante contar um
www.abacai.org.br pouco mais da história de cada uma das
regiões para complementar a cultura.”
Mapa de culturas tradicionais O foco no respeito à diversidade e o Integrante de grupo
http://abacai.org.br/canal_folclore.php convívio pacífico é importantíssimo para de folia de reis se
constituir e preservar a alma cultural da prepara para
capital. O Revelando São Paulo é impor- subir ao palco
tante neste aspecto, pois traz à tona a plu-
25
20. ARTIGO
Os 60 anos da televisão
Aplausos e lembranças da “mídia-majestade” brasileira
FÁBIO SIQUEIRA*
Assis Chateaubriand
inaugura a TV Tupi
em 1950
FOTOS ACERVO PESSOAL
E m 18 de setembro passado, a Televisão
Brasileira comemorou seus 60 anos
de Brasil. A importância dessa data
comemorativa transcende em muito uma
mera convenção de calendário, pois se trata
infra-estrutura, os profissionais, os apare-
lhos televisores, tudo organizado para que
na noite de 18 de setembro daquele ano se
realizasse a majestosa Festa de Inauguração,
no bairro paulistano do Sumaré, juntamen-
como seus técnicos, redatores, diretores e
produtores. Nesses primeiros anos de fun-
cionamento da Tupi, a presença do mundo
e do espírito radiofônico era incontestável.
Mas não só, fica patente as influências e
do meio de comunicação que atinge quase te com a transmissão do primeiro progra- mesmo a direta presença de elementos do
a totalidade dos lares dos brasileiros. ma, o TV na Taba. Estava fundada a cinema, do teatro, do circo, da literatura,
A exatos 60 anos, essa novidade tecno- PRF3-TV Tupi de São Paulo, o canal 3, a da música erudita, da música popular, das
lógica e cultural chegava a “terra brasilis”, primeira da América do Sul. artes plásticas, da publicidade, do jornalis-
de navio, pela iniciativa do jornalista e Um tópico relevante, quando se recorda mo, enfim, das grandes e legítimas mani-
empresário Assis Chateubriand (1891- esse princípio da televisão brasileira, se festações artísticas nacionais da época.
1968), que já era proprietário, na época, de refere às influências artísticas e culturais Talvez seja esse o segredo da força,
um conglomerado de Jornais, Revistas, ali presentes. Certamente a mais preemen- competência e qualidade da televisão,
Agência de Notícia e Rádios (incluindo as te e presente tenha sido a influência radio- nesse início, pois tudo passava pela e tam-
Rádios Tupi e Difusora, ambas sediadas fônica, pois a TV Tupi, tendo em vista bém na televisão. E ainda existia o respal-
na Capital Paulista) e desde então coman- que, as duas rádios já mencionadas –Tupi do e o apoio dos jornais, que eram em
dava e coordenava o projeto-empreendi- e Difusora de São Paulo, eram de proprie- número elevado em 1950, em São Paulo,
mento de trazer a TV para nosso país. dade do jornalista Assis Chateubriand e só a Cadeia dos Diários Associados, grupo
Durante o ano de 1950, de forma paula- ambas as rádios cederam a maioria do que administrava a Radio e TV Tupi tinha
tina, foram chegando os equipamentos, a elenco para a estação de TV nascente, bem dois jornais em circulação: o Diário de
20
21. São Paulo e o Diário da Noite. E no também pelo fato de que em vinte
Rio de Janeiro, a então Capital anos, no inicio dos anos 70, a tele-
Federal, o processo de chegada da visão passava o rádio e o jornal, se
TV foi bastante semelhante ao ocor- tornando o meio de comunicação
rido em São Paulo, pois se concluiu mais consumido pelos brasileiros
em 20 de janeiro de 1951, com a e, já na década passada, conseguia
fundação da TV Tupi, a pioneira atingir a incrível e superior marca
emissora dos cariocas. E ali, tam- de 99,5 % de presença nos lares
bém já existia duas rádios de pro- brasileiros. Por tudo isso, não há
priedade de Chateubriand-a Rádio como dissociar a presença da TV
Tupi e a Rádio Tamoyo, dois jor- na rotina e no cotidiano de nossa
nais – O Jornal e Diário da Noite população.
(na versão carioca) além da sede da Por fim, fica consignada essa sin-
revista semanal O Cruzeiro, o peri- gela homenagem a TV brasileira,
ódico recordista de leitores da Inezita Barroso, 1954 quando completa essas seis décadas,
época, que muito cobriu e noticiou com muita presença e influencia, e
o surgimento dos primeiros canais nunca se pode esquecer desses mes-
de TV. tres pioneiros que ajudaram a reali-
E nos anos seguintes foram sur- zar esse sonho vistoso e visionário,
gindo as novas estações de TV, como Cassiano Gabus Mendes,
concorrentes das duas Tupis pio- Mario Alderighi, Dionísio Azevedo,
neiras. Em 1952, foi inaugurada a Walter George Durst,Walter Forster,
TV Paulista, canal 5 Paulista, e no Ribeiro Filho, Maurício Loureiro
ano seguinte o canal 7 a TV Gama, Júlio Gouveia, Tatiana
Record, que existe até hoje. Nas Belinky, Zae Júnior, Luiz Gallon,
terras cariocas, a segunda emissora Jota Silvestre, Luis Arruda Paes,
foi a TV Rio em 1955 e a terceira Lúcia Lambertini, Márcia Real,
a TV Continental, fundada em Laura Cardoso, Yara Lins, Lia de
1959. Em 1955, a TV chegava ao Aguiar, Álvaro de Moya, César
mineiros, com a inauguração da Angela Maria, 1954 Monteclaro, Rebello Junior, Mário
TV Itacolomy, criada por Fannucci, Cyro del Nero, Blota
Chateubriand, que já dispunha do Júnior, Sônia Ribeiro, Hélio Souto,
jornal O Estado de Minas naquela Ary Silva, Raul Tabajara, Graça
então jovem cidade de Belo Mello, Heitor de Andrade, Silveira
Horizonte. Sampaio, Manoel de Nóbrega,
Assim foi a gênese do apareci- Plácido Maia Nunes, Vera Nunes,
mento da Televisão no Brasil, a Antônio Seabra, Vida Alves, Hebe
nossa “mídia-majestade” não só Camargo, Demerval Costa Lima,
por ter implantado um padrão de Almeida Castro, Homero Silva,
qualidade bastante elevado em Gaetano Gherardi, Paulo Machado
suas produções, fato que hoje de Carvalho, Barros Barreto, Victor
começa a ser rediscutido em vista Costa, dentre muitos outros. A todos
da visível queda geral de qualida- os pioneiros, a TV brasileira, apreço
de nos últimos quinze anos, mas e calorosos aplausos.
Celly e Tony Campello, 1958
*Fábio Siqueira colaborou com Expressão SP.
É advogado e sociólogo,
formado pelo Mackenzie e
PUC-SP, pesquisador da história da televisão brasileira,
morador da cidade de São Paulo.
21
22. MÚSICA
Melodias portuguesas em São Paulo
Artistas veteranos e jovens se dedicam à música popular portuguesa na capital paulista
O grupo musical
Sete Cidades:
Gabriel Laudino,
Marcos Sebo,
Tatiana Monteiro
e Alexandre Matis
ACERVO ALEXANDRE MATIS
A cidade de São Paulo é mundial-
mente conhecida por sua
influência nacional e internacio-
nal, seja do ponto de vista cultural, eco-
nômico ou político. A Paulicéia, desde
ras da “pátria-mãe”, cada vez mais
absorvendo as novelas televisivas, o
cinema, a música e a literatura brasilei-
ras, sem contar os jogadores de futebol,
entre outros aspectos.
jovens para dar continuidade ao movi-
mento associativo português, o que é um
desafio, pois, muitos descendentes sen-
tem-se desmotivados ou possuem outras
preferências e interesses.
fins do século XIX até hoje acolhe imi- Mas nem tudo está perdido. Na capital A música popular portuguesa tem sua
grantes de todo o mundo. bandeirante a colônia lusa possue algu- representatividade em duas vertentes:
Uma das maiores colônias portuguesas mas entidades representativas: embaixa- uma é o fado expresso através dos fadis-
no Brasil se encontra na capital paulista. das, consulados e as associações, por tas, dos músicos e dos compositores e a
Uma característica deste povo é o saudo- exemplo, a Casa de Portugal, o Centro segunda é o folclore, tocado em ritmos
sismo por sua pátria, expressado em Trasmontano, o Pedro Homem de Melo como o vira, o chula, o puladinho, o
geral, através da música e da poesia. da Igreja N.S. de Fátima no Sumaré, o malhão e o corridinho, entre outros,
Apesar da longa trajetória que nos une, Arouca São Paulo Clube, a Casa da Ilha sempre divulgado pelos ranchos e gru-
cujos elementos ajudaram a fundar, a da Madeira, a Associação Portuguesa de pos folclóricos. Nos dois casos, no
criar a essência do povo brasileiro, temos Desportos, a Casa dos Açores, o Clube Brasil, além de ter elementos portugue-
nos últimos tempos observado infeliz- Português de São Paulo, o Vilas de ses, já existem alguns componentes
mente um refluxo do intercâmbio e, por Portugal, a Casa de Bronhosinho, a Casa lusos-descendentes e até brasileiros.
conseguinte, uma diminuição dos ele- do Minho, o Clube Lusitano, a Associação Para saber um pouco mais sobre o tra-
mentos de divulgação da cultura lusitana dos Poveiros, entre outros. balho de um grupo folclórico, Expressão
nos veículos de comunicação ao longo do Dentre outras finalidades, essas entida- SP conversou com o jornalista Armando
vasto território brasileiro. des têm por objetivo disseminar e promo- Torrão, 55, nascido em Miranda do
O que não é uma contrapartida em ver atividades culturais lusitanas. Douro, norte de Portugal, diretor do
relação aos elementos nacionais em ter- Atualmente, muitos dirigentes buscam Grupo Folclórico Veteranos de São
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