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A revista de todos os povos
                            Novembro de 2010




                    Nesta edição:
                   A metamorfose
                  DA BARRA FUNDA
                    A história DA
                  FREGUESIA DO Ó
                Artigos: RÁDIO, TV
                E INEZITA BARROSO
Praça Ramos


                A cultura popular
de Azevedo,
ao fundo o
antigo prédio
do Mappin,
1942
                  EM SANTO AMARO
ÍNDICE                                              ÍNDICE



     05
     EM FOCO
     Conheça alguns dos
     principais atrativos
     da cidade




     06
     FOTO DA CAPA
     O Mappin: um dos
     pontos comerciais
     mais importantes
     da cidade



     07
     ARTIGO
     Inezita Barroso:
     a caipira do
     asfalto



     13
     ARTIGO
     Uma cena
     radiofônica da
     Paulicéia




     18
     ACONTECE
     Revelando São Paulo:
     o interior pra
     paulista ver




   MUTANTE          CIDADE           ORIGEM        ARTIGO        MÚSICA        CULTURA POPULAR         RETRATOS
    Barra         Rui Ohtake:        Freguesia   Os 60 anos      Melodias           Santo               Estação
    Funda     urbanismo e estética     do Ó      da televisão   portuguesas         Amaro                da Luz
     08                 12             14           20             22                 26                   30
                                                                          CAPA: FOTO DO ACERVO DO CLUBE PORTUGUÊS DE SÃO PAULO
Carta ao Leitor
                                                       CARTA AO LEITOR

  Caro leitor,
  O intuito da nossa revista é proporcionar a você, um acesso prático e versátil a tudo o que acontece em São Paulo, através de uma
prestação de serviço especializada e de uma forma prazerosa de se ler.
  Eventos culturais, informações, lazer e entretenimento fazem parte da nossa perspectiva de divulgação e acessibilidade para toda a sua família.
  Nossa equipe trabalha constantemente em função do seu bem estar e a cada dia oferece um conteúdo diversificado e atualizado. Toda
essa dedicação tem como finalidade contribuir para o seu pleno conforto e comodidade.
                                     O objetivo da Expressão SP, além de fazer parte da sua vida de maneira agradável e eficaz, é princi-
                                          palmente proporcionar a você um levantamento do que a cidade tem de melhor para oferecer.
                                                    Para a nossa equipe é uma enorme satisfação compartilhar com todos os leitores nossos
                                                         planos e projetos. Elaboramos as páginas da nossa revista pensando em cada sen-
                                                                sação e resultados que serão proporcionados a vocês.
                                                                          É por todas essas razões que a Expressão SP tem orgulho em ser
                                                                               paulistana e atuar para promover essa cidade tão surpreen-
                                                                                       dente e exuberante.

                                                                                                        Atenciosamente,
                                                                                                              Equipe Expressão SP.




FALE CONOSCO

E-mail: expressaosp@gmail.com

Fax: ☎ (11) 2742-8560

Cartas: Caixa Postal 17112,
CEP 03582-010, São Paulo, SP                                         Editora: Thaís Matarazzo
                                                                Editora de Arte: Roberta de Donno
As mensagens devem trazer a assinatura, o        Repórteres: Fabíola Santana, Michelle Barros, Roberta de Donno,
endereço, o número da cédula de identidade             Rodrigo Botelho, Rosana Lameu, Thaís Matarazzo,
e o telefone do remetente. Envie para Editora,     Colaboradores: José de Almeida Amaral Junior, Fábio Siqueira
EXPRESSÃO SP. Por motivos de espaço ou
clareza, as cartas poderão ser publicadas                                      www.expressaosp.com.br
resumidamente.
                                                                  IMPRESSA NA ESPAÇO MAIS DIGITAL
Atendimento ao leitor: (11) 2742-6918                R. Alvorada, 716, CEP 04550-003, Vila Olímpia, São Paulo, SP
EM FOCO

   Casarões antigos
   foram preservados
   em meio a evolução
   e o crescimento
   da cidade




                                                                                                                                            Fotos abaixo:
                                                                                                                                    1. Mercado Municipal
                                                                                                                                    2. Prédio do Banespa
                                                                                                                               3. Faculdade de São Bento




                                                                                                                                                              FOTOS ROSANA LAMEU
     São Paulo: vale a pena conhecer
                                     A história de vários povos se encontra aqui

U         m dos maiores centros urbanos do país.
          Trata-se da cidade de São Paulo, que
          além de ser uma grande metrópole tam-
 bém é considerada a cidade dos sonhos. Com
 sua estrutura arquitetônica, a diversificada culi-
                                                       tempos atuais, além de um programa indicado
                                                       para toda a família. Andar pela cidade de São
                                                       Paulo, pode ser mais do que um passeio de fim
                                                       de semana pois nos remete a conhecer uma
                                                       parte da cultura e histórias da nossa cidade.
                                                                                                            3.                         presença do idioma
                                                                                                                                          nativo entre eles, o
                                                                                                                                           cultivo de suas
                                                                                                                                            crenças e costumes
                                                                                                                                            que não se perde-
 nária, os parques e a arte de várias regiões podem       O parque do Ibirapuera, um dos pontos de                                         ram em meio à dis-
 ser facilmente encontrados nas típicas feiras         encontro mais conhecidos e frequentados por                                        tância e a convivên-
 livres, espalhadas em muitos pontos da cidade.        visitantes de todas as faixas etárias é um dos                                  cia com a população
    Em São Paulo é comum achar tudo o que se           cartões postais da cidade. Nele está localizado                              brasileira. Muito pelo
 procura em um único lugar. Prova disso são os                               um dos maiores monu-           contrário, todos aprenderam a apreciar, respei-
 centros comerciais, que são verdadeiras atrações      2.                       mentos de São Paulo o       tar e a praticar essas novas tendências, que já
 tanto para turistas como para moradores. Na                                       Obelisco Mausoléu,       comemoram mais de cem anos no Brasil.
 famosa Rua Vinte e Cinco de Março, temos um                                        que foi construído         Outra particularidade de bairros típicos em
 turbilhão de ofertas que se dividem em: roupas,                                    em referência aos       São Paulo é o Bexiga, onde predomina a
 calçados, brinquedos, acessórios, comida. São                                      que lutaram contra      comunidade italiana. Conceituada por sua
 inúmeros os produtos vendidos nas lojas, nas                                       a ditadura de Getúlio   culinária especializada em massas e molhos
 barracas e bancas espalhadas por toda a extensão                                  Vargas, durante a        caseiros, o bairro envolve toda a cidade com
 da rua e das calçadas mais famosas da cidade.                                  tirania de seu governo      as comemorações religiosas que acontecem
                           Bem próximo a Vinte                              militar. São inúmeras as        anualmente. Toda a renda do evento é reverti-
1.                          e Cinco, temos o           pessoas que transitam por ali, praticam espor-       da em benefícios assistenciais à instituições
                              imponente Mercado        tes, passeiam, descansam, namoram. Porém             voltadas para atender as necessidades das pes-
                               Municipal de São        são poucos os que sabem o que este monumen-          soas carentes e melhorias do bairro.
                                Paulo. Local procu-    to realmente significa para a sociedade.                Como podemos observar, São Paulo é o lugar
                                rado tanto por sua        O bairro da Liberdade por sua vez, trás toda      onde tudo acontece ao mesmo tempo. E sempre
                               variedade em mer-       a harmonia e consagração típica do Japão em          tem uma programação bem acessível para todos
                              cadorias horti-frutti,   meio ao dia-a-dia dos paulistanos. É uma forma       os gostos, estilos e classes sociais. Cabe aos pau-
                            como pela culinária        de conhecer o oriente e suas tradições, sem sair     listanos aproveitar ao máximo esses recursos e
                        sendo o prato principal o      do país. Estão concentradas no bairro todas as       desfrutá-los da melhor maneira possível.
 tradicional Sanduíche de Mortadela. Sua bela          tendências, hábitos, cultura e tradições orien-
 arquitetura panorâmica é preservada até os            tais. Desde a culinária até os trajes típicos, a                                   ROSANA LAMEU

                                                                                                                                                            05
FOTO DA CAPA



                   O antigo prédio do Mappin
     Conheça a história de um dos pontos comerciais mais importantes da cidade
                                                        THAÍS MATARAZZO




O      prédio que aparece na capa desta
       edição de Expressão SP é um dos
       símbolos do centro da capital pau-
lista. O antigo prédio do Mappin, na
praça Ramos de Azevedo (defronte ao
                                              O Mappin foi uma das lojas pioneiras no
                                            comércio varejista, sinônimo de megaloja
                                            numa época em que não existiam shop-
                                            pings centers em São Paulo. Durante os
                                            anos de 1930, inovou ao colocar etiquetas
                                                                                          tipos de produtos em suas prateleiras.
                                                                                             A história desta loja começou na
                                                                                          Inglaterra, depois da Revolução Industrial,
                                                                                          em 1774, quando as famílias de comer-
                                                                                          ciantes Mappin e Webb inauguraram na
Teatro Municipal), atualmente está ocu-     com preços nas vitrines e nas vendas a cre-   cidade de Sheffield uma sofisticada loja de
pado pelas Casas Bahia.                     diário. Era possível encontrar todos os       prataria e artigos finos.
                                                                                             Na cidade de São Paulo o Mappin foi
                                                                                          inaugurado em 1913, na rua Quinze de
     O prédio do                                                                          Novembro para atender às ricas famílias
     Mappin em                                                                            dos cafeicultores paulistas. Em 1919, a loja
     seu auge e                                                                           mudou-se para a praça do Patriarca, vinte
     abaixo, anúncios                                                                     anos depois inaugurou sua sede na praça
     característicos                                                                      Ramos de Azevedo, em prédio construído
     da época                                                                             pelo arquiteto Elisário Bahiana (1891-
                                                                                          1980), o mesmo que fez o viaduto do Chá
                                                                                          e o Jockey Club.
                                                                                             O Mappin possuía um comércio cheio de
                                                                                          glamour. No prédio da praça Ramos, no
                                                                                          quarto andar, às cinco da tarde, as senhoras
                                                                                          da alta sociedade costumavam se reunir para
                                                                                          tomar chá à moda inglesa. Todo esse charme
                                                                                          durou até fins da década de 1960.
                                                                                             Outro destaque do prédio é o relógio, que
                                                                                          nunca atrasava, ainda está lá, mas sem fun-
                                                                                          cionamento. A loja se tornou um ponto de
                                                                                          referência para os paulistanos.
                                                                                             Foi considerado um dos melhores pontos
                                                                                          comerciais da cidade, milhares de pessoas
                                                                                          transitavam a pé por ali. As vitrines da loja
                                                                                          eram lindas e chamativas, recebiam um tra-
                                                                                          tamento todo especial de cenário, que muda-
                                                                                          va de tempos em tempos, antes de expor as
                                                                                          mercadorias.
                                                                                             Quando havia liquidações, que geralmen-
                                                                                          te eram anunciadas no rádio e na TV, os
                                                                                          clientes formavam filas quilométricas em
                                                                                          volta do quarteirão na Praça Ramos de
                                                                                          Azevedo.




06
ARTIGO


                                    Inezita Barroso
                                                                 Uma caipira do asfalto
                                                                 JOSÉ DE ALMEIDA AMARAL JUNIOR*



S     em dúvida alguma é das mais
      importantes figuras da nossa
      música raiz. O nacionalismo
convicto de Inezita é defendido em
cada uma de suas apresentações pelos
                                           reada como atriz de cinema e foi par-
                                           ceira de Paulo Autran, entre outros
                                           importantes nomes no teatro. Em
                                           1955 o LP “Vamos Falar de Brasil”
                                           lhe rendeu o Premio Roquette Pinto.
                                                                                                  o exterior, com o estrangeiro, é preci-
                                                                                                  so primeiro que nos conheçamos e
                                                                                                  nos respeitemos, caso contrário nunca
                                                                                                  o faremos de modo soberano e segu-
                                                                                                  ro. Não somos cowboys, embora mui-
palcos deste gigante país afora, entre     Suas gravações foram apreciadas e                      tos assim o desejem. Desta forma,
eles o da TV Cultura, onde comanda         levadas à Europa onde obtiveram                        abraça os veteranos e estimula os jo-
o tradicional “Viola, Minha Viola”,        reconhecimento. Em sua carreira can-                   vens artistas a estudarem e recriarem
programa que há 30 anos semanal-           tou na Rádio Clube do Recife, na                       a partir do que é autenticidade, do que
mente abre espaço para as manifesta-       Bandeirantes e na Record de São                        é nosso. Como ela entoa numa canção
ções populares de nossa gente, cuja        Paulo, entre outras.                                   de Adauto Santos: “Eu sou do mato/
platéia, como ela mesma diz, ‘não            Apaixonada pelos livros e pela pes-                  Sou caipira verdadeira”. Essa é Inezita
admite concessões’.                        quisa, formou-se em Bibliotecono-                      Barroso, estrela brasileira.
  Inês Madalena Aranha de Lima nas-        mia pela USP e deu aulas sobre fol-
ceu em São Paulo/ Capital, na Barra        clore em faculdades de São Paulo.                         *José de Almeida Amaral Junior
Funda, em 04/03/1925. Era vizinha de       Prestes a completar 60 anos de exito-                       Professor em Ciências Sociais,
Mário de Andrade, grande escritor e        sa carreira artística, acredita que é                       Economista, pós-graduado em
poeta modernista. Desde pequena foi        preciso muita resistência e tenacidade                    Sociologia e mestre em Políticas
incentivada pela família a apresentar-     na divulgação da cultura popular que                                         de Educação
se em clubes, festas e teatros. Aos        vai sendo engolida cada vez mais pe-                   Colunista do Jornal Mundo Lusíada
sete anos começou a aprender violão        los meios de comunicação em massa,                     e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz
e aos onze também ingressou no             pela força do que chamam de ‘moder-                                          de São Paulo
piano. Queriam dar uma boa forma-          nidade’ e dos interesses modistas.
ção à menina. Mas, Inezita não tinha       Enfurece-se com a injustiça e o
aspirações para a chamada música           pouco caso que fazem com os
erudita. Adorava mesmo era o mundo         caipiras. Sempre se remete,
popular, suas expressões folclóricas.      como exemplo, às festas ju-
Especialmente o que chamamos de            ninas nas escolas onde as
caipira. E não bastando os estudos de      pessoas põem remendo na
violão e piano, ainda foi aprender a       calça jeans dos alunos,
tocar viola. Do jeito mais correto o       pintam o dente da crian-
possível para o instrumento: ‘de ouvi-     ça de preto para ela ficar
do’. Como manda o figurino do inte-        ‘bem banguela’ e ainda
rior.                                      esfiapam o chapéu: puro
  Apesar dos pais não apoiarem a           preconceito, reclama a
‘vida de artista’, coisa mal vista espe-   grande dama.                                                                                      Inezita
cialmente para moças, em 1950                Orgulhosa de sua gen-                                                                       Barroso na
estreou como atriz ao participar do        te, Inezita é um exemplo                                                                         capa da
filme “Ângela”, de Tom Payne e             para um país que pretende                                                                         revista
Abílio Pereira de Almeida, pela            cada vez mais globalizar-                                                                    Radiolândia
Companhia Vera Cruz. Sua carreira          se. Afinal de contas,                                                                            de 1956
musical começou em paralelo, can-          antes de qualquer
tando em rádio, quando virou Inezita       coisa, para po-
Barroso, sobrenome herdado do mari-        dermos tro-
do cujo irmão ator e locutor ajudou        car com
sua carreira. Ela fez sua estréia em
disco no ano de 1951, com um 78
rpm: “Funeral de um Rei Nagô”
(Afro-brasileiro)      e    “Curupira”
                                           FOTO ACERVO PESSOAL




(Canção amazônica) pelo selo Sinter.
Em 1953 outro 78 rpm e então dois
temas inesquecíveis: “Marvada pinga”
(Laureano e Torres) e “Ronda”
(Vanzolini) pela RCA Victor. Foi lau-

                                                                                                                                                  07
MUTANTE


                 A Barra Funda começa a mudar
                            Localizado na zona oeste, o bairro passa por uma
                         remodelação e perde parte de sua história arquitetônica

     Casario da rua
     Vitorino Camilo




                                                                                                                                  THAÍS MATARAZZO
     A   São Paulo das três primeiras
         décadas do século XX estava
         em plena transformação, condu-
zida pela pujante economia cafeeira e
pela industrialização. Aqui chegaram
                                            de Educação Bonni Consilii. Em fins do
                                            século XIX a área foi loteada e arruada,
                                            dando origem ao bairro da Barra Funda,
                                            que em um primeiro momento ganhou
                                            casas residenciais abastadas.
                                                                                         duas partes: a Barra Funda “de baixo” e
                                                                                         a “de cima”, esta divisão também gerou
                                                                                         discussões sobre o nome da região. Os
                                                                                         italianos residentes na parte “de cima”
                                                                                         afirmavam que a origem da designação
imigrantes de várias partes do mundo,         Assim como a Barra Funda, outros           era uma homenagem à uma localidade
em 1940, 80% da população da cidade         bairros da capital (Santa Ifigênia, Brás e   de sua terra natal chamada de Barafonda,
era formada por italianos, portugueses,     Mooca) surgiram de loteamentos de chá-       que significa local de muita confusão.
espanhóis e japoneses. Novos comporta-      caras cujos terrenos foram cortados pela        A versão dos moradores da parte “de
mentos, diferentes hábitos, influências     estrada de ferro - a São Paulo Railway,      baixo” apontavam uma característica da
culturais e políticas geravam um novo       evento motivado pela economia cafeeira       várzea do Tietê: onde os carroceiros, que
aspecto a São Paulo.                        em plena ascensão: a linha férrea servia     buscavam areia para as construções,
  Na antiga Chácara do Carvalho, per-       para escoamento do plantio de café pro-      aproveitavam as diversas lagoas forma-
tencente ao conselheiro Antônio Prado,      duzido no interior do estado até o Porto     das pelas cheias do rio Tietê e que torna-
foi construída uma bela casa sede, obra     de Santos. A Barra Funda contava com         vam fundas suas margens.
do arquiteto italiano Luigi Puci (respon-   uma estação, armazéns e um pátio da             Após a crise de 1929, muitas famí-
sável pelo projeto do Museu do Ipiranga),   São Paulo Railway.                           lias endinheiradas abandonaram o
no local funciona desde 1937 o Instituto      A linha do trem repartiu o bairro em       bairro, chegaram então os imigrantes

08
italianos que aos poucos povoaram          guardar materiais e objetos indesejáveis   relembra que seu pai era jornalista e cos-
toda região, muitos deles trabalhavam      dos moradores, em outras oportunidades     tumava alugar casas grandes, na frente
na ferrovia, outros abriram pequenos       eram alugados a baixos preços, fato que    montava sua oficina, nos fundos instala-
comércios como sapatarias, serrarias e     atraia a população mais desfavorecida.     va sua família, e ainda, sublocava alguns
oficinas mecânicas.                          Yvone di Biasi Leporace, 87, morado-     quartos e o porão: “minha mãe, que era
  Construíram ao longo dos trilhos da      ra do bairro nas décadas de 1930/40,       filha de italianos, tomava conta da casa
Estrada de Ferro um casario modesto.
Essas novas casas contavam com bonitas
fachadas, eram geminadas e térreas, com
pequenas frentes, porão e terreno fundo.
Alguns casarões se tornaram cortiços




                                                                                                                                        ACERVO CENTRO DE DOCUMENTÁRIO E MEMÓRIA DO SAMBA PAULISTA
(vide box).
  Os porões dessas casas eram altos,
muitas vezes serviam de depósito para

 ATIVIDADES CULTURAIS
 DO INÍCIO DO SÉCULO XX
    Desde o início do século XX a                                                                             Desfile de cordões
  Barra Funda contava com diversas                                                                           carnavalescos entre
  atividades culturais para seus mora-                                                                              as ruas João
  dores                                                                                                              de Barros e
    Em 1917, foi inaugurado o                                                                               Conselheiro Brotero,
  Theatro São Pedro na confluência                                                                               na Barra Funda
  das ruas Albuquerque Lins e Barra
  Funda. O edifício, de estilo neoclás-
  sico, era luxuoso e confortável. Um      zavam os armazéns e pátio ferroviário      das procissões religiosas, como
  local digno da grande metrópole          da São Paulo Railway, e ainda, o Largo     também se influenciaram outros
  que surgia.                              da Banana.                                 cordões, nos dias de carnaval o
    O teatro tornou-se ponto de               Nas alturas das ruas Brigadeiro         cordão passava nas ruas em fren-
  encontro para os moradores da            Galvão, Vitorino Camilo e Lopes de         te as residências dos beneméritos
  Barra Funda, de Santa Cecília, de        Oliveira, havia por volta de 1900, um      e os salões frequentados pela
  Higienópolis e dos Campos Elíseos.       hipódromo e uma coudelaria de cava-        comunidade negra do centro da
  Seu idealizador foi Manuel Ferreira      los de corrida, dali deve ter sobrado o    cidade.
  Lopes, um jovem português que fez        afamado bebedouro de animais do              No final da década de 1930, o
  fortuna com casas de espetáculos         Largo da Banana.                           Grupo Carnavalesco da Barra
  em São Paulo e no Rio de Janeiro.           O local tinha esse nome, pois lá        Funda foi fechado por pressão do
    O projeto é de autoria do arquite-     eram comercializadas bananas e outras      governo de Getúlio Vargas, pois
  to italiano Augusto Bernardelli          frutas, que ali chegavam através de        seus integrantes foram confun-
  Marchesini, a execução da obra           carroças puxadas por burros. Foi ali       didos com membros do Partido
  ficou a cargo do engenheiro Antonio      que nasceu, segundo historiadores, o       Integralista, opositor ao governo,
  Alves Villares da Silva, colaborador     samba paulista.                            por trajarem camisas verdes.
  de Ramos de Azevedo.                        Era um espaço de lazer onde a comu-       Até que em 1953, a associação
    A partir dos anos 1920 o Theatro       nidade negra que morava na Barra           foi reativada como Camisa Verde e
  São Pedro passou a funcionar pre-        Funda, e trabalhavam nos armazéns da       Branco, em menção a outra peça do
  dominantemente como cinema, con-         estrada de ferro, se divertia ao som das   uniforme trajado por seus compo-
  tinuou nessa atividade até meados        rodas de samba, batuque e tiririca,        nentes, a calça branca.
  dos anos 60. Em 1998, após um            segundo o escritor e pesquisador             O Largo foi suprimido em mea-
  período de decadência, foi total-        Mário de Andrade, ali se tocava o          dos da década de 1950, dele apenas
  mente restaurado, a recuperação de       samba rural paulista, uma mistura de       sobraram lembranças e o registro
  suas características arquitetônicas      ritmos trazidos por ex-escravos do         em alguns sambas como este do
  originais resgatam a memória artís-      interior de São Paulo misturado a          compositor Geraldo Filme: Levo
  tica paulistana.                         outros gêneros urbanos.                    saudades / Lá do Largo da Banana
    No local onde hoje se encontra o          Toda essa influência fez com que a      / Onde nóis fazia samba / Todas as
  complexo formado pelo Memorial           Barra Funda também fosse palco da          noites da semana / Deixo esse
  da América Latina, o Viaduto             criação do mais antigo cordão de           samba / Que fiz com muito carinho
  Pacaembu e o terreno que abriga o        carnaval da cidade, de 1914: o Grupo       / Levo no peito a saudade / Nas
  prédio do PROCON (com frente             Carnavalesco Barra Funda.                  mãos o meu cavaquinho / Adeus
  para a Rua Barra Funda), se locali-         O desfile era realizado nos moldes      Barra Funda.


                                                                                                                                   09
FACHADAS DA BARRA FUNDA
       A arquitetura e o patrimônio históri-   truídas pelo capomastro Domenico             coisa foi transformada sem o cuidado
     co e cultural da Barra Funda estão em     Sordini.                                     da preservação do estilo, da época, e
     decadência. Comparando fotos antigas        Em 1977, a fotógrafa Dulce Soares          muita coisa foi se perdendo.”
     com atuais nota-se uma transformação      percorreu a Barra Funda a serviço da           Atualmente dois marcos da arquite-
     radical no bairro, muitas casas e casa-   Secretaria de Estado da Cultura, o resul-    tura no bairro se conservam como o
     rões foram demolidos para dar lugar a     tado foi o livro Barra Funda Esquinas,       original: a primeira é a casa sede da
     atual explosão imobiliária no bairro.     Fachadas e Interiores, publicado pela        Chácara do Carvalho, hoje atravessa-
       O marco na arquitetura da região        Imprensa Oficial do Estado, em 1983. Lá      da pela Alameda Barão de Limeira,
     aconteceu em 1930, quando chegaram        está registrado o que restou da arquitetu-   atual sede do Instituto de Educação
     os primeiros imigrantes italianos, res-   ra original do bairro. Na época, Dulce       Bonni Consilii. A segunda é a casa
     ponsáveis por boa parte do povoamen-      declarou ao Jornal da Tarde: “… rara a       que pertenceu ao intelectual Mário de
     to da Barra Funda na primeira metade      casa aqui que não tem adorno a não ser       Andrade, atual Oficina da Palavra
     do século XX. Depois veio a comuni-       as novas ou as reformadas, muita             Casa Mário de Andrade.
     dade negra. A partir de meados de
     1970, muitos migrantes nordestinos
     passaram a habitar o bairro.                                                                                   Casa da década
       Os capomastri, mestre-de-obras                                                                                de 1930 na rua
     italianos, introduziram novas técni-                                                                           Vitorino Camilo
     cas na construção civil, lideravam
     projetos e participavam dos dese-
     nhos das obras, muitos deles produ-
     zidos em conjunto com os artistas
     também italianos. Eles se preocupa-
     vam mais com a fachada das casas
     do que com sua divisão, quase todas
     eram parecidas: pequena frente,
     muito fundo, com quartos enfileira-
     dos, uma entrada lateral, com cozi-
     nhas e banheiros nos fundos. Outros
     preferiam colocar o armazém ou bar




                                                                                                                                         THAÍS MATARAZZO
     na frente. Assim eram as casas da
     Barra Funda, muitas delas cons-



e dos aluguéis, nos porões sempre mora-        havia perigo, era muito sossego. Eu e        muito grande e bonito, foi lá que o
va uma família negra. Quando anoitecia         minhas irmãs brincávamos na rua, a           samba ganhou seu lugar de destaque. O
era interessante observar que havia uma        gente riscava os paralelepípedos da rua      samba da Barra Funda foi então o res-
precária iluminação pública nas ruas,          com carvão, mas a minha mãe sempre           ponsável pela integração de artistas, uni-
então você via vários pontos de luz nas        estava de olho. A maioria das ruas eram      versitários, membros da comunidade e
calçadas, era a luz que saia dos porões        asfaltadas e poucas de terra, vez ou outra   craques de futebol. Lá viveu o
onde moravam as famílias negras”.              tinha trânsito de carro, carroça ou bonde,   Vassourinha, grande sambista e cantor
   Assim, o bairro se tornou heterogêneo,      nos costumávamos ir ao cinema, à Rádio       de rádio que morreu jovem, era amigo
a comunidade negra se misturou à italia-       Cosmos, às missas e passear pela Praça       do meu tio. Não posso deixar de fazer
na e souberam viver em harmonia, em            Marechal Deodoro que tinha um roseiral       referência ao cordão carnavalesco
1934, segundo dados da prefeitura da           lindo”, narra Yvone.                         Campos Elíseos, que saia da alameda
cidade de São Paulo a Barra Funda pos-            A música, mais precisamente o samba,      Olga, na Barra Funda, que era formado
suía 23.764 habitantes, a maioria forma-       sempre esteve presente na Barra Funda        pelos negros aristocratas, era então na
da por italianos e negros.                     (vide box). Armando de Moura, 65, não        época, a elite negra”, conta Moura.
   A Barra Funda foi o primeiro bairro a       nasceu na Barra Funda como toda sua            Todas essas histórias fazem parte
receber o bonde elétrico, em 1902, que         família, inclusive seus avós, todos          das reminiscências de uma Barra
ligava o local ao Largo São Bento. Esse        faziam parte da comunidade negra do          Funda que está preste a desaparecer.
desenvolvimento comercial se deu devi-         bairro. Moura passou parte da sua infân-     Quem anda hoje pelo bairro encontra
do à proximidade aos bairros elitizados        cia e adolescência visitando seus paren-     poucas lembranças dessa época, as
de Campos Elíseos e Higienópolis.              tes, amante do samba, desde cedo, tomou      casas das décadas de 1930 e casarões
   A Barra Funda “de cima” da via férrea       contato com esse ritmo, costumava fre-       quase não existem mais, muitos foram
até a Olímpio da Silveira recebeu mais         quentar o Salão São Paulo Chic. “Era na      demolidos outros reformados ou trans-
influência dos bairros de Santa Cecília e      rua Brigadeiro Galvão esquina com a          formados em cortiços.
Campos Elísios. “Naquela época não             rua Barra Funda, um casarão antigo             Em 1988 o bairro passou por grande

10
mudança com a chegada do termi-        bairro estão as enchentes e a falta de
                                                                                 nal intermodal, composto pela         áreas verdes. Outra grande dificulda-
                                                                                 estação do metro Palmeiras-Barra      de será o congestionamento: o aumen-
                                                                                  Funda, a estação de trens da         to do número de veículos causará
                                                                                  CPTM e o terminal rodoviário.        maior engarrafamento nas avenidas
                                                                                  Até então, era possível, encontrar   Francisco Matarazzo e Marquês de
                                                                                 no bairro os tradicionais empórios    São Vicente, e em outras vias impor-
THAÍS MATARAZZO




                                                                                 e mercearias, onde os comercian-      tantes como o Elevado Costa e Silva,
                                                                                tes ainda usavam antigas caderne-      vulgo Minhocão.
                                                                               tas para vender fiado.                    O advogado Edvaldo Godoy, presi-
                                                                                Com o metrô chega o progresso e a      dente da Associação de Moradores e
                                                                            valorização da área, muitas casas e cor-   Amigos da Barra Funda, aponta que
                                                                          tiços foram desapropriados e deram           uma grande área do bairro terá que ser
                                                                          lugar a dezenas de novos prédios, com        desapropriada para a chegada de novos
                                                                          eles também veiram os supermercados,         empreendimentos imobiliários, do
                                                                          os maganizes e as butiques. Nesta época,     total a ser derrubado 37% correspon-
                                                                          moradores e especialistas previam que        dem a galpões industriais que estão
                                                                          em poucos anos haveria uma espécie de        ociosos e outros 33% são residências,
                                                                          explosão demográfica e imobiliária na        “não podemos deixar que esse cenário
                                                                          região: é o que está acontecendo.            traçado pelo EIA-Rima (estudo de
                                                                             Desde 2006 a Barra Funda passa por        impacto ambiental) da Operação
                                                                          uma nova fase de “remodelação”, mui-         Urbana Água Branca, destrua parte da
                                                                          tos terrenos passaram a ser supervalori-     arquitetura do nosso bairro e da nossa
                                                                          zados, segundo dados da prefeitura,          história”, afirma Godoy.
                                                                          daqui a cinco anos o número de morado-         Segundo a prefeitura, o estudo de
                                                                          res deve passar de 25 mil para 85 mil.       impacto ambiental ainda não tem previ-
                                                                             Muitas melhorias em diversas áreas        são de implantação. Tudo passará por
                                                                          necessitam ser realizadas para receber       uma audiência pública, ainda sem data
                                                   Armando Moura e os     os esses novos moradores e atender as        marcada, sendo necessária após essa
                                                   bons tempos do samba   necessidades dos que já estão estabe-        audiência, uma aprovação pelo conselho
                                                   na Barra Funda         lecidos ali. Entre outros problemas do       municipal de meio ambiente.


                                                                                                                                                     THAÍS
                                                                                                                                                 MATARAZZO
 ACERVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE SÃO PAULO




                                                     São Paulo
                                                     Chic em foto
                                                     de 1977:
                                                     o samba em
                                                     destaque


                                                                                                                                                           11
CIDADE



 A união entre urbanismo e estética
 O arquiteto Ruy Ohtake destaca a importância da urbanização para as cidades
                                                RobeRta de donno

                                                                                 Entre seus projetos mais importan-
                                                                               tes está o Expresso Tiradentes, espé-
                                                                               cie de corredor de ônibus suspenso
                                                                               que liga o Sacomã ao Parque D.
                                                                               Pedro II. O arquiteto também ideali-
                                                                               zou o projeto de adaptação do Estádio
                                                                               do Morumbi para a copa de 2014. “A
                                                                               Copa é vista como um campeonato,
                                                                               no entanto ela deve deixar um legado
                                                                               para a cidade”, afirma o arquiteto.
                                                                                 É de sua autoria, em parceria com
                                                                               uma fabricante de tintas, o projeto de
                                                                               colorir as casas da favela de
                                                                               Heliópolis, conferindo uma identida-
                                                                               de cultural ao bairro. “A rua é a sala
                                                                               de estar dos moradores da favela”,
                                                                               assim Ohtake justifica a sua iniciati-
                                                                               va de torná-la mais agradável.
                                                                                 Bastante interessante também é um
                                                                               projeto pessoal, ainda em fase de
                                                                               criação, para a urbanização do entor-
                                                                     Ohtake:   no dos cruzamentos entre o rodoanel
                                                               urbanismo e     e as rodovias. Seriam vilas padroni-
                                                             estética devem    zadas, com casas, comércio, indús-
                                                            caminhar juntos    tria, transporte, como mini-cidades
                                                                               com capacidade para 250.000 mora-



O
                                                                               dores, isto impediria a “favelização”
       arquiteto Ruy Ohtake, conhe-     “A saída para agregar todos estes      do local e seria um bom exemplo de
       cido por obras como o            fatores seria unir vontade do poder    que quando se planeja a urbanização
       Instituto Tomie Ohtake, na       público, recursos e foco no proble-    é possível conciliar estética e urba-
Vila Madalena e a Embaixada do          ma”, diz Ohtake.                       nismo.
Brasil em Tókio, tem vários proje-
tos, alguns já concretizados e outros
ainda em fase de criação, que exem-
plificam como a estética e o urba-
nismo podem andar juntos, mesmo
em uma grande cidade como São
Paulo.
  Ohtake credita o agravamento da
questão social ao êxodo rural, que
ocupou as periferias e constituiu
as favelas, as quais representam
um terço da ocupação da cidade de
São Paulo. “O último plano urba-
nístico é da década de 30, houve
um crescimento que o urbanismo
                                                                                                                        Thiago Luiz amado gonçaLves




não conseguiu organizar”, justifica
o arquiteto.
  O urbanista acredita que uma fun-                                                              Expresso Tiradentes:
ção importante da cidade é a beleza,                                                                 um dos projetos
a estética o que fará com que o                                                                      mais conhecidos
morador se reconheça como cidadão                                                                          de Ohtake
e sinta orgulho do lugar onde mora.

12
ARTIGO




  Uma cena radiofônica da Paulicéia
                 Saiba mais sobre a história do rádio na cidade de São Paulo


A       radiodifusão iniciou-se no Brasil em
        1922. Em matéria musical, o rádio
        começou apresentando a música eru-
dita, partia de Chopin e vinha caminhando por
Toselli até chegar em Verdi. Depois, abando-
                                                A programação musical era composta
                                                por música erudita.
                                                   Mas, o povo queria mesmo era ouvir da
                                                “torneirinha do bom som” a música popu-
                                                lar. Em 1932, através do decreto 21.111, o
                                                                                                 Élcio de Carvalho, entre outros.
                                                                                                    As famílias costumavam se reunir na
                                                                                                 sala em frente ao aparelho receptor, que
                                                                                                 tinha lugar de destaque, para escutarem e
                                                                                                 sentirem deliciosas sensações nas vozes
nou-se tudo isso, e o rádio começou a abraçar   presidente Getúlio Vargas autorizava a vei-      afinadas de Isaura Garcia, Vassourinha,
o samba, a marcha, o choro, o baião e outros    culação de propaganda comercial pelo             Agripina, Déo, Paraguassú, Helena Pinto
ritmos bem brasileiros, assim se escreve a      rádio, então, foi possível a canalização de      de Carvalho, Januário de Oliveira, Laís
parte popular da música do rádio.               recursos, assim as emissoras puderam con-        Marival, Nhá Zefa, Arnaldo Pescuma,
   Até 1937 a capital paulista já contava       tratar profissionais e artistas com exclusivi-   entre outros cantores e artistas das déca-
com dez emissoras radiofônicas: Rádio           dade, o rádio deixa o amadorismo e começa        das de 1930/40. Neste momento ainda
Educadora Paulista - PRA-6 (1923),              a se profissionalizar.                           não existiam os auditórios e os fãs se
Rádio São Paulo - PRA-5 (1927), Rádio              A Rádio Record merece destaque neste          amontoavam numa pequena sala para
Cruzeiro do Sul - PRB-6 (1927), Rádio           aspecto: os locutores e produtores César         verem seus ídolos através de um vidro,
Record - PRB-9 (1928), Rádio Cosmos             Ladeira e Nicolau Tuma introduziram              que isolava o som do estúdio de gravação
- PRB-7 (1934), Rádio Cultura - PRE-4           inovações no meio seguindo o modelo              e era conhecido como “aquário”.
(1934), Rádio Excelsior - PRG-9 (1934),         norte-americano, desde o destaque para a            Ainda neste período eram considerados
Rádio Difusora - PRF-3 (1934), Rádio            música popular até o pioneirismo nos for-        os melhores programadores do rádio pau-
Bandeirantes - PRH-9 (1937), Rádio              matos de programas de jornalismo, espor-         lista: Otávio Gabus Mendes, Raul Duarte,
Tupi - PRG-2 (1937).                            tivo, radioteatro e outros. Em 1933, as          Armando Bertoni e José Nicolini. O pri-
   A Rádio Educadora Paulista, atual            Rádios Cruzeiro do Sul e Cosmos, per-            meiro grande e moderno auditório da
Gazeta, fundada em novembro de                  tencentes à família Byington, formaram           cidade surgiu em maio de 1939, quando
1923, seguia a risca os objetivos do            a primeira cadeia efetiva de transmissão         a Rádio Cultura inaugurou sua nova sede
  professor Roquette Pinto para servi-          em território nacional, era a rede Verde-        na avenida São João. O local era conhe-
                    ço da radiodifusão:         Amarela.                                         cido como “Palácio do Rádio” tal a sun-
                        “atender os interes-       Logo, o rádio, seus artistas e profis-        tuosidade de suas instalações. Foi esta
                           ses nacionais e      sionais, começaram a ganhar a atenção            emissora a responsável por um dos mais
                             finalidade edu-    de jornais e revistas que criaram se-            famosos programas de calouros da época:
                                 cacional”.     ções especiais com noticiários radio-            Hora da Peneira ou Peneira Rodhine, com
                                                fônicos. O primeiro cronista especiali-          patrocínio da Indústria Rhodia, era sem-
                                                zado no assunto, em São Paulo, foi               pre apresentado aos sábados das duas às
                                                     Aristides de Basile, nas páginas do         cinco da tarde. Sucesso absoluto, ficou no
                                                        Correio da Tarde, depois surgi-          ar por cerca de 20 anos!
                                                            ram Ary Machado, Péricles               Esse fascínio do rádio sobre o público
                                                                Amaral, Egas Muniz,              constituiu um fenômeno, principalmente
                                                                        Mauro e Thirso           para as famílias pobres, foi uma janela
                                                                                 Pires, Gracy    aberta para a fantasia: além de informativo
                                                                                   Graciano,     trazia para os lares um mundo mágico
                                                                                                 através das vozes dos artistas.
                                                                                                    A Paulicéia, diferente do Rio de Janeiro,
                                                                                                 cultivou não só o samba e a marcha como a
                                                                                                 seresta, a modinha, a música caipira e outros
                                                                                                    ritmos regionais e internacionais, pois
                                                                                                         foram muitas as nacionalidades que
                                                                                                             concorreram para a formação de
                                                                                                                  São Paulo, imprimindo-lhe
                                                                                                                       uma fisionomia essen-
                                                                                                                            cialmente multi-
                                                                                                                                cultural.
                                                                                                                                    THAÍS
                                                                                                                                MATARAZZO


          XX de nonono, 2010                                                    FOTOS SXC                                                  13
ORIGEM


           Freguesia do Ó, um dos pioneiros
                   O bairro da Freguesia do Ó é um dos mais antigos de São Paulo,
                            no último mês de agosto completou 431 anos.


     O   português Manoel Preto, funda-
         dor da Freguesia, foi um bandei-
         rante muito abastado e um tanto
rude, o padre Justo Mansilla o considera-
va “Corsário y ladrón de índios”, confor-
                                             sediada no Rio de Janeiro, para erguerem
                                             uma capela em homenagem a santa de
                                             sua devoção.
                                               Em 1794, estando a capela em ruínas,
                                             foi erguida uma outra e consagrada a Nª.
                                                                                            Em volta da nova construção deu-se o
                                                                                         núcleo de formação do bairro, elevado a
                                                                                         freguesia em 1796. Isolado da cidade
                                                                                         pelas frequentes inundações da várzea do
                                                                                         Tietê, o bairro chegou até 1940 ainda
me citado por Afonso de Taunay no livro      Sª. Expectação do Ó, este curioso “Ó”       estacionário. Foi a partir de 1945 com
História Antiga da Abadia de São Paulo.      originou-se das sete antífonas cantadas     loteamento de antigas chácaras que o
Na sua fazenda haviam mais de mil            nas festa da Mãe do Senhor, todas come-     local passou a ter efetiva ocupação, sur-
índios, que ele próprio capturava nos ser-   çadas pela exclamação “ó”. Celebrada a      giram dezenas de núcleos habitacionais
tões do Paraná e Rio Grande, chegando        18 de dezembro, tal solenidade veio rece-   como: Itaberaba, Moinho Velho,
até o Uruguai.                               ber, em Portugal o nome de “Festa do Ó”     Brasilândia e outros.
  Devoto de Nossa Senhora da Esperança,      oficialmente designada “Festa da               O Largo Velho da Matriz, um ponto
em 1610, “não podendo acudir a missa         Expectação do Parto da Santíssima           alto da Freguesia, é um dos pontos histó-
por morar longe da vila”, juntamente com     Virgem”; por fim, chamou-se “Festa de       ricos do bairro. Na rua João Alves, núme-
sua esposa Águeda Rodrigues, dirigiram       Nossa Senhora do Ó” e, assim Nossa          ro 9, antiga Ladeira Velha da Freguesia,
um requerimento ao padre Mateus da           Senhora do Ó ficou sendo uma das invo-      existiu uma casa (demolida em 1979)
Costa Morim, autoridade apostólica           cações da Virgem.                           que, segundo folclore popular, foi o local
                                               Em 1896 a igreja sofreu um incêndio       onde de criou Maria Domitila, a Marquesa
                                             causado por um apicultor. Ele foi cha-      de Santos. Nesta casa, ela teria recebido
                                             mado para acabar com uma colméia            a visita de seu enamorado, o imperador
                                             sobre o altar e resolveu utilizar o fogo    Dom Pedro I.
                                             para espantar os insetos. Conclusão: a         Em 1876, viviam na Freguesia de
                                             igreja amanheceu em ruínas. Com ela         Nossa Senhora do Ó, 2.023 habitantes, os
                                             foram destruídos vários objetos e docu-     quais dedicavam-se à plantação de cere-
                                             mentos, restou a cabeça da imagem de        ais para consumo próprio, à lavoura de
                                             Nossa Senhora do Ó, que está na matriz      cana-de-açucar e à criação de animais,
                                             nova, construída em 1901.                   segundo Relatório da Comissão Central
                                                                                         de Estatística.
                                                                                            Já na década de 1970 o bairro já mos-
                                                                                         trava a degradação da arquitetura das
                                                                                         casas do século XVIII, a maioria desses
                                                                                         imóveis foram demolidos. Na ocasião,




                                                                                                                                     THAÍS MATARAZZO




                                                                                                                      Vista parcial da
                                                                                                                        Igreja Matriz,
                                                                                                                    fundada em 1901


24
Largo da Matriz em
                                                                                                                                                                      1942, ao fundo a
                                                                                                                                                                         Igreja Matriz
ACERVO PIZZARIA DO BRUNO




                           muitos moradores formaram uma comis-                            continuam a sociedade inicial, Rui             tuma todos os sábados à tarde, após
                           são em defesa desse patrimônio histórico,                       de Siqueira, um dos quatro filhos de           assistir a missa na Igreja Matriz,
                           mas tudo foi em vão.                                            João Machado de Siqueira, quem                 passar pela pizzaria e cumprimentar
                             Em 1943, o padre Eládio Correia e o                           atendeu a nossa equipe disse que               o pessoal.
                           senhor Joaquim Fernandes fundaram o                             seu pai, que está com 90 anos, cos-              Por lá já passaram muitas personalida-
                           Hospital Nossa Senhora do Ó, durante
                           duas décadas o prédio ficou vazio, lá hoje
                           funciona um supermercado. Até meados
                           da década de 60 a Freguesia do Ó tinha
                           um ar de cidade do interior, com poucos
                           prédios e muitas ruas em declive.
                             Atualmente o Largo da Matriz costuma
                           reunir cerca de 1500 pessoas nos finais de
                           semana, a praça é circundada por bares e
                           restaurante de vários estilos: alemão, nor-
                           destino e italiano, com destaque para a
                           Pizzaria do Bruno, aberta há 71 anos. No
                           início serviam aos clientes polenta e fran-
                           go, com o sucesso do estabelecimento
                           passaram a oferecer pizzas, aliás o local
                           foi o pioneiro em ter lançado a pizza frita
                           na cidade.
                             Seus fundadores são Bruno Bertucci
                           e João Machado de Siqueira, a pizza-
                           ria está no mesmo casarão em que foi
                           inaugurada: o ambiente relembra um
                                                                         THAÍS MATARAZZO




                           clima dos anos 1940. Com três
                           ambientes diferentes, do salão térreo
                           é possível ter uma vista privilegiada
                           da cidade.
                             Os filhos e netos dos fundadores                                       Casarões do século XIX restaurandos, transformaram-se em points do bairro

                                                                                                                                                                                         15
des importantes do mundo político, espor-     Comunidade em geral, e em especial a         Aguinaldo José Gonçalves.
                  tivo e artístico, como José Serra, Ratinho,   do bairro da Freguesia do Ó, pode de           Sua inclinação para as artes começou a
                  Sônia Abraão e o futebolista Sócrates.        maneira totalmente gratuita, apreciar e      manifestar-se muito cedo e de maneira
                     Siqueira nos conta que na época da         praticar arte e cidadania, através de ofi-   espontânea. Frequentou cursos de dese-
                  II Guerra Mundial quando houve o              cinas, cursos, palestras, shows, filmes,     nho e pintura. Seus primeiros trabalhos se
                  racionamento de vários alimentos,             exposições, apresentações teatrais e         orientaram voltados para a pintura sacra,
                  como a farinha, seu pai costumava             outras atividades correlatas. O local pro-   tendo inicialmente colaborado na decora-
                  desmanchar o macarrão para fazer a            move um projeto permanente de                ção de várias igrejas da capital. Depois,
                  massa da pizza, já famosa na região.          “Resgate da História do Bairro da            como autor exclusivo, realizou uma série
                  Até hoje as pizzas são feitas modo            Freguesia do Ó”, através de livros, jor-     de pinturas murais em igrejas e capelas
                  artesanal, ela não é assada direta no         nais, folhetos e uma Exposição perma-        da capital e do interior.
                  tijolo como em outros restaurantes,           nente de fotos antigas do bairro.              Desde que se estabeleceu na Freguesia
                  eles utilizam uma bandeja e ao mesmo             Inaugurada em 1993, tem um auditório      revelou um profundo interesse e uma
                  tempo é assada e frita, o resultado é         com capacidade para 200 lugares, no          grande ligação com a vida do bairro.
                  uma massa fininha e crocante.                 momento está ganhando uma reforma            Sempre foi um membro ativo nas ativida-
                     Em 2006, a pizzaria venceu o prê-          para ampliação do espaço.                    des comunitárias locais, fosse religiosas,
                  mio Paladar com a pizza de camarão              O patrono da Casa de Cultura é o           políticas, cívicas, culturais ou sociais.
                  eleita a melhor pelo juri popular do          pintor Salvador Ligabue (1905-1982),           Vale a pena fazer um passeio a pé ou de
                  jornal O Estado De S. Paulo.                  paulista de Itatiba, filho de pais italia-   carro pelo bairro, entre ladeiras escondidas
                     O bairro conta com a Casa de Cultura       nos. Ainda menino, sua família trans-        ao redor da Matriz é possível encontrar
                  Salvador Ligabue, localizada no Largo         feriu-se para a capital paulista. Seu        algumas casas antigas do século XIX e
                  da Matriz, 215. Regularmente promove          primeiro contato com a Freguesia             ainda conversar com os moradores vetera-
                  atividades culturais junto à comunidade.      ocorreu no ano de 1929 em virtude da         nos que não dispensam uma boa prosa.
                  Segundo o diretor, Jarbas Mariz, todos        visita ao antigo Seminário Provincial          É visível a verticalização do bairro
                  os esforços são voltados à recuperação e      de São Paulo onde seu irmão estudava,        ocorrida nos últimos anos, a demolição
                  preservação da história do bairro.            preparando-se para a vida religiosa.         de casas térreas e a falta de restauração de
                     Mariz afirma que a Casa de Cultura é       Posteriormente, foi convidado para           alguns prédios históricos fazem com que
                  um patrimônio inestimável da cidade de        realizar alguns trabalhos na Igreja          a Freguesia deixe de ter aquele ar bucóli-
                  São Paulo. É um espaço público onde a         Matriz de Nª. Sª. do Ó pelo Pároco           co de cidade do interior.


                                                                                                                                      Casa de Cultura:
                                                                                                                              atividades variadas para
                                                                                                                                  moradores do bairro
THAÍS MATARAZZO




                  16
ACERVO PIZZARIA DO BRUNO




                                                                                                                                            Pizzaria do
                                                                                                                                           Bruno: há 71
                                                                                                                                               anos no
                                                                                                                                           mesmo local




                           ORIGEM DO NOME DA FREGUESIA DO Ó
                                                A designação NOSSA SENHORA DO Ó originou-se das sete antífonas
                                            catadas na festa da mãe do Senhor, todas iniciadas pela exclamação “Ó!”


                           Ó SABEDORIA, que saiste da boda            Ó RAIZ DE JESSÉ, que sois                    Ó REI DAS GENTES, e objeto de
                           do altíssimo                               Como estandarte dos povos,                   seus desejos,
                           Atingindo de uma à outra extremidade       Diante do qual os reis fecharão a boca,      Pedra angular, que reunis em vós os
                           E dispondo de todas as coisas forte e      Não tardais mais um momento!                 dois povos
                           suavemente,                                                                             Vinde e salvai o homem que formaste
                           Vide para nos ensaiar o caminho da                                                      do limo da terra!
                           prudência                                  Ó CHAVE DE DAVI, cetro da Casa de
                                                                      Israel,
                                                                      Que abris e ninguém pode fechais e nin-      Ó EMANUEL, Rei legislador nosso,
                           Ó ADONAI, Senhor e condutor da             guém pode abrir:                             Esperado das nações e seu salvador;
                           Casa de Israel,                            Vinde a tirai da prisão, o cativo que está   Vinde, salvai-nos, Senhor, nosso
                           Que aparecestes a Moises nas chamas        sentado                                      Deus,
                           da Sarça ardente,                          Nas trevas e nas sombras da morte!           Que os céus chuvam das alturas e as
                           E lhe destes, sobre o Monte Sinai, a lei                                                nuvens
                           eterna:                                                                                 Nos tragam o salvador!
                           Vinde nos resgatar pela potencia de        Ó SOL NASCENTE, esplendor de luz
                           vosso braço!                               eterna
                                                                      E sol da justiça: vinde e iluminai!
                                                                      Aquele que se senta nas trevas da
                                                                      morte!


                                                                                                                                       THAÍS MATARAZZO


                                                                                                                                                          17
ACONTECE


                                          Interior para paulistano ver
                                            Evento reúne gastronomia, cultura e arte típica do estado
                                                                                 RODRIGO BOTELHO
FOTOS RODRIGO BOTELHO




                                                                                                                                               Bem diferente
                                                                                                                                               de um ônibus,
                                                                                                                                              mas muito mais
                                                                                                                                                   divertido




                        N      ão é sempre que se tem a chance de
                               conhecer a rica cultura do Estado
                               de São Paulo num só lugar. Mas
                        quem esteve no Revelando São Paulo,
                        Festival da Cultura Paulista Tradicional,
                                                                      espaços gastronômicos de deixar qual-
                                                                      quer um com água na boca. São barracas
                                                                      com comidas típicas de municípios do
                                                                      interior, trazendo antigas receitas de
                                                                      família feitas na hora, acompanhados de
                                                                                                                     tambores, com seus ritmos paulistas
                                                                                                                     peculiares – como jongo, samba e batu-
                                                                                                                     que de umbigada – também estavam lá.
                                                                                                                     Jogos e brincadeiras promovidas por
                                                                                                                     comunidades indígenas dividiam espaço
                        pôde sentir de perto um pouco da cultura,     calorosos sorrisos. Apesar do forte vento      com tudo isso.
                        artesanato e culinária de vários municípios   e do frio cortante nos últimos dias do            Um rancho tropeiro foi adaptado e trazi-
                        interioranos.                                 evento, a recepção dos interioranos – e        do para os paulistanos se sentirem no inte-
                          A XIV Edição do Revelando São Paulo         seus pratos saborosos – faziam-nos             rior. Cavalos, búfalos, mulas e bois, perso-
                        é um projeto realizado pelo Governo do        esquecer do clima.                             nagens figurados em tropas e cavalhadas
                        Estado em parceria com a Secretaria de                                                       estavam lá. Crianças puderam conhecer o
                        Estado da Cultura. O evento, antes sediado      Cultura e arte                               mundo do interior montando em carros de
                        no Parque da Água Branca, foi realizado         No palco e nas ruas, 300 grupos de           boi e charretes, enquanto adultos reviveram
                        entre os dias 10 e 19 de setembro no          manifestações artísticas e folclóricas esti-   atividades típicas no clima do local.
                        Parque Vila Guilherme/Trote, próximo ao       veram presentes nos dias do evento.
                        metrô Carandiru, juntamente com a Abaçaí      Cortejo de bonecos e cabeções, reiada,           Mais que um evento
                        Organização Social de Cultura.                folia de reis, sanfoneiros, catiras, adora-      Não havia oportunidade melhor para
                                                                      dores da Santa Cruz, caminheiros e             realizar o X Festival da Amizade, do que
                             Gastronomia                              romeiros estiveram presentes. Modas de         dentro do grandioso evento. Além de
                             No local, os visitantes conhecem 200     violas caipiras e noites de São João e dos     abarcar tradições do Estado de São Paulo,

                        18
Representantes
                                                                                                                   dos Reis Magos
                                                                                                                         encantam
                                                                                                                 platéia do evento


o local atraiu também características cul-   em especial no último dia, onde reuni-         ralidade do estado para o paulistano
turais de outras regiões do país e também    ram-se grupos de congos, caminheiros,          conhecer ou relembrar. Afinal somos
de imigrantes. Países como Portugal,         moçambiques, romeiros, irmandades reli-        paulistanos, mas, antes de tudo, paulis-
Itália, Japão, Bolívia, Chile, Alemanha,     giosas de variados segmentos, comunida-        tas!
entre outros, trouxeram suas contribui-      des indígenas, tropas e tropeiros ruma-
ções, adicionando tempero ao caldeirão       ram ao Parque do Trote.
efervescente de cultura da capital mais        Os visitantes tiveram contato
plural da América Latina.                    com as tradições do estado.
   Segundo informações da Abaçaí, reali-     Cristiane Oliveira, estudante
zadora do Revelando, milhares de pes-        de administração, 24 anos,
soas compareceram ao longo do evento,        saboreava um camarão de São
                                             Vicente enquanto nos contava o que
                                             mais gostou do evento – além do
                                             camarão. “O mais interessante no
                                             evento é identificar a diversidade
                                             de culturas, nunca havia participado
                SERVIÇO                      de uma festa de folia de reis e adorei.
                                             Foi muito animado e relembra histó-
        Prefeitura de São Paulo              rias contadas pelos meus pais e avós”.
        http://migre.me/1TECg                Cristiane também dá uma dica do que
                                             quer na próxima edição do evento.
         Abaçaí Cultura e Arte               “Seria muito interessante contar um
          www.abacai.org.br                  pouco mais da história de cada uma das
                                             regiões para complementar a cultura.”
      Mapa de culturas tradicionais            O foco no respeito à diversidade e o                                Integrante de grupo
 http://abacai.org.br/canal_folclore.php     convívio pacífico é importantíssimo para                                de folia de reis se
                                             constituir e preservar a alma cultural da                                    prepara para
                                             capital. O Revelando São Paulo é impor-                                     subir ao palco
                                             tante neste aspecto, pois traz à tona a plu-

                                                                                                                                     25
ARTIGO


                                              Os 60 anos da televisão
                                             Aplausos e lembranças da “mídia-majestade” brasileira
                                                                                   FÁBIO SIQUEIRA*



                            Assis Chateaubriand
                            inaugura a TV Tupi
                            em 1950
FOTOS ACERVO PESSOAL




                       E     m 18 de setembro passado, a Televisão
                             Brasileira comemorou seus 60 anos
                             de Brasil. A importância dessa data
                       comemorativa transcende em muito uma
                       mera convenção de calendário, pois se trata
                                                                       infra-estrutura, os profissionais, os apare-
                                                                       lhos televisores, tudo organizado para que
                                                                       na noite de 18 de setembro daquele ano se
                                                                       realizasse a majestosa Festa de Inauguração,
                                                                       no bairro paulistano do Sumaré, juntamen-
                                                                                                                      como seus técnicos, redatores, diretores e
                                                                                                                      produtores. Nesses primeiros anos de fun-
                                                                                                                      cionamento da Tupi, a presença do mundo
                                                                                                                      e do espírito radiofônico era incontestável.
                                                                                                                      Mas não só, fica patente as influências e
                       do meio de comunicação que atinge quase         te com a transmissão do primeiro progra-       mesmo a direta presença de elementos do
                       a totalidade dos lares dos brasileiros.         ma, o TV na Taba. Estava fundada a             cinema, do teatro, do circo, da literatura,
                          A exatos 60 anos, essa novidade tecno-       PRF3-TV Tupi de São Paulo, o canal 3, a        da música erudita, da música popular, das
                       lógica e cultural chegava a “terra brasilis”,   primeira da América do Sul.                    artes plásticas, da publicidade, do jornalis-
                       de navio, pela iniciativa do jornalista e          Um tópico relevante, quando se recorda      mo, enfim, das grandes e legítimas mani-
                       empresário Assis Chateubriand (1891-            esse princípio da televisão brasileira, se     festações artísticas nacionais da época.
                       1968), que já era proprietário, na época, de    refere às influências artísticas e culturais     Talvez seja esse o segredo da força,
                       um conglomerado de Jornais, Revistas,           ali presentes. Certamente a mais preemen-      competência e qualidade da televisão,
                       Agência de Notícia e Rádios (incluindo as       te e presente tenha sido a influência radio-   nesse início, pois tudo passava pela e tam-
                       Rádios Tupi e Difusora, ambas sediadas          fônica, pois a TV Tupi, tendo em vista         bém na televisão. E ainda existia o respal-
                       na Capital Paulista) e desde então coman-       que, as duas rádios já mencionadas –Tupi       do e o apoio dos jornais, que eram em
                       dava e coordenava o projeto-empreendi-          e Difusora de São Paulo, eram de proprie-      número elevado em 1950, em São Paulo,
                       mento de trazer a TV para nosso país.           dade do jornalista Assis Chateubriand e        só a Cadeia dos Diários Associados, grupo
                          Durante o ano de 1950, de forma paula-       ambas as rádios cederam a maioria do           que administrava a Radio e TV Tupi tinha
                       tina, foram chegando os equipamentos, a         elenco para a estação de TV nascente, bem      dois jornais em circulação: o Diário de

                       20
São Paulo e o Diário da Noite. E no                                                     também pelo fato de que em vinte
Rio de Janeiro, a então Capital                                                         anos, no inicio dos anos 70, a tele-
Federal, o processo de chegada da                                                       visão passava o rádio e o jornal, se
TV foi bastante semelhante ao ocor-                                                     tornando o meio de comunicação
rido em São Paulo, pois se concluiu                                                     mais consumido pelos brasileiros
em 20 de janeiro de 1951, com a                                                         e, já na década passada, conseguia
fundação da TV Tupi, a pioneira                                                         atingir a incrível e superior marca
emissora dos cariocas. E ali, tam-                                                      de 99,5 % de presença nos lares
bém já existia duas rádios de pro-                                                      brasileiros. Por tudo isso, não há
priedade de Chateubriand-a Rádio                                                        como dissociar a presença da TV
Tupi e a Rádio Tamoyo, dois jor-                                                        na rotina e no cotidiano de nossa
nais – O Jornal e Diário da Noite                                                       população.
(na versão carioca) além da sede da                                                        Por fim, fica consignada essa sin-
revista semanal O Cruzeiro, o peri-                                                     gela homenagem a TV brasileira,
ódico recordista de leitores da           Inezita Barroso, 1954                         quando completa essas seis décadas,
época, que muito cobriu e noticiou                                                      com muita presença e influencia, e
o surgimento dos primeiros canais                                                       nunca se pode esquecer desses mes-
de TV.                                                                                  tres pioneiros que ajudaram a reali-
   E nos anos seguintes foram sur-                                                      zar esse sonho vistoso e visionário,
gindo as novas estações de TV,                                                          como Cassiano Gabus Mendes,
concorrentes das duas Tupis pio-                                                        Mario Alderighi, Dionísio Azevedo,
neiras. Em 1952, foi inaugurada a                                                       Walter George Durst,Walter Forster,
TV Paulista, canal 5 Paulista, e no                                                     Ribeiro Filho, Maurício Loureiro
ano seguinte o canal 7 a TV                                                             Gama, Júlio Gouveia, Tatiana
Record, que existe até hoje. Nas                                                        Belinky, Zae Júnior, Luiz Gallon,
terras cariocas, a segunda emissora                                                     Jota Silvestre, Luis Arruda Paes,
foi a TV Rio em 1955 e a terceira                                                       Lúcia Lambertini, Márcia Real,
a TV Continental, fundada em                                                            Laura Cardoso, Yara Lins, Lia de
1959. Em 1955, a TV chegava ao                                                          Aguiar, Álvaro de Moya, César
mineiros, com a inauguração da             Angela Maria, 1954                           Monteclaro, Rebello Junior, Mário
TV Itacolomy, criada por                                                                Fannucci, Cyro del Nero, Blota
Chateubriand, que já dispunha do                                                        Júnior, Sônia Ribeiro, Hélio Souto,
jornal O Estado de Minas naquela                                                        Ary Silva, Raul Tabajara, Graça
então jovem cidade de Belo                                                              Mello, Heitor de Andrade, Silveira
Horizonte.                                                                              Sampaio, Manoel de Nóbrega,
   Assim foi a gênese do apareci-                                                       Plácido Maia Nunes, Vera Nunes,
mento da Televisão no Brasil, a                                                         Antônio Seabra, Vida Alves, Hebe
nossa “mídia-majestade” não só                                                          Camargo, Demerval Costa Lima,
por ter implantado um padrão de                                                         Almeida Castro, Homero Silva,
qualidade bastante elevado em                                                           Gaetano Gherardi, Paulo Machado
suas produções, fato que hoje                                                           de Carvalho, Barros Barreto, Victor
começa a ser rediscutido em vista                                                       Costa, dentre muitos outros. A todos
da visível queda geral de qualida-                                                      os pioneiros, a TV brasileira, apreço
de nos últimos quinze anos, mas                                                         e calorosos aplausos.

                                      Celly e Tony Campello, 1958




                                                                *Fábio Siqueira colaborou com Expressão SP.
                                                                                     É advogado e sociólogo,
                                                                                   formado pelo Mackenzie e
                                                        PUC-SP, pesquisador da história da televisão brasileira,
                                                                            morador da cidade de São Paulo.



                                                                                                                          21
MÚSICA


Melodias portuguesas em São Paulo
Artistas veteranos e jovens se dedicam à música popular portuguesa na capital paulista




                                                                                                                                   O grupo musical
                                                                                                                                    Sete Cidades:
                                                                                                                                   Gabriel Laudino,
                                                                                                                                    Marcos Sebo,
                                                                                                                                  Tatiana Monteiro
                                                                                                                                  e Alexandre Matis




                                                                                                         ACERVO ALEXANDRE MATIS




     A    cidade de São Paulo é mundial-
          mente conhecida por sua
          influência nacional e internacio-
nal, seja do ponto de vista cultural, eco-
nômico ou político. A Paulicéia, desde
                                              ras da “pátria-mãe”, cada vez mais
                                              absorvendo as novelas televisivas, o
                                              cinema, a música e a literatura brasilei-
                                              ras, sem contar os jogadores de futebol,
                                              entre outros aspectos.
                                                                                           jovens para dar continuidade ao movi-
                                                                                           mento associativo português, o que é um
                                                                                           desafio, pois, muitos descendentes sen-
                                                                                           tem-se desmotivados ou possuem outras
                                                                                           preferências e interesses.
fins do século XIX até hoje acolhe imi-         Mas nem tudo está perdido. Na capital        A música popular portuguesa tem sua
grantes de todo o mundo.                      bandeirante a colônia lusa possue algu-      representatividade em duas vertentes:
  Uma das maiores colônias portuguesas        mas entidades representativas: embaixa-      uma é o fado expresso através dos fadis-
no Brasil se encontra na capital paulista.    das, consulados e as associações, por        tas, dos músicos e dos compositores e a
Uma característica deste povo é o saudo-      exemplo, a Casa de Portugal, o Centro        segunda é o folclore, tocado em ritmos
sismo por sua pátria, expressado em           Trasmontano, o Pedro Homem de Melo           como o vira, o chula, o puladinho, o
geral, através da música e da poesia.         da Igreja N.S. de Fátima no Sumaré, o        malhão e o corridinho, entre outros,
  Apesar da longa trajetória que nos une,     Arouca São Paulo Clube, a Casa da Ilha       sempre divulgado pelos ranchos e gru-
cujos elementos ajudaram a fundar, a          da Madeira, a Associação Portuguesa de       pos folclóricos. Nos dois casos, no
criar a essência do povo brasileiro, temos    Desportos, a Casa dos Açores, o Clube        Brasil, além de ter elementos portugue-
nos últimos tempos observado infeliz-         Português de São Paulo, o Vilas de           ses, já existem alguns componentes
mente um refluxo do intercâmbio e, por        Portugal, a Casa de Bronhosinho, a Casa      lusos-descendentes e até brasileiros.
conseguinte, uma diminuição dos ele-          do Minho, o Clube Lusitano, a Associação       Para saber um pouco mais sobre o tra-
mentos de divulgação da cultura lusitana      dos Poveiros, entre outros.                  balho de um grupo folclórico, Expressão
nos veículos de comunicação ao longo do         Dentre outras finalidades, essas entida-   SP conversou com o jornalista Armando
vasto território brasileiro.                  des têm por objetivo disseminar e promo-     Torrão, 55, nascido em Miranda do
  O que não é uma contrapartida em            ver atividades culturais lusitanas.          Douro, norte de Portugal, diretor do
relação aos elementos nacionais em ter-       Atualmente, muitos dirigentes buscam         Grupo Folclórico Veteranos de São

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Conheça a história e cultura por trás da cidade de São Paulo

  • 1. A revista de todos os povos Novembro de 2010 Nesta edição: A metamorfose DA BARRA FUNDA A história DA FREGUESIA DO Ó Artigos: RÁDIO, TV E INEZITA BARROSO Praça Ramos A cultura popular de Azevedo, ao fundo o antigo prédio do Mappin, 1942 EM SANTO AMARO
  • 2.
  • 3. ÍNDICE ÍNDICE 05 EM FOCO Conheça alguns dos principais atrativos da cidade 06 FOTO DA CAPA O Mappin: um dos pontos comerciais mais importantes da cidade 07 ARTIGO Inezita Barroso: a caipira do asfalto 13 ARTIGO Uma cena radiofônica da Paulicéia 18 ACONTECE Revelando São Paulo: o interior pra paulista ver MUTANTE CIDADE ORIGEM ARTIGO MÚSICA CULTURA POPULAR RETRATOS Barra Rui Ohtake: Freguesia Os 60 anos Melodias Santo Estação Funda urbanismo e estética do Ó da televisão portuguesas Amaro da Luz 08 12 14 20 22 26 30 CAPA: FOTO DO ACERVO DO CLUBE PORTUGUÊS DE SÃO PAULO
  • 4. Carta ao Leitor CARTA AO LEITOR Caro leitor, O intuito da nossa revista é proporcionar a você, um acesso prático e versátil a tudo o que acontece em São Paulo, através de uma prestação de serviço especializada e de uma forma prazerosa de se ler. Eventos culturais, informações, lazer e entretenimento fazem parte da nossa perspectiva de divulgação e acessibilidade para toda a sua família. Nossa equipe trabalha constantemente em função do seu bem estar e a cada dia oferece um conteúdo diversificado e atualizado. Toda essa dedicação tem como finalidade contribuir para o seu pleno conforto e comodidade. O objetivo da Expressão SP, além de fazer parte da sua vida de maneira agradável e eficaz, é princi- palmente proporcionar a você um levantamento do que a cidade tem de melhor para oferecer. Para a nossa equipe é uma enorme satisfação compartilhar com todos os leitores nossos planos e projetos. Elaboramos as páginas da nossa revista pensando em cada sen- sação e resultados que serão proporcionados a vocês. É por todas essas razões que a Expressão SP tem orgulho em ser paulistana e atuar para promover essa cidade tão surpreen- dente e exuberante. Atenciosamente, Equipe Expressão SP. FALE CONOSCO E-mail: expressaosp@gmail.com Fax: ☎ (11) 2742-8560 Cartas: Caixa Postal 17112, CEP 03582-010, São Paulo, SP Editora: Thaís Matarazzo Editora de Arte: Roberta de Donno As mensagens devem trazer a assinatura, o Repórteres: Fabíola Santana, Michelle Barros, Roberta de Donno, endereço, o número da cédula de identidade Rodrigo Botelho, Rosana Lameu, Thaís Matarazzo, e o telefone do remetente. Envie para Editora, Colaboradores: José de Almeida Amaral Junior, Fábio Siqueira EXPRESSÃO SP. Por motivos de espaço ou clareza, as cartas poderão ser publicadas www.expressaosp.com.br resumidamente. IMPRESSA NA ESPAÇO MAIS DIGITAL Atendimento ao leitor: (11) 2742-6918 R. Alvorada, 716, CEP 04550-003, Vila Olímpia, São Paulo, SP
  • 5. EM FOCO Casarões antigos foram preservados em meio a evolução e o crescimento da cidade Fotos abaixo: 1. Mercado Municipal 2. Prédio do Banespa 3. Faculdade de São Bento FOTOS ROSANA LAMEU São Paulo: vale a pena conhecer A história de vários povos se encontra aqui U m dos maiores centros urbanos do país. Trata-se da cidade de São Paulo, que além de ser uma grande metrópole tam- bém é considerada a cidade dos sonhos. Com sua estrutura arquitetônica, a diversificada culi- tempos atuais, além de um programa indicado para toda a família. Andar pela cidade de São Paulo, pode ser mais do que um passeio de fim de semana pois nos remete a conhecer uma parte da cultura e histórias da nossa cidade. 3. presença do idioma nativo entre eles, o cultivo de suas crenças e costumes que não se perde- nária, os parques e a arte de várias regiões podem O parque do Ibirapuera, um dos pontos de ram em meio à dis- ser facilmente encontrados nas típicas feiras encontro mais conhecidos e frequentados por tância e a convivên- livres, espalhadas em muitos pontos da cidade. visitantes de todas as faixas etárias é um dos cia com a população Em São Paulo é comum achar tudo o que se cartões postais da cidade. Nele está localizado brasileira. Muito pelo procura em um único lugar. Prova disso são os um dos maiores monu- contrário, todos aprenderam a apreciar, respei- centros comerciais, que são verdadeiras atrações 2. mentos de São Paulo o tar e a praticar essas novas tendências, que já tanto para turistas como para moradores. Na Obelisco Mausoléu, comemoram mais de cem anos no Brasil. famosa Rua Vinte e Cinco de Março, temos um que foi construído Outra particularidade de bairros típicos em turbilhão de ofertas que se dividem em: roupas, em referência aos São Paulo é o Bexiga, onde predomina a calçados, brinquedos, acessórios, comida. São que lutaram contra comunidade italiana. Conceituada por sua inúmeros os produtos vendidos nas lojas, nas a ditadura de Getúlio culinária especializada em massas e molhos barracas e bancas espalhadas por toda a extensão Vargas, durante a caseiros, o bairro envolve toda a cidade com da rua e das calçadas mais famosas da cidade. tirania de seu governo as comemorações religiosas que acontecem Bem próximo a Vinte militar. São inúmeras as anualmente. Toda a renda do evento é reverti- 1. e Cinco, temos o pessoas que transitam por ali, praticam espor- da em benefícios assistenciais à instituições imponente Mercado tes, passeiam, descansam, namoram. Porém voltadas para atender as necessidades das pes- Municipal de São são poucos os que sabem o que este monumen- soas carentes e melhorias do bairro. Paulo. Local procu- to realmente significa para a sociedade. Como podemos observar, São Paulo é o lugar rado tanto por sua O bairro da Liberdade por sua vez, trás toda onde tudo acontece ao mesmo tempo. E sempre variedade em mer- a harmonia e consagração típica do Japão em tem uma programação bem acessível para todos cadorias horti-frutti, meio ao dia-a-dia dos paulistanos. É uma forma os gostos, estilos e classes sociais. Cabe aos pau- como pela culinária de conhecer o oriente e suas tradições, sem sair listanos aproveitar ao máximo esses recursos e sendo o prato principal o do país. Estão concentradas no bairro todas as desfrutá-los da melhor maneira possível. tradicional Sanduíche de Mortadela. Sua bela tendências, hábitos, cultura e tradições orien- arquitetura panorâmica é preservada até os tais. Desde a culinária até os trajes típicos, a ROSANA LAMEU 05
  • 6. FOTO DA CAPA O antigo prédio do Mappin Conheça a história de um dos pontos comerciais mais importantes da cidade THAÍS MATARAZZO O prédio que aparece na capa desta edição de Expressão SP é um dos símbolos do centro da capital pau- lista. O antigo prédio do Mappin, na praça Ramos de Azevedo (defronte ao O Mappin foi uma das lojas pioneiras no comércio varejista, sinônimo de megaloja numa época em que não existiam shop- pings centers em São Paulo. Durante os anos de 1930, inovou ao colocar etiquetas tipos de produtos em suas prateleiras. A história desta loja começou na Inglaterra, depois da Revolução Industrial, em 1774, quando as famílias de comer- ciantes Mappin e Webb inauguraram na Teatro Municipal), atualmente está ocu- com preços nas vitrines e nas vendas a cre- cidade de Sheffield uma sofisticada loja de pado pelas Casas Bahia. diário. Era possível encontrar todos os prataria e artigos finos. Na cidade de São Paulo o Mappin foi inaugurado em 1913, na rua Quinze de O prédio do Novembro para atender às ricas famílias Mappin em dos cafeicultores paulistas. Em 1919, a loja seu auge e mudou-se para a praça do Patriarca, vinte abaixo, anúncios anos depois inaugurou sua sede na praça característicos Ramos de Azevedo, em prédio construído da época pelo arquiteto Elisário Bahiana (1891- 1980), o mesmo que fez o viaduto do Chá e o Jockey Club. O Mappin possuía um comércio cheio de glamour. No prédio da praça Ramos, no quarto andar, às cinco da tarde, as senhoras da alta sociedade costumavam se reunir para tomar chá à moda inglesa. Todo esse charme durou até fins da década de 1960. Outro destaque do prédio é o relógio, que nunca atrasava, ainda está lá, mas sem fun- cionamento. A loja se tornou um ponto de referência para os paulistanos. Foi considerado um dos melhores pontos comerciais da cidade, milhares de pessoas transitavam a pé por ali. As vitrines da loja eram lindas e chamativas, recebiam um tra- tamento todo especial de cenário, que muda- va de tempos em tempos, antes de expor as mercadorias. Quando havia liquidações, que geralmen- te eram anunciadas no rádio e na TV, os clientes formavam filas quilométricas em volta do quarteirão na Praça Ramos de Azevedo. 06
  • 7. ARTIGO Inezita Barroso Uma caipira do asfalto JOSÉ DE ALMEIDA AMARAL JUNIOR* S em dúvida alguma é das mais importantes figuras da nossa música raiz. O nacionalismo convicto de Inezita é defendido em cada uma de suas apresentações pelos reada como atriz de cinema e foi par- ceira de Paulo Autran, entre outros importantes nomes no teatro. Em 1955 o LP “Vamos Falar de Brasil” lhe rendeu o Premio Roquette Pinto. o exterior, com o estrangeiro, é preci- so primeiro que nos conheçamos e nos respeitemos, caso contrário nunca o faremos de modo soberano e segu- ro. Não somos cowboys, embora mui- palcos deste gigante país afora, entre Suas gravações foram apreciadas e tos assim o desejem. Desta forma, eles o da TV Cultura, onde comanda levadas à Europa onde obtiveram abraça os veteranos e estimula os jo- o tradicional “Viola, Minha Viola”, reconhecimento. Em sua carreira can- vens artistas a estudarem e recriarem programa que há 30 anos semanal- tou na Rádio Clube do Recife, na a partir do que é autenticidade, do que mente abre espaço para as manifesta- Bandeirantes e na Record de São é nosso. Como ela entoa numa canção ções populares de nossa gente, cuja Paulo, entre outras. de Adauto Santos: “Eu sou do mato/ platéia, como ela mesma diz, ‘não Apaixonada pelos livros e pela pes- Sou caipira verdadeira”. Essa é Inezita admite concessões’. quisa, formou-se em Bibliotecono- Barroso, estrela brasileira. Inês Madalena Aranha de Lima nas- mia pela USP e deu aulas sobre fol- ceu em São Paulo/ Capital, na Barra clore em faculdades de São Paulo. *José de Almeida Amaral Junior Funda, em 04/03/1925. Era vizinha de Prestes a completar 60 anos de exito- Professor em Ciências Sociais, Mário de Andrade, grande escritor e sa carreira artística, acredita que é Economista, pós-graduado em poeta modernista. Desde pequena foi preciso muita resistência e tenacidade Sociologia e mestre em Políticas incentivada pela família a apresentar- na divulgação da cultura popular que de Educação se em clubes, festas e teatros. Aos vai sendo engolida cada vez mais pe- Colunista do Jornal Mundo Lusíada sete anos começou a aprender violão los meios de comunicação em massa, e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz e aos onze também ingressou no pela força do que chamam de ‘moder- de São Paulo piano. Queriam dar uma boa forma- nidade’ e dos interesses modistas. ção à menina. Mas, Inezita não tinha Enfurece-se com a injustiça e o aspirações para a chamada música pouco caso que fazem com os erudita. Adorava mesmo era o mundo caipiras. Sempre se remete, popular, suas expressões folclóricas. como exemplo, às festas ju- Especialmente o que chamamos de ninas nas escolas onde as caipira. E não bastando os estudos de pessoas põem remendo na violão e piano, ainda foi aprender a calça jeans dos alunos, tocar viola. Do jeito mais correto o pintam o dente da crian- possível para o instrumento: ‘de ouvi- ça de preto para ela ficar do’. Como manda o figurino do inte- ‘bem banguela’ e ainda rior. esfiapam o chapéu: puro Apesar dos pais não apoiarem a preconceito, reclama a ‘vida de artista’, coisa mal vista espe- grande dama. Inezita cialmente para moças, em 1950 Orgulhosa de sua gen- Barroso na estreou como atriz ao participar do te, Inezita é um exemplo capa da filme “Ângela”, de Tom Payne e para um país que pretende revista Abílio Pereira de Almeida, pela cada vez mais globalizar- Radiolândia Companhia Vera Cruz. Sua carreira se. Afinal de contas, de 1956 musical começou em paralelo, can- antes de qualquer tando em rádio, quando virou Inezita coisa, para po- Barroso, sobrenome herdado do mari- dermos tro- do cujo irmão ator e locutor ajudou car com sua carreira. Ela fez sua estréia em disco no ano de 1951, com um 78 rpm: “Funeral de um Rei Nagô” (Afro-brasileiro) e “Curupira” FOTO ACERVO PESSOAL (Canção amazônica) pelo selo Sinter. Em 1953 outro 78 rpm e então dois temas inesquecíveis: “Marvada pinga” (Laureano e Torres) e “Ronda” (Vanzolini) pela RCA Victor. Foi lau- 07
  • 8. MUTANTE A Barra Funda começa a mudar Localizado na zona oeste, o bairro passa por uma remodelação e perde parte de sua história arquitetônica Casario da rua Vitorino Camilo THAÍS MATARAZZO A São Paulo das três primeiras décadas do século XX estava em plena transformação, condu- zida pela pujante economia cafeeira e pela industrialização. Aqui chegaram de Educação Bonni Consilii. Em fins do século XIX a área foi loteada e arruada, dando origem ao bairro da Barra Funda, que em um primeiro momento ganhou casas residenciais abastadas. duas partes: a Barra Funda “de baixo” e a “de cima”, esta divisão também gerou discussões sobre o nome da região. Os italianos residentes na parte “de cima” afirmavam que a origem da designação imigrantes de várias partes do mundo, Assim como a Barra Funda, outros era uma homenagem à uma localidade em 1940, 80% da população da cidade bairros da capital (Santa Ifigênia, Brás e de sua terra natal chamada de Barafonda, era formada por italianos, portugueses, Mooca) surgiram de loteamentos de chá- que significa local de muita confusão. espanhóis e japoneses. Novos comporta- caras cujos terrenos foram cortados pela A versão dos moradores da parte “de mentos, diferentes hábitos, influências estrada de ferro - a São Paulo Railway, baixo” apontavam uma característica da culturais e políticas geravam um novo evento motivado pela economia cafeeira várzea do Tietê: onde os carroceiros, que aspecto a São Paulo. em plena ascensão: a linha férrea servia buscavam areia para as construções, Na antiga Chácara do Carvalho, per- para escoamento do plantio de café pro- aproveitavam as diversas lagoas forma- tencente ao conselheiro Antônio Prado, duzido no interior do estado até o Porto das pelas cheias do rio Tietê e que torna- foi construída uma bela casa sede, obra de Santos. A Barra Funda contava com vam fundas suas margens. do arquiteto italiano Luigi Puci (respon- uma estação, armazéns e um pátio da Após a crise de 1929, muitas famí- sável pelo projeto do Museu do Ipiranga), São Paulo Railway. lias endinheiradas abandonaram o no local funciona desde 1937 o Instituto A linha do trem repartiu o bairro em bairro, chegaram então os imigrantes 08
  • 9. italianos que aos poucos povoaram guardar materiais e objetos indesejáveis relembra que seu pai era jornalista e cos- toda região, muitos deles trabalhavam dos moradores, em outras oportunidades tumava alugar casas grandes, na frente na ferrovia, outros abriram pequenos eram alugados a baixos preços, fato que montava sua oficina, nos fundos instala- comércios como sapatarias, serrarias e atraia a população mais desfavorecida. va sua família, e ainda, sublocava alguns oficinas mecânicas. Yvone di Biasi Leporace, 87, morado- quartos e o porão: “minha mãe, que era Construíram ao longo dos trilhos da ra do bairro nas décadas de 1930/40, filha de italianos, tomava conta da casa Estrada de Ferro um casario modesto. Essas novas casas contavam com bonitas fachadas, eram geminadas e térreas, com pequenas frentes, porão e terreno fundo. Alguns casarões se tornaram cortiços ACERVO CENTRO DE DOCUMENTÁRIO E MEMÓRIA DO SAMBA PAULISTA (vide box). Os porões dessas casas eram altos, muitas vezes serviam de depósito para ATIVIDADES CULTURAIS DO INÍCIO DO SÉCULO XX Desde o início do século XX a Desfile de cordões Barra Funda contava com diversas carnavalescos entre atividades culturais para seus mora- as ruas João dores de Barros e Em 1917, foi inaugurado o Conselheiro Brotero, Theatro São Pedro na confluência na Barra Funda das ruas Albuquerque Lins e Barra Funda. O edifício, de estilo neoclás- sico, era luxuoso e confortável. Um zavam os armazéns e pátio ferroviário das procissões religiosas, como local digno da grande metrópole da São Paulo Railway, e ainda, o Largo também se influenciaram outros que surgia. da Banana. cordões, nos dias de carnaval o O teatro tornou-se ponto de Nas alturas das ruas Brigadeiro cordão passava nas ruas em fren- encontro para os moradores da Galvão, Vitorino Camilo e Lopes de te as residências dos beneméritos Barra Funda, de Santa Cecília, de Oliveira, havia por volta de 1900, um e os salões frequentados pela Higienópolis e dos Campos Elíseos. hipódromo e uma coudelaria de cava- comunidade negra do centro da Seu idealizador foi Manuel Ferreira los de corrida, dali deve ter sobrado o cidade. Lopes, um jovem português que fez afamado bebedouro de animais do No final da década de 1930, o fortuna com casas de espetáculos Largo da Banana. Grupo Carnavalesco da Barra em São Paulo e no Rio de Janeiro. O local tinha esse nome, pois lá Funda foi fechado por pressão do O projeto é de autoria do arquite- eram comercializadas bananas e outras governo de Getúlio Vargas, pois to italiano Augusto Bernardelli frutas, que ali chegavam através de seus integrantes foram confun- Marchesini, a execução da obra carroças puxadas por burros. Foi ali didos com membros do Partido ficou a cargo do engenheiro Antonio que nasceu, segundo historiadores, o Integralista, opositor ao governo, Alves Villares da Silva, colaborador samba paulista. por trajarem camisas verdes. de Ramos de Azevedo. Era um espaço de lazer onde a comu- Até que em 1953, a associação A partir dos anos 1920 o Theatro nidade negra que morava na Barra foi reativada como Camisa Verde e São Pedro passou a funcionar pre- Funda, e trabalhavam nos armazéns da Branco, em menção a outra peça do dominantemente como cinema, con- estrada de ferro, se divertia ao som das uniforme trajado por seus compo- tinuou nessa atividade até meados rodas de samba, batuque e tiririca, nentes, a calça branca. dos anos 60. Em 1998, após um segundo o escritor e pesquisador O Largo foi suprimido em mea- período de decadência, foi total- Mário de Andrade, ali se tocava o dos da década de 1950, dele apenas mente restaurado, a recuperação de samba rural paulista, uma mistura de sobraram lembranças e o registro suas características arquitetônicas ritmos trazidos por ex-escravos do em alguns sambas como este do originais resgatam a memória artís- interior de São Paulo misturado a compositor Geraldo Filme: Levo tica paulistana. outros gêneros urbanos. saudades / Lá do Largo da Banana No local onde hoje se encontra o Toda essa influência fez com que a / Onde nóis fazia samba / Todas as complexo formado pelo Memorial Barra Funda também fosse palco da noites da semana / Deixo esse da América Latina, o Viaduto criação do mais antigo cordão de samba / Que fiz com muito carinho Pacaembu e o terreno que abriga o carnaval da cidade, de 1914: o Grupo / Levo no peito a saudade / Nas prédio do PROCON (com frente Carnavalesco Barra Funda. mãos o meu cavaquinho / Adeus para a Rua Barra Funda), se locali- O desfile era realizado nos moldes Barra Funda. 09
  • 10. FACHADAS DA BARRA FUNDA A arquitetura e o patrimônio históri- truídas pelo capomastro Domenico coisa foi transformada sem o cuidado co e cultural da Barra Funda estão em Sordini. da preservação do estilo, da época, e decadência. Comparando fotos antigas Em 1977, a fotógrafa Dulce Soares muita coisa foi se perdendo.” com atuais nota-se uma transformação percorreu a Barra Funda a serviço da Atualmente dois marcos da arquite- radical no bairro, muitas casas e casa- Secretaria de Estado da Cultura, o resul- tura no bairro se conservam como o rões foram demolidos para dar lugar a tado foi o livro Barra Funda Esquinas, original: a primeira é a casa sede da atual explosão imobiliária no bairro. Fachadas e Interiores, publicado pela Chácara do Carvalho, hoje atravessa- O marco na arquitetura da região Imprensa Oficial do Estado, em 1983. Lá da pela Alameda Barão de Limeira, aconteceu em 1930, quando chegaram está registrado o que restou da arquitetu- atual sede do Instituto de Educação os primeiros imigrantes italianos, res- ra original do bairro. Na época, Dulce Bonni Consilii. A segunda é a casa ponsáveis por boa parte do povoamen- declarou ao Jornal da Tarde: “… rara a que pertenceu ao intelectual Mário de to da Barra Funda na primeira metade casa aqui que não tem adorno a não ser Andrade, atual Oficina da Palavra do século XX. Depois veio a comuni- as novas ou as reformadas, muita Casa Mário de Andrade. dade negra. A partir de meados de 1970, muitos migrantes nordestinos passaram a habitar o bairro. Casa da década Os capomastri, mestre-de-obras de 1930 na rua italianos, introduziram novas técni- Vitorino Camilo cas na construção civil, lideravam projetos e participavam dos dese- nhos das obras, muitos deles produ- zidos em conjunto com os artistas também italianos. Eles se preocupa- vam mais com a fachada das casas do que com sua divisão, quase todas eram parecidas: pequena frente, muito fundo, com quartos enfileira- dos, uma entrada lateral, com cozi- nhas e banheiros nos fundos. Outros preferiam colocar o armazém ou bar THAÍS MATARAZZO na frente. Assim eram as casas da Barra Funda, muitas delas cons- e dos aluguéis, nos porões sempre mora- havia perigo, era muito sossego. Eu e muito grande e bonito, foi lá que o va uma família negra. Quando anoitecia minhas irmãs brincávamos na rua, a samba ganhou seu lugar de destaque. O era interessante observar que havia uma gente riscava os paralelepípedos da rua samba da Barra Funda foi então o res- precária iluminação pública nas ruas, com carvão, mas a minha mãe sempre ponsável pela integração de artistas, uni- então você via vários pontos de luz nas estava de olho. A maioria das ruas eram versitários, membros da comunidade e calçadas, era a luz que saia dos porões asfaltadas e poucas de terra, vez ou outra craques de futebol. Lá viveu o onde moravam as famílias negras”. tinha trânsito de carro, carroça ou bonde, Vassourinha, grande sambista e cantor Assim, o bairro se tornou heterogêneo, nos costumávamos ir ao cinema, à Rádio de rádio que morreu jovem, era amigo a comunidade negra se misturou à italia- Cosmos, às missas e passear pela Praça do meu tio. Não posso deixar de fazer na e souberam viver em harmonia, em Marechal Deodoro que tinha um roseiral referência ao cordão carnavalesco 1934, segundo dados da prefeitura da lindo”, narra Yvone. Campos Elíseos, que saia da alameda cidade de São Paulo a Barra Funda pos- A música, mais precisamente o samba, Olga, na Barra Funda, que era formado suía 23.764 habitantes, a maioria forma- sempre esteve presente na Barra Funda pelos negros aristocratas, era então na da por italianos e negros. (vide box). Armando de Moura, 65, não época, a elite negra”, conta Moura. A Barra Funda foi o primeiro bairro a nasceu na Barra Funda como toda sua Todas essas histórias fazem parte receber o bonde elétrico, em 1902, que família, inclusive seus avós, todos das reminiscências de uma Barra ligava o local ao Largo São Bento. Esse faziam parte da comunidade negra do Funda que está preste a desaparecer. desenvolvimento comercial se deu devi- bairro. Moura passou parte da sua infân- Quem anda hoje pelo bairro encontra do à proximidade aos bairros elitizados cia e adolescência visitando seus paren- poucas lembranças dessa época, as de Campos Elíseos e Higienópolis. tes, amante do samba, desde cedo, tomou casas das décadas de 1930 e casarões A Barra Funda “de cima” da via férrea contato com esse ritmo, costumava fre- quase não existem mais, muitos foram até a Olímpio da Silveira recebeu mais quentar o Salão São Paulo Chic. “Era na demolidos outros reformados ou trans- influência dos bairros de Santa Cecília e rua Brigadeiro Galvão esquina com a formados em cortiços. Campos Elísios. “Naquela época não rua Barra Funda, um casarão antigo Em 1988 o bairro passou por grande 10
  • 11. mudança com a chegada do termi- bairro estão as enchentes e a falta de nal intermodal, composto pela áreas verdes. Outra grande dificulda- estação do metro Palmeiras-Barra de será o congestionamento: o aumen- Funda, a estação de trens da to do número de veículos causará CPTM e o terminal rodoviário. maior engarrafamento nas avenidas Até então, era possível, encontrar Francisco Matarazzo e Marquês de no bairro os tradicionais empórios São Vicente, e em outras vias impor- THAÍS MATARAZZO e mercearias, onde os comercian- tantes como o Elevado Costa e Silva, tes ainda usavam antigas caderne- vulgo Minhocão. tas para vender fiado. O advogado Edvaldo Godoy, presi- Com o metrô chega o progresso e a dente da Associação de Moradores e valorização da área, muitas casas e cor- Amigos da Barra Funda, aponta que tiços foram desapropriados e deram uma grande área do bairro terá que ser lugar a dezenas de novos prédios, com desapropriada para a chegada de novos eles também veiram os supermercados, empreendimentos imobiliários, do os maganizes e as butiques. Nesta época, total a ser derrubado 37% correspon- moradores e especialistas previam que dem a galpões industriais que estão em poucos anos haveria uma espécie de ociosos e outros 33% são residências, explosão demográfica e imobiliária na “não podemos deixar que esse cenário região: é o que está acontecendo. traçado pelo EIA-Rima (estudo de Desde 2006 a Barra Funda passa por impacto ambiental) da Operação uma nova fase de “remodelação”, mui- Urbana Água Branca, destrua parte da tos terrenos passaram a ser supervalori- arquitetura do nosso bairro e da nossa zados, segundo dados da prefeitura, história”, afirma Godoy. daqui a cinco anos o número de morado- Segundo a prefeitura, o estudo de res deve passar de 25 mil para 85 mil. impacto ambiental ainda não tem previ- Muitas melhorias em diversas áreas são de implantação. Tudo passará por necessitam ser realizadas para receber uma audiência pública, ainda sem data Armando Moura e os os esses novos moradores e atender as marcada, sendo necessária após essa bons tempos do samba necessidades dos que já estão estabe- audiência, uma aprovação pelo conselho na Barra Funda lecidos ali. Entre outros problemas do municipal de meio ambiente. THAÍS MATARAZZO ACERVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE SÃO PAULO São Paulo Chic em foto de 1977: o samba em destaque 11
  • 12. CIDADE A união entre urbanismo e estética O arquiteto Ruy Ohtake destaca a importância da urbanização para as cidades RobeRta de donno Entre seus projetos mais importan- tes está o Expresso Tiradentes, espé- cie de corredor de ônibus suspenso que liga o Sacomã ao Parque D. Pedro II. O arquiteto também ideali- zou o projeto de adaptação do Estádio do Morumbi para a copa de 2014. “A Copa é vista como um campeonato, no entanto ela deve deixar um legado para a cidade”, afirma o arquiteto. É de sua autoria, em parceria com uma fabricante de tintas, o projeto de colorir as casas da favela de Heliópolis, conferindo uma identida- de cultural ao bairro. “A rua é a sala de estar dos moradores da favela”, assim Ohtake justifica a sua iniciati- va de torná-la mais agradável. Bastante interessante também é um projeto pessoal, ainda em fase de criação, para a urbanização do entor- Ohtake: no dos cruzamentos entre o rodoanel urbanismo e e as rodovias. Seriam vilas padroni- estética devem zadas, com casas, comércio, indús- caminhar juntos tria, transporte, como mini-cidades com capacidade para 250.000 mora- O dores, isto impediria a “favelização” arquiteto Ruy Ohtake, conhe- “A saída para agregar todos estes do local e seria um bom exemplo de cido por obras como o fatores seria unir vontade do poder que quando se planeja a urbanização Instituto Tomie Ohtake, na público, recursos e foco no proble- é possível conciliar estética e urba- Vila Madalena e a Embaixada do ma”, diz Ohtake. nismo. Brasil em Tókio, tem vários proje- tos, alguns já concretizados e outros ainda em fase de criação, que exem- plificam como a estética e o urba- nismo podem andar juntos, mesmo em uma grande cidade como São Paulo. Ohtake credita o agravamento da questão social ao êxodo rural, que ocupou as periferias e constituiu as favelas, as quais representam um terço da ocupação da cidade de São Paulo. “O último plano urba- nístico é da década de 30, houve um crescimento que o urbanismo Thiago Luiz amado gonçaLves não conseguiu organizar”, justifica o arquiteto. O urbanista acredita que uma fun- Expresso Tiradentes: ção importante da cidade é a beleza, um dos projetos a estética o que fará com que o mais conhecidos morador se reconheça como cidadão de Ohtake e sinta orgulho do lugar onde mora. 12
  • 13. ARTIGO Uma cena radiofônica da Paulicéia Saiba mais sobre a história do rádio na cidade de São Paulo A radiodifusão iniciou-se no Brasil em 1922. Em matéria musical, o rádio começou apresentando a música eru- dita, partia de Chopin e vinha caminhando por Toselli até chegar em Verdi. Depois, abando- A programação musical era composta por música erudita. Mas, o povo queria mesmo era ouvir da “torneirinha do bom som” a música popu- lar. Em 1932, através do decreto 21.111, o Élcio de Carvalho, entre outros. As famílias costumavam se reunir na sala em frente ao aparelho receptor, que tinha lugar de destaque, para escutarem e sentirem deliciosas sensações nas vozes nou-se tudo isso, e o rádio começou a abraçar presidente Getúlio Vargas autorizava a vei- afinadas de Isaura Garcia, Vassourinha, o samba, a marcha, o choro, o baião e outros culação de propaganda comercial pelo Agripina, Déo, Paraguassú, Helena Pinto ritmos bem brasileiros, assim se escreve a rádio, então, foi possível a canalização de de Carvalho, Januário de Oliveira, Laís parte popular da música do rádio. recursos, assim as emissoras puderam con- Marival, Nhá Zefa, Arnaldo Pescuma, Até 1937 a capital paulista já contava tratar profissionais e artistas com exclusivi- entre outros cantores e artistas das déca- com dez emissoras radiofônicas: Rádio dade, o rádio deixa o amadorismo e começa das de 1930/40. Neste momento ainda Educadora Paulista - PRA-6 (1923), a se profissionalizar. não existiam os auditórios e os fãs se Rádio São Paulo - PRA-5 (1927), Rádio A Rádio Record merece destaque neste amontoavam numa pequena sala para Cruzeiro do Sul - PRB-6 (1927), Rádio aspecto: os locutores e produtores César verem seus ídolos através de um vidro, Record - PRB-9 (1928), Rádio Cosmos Ladeira e Nicolau Tuma introduziram que isolava o som do estúdio de gravação - PRB-7 (1934), Rádio Cultura - PRE-4 inovações no meio seguindo o modelo e era conhecido como “aquário”. (1934), Rádio Excelsior - PRG-9 (1934), norte-americano, desde o destaque para a Ainda neste período eram considerados Rádio Difusora - PRF-3 (1934), Rádio música popular até o pioneirismo nos for- os melhores programadores do rádio pau- Bandeirantes - PRH-9 (1937), Rádio matos de programas de jornalismo, espor- lista: Otávio Gabus Mendes, Raul Duarte, Tupi - PRG-2 (1937). tivo, radioteatro e outros. Em 1933, as Armando Bertoni e José Nicolini. O pri- A Rádio Educadora Paulista, atual Rádios Cruzeiro do Sul e Cosmos, per- meiro grande e moderno auditório da Gazeta, fundada em novembro de tencentes à família Byington, formaram cidade surgiu em maio de 1939, quando 1923, seguia a risca os objetivos do a primeira cadeia efetiva de transmissão a Rádio Cultura inaugurou sua nova sede professor Roquette Pinto para servi- em território nacional, era a rede Verde- na avenida São João. O local era conhe- ço da radiodifusão: Amarela. cido como “Palácio do Rádio” tal a sun- “atender os interes- Logo, o rádio, seus artistas e profis- tuosidade de suas instalações. Foi esta ses nacionais e sionais, começaram a ganhar a atenção emissora a responsável por um dos mais finalidade edu- de jornais e revistas que criaram se- famosos programas de calouros da época: cacional”. ções especiais com noticiários radio- Hora da Peneira ou Peneira Rodhine, com fônicos. O primeiro cronista especiali- patrocínio da Indústria Rhodia, era sem- zado no assunto, em São Paulo, foi pre apresentado aos sábados das duas às Aristides de Basile, nas páginas do cinco da tarde. Sucesso absoluto, ficou no Correio da Tarde, depois surgi- ar por cerca de 20 anos! ram Ary Machado, Péricles Esse fascínio do rádio sobre o público Amaral, Egas Muniz, constituiu um fenômeno, principalmente Mauro e Thirso para as famílias pobres, foi uma janela Pires, Gracy aberta para a fantasia: além de informativo Graciano, trazia para os lares um mundo mágico através das vozes dos artistas. A Paulicéia, diferente do Rio de Janeiro, cultivou não só o samba e a marcha como a seresta, a modinha, a música caipira e outros ritmos regionais e internacionais, pois foram muitas as nacionalidades que concorreram para a formação de São Paulo, imprimindo-lhe uma fisionomia essen- cialmente multi- cultural. THAÍS MATARAZZO XX de nonono, 2010 FOTOS SXC 13
  • 14. ORIGEM Freguesia do Ó, um dos pioneiros O bairro da Freguesia do Ó é um dos mais antigos de São Paulo, no último mês de agosto completou 431 anos. O português Manoel Preto, funda- dor da Freguesia, foi um bandei- rante muito abastado e um tanto rude, o padre Justo Mansilla o considera- va “Corsário y ladrón de índios”, confor- sediada no Rio de Janeiro, para erguerem uma capela em homenagem a santa de sua devoção. Em 1794, estando a capela em ruínas, foi erguida uma outra e consagrada a Nª. Em volta da nova construção deu-se o núcleo de formação do bairro, elevado a freguesia em 1796. Isolado da cidade pelas frequentes inundações da várzea do Tietê, o bairro chegou até 1940 ainda me citado por Afonso de Taunay no livro Sª. Expectação do Ó, este curioso “Ó” estacionário. Foi a partir de 1945 com História Antiga da Abadia de São Paulo. originou-se das sete antífonas cantadas loteamento de antigas chácaras que o Na sua fazenda haviam mais de mil nas festa da Mãe do Senhor, todas come- local passou a ter efetiva ocupação, sur- índios, que ele próprio capturava nos ser- çadas pela exclamação “ó”. Celebrada a giram dezenas de núcleos habitacionais tões do Paraná e Rio Grande, chegando 18 de dezembro, tal solenidade veio rece- como: Itaberaba, Moinho Velho, até o Uruguai. ber, em Portugal o nome de “Festa do Ó” Brasilândia e outros. Devoto de Nossa Senhora da Esperança, oficialmente designada “Festa da O Largo Velho da Matriz, um ponto em 1610, “não podendo acudir a missa Expectação do Parto da Santíssima alto da Freguesia, é um dos pontos histó- por morar longe da vila”, juntamente com Virgem”; por fim, chamou-se “Festa de ricos do bairro. Na rua João Alves, núme- sua esposa Águeda Rodrigues, dirigiram Nossa Senhora do Ó” e, assim Nossa ro 9, antiga Ladeira Velha da Freguesia, um requerimento ao padre Mateus da Senhora do Ó ficou sendo uma das invo- existiu uma casa (demolida em 1979) Costa Morim, autoridade apostólica cações da Virgem. que, segundo folclore popular, foi o local Em 1896 a igreja sofreu um incêndio onde de criou Maria Domitila, a Marquesa causado por um apicultor. Ele foi cha- de Santos. Nesta casa, ela teria recebido mado para acabar com uma colméia a visita de seu enamorado, o imperador sobre o altar e resolveu utilizar o fogo Dom Pedro I. para espantar os insetos. Conclusão: a Em 1876, viviam na Freguesia de igreja amanheceu em ruínas. Com ela Nossa Senhora do Ó, 2.023 habitantes, os foram destruídos vários objetos e docu- quais dedicavam-se à plantação de cere- mentos, restou a cabeça da imagem de ais para consumo próprio, à lavoura de Nossa Senhora do Ó, que está na matriz cana-de-açucar e à criação de animais, nova, construída em 1901. segundo Relatório da Comissão Central de Estatística. Já na década de 1970 o bairro já mos- trava a degradação da arquitetura das casas do século XVIII, a maioria desses imóveis foram demolidos. Na ocasião, THAÍS MATARAZZO Vista parcial da Igreja Matriz, fundada em 1901 24
  • 15. Largo da Matriz em 1942, ao fundo a Igreja Matriz ACERVO PIZZARIA DO BRUNO muitos moradores formaram uma comis- continuam a sociedade inicial, Rui tuma todos os sábados à tarde, após são em defesa desse patrimônio histórico, de Siqueira, um dos quatro filhos de assistir a missa na Igreja Matriz, mas tudo foi em vão. João Machado de Siqueira, quem passar pela pizzaria e cumprimentar Em 1943, o padre Eládio Correia e o atendeu a nossa equipe disse que o pessoal. senhor Joaquim Fernandes fundaram o seu pai, que está com 90 anos, cos- Por lá já passaram muitas personalida- Hospital Nossa Senhora do Ó, durante duas décadas o prédio ficou vazio, lá hoje funciona um supermercado. Até meados da década de 60 a Freguesia do Ó tinha um ar de cidade do interior, com poucos prédios e muitas ruas em declive. Atualmente o Largo da Matriz costuma reunir cerca de 1500 pessoas nos finais de semana, a praça é circundada por bares e restaurante de vários estilos: alemão, nor- destino e italiano, com destaque para a Pizzaria do Bruno, aberta há 71 anos. No início serviam aos clientes polenta e fran- go, com o sucesso do estabelecimento passaram a oferecer pizzas, aliás o local foi o pioneiro em ter lançado a pizza frita na cidade. Seus fundadores são Bruno Bertucci e João Machado de Siqueira, a pizza- ria está no mesmo casarão em que foi inaugurada: o ambiente relembra um THAÍS MATARAZZO clima dos anos 1940. Com três ambientes diferentes, do salão térreo é possível ter uma vista privilegiada da cidade. Os filhos e netos dos fundadores Casarões do século XIX restaurandos, transformaram-se em points do bairro 15
  • 16. des importantes do mundo político, espor- Comunidade em geral, e em especial a Aguinaldo José Gonçalves. tivo e artístico, como José Serra, Ratinho, do bairro da Freguesia do Ó, pode de Sua inclinação para as artes começou a Sônia Abraão e o futebolista Sócrates. maneira totalmente gratuita, apreciar e manifestar-se muito cedo e de maneira Siqueira nos conta que na época da praticar arte e cidadania, através de ofi- espontânea. Frequentou cursos de dese- II Guerra Mundial quando houve o cinas, cursos, palestras, shows, filmes, nho e pintura. Seus primeiros trabalhos se racionamento de vários alimentos, exposições, apresentações teatrais e orientaram voltados para a pintura sacra, como a farinha, seu pai costumava outras atividades correlatas. O local pro- tendo inicialmente colaborado na decora- desmanchar o macarrão para fazer a move um projeto permanente de ção de várias igrejas da capital. Depois, massa da pizza, já famosa na região. “Resgate da História do Bairro da como autor exclusivo, realizou uma série Até hoje as pizzas são feitas modo Freguesia do Ó”, através de livros, jor- de pinturas murais em igrejas e capelas artesanal, ela não é assada direta no nais, folhetos e uma Exposição perma- da capital e do interior. tijolo como em outros restaurantes, nente de fotos antigas do bairro. Desde que se estabeleceu na Freguesia eles utilizam uma bandeja e ao mesmo Inaugurada em 1993, tem um auditório revelou um profundo interesse e uma tempo é assada e frita, o resultado é com capacidade para 200 lugares, no grande ligação com a vida do bairro. uma massa fininha e crocante. momento está ganhando uma reforma Sempre foi um membro ativo nas ativida- Em 2006, a pizzaria venceu o prê- para ampliação do espaço. des comunitárias locais, fosse religiosas, mio Paladar com a pizza de camarão O patrono da Casa de Cultura é o políticas, cívicas, culturais ou sociais. eleita a melhor pelo juri popular do pintor Salvador Ligabue (1905-1982), Vale a pena fazer um passeio a pé ou de jornal O Estado De S. Paulo. paulista de Itatiba, filho de pais italia- carro pelo bairro, entre ladeiras escondidas O bairro conta com a Casa de Cultura nos. Ainda menino, sua família trans- ao redor da Matriz é possível encontrar Salvador Ligabue, localizada no Largo feriu-se para a capital paulista. Seu algumas casas antigas do século XIX e da Matriz, 215. Regularmente promove primeiro contato com a Freguesia ainda conversar com os moradores vetera- atividades culturais junto à comunidade. ocorreu no ano de 1929 em virtude da nos que não dispensam uma boa prosa. Segundo o diretor, Jarbas Mariz, todos visita ao antigo Seminário Provincial É visível a verticalização do bairro os esforços são voltados à recuperação e de São Paulo onde seu irmão estudava, ocorrida nos últimos anos, a demolição preservação da história do bairro. preparando-se para a vida religiosa. de casas térreas e a falta de restauração de Mariz afirma que a Casa de Cultura é Posteriormente, foi convidado para alguns prédios históricos fazem com que um patrimônio inestimável da cidade de realizar alguns trabalhos na Igreja a Freguesia deixe de ter aquele ar bucóli- São Paulo. É um espaço público onde a Matriz de Nª. Sª. do Ó pelo Pároco co de cidade do interior. Casa de Cultura: atividades variadas para moradores do bairro THAÍS MATARAZZO 16
  • 17. ACERVO PIZZARIA DO BRUNO Pizzaria do Bruno: há 71 anos no mesmo local ORIGEM DO NOME DA FREGUESIA DO Ó A designação NOSSA SENHORA DO Ó originou-se das sete antífonas catadas na festa da mãe do Senhor, todas iniciadas pela exclamação “Ó!” Ó SABEDORIA, que saiste da boda Ó RAIZ DE JESSÉ, que sois Ó REI DAS GENTES, e objeto de do altíssimo Como estandarte dos povos, seus desejos, Atingindo de uma à outra extremidade Diante do qual os reis fecharão a boca, Pedra angular, que reunis em vós os E dispondo de todas as coisas forte e Não tardais mais um momento! dois povos suavemente, Vinde e salvai o homem que formaste Vide para nos ensaiar o caminho da do limo da terra! prudência Ó CHAVE DE DAVI, cetro da Casa de Israel, Que abris e ninguém pode fechais e nin- Ó EMANUEL, Rei legislador nosso, Ó ADONAI, Senhor e condutor da guém pode abrir: Esperado das nações e seu salvador; Casa de Israel, Vinde a tirai da prisão, o cativo que está Vinde, salvai-nos, Senhor, nosso Que aparecestes a Moises nas chamas sentado Deus, da Sarça ardente, Nas trevas e nas sombras da morte! Que os céus chuvam das alturas e as E lhe destes, sobre o Monte Sinai, a lei nuvens eterna: Nos tragam o salvador! Vinde nos resgatar pela potencia de Ó SOL NASCENTE, esplendor de luz vosso braço! eterna E sol da justiça: vinde e iluminai! Aquele que se senta nas trevas da morte! THAÍS MATARAZZO 17
  • 18. ACONTECE Interior para paulistano ver Evento reúne gastronomia, cultura e arte típica do estado RODRIGO BOTELHO FOTOS RODRIGO BOTELHO Bem diferente de um ônibus, mas muito mais divertido N ão é sempre que se tem a chance de conhecer a rica cultura do Estado de São Paulo num só lugar. Mas quem esteve no Revelando São Paulo, Festival da Cultura Paulista Tradicional, espaços gastronômicos de deixar qual- quer um com água na boca. São barracas com comidas típicas de municípios do interior, trazendo antigas receitas de família feitas na hora, acompanhados de tambores, com seus ritmos paulistas peculiares – como jongo, samba e batu- que de umbigada – também estavam lá. Jogos e brincadeiras promovidas por comunidades indígenas dividiam espaço pôde sentir de perto um pouco da cultura, calorosos sorrisos. Apesar do forte vento com tudo isso. artesanato e culinária de vários municípios e do frio cortante nos últimos dias do Um rancho tropeiro foi adaptado e trazi- interioranos. evento, a recepção dos interioranos – e do para os paulistanos se sentirem no inte- A XIV Edição do Revelando São Paulo seus pratos saborosos – faziam-nos rior. Cavalos, búfalos, mulas e bois, perso- é um projeto realizado pelo Governo do esquecer do clima. nagens figurados em tropas e cavalhadas Estado em parceria com a Secretaria de estavam lá. Crianças puderam conhecer o Estado da Cultura. O evento, antes sediado Cultura e arte mundo do interior montando em carros de no Parque da Água Branca, foi realizado No palco e nas ruas, 300 grupos de boi e charretes, enquanto adultos reviveram entre os dias 10 e 19 de setembro no manifestações artísticas e folclóricas esti- atividades típicas no clima do local. Parque Vila Guilherme/Trote, próximo ao veram presentes nos dias do evento. metrô Carandiru, juntamente com a Abaçaí Cortejo de bonecos e cabeções, reiada, Mais que um evento Organização Social de Cultura. folia de reis, sanfoneiros, catiras, adora- Não havia oportunidade melhor para dores da Santa Cruz, caminheiros e realizar o X Festival da Amizade, do que Gastronomia romeiros estiveram presentes. Modas de dentro do grandioso evento. Além de No local, os visitantes conhecem 200 violas caipiras e noites de São João e dos abarcar tradições do Estado de São Paulo, 18
  • 19. Representantes dos Reis Magos encantam platéia do evento o local atraiu também características cul- em especial no último dia, onde reuni- ralidade do estado para o paulistano turais de outras regiões do país e também ram-se grupos de congos, caminheiros, conhecer ou relembrar. Afinal somos de imigrantes. Países como Portugal, moçambiques, romeiros, irmandades reli- paulistanos, mas, antes de tudo, paulis- Itália, Japão, Bolívia, Chile, Alemanha, giosas de variados segmentos, comunida- tas! entre outros, trouxeram suas contribui- des indígenas, tropas e tropeiros ruma- ções, adicionando tempero ao caldeirão ram ao Parque do Trote. efervescente de cultura da capital mais Os visitantes tiveram contato plural da América Latina. com as tradições do estado. Segundo informações da Abaçaí, reali- Cristiane Oliveira, estudante zadora do Revelando, milhares de pes- de administração, 24 anos, soas compareceram ao longo do evento, saboreava um camarão de São Vicente enquanto nos contava o que mais gostou do evento – além do camarão. “O mais interessante no evento é identificar a diversidade de culturas, nunca havia participado SERVIÇO de uma festa de folia de reis e adorei. Foi muito animado e relembra histó- Prefeitura de São Paulo rias contadas pelos meus pais e avós”. http://migre.me/1TECg Cristiane também dá uma dica do que quer na próxima edição do evento. Abaçaí Cultura e Arte “Seria muito interessante contar um www.abacai.org.br pouco mais da história de cada uma das regiões para complementar a cultura.” Mapa de culturas tradicionais O foco no respeito à diversidade e o Integrante de grupo http://abacai.org.br/canal_folclore.php convívio pacífico é importantíssimo para de folia de reis se constituir e preservar a alma cultural da prepara para capital. O Revelando São Paulo é impor- subir ao palco tante neste aspecto, pois traz à tona a plu- 25
  • 20. ARTIGO Os 60 anos da televisão Aplausos e lembranças da “mídia-majestade” brasileira FÁBIO SIQUEIRA* Assis Chateaubriand inaugura a TV Tupi em 1950 FOTOS ACERVO PESSOAL E m 18 de setembro passado, a Televisão Brasileira comemorou seus 60 anos de Brasil. A importância dessa data comemorativa transcende em muito uma mera convenção de calendário, pois se trata infra-estrutura, os profissionais, os apare- lhos televisores, tudo organizado para que na noite de 18 de setembro daquele ano se realizasse a majestosa Festa de Inauguração, no bairro paulistano do Sumaré, juntamen- como seus técnicos, redatores, diretores e produtores. Nesses primeiros anos de fun- cionamento da Tupi, a presença do mundo e do espírito radiofônico era incontestável. Mas não só, fica patente as influências e do meio de comunicação que atinge quase te com a transmissão do primeiro progra- mesmo a direta presença de elementos do a totalidade dos lares dos brasileiros. ma, o TV na Taba. Estava fundada a cinema, do teatro, do circo, da literatura, A exatos 60 anos, essa novidade tecno- PRF3-TV Tupi de São Paulo, o canal 3, a da música erudita, da música popular, das lógica e cultural chegava a “terra brasilis”, primeira da América do Sul. artes plásticas, da publicidade, do jornalis- de navio, pela iniciativa do jornalista e Um tópico relevante, quando se recorda mo, enfim, das grandes e legítimas mani- empresário Assis Chateubriand (1891- esse princípio da televisão brasileira, se festações artísticas nacionais da época. 1968), que já era proprietário, na época, de refere às influências artísticas e culturais Talvez seja esse o segredo da força, um conglomerado de Jornais, Revistas, ali presentes. Certamente a mais preemen- competência e qualidade da televisão, Agência de Notícia e Rádios (incluindo as te e presente tenha sido a influência radio- nesse início, pois tudo passava pela e tam- Rádios Tupi e Difusora, ambas sediadas fônica, pois a TV Tupi, tendo em vista bém na televisão. E ainda existia o respal- na Capital Paulista) e desde então coman- que, as duas rádios já mencionadas –Tupi do e o apoio dos jornais, que eram em dava e coordenava o projeto-empreendi- e Difusora de São Paulo, eram de proprie- número elevado em 1950, em São Paulo, mento de trazer a TV para nosso país. dade do jornalista Assis Chateubriand e só a Cadeia dos Diários Associados, grupo Durante o ano de 1950, de forma paula- ambas as rádios cederam a maioria do que administrava a Radio e TV Tupi tinha tina, foram chegando os equipamentos, a elenco para a estação de TV nascente, bem dois jornais em circulação: o Diário de 20
  • 21. São Paulo e o Diário da Noite. E no também pelo fato de que em vinte Rio de Janeiro, a então Capital anos, no inicio dos anos 70, a tele- Federal, o processo de chegada da visão passava o rádio e o jornal, se TV foi bastante semelhante ao ocor- tornando o meio de comunicação rido em São Paulo, pois se concluiu mais consumido pelos brasileiros em 20 de janeiro de 1951, com a e, já na década passada, conseguia fundação da TV Tupi, a pioneira atingir a incrível e superior marca emissora dos cariocas. E ali, tam- de 99,5 % de presença nos lares bém já existia duas rádios de pro- brasileiros. Por tudo isso, não há priedade de Chateubriand-a Rádio como dissociar a presença da TV Tupi e a Rádio Tamoyo, dois jor- na rotina e no cotidiano de nossa nais – O Jornal e Diário da Noite população. (na versão carioca) além da sede da Por fim, fica consignada essa sin- revista semanal O Cruzeiro, o peri- gela homenagem a TV brasileira, ódico recordista de leitores da Inezita Barroso, 1954 quando completa essas seis décadas, época, que muito cobriu e noticiou com muita presença e influencia, e o surgimento dos primeiros canais nunca se pode esquecer desses mes- de TV. tres pioneiros que ajudaram a reali- E nos anos seguintes foram sur- zar esse sonho vistoso e visionário, gindo as novas estações de TV, como Cassiano Gabus Mendes, concorrentes das duas Tupis pio- Mario Alderighi, Dionísio Azevedo, neiras. Em 1952, foi inaugurada a Walter George Durst,Walter Forster, TV Paulista, canal 5 Paulista, e no Ribeiro Filho, Maurício Loureiro ano seguinte o canal 7 a TV Gama, Júlio Gouveia, Tatiana Record, que existe até hoje. Nas Belinky, Zae Júnior, Luiz Gallon, terras cariocas, a segunda emissora Jota Silvestre, Luis Arruda Paes, foi a TV Rio em 1955 e a terceira Lúcia Lambertini, Márcia Real, a TV Continental, fundada em Laura Cardoso, Yara Lins, Lia de 1959. Em 1955, a TV chegava ao Aguiar, Álvaro de Moya, César mineiros, com a inauguração da Angela Maria, 1954 Monteclaro, Rebello Junior, Mário TV Itacolomy, criada por Fannucci, Cyro del Nero, Blota Chateubriand, que já dispunha do Júnior, Sônia Ribeiro, Hélio Souto, jornal O Estado de Minas naquela Ary Silva, Raul Tabajara, Graça então jovem cidade de Belo Mello, Heitor de Andrade, Silveira Horizonte. Sampaio, Manoel de Nóbrega, Assim foi a gênese do apareci- Plácido Maia Nunes, Vera Nunes, mento da Televisão no Brasil, a Antônio Seabra, Vida Alves, Hebe nossa “mídia-majestade” não só Camargo, Demerval Costa Lima, por ter implantado um padrão de Almeida Castro, Homero Silva, qualidade bastante elevado em Gaetano Gherardi, Paulo Machado suas produções, fato que hoje de Carvalho, Barros Barreto, Victor começa a ser rediscutido em vista Costa, dentre muitos outros. A todos da visível queda geral de qualida- os pioneiros, a TV brasileira, apreço de nos últimos quinze anos, mas e calorosos aplausos. Celly e Tony Campello, 1958 *Fábio Siqueira colaborou com Expressão SP. É advogado e sociólogo, formado pelo Mackenzie e PUC-SP, pesquisador da história da televisão brasileira, morador da cidade de São Paulo. 21
  • 22. MÚSICA Melodias portuguesas em São Paulo Artistas veteranos e jovens se dedicam à música popular portuguesa na capital paulista O grupo musical Sete Cidades: Gabriel Laudino, Marcos Sebo, Tatiana Monteiro e Alexandre Matis ACERVO ALEXANDRE MATIS A cidade de São Paulo é mundial- mente conhecida por sua influência nacional e internacio- nal, seja do ponto de vista cultural, eco- nômico ou político. A Paulicéia, desde ras da “pátria-mãe”, cada vez mais absorvendo as novelas televisivas, o cinema, a música e a literatura brasilei- ras, sem contar os jogadores de futebol, entre outros aspectos. jovens para dar continuidade ao movi- mento associativo português, o que é um desafio, pois, muitos descendentes sen- tem-se desmotivados ou possuem outras preferências e interesses. fins do século XIX até hoje acolhe imi- Mas nem tudo está perdido. Na capital A música popular portuguesa tem sua grantes de todo o mundo. bandeirante a colônia lusa possue algu- representatividade em duas vertentes: Uma das maiores colônias portuguesas mas entidades representativas: embaixa- uma é o fado expresso através dos fadis- no Brasil se encontra na capital paulista. das, consulados e as associações, por tas, dos músicos e dos compositores e a Uma característica deste povo é o saudo- exemplo, a Casa de Portugal, o Centro segunda é o folclore, tocado em ritmos sismo por sua pátria, expressado em Trasmontano, o Pedro Homem de Melo como o vira, o chula, o puladinho, o geral, através da música e da poesia. da Igreja N.S. de Fátima no Sumaré, o malhão e o corridinho, entre outros, Apesar da longa trajetória que nos une, Arouca São Paulo Clube, a Casa da Ilha sempre divulgado pelos ranchos e gru- cujos elementos ajudaram a fundar, a da Madeira, a Associação Portuguesa de pos folclóricos. Nos dois casos, no criar a essência do povo brasileiro, temos Desportos, a Casa dos Açores, o Clube Brasil, além de ter elementos portugue- nos últimos tempos observado infeliz- Português de São Paulo, o Vilas de ses, já existem alguns componentes mente um refluxo do intercâmbio e, por Portugal, a Casa de Bronhosinho, a Casa lusos-descendentes e até brasileiros. conseguinte, uma diminuição dos ele- do Minho, o Clube Lusitano, a Associação Para saber um pouco mais sobre o tra- mentos de divulgação da cultura lusitana dos Poveiros, entre outros. balho de um grupo folclórico, Expressão nos veículos de comunicação ao longo do Dentre outras finalidades, essas entida- SP conversou com o jornalista Armando vasto território brasileiro. des têm por objetivo disseminar e promo- Torrão, 55, nascido em Miranda do O que não é uma contrapartida em ver atividades culturais lusitanas. Douro, norte de Portugal, diretor do relação aos elementos nacionais em ter- Atualmente, muitos dirigentes buscam Grupo Folclórico Veteranos de São 22