1. Disciplina: Ciclo Vital III
AULA 04
Professor: Rodrigo Abreu
Período Pós- Operatório
1. Introdução.
O Período de recuperação pós-anestésica é considerado crítico, uma vez que o paciente passa
por um procedimento cirúrgico e recebe drogas anestésicas, exigindo vigilância constante da
equipe cirúrgica.
A maior incidência de complicações anestésicas ou pós-operatórias imediata acontecem neste
período, sendo que as mais frequentes são as respiratórias e circulatórias (AVELAR, 1991).
De acordo com POSSARI (2003) os recentes avanços da cirurgia e da anestesia, principalmente
com o advento da monitorização invasiva, passaram a necessitar uma área que ofereça meios
de recuperação anestésica cirúrgica e são visíveis as vantagens de uma Unidade de
Recuperação Pós-anestésica (URPA), pois além dos cuidados especiais aos pacientes existem
benefícios, tais como: reduções da mortalidade pós-anestésica e pós-operatória; facilidade
para o trabalho de rotina nas unidade de internações; sensação de maior segurança ao
paciente e também a seus familiares e redução de possíveis acidentes e complicações pós-
operatórias e pós-anestésicas.
2. Conceito:
É o período compreendido entre o momento em que o paciente sai do centro cirúrgico e o
retorno às suas atividades normais.
3. Classificação:
Imediato: compreende as 12 primeiras ou 24 horas após o término da cirurgia.
Mediato: inicia-se após as 24 primeiras horas e se desenvolve por um período variável
até o dia da alta hospitalar.
Tardio: sucede o anterior e se estende por 1 a 2 meses, até a completa cicatrização
das lesões ou a fase de ganho ponderal.
1. Funções da equipe de enfermagem:
Receber as informações de como transcorreu o ato anestésico-cirurgico do técnico ou
auxiliar de enfermagem edo onjunto com o anestesiologista;
• Fazer exame físico dos pacientes na admissão e na alta da recuperação anestésica;
• Elaborar o plano de cuidados, supervisionar sua execução e realizar os cuidados complexos
de Enfermagem com a utilização da Sistematização da Assistência Perioperatória de
Enfermagem, desde admissão até a alta do paciente na RA;
• Prestar o cuidado de Enfermagem ao paciente, conforme planejamento;
2. • Aplicar o índice de Aldrete e Kroulik, para a avaliar as condições do paciente ao longo de sua
permanência;
• Avaliar e registrar a evolução clínica do paciente em recuperação anestésica;
• Avaliar e registrar as condições clínicas de alta do paciente e encaminhar à unidade de
origem com segurança;
• Realizar e registrar a avaliação pós-operatória da assistência prestada;
• Participar de estudos e pesquisas como colaborador ou como pesquisador responsável;
• Identificar, quantitativa e qualitativamente, a necessidade de materiais e equipamentos,
observando e fazendo observar seus princípios de conservação;
• Informar ao coordenador as ocorrências relacionadas aos pacientes e ao pessoal auxiliar sob
sua responsabilidade;
• Colaborar com o enfermeiro-coordenador na elaboração de escalas de folgas e férias;
• Elaborar e supervisionar a confecção de escalas mensais, semanais e diárias de trabalho;
• Controlar os entorpecentes quanto ao uso nos pacientes da unidade e solicitação de
reposição;
• Participar da educação de pacientes e familiares;
• Informar e orientar os familiares sobre as condições clínicas dos pacientes sob sua
responsabilidade;
• Realizar a educação continuada e a capacitação do pessoal auxiliar;
• Ser responsável pelo dimensionamento do seu grupo de trabalho, conforme as necessidades
da unidade e o grau de dependência dos pacientes (crianças, idosos, etc);
• Prestar parecer técnico sobre equipamentos e materiais junto com o enfermeiro-
coordenador da unidade de Centro Cirúrgico.
Para avaliação das condições de alta é comum o uso do índice de Aldrete & Kroulik, sendo
que o escore para alta intra-hospitalar é de 8 a 10. Quando Aldrete e Kroulik(1970), inspirado
no índice de Apgar para RN, idealizaram um método de avaliação das condições fisiológicas
dos pacientes submetidos a um procedimento anestésico. Desde então é utilizado e ao longo
dos anos sofreu modificações que fortaleceu sua utilização. Os autores propuseram uma
avaliação nos sistemas cardiovascular, respiratório, nervoso central e muscular dos pacientes
submetidos à ação das drogas anestésicas por parâmetros clínicos de fácil verificação.
Respiração: contagem da freqüência e verificação da expansibilidade torácica por 1
minuto.
Pressão arterial: utilizar manguitos apropriados para cada idade, além de conhecer o
valor basal da PA de cada paciente.
3. Oxímetria de pulso: a hemoglobina oxigenada absorve menos luz a luz vermelha e
mais a infravermelha em comparação a hemoglobina não-oxigenada. A oxiemetria
está baseada na Lei de Lambert Beer que refere-se à transmissão da luz, por meio de
uma solução e função logarítmica da densidade ou da concentração das moléculas
absorvidas na solução. Atualmente os oxímetros medem à saturação de hemoglobina,
baseando-se na pulsação do sangue arterial.
Atividade muscular: avalia-se as condições do paciente na movimentação voluntário
no leito.
Nível de consciência: o ideal é chamar o paciente pelo nome, sem estímulo do toque.
Índice Aldrete & Krolik
Movimenta os quatro membros 2
Atividade muscular Movimenta dois membros 1
Incapaz de mover os membros voluntariamente ou sob comando 0
Capaz de respirar profundamente ou tossir livremente 2
Respiração Dispnéia ou limitação da respiração 1
Apnéia 0
PA 20% do nível pré-anestésico 2
Circulação PA 20 – 49% do nível anestésico 1
PA 50% do nível pré-anestésico 0
Lúcido e orientado no tempo e espaço 2
Consciência Desperta, se solicitado 1
Não responde 0
Capaz de manter saturação o de O2 maior que 92% respirando em ar
2
ambiente
Saturação de O2
Necessita de O2 para manter saturação maior que 90% 1
Saturação de O2 menor que 90% com suplementação de oxigênio 0
Obs.: A alta do paciente que está recuperação anestésica é privativa do anestesiologista
5. Complicações no Pós-operatório:
Alterações da temperatura:
4. Hipotermia: devido à depressão do Sistema Nervoso Central da droga anestésica.
Hipotermia: devido à agressão tissular provocada pela incisão cirúrgica.
Choque: é um quadro grave caracterizado pela oxigenação celular inadequada e pela
incapacidade do organismo em excretar os produtos do metabolismo. Pode ser:
Hipovolêmico: redução de volume líquido circulante.
Cardiogênico: resulta da insuficiência cardíaca ou interferência da função cardíaca.
Neurogênico: ocorre como conseqüência da insuficiência da resistência arterial.
Séptico: decorrente de infecções.
Sinais e sintomas:
Pulso taquicárdico e filiforme
Hipotensão arterial
Dispnéia
Cianose de extremidades
Palidez
Sudorese
Hipotermia
Agitação
Oligúria ou anúria
Complicações pulmonares:
Embolia pulmonar: ocorre devido á obstrução da artéria pulmonar ou de seus ramos
por êmbolos. Sinais e sintomas: dor aguda lancinante, dispnéia, ansiedade, cianose,
pupilas dilatadas, taquicardia, morte súbita.
Trombose venosa profunda:
Trombo (gr. Thrómbos) significa coágulo sangüíneo. Trombose é a formação ou
desenvolvimento de um trombo.
A trombose pode ocorrer em uma veia situada na superfície corporal, logo abaixo da pele.
Nessa localização é chamada de tromboflebite superficial ou simplesmente tromboflebite ou
flebite.
Quando o trombo se forma em veias profundas, no interior dos músculos, caracteriza a
trombose venosa profunda ou TVP.
Em qualquer localização, o trombo irá provocar uma inflamação na veia, podendo permanecer
restrito ao local inicial de formação ou se estender ao longo da mesma, provocando sua
obstrução parcial ou total.
Sinais e sintomas:Nas veias superficiais, ocorre aumento de temperatura e dor na área
afetada, além de vermelhidão e edema (inchaço). Pode-se palpar um endurecimento no
trajeto da veia sob a pele.
Nas veias profundas, o que mais chama a atenção é o edema e a dor, normalmente restritos a
uma só perna. O edema pode se localizar apenas na panturrilha e pé ou estar mais exuberante
na coxa, indicando que o trombo se localiza nas veias profundas dessa região ou mais acima da
virilha.
Profilaxia não farmacológica
Meias elásticas - As meias de compressão gradual, 18mmHg nos tornozelos, 14mmHg nas
panturrilhas, 8mmHg no joelho e 10mmHg na porção distal da coxa e 8mmHg na proximal
5. produz aumento de 36% na velocidade de fluxo da veia femoral. Quando a compressão é
uniforme de 11mmHg, este aumento é de apenas 10%. Entre os pacientes de baixo risco, reduz
a frequência de TVP em mais de 50% se comparado com aqueles sem profilaxia. Seu uso
precoce associado a deambulação e a movimentação dos membros inferiores é a primeira
medida profilática a ser adotada entre os pacientes hospitalizados.
Tabela I - Fatores predisponentes e risco TVP
Risco
Risco moderado Risco alto
baixo
Idade <40
Cirurgia geral Idade >40 anos Idade >40 anos
anos
duração <60min + fator de
Duração
Duração >60min risco adicional(TVP ou TEP
<60min
prévio, tumor extenso)
Artroplastia joelho ou
Cirurgia ortopédica - -
quadril
Lesões extensas partes
Trauma - - moles, fraturas osso longo
ou múltiplas, politrauma
IAM, ICC, DPOC, DM
Acidente vascular
descompensado, AVCI,
Condição clínica Gravidez cerebral, paralisia dos
puerpério, antecedente de
membros
TVP/TEP
% de evento
tromboembólico (sem 2 10-40 40-80
profilaxia) TVP distal
IAM- infarto agudo do miocárdio; ICC- insuficiência cardíaca congestiva; DPOC- doença
pulmonar obstrutiva crônica; DM- diabetes mellitus, AVCI- acidente vascular cerebral
isquêmico; * o risco está aumentado quando associado: idade maia elevada, obesidade,
repouso no leito prolongado, varizes, uso de estrógeno.
Compressão pneumática intermitente - A compressão do membro inferior pela insuflação
seqüencial de cuffs: 35, 30 e 20mmHg, respectivamente, no tornozelo, joelho e coxa
aumentam em 240% a velocidade de fluxo na veia femoral. Quando somente uma câmara é
utilizada, no tornozelo, com pressão de 35mmHg por 12s, este aumento é de 180%. O tempo
de clareamento do contraste da venografia é oito vezes menor quando comparado ao de
compressão seqüencial. Há evidências que esta modalidade de profilaxia aumente a atividade
fibrinolítica endógena.
6. Filtro de veia cava inferior - Indicado em situações especiais, por exemplo, naqueles com
contra-indicação para profilaxia farmacológica e com alto risco de TEP. O portador de fratura
ortopédica com fenômeno tromboembólico recente e necessidade de tratamento cirúrgico,
pode se beneficiar do mesmo. É medida eficaz na prevenção do TEP e não atua sobre a cascata
da coagulação. Migração do filtro, estase venosa crônica e TEP através de vasos colaterais, são
algumas das complicações. Filtro temporário (duração de até 14 dias) com sua retirada após
comprovação de ausência de trombo é outra opção profilática.
Profilaxia farmacológica
Heparina não fracionada (HNF) (liquemineR, heparinaR) - Descoberta em 1916, a heparina é
um polissacáride natural, extraído da mucosa intestinal de porco. Tem peso molecular (PM) de
3.000 a 30.000 daltons (PM médio de 15.000 daltons). Seu efeito anticoagulante baseia-se no
fato de interagir com a antitrombina III, promovendo alteração na sua conformação estrutural,
o qual acelera sua capacidade em inativar várias enzimas da cascata da coagulação: fator XIIa,
fator XIa, fator IXa, fator Xa e fator IIa (trombina) (fig. 3). Destes, a trombina e o fator Xa são os
mais sensíveis à inibição. Somente um terço da heparina infundida por via endovenosa liga-se
à antitrombina III (ATIII), promovendo seu efeito anticoagulante. O restante liga-se a ao fator
von Willebrand, células endoteliais, macrófagos. É clareada através de receptores situados no
endotélio e macrófagos, onde é internalizada e despolimerizada e, também, pelos rins. Na
profilaxia utilizam-se doses de 5.000 a 7.500UI de heparinato de cálcio ou de sódio cada 8 a
12h, via SC.
Heparina de baixo peso molecular (HBPM) (nadroparina - fraxiparineR; enoxaparina -
clexaneR) - É obtida através da despolimerização da heparina com produção de fragmentos de
PM entre 4.000 e 6.000 daltons. Tem maior capacidade em inibir o fator Xa e menor afinidade
por proteínas plasmáticas, vasculares, células endoteliais, macrófagos e plaquetas, conferindo
maior biodisponibilidade e meia-vida plasmática e redução dos efeitos colaterais relacionados
a plaquetopenia e risco de sangramento. Para os pacientes de risco moderado recomenda-se:
1) enoxaparina SC 20mg (2.000UI anti-Xa) 2h antes da cirurgia e mantido por sete a 10 dias (ou
enquanto persistir o risco) ou nadroparina 0,3ml SC (7.500UI anti-Xa), nos mesmos intervalos
de tempo. Para os de alto risco: enoxaparina 40mg SC 12h antes da cirurgia e mantido por sete
a 10 dias ou nadroparina 0,6mL SC, nos mesmos intervalos.