O documento discute três assuntos principais:
1) O bispo do Porto vai participar numa peregrinação ao santuário de Fátima em Wiltz.
2) Um jihadista que aparece em um vídeo ameaçando Portugal é identificado como sendo o luso-luxemburguês Steve Duarte.
3) Investigadores de todo o mundo vão discutir a imigração portuguesa no Luxemburgo.
2. 2 em foco 10 DE FEVEREIRO DE 2016 Contacto
Depois de Tânia Silva ter levado ao Parlamento petição que reclama mais apoios para doentes
Prevenção é resposta do Governo à petição
de portuguesa sobre doença de Lyme
O reforço da prevenção é a
primeira medida que a
ministra da Saúde vai levar
a cabo para combater a
doença de Lyme, transmi-
tida pela carraça. O anún-
cio de Lydia Mutsch foi
feito na quarta-feira du-
rante o debate público no
Parlamento sobre a petição
de Tânia Silva, que recla-
ma mais apoios para as
pessoas com esta doença.
Com quase oito mil assinatu-
ras, a luso-luxemburguesa
Tânia Silva, ela própria víti-
ma da doença de Lyme, conseguiu
ganhar a sua primeira batalha: levar
a petição à discussão no Parlamento.
Acompanhada pela referência eu-
ropeia na investigação da doença, o
professor francês Christian Perrone,
pelo biólogo luxemburguês Marc
Pauly e pela citogeneticista Aranzazu
de Perdigo, do Laboratório Nacional
de Saúde, Tânia Silva saiu-se bem
durante as duas horas de debate. Não
procurou confrontos e apresentou
propostas concretas, a começar pela
prevenção.
“Gostaria que fossem afixados pai-
néis informativos à entrada das flo-
restas para sensibilizar as pessoas,
que fossem distribuídas brochuras
nas escolas e também pinças pró-
prias para que as pessoas soubessem
como retirar as carraças”, propôs Tâ-
nia Silva.
A resposta da ministra da Saúde
não se fez esperar. “Sempre fizemos
sensibilização nas escolas. Há uma
brochura sobre a doença, mas va-
mos acentuar a sensibilização pú-
blica e reeditar essa brochura antes
da Primavera. Vou dar atenção a es-
ta petição e vamos também entrar em
contacto com a administração das
Águas e Florestas para pôr painéis in-
formativos dirigidos às pessoas que
passeiam na floresta”, disse Lydia
Mutsch ao CONTACTO, à saída do
debate.
A ministra lembrou ainda o ante-
projecto de lei que vai obrigar os mé-
dicos e laboratórios a declarar os ca-
sos diagnosticados da doença de Ly-
me.
Apesar de o regulamento grão-
ducal de 10 de Setembro de 2004, so-
bre as doenças infecciosas ou trans-
missíveis, obrigar os médicos a de-
clarar os novos casos de pessoas in-
fectadas, os casos diagnosticados
nem sempre chegam às autoridades
sanitárias.
Outra das medidas anunciadas
prende-se com um projecto de in-
vestigação, actualmente em curso na
Luxembourg Institute of Health, que
“deverá aperfeiçoar os testes de des-
pistagem com diagnósticos mais fiá-
veis, para evitar casos no Luxem-
burgo como o da Tânia Silva”, disse
ainda a ministra ao CONTACTO.
O teste de despistagem utilizado no
Luxemburgo, ELISA, não detecta mais
do que 20% a 40% dos casos da do-
ença. A solução para o diagnóstico
precoce de casos positivos poderá es-
tar em testes utilizados já na Alema-
nha, com uma fiabilidade de 90%.
Questionado sobre a eficácia des-
tas medidas, o especialista europeu
na doença de Lyme, Christian Per-
rone, disse que prefere “esperar para
ver”.
“Os governantes mostraram um
espírito aberto sobre esta questão de
saúde pública. Resta agora ver o que
vão fazer nos meses que se seguem”,
disse o investigador francês ao CON-
TACTO, lembrando que a fase cró-
nica da doença “não é ainda reco-
nhecida em muitos países”, entre eles
a França.
Ao final do debate, os ministérios
da Saúde e da Segurança Social
comprometeram-se a elaborar, no
espaço de um mês, um documento
que reúna todas as informações dis-
poníveis sobre a doença de Lyme no
Grão-Ducado.
A formação contínua dos médicos
sobre a doença, a tomada de acções
enquadradas na resolução europeia
da doença de Lyme e a promoção do
Serviço Nacional de Doenças Infecto-
contagiosas como centro de compe-
tência na matéria foram algumas das
propostas feitas pelas comissões par-
lamentares de Petição, Saúde e Se-
gurança Social.
REEMBOLSO DOS
TRATAMENTOS CONTINUA A
SER TRATADO ’COM PINÇAS’
Além da ministra da Saúde, o debate
público entre peticionários e depu-
tados contou ainda com a presença
do presidente da Câmara dos Depu-
tados e antigo ministro da Saúde,
Mars di Bartolomeo, e do ministro da
Segurança Social, Romain Schneider.
Sobre a questão das compartici-
pações do Estado aos tratamentos na
fase crónica da doença, o ministro
Romain Schneider disse que a do-
ença está incluída na convenção da
Caixa Nacional de Saúde (CNS) e que
as “avultadas despesas” serão anali-
sadas caso a caso.
“A doença de Lyme está na nossa
convenção e todas as prestações pre-
vistas são reembolsadas pela CNS.
Quando há tratamentos no exterior e
um montante superior ao previsto a
ser comparticipado, as pessoas po-
dem pedir um reembolso através de
um relatório fundamentado”, disse o
ministro. Para Tânia Silva, esta in-
formação “é conhecida por quem
trabalha na área”, enquanto um
“simples trabalhador dificilmente tem
acesso a essa informação” e aos re-
embolsos. A ideia é reforçada por um
médico generalista luxemburguês.
“A fase crónica da doença de Ly-
me custa caro. Se for reconhecida, a
CNS teria de desembolsar 16.600 eu-
ros por ano por cada paciente. Essas
pessoas são tratadas como tendo fi-
bromialgia, esclerose múltipla, reu-
matismo”, revelou o médico, sob
anonimato, numa entrevista publi-
cada a 30 de Outubro de 2015, no jor-
nal Luxemburger Wort.
O médico aponta ainda o dedo aos
colegas de profissão por não decla-
rarem os casos positivos à Direcção
de Saúde. “Continua a ser melhor não
dizer nada para se ter uma certa li-
berdade nas receitas médicas”.
A doença de Lyme é provocada por
uma bactéria transmitida pela pica-
da de uma carraça infectada. Os sin-
tomas mais comuns são o cansaço e
as dores corporais. Com o tempo, al-
guns doentes infectados podem pas-
sar para a fase crónica, com sinto-
mas duradouros que podem deixar
as pessoas debilitadas física e men-
talmente. n Henrique de Burgo
Tânia Silva fez-se acompanhar pelo investigador francês Christian Perrone (esq.), pelo bioquímico Marc Pauly e pela médica Aranzazu de Perdigo Foto: Chris Karaba
Deputada joga ao “Bubble”
durante apresentação da petição
A imagem, inesperada, não passou
despercebida durante o debate pú-
blico no Parlamento para quem es-
tava a assistir a partir da galeria.
A deputada do partido cristão-
social Martine Mergen passou gran-
de parte da apresentação da peti-
ção de Tânia Silva a jogar ao “Bub-
ble” (um jogo disponível no tele-
móvel).
O comportamento da deputada,
que é também médica, foi alvo de
críticas entre quem assistia à cena a
partir da galeria. A fotografia che-
gou depois à rede social Facebook,
onde as críticas se multiplicaram.
Mas Martine Mergen não se li-
mitou a jogar. Quando pediu a pa-
lavra, disse que “o Luxemburgo não
é uma selva” e que os médicos es-
tão “bem informados” sobre a fase
crónica da doença de Lyme.
Dirigindo-se depois a Tânia Silva,
disse não compreender porque é
que a jovem luso-luxemburguesa
“passou tanto tempo” a tentar sa-
ber como retirar uma carraça.
“Não, na escola nunca me ensi-
naram a tirar uma carraça”, res-
pondeu Tânia Silva à médica e de-
putada do CSV.
Além de Martine Mergen, outro
dos críticos acérrimos da petição foi
o deputado Edy Mertens, do parti-
do liberal DP, curiosamente tam-
bém médico.
“Qual é o objectivo desta peti-
ção?”, questionou Edy Mertens.
“Todos os meus camaradas estão
bem informados sobre esta doença.
Eu mesmo já tratei doentes com do-
ença de Lyme”, acrescentou o de-
putado e médico com mais de 30
anos de carreira.
Em resposta, Tânia Silva criticou
os médicos por não declararem os
casos de doença de Lyme, como a
lei exige. “Esses seus doentes esta-
rão [declarados] em algum lado?”,
ironizou a portuguesa.
Segundo a Direcção de Saúde, em
2015 não foi registado nenhum ca-
so de doença de Lyme no Luxem-
burgo. Em 2014, houve apenas qua-
tro casos declarados.
A deputada do CSV, que também é mé-
dica, passou grande parte do tempo
agarrada ao telemóvel Foto: Facebook
3. Contacto 10 DE FEVEREIRO DE 2016 em foco 3
Imigrante portuguesa
“Fui picada na primeira vez
que me convidaram a passear”
Ana Paula Dourado tirou o dia na
passada quarta-feira para estar pre-
sente no debate público no Parla-
mento. Era uma das cerca de 15 pes-
soas que estavam na galeria para
apoiar Tânia Silva.
Diagnosticada há dois anos com a
doença de Lyme, a imigrante portu-
guesa não quis perder o debate ao vi-
vo entre os peticionários e os depu-
tados. “Assim que soube que iria ha-
ver uma petição, achei que qualquer
coisa poderá avançar. Vamos ga-
nhar. Há muita gente a passar mal
com esta doença”, disse Ana Paula
Dourado ao CONTACTO, no final do
debate.
A imigrante portuguesa descobriu
que tinha a doença de Lyme há dois
anos, meses depois do primeiro pas-
seio com os colegas pela floresta.
“Fui convidada por colegas para
um passeio e fui picada nessa única
vez que fui passear. Fiquei com mui-
ta febre e com a tal mancha de que
tanto se fala. No dia seguinte à pi-
cada, vi a carraça na dobra da perna
e tirei-a com uma pinça. Não sus-
peitei de nada, porque na altura des-
conhecia a doença de Lyme e pensei
que era a febre da carraça, de que já
tinha ouvido falar em Portugal”, con-
ta a imigrante, residente há 15 anos
no Luxemburgo.
A febre passou e Ana Paula pen-
sou que estava bem. Mais tarde, con-
tou o episódio a um casal de amigos
enfermeiros. “Aí, disseram-me para
ir ao médico, porque já viram casos
muito complicados”. Mas Ana Paula
não foi logo ao médico, porque, para
ela, “estava tudo bem”.
“Se eu tivesse conhecimento dos
sintomas preocupantes, tinha ido
imediatamente ao Serviço Nacional
de Doenças Infecto-contagiosas ou
tinha exigido imediatamente um an-
tibiótico, porque na altura as bacté-
rias estavam lactentes e facilmente
podiam ser neutralizadas. Mas tanto
tempo depois já é difícil”, lamenta a
imigrante portuguesa.
Dias mais tarde, quando começou
a sentir um dos sintomas mais típi-
cos da doença de Lyme, o cansaço,
os amigos insistiram com Ana Paula
para ir ao médico. Teve duas con-
sultas no Luxemburgo, mas os “mé-
dicos não sabiam o que era”. As
manchas e a fadiga estavam a au-
mentar e Ana Paula decide ir a Por-
tugal, para mais duas consultas. “Is-
to não tem nada a ver com a carra-
ça”, disseram-lhe os médicos em
Portugal.
Dois meses depois da picada da
carraça, e de volta ao Grão-Ducado,
foi reencaminhada para o Serviço
Nacional de Doenças Infecto-
contagiosas do Centro Hospitalar do
Luxemburgo. “Aí disseram-me que
estava infectada. Deram-me uma
caixa de antibióticos e disseram-me
que podia continuar a trabalhar”.
Ana Paula pediu para ficar no hos-
pital. Tinha dores corporais e sentia-
se muito cansada. Mas a resposta foi
negativa. “Não pode ficar aqui. Faça
uma vida normal, trabalhe e vá to-
mando os antibióticos. Vai ficar bem”,
disseram-lhe no hospital.
Poucos meses depois, Ana Paula
teve uma gripe que a atirou para a ca-
ma durante cinco meses, sem se po-
der levantar. “Não tinha energia pa-
ra me levantar. Tinha também ton-
turas, os braços caíam-me e não con-
seguia comer bem”, recorda.
“Por milagre”, há dois anos des-
cobriu um médico luxemburguês es-
pecialista na doença, que a ajudou a
voltar ao trabalho. “Mandou uma
amostra do meu sangue para um la-
boratório na Alemanha e com o re-
sultado positivo começou a tratar-me.
Foi assim que voltei a trabalhar, mas
não as oito horas por dia”.
Ana Paula aprendeu a conviver
com a doença, mas não se resignou.
“Eu sou uma pessoa positiva e es-
pero que as coisas mudem. Entre-
tanto, desde que soube que tinha a
doença de Lyme, tenho vindo a in-
formar as pessoas no meu trabalho e
os amigos sobre esta doença”.
No trabalho, quando o corpo vai
abaixo, Ana Paula conta com a soli-
dariedade do patrão e dos colegas. O
médico do trabalho dá-lhe um mês a
tempo parcial para se poder recom-
por. E a vida continua.
n Henrique de Burgo
Ana Paula Dourado foi picada pela carraça durante um passeio na floresta. Sem res-
posta no Luxemburgo e em Portugal, só descobriu que tinha a doença de Lyme de-
pois de análises feitas na Alemanha Foto: Shutterstock
n Lyme, a cidade onde tudo co-
meçou
Lyme não é o nome do médico
que descobriu a doença, mas
uma cidade do Estado norte-
americano de Connecticut. Em
1975, duas mães com filhos que
sofriam de artrite reumatóide ju-
venil observaram que muitas ou-
tras crianças da cidade tinham os
mesmos sintomas. Alertaram os
epidemiologistas, que descobri-
ram que os casos de artrite reu-
matóide juvenil eram cem vezes
mais elevados em Lyme do que
no resto dos Estados Unidos. Os
profissionais de saúde constata-
ram que os novos casos eram
mais elevados no Verão, com
muitos doentes a serem picados
pela carraça. As suspeitas recaí-
ram numa doença infecciosa a
que deram o nome de “artrite de
Lyme”, mais tarde conhecida co-
mo doença de Lyme.
n Rastreio no Luxemburgo
Não há nenhum estudo que per-
mita saber que zonas da Europa
têm mais carraças infectadas ou
qual a incidência da Borreliose
de Lyme na população. O ras-
treio tem sido feito graças ao tra-
balho das associações. No Lu-
xemburgo, o levantamento está
a ser feito pela Associação Lu-
xemburguesa de Borreliose de
Lyme (ALBL), criada em Junho
de 2013 pela portuguesa Sofia
Araújo. No site www.albl.lu, os
interessados podem preencher
um questionário com o objecti-
vo de avaliar a extensão do fe-
nómeno no Grão-Ducado.
n 8% da população já teve con-
tacto com a doença
Segundo o Luxembourg Institute
of Health (antigo Centro de In-
vestigação Pública da Saúde),
16% das carraças estão infecta-
das com o agente da doença de
Lyme. Além disso, 38% dos tra-
balhadores florestais e 8% da po-
pulação já teve contacto com a
bactéria.
Como proteger-se da
picada da carraça
A carraça vive em bosques e vegeta-
ção baixa (ervas altas, fetos, arbus-
tos) à espera de um hospedeiro.
Grande parte dos casos de pesso-
as ou animais que são picados pela
carraça ocorrem nas florestas, mas
também pode acontecer em prada-
rias ou mesmo em espaços verdes em
zonas urbanas.
Os carrapatos, como são também
conhecidos, dão-se bem em ambi-
entes de calor e humidade, por isso
as infecções ocorrem principalmente
a partir de Maio até Outubro. O que
não significa que não ocorram du-
rante o resto do ano.
PARA SE PROTEGER:
n Cubra o corpo ao máximo, ponha
os pés das calças dentro das meias,
use calçado fechado e roupas leves e
claras para ser mais fácil visualizar a
carraça.
n Utilize o ’spray’ repelente (com
composto químico DEET ou com o
insecticida Permetrina) sobre as par-
tes não cobertas do corpo, quando
estiver em áreas de risco.
n Examine regularmente os seus ani-
mais domésticos e trate de eliminar
as carraças encontradas.
n Nas caminhadas, permaneça nos
trilhos.
n Ao regressar a casa, faça uma
inspecção minuciosa no corpo in-
teiro, especialmente em áreas sensí-
veis, como os olhos, atrás da orelha,
no couro cabeludo ou nas dobras
(interior dos joelhos, cotovelos, axi-
las).
COMO REAGIR SE
FOR PICADO
Antes de mais, convém lembrar que
nem todas as carraças são portado-
ras da infecção (segundo o Luxem-
bourg Institute of Health, apenas 16%
das carraças estão infectadas), por is-
so é perfeitamente possível ser mor-
dido sem contrair qualquer doença.
No entanto, logo que veja uma car-
raça sobre a pele, deverá retirá-la o
mais rapidamente possível, seguindo
este método:
n Segure a cabeça da carraça com
uma pinça ou um “tira-carraças”
(disponível nas farmácias).
n Puxe-a devagar, o mais próximo
possível da pele.
n Não torça a carraça quando puxar
com a pinça, para que não fique ne-
nhum fragmento na pele.
n Desinfecte a ferida com álcool e la-
ve também a pinça e as mãos com ál-
cool.
n Não use outros truques para for-
çar a carraça a soltar-se, como deitar
álcool, óleo ou encostar objectos
quentes. O stress provocado na car-
raça pode fazer com que ela liberte
substâncias e bactérias que podem
aumentar o risco de infecção.
n Consulte o seu médico em caso de
dificuldade, caso note um vermelhão
na área picada (frequentemente, a
vermelhidão – eritema migratório –
pode ser o primeiro sinal de doença
de Lyme) ou se começar a ter sinto-
mas semelhantes aos da gripe (febre,
fadiga, dores no corpo).
Sintomas da doença de Lyme
Enxaquecas
Perdas auditivas
e paralisia
da face
Dores
musculares
Eritema
migratório
Dores articulares
Febre
Fadiga
Fraqueza
Vector
Carraças
Complicações
cardíacas
Náuseas
e vómitos
Agente patogénico
Borrelia
4. A FRASE
“[A Comissão Eu-
ropeia estár a fa-
zer] uma inquali-
ficável operação de
pressão e de chan-
tagem [sobre o Go-
verno português],
com uma arro-
gância de recorte
colonial, [para
impedir o Governo
de] devolver aos
portugueses uma
parte do que lhes
foi roubado nos
últimos anos (...).
Acalme lá os seus
burocratas.”
O eurodeputado João Ferreira
(PCP) dirigindo-se ao presidente
da Comissão Europeia, Jean-
Claude Juncker, a 3 de Feverei-
ro, a propósito das pressões de
Bruxelas sobre o Orçamento de
Estado do Governo português. GRANDE PLANO
Carnaval de Torres Vedras transforma Governo em marioneta do PCP e do BE – O Carnaval de Torres Vedras voltou a retratar
este ano o país na tradicional sátira dos carros alegóricos, um dos quais transforma o Governo em marioneta do PCP e do BE. “Os políticos brincam connosco
o ano todo e nós nestes dias brincamos com eles”, ironiza Bruno Melo, um dos criativos que idealizou colocar o actual primeiro-ministro António Costa na pele
de uma marioneta manipulada pelas figuras de Jerónimo de Sousa (PCP) e por Catarina Martins (BE). No carro alegórico, António Costa dispara um canhão
do qual são ‘projectados’ Passos Coelho e Paulo Portas, primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro até Dezembro. Conhecido pela sátira político-social, o Car-
naval torreense trouxe também este ano a questão da crise dos refugiados, ao contrastar um luxuoso cruzeiro de um porco milionário com um bote sobrelotado
de migrantes retratados por figuras sem rosto, para ilustrar que poderiam ser quaisquer povos do mundo. Num outro carro, a chanceler alemã Angela Merkel
prepara-se para soltar os tubarões contra a acrópole dos deuses gregos, que se vêem desesperados a afundar, numa alusão às divergências entre o Governo
grego e a Comissão Europeia. Sócrates, Armando Vara, Duarte Lima e Ricardo Sagrado estiveram na pele dos irmãos Dalton, enquanto o Presidente da Repú-
blica, Cavaco Silva, é Lucky Luke, um “xerife mas pouco”, já que “vai dormindo enquanto os casos se passam nas suas barbas”. Foto: Lusa
EDITORIAL
A liturgia das cinzas
Jonas é uma das figuras bí-
blicas mais inesperadas.
Profeta que se recusa e se
disfarça em antiprofeta, di-
vidido entre o que Deus lhe
ordena e Israel lhe faz sen-
tir, sem terra, sem mar, sem
ninguém. É o drama de
quem sofre por falta de per-
tença.
Não se deu conta de que,
ao fugir de Nínive, fugia de
si mesmo. De onde per-
tencia, por vontade divina. Entrou no barco da
deserção e drogou-se de sono para não se re-
encontrar. Desertor de Deus, mergulhou no na-
da da inconsciência.
Entretanto, levantou-se uma grande tempes-
tade, com ventos arrasadores. “Os ventos são
mensageiros de Deus” (Sl 104, 4).
Assim o perceberam, atemorizados, os mari-
nheiros. Era um vento do mar grande, não da-
quele mar nosso. Acordado à força, Jonas reco-
nheceu a sua culpa, mas só foi lançado ao mar,
porque sobre ele recaiu o jogo da sorte. Um pei-
xe enorme o acolheu nas entranhas, três dias e
três noites, antes de o vomitar em terra. Foi o se-
gundo nascimento de Jonas, e nasceu profeta.
Nínive era uma grande metrópole, um impé-
rio soberbo e expansionista, uma ameaça para
Israel. Jonas andava perdido naquela missão iné-
dita a que o Altíssimo o destinara. Mas, renas-
cido, converteu-se para converter os outros, os
gentios. É o S. Paulo do Antigo Testamento. Uma
travessia de séculos, como é toda a grande lite-
ratura. S.Thomas More, na sua Utopia, William
Morris, em “News from nowhere”. “When mas-
tership has changed into fellowship”. O sonho
(ou a previsão) da fraternidade e do perdão. Uma
das peças mais populares em todo o mundo, nes-
tes 500 anos de Shakespeare, é um convite à re-
conciliação: “As you like it” (como for de seu gos-
to). E todos já estamos no palco: “All the world
is a stage”, homens e mulheres somos os acto-
res. Os pais da Europa assinaram um tratado de
reconciliação, um tratado-epitalâmio, celebran-
do as núpcias das velhas rivalidades do esface-
lado continente. Como acontece na lírica do te-
atro shakespeariano. Mas não tiveram discípu-
los à altura. Só eurocratas.
Três dias passou Jonas no ventre do cetáceo,
três dias leva Jonas a percorrer a grande cidade,
gritando: “Dentro de quarenta dias, Nínive será
arrasada”. Jonas não fala de Yavé, como no cul-
to judaico, mas de Deus, na linguagem univer-
sal.
Os ninivitas abandonaram os seus ídolos “va-
zios”, acreditaram em Deus, proclamaram um
jejum e vestiram-se de penitentes, com pano de
sacos, pequenos e grandes. Como lhes pregava
o estrangeiro. O próprio rei se levantou do tro-
no, tirou o manto, envergou um saco e sentou-
se no pó das cinzas. Quarenta dias, a distância
que deve percorrer o peregrino penitente.
O percurso profético de Jonas foi um êxito en-
tre os gentios. É o primeiro profeta de um Deus
cósmico e salvador universal. Uma irrupção
profética, o vulcão do futuro.
Quarenta dias, a distância que interpela o pe-
regrino penitente. “As you like it”.
Quarenta dias da Quaresma, para acordar do
vácuo torpor da Nínive do nosso tempo. Deus
não é demagogo, populista. É um Pai, pai-mãe,
como na parábola do filho pródigo.
A Europa criada pelos pais-fundadores é uma
Europa à medida do homem, económica e es-
piritual.
Do naufrágio do sonho, George Orwell re-
mendou um estandarte de hotel dourado, de
prisão ou de pocilga, onde “todos os animais
são iguais, mas alguns mais iguais do que os ou-
tros”.
Mas também temos um profeta, um Jonas das
periferias, que não constam das agendas dos sa-
cerdotes do templo do bezerro de oiro, o ídolo
da monstruosa Nínive moderna. As leis servem
para sustentar a tirania do sistema, que dá a
20% metade da riqueza planetária, e a 2% de
americanos metade da riqueza do novo mun-
do.
O Papa Jonas (ou Francisco!) já percorreu to-
das as periferias de Roma, das guerras africa-
nas, prepara-se para ir à China e está, quanto
possível, no coração do Médio Oriente bélico.
Hoje, quarta-feira de cinzas, dia de deixar que
os ventos de Deus nos libertem da Nínive que
nos empoeira o coração. E esse pó que nos cu-
bra a cabeça. Do pó ao pó, “ashes to ashes”. É
bom pensar.
BELMIRO NARINO
4 página quatro 10 DE FEVEREIRO DE 2016 Contacto
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Autoridades portuguesas dizem que jihadista
que aparece em vídeo é luso-luxemburguês
O jihadista que aparece num re-
cente vídeo do Estado Islâmico a
ameaçar Portugal é o luso-
luxemburguês Steve Stuarte, se-
gundo o jornal Expresso. Os ser-
viços de segurança portugueses te-
rão já confirmado a identidade do
luso-descendente, segundo o Cor-
reio da Manhã. As autoridades lu-
xemburguesas estão também a in-
vestigar o caso, mas dizem que não
podem confirmar se se trata do
português com residência no Grão-
Ducado.
O vídeo publicado no final de
Janeiro na internet dura 8 minutos
e põe em cena cinco jihadistas en-
capuzados. Um, que parece enca-
beçar o grupo, exprime-se em
francês e faz ameaças contra “os
infiéis” em Portugal, Espanha e
França, e menciona os atentados
de 13 de Novembro de 2015, em
Paris. Depois, cada um executa
com um tiro na cabeça os prisio-
neiros com roupas de cor laranja,
os quais apresentaram como “es-
piões”.
Segundo os serviços de segu-
rança portugueses, o jihadista que
fala em francês é Steve Duarte, fi-
lho de pais portugueses que resi-
dem em Meispelt, na comuna de
Kehlen.
As autoridades luxemburguesas
deram conta do conhecimento da
existência do vídeo e confirmam
que estão a investigar o caso mas,
para já, preferem não associar Ste-
ve Duarte ao jihadista.
“Não podemos agir porque não
temos a confirmação de que seja o
Steve Duarte. Há uma investiga-
ção e ela vai seguir o seu curso”,
disse ao CONTACTO o porta-voz
da Procuradoria do Luxemburgo,
Henri Eippers, excusando-se a
confirmar se as autoridades lu-
xemburguesas estão em contacto
com os serviços de segurança por-
tugueses.
Segundo as autoridades luxem-
burguesas, em Novembro de 2014
havia seis jihadistas do Luxem-
burgo na Síria.
Steve Duarte, hoje com 27
anos, deixou o Grão-Ducado em
2014 para se juntar ao grupo ter-
rorista Estado Islâmico (EI), na
Síria, segundo os serviços de se-
gurança luxemburgueses. Steve
Duarte integra a célula de propa-
ganda do Estado Islâmico, conhe-
cida por Al-Furqan, ainda segun-
do as autoridades luxemburgue-
sas.
O jovem português originário de
Meispelt, na comuna de Kehlen, a
20 km da capital luxemburguesa,
adoptou o nome de guerra Abu
Muhadjir Al Purtughali. Noutros
vídeos é referido como Abu
Muhadjir Al Andalousi.
O português, que se terá con-
vertido ao Islão em 2010, frequen-
tava uma mesquita em Esch-sur-
Alzette, na rue du Brill, conhecida
como o ponto de encontro dos
muçulmanos radicais no Grão-
Ducado.
A mesquita de Esch-sur-Alzette
frequentada pelo luso-
descendente é a mesma onde o
’jihadista’ belga de origem espa-
nhola Davide de Angelis, detido
pelas autoridades luxemburguesas
em Julho, recrutaria membros pa-
ra combater na Síria.
Steve Duarte era conhecido no Luxemburgo como o rapper “Pollo”O vídeo do Estado Islâmico foi publicado na internet no final de Janeiro
Ministro da Economia quer atrair empresas e investidores
Grão-Ducado lança-se na corrida
ao ouro e minérios do espaço
O Luxemburgo quer atrair empre-
sas e investidores para explorar os
recursos naturais no espaço, in-
cluindo minérios em asteróides,
como o ouro ou a platina. O anún-
cio foi feito na quarta-feira pelo mi-
nistro da Economia luxemburguês,
Etienne Schneider, que sublinhou
que o Grão-Ducado é o primeiro
país europeu a criar um “quadro re-
gulamentar e jurídico” favorável às
empresas que queiram explorar co-
mercialmente o espaço.
A iniciativa surge dois meses após
a promulgação pelo presidente
americano Barack Obama do “Spa-
ce Act”, uma lei que autoriza a ex-
ploração comercial das riquezas
encontradas nos asteróides e na
Lua. O “Space Act” estabelece que
todos os recursos encontrados por
um cidadão ou empresa norte-
americana no satélite natural da
Terra ou em corpos celestes pas-
sarão a pertencer a quem os des-
cobriu.
“O Luxemburgo também quer ter
um quadro regulamentar e jurídico
para preparar a exploração do es-
paço”, disse à AFP o ex-director da
Agência Espacial Europeia (ESA),
Jean-Jacques Dordain, conselheiro
do Governo luxemburguês nesta
matéria.
As empresas privadas que deci-
dam instalar-se no país para ex-
plorarem este sector terão assegu-
rados os “seus direitos” aos recur-
sos extraídos dos asteróides, como
por exemplo minerais raros, expli-
cou o ministro.
O Governo luxemburguês tam-
bém vai investir na exploração co-
mercial do espaço, financiando
projectos de investigação e desen-
volvimento nesta área ou investin-
do em empresas, através de parti-
cipações directas no capital. O or-
çamento para esta iniciativa, bap-
tizada que já tem um site, o portal
spaceresources.lu, ainda não foi de-
terminado.
“O nosso objectivo é permitir
aceder a recursos valiosos que não
estão ainda a ser explorados, situ-
ados em rochedos sem vida no es-
paço, sem prejudicar os habitats
naturais”, assegurou Etienne Sch-
neider.
Questionado sobre a razão para
não desenvolver esta iniciativa no
âmbito da Agência Espacial Euro-
peia (ESA), uma organização de que
o Luxemburgo e 22 Estados-
membros fazem parte, o ministro
disse que “o ritmo de trabalho da
ESA não é o [s]eu”.
Na Agência, “todos os projectos
de investimento levam anos de dis-
cussão e depois discute-se durante
anos onde é que os investimentos
vão ser feitos e quais serão as con-
sequências para cada Estado-
membro”, justificou.
“Além disso, eu sou ministro da
Economia do Luxemburgo, e
interessa-me atrair a actividade
económica ao Luxemburgo e não à
União Europeia em geral”, reco-
nheceu.
Segundo o ministro, a empresa
norte-americana Planetary Resour-
ces, que desenvolve técnicas para
extrair minérios de asteróides, diz
estar “ansiosa” para trabalhar com
o Luxemburgo. A empresa ameri-
cana Deep Space Industries, que
anunciou que vai começar a ex-
plorar minérios em asteróides já a
partir deste ano, já se mostrou
igualmente interessada, disse Sch-
neider.
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6. 6 luxemburgo actualidade 10 DE FEVEREIRO DE 2016 Contacto
Visita ao Luxemburgo de 12 a 14 de Fevereiro
Autarca da Figueira reúne
com ministro do Trabalho
O presidente da Câmara Municipal
da Figueira da Foz, João Ataíde, vai
estar no Luxemburgo entre sexta-
feira e domingo.
A visita tem como objectivo o
“contacto com a comunidade por-
tuguesa e figueirense” residente no
Grão-Ducado e o reforço das rela-
ções com as autoridades luxembur-
guesas. A agenda da visita ainda não
foi divulgada, mas o CONTACTO
soube através do chefe de gabinete
do autarca figueirense que João Ataí-
de vai ser recebido pelo ministro do
Trabalho, Nicolas Schmit.
Além de presidente da Câmara
Municipal da Figueira da Foz, João
Ataíde preside também a Comuni-
dade Intermunicipal da Região de
Coimbra, que congrega todos os mu-
nicípios do distrito e ainda a Mea-
lhada e Mortágua.
José Maria Neves chega ao Luxemburgo no domingo
Chefe de Governo de Cabo Verde
vai ser recebido por Xavier Bettel
O primeiro-ministro de Cabo Ver-
de, José Maria Neves, chega ao Lu-
xemburgo no domingo, para uma
visita de trabalho de três dias.
O governante cabo-verdiano vai
ser recebido pelo seu homólogo lu-
xemburguês Xavier Bettel, pelo pre-
sidente da Câmara dos Deputados,
Mars Di Bartolomeo, e pelo minis-
tro da Cooperação, Romain Sch-
neider. José Maria Neves tem tam-
bém um encontro marcado com a
comunidade cabo-verdiana no do-
mingo à tarde, na capital.
As relações económicas entre os
dois países vão dominar os vários
encontros, com destaque para o
lançamento do projecto de consti-
tuição do fundo “Afro-Verde I”.
“No Luxemburgo terei encontros
com diferentes autoridades e terei
como objectivo lançar o Fundo de
Investimentos Afro-Verde I, no dia
15 [na Câmara de Comércio do Lu-
xemburgo, em Kirchberg], que é
uma parceria entre o Governo e o
sector privado para garantirmos o
acesso ao financiamento a um con-
junto de projectos importantíssi-
mos na região norte do país, parti-
cularmente Santo Antão, São Vi-
cente e São Nicolau”, disse o go-
vernante.
José Maria Neves vai encontrar-
se ainda com a comunidade cabo-
verdiana no domingo, às 16h, no
Centre Sociétaire (rue de Stras-
bourg, n° 29), na cidade do Lu-
xemburgo.
Esta deverá ser a última viagem
de José Maria Neves ao Luxem-
burgo enquanto primeiro-ministro.
Durante os três mandatos conse-
cutivos, o governante cabo-verdiano
esteve cinco vezes no Grão-Ducado:
em Abril de 2012 e de 2010, em No-
vembro de 2005 e de 2003 e em Maio
de 2001.
Depois do Grão-Ducado, José
Maria Neves segue a viagem de tra-
balho rumo a França e Portugal.
José Maria Neves recebeu Xavier Bettel e Romain Schneider em Cabo Verde, em
Março de 2014. Agora é a vez de Bettel e Schneider receberem Neves Foto: Inforpress
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7. Contacto 10 DE FEVEREIRO DE 2016 luxemburgo actualidade 7
Videoclipes no Youtube
Polícia investiga vídeos de rappers
de Esch com jovens armados
A Procuradoria do Luxemburgo
abriu um inquérito sobre vários ví-
deoclipes de rap postados no You-
tube nos quais se vê jovens na pos-
se de armas, e a consumirem dro-
gas e álcool.
Num dos vídeos, gravado perto
da Escola do Brill, em Esch-sur-
Alzette, vê-se um jovem a disparar
uma pistola. A julgar pelo tiro e pe-
la munição a saltar da culatra, po-
de ter sido utilizada uma bala real.
O caso é avançado pelo Luxem-
burger Wort, na sua edição de terça-
feira, que fala noutros clips seme-
lhantes postados naquele canal de
partilha de vídeos. Num deles, vê-
se um menor, com cerca de 12 anos
e que veste um fato de treino do
Sporting, a manejar uma carabina.
Noutros vídeos há jovens munidos
de revólveres, espingardas de pres-
são de ar, mas também armas que
parecem automáticas. Há imagens
com os protagonistas a beber ál-
cool, a fumar cannabis e haxixe, e a
dizerem “Passa aí a passa!”, em
português. Os jovens filmaram
imagens nas quais são revistados
por agentes da Polícia Grã-Ducal,
que depois insultam em luxem-
burguês, francês e português, como
num vídeo no qual se reconhece a
esquina da rue Nelson Mandela com
a rue Zénon Bernard, em Esch. Há
jovens com a cara tapada com gor-
ros e capacetes, mas outros têm o
rosto à vista.
Os vídeoclipes foram publicados
no Youtube entre Setembro e De-
zembro do ano passado e são da
autoria de bandas de hip-hop que
respondem pelos nomes de ALQ,
Madrugz, Sampas, Puto 711 e
B.D.B., com elementos de origem
luxemburguesa, portuguesa e cabo-
verdiana.
Segundo disse ao Wort fonte da
Polícia, alguns dos participantes
nestes vídeos são conhecidos das
autoridades, uns foram inclusive
condenados por actos de violência
e, segundo o jornal, um deles es-
teve envolvido na rixa da semana
passada na avenue de la Gare, na
capital, em que um jovem esfa-
queou três outros.
Ao CONTACTO, a porta-voz da
Polícia disse apenas que a Polícia
de Esch enviou um relatório para a
Procuradoria, que abriu um inqué-
rito sobre este caso. Mas a porta-voz
não confirmou que jovens que apa-
recem já tivessem sido identifica-
dos pela Polícia.
Num dos vídeos vê-se um menor, com um fato de treino do Sporting, com uma ar-
ma na mão Fonte: Youtube
Polaco fazia contrabando
de armas no Luxemburgo
Um polaco foi apanhado pela po-
lícia alemã com 50 armas semi-
automáticas na bagageira do carro,
quando tinha acabado de deixar o
Luxemburgo. As armas foram com-
pradas no Grão-Ducado.
O caso remonta a Janeiro, mas
só foi divulgado na sexta-feira pe-
las autoridades alfandegárias da ci-
dade alemã de Koblenz.
A fiscalização alfandegária teve
lugar em Trier, perto da fronteira
luxemburguesa. Segundo as auto-
ridades alemãs, um segundo indi-
víduo também seguia na viatura,
com destino à Polónia.
Questionados sobre onde ti-
nham comprado as 50 armas semi-
automáticas, os homens disseram
que foi num vendedor no Luxem-
burgo.
Os dois indivíduos terão de
responder pela posse ilegal de ar-
mas.
No aeroporto
Câmara descoberta em casa
de banho das mulheres
Uma mulher descobriu que estava
a ser filmada quando estava numa
casa de banho no aeroporto do Fin-
del. A câmara estava fixada ao lado
de um vestiário não acessível aos
passageiros do aeroporto.
A polícia esteve no local no
sábado e retirou a câmara, com
um mandado do Ministério Públi-
co. A câmara e os registos de ima-
gem foram confiscados pelo tribu-
nal.
Framboesas congeladas
contaminadas com norovírus
A Segurança Alimentar do Luxem-
burgo lançou um aviso alertando
para a presença de norovírus em
framboesas congeladas distribuídas
no Grão-Ducado pelo grupo Picard.
O alerta foi recebido no Luxembur-
go através do sistema de alerta rá-
pido da Comissão Europeia.
O nome do produto em francês é
“Framboises brisées surgelées”, da
marca Picard, com origem no Chile,
vendidas em embalagens de um
quilo, e a referência do lote conta-
minado é 28/01/2015, com data de
validade até 01/2017.
O norovírus é a principal causa
de gastroenterite. Os sintomas
são vómitos e diarreia. O produto foi
retirado dos locais de venda
no Luxemburgo, mas uma parte
dos stocks já tinha sido vendida.
A Segurança Alimentar do Lu-
xemburgo recomenda que o pro-
duto não seja consumido.
Schifflange: Fábrica da Arcelor
vai dar lugar a urbanização
O terreno onde se situa a fábrica da
ArcelorMittal em Schifflange e a zo-
na envolvente vão dar lugar a uma
nova urbanização. A reconversão do
terreno vai ser gerida pela agência
Agora, que fez o mesmo trabalho
nos terrenos da Arcelor em Belval.
O “estudo de viabilidade para a
reconversão do terreno localizado
em Esch/Alzette e Schifflange” é a
sentença de morte da fábrica, que
está praticamente sem produção
desde 2011, mantendo até agora
apenas 15 funcionários responsá-
veis pela manutenção e segurança
do local. “Em Esch e Schifflange,
queremos repetir o sucesso da re-
conversão de Belval” refere o mi-
nistro das Infra-estruturas, Fran-
çois Bausch. Os 62 hectares de ter-
reno, que incluem as instalações da
fábrica, lotes da galeria de arte
“Schlassgoart”, da Arcelor, e parte
dos caminhos-de-ferro cedidos pe-
lo Governo, vão ser reavaliados pe-
la Agora, a agência especializada em
reconversão industrial.
Fundada pelo Governo e pela Ar-
celor, a agência vai “analisar a via-
bilidade técnica e económica do
projecto: habitações, comércio, es-
critórios, infra-estruturas colecti-
vas”, segundo o comunicado. O es-
tudo, que começou no início do ano,
será apresentado em 2018 ou 2019.
A descontaminação do local vai
ficar a cargo do Governo.
O encerramento da fábrica em
Schifflange afectou 750 trabalha-
dores, que graças ao acordo entre
sindicatos, Governo e assalariados,
foram entretanto recolocados em
outras fábricas da Arcelor, foram-
trabalhar para outras empresas ou
obtiveram a reforma antecipada.
Em reacção ao anúncio do fim
da unidade de Schifflange, o sindi-
cato LCGB saúda as negociações em
torno da reconversão do local, mas
lamenta as “más decisões nos in-
vestimentos” que empurraram
aquela fábrica para o precipício. O
sindicato social-cristão desafia ain-
da a administração da Arcelor a “ti-
rar lições para evitar o desmante-
lamento de outras fábricas”. A
mensagem aplica-se sobretudo à
unidade fabril de Rodange, que se
vê a braços com dificuldades para
retomar as actividades.
Sanem vai ter rotunda “turbo”
A saída Gadderscheier na A13, jun-
to a Sanem, vai transformar-se em
rotunda-turbo, e deverá estar pron-
ta em meados de Julho. A notícia é
avançada pelo Luxemburger Wort,
que falou com Frédéric de Oliveira,
engenheiro no departamento das
novas obras públicas. Neste novo
tipo de cruzamento giratórios – a
primeira a ser inaugurada em Ou-
tubro foi a rotunda Serra, em Kir-
chberg – o automobilista antes de
entrar na rotunda escolhe uma fai-
xa de rodagem segundo a direcção
que vai seguir. Ao circular nessa
pista, o condutor não tem de mu-
dar de faixa dentro da rotunda até
à saída pretendida. Mudar de faixa
dentro deste tipo de rotunda é, aliás,
proibido.
Este tipo de rotunda costuma ser
mais amplo e ter mais de duas fai-
xas e semáforos. O conceito, im-
portado da Holanda, permite fazer
fluir de forma mais rápida e segura
o tráfego nas rotundas, segundo os
conceptores.
Outras rotundas-turbos estão já
em projecto, por exemplo na ro-
tunda Irrgarten, junto à A1, na saí-
da para Sandweiler.
Obras no bairro da gare de
Ettelbruck começam em Junho
Depois de anos de planeamento e
discussão, as obras de transforma-
ção no bairro da gare de Ettelbruck
vão começar em Junho.
O principal objectivo é reduzir o
tráfego no centro de Ettelbruck e
tornar os transportes públicos mais
atractivos, anunciaram os respon-
sáveis do empreendimento, duran-
te a apresentação pública do pro-
jecto, na segunda-feira. A qualida-
de de vida no bairro deve ser sig-
nificativamente melhorada.
O projecto inclui a construção de
uma nova estação de comboios, um
parque de estacionamento com 450
lugares, uma nova estação de au-
tocarros, uma pousada da juven-
tude, uma ponte junto ao memo-
rial Patton e um túnel de 350 me-
tros de comprimento, que vai pas-
sar por baixo da estação dos com-
boios. Parte da rue Prince Henri vai
passar a ser zona pedonal. A ave-
nue Kennedy vai ser reconstruída e
vai ter menos tráfego, e a regulação
da circulação naquela zona vai ser
completamente revista.
Durante a apresentação do pro-
jecto, a maioria da assistência
mostrou-se satisfeita com o plano
das obras. Quem não está contente
são os comerciantes, que mostra-
ram o seu descontentamento em
relação às zonas reservadas para
cargas e descargas, os lugares de es-
tacionamento e a possibilidade de
aceder às garagens durante as obras,
orçadas em 156 milhões de euros.
8. 8 luxemburgo actualidade 10 DE FEVEREIRO DE 2016 Contacto
10 mortes por dia
Doenças cardiovasculares
são a principal causa
de morte no Luxemburgo
Em 2014, a Direcção de Saúde re-
gistou 3.802 mortes no Luxembur-
go. Em média morreram 10 pesso-
as por dia, 73 por semana e 317 por
mês. Um terço das mortes estão li-
gadas às doenças cardiovasculares.
Apesar de a taxa de mortalidade
causada por doenças que afectam
os vasos sanguíneos e o coração ter
regredido de 39% para 31% nos úl-
timos dez anos, estas continuam a
ser a principal causa de morte no
Grão-Ducado.
De acordo com o comunicado
divulgado na quarta-feira pela Di-
recção de Saúde, 1.189 pessoas
morreram em 2014 devido a doen-
ças cardiovasculares, perfazendo
cerca de um terço das 3.802 mor-
tes.
A segunda causa de morte no Lu-
xemburgo é o cancro, represen-
tando 30,4% dos óbitos (1.164 pes-
soas). Em 2014, 673 homens (57,8%)
e 491 mulheres (42,%) morreram
com esta doença.
Contrariamente às doenças car-
diovasculares, a taxa de mortalida-
de ligada ao cancro aumentou nos
últimos dez anos, de 26% para 30%.
As doenças do sistema respira-
tório são responsáveis por 7% dos
óbitos (265 pessoas), representan-
do a terceira causa de morte.
As mortes causadas por razões
externas (suicídio, acidentes de vi-
ação, quedas, entre outras) repre-
sentam 6,9% do total (261 óbitos),
sendo a principal causa de morta-
lidade entre pessoas até aos 50 anos,
sobretudo nos homens, refere a Di-
recção da Saúde.
No total, 85 mortes foram
atribuídas a suicídio ou a
incidentes cuja intenção não foi
determinada (66 homens e 19
mulheres).
As quedas provocaram 55 mor-
tes e os acidentes de viação 38.
Os dados constam do relatório
“Estatísticas das causas dos óbitos
no ano de 2014”, publicado pela Di-
recção da Saúde em Janeiro deste
ano.
Cancro atinge 30%
da população
No Luxemburgo, o cancro é a pri-
meira causa de mortalidade nos
homens e a segunda nas mulhe-
res, com 33,9% e 27,1% de inci-
dência, respectivamente.
Em 2014, o cancro foi respon-
sável por 30% de todas as mortes
registadas no país. Nesse ano
morreram 1.164 pessoas por cau-
sa da doença.
Os casos mais comuns de can-
cro entre os homens foram o do
estômago, pulmões e órgãos ge-
nitais. Nas mulheres, prevalecem
o cancro do estômago, pulmão e
o cancro da mama.
Novo alerta do Ministério da Saúde luxemburguês
Vírus Zika pode ser transmitido
por via sexual
Com a recente confirmação de que
o vírus Zika, que pode provocar mi-
crocefalia nos fetos, se transmite se-
xualmente, o Ministério da Saúde do
Luxemburgo recomenda abstinên-
cia sexual ou protecção das mulhe-
res grávidas que viajem para zonas
de transmissão do vírus.
Os Estados Unidos confirmaram
que o vírus Zika se transmite sexu-
almente, aumentando o temor de
uma propagação rápida da doença,
suspeita de causar malformações no
cérebro de fetos.
Por causa da epidemia do vírus
Zika, o Ministério da Saúde reco-
menda “a todos os homens em via-
gem para zonas de transmissão do
vírus Zika e que tenham uma par-
ceira grávida que se abstenham de
todo o tipo de actividade sexual com
a parceira, ou utilizem de forma sis-
temática e correcta o preservativo
durante a relação sexual, até ao fim
da gravidez”, refere a Direcção de
Saúde em comunicado.
“O Ministério da Saúde reitera a
sua recomendação a mulheres grá-
vidas de não viajar para os países
em causa”, lê-se ainda no docu-
mento.
Até agora, foram detectados ca-
sos de infecção com vírus Zika na
América Latina, África e Ásia.
Os ministros da Saúde do Mer-
cosul, mercado comum do conti-
nente sul-americano, o mais afec-
tado pelo vírus, vão reunir-se esta
quarta-feira para avaliar a situação
epidemiológica da doença transmi-
tida pelo mosquito Aedes aegypti.
A Organização Mundial de Saúde
(OMS) considerou na segunda-feira
a epidemia como uma “emergência
de saúde pública de alcance glo-
bal”.
Na Europa e na América do Nor-
te, dezenas de casos foram relata-
dos, mas as temperaturas frias que
actualmente se registam impedem a
sobrevivência do mosquito.
O Brasil, país mais atingido pela
epidemia, com 1,5 milhões de ca-
sos, segundo a OMS, desaconselhou
as mulheres grávidas a viajarem pa-
ra aquele país.
A Organização Mundial de Saúde
(OMS) alertou que a epidemia do ví-
rus Zika poderá afectar entre três a
quatro milhões de pessoas no con-
tinente americano. O Brasil e a
Colômbia são os países onde se re-
gistam mais casos de pessoas in-
fectadas.
O vírus Zika é transmitido aos se-
res humanos pela picada de mos-
quitos infectados e está associado a
complicações neurológicas e mal-
formações em fetos.
Jactos privados vão
ligar Findel à Índia
A companhia aérea privada luxem-
burguesa Luxaviation vai começar
a voar para a Índia. Os clientes-alvo
desta empresa de jactos privados
continuam a ser os homens de ne-
gócios.
A notícia foi avançada pela em-
presa, que gere uma frota de 250
jactos privados, conta com 1.600
trabalhadores e já voa para 34 des-
tinos.
Agora, a Luxaviation vai ligar o
Findel ao aeroporto Indira Gandhi,
em Nova Delhi.
Grão-Ducado ainda
é “paraíso” europeu para
fundos de investimento
O Luxemburgo continua a ser uma
referência no mercado financeiro
europeu no que toca a fundos de
investimento. Os investidores
norte-americanos e britânicos são
os que têm mais activos no Grão-
Ducado, refere a Associação Lu-
xemburguesa de Indústria de Fun-
dos (ALFI, no acrónimo em in-
glês).
No final de 2015, os fundos de
investimento domiciliados no Lu-
xemburgo totalizaram 3.506,2 mil
milhões de euros em activos sob
gestão, um valor que supera lar-
gamente qualquer registo alcan-
çado pelos vizinhos europeus.
O Luxemburgo representa
42.43% de todas as vendas líquidas
do sector na Europa, e o volume
de negócios cresceu mesmo 13,29%
no final do ano passado, de acor-
do com a ALFI.
O número de fundos de inves-
timento registados no Grão-
Ducado era de 3.878 em 2015, sem
grandes alterações em relação a
2014. Em média, há um fundo de
investimento por cada 145 resi-
dentes no país. Os gestores de ac-
tivos internacionais com mais do-
miciliações no Luxemburgo são os
norte-americanos e os britânicos:
respectivamente, 759,8 mil mi-
lhões e 581,5 mil milhões de euros
em activos sob gestão, indica a AL-
FI.
Segundo o presidente da ALFI,
Denise Voss, “os fundos de inves-
timento do Luxemburgo continu-
am a ser a escolha preferida dos in-
vestidores internacionais”.
Exemplo disso são os investi-
dores de 69 nacionalidades que no
último ano voltaram a apostar no
Grão-Ducado para comercializar os
seus produtos à escala global, ape-
sar da nova legislação comunitária
introduzida durante esse período.
Depois dos norte-americanos e
britânicos, foram os chineses quem
mais investiu no último ano nestes
fundos no Luxemburgo, com
os maiores bancos do gigante
asiático a escolherem o Grão-
Ducado como “domicílio” para os
seus fundos de investimento na
Europa.
Economia luxemburguesa
pode crescer entre 4 e 5%
A Comissão Europeia reviu na
quinta-feira em alta as previsões de
crescimento do país até 2017. Se-
gundo o executivo europeu, o PIB
do Grão-Ducado pode crescer en-
tre 4 e 5% até 2017.
Em Novembro, Bruxelas estima-
va a taxa de crescimento da eco-
nomia do Luxemburgo em 3,1% pa-
ra 2015, 3,2% para 2016 e 3% para
2017.
Três meses depois, mais opti-
mista, o executivo europeu calcula
agora que o PIB luxemburguês po-
de aumentar 4,7%, 3,8% e 4,4% en-
tre 2015 e 2017.
Estas previsões colocam o Grão-
Ducado em terceiro lugar na lista
dos países cuja economia mais vai
crescer na UE nos próximos dois
anos, depois da Irlanda (6,9%) e de
Malta (4,9%). A média na zona eu-
ro fica-se pelos 1,6% e no conjunto
da União a média é de 1,9%.
Para Bruxelas, o dinamismo da
economia grã-ducal deve-se sobre-
tudo ao aumento das exportações
em 2015, do consumo interno, que
deverá continuar a crescer, das
condições financeiras favoráveis e
das perspectivas positivas no mer-
cado do trabalho.
Segundo a Comissão Europeia, o
regresso da indexação automática
dos salários (“index”), no segundo
semestre deste ano, também vai ser
positivo para o consumo interno e
a economia.
O bom momento que está a vi-
ver o sector da construção, graças a
uma forte procura tanto do Estado
como dos privados, também é re-
ferido como um vector de cresci-
mento “robusto”.
Em 2017, o consumo interno de-
verá crescer tanto como as expor-
tações, prevê a Comissão.
Quanto aos bancos, fundos de
investimento e serviços da praça fi-
nanceira luxemburguesa, só deve-
rão crescer se, apesar das turbu-
lências dos mercados, se adapta-
rem às regulamentações internaci-
onais em matéria de fiscalidade,
adverte Bruxelas.
9. Contacto 10 DE FEVEREIRO DE 2016 praça pública 9
O desejável
e o possível
Há orçamentos me-
lhores que outros, ou
há apenas orçamentos
possíveis? Esta parece
ser a grande questão,
quando António Costa
apresenta o seu pri-
meiro Orçamento de
Estado. Mas a resposta
é muito mais comple-
xa que a pergunta.
A direita e os co-
mentadores que lhe
são afectos dizem, re-
petidamente, que o orçamento do gover-
no do PS não é coerente. Têm alguma ra-
zão, sobretudo
quando o comparam
com os orçamentos
apresentados pelo
governo de Passos
Coelho.
Estes sim, eram
muito mais coeren-
tes e marcados ide-
ologicamente. Apos-
tavam no empobre-
cimento, na proleta-
rização das classes
médias, na falência
das micro, pequenas
e médias empresas,
na criação de gran-
des bolsas de de-
semprego, para em-
baratecer a mão-de-
obra e os custos do
trabalho. E, durante
quatro anos, Passos
Coelho não teve o
atrevimento de falar
em social democra-
cia, expressão que
agora, em campanha
para a liderança
do PSD, quer recu-
perar.
O orçamento de
António Costa, na sua
primeira versão,
também era coeren-
te, mas de sinal con-
trário. Não se pre-
tendia acabar, de um
único golpe, com a
austeridade.
Pretendia-se inverter
o caminho iniciado
pelo governo anteri-
or, faseadamente.
Repor rendimentos,
incentivar o crescimento económico,
aumentar a procura e assim criar empre-
go.
Mas os orçamentos raramente são
aquilo que se pretende. Quase sempre são
aquilo que podem ser. São o possível. E,
neste caso, assim foi, depois de o esboço
ter sofrido as “afinações” impostas pela
Comissão Europeia, em representação de
todos os credores. Aqueles que nos em-
prestaram 78 mil milhões de euros que-
rem a garantia de mais receitas no orça-
mento de 2016. Não acreditaram que o
crescimento económico fosse suficiente
para promover um aumento na colecta
fiscal. Foi por isso que alguns impostos fo-
ram agravados. Não por vontade de An-
tónio Costa.
A direita diz ainda que o orçamento
não é credível. Talvez não seja, mas a crí-
tica parece estranha, vinda de dois parti-
dos que, em quatro anos de governo,
apresentaram sete orçamentos rectifica-
tivos.
Com esta pressão orçamental, a Euro-
pa demonstrou, mais uma vez, que quer
seguir o caminho oposto ao escolhido por
Barack Obama. O presidente dos Estados
Unidos apostou numa política de estí-
mulos, para sair da crise económica e
afastar o perigo de
uma recessão. E, pe-
los vistos, com su-
cesso.
A Europa esco-
lheu o caminho con-
trário e, como se tem
visto desde 2008, sem
qualquer sucesso.
Como se viu com o
caso português, a
Comissão Europeia
aposta na austerida-
de, apesar de enti-
dades como o Fundo
Monetário Interna-
cional (FMI(, por
mais de uma vez, já
terem dito que a do-
se foi excessiva.
Jean-Claude
Juncker tem consci-
ência de tudo isto,
mas
está muito só na
luta contra outras fi-
guras mais compro-
metidas com o neo-
liberalismo. É o caso,
entre outros, do pre-
sidente do Eurogru-
po, Jeroen Dijssel-
bloen, apesar de ser
um trabalhista. Um
homem de vergo-
nhas escassas que até
já injuriou Jean-
Claude Juncker.
António Costa tem
agora o cutelo sobre
o pescoço. Se este
orçamento tiver su-
cesso, é quase certo
que o orçamento de
2017 estará mais de
acordo com o programa político dos so-
cialistas e, então, Costa pode pensar em
cumprir toda a legislatura. Mas se falhar,
tudo pode ser diferente. Resta saber co-
mo estará a direita nessa altura. O CDS pa-
rece enfraquecido por uma futura lide-
rança que se tem mostrado frouxa. E, por
esta altura, ainda não é líquido que Pas-
sos Coelho não seja desafiado por outra
candidatura forte à liderança do PSD.
As crónicas da rubrica Praça Pública podem
ser lidas no site do CONTACTO na internet,
em www.contacto.lu
AVENIDA DA LIBERDADE
SÉRGIO FERREIRA
BORGES
“
Os orçamentos
raramente são
aquilo que se
pretende. Quase
sempre são aquilo
que podem ser.
São o possível.
E, neste caso, assim
foi, depois de o esboço
ter sofrido as
’afinações’ impostas
pela Comissão
Europeia, em
representação de
todos os credores.
TAA – Transportes
aéreos alfacinhas
Mesmo não sentindo
qualquer tipo de en-
tusiasmo por um go-
verno liderado por
António Costa, reco-
nheço algumas me-
lhorias (no relaciona-
mento com os parcei-
ros europeus, por
exemplo). Sobretudo,
estava convencidíssi-
mo que a queda do go-
verno tão economica-
mente incompetente liderado por Passos
Coelho, Portas e Maria Luís Albuquerque
só podia mesmo significar algo de bom.
Enganei-me. A queda do governo an-
terior também trouxe más notícias. É que
logo no dia seguinte a ter sido demitido,
Passos Coelho tinha conseguido resolver
um sorvedouro de impostos que se ar-
rasta há décadas – os Transportes Aéreos
Portugueses. Sim, a venda foi feita à pres-
sa e de forma quase clandestina, a um con-
sórcio estranho de homens de negócios
sem liquidez e com li-
gações perigosas aos
partidos então no go-
verno; sim, do valor
obtido pela privatiza-
ção só 10 milhões de
euros entraram nos
cofres do Estado – um
valor menor, que nem
chegaria para pagar as
perdas da transporta-
dora sofridas por cada
uma das enésimas
greves de pilotos, mas
já aceitável por uma
empresa em falência
técnica e cujo passivo
chega aos 100 euros
por cada português em
idade activa. A venda
livraria por fim os
portugueses de um
luxo incomportável e
pouco eficiente. Mas
eis que António Costa
acaba de despender mais 31,9 milhões de
euros do Estado para recomprar 50% da
TAP. Isso dá-lhe direito a um “controlo es-
tratégico” e aos sempre apetecíveis luga-
res principescamente remunerados no
Conselho de Administração. Isso sim, a
gestão corrente da companhia aérea será
privada – no que configura uma nova ver-
são das desastrosas parcerias público-
privadas em que, como sempre, o risco (e
os prejuízos) ficam para os contribuintes,
mas os salários e os eventuais lucros fi-
cam firmemente do lado de um punhado
de pessoas.
As perguntas cruciais a colocar são sim-
ples: devem, querem e podem os portu-
gueses ter uma companhia estatal de avi-
ação? A resposta é três vezes não. 1. Não
devem, porque andar a brincar aos aviões
não é uma função do Estado; essas estão
reservadas para os bens que pela sua na-
tureza o mercado não saiba ou consiga
produzir tão eficientemente, como a edu-
cação, a saúde, a defesa… Não é clara-
mente o caso do competitivo (e altamente
poluente) sector da aviação aérea, mais
bem servido por privados. 2. Não querem,
como demonstrado em várias sondagens
a apoiar a privatização ou nos próprios re-
sultados das eleições portuguesas – e tudo
isto antes das recentes revelações de
abandono de rotas e de todos os aero-
portos portugueses que não se chamem
Lisboa, factores que obrigam a questionar
se uma “transportadora de bandeira” de-
ve servir apenas uma pequena fracção da
população que, além disso, já é a mais pri-
vilegiada do país. 3. Não podem, porque
como está em voga dizer-se, “não há di-
nheiro”; o país tem uma dívida gigantes-
ca, os recursos públicos são finitos e é
muito mais importante que eles sejam ca-
nalizados para manter um nível civiliza-
cional decente (o que implica, por exem-
plo, voltar a ter médicos em hospitais du-
rante a noite) do que para subvencionar
companhias historicamente deficitárias e
que se distinguem pelo sofrível serviço
prestado (a TAP terminou 2015 em 70° lu-
gar do ranking Skytrax, os “óscares da avi-
ação”, atrás de colos-
sos como a Air Azer-
baijão ou a Air Mau-
rícias; os seus níveis de
cortesia, pontualidade
ou número de malas
perdidas são ainda pi-
ores).
A solução encon-
trada é, para quase to-
dos os portugueses, o
pior de dois mundos:
continuam a garantir
com os seus impostos
à empresa, mas esta
passa a estar liberta do
aborrecimento de fin-
gir que presta algum
tipo de “serviço pú-
blico”. Daí a inacre-
ditável decisão de fe-
char rotas que liguem
o Porto à Europa e cu-
jas taxas de ocupação
– a preços exorbitan-
tes, convém não esquecer – estão entre as
mais altas do mercado. Daí as quotas de
mercado vergonhosas detidas pela TAP no
aeroporto de Faro (uns míseros 4%), do
Porto (19%, menos de metade da Rya-
nair), de Ponta Delgada (um ano depois
da liberalização, passou de líder incon-
testada para 7% dos passageiros) e mes-
mo do Funchal, onde a Easyjet a ultra-
passará em pouco anos. Tudo isto para
justificar que tudo passe e fique em Lis-
boa, para onde a TAP já leva por ano 3 mi-
lhões de passageiros “contrariados”, ou
seja, que não querem ir ali mas não têm al-
ternativa, números que vão aumentar com
a supressão de rotas no Porto, fortemente
utilizadas pela diáspora portuguesa. As-
sim se manipula a justificação de mais
aviões e de até um novo aeroporto em Lis-
boa, este último desde sempre um forte
desejo do PS… Mas se os lisboetas que-
rem muito ter uma transportadora local
que os leve a passear pelo mundo, onde
está escrito que os restantes portugueses
têm de lhes pagar o capricho?
NA RUA DA GRANDE CIDADE
HUGO GUEDES
“
As perguntas
cruciais a
colocar são simples:
devem, querem e
podem os portugueses
ter uma companhia
estatal de aviação? A
resposta é três vezes
não.
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receba-o em sua casa
assinaturas@contacto.lu / Tel. (+352) 299596-202
C_5050_AO02_CB
10. 10 praça pública 10 DE FEVEREIRO DE 2016 Contacto
Portugueses de segunda,
luxemburgueses e jihadista de primeira
O Luxemburgo
tornou-se um
ponto impres-
cindível para o
executivo de
Lisboa. Desde a
visita de Cava-
co Silva, os mi-
nistros portu-
gueses, sempre
que vêm ao
Luxemburgo
para uma reu-
nião de trabalho, encontram-se com
notáveis da comunidade portugue-
sa. Faz bem mostrar-se com jovens
executivos de segunda geração, cu-
jas reivindicações são poucas. Com
a vida cá, muitos deles nem fazem
uso do seu direito de voto.
A ’sucess story’ da comunidade,
que produziu um ministro luxem-
burguês, advogados, médicos, jor-
nalistas, artistas e intelectuais,
permite-lhes esquecer por alguns
momentos a cena política de Lis-
boa, a alcateia da comunicação so-
cial e da oposição. As questões do
insucesso escolar e dos problemas
sociais da comunidade lembram-
lhes, certo, que o mundo já nasceu
torto. Escutam com cortesia, asse-
guram que farão seguir o recado,
sabendo bem que estes problemas
não são os deles, mas sim os do Go-
verno luxemburguês.
No entanto, este sucesso acaba
de ser perturbado pelo nome de
Steve Duarte. Para além das cate-
gorias profissionais mencionadas,
temos agora de juntar a de carras-
co. Como é possível que um jovem
luso-luxemburguês tenha escolhido
esta via? Antes de julgar, tentemos
compreender o que pode levar um
jovem a tais actos.
Para quem nasceu em Lisboa de
pais portugueses, estudou em
Coimbra e vive em Faro, a questão
da identidade não se põe; é-se por-
tuguês, tal como uma uma pessoa
nascida em Mersch de pais luxem-
burgueses, estudando no Luxem-
burgo e trabalhando em Wiltz se
sentirá luxemburguesa.
A identidade é construída desde
a infância de modo “natural”, pois
não se levantam questões que le-
vem a duvidar dessa identidade,
porque ela se identifica com a da
maioria.
Para os filhos de emigrantes, que
trazem uma língua e cultura dife-
rentes, a identidade terá de ser
construída pelo indivíduo, o que re-
quer reflexão, orientação, dedica-
ção e ajuda que um jovem nem
sempre encontra. Sem identidade
auto-definida, um indivíduo estará
à mercê de quem lhe ofereça um
sentimento de inclusão. A exclusão
ressentida, que é sempre um sen-
timento doloroso, pode levar a di-
ferentes reacções emocionais, da
depressão ao sentido de humor e
do humor à agressividade. O leque
de respostas emocionais é tão va-
riado como a sensibilidade dos di-
ferentes indivíduos. Não é portanto
previsível.
Uma vez a que a identidade é lá-
bil, a exclusão será ressentida co-
mo uma ferida e todos os desaires
em projectos, tanto profissionais
como privados, serão vividos atra-
vés desta falta.
O modo de radicalização que se
segue é conhecido; Olivier Roy
descreve-o muito bem na sua obra
“La sainte ignorance”. O jovem pro-
cura a radicalização onde a possa
encontrar. Não havendo terrorismo
de esquerda, não se podendo in-
serir em terrorismo da direita, fica
um radicalismo que se apreende ao
mesmo tempo que as orações em
árabe. Para além do mais, a histó-
ria portuguesa tem um elo de liga-
ção com a Síria, através do Califa-
do Omíada, podendo ser explorado
pelos islamistas que operam a ra-
dicalização. Uma aprendizagem
com mais-valias, portanto.
Contudo, estamos aqui perante
uma responsabilidade individual, à
qual a comunidade dificilmente
poderá corresponder. A decisão
coube a Steve Duarte, e seria um
acto de infantilização
desresponsabilizá-lo apontando
dificuldades sociais, escolares,
amorosas ou outras.
Contudo, estou convicto que a
comunidade portuguesa tem de
tentar dar resposta a este caso e evi-
tar que a história se repita. A co-
munidade arriscaria ver-se estig-
matizada, tal como a
comunidade magre-
bina em França ac-
tualmente. Mas co-
mo?
Existem bas-
tantes grupos fol-
clóricos, cafés e
clubes de fute-
bol no Luxem-
burgo, cuja
função social
não questio-
namos. Há, a
meu ver, porém, falta de
apoio a crianças e sobretudo a jo-
vens. A inclusão começa já a nível
escolar. Porque não pedir aos ac-
tores políticos um apoio escolar
continuado, que os pais muitas das
vezes não podem dar por não co-
nhecerem as línguas e/ou por ra-
zões sociais? Porque não fazer co-
nhecer aos jovens outras vertentes
do nosso país, que vão para além
dos quatro clubes de futebol naci-
onais, de Fátima e da música po-
pular? O que sabem eles da cultura
do país e da língua que falam? Qua-
se nada, não porque não o quei-
ram, mas porque não sabem onde
encontrar as informações. Os gran-
des nomes da cultura são embuti-
dos no ensino do Português, mas
nunca mais aparecem no percurso
escolar. No liceu podem aprender
francês, inglês, italiano, espanhol,
japonês até, mas não português.
Esta falta cultural traz necessa-
riamente um vazio emo- cional,
que tem de ser combatido com co-
nhecimento, de modo lúdico e pe-
dagógico, obviamente.
Quais as estruturas do OLAI (Ga-
binete Luxemburguês de Acolhi-
mento e Integração) e da ’Maison
de l’Orientation’ para impedir a ra-
dicalização? Há aqui pano para
mangas para reivindicações políti-
cas, grupos de trabalho no OLAI e
na Maison de l’Orientation e as di-
ferentes associações e confedera-
ção de associações portuguesas,
para grupos, institutos e associa-
ções culturais. E embora saibamos
que estes actores não poderão mui-
to, seria irresponsável não tenta-
rem o pouco que podem.
*o autor é professor de Filosofia
CRISTÓVÃO S.
MARINHEIRO*
Viva a
C_5188_VA10_CB
11. Contacto 10 DE FEVEREIRO DE 2016 vida associativa & sociedade 11
Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo vai desenvolver programa “Escolhas” para combater o abandono escolar
CCPL e Governo português assinam
programa pioneiro para apoiar jovens
O programa “Escolhas”, que pro-
move a inclusão social de jovens e
crianças, através da igualdade de
oportunidades, vai ser assinado es-
te mês entre o Governo e a Confe-
deração da Comunidade Portugue-
sa no Luxemburgo (CCPL), em Lis-
boa, segundo responsáveis da as-
sociação.
Ainda no mês de Fevereiro será
assinado um protocolo para im-
plementar o programa “Escolhas”
no Luxemburgo.
O projecto visa combater o aban-
dono escolar: orienta jovens, fa-
zendo aconselhamento sobre for-
mações e planos escolares apro-
priados a cada caso, e promove o
emprego e o empreendorismo.
Além disso, combate o desinteresse
e o abandono escolar precoce, que
agravam o desemprego nestas fai-
xas etárias, sobretudo na comuni-
dade lusófona do Luxemburgo.
Promovido pela Presidência do
Conselho de Ministros (PCM) e in-
tegrado no Alto Comissariado para
as Migrações (ACM), o programa
Escolhas “é um projecto piloto fora
de Portugal que vai servir de refe-
rência às outras comunidades por-
tuguesas”, avançou José Coimbra de
Matos, porta-voz da CCPL.
De acordo com o Ministério da
Educação luxemburguês, a taxa de
abandono escolar entre alunos por-
tugueses situa-se nos 21,1%, en-
quanto somente 13% dos alunos lu-
sófonos frequenta o ensino clássi-
co, segundo o Statec. Valores alar-
mantes, que a Confederação quer
ajudar a combater, trabalhando
com “jovens dos 12 aos 25 anos, pa-
ra orientar, acompanhar nas esco-
lhas, ajudar na procura de empre-
go e incentivar ao empreendoris-
mo”, disse a presidente da CCPL,
Paula Martins. A dirigente associa-
tiva adiantou que “o plano será
aplicado em Esch-sur Alzette, onde
as taxas de insucesso são bastante
elevadas”.
O incentivo aos estudos, através
de acompanhamento profissional e
realização de actividades extracur-
riculares, são algumas das estraté-
gias que vão ser discutidas e deci-
didas na assinatura do acordo, que
terá lugar em Lisboa.
Apesar de terem inaugurado no-
vas instalações no final de Outu-
bro, os responsáveis da CCPL di-
zem que já atingiram a lotação má-
xima de formações e formandos. “Já
reabrimos as antigas instalações, em
Gasperich, e estamos a negociar ar-
rendar mais dois espaços, no mes-
mo edifício de Strassen”, disse Pau-
la Martins.
A par da formação em línguas,
informática e em várias compe-
tências profissionais, a organização
aposta também na vertente social e
leva à cena uma peça de teatro que
aborda a violência doméstica, em
Março. n Vanessa Castanheira
O programa “Escolhas”, que vai ser desenvolvido no Luxemburgo de forma pi-
oneira, visa combater o abandono escolar entre os alunos lusófonos Foto: Guy Jallay
Associação vai fazer estudo sobre idosos
portugueses em Wormeldange
A Confederação da Comunidade
Portuguesa no Luxemburgo (CCPL)
continua a desenvolver actividades
com os idosos portugueses. Depois
de projectos em Esch-sur-Alzette e
Steinfort, a associação vai iniciar já
este mês um novo estudo em Wor-
meldange, uma localidade com uma
população idosa representativa.
Segundo a gerontóloga Rute
Monteiro, o objectivo é “fazer o re-
conhecimento das necessidades da
população, conhecer os seus gostos
e interesses e saber o que esperam
de um projecto como este”, que tem
como objectivo “desenvolver acti-
vidades com esta população”.
“Só depois é que vamos elaborar
actividades concretas, para irmos de
encontro às necessidades das pes-
soas”, explicou a gerontóloga, au-
tora de um estudo sobre os refor-
mados lusófonos em Esch-sur-
Alzette.
O objectivo da intervenção é
“minimizar as diferenças, criar
pontes entre portugueses e os ser-
viços luxemburgueses e oferecer um
novo projecto de vida depois dos
60 anos”. Para isso, Rute Monteiro
apela à participação dos seniores e
respectivas famílias. “Entrem em
contacto connosco, deixem-se co-
nhecer, revelem as vossas dificul-
dades”.
A gerontóloga defende que as
actividades levam os participantes
a “tornarem-se mais independen-
tes e dinâmicos”. “Tem de se olhar
para a terceira idade como mais
uma etapa da vida. A esperança
média de vida aumentou substan-
cialmente nos últimos anos, e te-
mos de ajudar a criar estilos de vi-
da adequados e de qualidade”, dis-
se.
Informações pelo telefone 29 00
75 ou 661 27 99 30.
Conferência internacional de 19 a 20 de Fevereiro
Investigadores de todo o mundo discutem
imigração portuguesa no Luxemburgo
Mais de uma dezena de investiga-
dores vão estar reunidos no Grão-
Ducado para discutir a imigração
portuguesa no país, numa confe-
rência internacional organizada
pela Universidade do Luxemburgo
e pelo Centro de Documentação
sobre as Migrações Humanas
(CDMH).
Durante dois dias, de 19 a 20 de
Fevereiro, historiadores, sociólo-
gos, geógrafos e investigadores na
área das migrações vão participar
na conferência “Luso-
Luxemburguês?”, a fim de trocar
informação e experiências.
Para o coordenador da confe-
rência, o historiador luxemburguês
Thierry Hinger – a preparar actu-
almente um doutoramento sobre a
política de imigração portuguesa
após o 25 de Abril –, a iniciativa
confirma o interesse crescente de
académicos e investigadores pela
imigração portuguesa no Luxem-
burgo.
“Há muitos investigadores a tra-
balhar nesta área na Universidade
do Luxemburgo, mas também nou-
tros países”, disse o historiador ao
CONTACTO.
O objectivo “é pôr em contacto
os investigadores que trabalham
nesta área e iniciar uma discussão
sobre a imigração portuguesa”.
Esta é a primeira conferência in-
ternacional sobre imigração por-
tuguesa realizada no Luxemburgo,
sublinha o coordenador, que es-
pera também conseguir “mostrar ao
público aquilo que se faz sobre a
imigração portuguesa no país, a ní-
vel académico”.
Do painel faz parte José Carlos
Marques, investigador do Centro de
Estudos Sociais e do Núcleo de Es-
tudos das Migrações, em Coimbra,
considerado um dos maiores es-
pecialistas internacionais em imi-
gração.
“Temos a sorte de contar com Jo-
sé Carlos Marques para moderar os
debates e apresentar as conclu-
sões”, disse ao CONTACTO o his-
toriador luxemburguês.
As relações entre gerações de
imigrantes, a nova vaga de imigra-
ção portuguesa no Luxemburgo, a
terceira idade, um estudo compa-
rativo entre a imigração portuguesa
e italiana, o impacto da livre cir-
culação nos trabalhadores portu-
gueses no Grão-Ducado, são al-
guns dos temas que vão ser discu-
tidos na conferência internacional.
Além de especialistas da Uni-
versidade do Luxemburgo, como as
investigadoras portuguesas
Stéphanie Barros Coimbra, Heidi
Martins e Anne Carolina Ramos ou
a brasileira Anita Lucchesi, a con-
ferência vai contar ainda com es-
pecialistas vindos da Universidade
da Califórnia, da Universidade de
Lisboa e da Universidade de Tren-
to, em Itália.
A geógrafa luxemburguesa Aline
Schiltz, a viver há vários anos entre
o Luxemburgo e Lisboa, também vai
apresentar as primeiras conclusões
do estudo Remigr, um inquérito
global da Universidade de Lisboa
sobre a emigração portuguesa re-
cente, que analisa a nova vaga de
emigração a partir de 2000.
O coordenador sublinha que a
conferência “não se destina exclu-
sivamente aos especialistas” e faz
um apelo à participação dos por-
tugueses. A fechar os dois dias de
discussões, os imigrantes portu-
gueses vão ter a oportunidade de
contar as suas experiências, numa
iniciativa baptizada “Conte a sua
história”, aberta a todos os inte-
ressados.
“É um projecto em que as pes-
soas são convidadas a contar a sua
história da emigração, na expecta-
tiva de recolher testemunhos orais
que podem vir a ser integrados mais
tarde no trabalho da Anita Luc-
chesi, que está a fazer uma recolha
sobre a imigração portuguesa e ita-
liana”, adiantou o coordenador da
conferência ao CONTACTO.
A iniciativa “Conte a sua histó-
ria” vai ter lugar no dia 20 de Fe-
vereiro (um sábado), das 16h30 às
18h, no Centro de Documentação
sobre as Migrações Humanas, em
Dudelange (junto à Gare-Usines).
O programa da conferência, que
arranca no dia 19 na Universidade
do Luxemburgo, em Belval, e pros-
segue a 20 no Centro de Docu-
mentação sobre as Migrações Hu-
manas, pode ser descarregado no
site www.cdmh.lu.
n P.T.A.
O historiador Thierry Hinger é o coordenador da primeira conferência interna-
cional sobre a imigração portuguesa organizada no Luxemburgo Foto: Gerry Huberty
12. 12 vida associativa & sociedade 10 DE FEVEREIRO DE 2016 Contacto
FOTOGALERIA
A entrega dos prémios sorteados pelo stand português do Bazar Internacional teve lugar dia 2 de
Fevereiro na residência da Embaixada. O embaixador Carlos Pereira Marques e a mulher (na foto,
à direita) receberam o comité de Portugal, bem como os 37 vencedores da tômbola organizada
durante o 55° Bazar Internacional do Luxemburgo, que decorreu em Novembro Foto: Manuel Dias
Mais fotos em
n A associação Amizade
Portugal-Luxemburgo (APL) e o
Rancho Folclórico Juventude
Portuguesa de Dudelange or-
ganizam um baile de Carnaval
no sábado, dia 13 de Fevereiro,
na sala Hild, em Dudelange, a
partir das 20h30. Animação e
baile com o grupo Nova Era. Há
prémios para os três melhores
mascarados. Não faltarão os tra-
dicionais petiscos à portuguesa.
Para publicar eventos, bailes e
festas nesta agenda, contacte-
nos: contacto@contacto.lu /
classificados@classificados.lu
ou pelo tel. 299596-202.
Agenda completa em:
www.contacto.lu
Agenda de
Eventos
Consulado de Portugal
Novas permanências
consulares
O Consulado de Portugal no Lu-
xemburgo organiza três novas per-
manências consulares em Laro-
chette, Diekirch e Ettelbruck.
Os funcionários consulares vão
estar no Centro Cultural de Laro-
chette, situado na rue de Meder-
nach, n° 19, a 24 de Fevereiro.
A 7 de Março é a vez de Diekirch
receber o serviço consular na sede
da associação de Pais dos Alunos
de Português, na avenue de la Ga-
re, n° 7, 4° andar.
A permanência consular em Et-
telbruck tem lugar a 14 de Março
na associação de Pais de Ettelbruck
(rue Michel Weber, n° 1).
Os cidadãos portugueses resi-
dentes nestas localidades vão po-
der requerer o cartão de cidadão, o
passaporte electrónico, certidões de
nascimento e reconhecimento de
assinaturas, podendo ainda efec-
tuar a inscrição consular, registos de
nascimento e proceder ao respec-
tivo recenseamento eleitoral.
O atendimento é feito apenas sob
marcação prévia, pelo tel. 45 33 47
53 ou pelo email agendar@pt.lu.
Os custos da emissão dos docu-
mentos sofrem um agravamento de
15%.
Nesta sexta-feira
Onze humoristas portugueses em Ettelbruck
Onze humoristas portugueses vaõ
estar no Luxemburgo para partici-
par no primeiro festival de comé-
dia europeu. O espectáculo tem lu-
gar na sala Daïchhal, em Ettel-
bruck, nesta sexta-feira, dia 12 de
Fevereiro.
Vão subir ao palco os humoris-
tas João Seabra, Pedro Neves, Fer-
nando Rocha, Marco Horácio, Ga-
briel Mendes, António Raminhos,
Hugo Sousa, Roscas & Estacionân-
cio, Óscar Branco e Rui Xará.
O espectáculo tem início às
21h30, mas as portas abrem duas
horas antes. Os bilhetes custam 30
euros (sentado) e 25 euros (de pé).
Reservas e mais informações pelo
tel. 691 100 720 ou 691 101 009.
No âmbito do 50° aniversário da Missão Católica Portuguesa do Luxemburgo
Bispo do Porto é o convidado da
peregrinação ao santuário de Fátima em Wiltz
O bispo do Porto, Dom António
Francisco dos Santos, é o convida-
do da edição deste ano da peregri-
nação ao santuário de Nossa Se-
nhora de Fátima em Wiltz.
O evento popular e religioso, que
a comunidade portuguesa organiza
desde 1968, tradicionalmente no
feriado de Quinta-feira da Ascen-
são, está marcado este ano para 5
de Maio.
No dia seguinte, 6 de Maio, o bis-
po do Porto participa numa Jorna-
da de Solidariedade e celebra uma
missa com os reclusos, no Centro
Penitenciário de Schrassig.
A vinda do bispo do Porto ao
Grão-Ducado acontece no âmbito
do 50° aniversário da Missão Cató-
lica Portuguesa no Luxemburgo,
que se assinalou em Junho de 2015,
e que vai continuar a ser celebrado
este ano através de vários eventos,
entre Março e Julho.
No dia 6 de Março, está agen-
dada uma Jornada da Gratidão à
Diocese na igreja Sacré-Coeur de
Esch-sur-Alzette. O dia começa com
uma missa celebrada às 9h. Segue-
se uma conferência no Centro Aris-
ton, às 10h15, na presença de
Mathias Schiltz, vigário-geral emé-
rito.
A 18 de Junho há uma Jornada
de Convívio entre Comunidades no
salão da Igreja do Sacré-Coeur, na
cidade do Luxemburgo, às 20h, ani-
mada pelo grupo de teatro “Giras-
sol”, de Esch.
A jornada de encerramento dos
50 anos da Missão Católica Portu-
guesa do Luxemburgo está marca-
da para 3 de Julho na Catedral
Notre-Dame de Luxembourg, na
capital, com uma missa, às 15h30h,
celebrada pelo arcebispo Jean-
Claude Hollerich. A missa contará
igualmente com membros da equi-
pa pastoral portuguesa, missioná-
rios lusófonos e representantes das
autoridades portuguesas e luxem-
burguesas.
A cultura de Cabo Verde foi tema de um serão muito animado na quarta-feira, nas Rotondes, em Bon-
nevoie. A iniciativa foi organizada pelo projecto Rocking Integration on Futuristic Festival (RIFF),
que promove intercâmbios culturais. As batucadeiras Terra-Terra (na foto) foram um dos destaques
do evento Foto: Manuel Dias
Mais fotos em
13. Contacto 10 de FEVEREIRO de 2016 LCGB-INFO 13
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A equipa da Doutora Sónia Falcão da Fonseca
14. 14 artes & espectáculos 10 DE FEVEREIRO DE 2016 Contacto
Concerto na Rockhal
Tony Carreira quer esquecer polémica em
torno da entrega de condecoração francesa
Com mais de 25 anos de
carreira, o popular cantor
subiu ao palco da Rockhal
pela segunda vez no sába-
do. Ao CONTACTO, Tony
Carreira disse que quer pôr
um ponto final na polémi-
ca em torno da entrega da
condecoração do Governo
francês, depois de a Em-
baixada de Portugal em
França ter recusado que a
cerimónia se realizasse nas
suas instalações.
Tony Carreira regressou no sá-
bado ao Luxemburgo, para
mais um concerto na Rockhal,
em Belval, e o acolhimento dos fãs
confirma a enorme popularidade do
cantor romântico.
A fila começou muitas horas antes
do concerto. Desde as duas da tarde,
uma dezena de pessoas, a maioria
mulheres, já marcavam presença à
porta da Rockhal. Eram cinco da tar-
de quando o CONTACTO falou com
o grupo de fãs. Um vento forte so-
prava pelas ruas de Belval, e as por-
tas da sala de espectáculos só abriri-
am duas horas mais tarde, mas sem
temerem o frio, as fãs aguardavam já
a chegada do cantor.
“Somos três amigas. Eu vivo no Lu-
xemburgo, mas elas vêm de Portugal,
de Famalicão e de Guimarães. Somos
fãs incondicionais de Tony Carreira e
vamos regularmente aos seus con-
certos”, explicaram ao CONTACTO.
Quando, por volta das nove da noi-
te, o concerto começa, as três mu-
lheres deliram no meio de centenas
de pessoas, batendo palmas ou can-
tando o refrão das populares can-
ções. Têm na maioria entre vinte e 50
anos, vêm com amigas ou com os ma-
ridos e algumas trazem mesmo os fi-
lhos.
Ao CONTACTO, Tony Carreira dis-
se que tem um carinho especial pelo
Luxemburgo. “Há dois sítios onde eu
cantei antes de ser ’Tony’. Por isso po-
de dizer-se que já canto no Luxem-
burgo desde sempre. Fui sempre bem
recebido, muito acarinhado, e é um
grande prazer voltar a ver todas estas
pessoas que me acompanham desde
esse tempo”, disse o cantor a este jor-
nal, em declarações antes de subir ao
palco.
Durante todo o concerto, as can-
ções fazem vibrar o público. Na pla-
teia, os portugueses conhecem as le-
tras tão bem como o cantor. Mas à saí-
da, há muitos fãs desiludidos com o
alinhamento: anunciado como um
concerto para apresentar o novo ál-
bum, “Mon Fado”, o espectáculo ter-
mina sem uma única música do dis-
co lançado em Novembro, com ex-
cepção de uma canção a fechar o con-
certo. Monique Marques, uma fã que
não falha um concerto e conhece bem
o reportório do cantor, ficou desilu-
dida. “Fiquei muito desiludida, até
porque ele tinha dito na entrevista à
Rádio Latina que ia apresentar temas
do novo álbum, e não percebo como
é que no primeiro concerto da ’tour-
née’ para apresentar o ’Mon Fado’,
não canta nenhuma”.
POLÉMICA EM FRANÇA
Em declarações ao CONTACTO an-
tes do concerto, Tony Carreira falou
sobre o álbum que afinal acabaria por
não apresentar no Luxemburgo. Em
“Meu Fado”, o cantor diz que quis le-
var ao público francês a música do
seu país. ”Se vier a ter sucesso no
mercado francês, quero ser reco-
nhecido como artista português”, ex-
plica o cantor, que foi distinguido em
Fevereiro com o título de Cavaleiro
da Ordem das Artes e Letras do go-
verno francês.
Um caso que levantou polémica
nas redes sociais. Nessa altura, na sua
conta no Facebook, Tony Carreira
queixou-se da recusa da Embaixada
de Portugal em Paris em acolher a
cerimónia de entrega da condeco-
ração atribuída pelo Estado francês,
o que gerou muitas reacções em Por-
tugal e em França.
O conselheiro das comunidades
portuguesas em França lançou mes-
mo uma petição ’online’ a pedir a
substituição do embaixador de Por-
tugal e a “exigir uma representação
mais activa, menos desigual e mais
próxima para com e de todos os por-
tugueses, em solo francês”. O em-
baixador viria a justificar a recusa,
explicando não ser habitual entregar
condecorações de um Estado no ter-
ritório de outro país.
No sábado, o cantor disse ao
CONTACTO que quer pôr um ponto
final no assunto.
“Não vou mais alimentar a polé-
mica. Basicamente, o que eu disse
diz o que diz, e não me arrependo
de o ter dito, mas logo no dia se-
guinte já só queria trabalhar e can-
tar, nada mais”.
Uma coisa é certa: quer seja ou
não reconhecido pelas elites, o pú-
blico português adora o cantor ro-
mântico, como o demonstram os nu-
merosos discos de platina e os con-
certos sempre cheios.
Tony Carreira deixa ainda uma
notícia para os fãs: se tudo correr
bem, até final do ano vai haver novo
disco. n CJTony Carreira actuou pela segunda vez na Rockhal Fotos: Carlos de Jesus
Sonoridades jamaicanas na Rockhal
Reggae português de Richie Campbell
conquistou Luxemburgo
lRichie Campbell, o menino-
prodígio do reggae português, in-
cendiou a Rockhal no domingo.
Richie Campbell e a sua banda
911 não defraudaram expectativas,
num concerto electrizante, com
muita alegria. A abertura com a 911
Band mostrou porque são consi-
derados a melhor ’backing band’
portuguesa.
Logo a seguir entrou Richie
Campbell, eufórico e aos saltos, pa-
ra hora e meia de alegria. O cantor
português abriu com “Feels like”,
cujo refrão diz “reggae a tocar toda
a noite”. Estava lançado o repto pa-
ra uma sessão de pura música ja-
maicana.
O músico ficou surpreendido
com os muitos portugueses na pla-
teia, e em jeito de brincadeira, pe-
diu ajuda para falar francês.
Seguiu-se “Man don’t cry”e “Re-
volution”, numa noite sempre a
abrir. Com um solo fantástico de
uma das cantoras, “Love is an ad-
diction” foi dos momentos altos da
noite, dando direito a uma chuva
de assobios, com o público rendido
à performance dos nove músicos em
palco. Em “Inna Jamaica”, Richie
pede para acenderem isqueiros e
telemóveis e afirma: “Presto ho-
menagem ao país que me fez estar
aqui hoje”. Entre saltos e danças que
mais pareciam folclore de leste,
muitas gargalhadas e um “francês
arcaico” que pôs todos a rir, o con-
certo continuou sempre com boas
vibrações.
O colectivo não deixou os crédi-
tos por mãos alheias na interpre-
tação de “Ain´t no sunshine”, o
clássico composto por Bill Withers
que se converteu num ’standard’ do
reggae.
No final, os fãs queriam mais uma
música e Richie Campbell cantou
“How amazing”, depois da apo-
teótica “Feel amazing”.
E foi mesmo a falar deste tema
que o CONTACTO iniciou a con-
versa com o cantor. No vídeo-clipe,
Richie passeia livremente por uma
das ruas mais perigosas de Kings-
ton, a capital jamaicana, e o cantor
assume que “é uma experiência que
hoje não repetiria”. “Foi uma im-
prudência, mas passei a mensagem
de que, independentemente das si-
tuações económicas em que se in-
serem, as pessoas são pessoas”.
Richie Campbell continua aliás a
ir à Jamaica para gravar e para
“aperfeiçoar o crioulo jamaicano,
porque faz sentido cantar reggae
nessa língua”, disse.
O cantor admitiu que ficou sur-
preendido “com a quantidade de
portugueses” que estiveram no
concerto no Luxemburgo. “Foi o es-
pectáculo onde tivemos a maior co-
munidade portuguesa“, disse. “O
público gostou, saiu satisfeito,
divertiu-se e recebeu-nos bem”.
Com uma carreira fulgurante, o
músico lamentou que “a cena reg-
gae não esteja muito vibrante em
nenhuma parte do mundo”, de-
fendendo que é preciso moderni-
zar este estilo. “Por exemplo, eu fa-
lo do que vejo na minha vida pes-
soal, falo de amor no sentido lato,
abordo temas polémicos e sociais,
assim como há mais artistas a fa-
zerem o mesmo, e espero que es-
teja para ficar”.
Satisfeito com a grande adesão ao
concerto, Richie Campbell disse ao
CONTACTO que quer voltar ao
Luxemburgo.
“Eu vou voltar para actuar na sa-
la do Tony [Carreira]”, brincou o
músico, referindo-se ao cantor ro-
mântico que um dia antes de Ri-
chie encheu a sala da Rockhal.
Nascido em Mortágua, Richie
Campbell é o alter-ego de Ricardo
Ventura da Costa. Em 2015 lançou
o álbum “In the 876” (indicativo da
Jamaica), que em poucas horas se
converteu no número 1 do iTunes.
Já abriu concertos para Nas e Da-
mien Marley, tocou em quase to-
dos os países europeus e actuou
com Kymani Marley e vai ter esta
semana seis concertos na Alema-
nha. n Vanessa CastanheiraRichie Campbell actuou com a sua banda 911 Foto: Vasco Santos
Mais fotos em
15. Contacto 10 DE FEVEREIRO DE 2016 artes & espectáculos 15
Filme foi seleccionado para a competição do Lux Film Festival
Documentário retrata imigrantes
portugueses em busca do “Eldorado”
Quase sete anos depois
do lançamento das pri-
meiras sementes, o do-
cumentário “Eldorado”,
sobre a imigração portu-
guesa no Luxemburgo, vai
finalmente chegar aos ci-
nemas luxemburgueses.
Durante três anos, os re-
alizadores acompanha-
ram a história de quatro
imigrantes lusófonos à
procura do “Eldorado”
luxemburguês. O resulta-
do é um filme a meio ca-
minho entre o documen-
tário e a ficção que quer
mostrar as “alegrias e
tristezas” dos imigrantes
portugueses.
São três realizadores, mas à
conversa com o CONTACTO
estão apenas dois, o portu-
guês Rui Abreu e o luxemburguês
Thierry Besseling (Loïc Tanson, o
terceiro, não pôde estar presente).
“Eldorado”, o documentário as-
sinado pelos três, é o primeiro fil-
me sobre a emigração portuguesa
no Luxemburgo e é esperado há vá-
rios anos. O projecto foi mesmo
anunciado nos cinemas luxembur-
gueses em Julho de 2009, com um
“spot” provocatório que questio-
nava os estereótipos em relação aos
portugueses. “Não estão fartos de
clichés?”, perguntava-se no anún-
cio. Depois, silêncio rádio.
Foram precisos sete anos para
concluir o documentário, agora se-
leccionado para a competição no
Lux Film Festival, que decorre em
Fevereiro, e a conversa começa lo-
go por aí: porquê tanto tempo?
“Foi o tempo necessário”, diz Rui
Abreu. “No início era uma ideia va-
ga, proposta pela ASTI (Associação
de Apoio aos Trabalhadores Imi-
grantes). Mas a realizadora alemã
que foi convidada para fazer o fil-
me acabou por não poder conti-
nuar, e como eu já estava ligado ao
projecto, a Samsa convidou-me pa-
ra continuar”, recorda.
A produtora luxemburguesa
chegou a pensar fazer três curtas-
metragens sobre a imigração por-
tuguesa no Luxemburgo, tendo
convidado mais dois realizadores
para o projecto. Mas o documen-
tário ganhou vida própria e os três
acabaram por decidir trabalhar em
equipa.
“Fizemos muita pesquisa sobre a
emigração, e acabámos por docu-
mentar durante três anos a vida de
quatro personagens”, conta o jo-
vem realizador português.
“Eldorado” conta as histórias de
três imigrantes portugueses e um
cabo-verdiano recém-chegados ao
Luxemburgo: Fernando, à procura
de trabalho, Carlos, a braços com a
justiça, Jonathan, um adolescente
com dificuldades de integração na
escola, e Isabel, uma divorciada
atormentada pelo passado. “Há um
homem de 40 anos que vem ao Lu-
xemburgo procurar trabalho, e
acompanhamo-lo praticamente
desde que sai do avião”, explica Rui
Abreu.
A duração das filmagens
permitiu-lhes também “documen-
tar as mudanças na vida destas pes-
soas, e as mudanças não se vêem
no quotidiano, não se vêem no dia-
a-dia, produzem-se numa certa du-
ração”, acrescenta Thierry Besse-
ling.
Os três anos de filmagens per-
mitiram também aos realizadores
criar uma relação de confiança com
os imigrantes – as “personagens” do
filme, como Rui e Thierry insistem
em chamar-lhes, sublinhando a li-
nha fina que separa o documentá-
rio da ficção (o filme termina aliás
com “uma parte mais ficcional”,
adiantam).
“Não somos mercadores de
emoções que chegam e dizem:
’dêem-nos os vossos segredos, e
agora adeus’”, diz Thierry Besse-
ling. “Conseguimos aproximar-nos
tanto das personagens que conse-
guimos mostrá-las para além da
nacionalidade, de uma forma uni-
versal, mostrando as suas alegrias e
tristezas, as suas forças e fraquezas,
as suas emoções, o que ultrapassa
os ’clichés’ em que as pessoas es-
tão encerradas”, defende o reali-
zador luxemburguês.
O resultado “são histórias muito
pessoais, histórias íntimas, que per-
mitem apreender estas persona-
gens, não como a empregada de
limpeza ou o trabalhador da cons-
trução, mas como pessoas de cor-
po inteiro – o Jonathan, a Isabel, o
Fernando e o Carlos”, defende Rui
Abreu. “Foi esta riqueza e beleza
que quisemos mostrar a quem só
os vê como empregada de limpeza
ou trabalhador da construção”,
completa Thierry.
Os quatro imigrantes que dão
corpo ao documentário já viram o
filme, e ficaram comovidos com o
resultado. Agora, “Eldorado” vai
enfrentar o teste do público: pri-
meiro na ante-estreia, a 27 de Fe-
vereiro, no cinema Utopolis, depois
a partir de 16 de Março, com a es-
treia no cinema Utopolis, na capi-
tal e em Belval.
É possível que as maiores críti-
cas venham do público português,
confrontado com um espelho que
lhes mostra muitas das dificulda-
des que os imigrantes enfrentam de
facto no país? Antecipando as crí-
ticas, Rui Abreu recusa que o filme
perpetue o estereótipo do portu-
guês que trabalha nas obras e da
portuguesa que faz limpezas.
“Não aceitamos como crítica que
é positivo mostrar um arquitecto e
que é negativo mostrar uma em-
pregada de limpeza. Há muita gen-
te que tem medo de aceitar esta re-
alidade, e são eles que os conde-
nam e os querem deixar na som-
bra. Nós quisemos dar-lhes voz e
visibilidade”.
Rui Abreu nasceu em Portugal em
1981, mas vive no Luxemburgo
desde os onze anos. Licenciado
em Etnologia pela Universidade
Paris VII, fez uma pós-graduação e
um mestrado em cinema docu-
mental. Thierry Besseling e Loïc
Tanson, formados em realização,
são autores de várias curtas-
metragens.
n Paula Telo Alves
Dois dos realizadores de “Eldorado”, Rui Abreu e Thierry Besseling, com os cartazes de promoção do filme. O documentário foi seleccionado para a competição do
Lux Film Festival Foto: Pierre Matgé
Os realizadores filmaram a vida de quatro imigrantes lusófonos durante três
anos Imagens: Samsa
Ana Moura
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21Fev
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