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Novembro 2005 
ISSN 1645-9350 
N.º 3 
A Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa no Mundo 
Tradução, Mercado e Profissão no Brasil 
Tradução Técnica em Timor-Leste 
Primeiro Relatório de Um Inquérito a Fornecedores de Serviços de Tradução Científica e Técnica de Inglês para Português Europeu 
O Uso de Corpus Customizado como Fonte de Pesquisa para Tradutores 
Entrevista a Vivina Almeida Carreira de Campos FIGUEIREDO 
Esfera Armilar (Padrão dos Descobrimentos, Lisboa, Portugal)
A CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica é uma revista independente e transdisciplinar que tem por objectivo reunir estudiosos, tradutores, especialistas, clientes e outros profissionais que trabalham com a tradução nas áreas das Ciências Exactas e Naturais, Engenharias e Tecnologias, Ciências da Saúde, Ciências Jurídicas, Economia e Localização de e para a língua portuguesa em toda a sua diversidade. 
A CONFLUÊNCIAS é uma publicação em formato electrónico, de acesso livre e gratuito. 
COLABORADORES. 
Comissão de Redacção. 
Ana Hermida Ruibal (Portugal) Edite Prada (Portugal) 
Eliene Zlatkin (Brasil) Ida Rebelo (Brasil) 
Isabel Coutinho Monteiro (Portugal) Steve Dyson (Portugal) 
Vicky Hartnack (Portugal) 
Comissão Científica. 
Amparo Hurtado Albir (Espanha) Ana Julia Perrotti-Garcia (Brasil) 
André Antunes Soares de Camargo (Brasil) Antonio Augusto Gorni (Brasil) 
Artur Portela (Portugal) Carlos Castilho Pais (Portugal) 
Christianne Nord (Alemanha) Conceição Carvalho (Macau) 
Diva Cardoso de Camargo (Brasil) Eduardo Lopes d’Oliveira (Portugal) 
Enilde Faulstich (Brasil) Fernando A. Navarro (Espanha) 
Fernando Ferreira-Alves (Portugal) Heloisa Gonçalves Barbosa (Brasil) 
Hermínio Duarte-Ramos (Portugal) Jacques Pélage (França) 
Jacques Vissoky (Brasil) João Roque Dias (Portugal) 
Jorge Cruz (Portugal) José Antonio Sabio Pinilla (Espanha) 
Manuel Gomes da Torre (Portugal) Margarita Correia (Portugal) 
M.ª Manuela Fernández Sánchez (Espanha) M. Teresa Cabré (Espanha) 
Oscar Diaz Fouces (Espanha) Pedro Coral Costa (Portugal) 
Ricardo Muñoz Martín (Espanha) Rodolfo Alpízar Castillo (Cuba) 
Rute Costa (Portugal) Sonia Collina (Estados Unidos da América) 
Steve Dyson (Portugal) Virgínia Matos (Portugal) 
Vivina Figueiredo (Portugal) 
FICHA TÉCNICA. 
Directora. Rosário Durão. 
Periodicidade. Semestral (Maio e Novembro). 
Entidade Proprietária e Editor. Maria do Rosário Frade Durão. 
Contribuinte N.º. 152 886 486. 
Morada e Sede de Redacção. Rua Jorge Colaço, 35, 4.º Esq. – 1700-252 Lisboa – Portugal. 
Telefone. +(351)218 408 731 ou +(351)936 294 337. 
Página da Internet. <www.confluencias.net>. 
Correio-e. confluencias@confluencias.net. 
ISSN. 1645-9350. 
© CONFLUÊNCAS – Revista de Tradução Científica e Técnica.
CONFLUÊNCIAS 
ÍNDICE 
Editorial ....................................................................................................................................................... 3 
Artigos e Comunicações: 
Tradução e Localização 
Heloisa Gonçalves BARBOSA 
ƒ Tradução, Mercado e Profissão no Brasil............................................................................... 6 
Hermínio DR 
ƒ Tradução Técnica em Timor-Leste........................................................................................... 25 
Rosário DURÃO 
ƒ Primeiro Relatório de Um Inquérito a Fornecedores de Serviços de Tradução Científica e Técnica de Inglês para Português europeu ................................................... 29 
Terminologia e Lexicologia 
Ana Julia PERROTTI-GARCIA 
ƒ O Uso de Corpus Customizado como Fonte de Pesquisa para Tradutores ............... 62 
Entrevista 
ƒ Entrevista a Vivina Almeida Carreira de Campos FIGUEIREDO, Docente e Tradutora .................................................................................................................................... 80 
Notas e Apontamentos 
Edite PRADA 
ƒ Os Dicionários da Língua Portuguesa ................................................................................... 87 
Gabriela M. SANTOS-GOMES 
ƒ A Língua Portuguesa e os Termos Técnicos e Conceitos Próprios das Ciências Biológicas ...................................................................................................................................... 90 
Paulo Ivo TEIXEIRA 
ƒ Uma Nota sobre Tradução Científica e Técnica em Portugal ........................................ 93 
Glossários 
João Roque DIAS 
ƒ Bear with me! Apoios, Chumaceiras e Rolamentos (algumas notas para eliminar confusões) ...................................................................................................................................... 96 
Jorge CRUZ 
ƒ Terminologia Básica em Cirurgia Vascular ......................................................................... 120 
Vicky HARTNACK 
ƒ Glossário: Moagens - Watermills .......................................................................................... 125 
Relatórios de Eventos e Actividades 
Rosário DURÃO 
ƒ «VIII Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, 2005 – Tradução e Inovação» ................................................................................................................ 132 
Ana Rita REMÍGIO e Ana Cláudia CASTRO 
ƒ «II Jornadas de Tradução e Terminologia (em Biologia Molecular)» ............................ 134 
Formação 
Idalina Natália Ferreira GOMES 
ƒ MSc in Scientiic, Technical and Medical Translation with Translation Technology (MScTrans) – Imperial College London .......................................................... 136 
f 
Notas sobre os Autores .......................................................................................................................... 141
EDITORIAL 
C O N F L U Ê N C I A S – R e v i s t a d e T r a d u ç ã o C i e n t í f i c a e T é c n i c a , N . º 3 , N o v . 2 0 0 5 : 3 - 5 
Todos os dias, mais de 200 milhões de pessoas utilizam a Língua Portuguesa em todo o planeta. O Português é uma das línguas mais disseminadas pelo mundo, sendo falada, hoje em dia, em todos os continentes. 
Segundo dados da UNESCO, na viragem do século, havia 187 milhões de falantes de Português na América do Sul (o Brasileiro é a língua mais falada no continente sul- americano), 17 milhões em África (onde o Português se afigura como uma língua importante), 12 milhões na Europa (Portugal tem pouco mais de dez milhões de habitantes), 2 milhões na América do Norte e 610 mil na Ásia. Também na Oceânia se encontram falantes do Português (quase 50 mil). 
É a língua oficial de oito países independentes, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné- Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-leste (ao lado do Tétum), e da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China (juntamente com o Chinês). 
E é aquela que tem um maior potencial de crescimento, como língua de comunicação, na África Austral e na América do Sul. Também se prevê um renascer do interesse pelo Português no Oriente, em grande parte devido à sua fixação em Timor-Leste e em Macau. 
Estes dados contrastam, é certo, com a influência que o Português tem nas Ciências e nas Tecnologias, onde a língua dominante/veicular é por demais conhecida, e onde não se prevê uma inversão da situação a médio, ou até mesmo, a longo prazo. 
Contudo, a fulgurante expansão da Internet, a valorização activa das línguas próprias e a crescente exigência de que a informação nos chegue na nossa língua fazem prever uma situação e um futuro bastante auspiciosos para a tradução especializada em Português. 
Foi uma reflexão sobre A Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa no Mundo que a CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica propôs para este número. 
Os resultados são entusiasmantes.
EDITORIAL 
Heloisa Gonçalves Barbosa traça o perfil da tradução e dos tradutores, em todas as suas vertentes e nuances, no Brasil, alertando para as vantagens que a globalização traz e também para os perigos que acompanham este período de mudança e instabilidade. Hermínio DR discute a interacção do Português e do Tétum em Timor- Leste, chamando a atenção para o papel que a terminologia técnica está a desempenhar neste processo. Rosário Durão apresenta alguns dos resultados de um inquérito realizado aos Fornecedores de Serviços de Tradução científica e técnica do Inglês para o Português europeu e analisa algumas das suas implicações. 
Ana Julia Perrotti-Garcia demonstra a utilidade dos corpora personalizados para a tradução, ilustrando o processo de constituição de um corpus com recurso a uma ferramenta de acesso livre e gratuito na Internet, o «Corpógrafo». 
Vivina de Campos Figueiredo fala da sua actividade como tradutora, dos seus projectos para o futuro e do processo de tradução da obra de Susan Bassnett (Estudos de Tradução. Fundamentos de uma Disciplina) que lhe valeu uma menção honrosa na 12.ª edição da entrega do Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa. 
Edite Prada compara as características dos dicionários de Língua Portuguesa que existem actualmente no mercado, tendo em mente a sua utilização por tradutores. Gabriela Santos-Gomes alude a certos problemas que a tradução do Inglês coloca aos investigadores das Ciências Biológicas e a algumas estratégias que têm sido utilizadas para os solucionar. Paulo Ivo Teixeira faz uma apreciação crítica da presença dos cientistas e tecnólogos nos eventos relacionados com a tradução. 
João Roque Dias oferece um glossário sobre apoios, chumaceiras e rolamentos, o qual antecede de algumas observações sobre a tradução do termo bearings. Jorge Cruz apresenta um glossário de termos utilizados frequentemente em Cirurgia Vascular. E Vicky Hartnack brinda-nos com um dicionário bilingue de termos relacionados com as azenhas tradicionais que se encontram, principalmente, no norte de Portugal. 
Como relatórios de eventos e actividades temos o de Rosário Durão sobre a oitava edição do Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, subordinado ao tema da «Tradução e Inovação», e o de Ana Rita Remígio e Ana Cláudia Castro relativo às II Jornadas de Tradução e Teminologia em Biologia Molecular. 
Por último, na nova rubrica intitulada «Formação» (secção que pretende divulgar os cursos em que o ensino da tradução especializada de e para a Língua Portuguesa tem um lugar cativo), Idalina Ferreira Gomes divulga o Mestrado em Tradução Científica, Técnica e Médica do Imperial College, no Reino Unido, formação que se destaca pela ênfase dada à prática, às ferramentas de tradução e à tradução nas áreas das Ciências, Técnicas e Saúde. 
Em suma, a tradução científica e técnica de e para a Língua Portuguesa é uma realidade no mundo. 
4
EDITORIAL 
Gostaríamos, é verdade, de ter publicado textos que ilustrassem melhor a sua dimensão geográfica, a sua presença em todas as partes do mundo em que o Português também se fala – África, Oceânia, América do Norte e tantos outros países da Europa e da Ásia. 
Afazeres, talvez mesmo uma frágil consciência da importância de divulgar o que acontece e o que se espera venha a acontecer nesta área, não o permitiram. Mas ficaram promessas de o fazerem… 
Muito obrigada a todos os que tornaram este número possível. ■ 
5
ARTIGOS E C 
tradução e localização 
CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica, N.º 3, Nov. 2005: 6-24 OMUNICAÇÕES 
TRADUÇÃO, MERCADO E PROFISSÃO NO BRASIL 
HELOISA GONÇALVES BARBOSA 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil 
Resumo: 
Busca-se fazer um breve exame do mercado de trabalho de tradutores e intérpretes no Brasil. Discute-se a tradução para o mercado editorial, a tradução técnica e a juramentada, a tradução para a mídia, a localização e a tradução de websites, bem como a interpretação simultânea e a interpretação de língua brasileira de sinais. Abordam-se as associações profissionais e a transição dos profissionais da área da autonomia para a constituição de empresas. 
Palavras-Chave: 
Tradução; Interpretação; Localização; Libras; Mercado. 
Abstract: 
This paper reviews the Brazilian market for translators and interpreters under the following headings: literary translation, technical and sworn translaion, translation for the media, website translation and localization, conference interpreting and Brazilian sign language interpreting. Professional associations are also discussed, a is the transition from free- lancing to incorporation. 
t 
s 
t 
Keywords: 
Translaion; Conference interpreting; Localization; Brazilian sign language; Market.
ARTIGOS E C 
OMUNICAÇÕES 
7 tradução e localização 
INTRODUÇÃO 
Há um amplo consenso de que o mercado de tradução está em expansão no Brasil e no mundo. Uma breve pesquisa na Internet faz surgir muitas vezes a expressão «em explosão» para qualificar este mercado. No entanto, não parece haver dados numéricos confiáveis a respeito do assunto. Por outro lado, parece impossível ignorar que a globalização bem como a conseqüente integração dos vários mercados vêm contribuindo para o crescimento da profissão, conforme observa o jornal Folha de S. Paulo, de circulação em todo território brasileiro: «o serviço de tradutor tem mais demanda justamente pelo aumento da circulação de informações pelo mundo, resultado da globalização». 1 
Nas palavras de Lia Wyler, conhecida tradutora e pesquisadora, os profissionais da área que atuam no mercado, hoje, 
«São tradutores de obras literárias e técnicas para editora; tradutores assalariados e autônomos que traduzem textos de circulação interna em empresas comerciais e públicas; intérpretes e tradutores de conferências; tradutores públicos e intérpretes comerciais; tradutores de peças teatrais; tradutores de letras de músicas; tradutores para legendas de filmes; tradutores para dublagem de filmes e vídeos; tradutores que transcrevem fitas gravadas; e, mais recentemente, tradutores de sites da Internet e tradutores especializados em localização — a tarefa de tornar um produto consumível pelo mercado brasileiro.» 2 
Para melhor entender o que ocorre, atualmente, nessa profissão, pode-se dividi-la em áreas de atuação, desde o mercado editorial, passando pela tradução para empresas e particulares, pela localização e tradução de websites, pela tradução para a mídia, até chegar à tradução oral, ou, melhor dizendo, à interpretação — não só a de conferências, mas todas as suas modalidades. 
1 SILVA, Fábio Porto. “Globalização amplia mercado de trabalho para tradutor e intérprete.” Folha de São Paulo, 18/04/2002 - 11h55. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u8890.shtml>. Acesso em 21 de setembro de 2005. 
2 WYLER, Lia. Línguas poetas e bacharéis: uma crônica da tradução no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2003, p. 13.
ARTIGOS E C 
OMUNICAÇÕES 
O MERCADO EDITORIAL 
A tradução de obras literárias, em prosa ou verso, solicitada por editoras, é aquela atividade considerada por muitos como sendo a mais tradicional dos tradutores, não só no Brasil, mas em todo o mundo. De fato, a importância do mercado editorial brasileiro não pode ser negada. Embora o número de livrarias existente no país ainda possa ser considerado relativamente pequeno, o parque editorial é imenso e, nos últimos vinte anos, tem havido uma grande expansão das redes de livrarias (algumas de propriedade de editoras), tais como Siciliano, Saraiva e Sodiler. 3 Vêm crescendo, também, as ofertas on-line, encabeçadas por essas mesmas redes de livrarias, pelas próprias editoras e por outras empresas, como a Livraria Cultura, 4 sendo que pelo menos um popular site de compras, o Submarino, 5 oferece livros. 
Ao falar do parque editorial brasileiro, cabe uma pequena comparação com o volume editorial da América Espanhola: «em apenas um ano, na década de sessenta, os países hispano-falantes da América Latina publicaram cerca de trezentas novas obras de ficção, enquanto o Brasil, sozinho, no mesmo período, publicou duzentos e oitenta novos romances». 6 O levantamento anual realizado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) juntamente com a Câmara Brasileira do Livro (CBL) indica que 34.858 títulos foram publicados em 2004, totalizando 320.094.027 exemplares produzidos e 288.675.136 exemplares vendidos. 7 Segundo Lia Wyler, porém, de 60 a 80 % do total desta produção editorial é representado por traduções. 8 De fato, um levantamento realizado por mim 9 na semana de 18 a 24 de setembro de 2005 no jornal O Globo, importante veículo de circulação nacional, e na revista semanal tradução e localização 
Embora o número de livrarias existente no país ainda possa ser considerado relativamente pequeno, o parque editorial é imenso e, nos últimos vinte anos, tem havido uma grande expansão das redes de livrarias 
3 Cf. <http://www.livrariasaraiva.com.br/>; <http://www.siciliano.com.br/>; <http://www.soliler.com.br>. 
4 Cf. <http://www.livrariacultura.com.br>. 
5 Cf. <http://www.submarino.com.br/>. 
6 OLINTO, Antônio. “Foreword.” In: MONTELLO, Josué. Coronation Quay. Trad. M. Henderson. Londres, Rex Collings, 1975, p. v. Minha tradução. 
7 Cf. SNEL: <http://www.snel.org.br/diagnostico.asp>; CBL: <http://www.cbl.org.br/pages.php?recid=57>. 
8 WYLER, Lia C. da C. A. A tradução no Brasil: ofício invisível de incorporar o outro. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1995. Mimeo., p. 8. 
9 BARBOSA, Heloisa Gonçalves. “A tradução e o polisistema cultural: o caso do Brasil.” Trabalho apresentado na Mesa Redonda “Tradução, confronto e pontes entre as culturas” no I Simpósio Internacional de Letras Neolatinas - Entre moinhos e livros: audácias e impasses da modernidade. (Homenagem a Cervantes), Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 26 a 30 de setembro de 2005. Ver resumo em: Programa & Resumos, p. 66. O 
8
ARTIGOS E C 
tradução e localização 
informativa VEJA, nas colunas relativas aos dez livros mais vendidos no período, desenhava-se o quadro que descrevo a seguir. 
OMUNICAÇÕES 
Na categoria denominada «ficção», constavam oito traduções de obras de autores norte-americanos que poderiam ser facilmente classificadas como best-sellers (obras leves, de leitura rápida) e a tradução de uma obra do festejado autor colombiano Gabriel Garcia Márquez (Memórias de minhas putas tristes). 10 Somente o décimo livro da lista é de um brasileiro, Jô Soares (Assassinatos na Academia Brasileira de Letras), 11 autor que traz, como parte de seu cabedal, uma longa carreira televisiva e teatral, primeiramente como comediante e, hoje, como apresentador de um talk-show calcado nos modelos da TV norte-americana. 12 
Na categoria identificada pelos veículos pesquisados como «não-ficção» havia seis livros estrangeiros, traduzidos, contra quatro brasileiros. Na última categoria indicada, «auto-ajuda», VEJA indicava nove livros traduzidos, contra um brasileiro. O jornal O Globo, que listava apenas cinco obras, apontava duas estrangeiras contra três brasileiras. Este jornal incluía uma última categoria, a de literatura infantil, na qual citava três livros estrangeiros contra um brasileiro. 
A relevante presença das categorias «não-ficção» e «auto-ajuda», nas listagens consultadas, aponta para o fato de que não é a grande literatura que é consumida, apesar do atual movimento em direção à re-tradução das grandes obras literárias. Algumas dessas são oriundas do russo, tais como, Crime e castigo 13 e Os demônios 14, de Dostoievski, traduzidos por Paulo Bezerra, e do inglês, como Ulisses 15, de James Joyce, traduzido por Bernardina da Silveira Pinheiro, ambos os tradutores sendo pesquisadores e professores universitários. Há ainda outras áreas que têm tido grande 
s r 
levantamento foi feito com a finalidade de verificar o que os meios de comunicação registravam como tradução em um determinado período de tempo, na cidade do Rio de Janeiro. 
10 MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Memórias de minhas putas tristes. Trad. Eric Nepomuceno. São Paulo: Record, 2005. 
11 SOARES, Jô. Assassinatos na Academia Braileia de Letras. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 
12 Talvez não por coincidência, esses dois livros são vendidos juntos, em oferta especial com desconto, pelo site Submarino: <http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp? Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=731020&ST=CT175742>. 
13 DOSTOIEVSKI, Fiodor. Crime e castigo. Trad. Paulo Bezerra. Coleção Leste. São Paulo: Editora 34, 2001. 
14 DOSTOIEVSKI, Fiodor. Os Demônios. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2004. 
9 
15 JOYCE, James. Ulisses. Trad. Bernardina da Silveira Pinheiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
ARTIGOS E C 
tradução e localização 
crescimento editorial, como, por exemplo, a tradução e edição de textos religiosos, o que se pode atribuir à penetração das seitas evangélicas no Brasil.16 
OMUNICAÇÕES 
Do ponto de vista daquele que exerce a profissão, porém, este grande parque editorial, altamente estruturado no país e com representação no exterior (nas feiras do livro, como a de Frankfurt, por exemplo), não redundou, necessariamente, em uma melhor organização da profissão nem em melhores condições de trabalho ou melhor remuneração para os tradutores. A última Assembléia Geral 17 do SINTRA — Sindicato Nacional dos Tradutores — contou com a presença significativa de intérpretes, enquanto compareceram apenas dois tradutores que trabalham para editoras. Nessa assembléia, foi mantida a recomendação de preço «por lauda com 30 linhas por até 70 caracteres com espaço por linha (igual a cerca de 2.100 caracteres por página, com espaços)», 18 fixado em R$ 24,00 (vinte e quatro reais) para traduções de um idioma estrangeiro para o português, com a ressalva: «direitos autorais à parte». 
Embora esta ressalva possa parecer pouca coisa, constitui um passo adiante para dar condições melhores de lutar pelos seus direitos a uma categoria de profissionais que mal começou, no Brasil, a tentar cobrar, das editoras, os direitos autorais relativos às suas traduções. A outra conquista, referente à sugestão de preços elaborada pelo SINTRA foi a retirada do termo «técnica» da rubrica «tradução técnica», deixando-se apenas «tradução». Com essa alteração, espera-se demonstrar que toda tradução é «técnica» (mesmo uma carta de amor pode ser muito técnica) e proporcionar um maior poder de negociação ao tradutor que trabalha para editoras. Esse profissional, ao contrário do mito popular, raramente é responsável pela tradução da grande obra literária, em prosa ou verso (sendo esta a província de escritores, professores e pesquisadores, raramente do profissional tradutor), mas traduz primordialmente best-sellers, não-ficção, obras de auto-ajuda, livros científicos, de divulgação científica e técnicos. 
A fatia mais organizada do mercado de tradução técnica é a das chamadas “traduções juramentadas” 
s 
16 Cf. SILVA, Lucília Marques Pereira da, Pesquisa auto-etnográfica do processo tradutório: desenvolvimento de metodologia e análise do uo de buscas externas. Programa Interdisicplinar de Lingüística Aplicada, Faculdade de Letras, UFRJ, 2005. Mimeo. 
Cf. ESTARNECK, Édson de Siqueira. A questão da neutralidade do intérprete no contexto de cruzadas evangélicas. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2003. Mimeo. 
17 Ver ata em <http://www.sintra.org.br/site/>. 
10 
18 Cf. <http://www.sintra.org.br/site/index.php?pag=valores>.
ARTIGOS E C 
tradução e localização 
OMUNICAÇÕES 
A TRADUÇÃO TÉCNICA 
Levando em consideração os fatos expostos acima, pode-se concluir que o maior segmento do mercado da tradução é, provavelmente, o das traduções (tradicionalmente consideradas) técnicas, seja para editoras, empresas, ou para o público em geral. É plausível supor, na realidade, que o mercado de traduções extra-editoras seja muito maior do que o das editoras, mas parece totalmente impraticável mapeá-lo, já que essas traduções podem ser feitas em todos os tipos de circunstâncias possíveis. São as traduções juramentadas, as traduções para empresas em geral, para a indústria da localização e a tradução de websites, sem falar nas traduções para particulares, que envolvem desde os abstracts de dissertações e teses até o manual da câmara fotográfica nova da vizinha ou o cardápio do restaurante da esquina. 
A tradução juramentada 
A fatia mais organizada do mercado de tradução técnica é a das chamadas «traduções juramentadas». No Brasil, as traduções de documentos oficiais devem ser feitas pelos denominados «Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais», cujo trabalho tem fépública (ou seja, suas traduções são aceitas como documentos oficiais em todas as instâncias legais). São os mais antigos profissionais em exercício na área no país e os únicos cuja profissão é regulamentada, o que ocorreu através de um Decreto Real em 1851, 
19 regulamentado pelo Decreto n.º 13.609, de 21 de outubro de 1943 20, já na República. 
Para exercer a profissão, esses tradutores devem ser aprovados em Concurso Público realizado pelas Juntas Comerciais de cada estado do Brasil. Nenhum nível de instrução ou treinamento prévio é exigido para inscrição no concurso, sendo que é possível habilitar-se para quantos idiomas se desejar. Uma vez aceito pela Junta Comercial, o tradutor obtém o direito a exercer a profissão, direito esse que é vitalício. 
São também as Juntas Comerciais que estabelecem os honorários a serem cobrados, por lauda de 25 linhas com até 50 toques, publicando uma tabela de preços no Diário Oficial da União. Esses preços são, atualmente, para o Estado de São Paulo: Tradução (do idioma estrangeiro para o português): R$ 25,00 por lauda; Versão (do português 
19 BARBOSA, Heloisa Gonçalves e WYLER, Lia, Brazilian Tradition. In: BAKER, Mona (ed.) Routledge Encyclopedia of Translation Studies. Londres: Routledge, 1998, p.331. 
11 
20 Cf. <http://www.atprio.com.br/pages/13609_1.htm>.
ARTIGOS E C 
tradução e localização 
para o idioma estrangeiro): R$ 31,00 por lauda, de acordo com a Deliberação Jucesp n.º 01/04 (publicada em 17 de fevereiro de 2004). 21 
OMUNICAÇÕES 
Os profissionais da área, a partir de 1959, passaram a organizar-se em associações, com a finalidade de proteger seus interesses profissionais (Cf. BARBOSA e WYLER 1998, p. 331) e zelar pelo bom exercício da profissão. As duas associações mais conhecidas são a Associação dos Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais do Estado de São Paulo (ATPIESP) e a Associação dos Tradutores Públicos do Rio de Janeiro (ATP). 22 
Entre esses interesses profissionais está, naturalmente, a renovação de quadros, pois o intervalo entre os concursos chega a ultrapassar a marca dos vinte anos. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, o último concurso foi realizado em 1982, tendo sido aproveitados apenas catorze dentre os 600 candidatos que se apresentaram. O resultado dessa situação é que há uma grande carência de profissionais na área, devido, principalmente, às vagas abertas pelo falecimento de tradutores. Para remediar a situação, a lei permite que juízes «juramentem» tradutores ad hoc para atuarem nos tribunais e em outras situações exigidas por lei. Também os consulados têm a possibilidade de habilitar tradutores e intérpretes na medida da necessidade do envio de documentos traduzidos para o exterior. 
Infelizmente, porém, um segundo resultado da situação existente é que alguns tradutores juramentados permitem que outros tradutores façam traduções em seu lugar, as quais assinam posteriormente, outorgando-lhes fé pública. Esta prática é ilegal e prejudica tanto as associações de tradutores públicos (pois esses tradutores ilegais não pertencem a elas) como o sindicato da categoria (pois esses tradutores ilegais não prestam sua contribuição sindical, como o fazem os tradutores juramentados). Ficam prejudicados, enfim, todos os profissionais da área e seus clientes, pois a prática citada exime o poder público da responsabilidade de remediar uma situação caótica (na medida em que fornecem um paliativo ilegal), priva as associações da força de que necessitam para atuar em prol da categoria e deixa inseguro o cliente quanto à credibilidade do trabalho do tradutor. 
Os milhares de outros tradutores que provavelmente atuam no campo das traduções técnicas para empresas e particulares o fazem a descoberto de qualquer apoio ou restrição legal 
Autônomo ou empresário? 
Os milhares de outros tradutores que provavelmente atuam no campo das traduções técnicas para empresas e particulares o fazem a descoberto de qualquer apoio ou restrição legal. Embora a profissão tenha sido reconhecida por Portaria do Ministério 
21 Ver “Tabela e Regulamentos” em <http://www.atpiesp.org.br/area.html#>. 
22 Cf. <http://www.atpiesp.org.br/> e <http://www.atprio.com.br/pages/menu.htm>. Essas duas páginas são riquíssimas fontes de informações para quem se interessar pelo assunto. 
12
ARTIGOS E C 
tradução e localização 
do Trabalho (n.º 3.264 de 27 de setembro de 1988), 23 como resultado dos esforços da ABRATES — Associação Brasileira de Tradutores 24 — que veio a se tornar o Sindicato da categoria, nunca foi regulamentada, de tal forma que não existe um órgão controlador que possa fiscalizar o exercício da profissão ou impor critérios para o ingresso nela. O Sindicato, por sua vez, não tem tido a necessária força política para um verdadeiro apoio aos profissionais da área, nem para a sustentação dos preços que sugere, quer por parte dos prestadores de serviço, quer por parte de seus contratantes. Esse insucesso pode dever-se a vários fatores, entre eles estando a amplitude do território nacional e o reconhecido isolamento dos tradutores, os quais impedem uma maior mobilização da categoria. 25 
OMUNICAÇÕES 
Em adição à situação legal ambígua em que se encontra a profissão, a pesadíssima carga tributária que recai sobre o prestador de serviços, no Brasil, tem forçado os tradutores (e intérpretes) que prestam serviços a empresas a se tornarem empresários eles mesmos. Isso ocorre principalmente porque, além dos demais impostos, o contratante é obrigado a pagar, ao INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social 26 – a título de contribuição previdenciária, um valor igual a 20 % do preço total do serviço prestado, além dos 11 % pagos pelo contratado. Com a finalidade de evitar mais esta taxação, os contratantes se recusam a aceitar prestadores de serviço autônomos. Essa recusa tem forçado os tradutores e intérpretes que desejam continuar ativos em um mercado altamente competitivo a abrirem pequenas empresas, em geral apenas com o número mínimo de sócios exigido por lei. Com isto, esses profissionais passam a ser empresários e a estar fora do alcance do Sindicato da categoria, pois não há sindicato patronal (aquele ao qual as empresas devem pertencer) para empresas de tradução e interpretação no Brasil. 
23 Diário Oficial da União, 03 de outubro de 1988. 
24 <http://www.abrates.com.br/>. 
25 O SINTRA, apesar de ser um sindicato de âmbito nacional, tem, hoje, apenas cerca de 250 associados em dia com suas contribuições. 
13 
26 <http://www.mpas.gov.br/>.
ARTIGOS E C 
OMUNICAÇÕES 
A localização e a tradução de websites 
Um número expressivo de empresas de tradução vem surgindo, no Brasil, nos últimos quinze anos, justamente na área de localização — a tradução e adaptação de softwares 27 — segundo Vagner Fracassi, presidente da ABRATES, que exerce, ele mesmo, a profissão de tradutor nessa área. 28 É imenso o mercado brasileiro de localização e tradução de websites, já que o país é um dos maiores usuários da Internet e um dos maiores consumidores de produtos de informática do mundo. A localização desses produtos é imprescindível, já que há, em primeiro lugar, a necessidade de tradução para o idioma português e, em segundo, a necessidade da adaptação às características culturais do país. Estando o país no hemisfério sul, por exemplo, é necessário adequar os fusos horários e o horário de verão a essa realidade. Outra necessidade de adaptação ocorre porque, tal como a maioria da Europa, o Brasil utiliza o sistema métrico decimal, ao contrário dos países de cultura anglo-saxônica. No entanto, o português do Brasil em tanto difere do português europeu que foram fracassadas as tentativas de aqui re-utilizar localizações feitas em Portugal. 29 
O significativo volume de trabalho na área de localização vem tendo grande influência sobre a profissão no Brasil. Além das circunstâncias tributárias apontadas acima, que forçam o tradutor a sair da autonomia para se tornar empresário, Fracassi aponta para a reformulação da empresa de tradução trazida pela indústria da localização: ao contrário de ser uma pequeníssima empresa, contando somente com os sócios obrigatórios pela legislação, cada um trabalhando em sua tarefa particular, as firmas ligadas à localização são grandes empresas que gerenciam grandes projetos. Muitas dessas grandes empresas repassam parte das suas tarefas a empresas menores. Outras são tão grandes que têm identidade supranacional. 30 
tradução e localização 
É imenso o mercado brasileiro de localização e tradução de websites, já que o país é um dos maiores usuários da Internet e um dos maiores consumidores de produtos de informática do mundo 
27 «Localization (L10N) is the process of adapting a product or service for a particular country orregion. This includes translation, but goes beyond it. Localization means making sure that graphics, colors, and sound effects are culturally appropriate, and that things like dates, calendars, measurement units and monetary notations are in the correct format.» <http://www.sdl.com/localization-information/white-papers-articles/white-papers- list/white-papers-localization-glossary.htm>. 
28 FRACASSI, Vagner. Mesa redonda de abertura do Simpósio de Tradução do V Encontro Nacional de Profissionais de Idiomas SENAC, intitulada “Tradução, um mercado em expansão”. SENAC, Rio de Janeiro, 30 de julho de 2005. 
29 Dois pequenos exemplos. No Brasil, diz-se «tela» e «mouse», enquanto, em Portugal, se diz «ecrã» e «rato». 
30 Já atuava no Brasil, por exemplo, a empresa internacional Bowne Global Solutions, que acaba de ser adquirida pela Lionbridge Technologies, tornando-se a última, agora, uma mega- 
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tradução e localização 
Qualquer que seja o tamanho dessas companhias, nenhuma pode prescindir do trabalho em equipe. Há gerenciadores de projeto, terminólogos, lexicólogos, engenheiros de informática, designers, tradutores e revisores. Com a expansão dessas empresas, grandes modificações são trazidas à profissão: o tradutor, acostumado a trabalhar sozinho, passa a se ver como membro de uma equipe, tendo de obedecer a manuais de estilo, manter glossários e de se preocupar em manter a coerência terminológica em grande quantidade de textos. 
OMUNICAÇÕES 
Apesar de fundamentar-se no trabalho em equipe, porém, muitas dessas empresas, sobretudo as menores, que aceitam as tarefas que lhes são repassadas pelas empresas maiores, não têm condições de assumir o tradutor como empregado permanente, registrado, «com carteira assinada», como se diz no Brasil. A intensa carga tributária brasileira força-os a exigir desses trabalhadores que também se tornem minúsculas empresas, deixando-os, do mesmo modo, a descoberto de qualquer ação sindical. 
No entanto, não se deve pensar que a remuneração para esses serviços seja melhor do que em outros segmentos do mercado. Apoiadas no fato de que as ferramentas eletrônicas em muito facilitam e aceleram o trabalho do tradutor, essas empresas pagam quantias irrisórias a seus prestadores de serviços. Embora não haja sugestão de preços para esses serviços por parte do SINTRA, qualquer levantamento permite verificar que não passa de R$ 0,04 a R$ 0,09 (de quatro a nove centavos de real) por palavra. 31 Além disso, uma vez que essas traduções obrigam à utilização de algum programa de memória de tradução, 32 só costumam ser pagas integralmente as palavras que atinjam 60 % ou menos de match. 33 
A utilização das memórias de tradução, por sua vez, vem-se difundindo inexoravelmente no mercado. As grandes empresas, estatais ou privadas, já pedem que os serviços sejam cotados, para concorrências de preços, levando-se em consideração que a tarefa será executada com auxílio de uma memória de tradução. Alguns 
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empresa na área. Ver: “Lionbridge completes acquisition of BGS”. Confluence. A Meeting Point for Thought Leaders, Volume 11, outubro de 2005, em <http://www.prayag.com/confluence/ vol_11/deal_beat.htm>. 
31 Na cotação cambial para o dia 28 de outubro de 2005, um euro é igual a 2,78 reais. Assim, nove centavos de real (R$ 0,09) são iguais a mais ou menos 0,03 euros. 
32 «Translation memory - A daabase of sentences and phrases and their tanslated counterpart, which has been built from previous translations of a document or series of documents.» Localization Glossary. <http://www.sdl.com/localization-information/white-papers-articles/ white-papers-list/white-papers-localization-glossary.htm>. 
33 «100 % match - The occurrence of a sentence or phrasein a file that is identical to a sentenceor phrase stored in a translation memory. For a100 % match-also called a "perfect" match- the sentence or phrase must be identical, i.e. the words, structure and formatting of the sentence must be the same. The first time the sentence or phrase occurs, requires full translation. Subsequent occurrences of the sentence or phrasewill be recognized a a 100 % match by the translation tool.» Localization Glossary. 
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OMUNICAÇÕES 
determinam qual memória de tradução especificamente deverá ser utilizada. A maioria solicita que seja definido, antecipadamente, por qual percentual de match o tradutor espera ser remunerado de forma integral, com detalhamento de outros percentuais. 
Assim, o tradutor que pretende trabalhar para empresas deve munir-se de um equipamento de primeira linha: computador potente, provedor de Internet de banda larga, pelo menos um software de memória de tradução, além, é claro, de ter de acrescentar a seus conhecimentos lingüísticos os conhecimentos necessários para utilizar tais programas. Deverá, sobretudo, estar preparado para trabalhar com prazos que, segundo Nelson Rodrigues, «são absurdos de curtos» hoje em dia. 34 
A tradução para a mídia 
Rodrigues (2005) fala de um ponto de vista privilegiado. Atuando expressivamente no mercado de legendas para programas de TV a cabo e aberta como tradutor autônomo, conseguiu tornar-se um dos membros do grupo brasileiro que adquiriu a Geminivideo,35 conhecida empresa do ramo. Os relatos desse tradutor nunca deixam de impressionar. A exigüidade de prazos é o primeiro susto: segundo ele, determinados programas noticiosos e esportivos são traduzidos pela madrugada afora, para serem exibidos já de manhãzinha. 
O segundo susto é pior: algumas das empresas que fazem essas traduções se encontram fora do Brasil (por motivos técnicos e financeiros), nos Estados Unidos. Sabe-se, por exemplo, de uma fracassada tentativa de criar um pólo de produção de legendagem de programas de TV em Manaus, a zona franca de comércio no Brasil. O que parecia ser um trunfo técnico revelou-se um percalço no momento da contratação de tradutores, pois não foi possível encontrar o número necessário de profissionais gabaritados no extremo norte do país, longe das grandes cidades concentradoras de produtos culturais. 36 
tradução e localização 
Pode-se supor, também, que revistas noticiosas e de ciências façam traduções. É, porém, raro encontrar uma publicação que apresente o nome do(s) tradutor(es) em sua ficha técnica 
34 RODRIGUES, Nelson. Mesa redonda de abertura do Simpósio de Tradução do V Encontro Nacional de Profissionais de Idiomas SENAC, intitulada “Tradução, um mercado em expansão”. SENAC, Rio de Janeiro, 30 de julho de 2005. 
35 «Coordenador de tradução de seriados e filmes. Formado em Direito e pós-graduado em Tradução Inglês-Português pela PUC-Rio. Trabalhou no Departamento de Legendagem da Globosat e prestou serviços para o Cisneros Television Group (Claxson), Canal AXN, Editora Rocco entre outros. Atualmente é professor de tradução nos cursos de especialização e pós- graduação da PUC-Rio e no curso de tradução do Senac.» <http://www.geminivideo.com.br/>. 
36 Cf. SÁ, Marcos Francisco Pedrosa Sá Freire de. A tradução para a preparação de legendas em português para programas televisivos de língua inglesa: estudo de dois casos. Dissertação de 
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tradução e localização 
Este estado de coisas faz com que brasileiros há longo tempo residindo no exterior, ou mesmo falantes de espanhol como língua materna, traduzam legendas para o português do Brasil, com resultados nem sempre satisfatórios. Com uma oferta, por uma das operadoras, de pelo menos trinta canais estrangeiros de TV a cabo no Brasil, sem falar na oferta de DVDs, vídeos e filmes, a ameaça que essa situação constitui para a língua pátria é sentida de perto pelos brasileiros. 37 
OMUNICAÇÕES 
Rodrigues (2005) é quem aponta alguns problemas desse mercado. Em primeiro lugar, os contratos de exibição são, muitas vezes, feitos em pacotes, de tal forma que tanto a legendagem como a dublagem já vêm prontas. Além desse problema para o público e o profissional que exerce a profissão, ocorre que são apenas duas ou três grandes empresas que realizam a maior parte do trabalho. 38 Ainda segundo Rodrigues (2005), outra dificuldade para a manutenção do profissional no mercado é a insegurança inerente a ele, que flutua ao sabor da cotação do dólar. 39 
Por outro lado, Rodrigues (2005) aponta a carência de profissionais gabaritados para o serviço, já que é necessário aprender a utilizar equipamentos e dominar as habilidades específicas da legendagem (Cf. SOUZA, 1999). Rodrigues (2005) salienta que «trata-se de uma técnica; este não é um trabalho que é feito por acaso». De acordo com ele, além do domínio da técnica, a principal qualidade que um legendador deve ter é a capacidade de síntese, de tal forma que possa fazer caber as falas originais em exíguas duas linhas com 24 a 32 caracteres. Rodrigues (2005) destaca, ainda, de maneira bastante forte, a grande necessidade que a indústria tem de bons copydesks ou revisores. 
É claro que, ao falar de legendagem, não se pode esquecer o mercado de dublagem. Apesar da quantidade imensa de programas dublados na TV aberta, do aumento do número de canais de TV a cabo que exibem somente programas dublados, dos filmes e desenhos infantis exibidos com dublagem nos cinemas e 40 dos vídeos e DVDs dublados 
mestrado. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 1999. Mimeo. 
37 Essa preocupação, talvez, uma das razões que motivou o Deputado Aldo Rebello (PC do B - SP) a apresentar o projeto de lei 1.676/99 que «Dispõe sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da língua portuguesa e dá outras providências», aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Câmara dos Deputados em 28/3/2001. Um depoimento da relatora do projeto, Deputada Iara Bernardi, é (PT-SP), encontra-se em: <http://www.partes.com.br/ em_questao06.html>. 
38 Algumas dessas empresas são conhecidas do público brasileiro que assiste TV a cabo: Globosat, Drei Marc, Geminivideo e outras. 
39 Um passeio pelo site da Geminivideo dá mais um susto: na seção «Estrutura» depara-se com a quantidade de equipamento importado (certamente comprado em moeda forte) necessária para o exercício da profissão. 
40 Na semana de 26 a 30 de novembro havia 37 filmes em exibição nos cinemas do Rio de Janeiro. Desses, sete eram brasileiros e os outros 30, estrangeiros. (Cf. BARBOSA 2005). 
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tradução e localização 
à venda e para aluguel em locadoras, esse mercado é ainda menos conhecido, tanto do público quanto do profissional ou pesquisador brasileiro. Embora alguns pesquisadores já tenham começado a tentar desvendar esta área, 41 muito pouco ainda é conhecido a respeito dela, e faltam números ou análises confiáveis que permitam discorrer sobre o assunto. 
OMUNICAÇÕES 
Um outro aspecto da tradução para a mídia é a tradução para jornais e revistas. Essa, de fato, constitui uma verdadeira incógnita. Sabe-se que as notícias internacionais circulam através de agências de notícias: UPI, France Presse etc. Deduz-se, então, que, se as notícias circulam em língua estrangeira, alguém as traduz. Ao olhar-se uma seção tal como a «Ciência e Vida», do jornal O Globo, por exemplo, é impossível não se perceber que se trata de matérias traduzidas, pelo seu próprio conteúdo (pesquisa de ponta realizada no exterior). No entanto, todas as vezes que tentei abordar jornalistas a respeito desse tipo de tradução, recebi uma resposta rápida, para encerrar o assunto: «Isso é jornalista quem traduz». Alguns sites de sindicatos de jornalistas chegam a indicar os preços de traduções, embora esta não seja atribuição de jornalistas, de acordo com a legislação em vigor. 
Pode-se supor, também, que revistas noticiosas e de ciências façam traduções. É, porém, raro encontrar uma publicação que apresente o nome do(s) tradutor(es) em sua ficha técnica. Recentemente, foram lançadas versões brasileiras de revistas tais como Scientific American. No entanto, em entrevista à TV a cabo a respeito de como essas revistas estão sendo adaptadas aos interesses do leitor brasileiro, seus dirigentes nada mencionaram a respeito da tradução ou dos tradutores. Assim, imagina-se que, nesta fatia do mercado, pelo menos, o tradutor continue invisível. 
O poder dos intérpretes de conferência de impor seus preços e parâmetros se deve, talvez, ao menos em parte, ao fato de trabalharem em equipe, ao contrário dos 
tradutores 
Uma interface entre a tradução para a mídia e a tradução literária é a tradução para o teatro, já que uma peça pode ser traduzida para ser lida ou para ser representada. Na semana de 26 a 30 de setembro de 2005, desenhava-se um panorama, no mínimo, curioso. Havia dezenove peças infantis em cartaz, das quais treze brasileiras e apenas seis, estrangeiras, em flagrante contraste com a produção midiática, onde dominam os produtos de origem estrangeira. Além disso, as seis peças que considerei estrangeiras são baseadas em temas da cultura mundial — Ali Babá, Cinderela, Don Quixote, Rapunzel, Tistou les pouces vertes (conhecido no Brasil como O menino dos dedos verdes), de Maurice Druon (mas o nome desse autor não é mencionado) e outra baseada em The Canterville Ghost, de Oscar Wilde —, com certeza recriadas inteiramente por autores brasileiros, embora isso não seja indicado com clareza nas publicações pesquisadas (VEJA e O Globo) (Cf. BARBOSA, 2005). 
41 Por exemplo: ARAÚJO, Vera Santiago. Ser ou não ser natural, eis a questão dos clichês de emoção na tradução audiovisual. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2000. Mimeo. 
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tradução e localização 
As peças teatrais para adultos, em cartaz no mesmo período, apresentavam um panorama semelhante. Havia quarenta e quatro peças brasileiras, contra sete estrangeiras. Mas aqui, também, o tradutor se mostrava invisível. O quadro abaixo, com os nomes dos espetáculos à esquerda e as atribuições de autoria e/ou tradução à direita, demonstra como é impossível fazer qualquer identificação, seja de autor ou tradutor: OMUNICAÇÕES 
Else 
Arthur Schnitzler – adaptação de Denis Pilão e José Luiz Jr. 
Greve de sexo 
texto: Aristófanes 
Lado a lado com Sondheim 
Stephen Sondheim - versão de Cláudio Botelho 
Major Bárbara 
texto: George Bernard Shaw 
Minha vida de solteiro 
texto: Neil Simon 
O doene imaginário t 
texto: Molière - adaptação de João Bethencourt 
Sonata de Outono 
texto: Ingmar Bergman 
Neste quadro, Aristófanes, Bernard Shaw, Neil Simon e Ingmar Bergman parecem ser autores de textos em português, enquanto bastou uma adaptação para que Molière, designado como autor do texto, fosse entendido por brasileiros. Fica claro, portanto, que há um mercado de trabalho na tradução de peças teatrais, mas que esses tradutores são tão invisíveis que nem sequer são considerados pelos veículos de informação. 
Cláudio Botelho, por sua vez, aparece como autor da «versão» das canções de Sondheim. O termo «versão», aqui, se aplica à tradução de letras de músicas, para serem cantadas. O usual é que essas traduções sejam feitas por compositores ou arranjadores (os famosíssimos Chico Buarque de Hollanda e Gilberto Gil, por exemplo) e não por tradutores, uma vez que o conhecimento de música é imprescindível. Botelho constitui um caso inusitado de tradutor que vem angariando fama nacional por emprestar voz brasileira a musicais e peças de teatro. 
A INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA 
Os principais profissionais que emprestam voz brasileira a falantes de todas as línguas são os intérpretes. Além da conhecida interpretação simultânea (ou de conferência), 
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tradução e localização 
atuam na interpretação consecutiva e de acompanhamento externo. 42 É, provavelmente, neste segmento do mercado, que se faz notar, de modo mais intenso, o impacto da globalização. Segundo Gisley Rabello Ferreira, empresária da área, 
OMUNICAÇÕES 
«Na última década, muitos empresários viram no Mercosul (Mercado Comum do Sul, que integra Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) 43 e no Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte, que reúne Estados Unidos, Canadá e México) 44, 1991 e 1993 respectivamente, oportunidades de expansão para os seus negócios. Eles viram também que, sem a tradução, isso não seria possível.» 45 
E, é claro, seria, igualmente, impossível sem a interpretação. 
Acrescente-se que não se trata somente da participação comercial do Brasil nessas entidades, mas, também, de sua atuação e de sua projeção política, notadamente na ONU 46 e na OMC, 47 sem falar na criação, pelo Brasil, da Comunidade Sul-americana de Nações (CASA), 48 que vem incrementando o número de conferências e congressos internacionais, bem como de reuniões de cúpula, as cimeiras, que têm tido lugar no país, gerando grande volume de trabalho para tradutores e intérpretes. 
Como exemplo expressivo, pode-se citar a Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBE) que, em comentário sobre a recente Reunião de Cúpula América do Sul-Países Árabes, realizada em Brasília, ressalta que «o segmento de interpretação simultânea é um dos que se prepara para lucrar. O encontro será traduzido para português, espanhol, inglês, francês e árabe. Cerca de 80 intérpretes foram contratados para o evento» (PAGEL, 2005). 49 
42 Cf. <http://www.sintra.org.br/institu/precos.php>. 
43 Cf. <http://www.mercosur.org.uy/>. 
44 Cf. <http://www.dfait-maeci.gc.ca/nafta-alena/agree-en.asp>. 
45 FERREIRA, Gisley Rabello. Os padrões de qualidade na tradução técnica e sua influência na profissionalização dos tradutores. Monografia de final de curso. Curso de Especialização em Tradução Inglês-Português, Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 2000. Disponível em <http://www.wordlink.com.br/monografia.pdf>. Acesso em 3 de outubro de 2005, p. 8. 
46 Cf. <http://www.onu-brasil.org.br/>. 
47 Cf. <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc/gatt.php>. 
48 Cf. <http://casa.mre.gov.br/>. 
49 PAGEL, Geovana. Reunião de cúpula deve injetar US$ 1,8 milhão na economia de Brasília. Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBE) Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Disponível em: <http://www.anba.com.br/fronteirasul.php?id=11>. 
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Os profissionais da interpretação são os de melhor remuneração e organização no Brasil. Não só possuem suas próprias associações, por exemplo, a ABTI - Associação Brasiliense de Tradutores e Intérpretes e a APIC - Associação Profissional de Intérpretes de Conferência, como são, em grande número, associados à AIIC - Association Internationale des Interprètes de Conférence. 50 O exercício da profissão é altamente esquematizado 51 e os intérpretes têm conseguido impor seus preços, pelo menos na capital federal e nas capitais metropolitanas. 
OMUNICAÇÕES 
O poder dos intérpretes de conferência de impor seus preços e parâmetros se deve, talvez, ao menos em parte, ao fato de trabalharem em equipe, ao contrário dos tradutores. Já de início, 
«Quando existe a necessidade de contratar intérpretes, o cliente costuma contatar um profissional que poderá se encarregar de formar a equipe, cobrando para tanto uma taxa de coordenação. Este profissional será o elo de ligação entre o cliente e a equipe, sendo responsável pela seleção adequada dos profissionais, a formalização dos contratos, a obtenção de material de estudo e outras eventualidades, como substituir profissionais na ocorrência de impedimentos etc.» (GRUETZMACHER e CAMPOS, 2005) 
Desta forma, a participação em uma equipe ou a sua coordenação propicia a interação face a face e a convivência a qual, por sua vez, torna-se terreno fértil para a associação profissional e para a luta por melhores condições de trabalho e por melhor remuneração. 
tradutores e intérpretes se vêem em um momento de instabilidade profissional que os faz transformar-se de trabalhadores autônomos em pequenos ou grandes empresários 
Noviços nessa luta são os intérpretes de Libras (a língua brasileira de sinais). Esses profissionais, até há bem pouco tempo, atuavam na área por serem ouvintes advindos de famílias com membros surdos, tendo aprendido a usar a Libras por este motivo. Dessa forma, seu trabalho era realizado em bases voluntárias, normalmente sem 
50 ABTI – Associação Brasiliense de Intérpretes de Conferência, <http://www.abti.org.br/ abti.htm>; APIC - Associação Profissional de Intérpretes de Conferência, <http://www.apic.org.br/website/ home/>; AIIC - Association Internationale des Interprétes de Conférence - <http://www.aiic.net/>. 
51 GRUETZMACHER, Jutta e CAMPOS, Sieni Maria, “Como contratar um intérprete de conferências.” 2005. Disponível em <http://www.sintra.org.br/site/index.php?pag=clientes>. 
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remuneração. 52 No momento atual, por conta de legislação que obriga a inclusão de crianças com deficiências na rede escolar 53 e que pretende estender a obrigatoriedade para outras esferas da atividade humana, 54 a necessidade desses intérpretes tem crescido geometricamente. 
OMUNICAÇÕES 
A conhecida jornalista Márcia Peltier, por exemplo, registra: 
«Pela primeira vez no país serão apresentadas peças com tradução/interpretação simultânea em libras, a língua dos sinais. A experiência começa hoje, com uma peça escrita por Jorge Amado, O gato malhado e a andorinha sinhá, que será apresentada pelo Grupo de Teatro e Mímica, de Portugal, no CCBB.» 55 
Com isso, o intérprete de Libras deixa de ser um trabalhador voluntário e procura sua profissionalização. Surgiram associações, tal como a ANGILIS, no Rio de Janeiro, que se associou ao Sindicato para, através dele, divulgar suas propostas de honorários. Surgiu uma diversidade de cursos de formação, em nível de extensão, como o da Universidade de São Francisco, em Bragança Paulista, Estado de São Paulo, ou o curso de Graduação Tecnológica em Intérprete de Libras da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. 56 
52 Ver Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS): <http://www.feneis.org.br/feneis/index.shtml>; e Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES): <http://www.ines.org.br/>. 
53 Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. CAPÍTULO V: Da Educação Especial. Disponível em <http://www.rebidia.org.br/direduc.html>. 
54 QUADROS, Ronice Muller de. “O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua brasileira.” Disponível em <http://www.ronice.ced.ufsc.br/publicacoes/minidic.pdf>. Projeto de lei para língua de sinais <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/259154.htm>. Legislação que embasa o serviço de interpretação de língua de sinais no Brasil <http://www.interpretels.hpg.ig.com.br/acessibilidade.htm>. 
55 PELTIER, Márcia. “Inclusão artística.” Jornal do Brasil, 14/5/2005. Disponível em <http://clipping. planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=194345>. 
56 Graduação Tecnológica em Intérprete de Libras, <http://www.estacio.br/politecnico/ cursos/interpretacao_sinais_surdo.asp>; Extensão Acadêmica de Introdução à Comunidade Surda e à Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, <http://www.saofrancisco.edu.br/noticias/ default.asp?rec=1923>. 
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CONCLUSÃO 
As evidências indicam, de fato, um crescimento vertiginoso do mercado de tradução e interpretação no Brasil. Os fatores responsáveis parecem ser, efetivamente, a globalização e a intensificação da participação do Brasil na comunidade internacional, seja do ponto de vista comercial ou do diplomático. O desenvolvimento interno do país não apenas reforça sua posição no panorama internacional, como gera atividades e empregos em áreas de tecnologia avançada, primordialmente no campo da informática, necessitando intensa atividade de tradução e interpretação. Em algumas áreas, como a interpretação de língua de sinais (Libras) ou a tradução juramentada, é a própria legislação brasileira que cria e alimenta a necessidade do profissional tradutor e intérprete. 
Testemunha o vigor desse mercado a criação de numerosos cursos de formação de tradutores no Brasil, em vários níveis, desde cursos livres ligados a instituições devotadas ao ensino de idiomas, 57 passando pelos cursos de graduação (Bacharelado em Tradução e Interpretação em vários idiomas) 58 e pelos cursos de pós-graduação lato sensu, 59 até chegar à recente criação do primeiro curso de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) no Brasil. 60 
Em meio a esse turbilhão de crescimento, porém, o mercado se encontra bastante desorganizado. Por um lado, tradutores e intérpretes se vêem em um momento de instabilidade profissional que os faz transformar-se de trabalhadores autônomos em pequenos ou grandes empresários. Um fator que contribui para o aumento dessa instabilidade é a introdução do computador que, ao mesmo tempo em que facilita o trabalho do tradutor, obriga-o a atender a prazos cada vez menores. Por outro lado, essa mesma ferramenta traz quantidades abundantes de trabalho, mas de um trabalho que só pode ser realizado por grandes equipes, forçando o tradutor a repensar sua identidade de operário solitário. 
essa mesma ferramenta [o computador] traz quantidades abundantes de trabalho, mas de um trabalho que só pode ser realizado por grandes equipes, forçando o tradutor a repensar sua identidade de operário solitário. 
57 Por exemplo, o curso de «Técnico em Tradução» do SENAC-RIO: <http://www.rj.senac.br/psenac/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2344&sid=77>. 
58 Ver: Onde estudar: <Hhttp://www.universiabrasil.net/ondeestudar/H; e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), <http://www.inep.gov.br/>. 
59 Ver, por exemplo, Tradução português-inglês, PUC-Rio, <http://www.pucrio.br/ensinopesq/ ccpg/especializacao.html/>. 
60 Cf. Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), <http://www.pget.ufsc.br/>. 
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Neste quadro tumultuado, nem o sindicato da categoria nem as associações de classe parecem conseguir oferecer o amparo necessário ao profissional da área, talvez com a honrosa exceção das associações dos intérpretes de conferência e dos tradutores juramentados. 
OMUNICAÇÕES 
Em suma, nas palavras de João Azenha, tradutor, pesquisador e professor da Universidade de São Paulo (USP): «O mercado de tradução está em expansão, mas apenas para os bons tradutores, apenas para aqueles com sólida formação, experiência e ética profissional» 61, esta última a única capaz de ampará-los neste momento de transição. ■ 
61 “João Azenha Junior, o premiado tradutor de O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder”. Redação da projekt. Disponível em: <http://www.delila.ws/brasilien/projekt/artikel/p34s5-8.html>. 
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CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica, N.º 3, Nov. 2005: 25-28 OMUNICAÇÕES 
TRADUÇÃO TÉCNICA EM TIMOR-LESTE 
HERMÍNIO DR 
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Portugal 
Resumo: 
Discute-se a interacção da língua portuguesa na fala de tétum em Timor-Leste. Analisa-se particularmente a tradução de uma para outra das duas línguas oficiais neste novo país, sobretudo no que diz respeito aos termos técnicos. Evidencia-se a fonética comum, mas com diferente ortografia. 
Palavras-Chave: 
Timor-Leste, línguas oficiais, fala, escrita, tradução. 
Abstract: 
This paper looks at the interaction between Portuguese and Tetum in Timor-Leste. Particular attention is paid to translation between these two official languages, especially as regards technical terms. The shaed phonetics and differences between the spelling systems are also discussed. 
r 
Keywords: 
Timor-Leste, official languages, speaking, writing, translation. 
O uso da língua portuguesa em Timor-Leste, conjuntamente com o tétum de Díli, dito tétum-praça, exerce um efeito integrador dos novos termos da actual civilização tecnológica no formato primitivo da língua veicular local. É evidente que, no país em formação, as linguagens específicas das várias técnicas desempenham uma função muito importante na modernização do jovem país. Mas há muitos aspectos básicos
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ainda por abordar. Que os mais incrédulos procuram adiar, talvez à espera de inconfessáveis concretizações. 
Na verdade, ambas as estruturas linguísticas têm que se acomodar, a fim de conseguirem sobreviver aos contágios hegemónicos trazidos pelos ventos da região: o malaio-indonésio, carregado na invasão opressiva da vizinhança ambiciosa, que ocorreu ao longo de 24 anos (de 1974 a 1998); e o inglês, ameaçador com nova derrocada, por diferente invasão, potencialmente de origem australiana. 
As energias em jogo naquele espaço estão a ser equilibradas pela língua portuguesa. Assim definiu a Assembleia Constituinte de Timor-Leste em 2002, e desta maneira age o primeiro Governo eleito, presidido por Mari Alkatiri: o tétum e o português constituem as duas línguas veiculares timorenses, uma para enraizar a tradição na identidade do povo e outra para implantar a modernidade terminológica nos usos e costumes do século XXI. 
É deste modo que se assiste, hoje, à integração de uma língua complexa, caracterizada por uma estrutura flexível e portanto versátil, noutra língua simples, articulada rigidamente e, por conseguinte, primitiva. Pratica-se uma simbiose linguística que ultrapassa a aglutinação dos léxicos, pois tem de se chegar à conformação das duas diferentes estruturas morfológicas e semânticas. Não parece fácil. Mas a prática corrente, ao longo do tempo, sedimentará a poeira que paira no ar. 
Menos complicada será a definição de regras fonéticas, já que os dois ‘espíritos’ vocálicos combinam bastante bem, consonantes que se mostram com os respectivos espíritos dos povos falantes. A experiência convivida, ao longo de vários séculos, efectuou a aproximação de maneira pacífica e fraterna. Agora, esta aproximação manifesta-se a mais ansiada. 
O processo de simbiose das duas falas revela-se claramente na imprensa escrita, tanto nos jornais diários, como nos semanários publicados na capital. Aí se encontram traduções de uma língua para outra, contemplando as preferências deste ou daquele leitor. Tais leituras são também inestimáveis para os apetites vorazes dos que, como eu, anseiam por entender como se poderão conjugar as distintas perspectivas numa única fala, a que chamarei hipoteticamente de ‘portétum’. 
O que acontece é que os tradutores, nesse jornalismo bilingue, nem sempre primam pela adequação à gramática. Nem tampouco pela elegância do estilo. Há aqui muito estudo por incentivar ou bastante conhecimento a adquirir e prática a desenvolver. Um trabalho que durará, certamente, gerações. No entanto, trata-se de um evidente campo aberto aos linguistas e à tradução. 
Para desfazer eventuais equívocos, repare-se que não referi directamente a linguística, nem a actividade profissional dos tradutores. Por um lado, devem ser os especialistas das línguas a ocupar-se da criteriosa fixação da harmonia da fala. E, por outro lado, é a tradução que se encontra à disposição de quem conhece os dois idiomas, apelando a tradutores profissionais, mas igualmente aos peritos de todas as actividades
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especializadas, que, bom será, dominem ambas as línguas. Pelo menos na actual fase de ordenamento societal, conducente a uma organização mais estruturada. 
A perspectiva de enriquecimento da estrutura do jovem país consiste em motivar todos os portugueses, naturalmente os que cooperem nessa construção civilizacional, a aprender as formas coloquiais reconhecidas pelo povo em geral. Até porque assim se estimulam as populações a assimilar a bela fala lusíada. O que não parece totalmente aceite. 
Onde melhor se apreende a possibilidade de juntar as duas línguas numa formulação híbrida é na televisão. Assiste-se a transmissões de entrevistas com os responsáveis pela condução dos negócios do Estado, normalmente os ministros das diversas pastas governamentais e também deputados parlamentares. Então, ouve-se o tétum popular imbricado no português técnico, pois são os termos das línguas específicas, próprias das novas ciências e tecnologias, que faltam à tradição. 
São exemplos disso algumas conversas transmitidas sobre as perspectivas da economia nacional ou as explicações regulamentares da justiça segundo o direito institucionalizado ou ainda as análises da educação projectada para o futuro próximo. Também testemunham os artigos que esses intervenientes remetem para os jornais. E merecem referência os letreiros de avisos públicos (sobre ambiente e salubridade) ou os painéis exteriores nas paredes ao longo das ruas (para chamamento à participação democrática), em curtas frases com a tecnicidade emprestada pelos dizeres portugueses. 
no país em formação, as linguagens específicas das várias técnicas desempenham uma função muito importante na modernização do jovem país 
A tradusaun em tétum faz-se, logicamente, pela semelhança fonética. É claro, acontece para além das expressões nativas da raiz linguística. Como só esta base tradicional se distingue nitidamente em ambas as práticas correntes, a ‘tradução’ tétum-português, tal como a reconversão inversa, corresponde sobretudo a uma adaptação linguística pelas mesmas sonoridades. 
Ora, é esta correspondência fácil que suscita algumas dificuldades. Na realidade, a formulação sintáctica numa língua influencia os arranjos sintácticos da outra. Evidencia-se uma tendência para escrever ‘mal’ nas traduções para português, por contaminação simpática da estrutura intrínseca ao tétum. A diferença na colocação dos qualificativos em relação aos substantivos e a inexistência do verbo ser ou ainda as distintas formas de aplicar iguais palavras ilustram as potenciais dificuldades. 
A carência do moderno vocabulário técnico em tétum é suprida pela terminologia portuguesa, de acordo com a orientação política determinada. Isto implica que sejam os peritos profissionais quem melhor traduz e reconverte a escrita. Mas a analogia fonética facilita esse trabalho, abrindo a porta a qualquer falante para que possa traduzir. O mais importante consiste em sentir por dentro o espírito das línguas. 
Deduz-se imediatamente que a principal tarefa dos linguistas dos dois países reside na construção imediata de regras simples e gerais de transcrição fonética do léxico. Nota- se uma prática diária que aponta no bom caminho: representação simbólica sem
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ambiguidades, independentemente das origens gregas ou latinas e francesas ou anglo- saxónicas das palavras lusitanas. O som /s/ é sempre grafado com a letra s, quer em português se escreva s (sino = sinu) ou c (cidade = sidade) ou ainda ç (ameaçar = ameasa). Do mesmo modo, a consoante k prevalece sobre o som gutural c (catana = katana) ou q (quinta-feira = loron-kinta). Mais exemplos podem ser referidos, como o caso do z no lugar de /z/ em português (cinzento = sinzentu) e de s (mesa = meza). 
Desta maneira, a tarefa de tradução ainda se espraia numa costa um tanto lábil. No dia em que as condições de escrita se encontrem normalizadas, pelo uso e seguindo acordos fixados, o trabalho de passar para a fala timorense aquilo que nós exprimimos, nos nossos modos de dizer, estará sujeito a menos enganos. Porém, não se justifica que a tradução inversa, grafada em português, apareça cheia de expressões mal construídas, como hoje acontece. 
Tudo indica que se tem de promover rapidamente o conhecimento generalizado da língua de Camões. O instituto com o seu nome já lá se encontra em actividade. Mas com que dinâmica? Certamente a possível. Mas será suficiente? De facto, sem uma decisão política interventiva, liberta de aparentes reservas, tudo permanecerá a rolar em movimento uniforme, cuja aceleração (pelas leis da física clássica) é nula. E haverá bastante tempo de espera? 
As universidades timorenses, actualmente em número de vinte, servem-se da língua indonésia para cultivar os seus futuros profissionais a nível superior, salvo honrosas excepções (talvez para afeiçoar as elites do futuro), pois os jovens que as frequentam só conhecem essa bahasa indonesia (como se diz ‘língua indonésia’ em malaio). Estes estudantes não entendem sequer o tétum nacional, quanto mais o português emprestado. Que esperança resta para as traduções entre as duas línguas? 
Parece que se tem mesmo de aguardar a chegada dos actuais alunos das escolas primárias e secundárias ao exercício activo das profissões, jovens que regurgitam risonhos e com uma surpreendente pronúncia portuguesa. Somente então se evidenciará a possibilidade de bem traduzir em Timor-Leste. Entretanto, permanece-se em tempo de mudança. Já que a evolução tudo justifica, até a aceitação profissional do amadorismo. Todavia, a instabilidade dos ventos pode crescer e tornar a história num ciclone ou até num furacão. ■
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CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica, N.º 3, Nov. 2005: 29-61 OMUNICAÇÕES 
PRIMEIRO RELATÓRIO DE UM INQUÉRITO A FORNECEDORES DE SERVIÇOS DE TRADUÇÃO CIENTÍFICA E TÉCNICA DE INGLÊS PARA PORTUGUÊS EUROPEU 
ROSÁRIO DURÃO 
Tradutora e Doutoranda, Portugal 
Resumo: 
Um dos principais objectivos do inquérito que deu origem a este relatório foi determinar quais as áreas de especialização dos Fornecedores de Serviços de Tradução (FST) científica e técnica de Inglês para Português europeu durante os últimos cinco anos (2000-2005). Paralelamente, procurámos obter dados que nos permitissem compor um retrato mais completo dos inquiridos, como seja, o seu perfil académico, linguístico e profissional. O inquérito foi colocado em linha e realizado entre os dias 1 e 31 de Outubro de 2005 no sítio do SurveyMonkey. Os dados revelaram que os Fornecedores de Serviços de Tradução científica e técnica de Inglês para Português europeu são maioritariamente jovens profissionais independentes que traduzem basicamente para a sua língua materna, o Português europeu. Na generalidade, são formados em Letras, especialmente em Tradução. Pouco mais de metade dos FST retira mais de metade do seu rendimento da tradução. Para um terço dos inquiridos ela é, mesmo, a sua única fonte de rendimento. A parcela que a tradução científica e técnica ocupa na actividade destes tradutores varia, mas representa mais de metade do volume de trabalho de cerca de 70 % dos FST. Quase 20 % apenas fazem este tipo de tradução. Traduzem, essencialmente, do Inglês para o Português europeu e, maioritariamente, documentos das Ciências Tecnológicas, das Ciências Médicas e das Ciências da Vida. Revelam uma grande consciência da importância da especialização na tradução de uma área científica ou técnica, aproveitando, em número razoável, as oportunidades de formação profissionalizante que se lhes apresentam. Os resultados foram interpretados como evidência dos progressos, tendências e insuficiências da formação e
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como indicadores úteis das principais áreas e subáreas de especialização. Mas também foram avaliados como motivo de certa preocupação, pela disparidade que encontrámos entre a grande quantidade de tradutores não especializados ou incipientemente especializados e o reduzido número de especialistas tradutores. Em conclusão, recordou-se o quanto esta situação poderá ser lesiva para a imagem e o futuro dos Fornecedores de Serviços de Tradução científicos e técnicos. 
Palavras-Chave: 
Fornecedores de Serviços de Tradução; Perfil; Domínios de especialização; Tradução científica e técnica; Tradução en > pt-PT. 
Abstract: 
One o the main objectives of this survey was to determine the areas of specialization of Scientific and Technical Translation Service Providers (TTSP) working from English into European Portuguese (EP) during the last five years. Data was also collected enabling us to build up a broader profile of the respondents, such as information about their academic, linguistic and professional background. The survey was answered on line at SurveyMonkey during the entire month of October, 2005. Data revealed that TTSP from English to targe European Portuguese are mostly young independent proessionals who are translating intotheir mothe tongue (EP). The majority are gaduates in Humanities and more particularly, in Translaion. For one third o the respondents, translating istheir only source of income. The proportion of scientiic and technical translation undertaken by these translators as against their otal producion varies, althoughfor abou 70 % of them itrepresensmore than half their work load. Almost 20 % only do this sort of translaion. They primarily translate from English to European Portuguese and most work is based on the Technological Sciences, Medicine and the Life Sciences. The respondents indicated that they were acutely aware of the need to specialize in translating scientiic andtechnical text anda reasonable number took advantage of the training couses open to them in this field. Theinterpretation of the data showed that pogress had been made and revealed trends as wellas failings in translator-education. The data also provided useful indicators as regards the main areas and sub-areas of specialization. Nevertheless, when evaluating respondents' answers, it was worrying to note that many translators were not specialized or were very incipiently so while only a small number were specialists or had specialized in certain fields. This dispariy is brought to bear upon the image translaors reflect and their overall situaion in the long run. 
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Keywords: 
Translaion Service Providers; Profile; Areas of specialization; Technical and Scientific translation; English > Portuguese (European) translation.
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1. INTRODUÇÃO OMUNICAÇÕES 
O inquérito 1 cujos resultados apresentamos insere-se no âmbito de um trabalho de investigação em curso sobre o ensino-aprendizagem da tradução científica e técnica que acompanha as indicações europeias para a formação superior em geral e para a formação inicial dos tradutores, ou seja, respectivamente, o projecto Tuning Educational Structure in Europe s 
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2 e o TNP – Thematic Network Project in the Area of Languages. Sub-Project 7: Translation and Interpreting 3. 
Uma das grandes novidades do projecto Tuning é a exigência de que o ensino superior se articule de perto com a realidade profissional: 
«employment is an important element. In this context, competences and skills can relate better and may help to prepare graduates for crucial problems at certain levels of employment, in a permanently changing economy. This needs to be one of the points of analysis in the creation of programmes and units through constant reflection and evolution.» (European Commission 2002, 19) 
Assim, a formação superior deve assentar em elementos recolhidos junto do universo profissional, que serão depois convertidos nas competências gerais e específicas (de cada área do saber e âmbito profissional) que orientam todo o processo de ensino- aprendizagem. 
As competências específicas dos estudantes de Tradução foram definidas pelo TNP como: 
1 O inquérito pode ser consultado no Apêndice a este artigo. 
2 Os objectivos do projecto Tuning são descritos da seguinte forma: «The main aim and objectiveof the project is to contribute significantly to the elaboration of a framework of comparableand compatible qualifications in each of the (potential) signatory countries of the Bologna process, which should be described in terms of workload, level, learning outcomes, competences and profile.» http://tuning.unideusto.org/tuningeu/index.php?option=content& task=view&id=3&Itemid=26. 
3 O objectivo global do TNP foi: “to respond to the challenges posed to Higher Education by a multilingual and multicultural Europe. It did so by developing recommendations and proposals for language and language-reated programmes designed to meet the demands in the professional, economic and social environments. The idea was to encourage universities to implement the recommendations and to support the proposals.» O projecto dedicado à tradução e interpretação foi designado sub-project 7, e compreende três documentos finais: um levantamento da situação da tradução e interpretação na Europa Central e Oriental, recomendações gerais para o ensino-aprendizagem da tradução e da interpretação e propostas específicas para os cursos na área. É à sua proposta para os cursos de «Tradução» que nos referimos. http://web.fu-berlin.de/elc/en/tnp.html. 
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ƒ competência linguística (na língua materna e na[s] estrangeira[s]); 
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ƒ competência cultural e temática; 
ƒ competência de tradução (compreensão do texto de partida, da sua finalidade, capacidade de o transpor para a língua de chegada; saber fazer investigação documental e terminológica; saber utilizar as novas tecnologias); 
ƒ competência de tradução de produtos informáticos (localização) e de materiais audiovisuais; 
ƒ competência profissional; 
ƒ competência teórico-prática. (European Language Council 1999a) 
No entanto, embora, na sua proposta de formação inicial, o TNP apresente descritores sucintos dos conteúdos de cada módulo curricular, o facto é que não especifica os resultados esperados da aprendizagem, ou seja, as competências específicas de cada unidade. Na cadeira de prática da tradução, que denomina «General Translation», uma disciplina que se prolonga por três dos quatro anos do curso, o TNP, ao contrário do que declara estar a fazer quando escreve: «It is thus of vital importance to develop the professional training of translators and interpreters» (European Language Council 1999b), também não faz referência à formação dos estudantes nos diversos tipos de tradução (tradução científica, tradução técnica, tradução jurídica…). E esta ênfase é fundamental, pois permite estabelecer a ponte para o mundo profissional onde as pessoas se classificam como tradutores científicos, tradutores técnicos, tradutores científicos e técnicos, tradutores jurídicos, etc., e não como tradutores gerais ou tradutores generalistas. 
a formação superior deve assentar em elementos recolhidos junto do universo profissional, que serão depois convertidos nas competências gerais e específicas (de cada área do saber e âmbito profissional) que orientam todo o processo de ensino-aprendizagem 
Neste sentido, aguardamos com expectativa a publicação do quadro comum de referência para a tradução e interpretação e do modelo europeu de portefólio de tradução e interpretação que vêm anunciados na Declaração de Germersheim (Kelletat 2004). 
Enquanto isto não acontece, porém, somos obrigados a recorrer a outras fontes para determinar quais serão as competências específicas dos tradutores científicos e técnicos. E, de facto, não é difícil encontrar bibliografia sobre o tema. Ela não é muito vasta, mas existe e há meio século que os autores procuram responder à questão das competências dos tradutores. 
Em 1958, J. E. Holmstrom referia o domínio temático, a competência de transferência interlinguística e a competência redaccional (38). Alguns anos mais tarde, Jean Maillot salientou os conhecimentos técnicos e linguísticos (1975, xxii), embora o seu entendimento dos últimos fosse essencialmente terminológico. Claude Bédard, por seu lado, apontou os géneros e registos técnicos quando falou das competências linguísticas dos tradutores técnicos e introduziu também a noção de competências de investigação (1986, 76, 121-122, 164-168, 176 e 192-210). Mais recentemente, no 
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capítulo de uma obra dedicada especificamente ao ensino da tradução científica e técnica, Silvia Gamero Pérez e Amparo Hurtado Albir reiteraram os conhecimentos temáticos, a terminologia, os géneros de documentos e a capacidade de o tradutor se documentar (1999, 140). 
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Daqui se poderá concluir que as competências específicas dos Fornecedores de Serviços de Tradução científica e técnica são, essencialmente, quatro: a competência temática e a competência terminológica (que estão interligadas), o conhecimento dos géneros técnicos e científicos (bem como a capacidade de os reproduzir) e a capacidade de efectuar a investigação documental necessária e adequada e de aplicar correctamente os seus resultados durante o processo de tradução. 
Como o trabalho de investigação que temos em curso tem por objecto o ensino- aprendizagem da tradução científica e técnica de Inglês para Português europeu, conhecer o universo dos profissionais que efectuam este tipo de tradução e dos clientes compradores de tradução transformou-se numa prioridade. Os objectivos que nos propomos alcançar, porém, levaram-nos a seleccionar, como temas focais, apenas as áreas de especialidade e os seus géneros de documentos. 
Não tendo encontrado questionários actuais e pormenorizados sobre estes temas relativamente à combinação e orientação linguística do nosso estudo, elaborámos as perguntas do inquérito com base em alguma bibliografia mais geral (por exemplo, Paiva 2004) e a partir de trocas de opiniões com tradutores técnicos profissionais. 
No inquérito e ao longo deste relatório, utilizamos as seguintes designações e correspondentes siglas «Fornecedores de Serviços de Tradução (FST)» e «Compradores de Serviços de Tradução (CST)». Embora a primeira possa ser objecto de uma interpretação mais ampla, como acontece no projecto de norma europeia (CEN 2004), por nós ela é utilizada como sinónima de «Tradutores». A utilização da segunda refere-se, inversamente, às empresas de tradução (intermediárias da tradução enquanto transacção comercial) e aos clientes finais dos documentos traduzidos. 
O conceito de «tradução científica e técnica», por seu lado, segue o sistema de classificação da UNESCO. Desta forma, «tradução científica» diz respeito à tradução de documentos de «Matemáticas», «Astronomia e Astrofísica», «Física», «Química», «Ciências da Vida», «Ciências da Terra e do Espaço», «Ciências Agrárias» e «Ciências Médicas» (códigos 12, 21 a 25, 31 e 32). A «tradução técnica» alude à tradução de documentos das «Ciências Tecnológicas» (código 33). 
1.1. Objectivos 
Os objectivos fundamentais do inquérito foram: 
a) determinar as principais áreas e subáreas de trabalho dos FST e dos CST na combinação e orientação linguística Inglês > Português europeu entre 2000 e 2005; e 
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b) conhecer os géneros de documentos mais traduzidos pelos mesmos FST e CST na mesma combinação e orientação linguística e no mesmo período de tempo. 
OMUNICAÇÕES 
A necessidade de compreender a situação envolvente e até de alvitrar algumas causas para a mesma convenceram-nos de que era importante introduzir um objectivo secundário, ou seja, de incluir perguntas que nos possibilitassem obter uma imagem mais inteira dos sujeitos da amostra, desde a sua formação académica a algumas circunstâncias da sua actividade profissional. 
2. METODOLOGIA 
A informação que se pretendia recolher tinha como universo os Fornecedores de Serviços de Tradução (tradutores) e os Compradores de Serviços de Tradução (empresas de tradução e clientes finais). Por este motivo, o inquérito inicial foi desdobrado em dois, cada um destinado ao grupo-alvo em questão. O inquérito aos FST continha 75 perguntas. O que se destinava aos CST era composto por um total de 58 perguntas. 
Os questionários foram colocados no sítio do SurveyMonkey, uma ferramenta que permite criar e colocar inquéritos em linha. O período de resposta decorreu entre os dias 1 e 31 de Outubro de 2005. Embora cada pessoa só pudesse responder ao inquérito uma vez, era-lhes dada a possibilidade de retomar o inquérito caso o tivessem suspendido e de, em qualquer altura, mesmo depois de o terem enviado, alterar as suas respostas. 
Os resultados apresentados neste relatório podem ser interpretados como evidência de que houve um grande aumento na oferta de cursos de Tradução nos últimos quinze anos em Portugal e de que essa formação teve, pelo menos, dois grandes méritos 
Os questionários foram concebidos de maneira a permitir que os inquiridos respondessem apenas às perguntas que se aplicavam ao seu caso. Ainda assim, o tempo médio de resposta era de 15 a 20 minutos para o inquérito aos FST e de 10 a 15 minutos para o dos CST. 
Os inquéritos foram divulgados por correio electrónico às seguintes pessoas e entidades: membros do Conselho Editorial desta publicação e a sua lista de subscritores; grupos de discussão sobre tradução na Internet; empresas de tradução sedeadas maioritariamente em Portugal; directório de tradutores independentes em linha, o ProZ.com; associações, sociedades, confederações e federações (empresariais, industriais e profissionais) não ligadas directamente à tradução; ordens profissionais portuguesas; e empresas nacionais e multinacionais e entidades de outra natureza. Na sua generalidade, as mensagens continham um pedido para que os destinatários dessem a conhecer o inquérito aos seus colaboradores directos e indirectos. 
As mensagens continham a indicação do endereço de acesso a cada um dos questionários, cabendo aos inquiridos a decisão de responderem ao questionário que correspondia ao seu perfil. 
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Apesar do grande número de perguntas e de os inquéritos demorarem algum tempo a responder, o questionário aos FST devolveu um total de 154 respostas válidas 4. O inquérito aos CST obteve 6 respostas válidas, motivo pelo qual o presente relatório apenas apresenta e analisa os resultados relativos aos FST. 
OMUNICAÇÕES 
Agradecemos a todas pessoas que se prestaram a responder e a todas as que ajudaram na divulgação dos questionários, contribuindo para um melhor conhecimento do panorama da tradução científica e técnica profissional de Inglês para Português europeu entre os anos de 2000 e 2005. 
O inquérito aos FST foi concebido de modo a determinar, prioritariamente, as suas principais áreas e subáreas de especialização (II Parte) e os géneros de documentos científicos e técnicos que traduziram com mais frequência (III Parte). Tanto uma como outra parte concluíam com algumas perguntas sobre a necessidade de especialização e sobre as acções de formação profissional frequentadas. A I Parte do questionário continha perguntas que nos permitiriam traçar um retrato mais vasto deste tipo de FST, designadamente, a sua identificação, o seu local de residência, a sua formação académica, as suas línguas de trabalho e alguns factores ligados ao exercício da profissão. 
Como resultado das nossas leituras e do diálogo que temos estabelecido com docentes e tradutores profissionais, apresentamos e analisamos aqui apenas os resultados da I e II Partes que nos parecem mais relevantes. 
3. RESULTADOS 
3.1. I Parte 
3.1.1. Perfil Académico 
A comparação das respostas que se referem às habilitações académicas dos inquiridos conduz ao seguinte gráfico (perguntas 5, 6, 8, 9, 11, 12, 14 e15): 
4 Por inquéritos ou respostas «válidas» entendam-se os inquéritos que foram respondidos por FST que trabalhavam na combinação e orientação linguística especificada (en > pt-PT) e que responderam às perguntas que exprimiam os principais objectivos do inquérito: (a) as áreas de especialização temática e (b) os géneros de documentos científicos e técnicos mais traduzidos. 
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60194338014282050100150 Licenciatura, BacharelatoouequivalentePós- graduaçãoMestradoDoutoramen- to Habilitações académicas N.º de inquiridos Total de respostasFormação em Tradução OMUNICAÇÕES 
FIG. 1: Formação superior dos FST comparada com a sua formação superior em Tradução 
Como vemos, 82 inquiridos (53 % da amostra) 5 seleccionaram a opção «Tradução» como área de formação inicial. 
As respostas à pergunta 6 mostram que 64 (42 %) se diplomaram em «Línguas; Linguística», 29 (19 %) nas diferentes áreas científicas e técnicas apresentadas 6 e 27 (18 %) em «Outras áreas» 7: 
5 Ao longo deste artigo, a conversão dos valores em percentagens foi realizada tendo por referência do número total da amostra, ou seja, 154 inquiridos. 
6 «Matemática», «Astronomia e Astrofísica», «Física», «Química», «Ciências da Vida», «Ciências da Terra e do Espaço», «Ciências Agrárias», «Ciências Médicas» e «Ciências Tecnológicas» 
7 A soma das percentagens dá um total superior a 100 %. Isto deve-se ao facto de alguns inquiridos assinalarem mais do que uma área de formação. Este facto ocorreu com mais frequência nas opções «Tradução» e «Línguas; Linguística». 
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641165221112782050100150 TraduçãoLínguas; LinguísticaCiências TecnológicasCiências MédicasCiências da VidaAstronomia e AstrofísicaQuímicaCiências AgráriasCiências da Terra e do EspaçoMatemáticasOutras Áreas de especialidade N.º de inquiridos OMUNICAÇÕES 
FIG. 2: Formação superior inicial, por áreas de especialidade 
3.1.2. Perfil Linguístico 
As respostas à pergunta 17 mostram que o Português é a língua materna de 146 inquiridos (95 % da amostra); 3 (2 %) afirmam ser o Inglês e 4 (3 %) seleccionaram a opção «Outra». 
A combinação e orientação linguística que gerou maior volume de trabalho aos FST da amostra foi en > pt-PT (pergunta 27): 
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10,7 % 10 % 6,4 % 5,2 % 1 %0,4 % 1,9 % 1,3 % 0,2 % 63,4 % en > pt-PTpt-PT > ende > pt-PTfr > pt-PTes > pt-PTOutras > pt-PTpt-PT > Outraspt-PT > frpt-PT > dept-PT > es OMUNICAÇÕES 
FIG. 3: Percentagem do volume de documentos científicos e técnicos traduzidos, por combinação e orientação linguística 
3.1.3. Perfil Profissional 
As respostas à pergunta 21 revelam que 84 (55 %) inquiridos consideram a tradução como a sua actividade principal. 
O gráfico abaixo indica que, para 74 FST (48 %), esta actividade representa mais de 80 % do seu rendimento. Destes, 48 (31 %) têm-na como única actividade. Para cerca de 40 a 45 % dos inquiridos ela representa abaixo de metade do seu rendimento: 
421671326480204060 0 a 1920 a 3940 a 5960 a 7980 a 99100 % do rendimento N.º de inquiridos 
FIG. 4: Percentagem do rendimento dos FST proveniente da tradução 
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Relativamente ao seu regime de trabalho, os resultados mostram que 130 (87 %) inquiridos afirmam ser tradutores independentes, 20 (13 %) exercem a actividade simultaneamente em regime dependente e independente e 4 (3 %) trabalham exclusivamente por conta de outrem (pergunta 20). 
OMUNICAÇÕES 
No que diz respeito à tradução científica e técnica propriamente dita, os elementos obtidos indicam que 102 (66 %) do total de inquiridos exerce a actividade há menos de dez anos (pergunta 24): 
544824134450204060 0 a 45 a 910 a 1415 a 1920 a 2425 a 2930 ou mais Anos de profissão N.º de inquiridos 
FIG. 5: Anos de exercício da profissão de FST científico e técnico 
Na pergunta 25, 80 inquiridos (52 % da amostra) consideram que as traduções científicas e técnicas representam mais de 80 % do seu trabalho; para cerca de 109 (c. 70 %) ela constitui mais de metade do seu volume de trabalho. As respostas à pergunta 26 indicam que a tradução en > pt-PT é a combinação e orientação linguística dominante na tradução científica e técnica: 
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14162119522816183314462501020304050600 a 1920 a 3940 a 5960 a 7980 a 99100Volume de trabalho (%) N.º de inquiridos Tradução científica e técnicaTradução científica e técnica en > pt-PT OMUNICAÇÕES 
FIG. 6: Volume de trabalho de tradução científica e técnica comparado com o volume de trabalho de tradução científica e técnica de Inglês para Português europeu 
3.2. II Parte 
3.2.1. Áreas de Especialização 
A média das percentagens atribuídas a cada área de especialidade pelos FST, em resposta à pergunta 29 na qual se pedia que distribuíssem o volume de traduções científicas e técnicas que fizeram de Inglês para Português europeu, ao longo dos últimos 5 anos, pelas diferentes áreas científicas, consta do gráfico abaixo: 
18,37,93,52,91,91,20,60,463,2020406080100Ciências TecnológicasCiências Médicas Ciências da VidaCiências da Terra e do EspaçoQuímicaCiências AgráriasMatemáticasAstronomia e AstrofísicaFísica Áreas de especialização % média 
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FIG. 7: Volume de traduções científicas e técnicas de Inglês para Português europeu nos últimos cinco anos
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tradução e localização 
3.2.2. Subáreas de Especialização OMUNICAÇÕES 
3.2.2.1. Matemáticas 
Nos últimos cinco anos, as Matemáticas foram uma das três principais áreas de trabalho de 4 FST (3 % da amostra) (pergunta 30). 
As principais subáreas (pergunta 31) a «Estatística» (2 respostas), a «Análise e Análise Funcional» (1 resposta) e a «Ciência dos Computadores» (1 resposta). As «Outras especialidades matemáticas» obtiveram 2 respostas. 
3.2.2.2. Astronomia e Astrofísica 
Esta área foi eleita como uma das principais áreas de trabalho nos últimos cinco anos por 3 FST (2 % da amostra) (pergunta 32). 
As principais subáreas (pergunta 33) foram a «Astronomia Óptica» e o «Sistema Solar» (2 respostas cada), a «Planetologia» e a «Radioastronomia» (1 resposta cada). 1 inquirido apontou também as «Outras especialidades astronómicas». 
3.2.2.3. Física 
A Física foi uma das três principais áreas de trabalho de 1 inquirido (0,6 % da amostra) (pergunta 34) e a «Mecânica» a sua principal subárea (pergunta 35). 
3.2.2.4. Química 
14 FST (9 % da amostra) seleccionaram a Química como uma das três principais áreas de trabalho dos últimos cinco anos (pergunta 36). 
O maior volume de traduções (pergunta 37) realizou-se nas seguintes subáreas: 8 
8 Nos gráficos relativos ao volume de trabalho por subárea de especialidade apenas se indicam os domínios que obtiveram uma resposta positiva (≥ 1). 
41
ARTIGOS E C 
tradução e localização 
44311145020406080Química ambientalQuímica farmacêuticaQuímica inorgânicaQuímica orgânicaBioquímicaQuímica analíticaQuímica nuclearOutras especialidades químicas Subáreas de especialidade N.º de respostas OMUNICAÇÕES 
FIG. 8: Subáreas da Química com maior volume de trabalho de Inglês para Português europeu nos últimos cinco anos 
3.2.2.5. Ciências da Vida 
31 inquiridos (20 % da amostra) escolheram as Ciências da Vida como uma das três principais áreas de trabalho dos últimos cinco anos (pergunta 38). 
A distribuição do volume de trabalho pelas diferentes subáreas foi bastante uniforme (pergunta 39): 
877765554432211890204060Biologia humanaBiologia celularAntropologiaBiologia animalImunologiaFisiologia humanaBiologia molecularBioquímicaVirologiaBiologia vegetalGenéticaNeurociênciasBiologia dos insectosPaleontologiaBiofísicaMicrobiologiaOutras Subáreas de especialidade N.º de respostas 
80 
42 
FIG. 9: Subáreas das Ciências da Vida com maior volume de trabalho de Inglês para Português europeu nos últimos cinco anos
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Revista sobre tradução científica e técnica em português

  • 1. Novembro 2005 ISSN 1645-9350 N.º 3 A Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa no Mundo Tradução, Mercado e Profissão no Brasil Tradução Técnica em Timor-Leste Primeiro Relatório de Um Inquérito a Fornecedores de Serviços de Tradução Científica e Técnica de Inglês para Português Europeu O Uso de Corpus Customizado como Fonte de Pesquisa para Tradutores Entrevista a Vivina Almeida Carreira de Campos FIGUEIREDO Esfera Armilar (Padrão dos Descobrimentos, Lisboa, Portugal)
  • 2. A CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica é uma revista independente e transdisciplinar que tem por objectivo reunir estudiosos, tradutores, especialistas, clientes e outros profissionais que trabalham com a tradução nas áreas das Ciências Exactas e Naturais, Engenharias e Tecnologias, Ciências da Saúde, Ciências Jurídicas, Economia e Localização de e para a língua portuguesa em toda a sua diversidade. A CONFLUÊNCIAS é uma publicação em formato electrónico, de acesso livre e gratuito. COLABORADORES. Comissão de Redacção. Ana Hermida Ruibal (Portugal) Edite Prada (Portugal) Eliene Zlatkin (Brasil) Ida Rebelo (Brasil) Isabel Coutinho Monteiro (Portugal) Steve Dyson (Portugal) Vicky Hartnack (Portugal) Comissão Científica. Amparo Hurtado Albir (Espanha) Ana Julia Perrotti-Garcia (Brasil) André Antunes Soares de Camargo (Brasil) Antonio Augusto Gorni (Brasil) Artur Portela (Portugal) Carlos Castilho Pais (Portugal) Christianne Nord (Alemanha) Conceição Carvalho (Macau) Diva Cardoso de Camargo (Brasil) Eduardo Lopes d’Oliveira (Portugal) Enilde Faulstich (Brasil) Fernando A. Navarro (Espanha) Fernando Ferreira-Alves (Portugal) Heloisa Gonçalves Barbosa (Brasil) Hermínio Duarte-Ramos (Portugal) Jacques Pélage (França) Jacques Vissoky (Brasil) João Roque Dias (Portugal) Jorge Cruz (Portugal) José Antonio Sabio Pinilla (Espanha) Manuel Gomes da Torre (Portugal) Margarita Correia (Portugal) M.ª Manuela Fernández Sánchez (Espanha) M. Teresa Cabré (Espanha) Oscar Diaz Fouces (Espanha) Pedro Coral Costa (Portugal) Ricardo Muñoz Martín (Espanha) Rodolfo Alpízar Castillo (Cuba) Rute Costa (Portugal) Sonia Collina (Estados Unidos da América) Steve Dyson (Portugal) Virgínia Matos (Portugal) Vivina Figueiredo (Portugal) FICHA TÉCNICA. Directora. Rosário Durão. Periodicidade. Semestral (Maio e Novembro). Entidade Proprietária e Editor. Maria do Rosário Frade Durão. Contribuinte N.º. 152 886 486. Morada e Sede de Redacção. Rua Jorge Colaço, 35, 4.º Esq. – 1700-252 Lisboa – Portugal. Telefone. +(351)218 408 731 ou +(351)936 294 337. Página da Internet. <www.confluencias.net>. Correio-e. confluencias@confluencias.net. ISSN. 1645-9350. © CONFLUÊNCAS – Revista de Tradução Científica e Técnica.
  • 3. CONFLUÊNCIAS ÍNDICE Editorial ....................................................................................................................................................... 3 Artigos e Comunicações: Tradução e Localização Heloisa Gonçalves BARBOSA ƒ Tradução, Mercado e Profissão no Brasil............................................................................... 6 Hermínio DR ƒ Tradução Técnica em Timor-Leste........................................................................................... 25 Rosário DURÃO ƒ Primeiro Relatório de Um Inquérito a Fornecedores de Serviços de Tradução Científica e Técnica de Inglês para Português europeu ................................................... 29 Terminologia e Lexicologia Ana Julia PERROTTI-GARCIA ƒ O Uso de Corpus Customizado como Fonte de Pesquisa para Tradutores ............... 62 Entrevista ƒ Entrevista a Vivina Almeida Carreira de Campos FIGUEIREDO, Docente e Tradutora .................................................................................................................................... 80 Notas e Apontamentos Edite PRADA ƒ Os Dicionários da Língua Portuguesa ................................................................................... 87 Gabriela M. SANTOS-GOMES ƒ A Língua Portuguesa e os Termos Técnicos e Conceitos Próprios das Ciências Biológicas ...................................................................................................................................... 90 Paulo Ivo TEIXEIRA ƒ Uma Nota sobre Tradução Científica e Técnica em Portugal ........................................ 93 Glossários João Roque DIAS ƒ Bear with me! Apoios, Chumaceiras e Rolamentos (algumas notas para eliminar confusões) ...................................................................................................................................... 96 Jorge CRUZ ƒ Terminologia Básica em Cirurgia Vascular ......................................................................... 120 Vicky HARTNACK ƒ Glossário: Moagens - Watermills .......................................................................................... 125 Relatórios de Eventos e Actividades Rosário DURÃO ƒ «VIII Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, 2005 – Tradução e Inovação» ................................................................................................................ 132 Ana Rita REMÍGIO e Ana Cláudia CASTRO ƒ «II Jornadas de Tradução e Terminologia (em Biologia Molecular)» ............................ 134 Formação Idalina Natália Ferreira GOMES ƒ MSc in Scientiic, Technical and Medical Translation with Translation Technology (MScTrans) – Imperial College London .......................................................... 136 f Notas sobre os Autores .......................................................................................................................... 141
  • 4. EDITORIAL C O N F L U Ê N C I A S – R e v i s t a d e T r a d u ç ã o C i e n t í f i c a e T é c n i c a , N . º 3 , N o v . 2 0 0 5 : 3 - 5 Todos os dias, mais de 200 milhões de pessoas utilizam a Língua Portuguesa em todo o planeta. O Português é uma das línguas mais disseminadas pelo mundo, sendo falada, hoje em dia, em todos os continentes. Segundo dados da UNESCO, na viragem do século, havia 187 milhões de falantes de Português na América do Sul (o Brasileiro é a língua mais falada no continente sul- americano), 17 milhões em África (onde o Português se afigura como uma língua importante), 12 milhões na Europa (Portugal tem pouco mais de dez milhões de habitantes), 2 milhões na América do Norte e 610 mil na Ásia. Também na Oceânia se encontram falantes do Português (quase 50 mil). É a língua oficial de oito países independentes, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné- Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-leste (ao lado do Tétum), e da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China (juntamente com o Chinês). E é aquela que tem um maior potencial de crescimento, como língua de comunicação, na África Austral e na América do Sul. Também se prevê um renascer do interesse pelo Português no Oriente, em grande parte devido à sua fixação em Timor-Leste e em Macau. Estes dados contrastam, é certo, com a influência que o Português tem nas Ciências e nas Tecnologias, onde a língua dominante/veicular é por demais conhecida, e onde não se prevê uma inversão da situação a médio, ou até mesmo, a longo prazo. Contudo, a fulgurante expansão da Internet, a valorização activa das línguas próprias e a crescente exigência de que a informação nos chegue na nossa língua fazem prever uma situação e um futuro bastante auspiciosos para a tradução especializada em Português. Foi uma reflexão sobre A Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa no Mundo que a CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica propôs para este número. Os resultados são entusiasmantes.
  • 5. EDITORIAL Heloisa Gonçalves Barbosa traça o perfil da tradução e dos tradutores, em todas as suas vertentes e nuances, no Brasil, alertando para as vantagens que a globalização traz e também para os perigos que acompanham este período de mudança e instabilidade. Hermínio DR discute a interacção do Português e do Tétum em Timor- Leste, chamando a atenção para o papel que a terminologia técnica está a desempenhar neste processo. Rosário Durão apresenta alguns dos resultados de um inquérito realizado aos Fornecedores de Serviços de Tradução científica e técnica do Inglês para o Português europeu e analisa algumas das suas implicações. Ana Julia Perrotti-Garcia demonstra a utilidade dos corpora personalizados para a tradução, ilustrando o processo de constituição de um corpus com recurso a uma ferramenta de acesso livre e gratuito na Internet, o «Corpógrafo». Vivina de Campos Figueiredo fala da sua actividade como tradutora, dos seus projectos para o futuro e do processo de tradução da obra de Susan Bassnett (Estudos de Tradução. Fundamentos de uma Disciplina) que lhe valeu uma menção honrosa na 12.ª edição da entrega do Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa. Edite Prada compara as características dos dicionários de Língua Portuguesa que existem actualmente no mercado, tendo em mente a sua utilização por tradutores. Gabriela Santos-Gomes alude a certos problemas que a tradução do Inglês coloca aos investigadores das Ciências Biológicas e a algumas estratégias que têm sido utilizadas para os solucionar. Paulo Ivo Teixeira faz uma apreciação crítica da presença dos cientistas e tecnólogos nos eventos relacionados com a tradução. João Roque Dias oferece um glossário sobre apoios, chumaceiras e rolamentos, o qual antecede de algumas observações sobre a tradução do termo bearings. Jorge Cruz apresenta um glossário de termos utilizados frequentemente em Cirurgia Vascular. E Vicky Hartnack brinda-nos com um dicionário bilingue de termos relacionados com as azenhas tradicionais que se encontram, principalmente, no norte de Portugal. Como relatórios de eventos e actividades temos o de Rosário Durão sobre a oitava edição do Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, subordinado ao tema da «Tradução e Inovação», e o de Ana Rita Remígio e Ana Cláudia Castro relativo às II Jornadas de Tradução e Teminologia em Biologia Molecular. Por último, na nova rubrica intitulada «Formação» (secção que pretende divulgar os cursos em que o ensino da tradução especializada de e para a Língua Portuguesa tem um lugar cativo), Idalina Ferreira Gomes divulga o Mestrado em Tradução Científica, Técnica e Médica do Imperial College, no Reino Unido, formação que se destaca pela ênfase dada à prática, às ferramentas de tradução e à tradução nas áreas das Ciências, Técnicas e Saúde. Em suma, a tradução científica e técnica de e para a Língua Portuguesa é uma realidade no mundo. 4
  • 6. EDITORIAL Gostaríamos, é verdade, de ter publicado textos que ilustrassem melhor a sua dimensão geográfica, a sua presença em todas as partes do mundo em que o Português também se fala – África, Oceânia, América do Norte e tantos outros países da Europa e da Ásia. Afazeres, talvez mesmo uma frágil consciência da importância de divulgar o que acontece e o que se espera venha a acontecer nesta área, não o permitiram. Mas ficaram promessas de o fazerem… Muito obrigada a todos os que tornaram este número possível. ■ 5
  • 7. ARTIGOS E C tradução e localização CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica, N.º 3, Nov. 2005: 6-24 OMUNICAÇÕES TRADUÇÃO, MERCADO E PROFISSÃO NO BRASIL HELOISA GONÇALVES BARBOSA Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil Resumo: Busca-se fazer um breve exame do mercado de trabalho de tradutores e intérpretes no Brasil. Discute-se a tradução para o mercado editorial, a tradução técnica e a juramentada, a tradução para a mídia, a localização e a tradução de websites, bem como a interpretação simultânea e a interpretação de língua brasileira de sinais. Abordam-se as associações profissionais e a transição dos profissionais da área da autonomia para a constituição de empresas. Palavras-Chave: Tradução; Interpretação; Localização; Libras; Mercado. Abstract: This paper reviews the Brazilian market for translators and interpreters under the following headings: literary translation, technical and sworn translaion, translation for the media, website translation and localization, conference interpreting and Brazilian sign language interpreting. Professional associations are also discussed, a is the transition from free- lancing to incorporation. t s t Keywords: Translaion; Conference interpreting; Localization; Brazilian sign language; Market.
  • 8. ARTIGOS E C OMUNICAÇÕES 7 tradução e localização INTRODUÇÃO Há um amplo consenso de que o mercado de tradução está em expansão no Brasil e no mundo. Uma breve pesquisa na Internet faz surgir muitas vezes a expressão «em explosão» para qualificar este mercado. No entanto, não parece haver dados numéricos confiáveis a respeito do assunto. Por outro lado, parece impossível ignorar que a globalização bem como a conseqüente integração dos vários mercados vêm contribuindo para o crescimento da profissão, conforme observa o jornal Folha de S. Paulo, de circulação em todo território brasileiro: «o serviço de tradutor tem mais demanda justamente pelo aumento da circulação de informações pelo mundo, resultado da globalização». 1 Nas palavras de Lia Wyler, conhecida tradutora e pesquisadora, os profissionais da área que atuam no mercado, hoje, «São tradutores de obras literárias e técnicas para editora; tradutores assalariados e autônomos que traduzem textos de circulação interna em empresas comerciais e públicas; intérpretes e tradutores de conferências; tradutores públicos e intérpretes comerciais; tradutores de peças teatrais; tradutores de letras de músicas; tradutores para legendas de filmes; tradutores para dublagem de filmes e vídeos; tradutores que transcrevem fitas gravadas; e, mais recentemente, tradutores de sites da Internet e tradutores especializados em localização — a tarefa de tornar um produto consumível pelo mercado brasileiro.» 2 Para melhor entender o que ocorre, atualmente, nessa profissão, pode-se dividi-la em áreas de atuação, desde o mercado editorial, passando pela tradução para empresas e particulares, pela localização e tradução de websites, pela tradução para a mídia, até chegar à tradução oral, ou, melhor dizendo, à interpretação — não só a de conferências, mas todas as suas modalidades. 1 SILVA, Fábio Porto. “Globalização amplia mercado de trabalho para tradutor e intérprete.” Folha de São Paulo, 18/04/2002 - 11h55. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u8890.shtml>. Acesso em 21 de setembro de 2005. 2 WYLER, Lia. Línguas poetas e bacharéis: uma crônica da tradução no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2003, p. 13.
  • 9. ARTIGOS E C OMUNICAÇÕES O MERCADO EDITORIAL A tradução de obras literárias, em prosa ou verso, solicitada por editoras, é aquela atividade considerada por muitos como sendo a mais tradicional dos tradutores, não só no Brasil, mas em todo o mundo. De fato, a importância do mercado editorial brasileiro não pode ser negada. Embora o número de livrarias existente no país ainda possa ser considerado relativamente pequeno, o parque editorial é imenso e, nos últimos vinte anos, tem havido uma grande expansão das redes de livrarias (algumas de propriedade de editoras), tais como Siciliano, Saraiva e Sodiler. 3 Vêm crescendo, também, as ofertas on-line, encabeçadas por essas mesmas redes de livrarias, pelas próprias editoras e por outras empresas, como a Livraria Cultura, 4 sendo que pelo menos um popular site de compras, o Submarino, 5 oferece livros. Ao falar do parque editorial brasileiro, cabe uma pequena comparação com o volume editorial da América Espanhola: «em apenas um ano, na década de sessenta, os países hispano-falantes da América Latina publicaram cerca de trezentas novas obras de ficção, enquanto o Brasil, sozinho, no mesmo período, publicou duzentos e oitenta novos romances». 6 O levantamento anual realizado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) juntamente com a Câmara Brasileira do Livro (CBL) indica que 34.858 títulos foram publicados em 2004, totalizando 320.094.027 exemplares produzidos e 288.675.136 exemplares vendidos. 7 Segundo Lia Wyler, porém, de 60 a 80 % do total desta produção editorial é representado por traduções. 8 De fato, um levantamento realizado por mim 9 na semana de 18 a 24 de setembro de 2005 no jornal O Globo, importante veículo de circulação nacional, e na revista semanal tradução e localização Embora o número de livrarias existente no país ainda possa ser considerado relativamente pequeno, o parque editorial é imenso e, nos últimos vinte anos, tem havido uma grande expansão das redes de livrarias 3 Cf. <http://www.livrariasaraiva.com.br/>; <http://www.siciliano.com.br/>; <http://www.soliler.com.br>. 4 Cf. <http://www.livrariacultura.com.br>. 5 Cf. <http://www.submarino.com.br/>. 6 OLINTO, Antônio. “Foreword.” In: MONTELLO, Josué. Coronation Quay. Trad. M. Henderson. Londres, Rex Collings, 1975, p. v. Minha tradução. 7 Cf. SNEL: <http://www.snel.org.br/diagnostico.asp>; CBL: <http://www.cbl.org.br/pages.php?recid=57>. 8 WYLER, Lia C. da C. A. A tradução no Brasil: ofício invisível de incorporar o outro. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1995. Mimeo., p. 8. 9 BARBOSA, Heloisa Gonçalves. “A tradução e o polisistema cultural: o caso do Brasil.” Trabalho apresentado na Mesa Redonda “Tradução, confronto e pontes entre as culturas” no I Simpósio Internacional de Letras Neolatinas - Entre moinhos e livros: audácias e impasses da modernidade. (Homenagem a Cervantes), Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 26 a 30 de setembro de 2005. Ver resumo em: Programa & Resumos, p. 66. O 8
  • 10. ARTIGOS E C tradução e localização informativa VEJA, nas colunas relativas aos dez livros mais vendidos no período, desenhava-se o quadro que descrevo a seguir. OMUNICAÇÕES Na categoria denominada «ficção», constavam oito traduções de obras de autores norte-americanos que poderiam ser facilmente classificadas como best-sellers (obras leves, de leitura rápida) e a tradução de uma obra do festejado autor colombiano Gabriel Garcia Márquez (Memórias de minhas putas tristes). 10 Somente o décimo livro da lista é de um brasileiro, Jô Soares (Assassinatos na Academia Brasileira de Letras), 11 autor que traz, como parte de seu cabedal, uma longa carreira televisiva e teatral, primeiramente como comediante e, hoje, como apresentador de um talk-show calcado nos modelos da TV norte-americana. 12 Na categoria identificada pelos veículos pesquisados como «não-ficção» havia seis livros estrangeiros, traduzidos, contra quatro brasileiros. Na última categoria indicada, «auto-ajuda», VEJA indicava nove livros traduzidos, contra um brasileiro. O jornal O Globo, que listava apenas cinco obras, apontava duas estrangeiras contra três brasileiras. Este jornal incluía uma última categoria, a de literatura infantil, na qual citava três livros estrangeiros contra um brasileiro. A relevante presença das categorias «não-ficção» e «auto-ajuda», nas listagens consultadas, aponta para o fato de que não é a grande literatura que é consumida, apesar do atual movimento em direção à re-tradução das grandes obras literárias. Algumas dessas são oriundas do russo, tais como, Crime e castigo 13 e Os demônios 14, de Dostoievski, traduzidos por Paulo Bezerra, e do inglês, como Ulisses 15, de James Joyce, traduzido por Bernardina da Silveira Pinheiro, ambos os tradutores sendo pesquisadores e professores universitários. Há ainda outras áreas que têm tido grande s r levantamento foi feito com a finalidade de verificar o que os meios de comunicação registravam como tradução em um determinado período de tempo, na cidade do Rio de Janeiro. 10 MÁRQUEZ, Gabriel Garcia. Memórias de minhas putas tristes. Trad. Eric Nepomuceno. São Paulo: Record, 2005. 11 SOARES, Jô. Assassinatos na Academia Braileia de Letras. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 12 Talvez não por coincidência, esses dois livros são vendidos juntos, em oferta especial com desconto, pelo site Submarino: <http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp? Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=731020&ST=CT175742>. 13 DOSTOIEVSKI, Fiodor. Crime e castigo. Trad. Paulo Bezerra. Coleção Leste. São Paulo: Editora 34, 2001. 14 DOSTOIEVSKI, Fiodor. Os Demônios. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2004. 9 15 JOYCE, James. Ulisses. Trad. Bernardina da Silveira Pinheiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
  • 11. ARTIGOS E C tradução e localização crescimento editorial, como, por exemplo, a tradução e edição de textos religiosos, o que se pode atribuir à penetração das seitas evangélicas no Brasil.16 OMUNICAÇÕES Do ponto de vista daquele que exerce a profissão, porém, este grande parque editorial, altamente estruturado no país e com representação no exterior (nas feiras do livro, como a de Frankfurt, por exemplo), não redundou, necessariamente, em uma melhor organização da profissão nem em melhores condições de trabalho ou melhor remuneração para os tradutores. A última Assembléia Geral 17 do SINTRA — Sindicato Nacional dos Tradutores — contou com a presença significativa de intérpretes, enquanto compareceram apenas dois tradutores que trabalham para editoras. Nessa assembléia, foi mantida a recomendação de preço «por lauda com 30 linhas por até 70 caracteres com espaço por linha (igual a cerca de 2.100 caracteres por página, com espaços)», 18 fixado em R$ 24,00 (vinte e quatro reais) para traduções de um idioma estrangeiro para o português, com a ressalva: «direitos autorais à parte». Embora esta ressalva possa parecer pouca coisa, constitui um passo adiante para dar condições melhores de lutar pelos seus direitos a uma categoria de profissionais que mal começou, no Brasil, a tentar cobrar, das editoras, os direitos autorais relativos às suas traduções. A outra conquista, referente à sugestão de preços elaborada pelo SINTRA foi a retirada do termo «técnica» da rubrica «tradução técnica», deixando-se apenas «tradução». Com essa alteração, espera-se demonstrar que toda tradução é «técnica» (mesmo uma carta de amor pode ser muito técnica) e proporcionar um maior poder de negociação ao tradutor que trabalha para editoras. Esse profissional, ao contrário do mito popular, raramente é responsável pela tradução da grande obra literária, em prosa ou verso (sendo esta a província de escritores, professores e pesquisadores, raramente do profissional tradutor), mas traduz primordialmente best-sellers, não-ficção, obras de auto-ajuda, livros científicos, de divulgação científica e técnicos. A fatia mais organizada do mercado de tradução técnica é a das chamadas “traduções juramentadas” s 16 Cf. SILVA, Lucília Marques Pereira da, Pesquisa auto-etnográfica do processo tradutório: desenvolvimento de metodologia e análise do uo de buscas externas. Programa Interdisicplinar de Lingüística Aplicada, Faculdade de Letras, UFRJ, 2005. Mimeo. Cf. ESTARNECK, Édson de Siqueira. A questão da neutralidade do intérprete no contexto de cruzadas evangélicas. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2003. Mimeo. 17 Ver ata em <http://www.sintra.org.br/site/>. 10 18 Cf. <http://www.sintra.org.br/site/index.php?pag=valores>.
  • 12. ARTIGOS E C tradução e localização OMUNICAÇÕES A TRADUÇÃO TÉCNICA Levando em consideração os fatos expostos acima, pode-se concluir que o maior segmento do mercado da tradução é, provavelmente, o das traduções (tradicionalmente consideradas) técnicas, seja para editoras, empresas, ou para o público em geral. É plausível supor, na realidade, que o mercado de traduções extra-editoras seja muito maior do que o das editoras, mas parece totalmente impraticável mapeá-lo, já que essas traduções podem ser feitas em todos os tipos de circunstâncias possíveis. São as traduções juramentadas, as traduções para empresas em geral, para a indústria da localização e a tradução de websites, sem falar nas traduções para particulares, que envolvem desde os abstracts de dissertações e teses até o manual da câmara fotográfica nova da vizinha ou o cardápio do restaurante da esquina. A tradução juramentada A fatia mais organizada do mercado de tradução técnica é a das chamadas «traduções juramentadas». No Brasil, as traduções de documentos oficiais devem ser feitas pelos denominados «Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais», cujo trabalho tem fépública (ou seja, suas traduções são aceitas como documentos oficiais em todas as instâncias legais). São os mais antigos profissionais em exercício na área no país e os únicos cuja profissão é regulamentada, o que ocorreu através de um Decreto Real em 1851, 19 regulamentado pelo Decreto n.º 13.609, de 21 de outubro de 1943 20, já na República. Para exercer a profissão, esses tradutores devem ser aprovados em Concurso Público realizado pelas Juntas Comerciais de cada estado do Brasil. Nenhum nível de instrução ou treinamento prévio é exigido para inscrição no concurso, sendo que é possível habilitar-se para quantos idiomas se desejar. Uma vez aceito pela Junta Comercial, o tradutor obtém o direito a exercer a profissão, direito esse que é vitalício. São também as Juntas Comerciais que estabelecem os honorários a serem cobrados, por lauda de 25 linhas com até 50 toques, publicando uma tabela de preços no Diário Oficial da União. Esses preços são, atualmente, para o Estado de São Paulo: Tradução (do idioma estrangeiro para o português): R$ 25,00 por lauda; Versão (do português 19 BARBOSA, Heloisa Gonçalves e WYLER, Lia, Brazilian Tradition. In: BAKER, Mona (ed.) Routledge Encyclopedia of Translation Studies. Londres: Routledge, 1998, p.331. 11 20 Cf. <http://www.atprio.com.br/pages/13609_1.htm>.
  • 13. ARTIGOS E C tradução e localização para o idioma estrangeiro): R$ 31,00 por lauda, de acordo com a Deliberação Jucesp n.º 01/04 (publicada em 17 de fevereiro de 2004). 21 OMUNICAÇÕES Os profissionais da área, a partir de 1959, passaram a organizar-se em associações, com a finalidade de proteger seus interesses profissionais (Cf. BARBOSA e WYLER 1998, p. 331) e zelar pelo bom exercício da profissão. As duas associações mais conhecidas são a Associação dos Tradutores Públicos e Intérpretes Comerciais do Estado de São Paulo (ATPIESP) e a Associação dos Tradutores Públicos do Rio de Janeiro (ATP). 22 Entre esses interesses profissionais está, naturalmente, a renovação de quadros, pois o intervalo entre os concursos chega a ultrapassar a marca dos vinte anos. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, o último concurso foi realizado em 1982, tendo sido aproveitados apenas catorze dentre os 600 candidatos que se apresentaram. O resultado dessa situação é que há uma grande carência de profissionais na área, devido, principalmente, às vagas abertas pelo falecimento de tradutores. Para remediar a situação, a lei permite que juízes «juramentem» tradutores ad hoc para atuarem nos tribunais e em outras situações exigidas por lei. Também os consulados têm a possibilidade de habilitar tradutores e intérpretes na medida da necessidade do envio de documentos traduzidos para o exterior. Infelizmente, porém, um segundo resultado da situação existente é que alguns tradutores juramentados permitem que outros tradutores façam traduções em seu lugar, as quais assinam posteriormente, outorgando-lhes fé pública. Esta prática é ilegal e prejudica tanto as associações de tradutores públicos (pois esses tradutores ilegais não pertencem a elas) como o sindicato da categoria (pois esses tradutores ilegais não prestam sua contribuição sindical, como o fazem os tradutores juramentados). Ficam prejudicados, enfim, todos os profissionais da área e seus clientes, pois a prática citada exime o poder público da responsabilidade de remediar uma situação caótica (na medida em que fornecem um paliativo ilegal), priva as associações da força de que necessitam para atuar em prol da categoria e deixa inseguro o cliente quanto à credibilidade do trabalho do tradutor. Os milhares de outros tradutores que provavelmente atuam no campo das traduções técnicas para empresas e particulares o fazem a descoberto de qualquer apoio ou restrição legal Autônomo ou empresário? Os milhares de outros tradutores que provavelmente atuam no campo das traduções técnicas para empresas e particulares o fazem a descoberto de qualquer apoio ou restrição legal. Embora a profissão tenha sido reconhecida por Portaria do Ministério 21 Ver “Tabela e Regulamentos” em <http://www.atpiesp.org.br/area.html#>. 22 Cf. <http://www.atpiesp.org.br/> e <http://www.atprio.com.br/pages/menu.htm>. Essas duas páginas são riquíssimas fontes de informações para quem se interessar pelo assunto. 12
  • 14. ARTIGOS E C tradução e localização do Trabalho (n.º 3.264 de 27 de setembro de 1988), 23 como resultado dos esforços da ABRATES — Associação Brasileira de Tradutores 24 — que veio a se tornar o Sindicato da categoria, nunca foi regulamentada, de tal forma que não existe um órgão controlador que possa fiscalizar o exercício da profissão ou impor critérios para o ingresso nela. O Sindicato, por sua vez, não tem tido a necessária força política para um verdadeiro apoio aos profissionais da área, nem para a sustentação dos preços que sugere, quer por parte dos prestadores de serviço, quer por parte de seus contratantes. Esse insucesso pode dever-se a vários fatores, entre eles estando a amplitude do território nacional e o reconhecido isolamento dos tradutores, os quais impedem uma maior mobilização da categoria. 25 OMUNICAÇÕES Em adição à situação legal ambígua em que se encontra a profissão, a pesadíssima carga tributária que recai sobre o prestador de serviços, no Brasil, tem forçado os tradutores (e intérpretes) que prestam serviços a empresas a se tornarem empresários eles mesmos. Isso ocorre principalmente porque, além dos demais impostos, o contratante é obrigado a pagar, ao INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social 26 – a título de contribuição previdenciária, um valor igual a 20 % do preço total do serviço prestado, além dos 11 % pagos pelo contratado. Com a finalidade de evitar mais esta taxação, os contratantes se recusam a aceitar prestadores de serviço autônomos. Essa recusa tem forçado os tradutores e intérpretes que desejam continuar ativos em um mercado altamente competitivo a abrirem pequenas empresas, em geral apenas com o número mínimo de sócios exigido por lei. Com isto, esses profissionais passam a ser empresários e a estar fora do alcance do Sindicato da categoria, pois não há sindicato patronal (aquele ao qual as empresas devem pertencer) para empresas de tradução e interpretação no Brasil. 23 Diário Oficial da União, 03 de outubro de 1988. 24 <http://www.abrates.com.br/>. 25 O SINTRA, apesar de ser um sindicato de âmbito nacional, tem, hoje, apenas cerca de 250 associados em dia com suas contribuições. 13 26 <http://www.mpas.gov.br/>.
  • 15. ARTIGOS E C OMUNICAÇÕES A localização e a tradução de websites Um número expressivo de empresas de tradução vem surgindo, no Brasil, nos últimos quinze anos, justamente na área de localização — a tradução e adaptação de softwares 27 — segundo Vagner Fracassi, presidente da ABRATES, que exerce, ele mesmo, a profissão de tradutor nessa área. 28 É imenso o mercado brasileiro de localização e tradução de websites, já que o país é um dos maiores usuários da Internet e um dos maiores consumidores de produtos de informática do mundo. A localização desses produtos é imprescindível, já que há, em primeiro lugar, a necessidade de tradução para o idioma português e, em segundo, a necessidade da adaptação às características culturais do país. Estando o país no hemisfério sul, por exemplo, é necessário adequar os fusos horários e o horário de verão a essa realidade. Outra necessidade de adaptação ocorre porque, tal como a maioria da Europa, o Brasil utiliza o sistema métrico decimal, ao contrário dos países de cultura anglo-saxônica. No entanto, o português do Brasil em tanto difere do português europeu que foram fracassadas as tentativas de aqui re-utilizar localizações feitas em Portugal. 29 O significativo volume de trabalho na área de localização vem tendo grande influência sobre a profissão no Brasil. Além das circunstâncias tributárias apontadas acima, que forçam o tradutor a sair da autonomia para se tornar empresário, Fracassi aponta para a reformulação da empresa de tradução trazida pela indústria da localização: ao contrário de ser uma pequeníssima empresa, contando somente com os sócios obrigatórios pela legislação, cada um trabalhando em sua tarefa particular, as firmas ligadas à localização são grandes empresas que gerenciam grandes projetos. Muitas dessas grandes empresas repassam parte das suas tarefas a empresas menores. Outras são tão grandes que têm identidade supranacional. 30 tradução e localização É imenso o mercado brasileiro de localização e tradução de websites, já que o país é um dos maiores usuários da Internet e um dos maiores consumidores de produtos de informática do mundo 27 «Localization (L10N) is the process of adapting a product or service for a particular country orregion. This includes translation, but goes beyond it. Localization means making sure that graphics, colors, and sound effects are culturally appropriate, and that things like dates, calendars, measurement units and monetary notations are in the correct format.» <http://www.sdl.com/localization-information/white-papers-articles/white-papers- list/white-papers-localization-glossary.htm>. 28 FRACASSI, Vagner. Mesa redonda de abertura do Simpósio de Tradução do V Encontro Nacional de Profissionais de Idiomas SENAC, intitulada “Tradução, um mercado em expansão”. SENAC, Rio de Janeiro, 30 de julho de 2005. 29 Dois pequenos exemplos. No Brasil, diz-se «tela» e «mouse», enquanto, em Portugal, se diz «ecrã» e «rato». 30 Já atuava no Brasil, por exemplo, a empresa internacional Bowne Global Solutions, que acaba de ser adquirida pela Lionbridge Technologies, tornando-se a última, agora, uma mega- 14
  • 16. ARTIGOS E C tradução e localização Qualquer que seja o tamanho dessas companhias, nenhuma pode prescindir do trabalho em equipe. Há gerenciadores de projeto, terminólogos, lexicólogos, engenheiros de informática, designers, tradutores e revisores. Com a expansão dessas empresas, grandes modificações são trazidas à profissão: o tradutor, acostumado a trabalhar sozinho, passa a se ver como membro de uma equipe, tendo de obedecer a manuais de estilo, manter glossários e de se preocupar em manter a coerência terminológica em grande quantidade de textos. OMUNICAÇÕES Apesar de fundamentar-se no trabalho em equipe, porém, muitas dessas empresas, sobretudo as menores, que aceitam as tarefas que lhes são repassadas pelas empresas maiores, não têm condições de assumir o tradutor como empregado permanente, registrado, «com carteira assinada», como se diz no Brasil. A intensa carga tributária brasileira força-os a exigir desses trabalhadores que também se tornem minúsculas empresas, deixando-os, do mesmo modo, a descoberto de qualquer ação sindical. No entanto, não se deve pensar que a remuneração para esses serviços seja melhor do que em outros segmentos do mercado. Apoiadas no fato de que as ferramentas eletrônicas em muito facilitam e aceleram o trabalho do tradutor, essas empresas pagam quantias irrisórias a seus prestadores de serviços. Embora não haja sugestão de preços para esses serviços por parte do SINTRA, qualquer levantamento permite verificar que não passa de R$ 0,04 a R$ 0,09 (de quatro a nove centavos de real) por palavra. 31 Além disso, uma vez que essas traduções obrigam à utilização de algum programa de memória de tradução, 32 só costumam ser pagas integralmente as palavras que atinjam 60 % ou menos de match. 33 A utilização das memórias de tradução, por sua vez, vem-se difundindo inexoravelmente no mercado. As grandes empresas, estatais ou privadas, já pedem que os serviços sejam cotados, para concorrências de preços, levando-se em consideração que a tarefa será executada com auxílio de uma memória de tradução. Alguns t r s it s empresa na área. Ver: “Lionbridge completes acquisition of BGS”. Confluence. A Meeting Point for Thought Leaders, Volume 11, outubro de 2005, em <http://www.prayag.com/confluence/ vol_11/deal_beat.htm>. 31 Na cotação cambial para o dia 28 de outubro de 2005, um euro é igual a 2,78 reais. Assim, nove centavos de real (R$ 0,09) são iguais a mais ou menos 0,03 euros. 32 «Translation memory - A daabase of sentences and phrases and their tanslated counterpart, which has been built from previous translations of a document or series of documents.» Localization Glossary. <http://www.sdl.com/localization-information/white-papers-articles/ white-papers-list/white-papers-localization-glossary.htm>. 33 «100 % match - The occurrence of a sentence or phrasein a file that is identical to a sentenceor phrase stored in a translation memory. For a100 % match-also called a "perfect" match- the sentence or phrase must be identical, i.e. the words, structure and formatting of the sentence must be the same. The first time the sentence or phrase occurs, requires full translation. Subsequent occurrences of the sentence or phrasewill be recognized a a 100 % match by the translation tool.» Localization Glossary. 15
  • 17. ARTIGOS E C OMUNICAÇÕES determinam qual memória de tradução especificamente deverá ser utilizada. A maioria solicita que seja definido, antecipadamente, por qual percentual de match o tradutor espera ser remunerado de forma integral, com detalhamento de outros percentuais. Assim, o tradutor que pretende trabalhar para empresas deve munir-se de um equipamento de primeira linha: computador potente, provedor de Internet de banda larga, pelo menos um software de memória de tradução, além, é claro, de ter de acrescentar a seus conhecimentos lingüísticos os conhecimentos necessários para utilizar tais programas. Deverá, sobretudo, estar preparado para trabalhar com prazos que, segundo Nelson Rodrigues, «são absurdos de curtos» hoje em dia. 34 A tradução para a mídia Rodrigues (2005) fala de um ponto de vista privilegiado. Atuando expressivamente no mercado de legendas para programas de TV a cabo e aberta como tradutor autônomo, conseguiu tornar-se um dos membros do grupo brasileiro que adquiriu a Geminivideo,35 conhecida empresa do ramo. Os relatos desse tradutor nunca deixam de impressionar. A exigüidade de prazos é o primeiro susto: segundo ele, determinados programas noticiosos e esportivos são traduzidos pela madrugada afora, para serem exibidos já de manhãzinha. O segundo susto é pior: algumas das empresas que fazem essas traduções se encontram fora do Brasil (por motivos técnicos e financeiros), nos Estados Unidos. Sabe-se, por exemplo, de uma fracassada tentativa de criar um pólo de produção de legendagem de programas de TV em Manaus, a zona franca de comércio no Brasil. O que parecia ser um trunfo técnico revelou-se um percalço no momento da contratação de tradutores, pois não foi possível encontrar o número necessário de profissionais gabaritados no extremo norte do país, longe das grandes cidades concentradoras de produtos culturais. 36 tradução e localização Pode-se supor, também, que revistas noticiosas e de ciências façam traduções. É, porém, raro encontrar uma publicação que apresente o nome do(s) tradutor(es) em sua ficha técnica 34 RODRIGUES, Nelson. Mesa redonda de abertura do Simpósio de Tradução do V Encontro Nacional de Profissionais de Idiomas SENAC, intitulada “Tradução, um mercado em expansão”. SENAC, Rio de Janeiro, 30 de julho de 2005. 35 «Coordenador de tradução de seriados e filmes. Formado em Direito e pós-graduado em Tradução Inglês-Português pela PUC-Rio. Trabalhou no Departamento de Legendagem da Globosat e prestou serviços para o Cisneros Television Group (Claxson), Canal AXN, Editora Rocco entre outros. Atualmente é professor de tradução nos cursos de especialização e pós- graduação da PUC-Rio e no curso de tradução do Senac.» <http://www.geminivideo.com.br/>. 36 Cf. SÁ, Marcos Francisco Pedrosa Sá Freire de. A tradução para a preparação de legendas em português para programas televisivos de língua inglesa: estudo de dois casos. Dissertação de 16
  • 18. ARTIGOS E C tradução e localização Este estado de coisas faz com que brasileiros há longo tempo residindo no exterior, ou mesmo falantes de espanhol como língua materna, traduzam legendas para o português do Brasil, com resultados nem sempre satisfatórios. Com uma oferta, por uma das operadoras, de pelo menos trinta canais estrangeiros de TV a cabo no Brasil, sem falar na oferta de DVDs, vídeos e filmes, a ameaça que essa situação constitui para a língua pátria é sentida de perto pelos brasileiros. 37 OMUNICAÇÕES Rodrigues (2005) é quem aponta alguns problemas desse mercado. Em primeiro lugar, os contratos de exibição são, muitas vezes, feitos em pacotes, de tal forma que tanto a legendagem como a dublagem já vêm prontas. Além desse problema para o público e o profissional que exerce a profissão, ocorre que são apenas duas ou três grandes empresas que realizam a maior parte do trabalho. 38 Ainda segundo Rodrigues (2005), outra dificuldade para a manutenção do profissional no mercado é a insegurança inerente a ele, que flutua ao sabor da cotação do dólar. 39 Por outro lado, Rodrigues (2005) aponta a carência de profissionais gabaritados para o serviço, já que é necessário aprender a utilizar equipamentos e dominar as habilidades específicas da legendagem (Cf. SOUZA, 1999). Rodrigues (2005) salienta que «trata-se de uma técnica; este não é um trabalho que é feito por acaso». De acordo com ele, além do domínio da técnica, a principal qualidade que um legendador deve ter é a capacidade de síntese, de tal forma que possa fazer caber as falas originais em exíguas duas linhas com 24 a 32 caracteres. Rodrigues (2005) destaca, ainda, de maneira bastante forte, a grande necessidade que a indústria tem de bons copydesks ou revisores. É claro que, ao falar de legendagem, não se pode esquecer o mercado de dublagem. Apesar da quantidade imensa de programas dublados na TV aberta, do aumento do número de canais de TV a cabo que exibem somente programas dublados, dos filmes e desenhos infantis exibidos com dublagem nos cinemas e 40 dos vídeos e DVDs dublados mestrado. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 1999. Mimeo. 37 Essa preocupação, talvez, uma das razões que motivou o Deputado Aldo Rebello (PC do B - SP) a apresentar o projeto de lei 1.676/99 que «Dispõe sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da língua portuguesa e dá outras providências», aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Câmara dos Deputados em 28/3/2001. Um depoimento da relatora do projeto, Deputada Iara Bernardi, é (PT-SP), encontra-se em: <http://www.partes.com.br/ em_questao06.html>. 38 Algumas dessas empresas são conhecidas do público brasileiro que assiste TV a cabo: Globosat, Drei Marc, Geminivideo e outras. 39 Um passeio pelo site da Geminivideo dá mais um susto: na seção «Estrutura» depara-se com a quantidade de equipamento importado (certamente comprado em moeda forte) necessária para o exercício da profissão. 40 Na semana de 26 a 30 de novembro havia 37 filmes em exibição nos cinemas do Rio de Janeiro. Desses, sete eram brasileiros e os outros 30, estrangeiros. (Cf. BARBOSA 2005). 17
  • 19. ARTIGOS E C tradução e localização à venda e para aluguel em locadoras, esse mercado é ainda menos conhecido, tanto do público quanto do profissional ou pesquisador brasileiro. Embora alguns pesquisadores já tenham começado a tentar desvendar esta área, 41 muito pouco ainda é conhecido a respeito dela, e faltam números ou análises confiáveis que permitam discorrer sobre o assunto. OMUNICAÇÕES Um outro aspecto da tradução para a mídia é a tradução para jornais e revistas. Essa, de fato, constitui uma verdadeira incógnita. Sabe-se que as notícias internacionais circulam através de agências de notícias: UPI, France Presse etc. Deduz-se, então, que, se as notícias circulam em língua estrangeira, alguém as traduz. Ao olhar-se uma seção tal como a «Ciência e Vida», do jornal O Globo, por exemplo, é impossível não se perceber que se trata de matérias traduzidas, pelo seu próprio conteúdo (pesquisa de ponta realizada no exterior). No entanto, todas as vezes que tentei abordar jornalistas a respeito desse tipo de tradução, recebi uma resposta rápida, para encerrar o assunto: «Isso é jornalista quem traduz». Alguns sites de sindicatos de jornalistas chegam a indicar os preços de traduções, embora esta não seja atribuição de jornalistas, de acordo com a legislação em vigor. Pode-se supor, também, que revistas noticiosas e de ciências façam traduções. É, porém, raro encontrar uma publicação que apresente o nome do(s) tradutor(es) em sua ficha técnica. Recentemente, foram lançadas versões brasileiras de revistas tais como Scientific American. No entanto, em entrevista à TV a cabo a respeito de como essas revistas estão sendo adaptadas aos interesses do leitor brasileiro, seus dirigentes nada mencionaram a respeito da tradução ou dos tradutores. Assim, imagina-se que, nesta fatia do mercado, pelo menos, o tradutor continue invisível. O poder dos intérpretes de conferência de impor seus preços e parâmetros se deve, talvez, ao menos em parte, ao fato de trabalharem em equipe, ao contrário dos tradutores Uma interface entre a tradução para a mídia e a tradução literária é a tradução para o teatro, já que uma peça pode ser traduzida para ser lida ou para ser representada. Na semana de 26 a 30 de setembro de 2005, desenhava-se um panorama, no mínimo, curioso. Havia dezenove peças infantis em cartaz, das quais treze brasileiras e apenas seis, estrangeiras, em flagrante contraste com a produção midiática, onde dominam os produtos de origem estrangeira. Além disso, as seis peças que considerei estrangeiras são baseadas em temas da cultura mundial — Ali Babá, Cinderela, Don Quixote, Rapunzel, Tistou les pouces vertes (conhecido no Brasil como O menino dos dedos verdes), de Maurice Druon (mas o nome desse autor não é mencionado) e outra baseada em The Canterville Ghost, de Oscar Wilde —, com certeza recriadas inteiramente por autores brasileiros, embora isso não seja indicado com clareza nas publicações pesquisadas (VEJA e O Globo) (Cf. BARBOSA, 2005). 41 Por exemplo: ARAÚJO, Vera Santiago. Ser ou não ser natural, eis a questão dos clichês de emoção na tradução audiovisual. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2000. Mimeo. 18
  • 20. ARTIGOS E C tradução e localização As peças teatrais para adultos, em cartaz no mesmo período, apresentavam um panorama semelhante. Havia quarenta e quatro peças brasileiras, contra sete estrangeiras. Mas aqui, também, o tradutor se mostrava invisível. O quadro abaixo, com os nomes dos espetáculos à esquerda e as atribuições de autoria e/ou tradução à direita, demonstra como é impossível fazer qualquer identificação, seja de autor ou tradutor: OMUNICAÇÕES Else Arthur Schnitzler – adaptação de Denis Pilão e José Luiz Jr. Greve de sexo texto: Aristófanes Lado a lado com Sondheim Stephen Sondheim - versão de Cláudio Botelho Major Bárbara texto: George Bernard Shaw Minha vida de solteiro texto: Neil Simon O doene imaginário t texto: Molière - adaptação de João Bethencourt Sonata de Outono texto: Ingmar Bergman Neste quadro, Aristófanes, Bernard Shaw, Neil Simon e Ingmar Bergman parecem ser autores de textos em português, enquanto bastou uma adaptação para que Molière, designado como autor do texto, fosse entendido por brasileiros. Fica claro, portanto, que há um mercado de trabalho na tradução de peças teatrais, mas que esses tradutores são tão invisíveis que nem sequer são considerados pelos veículos de informação. Cláudio Botelho, por sua vez, aparece como autor da «versão» das canções de Sondheim. O termo «versão», aqui, se aplica à tradução de letras de músicas, para serem cantadas. O usual é que essas traduções sejam feitas por compositores ou arranjadores (os famosíssimos Chico Buarque de Hollanda e Gilberto Gil, por exemplo) e não por tradutores, uma vez que o conhecimento de música é imprescindível. Botelho constitui um caso inusitado de tradutor que vem angariando fama nacional por emprestar voz brasileira a musicais e peças de teatro. A INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA Os principais profissionais que emprestam voz brasileira a falantes de todas as línguas são os intérpretes. Além da conhecida interpretação simultânea (ou de conferência), 19
  • 21. ARTIGOS E C tradução e localização atuam na interpretação consecutiva e de acompanhamento externo. 42 É, provavelmente, neste segmento do mercado, que se faz notar, de modo mais intenso, o impacto da globalização. Segundo Gisley Rabello Ferreira, empresária da área, OMUNICAÇÕES «Na última década, muitos empresários viram no Mercosul (Mercado Comum do Sul, que integra Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) 43 e no Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte, que reúne Estados Unidos, Canadá e México) 44, 1991 e 1993 respectivamente, oportunidades de expansão para os seus negócios. Eles viram também que, sem a tradução, isso não seria possível.» 45 E, é claro, seria, igualmente, impossível sem a interpretação. Acrescente-se que não se trata somente da participação comercial do Brasil nessas entidades, mas, também, de sua atuação e de sua projeção política, notadamente na ONU 46 e na OMC, 47 sem falar na criação, pelo Brasil, da Comunidade Sul-americana de Nações (CASA), 48 que vem incrementando o número de conferências e congressos internacionais, bem como de reuniões de cúpula, as cimeiras, que têm tido lugar no país, gerando grande volume de trabalho para tradutores e intérpretes. Como exemplo expressivo, pode-se citar a Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBE) que, em comentário sobre a recente Reunião de Cúpula América do Sul-Países Árabes, realizada em Brasília, ressalta que «o segmento de interpretação simultânea é um dos que se prepara para lucrar. O encontro será traduzido para português, espanhol, inglês, francês e árabe. Cerca de 80 intérpretes foram contratados para o evento» (PAGEL, 2005). 49 42 Cf. <http://www.sintra.org.br/institu/precos.php>. 43 Cf. <http://www.mercosur.org.uy/>. 44 Cf. <http://www.dfait-maeci.gc.ca/nafta-alena/agree-en.asp>. 45 FERREIRA, Gisley Rabello. Os padrões de qualidade na tradução técnica e sua influência na profissionalização dos tradutores. Monografia de final de curso. Curso de Especialização em Tradução Inglês-Português, Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 2000. Disponível em <http://www.wordlink.com.br/monografia.pdf>. Acesso em 3 de outubro de 2005, p. 8. 46 Cf. <http://www.onu-brasil.org.br/>. 47 Cf. <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/secex/negInternacionais/omc/gatt.php>. 48 Cf. <http://casa.mre.gov.br/>. 49 PAGEL, Geovana. Reunião de cúpula deve injetar US$ 1,8 milhão na economia de Brasília. Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBE) Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Disponível em: <http://www.anba.com.br/fronteirasul.php?id=11>. 20
  • 22. ARTIGOS E C tradução e localização Os profissionais da interpretação são os de melhor remuneração e organização no Brasil. Não só possuem suas próprias associações, por exemplo, a ABTI - Associação Brasiliense de Tradutores e Intérpretes e a APIC - Associação Profissional de Intérpretes de Conferência, como são, em grande número, associados à AIIC - Association Internationale des Interprètes de Conférence. 50 O exercício da profissão é altamente esquematizado 51 e os intérpretes têm conseguido impor seus preços, pelo menos na capital federal e nas capitais metropolitanas. OMUNICAÇÕES O poder dos intérpretes de conferência de impor seus preços e parâmetros se deve, talvez, ao menos em parte, ao fato de trabalharem em equipe, ao contrário dos tradutores. Já de início, «Quando existe a necessidade de contratar intérpretes, o cliente costuma contatar um profissional que poderá se encarregar de formar a equipe, cobrando para tanto uma taxa de coordenação. Este profissional será o elo de ligação entre o cliente e a equipe, sendo responsável pela seleção adequada dos profissionais, a formalização dos contratos, a obtenção de material de estudo e outras eventualidades, como substituir profissionais na ocorrência de impedimentos etc.» (GRUETZMACHER e CAMPOS, 2005) Desta forma, a participação em uma equipe ou a sua coordenação propicia a interação face a face e a convivência a qual, por sua vez, torna-se terreno fértil para a associação profissional e para a luta por melhores condições de trabalho e por melhor remuneração. tradutores e intérpretes se vêem em um momento de instabilidade profissional que os faz transformar-se de trabalhadores autônomos em pequenos ou grandes empresários Noviços nessa luta são os intérpretes de Libras (a língua brasileira de sinais). Esses profissionais, até há bem pouco tempo, atuavam na área por serem ouvintes advindos de famílias com membros surdos, tendo aprendido a usar a Libras por este motivo. Dessa forma, seu trabalho era realizado em bases voluntárias, normalmente sem 50 ABTI – Associação Brasiliense de Intérpretes de Conferência, <http://www.abti.org.br/ abti.htm>; APIC - Associação Profissional de Intérpretes de Conferência, <http://www.apic.org.br/website/ home/>; AIIC - Association Internationale des Interprétes de Conférence - <http://www.aiic.net/>. 51 GRUETZMACHER, Jutta e CAMPOS, Sieni Maria, “Como contratar um intérprete de conferências.” 2005. Disponível em <http://www.sintra.org.br/site/index.php?pag=clientes>. 21
  • 23. ARTIGOS E C tradução e localização remuneração. 52 No momento atual, por conta de legislação que obriga a inclusão de crianças com deficiências na rede escolar 53 e que pretende estender a obrigatoriedade para outras esferas da atividade humana, 54 a necessidade desses intérpretes tem crescido geometricamente. OMUNICAÇÕES A conhecida jornalista Márcia Peltier, por exemplo, registra: «Pela primeira vez no país serão apresentadas peças com tradução/interpretação simultânea em libras, a língua dos sinais. A experiência começa hoje, com uma peça escrita por Jorge Amado, O gato malhado e a andorinha sinhá, que será apresentada pelo Grupo de Teatro e Mímica, de Portugal, no CCBB.» 55 Com isso, o intérprete de Libras deixa de ser um trabalhador voluntário e procura sua profissionalização. Surgiram associações, tal como a ANGILIS, no Rio de Janeiro, que se associou ao Sindicato para, através dele, divulgar suas propostas de honorários. Surgiu uma diversidade de cursos de formação, em nível de extensão, como o da Universidade de São Francisco, em Bragança Paulista, Estado de São Paulo, ou o curso de Graduação Tecnológica em Intérprete de Libras da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. 56 52 Ver Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS): <http://www.feneis.org.br/feneis/index.shtml>; e Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES): <http://www.ines.org.br/>. 53 Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. CAPÍTULO V: Da Educação Especial. Disponível em <http://www.rebidia.org.br/direduc.html>. 54 QUADROS, Ronice Muller de. “O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua brasileira.” Disponível em <http://www.ronice.ced.ufsc.br/publicacoes/minidic.pdf>. Projeto de lei para língua de sinais <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/259154.htm>. Legislação que embasa o serviço de interpretação de língua de sinais no Brasil <http://www.interpretels.hpg.ig.com.br/acessibilidade.htm>. 55 PELTIER, Márcia. “Inclusão artística.” Jornal do Brasil, 14/5/2005. Disponível em <http://clipping. planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=194345>. 56 Graduação Tecnológica em Intérprete de Libras, <http://www.estacio.br/politecnico/ cursos/interpretacao_sinais_surdo.asp>; Extensão Acadêmica de Introdução à Comunidade Surda e à Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, <http://www.saofrancisco.edu.br/noticias/ default.asp?rec=1923>. 22
  • 24. ARTIGOS E C tradução e localização OMUNICAÇÕES CONCLUSÃO As evidências indicam, de fato, um crescimento vertiginoso do mercado de tradução e interpretação no Brasil. Os fatores responsáveis parecem ser, efetivamente, a globalização e a intensificação da participação do Brasil na comunidade internacional, seja do ponto de vista comercial ou do diplomático. O desenvolvimento interno do país não apenas reforça sua posição no panorama internacional, como gera atividades e empregos em áreas de tecnologia avançada, primordialmente no campo da informática, necessitando intensa atividade de tradução e interpretação. Em algumas áreas, como a interpretação de língua de sinais (Libras) ou a tradução juramentada, é a própria legislação brasileira que cria e alimenta a necessidade do profissional tradutor e intérprete. Testemunha o vigor desse mercado a criação de numerosos cursos de formação de tradutores no Brasil, em vários níveis, desde cursos livres ligados a instituições devotadas ao ensino de idiomas, 57 passando pelos cursos de graduação (Bacharelado em Tradução e Interpretação em vários idiomas) 58 e pelos cursos de pós-graduação lato sensu, 59 até chegar à recente criação do primeiro curso de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) no Brasil. 60 Em meio a esse turbilhão de crescimento, porém, o mercado se encontra bastante desorganizado. Por um lado, tradutores e intérpretes se vêem em um momento de instabilidade profissional que os faz transformar-se de trabalhadores autônomos em pequenos ou grandes empresários. Um fator que contribui para o aumento dessa instabilidade é a introdução do computador que, ao mesmo tempo em que facilita o trabalho do tradutor, obriga-o a atender a prazos cada vez menores. Por outro lado, essa mesma ferramenta traz quantidades abundantes de trabalho, mas de um trabalho que só pode ser realizado por grandes equipes, forçando o tradutor a repensar sua identidade de operário solitário. essa mesma ferramenta [o computador] traz quantidades abundantes de trabalho, mas de um trabalho que só pode ser realizado por grandes equipes, forçando o tradutor a repensar sua identidade de operário solitário. 57 Por exemplo, o curso de «Técnico em Tradução» do SENAC-RIO: <http://www.rj.senac.br/psenac/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2344&sid=77>. 58 Ver: Onde estudar: <Hhttp://www.universiabrasil.net/ondeestudar/H; e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), <http://www.inep.gov.br/>. 59 Ver, por exemplo, Tradução português-inglês, PUC-Rio, <http://www.pucrio.br/ensinopesq/ ccpg/especializacao.html/>. 60 Cf. Pós-graduação em Estudos da Tradução, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), <http://www.pget.ufsc.br/>. 23
  • 25. ARTIGOS E C tradução e localização Neste quadro tumultuado, nem o sindicato da categoria nem as associações de classe parecem conseguir oferecer o amparo necessário ao profissional da área, talvez com a honrosa exceção das associações dos intérpretes de conferência e dos tradutores juramentados. OMUNICAÇÕES Em suma, nas palavras de João Azenha, tradutor, pesquisador e professor da Universidade de São Paulo (USP): «O mercado de tradução está em expansão, mas apenas para os bons tradutores, apenas para aqueles com sólida formação, experiência e ética profissional» 61, esta última a única capaz de ampará-los neste momento de transição. ■ 61 “João Azenha Junior, o premiado tradutor de O mundo de Sofia, de Jostein Gaarder”. Redação da projekt. Disponível em: <http://www.delila.ws/brasilien/projekt/artikel/p34s5-8.html>. 24
  • 26. ARTIGOS E C tradução e localização CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica, N.º 3, Nov. 2005: 25-28 OMUNICAÇÕES TRADUÇÃO TÉCNICA EM TIMOR-LESTE HERMÍNIO DR Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Portugal Resumo: Discute-se a interacção da língua portuguesa na fala de tétum em Timor-Leste. Analisa-se particularmente a tradução de uma para outra das duas línguas oficiais neste novo país, sobretudo no que diz respeito aos termos técnicos. Evidencia-se a fonética comum, mas com diferente ortografia. Palavras-Chave: Timor-Leste, línguas oficiais, fala, escrita, tradução. Abstract: This paper looks at the interaction between Portuguese and Tetum in Timor-Leste. Particular attention is paid to translation between these two official languages, especially as regards technical terms. The shaed phonetics and differences between the spelling systems are also discussed. r Keywords: Timor-Leste, official languages, speaking, writing, translation. O uso da língua portuguesa em Timor-Leste, conjuntamente com o tétum de Díli, dito tétum-praça, exerce um efeito integrador dos novos termos da actual civilização tecnológica no formato primitivo da língua veicular local. É evidente que, no país em formação, as linguagens específicas das várias técnicas desempenham uma função muito importante na modernização do jovem país. Mas há muitos aspectos básicos
  • 27. ARTIGOS E C OMUNICAÇÕES 26 tradução e localização ainda por abordar. Que os mais incrédulos procuram adiar, talvez à espera de inconfessáveis concretizações. Na verdade, ambas as estruturas linguísticas têm que se acomodar, a fim de conseguirem sobreviver aos contágios hegemónicos trazidos pelos ventos da região: o malaio-indonésio, carregado na invasão opressiva da vizinhança ambiciosa, que ocorreu ao longo de 24 anos (de 1974 a 1998); e o inglês, ameaçador com nova derrocada, por diferente invasão, potencialmente de origem australiana. As energias em jogo naquele espaço estão a ser equilibradas pela língua portuguesa. Assim definiu a Assembleia Constituinte de Timor-Leste em 2002, e desta maneira age o primeiro Governo eleito, presidido por Mari Alkatiri: o tétum e o português constituem as duas línguas veiculares timorenses, uma para enraizar a tradição na identidade do povo e outra para implantar a modernidade terminológica nos usos e costumes do século XXI. É deste modo que se assiste, hoje, à integração de uma língua complexa, caracterizada por uma estrutura flexível e portanto versátil, noutra língua simples, articulada rigidamente e, por conseguinte, primitiva. Pratica-se uma simbiose linguística que ultrapassa a aglutinação dos léxicos, pois tem de se chegar à conformação das duas diferentes estruturas morfológicas e semânticas. Não parece fácil. Mas a prática corrente, ao longo do tempo, sedimentará a poeira que paira no ar. Menos complicada será a definição de regras fonéticas, já que os dois ‘espíritos’ vocálicos combinam bastante bem, consonantes que se mostram com os respectivos espíritos dos povos falantes. A experiência convivida, ao longo de vários séculos, efectuou a aproximação de maneira pacífica e fraterna. Agora, esta aproximação manifesta-se a mais ansiada. O processo de simbiose das duas falas revela-se claramente na imprensa escrita, tanto nos jornais diários, como nos semanários publicados na capital. Aí se encontram traduções de uma língua para outra, contemplando as preferências deste ou daquele leitor. Tais leituras são também inestimáveis para os apetites vorazes dos que, como eu, anseiam por entender como se poderão conjugar as distintas perspectivas numa única fala, a que chamarei hipoteticamente de ‘portétum’. O que acontece é que os tradutores, nesse jornalismo bilingue, nem sempre primam pela adequação à gramática. Nem tampouco pela elegância do estilo. Há aqui muito estudo por incentivar ou bastante conhecimento a adquirir e prática a desenvolver. Um trabalho que durará, certamente, gerações. No entanto, trata-se de um evidente campo aberto aos linguistas e à tradução. Para desfazer eventuais equívocos, repare-se que não referi directamente a linguística, nem a actividade profissional dos tradutores. Por um lado, devem ser os especialistas das línguas a ocupar-se da criteriosa fixação da harmonia da fala. E, por outro lado, é a tradução que se encontra à disposição de quem conhece os dois idiomas, apelando a tradutores profissionais, mas igualmente aos peritos de todas as actividades
  • 28. ARTIGOS E C OMUNICAÇÕES 27 tradução e localização especializadas, que, bom será, dominem ambas as línguas. Pelo menos na actual fase de ordenamento societal, conducente a uma organização mais estruturada. A perspectiva de enriquecimento da estrutura do jovem país consiste em motivar todos os portugueses, naturalmente os que cooperem nessa construção civilizacional, a aprender as formas coloquiais reconhecidas pelo povo em geral. Até porque assim se estimulam as populações a assimilar a bela fala lusíada. O que não parece totalmente aceite. Onde melhor se apreende a possibilidade de juntar as duas línguas numa formulação híbrida é na televisão. Assiste-se a transmissões de entrevistas com os responsáveis pela condução dos negócios do Estado, normalmente os ministros das diversas pastas governamentais e também deputados parlamentares. Então, ouve-se o tétum popular imbricado no português técnico, pois são os termos das línguas específicas, próprias das novas ciências e tecnologias, que faltam à tradição. São exemplos disso algumas conversas transmitidas sobre as perspectivas da economia nacional ou as explicações regulamentares da justiça segundo o direito institucionalizado ou ainda as análises da educação projectada para o futuro próximo. Também testemunham os artigos que esses intervenientes remetem para os jornais. E merecem referência os letreiros de avisos públicos (sobre ambiente e salubridade) ou os painéis exteriores nas paredes ao longo das ruas (para chamamento à participação democrática), em curtas frases com a tecnicidade emprestada pelos dizeres portugueses. no país em formação, as linguagens específicas das várias técnicas desempenham uma função muito importante na modernização do jovem país A tradusaun em tétum faz-se, logicamente, pela semelhança fonética. É claro, acontece para além das expressões nativas da raiz linguística. Como só esta base tradicional se distingue nitidamente em ambas as práticas correntes, a ‘tradução’ tétum-português, tal como a reconversão inversa, corresponde sobretudo a uma adaptação linguística pelas mesmas sonoridades. Ora, é esta correspondência fácil que suscita algumas dificuldades. Na realidade, a formulação sintáctica numa língua influencia os arranjos sintácticos da outra. Evidencia-se uma tendência para escrever ‘mal’ nas traduções para português, por contaminação simpática da estrutura intrínseca ao tétum. A diferença na colocação dos qualificativos em relação aos substantivos e a inexistência do verbo ser ou ainda as distintas formas de aplicar iguais palavras ilustram as potenciais dificuldades. A carência do moderno vocabulário técnico em tétum é suprida pela terminologia portuguesa, de acordo com a orientação política determinada. Isto implica que sejam os peritos profissionais quem melhor traduz e reconverte a escrita. Mas a analogia fonética facilita esse trabalho, abrindo a porta a qualquer falante para que possa traduzir. O mais importante consiste em sentir por dentro o espírito das línguas. Deduz-se imediatamente que a principal tarefa dos linguistas dos dois países reside na construção imediata de regras simples e gerais de transcrição fonética do léxico. Nota- se uma prática diária que aponta no bom caminho: representação simbólica sem
  • 29. ARTIGOS E C OMUNICAÇÕES 28 tradução e localização ambiguidades, independentemente das origens gregas ou latinas e francesas ou anglo- saxónicas das palavras lusitanas. O som /s/ é sempre grafado com a letra s, quer em português se escreva s (sino = sinu) ou c (cidade = sidade) ou ainda ç (ameaçar = ameasa). Do mesmo modo, a consoante k prevalece sobre o som gutural c (catana = katana) ou q (quinta-feira = loron-kinta). Mais exemplos podem ser referidos, como o caso do z no lugar de /z/ em português (cinzento = sinzentu) e de s (mesa = meza). Desta maneira, a tarefa de tradução ainda se espraia numa costa um tanto lábil. No dia em que as condições de escrita se encontrem normalizadas, pelo uso e seguindo acordos fixados, o trabalho de passar para a fala timorense aquilo que nós exprimimos, nos nossos modos de dizer, estará sujeito a menos enganos. Porém, não se justifica que a tradução inversa, grafada em português, apareça cheia de expressões mal construídas, como hoje acontece. Tudo indica que se tem de promover rapidamente o conhecimento generalizado da língua de Camões. O instituto com o seu nome já lá se encontra em actividade. Mas com que dinâmica? Certamente a possível. Mas será suficiente? De facto, sem uma decisão política interventiva, liberta de aparentes reservas, tudo permanecerá a rolar em movimento uniforme, cuja aceleração (pelas leis da física clássica) é nula. E haverá bastante tempo de espera? As universidades timorenses, actualmente em número de vinte, servem-se da língua indonésia para cultivar os seus futuros profissionais a nível superior, salvo honrosas excepções (talvez para afeiçoar as elites do futuro), pois os jovens que as frequentam só conhecem essa bahasa indonesia (como se diz ‘língua indonésia’ em malaio). Estes estudantes não entendem sequer o tétum nacional, quanto mais o português emprestado. Que esperança resta para as traduções entre as duas línguas? Parece que se tem mesmo de aguardar a chegada dos actuais alunos das escolas primárias e secundárias ao exercício activo das profissões, jovens que regurgitam risonhos e com uma surpreendente pronúncia portuguesa. Somente então se evidenciará a possibilidade de bem traduzir em Timor-Leste. Entretanto, permanece-se em tempo de mudança. Já que a evolução tudo justifica, até a aceitação profissional do amadorismo. Todavia, a instabilidade dos ventos pode crescer e tornar a história num ciclone ou até num furacão. ■
  • 30. ARTIGOS E C tradução e localização CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica, N.º 3, Nov. 2005: 29-61 OMUNICAÇÕES PRIMEIRO RELATÓRIO DE UM INQUÉRITO A FORNECEDORES DE SERVIÇOS DE TRADUÇÃO CIENTÍFICA E TÉCNICA DE INGLÊS PARA PORTUGUÊS EUROPEU ROSÁRIO DURÃO Tradutora e Doutoranda, Portugal Resumo: Um dos principais objectivos do inquérito que deu origem a este relatório foi determinar quais as áreas de especialização dos Fornecedores de Serviços de Tradução (FST) científica e técnica de Inglês para Português europeu durante os últimos cinco anos (2000-2005). Paralelamente, procurámos obter dados que nos permitissem compor um retrato mais completo dos inquiridos, como seja, o seu perfil académico, linguístico e profissional. O inquérito foi colocado em linha e realizado entre os dias 1 e 31 de Outubro de 2005 no sítio do SurveyMonkey. Os dados revelaram que os Fornecedores de Serviços de Tradução científica e técnica de Inglês para Português europeu são maioritariamente jovens profissionais independentes que traduzem basicamente para a sua língua materna, o Português europeu. Na generalidade, são formados em Letras, especialmente em Tradução. Pouco mais de metade dos FST retira mais de metade do seu rendimento da tradução. Para um terço dos inquiridos ela é, mesmo, a sua única fonte de rendimento. A parcela que a tradução científica e técnica ocupa na actividade destes tradutores varia, mas representa mais de metade do volume de trabalho de cerca de 70 % dos FST. Quase 20 % apenas fazem este tipo de tradução. Traduzem, essencialmente, do Inglês para o Português europeu e, maioritariamente, documentos das Ciências Tecnológicas, das Ciências Médicas e das Ciências da Vida. Revelam uma grande consciência da importância da especialização na tradução de uma área científica ou técnica, aproveitando, em número razoável, as oportunidades de formação profissionalizante que se lhes apresentam. Os resultados foram interpretados como evidência dos progressos, tendências e insuficiências da formação e
  • 31. ARTIGOS E C OMUNICAÇÕES 30 tradução e localização como indicadores úteis das principais áreas e subáreas de especialização. Mas também foram avaliados como motivo de certa preocupação, pela disparidade que encontrámos entre a grande quantidade de tradutores não especializados ou incipientemente especializados e o reduzido número de especialistas tradutores. Em conclusão, recordou-se o quanto esta situação poderá ser lesiva para a imagem e o futuro dos Fornecedores de Serviços de Tradução científicos e técnicos. Palavras-Chave: Fornecedores de Serviços de Tradução; Perfil; Domínios de especialização; Tradução científica e técnica; Tradução en > pt-PT. Abstract: One o the main objectives of this survey was to determine the areas of specialization of Scientific and Technical Translation Service Providers (TTSP) working from English into European Portuguese (EP) during the last five years. Data was also collected enabling us to build up a broader profile of the respondents, such as information about their academic, linguistic and professional background. The survey was answered on line at SurveyMonkey during the entire month of October, 2005. Data revealed that TTSP from English to targe European Portuguese are mostly young independent proessionals who are translating intotheir mothe tongue (EP). The majority are gaduates in Humanities and more particularly, in Translaion. For one third o the respondents, translating istheir only source of income. The proportion of scientiic and technical translation undertaken by these translators as against their otal producion varies, althoughfor abou 70 % of them itrepresensmore than half their work load. Almost 20 % only do this sort of translaion. They primarily translate from English to European Portuguese and most work is based on the Technological Sciences, Medicine and the Life Sciences. The respondents indicated that they were acutely aware of the need to specialize in translating scientiic andtechnical text anda reasonable number took advantage of the training couses open to them in this field. Theinterpretation of the data showed that pogress had been made and revealed trends as wellas failings in translator-education. The data also provided useful indicators as regards the main areas and sub-areas of specialization. Nevertheless, when evaluating respondents' answers, it was worrying to note that many translators were not specialized or were very incipiently so while only a small number were specialists or had specialized in certain fields. This dispariy is brought to bear upon the image translaors reflect and their overall situaion in the long run. f t f r r t f f t t t t t f r r t t t t Keywords: Translaion Service Providers; Profile; Areas of specialization; Technical and Scientific translation; English > Portuguese (European) translation.
  • 32. ARTIGOS E C tradução e localização 1. INTRODUÇÃO OMUNICAÇÕES O inquérito 1 cujos resultados apresentamos insere-se no âmbito de um trabalho de investigação em curso sobre o ensino-aprendizagem da tradução científica e técnica que acompanha as indicações europeias para a formação superior em geral e para a formação inicial dos tradutores, ou seja, respectivamente, o projecto Tuning Educational Structure in Europe s l 2 e o TNP – Thematic Network Project in the Area of Languages. Sub-Project 7: Translation and Interpreting 3. Uma das grandes novidades do projecto Tuning é a exigência de que o ensino superior se articule de perto com a realidade profissional: «employment is an important element. In this context, competences and skills can relate better and may help to prepare graduates for crucial problems at certain levels of employment, in a permanently changing economy. This needs to be one of the points of analysis in the creation of programmes and units through constant reflection and evolution.» (European Commission 2002, 19) Assim, a formação superior deve assentar em elementos recolhidos junto do universo profissional, que serão depois convertidos nas competências gerais e específicas (de cada área do saber e âmbito profissional) que orientam todo o processo de ensino- aprendizagem. As competências específicas dos estudantes de Tradução foram definidas pelo TNP como: 1 O inquérito pode ser consultado no Apêndice a este artigo. 2 Os objectivos do projecto Tuning são descritos da seguinte forma: «The main aim and objectiveof the project is to contribute significantly to the elaboration of a framework of comparableand compatible qualifications in each of the (potential) signatory countries of the Bologna process, which should be described in terms of workload, level, learning outcomes, competences and profile.» http://tuning.unideusto.org/tuningeu/index.php?option=content& task=view&id=3&Itemid=26. 3 O objectivo global do TNP foi: “to respond to the challenges posed to Higher Education by a multilingual and multicultural Europe. It did so by developing recommendations and proposals for language and language-reated programmes designed to meet the demands in the professional, economic and social environments. The idea was to encourage universities to implement the recommendations and to support the proposals.» O projecto dedicado à tradução e interpretação foi designado sub-project 7, e compreende três documentos finais: um levantamento da situação da tradução e interpretação na Europa Central e Oriental, recomendações gerais para o ensino-aprendizagem da tradução e da interpretação e propostas específicas para os cursos na área. É à sua proposta para os cursos de «Tradução» que nos referimos. http://web.fu-berlin.de/elc/en/tnp.html. 31
  • 33. ARTIGOS E C tradução e localização ƒ competência linguística (na língua materna e na[s] estrangeira[s]); OMUNICAÇÕES ƒ competência cultural e temática; ƒ competência de tradução (compreensão do texto de partida, da sua finalidade, capacidade de o transpor para a língua de chegada; saber fazer investigação documental e terminológica; saber utilizar as novas tecnologias); ƒ competência de tradução de produtos informáticos (localização) e de materiais audiovisuais; ƒ competência profissional; ƒ competência teórico-prática. (European Language Council 1999a) No entanto, embora, na sua proposta de formação inicial, o TNP apresente descritores sucintos dos conteúdos de cada módulo curricular, o facto é que não especifica os resultados esperados da aprendizagem, ou seja, as competências específicas de cada unidade. Na cadeira de prática da tradução, que denomina «General Translation», uma disciplina que se prolonga por três dos quatro anos do curso, o TNP, ao contrário do que declara estar a fazer quando escreve: «It is thus of vital importance to develop the professional training of translators and interpreters» (European Language Council 1999b), também não faz referência à formação dos estudantes nos diversos tipos de tradução (tradução científica, tradução técnica, tradução jurídica…). E esta ênfase é fundamental, pois permite estabelecer a ponte para o mundo profissional onde as pessoas se classificam como tradutores científicos, tradutores técnicos, tradutores científicos e técnicos, tradutores jurídicos, etc., e não como tradutores gerais ou tradutores generalistas. a formação superior deve assentar em elementos recolhidos junto do universo profissional, que serão depois convertidos nas competências gerais e específicas (de cada área do saber e âmbito profissional) que orientam todo o processo de ensino-aprendizagem Neste sentido, aguardamos com expectativa a publicação do quadro comum de referência para a tradução e interpretação e do modelo europeu de portefólio de tradução e interpretação que vêm anunciados na Declaração de Germersheim (Kelletat 2004). Enquanto isto não acontece, porém, somos obrigados a recorrer a outras fontes para determinar quais serão as competências específicas dos tradutores científicos e técnicos. E, de facto, não é difícil encontrar bibliografia sobre o tema. Ela não é muito vasta, mas existe e há meio século que os autores procuram responder à questão das competências dos tradutores. Em 1958, J. E. Holmstrom referia o domínio temático, a competência de transferência interlinguística e a competência redaccional (38). Alguns anos mais tarde, Jean Maillot salientou os conhecimentos técnicos e linguísticos (1975, xxii), embora o seu entendimento dos últimos fosse essencialmente terminológico. Claude Bédard, por seu lado, apontou os géneros e registos técnicos quando falou das competências linguísticas dos tradutores técnicos e introduziu também a noção de competências de investigação (1986, 76, 121-122, 164-168, 176 e 192-210). Mais recentemente, no 32
  • 34. ARTIGOS E C tradução e localização capítulo de uma obra dedicada especificamente ao ensino da tradução científica e técnica, Silvia Gamero Pérez e Amparo Hurtado Albir reiteraram os conhecimentos temáticos, a terminologia, os géneros de documentos e a capacidade de o tradutor se documentar (1999, 140). OMUNICAÇÕES Daqui se poderá concluir que as competências específicas dos Fornecedores de Serviços de Tradução científica e técnica são, essencialmente, quatro: a competência temática e a competência terminológica (que estão interligadas), o conhecimento dos géneros técnicos e científicos (bem como a capacidade de os reproduzir) e a capacidade de efectuar a investigação documental necessária e adequada e de aplicar correctamente os seus resultados durante o processo de tradução. Como o trabalho de investigação que temos em curso tem por objecto o ensino- aprendizagem da tradução científica e técnica de Inglês para Português europeu, conhecer o universo dos profissionais que efectuam este tipo de tradução e dos clientes compradores de tradução transformou-se numa prioridade. Os objectivos que nos propomos alcançar, porém, levaram-nos a seleccionar, como temas focais, apenas as áreas de especialidade e os seus géneros de documentos. Não tendo encontrado questionários actuais e pormenorizados sobre estes temas relativamente à combinação e orientação linguística do nosso estudo, elaborámos as perguntas do inquérito com base em alguma bibliografia mais geral (por exemplo, Paiva 2004) e a partir de trocas de opiniões com tradutores técnicos profissionais. No inquérito e ao longo deste relatório, utilizamos as seguintes designações e correspondentes siglas «Fornecedores de Serviços de Tradução (FST)» e «Compradores de Serviços de Tradução (CST)». Embora a primeira possa ser objecto de uma interpretação mais ampla, como acontece no projecto de norma europeia (CEN 2004), por nós ela é utilizada como sinónima de «Tradutores». A utilização da segunda refere-se, inversamente, às empresas de tradução (intermediárias da tradução enquanto transacção comercial) e aos clientes finais dos documentos traduzidos. O conceito de «tradução científica e técnica», por seu lado, segue o sistema de classificação da UNESCO. Desta forma, «tradução científica» diz respeito à tradução de documentos de «Matemáticas», «Astronomia e Astrofísica», «Física», «Química», «Ciências da Vida», «Ciências da Terra e do Espaço», «Ciências Agrárias» e «Ciências Médicas» (códigos 12, 21 a 25, 31 e 32). A «tradução técnica» alude à tradução de documentos das «Ciências Tecnológicas» (código 33). 1.1. Objectivos Os objectivos fundamentais do inquérito foram: a) determinar as principais áreas e subáreas de trabalho dos FST e dos CST na combinação e orientação linguística Inglês > Português europeu entre 2000 e 2005; e 33
  • 35. ARTIGOS E C tradução e localização b) conhecer os géneros de documentos mais traduzidos pelos mesmos FST e CST na mesma combinação e orientação linguística e no mesmo período de tempo. OMUNICAÇÕES A necessidade de compreender a situação envolvente e até de alvitrar algumas causas para a mesma convenceram-nos de que era importante introduzir um objectivo secundário, ou seja, de incluir perguntas que nos possibilitassem obter uma imagem mais inteira dos sujeitos da amostra, desde a sua formação académica a algumas circunstâncias da sua actividade profissional. 2. METODOLOGIA A informação que se pretendia recolher tinha como universo os Fornecedores de Serviços de Tradução (tradutores) e os Compradores de Serviços de Tradução (empresas de tradução e clientes finais). Por este motivo, o inquérito inicial foi desdobrado em dois, cada um destinado ao grupo-alvo em questão. O inquérito aos FST continha 75 perguntas. O que se destinava aos CST era composto por um total de 58 perguntas. Os questionários foram colocados no sítio do SurveyMonkey, uma ferramenta que permite criar e colocar inquéritos em linha. O período de resposta decorreu entre os dias 1 e 31 de Outubro de 2005. Embora cada pessoa só pudesse responder ao inquérito uma vez, era-lhes dada a possibilidade de retomar o inquérito caso o tivessem suspendido e de, em qualquer altura, mesmo depois de o terem enviado, alterar as suas respostas. Os resultados apresentados neste relatório podem ser interpretados como evidência de que houve um grande aumento na oferta de cursos de Tradução nos últimos quinze anos em Portugal e de que essa formação teve, pelo menos, dois grandes méritos Os questionários foram concebidos de maneira a permitir que os inquiridos respondessem apenas às perguntas que se aplicavam ao seu caso. Ainda assim, o tempo médio de resposta era de 15 a 20 minutos para o inquérito aos FST e de 10 a 15 minutos para o dos CST. Os inquéritos foram divulgados por correio electrónico às seguintes pessoas e entidades: membros do Conselho Editorial desta publicação e a sua lista de subscritores; grupos de discussão sobre tradução na Internet; empresas de tradução sedeadas maioritariamente em Portugal; directório de tradutores independentes em linha, o ProZ.com; associações, sociedades, confederações e federações (empresariais, industriais e profissionais) não ligadas directamente à tradução; ordens profissionais portuguesas; e empresas nacionais e multinacionais e entidades de outra natureza. Na sua generalidade, as mensagens continham um pedido para que os destinatários dessem a conhecer o inquérito aos seus colaboradores directos e indirectos. As mensagens continham a indicação do endereço de acesso a cada um dos questionários, cabendo aos inquiridos a decisão de responderem ao questionário que correspondia ao seu perfil. 34
  • 36. ARTIGOS E C tradução e localização Apesar do grande número de perguntas e de os inquéritos demorarem algum tempo a responder, o questionário aos FST devolveu um total de 154 respostas válidas 4. O inquérito aos CST obteve 6 respostas válidas, motivo pelo qual o presente relatório apenas apresenta e analisa os resultados relativos aos FST. OMUNICAÇÕES Agradecemos a todas pessoas que se prestaram a responder e a todas as que ajudaram na divulgação dos questionários, contribuindo para um melhor conhecimento do panorama da tradução científica e técnica profissional de Inglês para Português europeu entre os anos de 2000 e 2005. O inquérito aos FST foi concebido de modo a determinar, prioritariamente, as suas principais áreas e subáreas de especialização (II Parte) e os géneros de documentos científicos e técnicos que traduziram com mais frequência (III Parte). Tanto uma como outra parte concluíam com algumas perguntas sobre a necessidade de especialização e sobre as acções de formação profissional frequentadas. A I Parte do questionário continha perguntas que nos permitiriam traçar um retrato mais vasto deste tipo de FST, designadamente, a sua identificação, o seu local de residência, a sua formação académica, as suas línguas de trabalho e alguns factores ligados ao exercício da profissão. Como resultado das nossas leituras e do diálogo que temos estabelecido com docentes e tradutores profissionais, apresentamos e analisamos aqui apenas os resultados da I e II Partes que nos parecem mais relevantes. 3. RESULTADOS 3.1. I Parte 3.1.1. Perfil Académico A comparação das respostas que se referem às habilitações académicas dos inquiridos conduz ao seguinte gráfico (perguntas 5, 6, 8, 9, 11, 12, 14 e15): 4 Por inquéritos ou respostas «válidas» entendam-se os inquéritos que foram respondidos por FST que trabalhavam na combinação e orientação linguística especificada (en > pt-PT) e que responderam às perguntas que exprimiam os principais objectivos do inquérito: (a) as áreas de especialização temática e (b) os géneros de documentos científicos e técnicos mais traduzidos. 35
  • 37. ARTIGOS E C tradução e localização 60194338014282050100150 Licenciatura, BacharelatoouequivalentePós- graduaçãoMestradoDoutoramen- to Habilitações académicas N.º de inquiridos Total de respostasFormação em Tradução OMUNICAÇÕES FIG. 1: Formação superior dos FST comparada com a sua formação superior em Tradução Como vemos, 82 inquiridos (53 % da amostra) 5 seleccionaram a opção «Tradução» como área de formação inicial. As respostas à pergunta 6 mostram que 64 (42 %) se diplomaram em «Línguas; Linguística», 29 (19 %) nas diferentes áreas científicas e técnicas apresentadas 6 e 27 (18 %) em «Outras áreas» 7: 5 Ao longo deste artigo, a conversão dos valores em percentagens foi realizada tendo por referência do número total da amostra, ou seja, 154 inquiridos. 6 «Matemática», «Astronomia e Astrofísica», «Física», «Química», «Ciências da Vida», «Ciências da Terra e do Espaço», «Ciências Agrárias», «Ciências Médicas» e «Ciências Tecnológicas» 7 A soma das percentagens dá um total superior a 100 %. Isto deve-se ao facto de alguns inquiridos assinalarem mais do que uma área de formação. Este facto ocorreu com mais frequência nas opções «Tradução» e «Línguas; Linguística». 36
  • 38. ARTIGOS E C tradução e localização 641165221112782050100150 TraduçãoLínguas; LinguísticaCiências TecnológicasCiências MédicasCiências da VidaAstronomia e AstrofísicaQuímicaCiências AgráriasCiências da Terra e do EspaçoMatemáticasOutras Áreas de especialidade N.º de inquiridos OMUNICAÇÕES FIG. 2: Formação superior inicial, por áreas de especialidade 3.1.2. Perfil Linguístico As respostas à pergunta 17 mostram que o Português é a língua materna de 146 inquiridos (95 % da amostra); 3 (2 %) afirmam ser o Inglês e 4 (3 %) seleccionaram a opção «Outra». A combinação e orientação linguística que gerou maior volume de trabalho aos FST da amostra foi en > pt-PT (pergunta 27): 37
  • 39. ARTIGOS E C tradução e localização 10,7 % 10 % 6,4 % 5,2 % 1 %0,4 % 1,9 % 1,3 % 0,2 % 63,4 % en > pt-PTpt-PT > ende > pt-PTfr > pt-PTes > pt-PTOutras > pt-PTpt-PT > Outraspt-PT > frpt-PT > dept-PT > es OMUNICAÇÕES FIG. 3: Percentagem do volume de documentos científicos e técnicos traduzidos, por combinação e orientação linguística 3.1.3. Perfil Profissional As respostas à pergunta 21 revelam que 84 (55 %) inquiridos consideram a tradução como a sua actividade principal. O gráfico abaixo indica que, para 74 FST (48 %), esta actividade representa mais de 80 % do seu rendimento. Destes, 48 (31 %) têm-na como única actividade. Para cerca de 40 a 45 % dos inquiridos ela representa abaixo de metade do seu rendimento: 421671326480204060 0 a 1920 a 3940 a 5960 a 7980 a 99100 % do rendimento N.º de inquiridos FIG. 4: Percentagem do rendimento dos FST proveniente da tradução 38
  • 40. ARTIGOS E C tradução e localização Relativamente ao seu regime de trabalho, os resultados mostram que 130 (87 %) inquiridos afirmam ser tradutores independentes, 20 (13 %) exercem a actividade simultaneamente em regime dependente e independente e 4 (3 %) trabalham exclusivamente por conta de outrem (pergunta 20). OMUNICAÇÕES No que diz respeito à tradução científica e técnica propriamente dita, os elementos obtidos indicam que 102 (66 %) do total de inquiridos exerce a actividade há menos de dez anos (pergunta 24): 544824134450204060 0 a 45 a 910 a 1415 a 1920 a 2425 a 2930 ou mais Anos de profissão N.º de inquiridos FIG. 5: Anos de exercício da profissão de FST científico e técnico Na pergunta 25, 80 inquiridos (52 % da amostra) consideram que as traduções científicas e técnicas representam mais de 80 % do seu trabalho; para cerca de 109 (c. 70 %) ela constitui mais de metade do seu volume de trabalho. As respostas à pergunta 26 indicam que a tradução en > pt-PT é a combinação e orientação linguística dominante na tradução científica e técnica: 39
  • 41. ARTIGOS E C tradução e localização 14162119522816183314462501020304050600 a 1920 a 3940 a 5960 a 7980 a 99100Volume de trabalho (%) N.º de inquiridos Tradução científica e técnicaTradução científica e técnica en > pt-PT OMUNICAÇÕES FIG. 6: Volume de trabalho de tradução científica e técnica comparado com o volume de trabalho de tradução científica e técnica de Inglês para Português europeu 3.2. II Parte 3.2.1. Áreas de Especialização A média das percentagens atribuídas a cada área de especialidade pelos FST, em resposta à pergunta 29 na qual se pedia que distribuíssem o volume de traduções científicas e técnicas que fizeram de Inglês para Português europeu, ao longo dos últimos 5 anos, pelas diferentes áreas científicas, consta do gráfico abaixo: 18,37,93,52,91,91,20,60,463,2020406080100Ciências TecnológicasCiências Médicas Ciências da VidaCiências da Terra e do EspaçoQuímicaCiências AgráriasMatemáticasAstronomia e AstrofísicaFísica Áreas de especialização % média 40 FIG. 7: Volume de traduções científicas e técnicas de Inglês para Português europeu nos últimos cinco anos
  • 42. ARTIGOS E C tradução e localização 3.2.2. Subáreas de Especialização OMUNICAÇÕES 3.2.2.1. Matemáticas Nos últimos cinco anos, as Matemáticas foram uma das três principais áreas de trabalho de 4 FST (3 % da amostra) (pergunta 30). As principais subáreas (pergunta 31) a «Estatística» (2 respostas), a «Análise e Análise Funcional» (1 resposta) e a «Ciência dos Computadores» (1 resposta). As «Outras especialidades matemáticas» obtiveram 2 respostas. 3.2.2.2. Astronomia e Astrofísica Esta área foi eleita como uma das principais áreas de trabalho nos últimos cinco anos por 3 FST (2 % da amostra) (pergunta 32). As principais subáreas (pergunta 33) foram a «Astronomia Óptica» e o «Sistema Solar» (2 respostas cada), a «Planetologia» e a «Radioastronomia» (1 resposta cada). 1 inquirido apontou também as «Outras especialidades astronómicas». 3.2.2.3. Física A Física foi uma das três principais áreas de trabalho de 1 inquirido (0,6 % da amostra) (pergunta 34) e a «Mecânica» a sua principal subárea (pergunta 35). 3.2.2.4. Química 14 FST (9 % da amostra) seleccionaram a Química como uma das três principais áreas de trabalho dos últimos cinco anos (pergunta 36). O maior volume de traduções (pergunta 37) realizou-se nas seguintes subáreas: 8 8 Nos gráficos relativos ao volume de trabalho por subárea de especialidade apenas se indicam os domínios que obtiveram uma resposta positiva (≥ 1). 41
  • 43. ARTIGOS E C tradução e localização 44311145020406080Química ambientalQuímica farmacêuticaQuímica inorgânicaQuímica orgânicaBioquímicaQuímica analíticaQuímica nuclearOutras especialidades químicas Subáreas de especialidade N.º de respostas OMUNICAÇÕES FIG. 8: Subáreas da Química com maior volume de trabalho de Inglês para Português europeu nos últimos cinco anos 3.2.2.5. Ciências da Vida 31 inquiridos (20 % da amostra) escolheram as Ciências da Vida como uma das três principais áreas de trabalho dos últimos cinco anos (pergunta 38). A distribuição do volume de trabalho pelas diferentes subáreas foi bastante uniforme (pergunta 39): 877765554432211890204060Biologia humanaBiologia celularAntropologiaBiologia animalImunologiaFisiologia humanaBiologia molecularBioquímicaVirologiaBiologia vegetalGenéticaNeurociênciasBiologia dos insectosPaleontologiaBiofísicaMicrobiologiaOutras Subáreas de especialidade N.º de respostas 80 42 FIG. 9: Subáreas das Ciências da Vida com maior volume de trabalho de Inglês para Português europeu nos últimos cinco anos