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Universidade do Minho
                  Mestrado Integrado em Psicologia
                    U.C Comportamento Sexual




                           Relatório
Projecto de Intervenção: oficina de teatro para a prevenção da
               violência no namoro entre jovens




                                                                     Discentes:
                                                     Verónica Baptista nº36207
                                                          Rute Duarte nº52939
                                                         Pedro Póvoa nº56875
                                                      Patrícia Martins nº53375

                                                                      Docente:
                                                                     José Cruz


                       2º Semestre 2010/2011
                              Braga
Índice




Introdução

                               Parte I
                “Emergência do Projecto de Intervenção”

    1.1.Diagnóstico da realidade
    1.2. Enquadramento teórico da Violência do Namoro




                               Parte II
                       “Programação do Projecto”

    2.1. Objectivos
    2.2. Mobilização de recursos e pessoas
    2.3. Tipo de Intervenção
    2.4. Teatro do Oprimido
    2.5. Planificação das sessões
    2.6. Instrumentos de avaliação


Referências Bibliográficas

Anexos
  a. Questionário realizado na Junta de Freguesia S.Nicolau
  b. Exemplos de dinâmicas de grupo para a dinamização da oficina
  c. Proposta de apresentação do projecto
  d. Apresentação power point do dia 16-06-2011
Introdução

       O presente relatório pretende apresentar o projecto de intervenção desenvolvido
no âmbito da unidade curricular de Comportamento Sexual, e todo o processo de
conceptualização do mesmo.
       O projecto de intervenção inscreve-se num plano de intervenção mais
abrangente que compreende três fases: i) o projecto; ii) a realização de intervenção, e
por último iii) a avaliação do processo e dos resultados. Posto isto, neste relatório
quedar-nos-emos nos aspectos relativos à conceptualização do projecto, pois no plano
real a intervenção e a sua avaliação ainda não foram operacionalizadas.
       Os motivos que impulsionaram o desenvolvimento deste trabalho remetem
principalmente para questões de índole pessoal. Os elementos constituintes do grupo
cultivavam a vontade de poder criar uma intervenção no âmbito psico-educativo e ter a
possibilidade de por em prática essa ideia. Por isso, delineou-se o plano de construir
esse mesmo intento iniciando um processo de planificação.
       O processo de planificação que se desenrolou teve em vista responder às
seguintes questões que comummente estão implícitas a um projecto: Quem intervém?
Com quem? Porquê? Para quê? A partir de quê? Onde? Quando? Como? O que já foi
conseguido? O que falta conseguir? ( ref)
       O projecto como metodologia de trabalho permite que se desenvolvam os
vectores condutores da prática interventiva e também, antecipa obstáculos e
possibilidades de resolução, e ora dá a conhecer as características da realidade, actores e
motivações com quem se pretende trabalhar. Num sentido mais simbólico, Barbier
(1996) lembra que o projecto insurge-se como uma “ ideia possível de transformação do
real ou (…) uma imagem antecipadora e finalizante de um processo que permite
assegurar a passagem de um estado, a outro estado. “ (p.    )
       A Emergência do Projecto e Planificação, foram as duas etapas que definimos
para um desenvolvimento faseado do projecto, de modo a controlar os objectivos que
pretendemos cumprir com a intervenção. A Emergência do Projecto incluiu o
diagnóstico da realidade a descrição do tema dos destinatários, a pesquisa bibliográfica
sobre a conceptualização metodológica a temática e formas de intervenção. A segunda
etapa amplia as necessidades atinentes a um projecto de investigação, esclarecendo
aspectos como objectivos e tipo de intervenção, planificação das sessões, mobilização
de recursos e pessoas, meios e moldes de divulgação da intervenção , as características
do grupo que queremos formar e uma calendarização geral das actividades. Por fim,
esta fase abarca também os instrumentos de avaliação (ainda em desenvolvimento) que
serão utilizadas para avaliar o processo de intervenção, o interesse e aprendizagens
adquiridas pelos/pelas participantes, bem como o nosso desempenho na consecução das
actividades e passagem de informação.
       Dessa forma, o relatório apresenta um desenvolvimento das duas etapas de
planificação supra referidas, focando-se nos aspectos que considerámos mais relevantes
para uma compreensão dos objectivos que pretendemos alcançar quando a intervenção
passar para o plano de acção.
Parte I

Emergência do Projecto de Intervenção


1.1. Diagnóstico da realidade

       O diagnóstico do contexto alvo surge como uma etapa no nosso projecto de
intervenção no sentido de perceber a realidade onde será realizada a intervenção, as
necessidades comunitárias e as expectativas em relação à introdução de um projecto
nesse mesma comunidade. A auscultação da comunidade poderia ser realizada de várias
formas através de diferentes informantes chave. No entanto, dada a escassez de tempo e
de recursos, optámos por entrevistar a presidente da junta de freguesia de S.Nicolau pela
sua proximidade à comunidade, e pelos conhecimentos sobre o contexto que o exercício
da sua profissão à partida exige. Ainda, a pedido da Dra. Cármen Navarro, presidente da
junta freguesia de S. Nicolau, compareceu também na reunião o tesoureiro da
instituição, Sr. Adão, por estar bastante envolvido profissional e pessoalmente com a
freguesia.
       A entrevista semi-estruturada foi construída de forma a compreender cinco
campos distintos e essenciais para a construção do projecto: caracterização social e
demográfica da comunidade; necessidades e potencialidades da comunidade; tipologias
de associações e áreas de intervenção existentes na freguesia S. Nicolau; pertinência do
tema Violência do Namoro como área de intervenção; recursos da comunidade para a
execução do projecto.
       A par da entrevista foram ainda consultadas informações disponibilizadas na
internet no site da Câmara Municipal do Porto e da Junta de Freguesia de S. Nicolau.


       A freguesia de S. Nicolau situa-se na cidade do Porto, na zona Ribeirinha.
Segundo o recenseamento da população em 2001 a freguesia possuía cerca de 2 937
habitantes, num conjunto de 59 arruamentos.
       Uma das fragilidades desta zona portuense remete para o problema da habitação
que segundo a Dra. Carmen Navarro, revela-se a dois níveis. A um nível mais estrutural
na deterioração das habitações locais e de grande valor arquitectónico e histórico, sem
projectos de reabilitação. Facto que tem conduzido à desocupação e reencaminhamento
dos moradores, inclusive idosos, para zonas periféricas da cidade; o que contribui
primeiro, para uma população maioritariamente idosa na freguesia de S. Nicolau, e para
um processo de desenraizamento identitário, comunitário e social de pessoas que
cresceram e viveram na freguesia que se vêem obrigadas por questões económicos e
administrativas a mudar para zonas da cidade com as quais não possuem qualquer tipo
de relação social, afectiva ou comunitária.
       Por outro, a nível demográfico, esta freguesia tem assistido a uma chegada de
pessoas de outros pontos da cidade, principalmente vindos das áreas artísticas,
procurando por exemplo, soluções de habitação, espaços para trabalhar, locais para
desenvolver projectos de âmbito cultural, etc. É nesta linha que a Junta de Freguesia
está envolvida com o projecto Low Cost, destinado à reabilitação de edifícios para a
habitação de pessoas maioritariamente jovens e vindas de outros pontos da cidade.
       Apesar da diminuição de jovens naturais da zona ribeirinha a que se tem
assistido nos últimos anos, alguns espaços relacionados com a população mais nova
ainda subsistem. É o caso da escola do primeiro ciclo, a ludoteca destinada às crianças,
e “ O Musical” onde se praticam várias actividades de carácter cultural. É interessante
destacar estes espaços por acolherem crianças que não vivendo actualmente na
freguesia, ainda possuem ligações familiares como os avós que habitam na freguesia.
       Quanto aos recursos e potencialidades da freguesia, primeiro é importante referir
a disponibilidade da Junta em colaborar através da cedência de espaços, facilitação de
contactos e até na participação nas actividades. Uma das características sociais
salientadas pela Presidente, foi o facto da população da freguesia apresentar um grande
carácter solidário, no sentido das redes sociais alargadas. Segundo a Presidente da Junta,
verifica-se em S.Nicolau uma importante entreajuda entre vizinhos, que concorre para
um apoio social informal e para a cooperação entre os moradores a vários níveis.
       Em relação aos projectos e programas de intervenção nas áreas apoio social,
promoção da saúde ou de índole cultural, não se têm verificado com a intensidade
desejada. Apesar da ausência, o/a nosso/a entrevistado/a concordaram com a
importância de projectos nessas áreas, principalmente voltados para os jovens. Por isso,
a ideia de um projecto de intervenção sobre violência no namoro, na opinião da
representante da Junta de Freguesia, é interessante até porque na sua prática profissional
já tem assistido a esse fenómeno. Relatou os episódios dos ensaios para as rusgas de S.
João onde tem a oportunidade de observar as interacções entre os jovens e apercebe-se
frequentemente das dinâmicas abusivas entre namorados.
1.2. Enquadramento teórico da Violência do Namoro

São diversas as disciplinas que se ocupam com o estudo da presente temática.
Segundo Teixeira, Gonçalves & Menezes (2009), os principais contributos vêm de áreas
como:
        a Medicina, já que são várias as vitimas a recorrem a serviços médicos e
        hospitalares, de forma frequentemente;
   •    A Educação, que mune a sociedade com (in)formação acerca da temática
        contribuindo para o conhecimento geral do fenómeno;
   •    a Filosofia, que aliada à Psicologia, promove competências e estratégias
        assertivas para lidar e antever situações de abuso nas relações;
   •    e a Psicologia Social, que estuda diversos fenómenos sociais, sendo que este é
        um dos que se torna cada vez mais frequente na sociedade em que vivemos, ou
        que é cada vez mais denunciado ( graças ao trabalho e empenho que todas estas
        disciplinas manifestam).
Estas acções de (in)formação são levadas a cabo através de diversas entidades. Em
Portugal, nomeadamente, e de acordo com Teixeira, Gonçalves & Menezes (2009), as
que mais contribuem neste sentido são Escolas e Universidades (actuando nas camadas
mais jovens), Centros Comunitários de Promoção da Inclusão Social, Gabinetes de
Atendimento à Família (GAF) e Hospitais através, essencialmente, de campanhas de
sensibilização e esclarecimento.
Quando se trata de ir para o campo actuar sobre a problemática, os interlocutores
privilegiados são os Psicólogos (pela sensibilidade humana que possuem), e actores-
chave comunitários (que fazem a ponte entre o interior e o exterior da comunidade, para
além de deterem uma posição única e singular, já que são vistos, normalmente, como
um modelo- de sucesso- a seguir.
        Segundo diversos estudos, os factores prevalentemente apontados como
promotores de comportamentos violentos nas relações de namoro são o contexto
político-social, com maior incidência nas faixas económico-financeiras baixas, bem
como em pessoas que apresentam antecedentes familiares de violência doméstica.
A este respeito, Oliveira (2009) apresenta-nos um estudo efectuado junto de uma
amostra de 283 sujeitos. Aqui, foram relatados 46% dos sujeitos como visando
comportamentos agressivos, 57% dizia já ter sido vítima de algum tipo de violência em
relações amorosas, e 16.3% afirmou ter assistido a comportamentos violentos em
contexto familiar. É ainda de salientar que se verificou que os adolescentes são os que
mais apresentavam comportamentos violentos no namoro.
         No que diz respeito à violência na família de origem, grande parte dos estudos
dizem que esta pode promover comportamentos violentos nas relações amorosas através
da violência interparental -preditor visto como directo no impulsionar da violência no
namoro. Contudo, também pode exercer um papel indirecto, nomeadamente, através do
impacto atitudinal e comportamental que exerce sobre os jovens.
         A relação entre a violência no namoro e a vitimação na família de origem
compreende-se à luz da perspectiva da transmissão intergeracional da violência.
Segundo esta perspectiva existem duas formas da propagação ocorrer: através da noção
de aprendizagem social e/ou da modelagem de certas características da personalidade.
Relativamente à noção de aprendizagem social falamos em mecanismos vicariantes, tais
como a observação, o reforço, a modelagem, ou coação. Assim, o comportamento do
indivíduo é determinado pelo ambiente em que se insere, sobretudo pelos membros da
família.
         A modelagem das características da personalidade que sustentam a agressão na
intimidade refere-se à tendência de internalização e externalização da responsabilidade e
das emoções desproporcionais face à rejeição/abandono.
Percebemos então, que a família para além de viabilizar certos comportamentos de
agressividade nos seus membros, também os pode levar a interiorizar valores
ideológicos e sociais (ex: atitudes e crenças sobre papeis de género e violência) que
funcionam como factores de promoção de condutas violentas.
         Na bibliografia averiguada, existe a referência de que o impacto deste tipo de
violência não ocorre da mesma forma nos dois géneros. São apontadas várias situações
onde podemos verificar esta diferença. No isolamento imposto pelo agressor, stalking
(impedimento para contactos sociais), a falta de experiência relacional, a necessidade de
emancipação e de independência dos jovens, a falta de identificação de eventuais
recursos para a gerir (nos adultos) e outras características associadas à dinâmica
relacional (mais concretamente, a assimetria de poder entre parceiros) (Matos et al.,
2006).
Parte II

Programação

2.1. Objectivos

       Foram desenvolvidos sete objectivos no intuito de adequar a nossa intervenção
 ao interesse geral da intervenção, às especificidades da temática de violência no
 namoro e ao tipo de intervenção que queremos realizar. São estes, i) informar sobre o
 tema violência no namoro, identificando factores de risco e protectores, prevalência e
 dinâmicas; ii) explorar e desmistificar as crenças (sociais e culturais) e mitos
 associados às relações abusivas entre jovens; iii) elucidar sobre o impacto dos
 comportamentos violentos nas relações amorosas; iv) promover competências de
 gestão de conflitos; v) informar sobre as entidades portuguesas responsáveis pelo
 apoio à vítima; vi) fomentar competências como a coesão de grupo, comunicação,
 resolução de conflitos, expressão emocional e corporal; vii) usar da técnica teatral para
 a formação socioeducativa.
       Estes objectivos foram desenvolvidos a partir das leituras realizadas sobre
 programas de prevenção e intervenção nomeadamente o estudo realizado por Matos,
 Machado, Caridade e Silva (2006) sobre uma intervenção em contexto escolar com
 jovens no âmbito da Prevenção da Violência nas relações de namoro.




2.2. Mobilização de recursos e pessoas


       Considerar a mobilização de recursos e pessoas é antecipar possíveis obstáculos
e resistências à execução e implementação do projecto. Um dos grandes obstáculos
antecipados é a adesão dos/as jovens a uma oficina de teatro que trate do tema violência
no namoro. Determinadas práticas abusivas no contexto das relações amorosas são
legitimadas e até reforçadas por algumas crenças culturais e sociais. Por isso, é
necessário antecipar uma possível resistência ao presente tema, preparando argumentos
e respostas para debater questões sociais e culturais enraizadas. Dessa forma, o
problema é antecipado trazendo para a sessão de apresentação da oficina a comparação
das práticas violentas com o controlo e função da “violência” nas artes marciais.
Funcionando como actor-chave, por pertencer e ser reconhecido pela comunidade em
questão, Pedro Póvoa (um dos elementos do grupo) introduzirá no seu discurso algumas
questões relacionadas com a sua prática profissional e desportiva, ampliando a
discussão sobre violência. Em seguida apresenta-se um excerto de uma entrevista dada
pelo mesmo, de forma a ilustrar esta ideia:

                  “Muitas coisas que faço no Taekwondo podem ser extrapoladas para a vida
         no quotidiano, pois os ensinamentos que aprendemos desde pequenos e tudo o que
         enfrentamos dentro do tatami e nos treinos é difícil de se separar de nós pois já faz
         parte do nosso ser. Taekwondo, nasceu na Korea e significa a via dos pés e das mãos.
         TAE- a arte de lutar com os pés KWON- a arte de lutar com as mãos e DO- caminho,
         filosofia marcial. Os princípios do Taekwondo são: cortesia, integridade,
         perseverança, auto-domínio e espírito indomável. Em pequeno todos os Mestres
         ensinam o Juramento do Taekwondo: Nós como membros treinamos os nossos
         espíritos e corpos de acordo com as regras pré escritas. Nós como praticantes
         estamos unidos numa amizade mútua. Nós como praticantes cumpriremos os
         regulamentos e obedeceremos aos instrutores e aos mais graduados. Taekwondo é
         dividido em várias vertentes como a parte marcial, que inclui defesas pessoais,
         poomses, etc. Eu neste momento pratico a parte desportiva, modalidade olímpica,
         com regras específicas e protecções, com o objectivo de proteger a integridade física
         do atleta.Para mim o taekwondo ensinou-me muitos valores que não se ensina na
         escola. O Taekwondo é para mim, um modo de vida.”

         Isto é, apesar de se tratar de uma actividade que envolve o encontro físico, dita
regras e códigos éticos que definem a violência num contexto estritamente desportivo de
respeito e igualdade perante o adversário.
         A mobilização de recursos já foi perspectivada numa fase anterior à própria
definição do tipo de intervenção. Na entrevista realizada à Presidente da Junta foi
incluído um tópico relacionado com cedência de espaços, contactos e outro tipo de
disponibilidades para a concretização da oficina.
         Ainda, no sentido de integrar uma
         ????????????????????????


2.3.Tipos de Intervenção


         Segundo Matos et al. (2006), as dimensões possíveis de intervenção para a
prevenção são três. Contudo, é nosso intuito trabalhar no sentido da prevenção primária
e secundária visto que os elementos constituintes do grupo têm pouca experiência de
campo.
         Assim, dever-se-á entender que todos aqueles sujeitos que vierem a fazer parte
do programa de intervenção e que nunca vivenciaram ou experienciaram qualquer tipo
de realidade violenta serão pertencentes ao grupo da prevenção primária (sendo nosso
intento, que estes permaneçam nesta situação); enquanto aqueles que vivem
experiências de violência (parental/interparental), pertencerão ao grupo respeitante à
prevenção secundária. Este último grupo deve ser foco de grande atenção, pois existe
uma elevada probabilidade de se virem a tornar vitimas ou agressores nas suas relações
íntimas presentes e/ou futuras. Ainda, as características sócio-culturais da zona onde se
pretende intervir é permeável a este tipo de situações, por isso, auspicia-se que os/as
participantes que se enquadram neste grupo estarão em maior número do que o grupo de
pessoas que nunca vivenciaram dinâmicas de relações abusivas no contexto pessoal,
familiar ou na comunidade.
       O instrumento de intervenção adoptado para operacionalizar os objectivos a que
nos propomos com o projecto de intervenção é o teatro porque se revela como meio
para o “desenvolvimento da capacidade crítica, de observação, imaginação, espírito de
cooperação, socialização (…) que pode levar a que as pessoas saiam da sua passividade,
que entrem em acção e que assumam ou recobrem a sua autonomia” (como citado em
Cunha, 2000, p. 61).
       Na lógica da disciplina da Educação, o teatro pode ser assumido como uma
técnica de educação não-formal, que pressupõe simultaneamente uma aprendizagem
individual e colectiva e a participação activa de aqueles/as que se envolvem. Segundo
Cunha (2000) é um processo baseado sobretudo na comunicação pois é, por excelência,
um meio de comunicação, e ao mesmo tempo que dá lugar à comunicação, permite que
o sujeito se expresse sobre si e comunique com o outro.
       O lugar e o tempo do teatro são múltiplos. São os acontecimentos do mundo que
se assiste como espectador (a): os eventos sociais, políticos, manifestações ideológicas,
religiosas … são as cenas do dia-a-dia que se repetem com o mesmo guião, a mesma
cadência, com as mesmas marcações em palco, “ (…) a peça do café da manhã, a cena
de ir para o trabalho, o ato de trabalhar, o epílogo do jantar, o almoço épico com toda a
família no domingo, etc” (Boal, 1999, p. xiii). E por fim, o teatro revê-se nos recursos
estilísticos que as pessoas empregam quando comunicam com os outros, como a
hipérbole ou o exagero da realidade, o eufemismo e a suavização da verdade ou as
interjeições para sublinhar os pensamentos.
       A problemática central ao projecto de intervenção, violência no namoro,
apresenta características bastante interessantes para a operacionalização da intervenção
a partir das técnicas, exercícios e jogos teatrais. O tema alude a dinâmicas que marcam
as relações entre pessoas e por isso, a sua discussão e compreensão é enriquecida se, na
promoção de mudanças nos comportamentos e atitudes, estiverem envolvidas
estratégias de resolução de conflitos, treino de competências sociais e de vida e role-
Play (Matos, Machado, Caridade & Silva, 2006). É da opinião de Cunha (2000) que as
linguagens artísticas são úteis quando se discute desenvolvimento pessoal e colectivo,
expressão e comunicação de experiências, sentimentos e pensamentos, construtos
fundamentais nos processos de socialização (p.70). sendo ainda de salientar que o teatro
como linguagem artística, favorece o ensaio de condutas não violentas, a gestão de
conceitos contrários à violência, a (re)construção do espaço e fronteiras do outro,
exercitando personagens da acção dramática no sentido de transmitirem mensagens para
a acção real.




2.4. Teatro do Oprimido



           O teatro do oprimido é uma forma de teatro que engloba um conjunto de
técnicas, exercícios e jogos, e que foi criado por Augusto Boal nos anos 60 no Brasil.
           Esta forma de arte dramática baseia-se em alguns dos construtos do chamado
Teatro Essencial1, nomeadamente o teatro objectivo, o teatro subjectivo e a linguagem
teatral. O teatro objectivo é o espaço estético, isto é, o lugar que é criado quando o
espectador não intervém na acção, observando apenas a cena. O teatro subjectivo diz
respeito ao indivíduo e à sua capacidade de ser duplamente actor/actriz e espectador/a,
pois à sua sobrevivência está associada a ideia de agir e observar o resultado da sua
acção. Por último, a linguagem teatral é a transposição para o Teatro do Oprimido,
constitui o conjunto de emoções, comportamentos, desejos e pensamentos que ocupam
simultaneamente o palco e o quotidiano (Cunha, Mello & Spieler, 2009)
           O termo oprimido diz respeito ao “indivíduos ou grupos que são social, cultural,
política, económica, racial ou sexualmente desapoderados do seu direito ao diálogo ou
de qualquer forma, diminuídos no exercício desse direito” (2009, p.132). Ora as
técnicas, os jogos e os exercícios a que o teatro do oprimido se propõe, visam
reconstruir essa necessidade de diálogo, expressão e discussão, que foi abafada por
constrangimentos sociais, políticos ou culturais.

1
    Teatro Essencial, proposto por Denise Stoklos, Brasil.
O teatro do oprimido existe sobre diversas formas de representação, abordagens
estéticas à arte dramática, que varia de acordo com os objectivos e temática que aborda.
A lista inclui o teatro imagem, teatro-fórum, teatro invisível, teatro jornal, teatro
legislativo, teatro desejo do arco-íris, teatro legislativo, etc.
        Para uma compreensão geral do funcionamento do teatro do oprimido importa
descrever algumas das características da representação segundo esta forma de teatro.
Não constituindo como objectivo deste trabalho enunciar todas as formas de teatro do
oprimido, focar-nos-emos sucintamente no teatro-fórum.
        O teatro-fórum rege-se por regras que promovem a participação e discussão de
todos/as os /as participantes. Existem personagens distintamente identificadas, a partir
do seu discurso, das suas expressões corporais e da sua indumentária. Essa identidade
deve situar o/a personagem numa ideologia, função social, profissão ou outro tipo de
identificação social, pois esta forma de teatro propõe a análise de situações sociais.
Durante o espectáculo mostra-se uma cena do mundo que contenha o conflito e a
definição dessa opressão. Em palco é apresentada uma solução para o conflito e
questiona-se os/as espectadores/as sobre a legitimidade dessa       resolução por parte
dos/as protagonistas em cena. Os/as espectadores/as são convidados/as a tomar o lugar
do/a protagonista para retomar a cena onde o conflito não é resolvido da forma mais
igualitária. Enquanto o espectador/a feito actor/actriz apresenta uma nova solução, os
outros/as protagonistas insistem na opressão, reforçando a ideia da dificuldade em
alterar a realidade. É portanto um exercício para acção na vida real, “actores e plateia,
igualmente actuando, tomam conhecimento das possíveis consequências das suas
acções. Ficam conhecendo o arsenal dos opressores e as possíveis tácticas e estratégias
dos oprimidos” (Boal, 1998, p.33).
Referências bibliográficas

Ander-Egg, E. (2000). Metodología e Prática de la Animación Sociocultural. Madrid:
Editorial CSS.

Barbier, J. M. (1996). Elaboração de projectos de acção e planificação. Porto: Porto
Editora.

Boal, A. (1998). Jogos para atores e não atores. Brasil: Civilização Brasileira.

Cunha, J. R., Mello, C., Spieler,P. (2009). Direitos Humanos: roteiro de curso. Brasil:
Fundação Getulio Vargas.

Cunha, M. (2000). Animação educativa através do Teatro: um projecto de intervenção
na área da educação de adultos. Universidade do Minho: Braga.

Fritzen, S. (2002). Exercícios Práticos de Dinâmicas de Grupo. Petrópolis: Editora
Vozes.

Magalhães, M., Canotilho, A., Brasil, E. (2007). Gostar de mim gostar de ti: aprender a
prevenir a violência de género. Maia: Umar.

Matos, M., Machado, C., Caridade, S., Silva, M. J. (2006). Prevenção da Violências nas
relações de namoro: intervenção com jovens em contexto escolar. Psicologia: teoria e
prática, 8 (1), 55-75.

Oliveira, M. S. A. (2009). Violência Intergeracional: da violência na família à
violência no namoro. Universidade do Porto, Portugal.

Teixeira, P. M., Gonçalves, C. M. & Menezes, I. (2009). Community Psychology in
Portugal: Evolution and Current Trends in Praxis and Research. Forum
Gemeindepsychologie.

Ventosa, V. (1997). Intervención socioeducativa. Madrid: Editorial CCS.
Anexos

a) Questionário realizado à presidente e tesoureiro da Junta de Freguesia de
   S.Nicolau


1- Como descreveria a freguesia de S.Nicolau em relação à população residente (se
   há muitos ou poucos jovens, idosos, condições económicas, sociais …)? Com
   que problemas a freguesia se defronta mais?

2- Quais são as associações de carácter social e cultural que existem na freguesia
   de S.Nicolau? Que tipo de apoios, serviços prestam?

3- Que tipo de programas e/ou projectos têm sido desenvolvidos na freguesia no
   âmbito do apoio social, da cultura, na promoção da saúde, da prevenção de
   comportamentos de risco?

4- Na sua opinião, acha que poderiam ser feitos mais intervenções sociais com a
   população de S.Nicolau? Porquê? E com que franja da população seria mais
   urgente intervir? Em que áreas?

5- Pensámos no tema da Violência do Namoro, direccionado aos jovens. Existem
   vários estudos da área, e esses mesmos comprovam que é uma realidade comum
   entre os jovens portugueses. O que acha da pertinência deste tema? Porquê?
   Se quiséssemos então trabalhar com jovens da freguesia, em que locais e altura
   seria mais adequada para contactá-los?

6- Seria possível a Junta disponibilizar algum espaço para uma possível
   intervenção breve /curta (por exemplo uma oficina que contaria com actividades
   uma vez por semana durante 2 horas)?
b) Proposta de apresentação do projecto no sentido de adquirir apoios para a sua
      realização.



        Projecto de Intervenção na freguesia de S.Nicolau, Ribeira


Nome do projecto
Oficina de Teatro para a Prevenção da Violência no Namoro

Local
Instalações da Junta de Freguesia de S.Nicolau
morada: Rua Comércio Porto, nº 7, 4050-210 Porto

Data início da oficina
a partir de 17 Setembro 2011 (todos os Sábados)

Última sessão
19 Novembro 2011

Responsáveis
Patrícia Martins, Pedro Póvoa, Verónica Baptista, Rute Duarte

Destinatários
Rapazes e raparigas entre os 15 e 18 anos, que vivem na Ribeira ou que mantenham
ligações familiares à zona ribeirinha.

Nº de participantes
Mínimo de 4 pessoas, máximo de 8 pessoas.


Objectivos do projecto

i) Informar sobre o tema violência no namoro, identificando factores de risco e
protectores, prevalência e dinâmicas;
ii) Explorar e desmistificar as crenças (sociais e culturais) e mitos associados às relações
abusivas entre jovens;
iii) Elucidar sobre o impacto dos comportamentos violentos nas relações amorosas;
iv) Promover competências de gestão de conflitos;
 v) Informar sobre as entidades portuguesas responsáveis pelo apoio à vítima;
vi) Fomentar competências como a coesão de grupo, comunicação, resolução de
conflitos, expressão emocional e corporal;
vii) Usar da técnica teatral para explorar os temas relacionados com a violência no
namoro e construir soluções para os conflitos nas relações amorosas que não passem
pela violência física, psicológico ou verbal.
Descrição da Oficina

          Será realizada uma primeira sessão de apresentação do projecto que terá a
seguinte ordem de trabalhos: apresentação da equipa, projecção de um vídeo que
explica os objectivos e características da oficina, esclarecimento sobre questões
relacionadas com horário, duração e contactos dos/as responsáveis.
          As três sessões a decorrer, a partir do primeiro Sábado seguinte à apresentação,
serão constituídas por actividades que visam promover a coesão do grupo, desenvolver
competências de comunicação e discussão, explorar situações típicas de relações
abusivas discutindo à luz das experiências dos/as participantes. Pretende-se que neste
primeiro bloco de sessões os/as participantes adquiram um conhecimento mais
estruturado sobre a violência nas relações do namoro entre os jovens, os sinais de alerta,
o impacto e as entidades responsáveis pelo apoio à vítima. Ainda, no final da terceira
sessão, pretende-se que o grupo apresente uma decisão quanto às situações de violência
no namoro a trabalhar com a técnica teatral a partir da quarta sessão.
          Nas cinco sessões seguintes serão trabalhados algumas técnicas à iniciação
teatral baseadas em exercícios que permitam iniciar os/as participantes à construção de
um/uma personagem, interagir em palco usando da improvisação, explorar as emoções e
formas de estar em palco. Proceder-se-á também ao ensaio da peça a apresentar no final
da oficina, constituída por várias situações típicas relativas à violência do namoro entre
jovens.
          No desfecho será realizada uma apresentação final, em que os/as participantes
poderão convidar as pessoas que preferirem para assistir à sua actuação. O derradeiro
nome do projecto, bem como da peça final será da responsabilidade dos/as participantes,
pois serão convidados pelos/pelas formadores/as a pensarem num título para o trabalho
realizado.




Contactos:
teatronaribeira@gmail.com

Patrícia Martins 91 470 60 94
Pedro Póvoa 91 642 34 54

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Oficina de teatro para prevenção da violência no namoro

  • 1. Universidade do Minho Mestrado Integrado em Psicologia U.C Comportamento Sexual Relatório Projecto de Intervenção: oficina de teatro para a prevenção da violência no namoro entre jovens Discentes: Verónica Baptista nº36207 Rute Duarte nº52939 Pedro Póvoa nº56875 Patrícia Martins nº53375 Docente: José Cruz 2º Semestre 2010/2011 Braga
  • 2. Índice Introdução Parte I “Emergência do Projecto de Intervenção” 1.1.Diagnóstico da realidade 1.2. Enquadramento teórico da Violência do Namoro Parte II “Programação do Projecto” 2.1. Objectivos 2.2. Mobilização de recursos e pessoas 2.3. Tipo de Intervenção 2.4. Teatro do Oprimido 2.5. Planificação das sessões 2.6. Instrumentos de avaliação Referências Bibliográficas Anexos a. Questionário realizado na Junta de Freguesia S.Nicolau b. Exemplos de dinâmicas de grupo para a dinamização da oficina c. Proposta de apresentação do projecto d. Apresentação power point do dia 16-06-2011
  • 3. Introdução O presente relatório pretende apresentar o projecto de intervenção desenvolvido no âmbito da unidade curricular de Comportamento Sexual, e todo o processo de conceptualização do mesmo. O projecto de intervenção inscreve-se num plano de intervenção mais abrangente que compreende três fases: i) o projecto; ii) a realização de intervenção, e por último iii) a avaliação do processo e dos resultados. Posto isto, neste relatório quedar-nos-emos nos aspectos relativos à conceptualização do projecto, pois no plano real a intervenção e a sua avaliação ainda não foram operacionalizadas. Os motivos que impulsionaram o desenvolvimento deste trabalho remetem principalmente para questões de índole pessoal. Os elementos constituintes do grupo cultivavam a vontade de poder criar uma intervenção no âmbito psico-educativo e ter a possibilidade de por em prática essa ideia. Por isso, delineou-se o plano de construir esse mesmo intento iniciando um processo de planificação. O processo de planificação que se desenrolou teve em vista responder às seguintes questões que comummente estão implícitas a um projecto: Quem intervém? Com quem? Porquê? Para quê? A partir de quê? Onde? Quando? Como? O que já foi conseguido? O que falta conseguir? ( ref) O projecto como metodologia de trabalho permite que se desenvolvam os vectores condutores da prática interventiva e também, antecipa obstáculos e possibilidades de resolução, e ora dá a conhecer as características da realidade, actores e motivações com quem se pretende trabalhar. Num sentido mais simbólico, Barbier (1996) lembra que o projecto insurge-se como uma “ ideia possível de transformação do real ou (…) uma imagem antecipadora e finalizante de um processo que permite assegurar a passagem de um estado, a outro estado. “ (p. ) A Emergência do Projecto e Planificação, foram as duas etapas que definimos para um desenvolvimento faseado do projecto, de modo a controlar os objectivos que pretendemos cumprir com a intervenção. A Emergência do Projecto incluiu o diagnóstico da realidade a descrição do tema dos destinatários, a pesquisa bibliográfica sobre a conceptualização metodológica a temática e formas de intervenção. A segunda etapa amplia as necessidades atinentes a um projecto de investigação, esclarecendo aspectos como objectivos e tipo de intervenção, planificação das sessões, mobilização de recursos e pessoas, meios e moldes de divulgação da intervenção , as características
  • 4. do grupo que queremos formar e uma calendarização geral das actividades. Por fim, esta fase abarca também os instrumentos de avaliação (ainda em desenvolvimento) que serão utilizadas para avaliar o processo de intervenção, o interesse e aprendizagens adquiridas pelos/pelas participantes, bem como o nosso desempenho na consecução das actividades e passagem de informação. Dessa forma, o relatório apresenta um desenvolvimento das duas etapas de planificação supra referidas, focando-se nos aspectos que considerámos mais relevantes para uma compreensão dos objectivos que pretendemos alcançar quando a intervenção passar para o plano de acção.
  • 5. Parte I Emergência do Projecto de Intervenção 1.1. Diagnóstico da realidade O diagnóstico do contexto alvo surge como uma etapa no nosso projecto de intervenção no sentido de perceber a realidade onde será realizada a intervenção, as necessidades comunitárias e as expectativas em relação à introdução de um projecto nesse mesma comunidade. A auscultação da comunidade poderia ser realizada de várias formas através de diferentes informantes chave. No entanto, dada a escassez de tempo e de recursos, optámos por entrevistar a presidente da junta de freguesia de S.Nicolau pela sua proximidade à comunidade, e pelos conhecimentos sobre o contexto que o exercício da sua profissão à partida exige. Ainda, a pedido da Dra. Cármen Navarro, presidente da junta freguesia de S. Nicolau, compareceu também na reunião o tesoureiro da instituição, Sr. Adão, por estar bastante envolvido profissional e pessoalmente com a freguesia. A entrevista semi-estruturada foi construída de forma a compreender cinco campos distintos e essenciais para a construção do projecto: caracterização social e demográfica da comunidade; necessidades e potencialidades da comunidade; tipologias de associações e áreas de intervenção existentes na freguesia S. Nicolau; pertinência do tema Violência do Namoro como área de intervenção; recursos da comunidade para a execução do projecto. A par da entrevista foram ainda consultadas informações disponibilizadas na internet no site da Câmara Municipal do Porto e da Junta de Freguesia de S. Nicolau. A freguesia de S. Nicolau situa-se na cidade do Porto, na zona Ribeirinha. Segundo o recenseamento da população em 2001 a freguesia possuía cerca de 2 937 habitantes, num conjunto de 59 arruamentos. Uma das fragilidades desta zona portuense remete para o problema da habitação que segundo a Dra. Carmen Navarro, revela-se a dois níveis. A um nível mais estrutural na deterioração das habitações locais e de grande valor arquitectónico e histórico, sem projectos de reabilitação. Facto que tem conduzido à desocupação e reencaminhamento dos moradores, inclusive idosos, para zonas periféricas da cidade; o que contribui primeiro, para uma população maioritariamente idosa na freguesia de S. Nicolau, e para
  • 6. um processo de desenraizamento identitário, comunitário e social de pessoas que cresceram e viveram na freguesia que se vêem obrigadas por questões económicos e administrativas a mudar para zonas da cidade com as quais não possuem qualquer tipo de relação social, afectiva ou comunitária. Por outro, a nível demográfico, esta freguesia tem assistido a uma chegada de pessoas de outros pontos da cidade, principalmente vindos das áreas artísticas, procurando por exemplo, soluções de habitação, espaços para trabalhar, locais para desenvolver projectos de âmbito cultural, etc. É nesta linha que a Junta de Freguesia está envolvida com o projecto Low Cost, destinado à reabilitação de edifícios para a habitação de pessoas maioritariamente jovens e vindas de outros pontos da cidade. Apesar da diminuição de jovens naturais da zona ribeirinha a que se tem assistido nos últimos anos, alguns espaços relacionados com a população mais nova ainda subsistem. É o caso da escola do primeiro ciclo, a ludoteca destinada às crianças, e “ O Musical” onde se praticam várias actividades de carácter cultural. É interessante destacar estes espaços por acolherem crianças que não vivendo actualmente na freguesia, ainda possuem ligações familiares como os avós que habitam na freguesia. Quanto aos recursos e potencialidades da freguesia, primeiro é importante referir a disponibilidade da Junta em colaborar através da cedência de espaços, facilitação de contactos e até na participação nas actividades. Uma das características sociais salientadas pela Presidente, foi o facto da população da freguesia apresentar um grande carácter solidário, no sentido das redes sociais alargadas. Segundo a Presidente da Junta, verifica-se em S.Nicolau uma importante entreajuda entre vizinhos, que concorre para um apoio social informal e para a cooperação entre os moradores a vários níveis. Em relação aos projectos e programas de intervenção nas áreas apoio social, promoção da saúde ou de índole cultural, não se têm verificado com a intensidade desejada. Apesar da ausência, o/a nosso/a entrevistado/a concordaram com a importância de projectos nessas áreas, principalmente voltados para os jovens. Por isso, a ideia de um projecto de intervenção sobre violência no namoro, na opinião da representante da Junta de Freguesia, é interessante até porque na sua prática profissional já tem assistido a esse fenómeno. Relatou os episódios dos ensaios para as rusgas de S. João onde tem a oportunidade de observar as interacções entre os jovens e apercebe-se frequentemente das dinâmicas abusivas entre namorados.
  • 7. 1.2. Enquadramento teórico da Violência do Namoro São diversas as disciplinas que se ocupam com o estudo da presente temática. Segundo Teixeira, Gonçalves & Menezes (2009), os principais contributos vêm de áreas como: a Medicina, já que são várias as vitimas a recorrem a serviços médicos e hospitalares, de forma frequentemente; • A Educação, que mune a sociedade com (in)formação acerca da temática contribuindo para o conhecimento geral do fenómeno; • a Filosofia, que aliada à Psicologia, promove competências e estratégias assertivas para lidar e antever situações de abuso nas relações; • e a Psicologia Social, que estuda diversos fenómenos sociais, sendo que este é um dos que se torna cada vez mais frequente na sociedade em que vivemos, ou que é cada vez mais denunciado ( graças ao trabalho e empenho que todas estas disciplinas manifestam). Estas acções de (in)formação são levadas a cabo através de diversas entidades. Em Portugal, nomeadamente, e de acordo com Teixeira, Gonçalves & Menezes (2009), as que mais contribuem neste sentido são Escolas e Universidades (actuando nas camadas mais jovens), Centros Comunitários de Promoção da Inclusão Social, Gabinetes de Atendimento à Família (GAF) e Hospitais através, essencialmente, de campanhas de sensibilização e esclarecimento. Quando se trata de ir para o campo actuar sobre a problemática, os interlocutores privilegiados são os Psicólogos (pela sensibilidade humana que possuem), e actores- chave comunitários (que fazem a ponte entre o interior e o exterior da comunidade, para além de deterem uma posição única e singular, já que são vistos, normalmente, como um modelo- de sucesso- a seguir. Segundo diversos estudos, os factores prevalentemente apontados como promotores de comportamentos violentos nas relações de namoro são o contexto político-social, com maior incidência nas faixas económico-financeiras baixas, bem como em pessoas que apresentam antecedentes familiares de violência doméstica. A este respeito, Oliveira (2009) apresenta-nos um estudo efectuado junto de uma amostra de 283 sujeitos. Aqui, foram relatados 46% dos sujeitos como visando comportamentos agressivos, 57% dizia já ter sido vítima de algum tipo de violência em relações amorosas, e 16.3% afirmou ter assistido a comportamentos violentos em
  • 8. contexto familiar. É ainda de salientar que se verificou que os adolescentes são os que mais apresentavam comportamentos violentos no namoro. No que diz respeito à violência na família de origem, grande parte dos estudos dizem que esta pode promover comportamentos violentos nas relações amorosas através da violência interparental -preditor visto como directo no impulsionar da violência no namoro. Contudo, também pode exercer um papel indirecto, nomeadamente, através do impacto atitudinal e comportamental que exerce sobre os jovens. A relação entre a violência no namoro e a vitimação na família de origem compreende-se à luz da perspectiva da transmissão intergeracional da violência. Segundo esta perspectiva existem duas formas da propagação ocorrer: através da noção de aprendizagem social e/ou da modelagem de certas características da personalidade. Relativamente à noção de aprendizagem social falamos em mecanismos vicariantes, tais como a observação, o reforço, a modelagem, ou coação. Assim, o comportamento do indivíduo é determinado pelo ambiente em que se insere, sobretudo pelos membros da família. A modelagem das características da personalidade que sustentam a agressão na intimidade refere-se à tendência de internalização e externalização da responsabilidade e das emoções desproporcionais face à rejeição/abandono. Percebemos então, que a família para além de viabilizar certos comportamentos de agressividade nos seus membros, também os pode levar a interiorizar valores ideológicos e sociais (ex: atitudes e crenças sobre papeis de género e violência) que funcionam como factores de promoção de condutas violentas. Na bibliografia averiguada, existe a referência de que o impacto deste tipo de violência não ocorre da mesma forma nos dois géneros. São apontadas várias situações onde podemos verificar esta diferença. No isolamento imposto pelo agressor, stalking (impedimento para contactos sociais), a falta de experiência relacional, a necessidade de emancipação e de independência dos jovens, a falta de identificação de eventuais recursos para a gerir (nos adultos) e outras características associadas à dinâmica relacional (mais concretamente, a assimetria de poder entre parceiros) (Matos et al., 2006).
  • 9. Parte II Programação 2.1. Objectivos Foram desenvolvidos sete objectivos no intuito de adequar a nossa intervenção ao interesse geral da intervenção, às especificidades da temática de violência no namoro e ao tipo de intervenção que queremos realizar. São estes, i) informar sobre o tema violência no namoro, identificando factores de risco e protectores, prevalência e dinâmicas; ii) explorar e desmistificar as crenças (sociais e culturais) e mitos associados às relações abusivas entre jovens; iii) elucidar sobre o impacto dos comportamentos violentos nas relações amorosas; iv) promover competências de gestão de conflitos; v) informar sobre as entidades portuguesas responsáveis pelo apoio à vítima; vi) fomentar competências como a coesão de grupo, comunicação, resolução de conflitos, expressão emocional e corporal; vii) usar da técnica teatral para a formação socioeducativa. Estes objectivos foram desenvolvidos a partir das leituras realizadas sobre programas de prevenção e intervenção nomeadamente o estudo realizado por Matos, Machado, Caridade e Silva (2006) sobre uma intervenção em contexto escolar com jovens no âmbito da Prevenção da Violência nas relações de namoro. 2.2. Mobilização de recursos e pessoas Considerar a mobilização de recursos e pessoas é antecipar possíveis obstáculos e resistências à execução e implementação do projecto. Um dos grandes obstáculos antecipados é a adesão dos/as jovens a uma oficina de teatro que trate do tema violência no namoro. Determinadas práticas abusivas no contexto das relações amorosas são legitimadas e até reforçadas por algumas crenças culturais e sociais. Por isso, é necessário antecipar uma possível resistência ao presente tema, preparando argumentos e respostas para debater questões sociais e culturais enraizadas. Dessa forma, o problema é antecipado trazendo para a sessão de apresentação da oficina a comparação das práticas violentas com o controlo e função da “violência” nas artes marciais. Funcionando como actor-chave, por pertencer e ser reconhecido pela comunidade em
  • 10. questão, Pedro Póvoa (um dos elementos do grupo) introduzirá no seu discurso algumas questões relacionadas com a sua prática profissional e desportiva, ampliando a discussão sobre violência. Em seguida apresenta-se um excerto de uma entrevista dada pelo mesmo, de forma a ilustrar esta ideia: “Muitas coisas que faço no Taekwondo podem ser extrapoladas para a vida no quotidiano, pois os ensinamentos que aprendemos desde pequenos e tudo o que enfrentamos dentro do tatami e nos treinos é difícil de se separar de nós pois já faz parte do nosso ser. Taekwondo, nasceu na Korea e significa a via dos pés e das mãos. TAE- a arte de lutar com os pés KWON- a arte de lutar com as mãos e DO- caminho, filosofia marcial. Os princípios do Taekwondo são: cortesia, integridade, perseverança, auto-domínio e espírito indomável. Em pequeno todos os Mestres ensinam o Juramento do Taekwondo: Nós como membros treinamos os nossos espíritos e corpos de acordo com as regras pré escritas. Nós como praticantes estamos unidos numa amizade mútua. Nós como praticantes cumpriremos os regulamentos e obedeceremos aos instrutores e aos mais graduados. Taekwondo é dividido em várias vertentes como a parte marcial, que inclui defesas pessoais, poomses, etc. Eu neste momento pratico a parte desportiva, modalidade olímpica, com regras específicas e protecções, com o objectivo de proteger a integridade física do atleta.Para mim o taekwondo ensinou-me muitos valores que não se ensina na escola. O Taekwondo é para mim, um modo de vida.” Isto é, apesar de se tratar de uma actividade que envolve o encontro físico, dita regras e códigos éticos que definem a violência num contexto estritamente desportivo de respeito e igualdade perante o adversário. A mobilização de recursos já foi perspectivada numa fase anterior à própria definição do tipo de intervenção. Na entrevista realizada à Presidente da Junta foi incluído um tópico relacionado com cedência de espaços, contactos e outro tipo de disponibilidades para a concretização da oficina. Ainda, no sentido de integrar uma ???????????????????????? 2.3.Tipos de Intervenção Segundo Matos et al. (2006), as dimensões possíveis de intervenção para a prevenção são três. Contudo, é nosso intuito trabalhar no sentido da prevenção primária e secundária visto que os elementos constituintes do grupo têm pouca experiência de campo. Assim, dever-se-á entender que todos aqueles sujeitos que vierem a fazer parte do programa de intervenção e que nunca vivenciaram ou experienciaram qualquer tipo
  • 11. de realidade violenta serão pertencentes ao grupo da prevenção primária (sendo nosso intento, que estes permaneçam nesta situação); enquanto aqueles que vivem experiências de violência (parental/interparental), pertencerão ao grupo respeitante à prevenção secundária. Este último grupo deve ser foco de grande atenção, pois existe uma elevada probabilidade de se virem a tornar vitimas ou agressores nas suas relações íntimas presentes e/ou futuras. Ainda, as características sócio-culturais da zona onde se pretende intervir é permeável a este tipo de situações, por isso, auspicia-se que os/as participantes que se enquadram neste grupo estarão em maior número do que o grupo de pessoas que nunca vivenciaram dinâmicas de relações abusivas no contexto pessoal, familiar ou na comunidade. O instrumento de intervenção adoptado para operacionalizar os objectivos a que nos propomos com o projecto de intervenção é o teatro porque se revela como meio para o “desenvolvimento da capacidade crítica, de observação, imaginação, espírito de cooperação, socialização (…) que pode levar a que as pessoas saiam da sua passividade, que entrem em acção e que assumam ou recobrem a sua autonomia” (como citado em Cunha, 2000, p. 61). Na lógica da disciplina da Educação, o teatro pode ser assumido como uma técnica de educação não-formal, que pressupõe simultaneamente uma aprendizagem individual e colectiva e a participação activa de aqueles/as que se envolvem. Segundo Cunha (2000) é um processo baseado sobretudo na comunicação pois é, por excelência, um meio de comunicação, e ao mesmo tempo que dá lugar à comunicação, permite que o sujeito se expresse sobre si e comunique com o outro. O lugar e o tempo do teatro são múltiplos. São os acontecimentos do mundo que se assiste como espectador (a): os eventos sociais, políticos, manifestações ideológicas, religiosas … são as cenas do dia-a-dia que se repetem com o mesmo guião, a mesma cadência, com as mesmas marcações em palco, “ (…) a peça do café da manhã, a cena de ir para o trabalho, o ato de trabalhar, o epílogo do jantar, o almoço épico com toda a família no domingo, etc” (Boal, 1999, p. xiii). E por fim, o teatro revê-se nos recursos estilísticos que as pessoas empregam quando comunicam com os outros, como a hipérbole ou o exagero da realidade, o eufemismo e a suavização da verdade ou as interjeições para sublinhar os pensamentos. A problemática central ao projecto de intervenção, violência no namoro, apresenta características bastante interessantes para a operacionalização da intervenção a partir das técnicas, exercícios e jogos teatrais. O tema alude a dinâmicas que marcam
  • 12. as relações entre pessoas e por isso, a sua discussão e compreensão é enriquecida se, na promoção de mudanças nos comportamentos e atitudes, estiverem envolvidas estratégias de resolução de conflitos, treino de competências sociais e de vida e role- Play (Matos, Machado, Caridade & Silva, 2006). É da opinião de Cunha (2000) que as linguagens artísticas são úteis quando se discute desenvolvimento pessoal e colectivo, expressão e comunicação de experiências, sentimentos e pensamentos, construtos fundamentais nos processos de socialização (p.70). sendo ainda de salientar que o teatro como linguagem artística, favorece o ensaio de condutas não violentas, a gestão de conceitos contrários à violência, a (re)construção do espaço e fronteiras do outro, exercitando personagens da acção dramática no sentido de transmitirem mensagens para a acção real. 2.4. Teatro do Oprimido O teatro do oprimido é uma forma de teatro que engloba um conjunto de técnicas, exercícios e jogos, e que foi criado por Augusto Boal nos anos 60 no Brasil. Esta forma de arte dramática baseia-se em alguns dos construtos do chamado Teatro Essencial1, nomeadamente o teatro objectivo, o teatro subjectivo e a linguagem teatral. O teatro objectivo é o espaço estético, isto é, o lugar que é criado quando o espectador não intervém na acção, observando apenas a cena. O teatro subjectivo diz respeito ao indivíduo e à sua capacidade de ser duplamente actor/actriz e espectador/a, pois à sua sobrevivência está associada a ideia de agir e observar o resultado da sua acção. Por último, a linguagem teatral é a transposição para o Teatro do Oprimido, constitui o conjunto de emoções, comportamentos, desejos e pensamentos que ocupam simultaneamente o palco e o quotidiano (Cunha, Mello & Spieler, 2009) O termo oprimido diz respeito ao “indivíduos ou grupos que são social, cultural, política, económica, racial ou sexualmente desapoderados do seu direito ao diálogo ou de qualquer forma, diminuídos no exercício desse direito” (2009, p.132). Ora as técnicas, os jogos e os exercícios a que o teatro do oprimido se propõe, visam reconstruir essa necessidade de diálogo, expressão e discussão, que foi abafada por constrangimentos sociais, políticos ou culturais. 1 Teatro Essencial, proposto por Denise Stoklos, Brasil.
  • 13. O teatro do oprimido existe sobre diversas formas de representação, abordagens estéticas à arte dramática, que varia de acordo com os objectivos e temática que aborda. A lista inclui o teatro imagem, teatro-fórum, teatro invisível, teatro jornal, teatro legislativo, teatro desejo do arco-íris, teatro legislativo, etc. Para uma compreensão geral do funcionamento do teatro do oprimido importa descrever algumas das características da representação segundo esta forma de teatro. Não constituindo como objectivo deste trabalho enunciar todas as formas de teatro do oprimido, focar-nos-emos sucintamente no teatro-fórum. O teatro-fórum rege-se por regras que promovem a participação e discussão de todos/as os /as participantes. Existem personagens distintamente identificadas, a partir do seu discurso, das suas expressões corporais e da sua indumentária. Essa identidade deve situar o/a personagem numa ideologia, função social, profissão ou outro tipo de identificação social, pois esta forma de teatro propõe a análise de situações sociais. Durante o espectáculo mostra-se uma cena do mundo que contenha o conflito e a definição dessa opressão. Em palco é apresentada uma solução para o conflito e questiona-se os/as espectadores/as sobre a legitimidade dessa resolução por parte dos/as protagonistas em cena. Os/as espectadores/as são convidados/as a tomar o lugar do/a protagonista para retomar a cena onde o conflito não é resolvido da forma mais igualitária. Enquanto o espectador/a feito actor/actriz apresenta uma nova solução, os outros/as protagonistas insistem na opressão, reforçando a ideia da dificuldade em alterar a realidade. É portanto um exercício para acção na vida real, “actores e plateia, igualmente actuando, tomam conhecimento das possíveis consequências das suas acções. Ficam conhecendo o arsenal dos opressores e as possíveis tácticas e estratégias dos oprimidos” (Boal, 1998, p.33).
  • 14. Referências bibliográficas Ander-Egg, E. (2000). Metodología e Prática de la Animación Sociocultural. Madrid: Editorial CSS. Barbier, J. M. (1996). Elaboração de projectos de acção e planificação. Porto: Porto Editora. Boal, A. (1998). Jogos para atores e não atores. Brasil: Civilização Brasileira. Cunha, J. R., Mello, C., Spieler,P. (2009). Direitos Humanos: roteiro de curso. Brasil: Fundação Getulio Vargas. Cunha, M. (2000). Animação educativa através do Teatro: um projecto de intervenção na área da educação de adultos. Universidade do Minho: Braga. Fritzen, S. (2002). Exercícios Práticos de Dinâmicas de Grupo. Petrópolis: Editora Vozes. Magalhães, M., Canotilho, A., Brasil, E. (2007). Gostar de mim gostar de ti: aprender a prevenir a violência de género. Maia: Umar. Matos, M., Machado, C., Caridade, S., Silva, M. J. (2006). Prevenção da Violências nas relações de namoro: intervenção com jovens em contexto escolar. Psicologia: teoria e prática, 8 (1), 55-75. Oliveira, M. S. A. (2009). Violência Intergeracional: da violência na família à violência no namoro. Universidade do Porto, Portugal. Teixeira, P. M., Gonçalves, C. M. & Menezes, I. (2009). Community Psychology in Portugal: Evolution and Current Trends in Praxis and Research. Forum Gemeindepsychologie. Ventosa, V. (1997). Intervención socioeducativa. Madrid: Editorial CCS.
  • 15. Anexos a) Questionário realizado à presidente e tesoureiro da Junta de Freguesia de S.Nicolau 1- Como descreveria a freguesia de S.Nicolau em relação à população residente (se há muitos ou poucos jovens, idosos, condições económicas, sociais …)? Com que problemas a freguesia se defronta mais? 2- Quais são as associações de carácter social e cultural que existem na freguesia de S.Nicolau? Que tipo de apoios, serviços prestam? 3- Que tipo de programas e/ou projectos têm sido desenvolvidos na freguesia no âmbito do apoio social, da cultura, na promoção da saúde, da prevenção de comportamentos de risco? 4- Na sua opinião, acha que poderiam ser feitos mais intervenções sociais com a população de S.Nicolau? Porquê? E com que franja da população seria mais urgente intervir? Em que áreas? 5- Pensámos no tema da Violência do Namoro, direccionado aos jovens. Existem vários estudos da área, e esses mesmos comprovam que é uma realidade comum entre os jovens portugueses. O que acha da pertinência deste tema? Porquê? Se quiséssemos então trabalhar com jovens da freguesia, em que locais e altura seria mais adequada para contactá-los? 6- Seria possível a Junta disponibilizar algum espaço para uma possível intervenção breve /curta (por exemplo uma oficina que contaria com actividades uma vez por semana durante 2 horas)?
  • 16. b) Proposta de apresentação do projecto no sentido de adquirir apoios para a sua realização. Projecto de Intervenção na freguesia de S.Nicolau, Ribeira Nome do projecto Oficina de Teatro para a Prevenção da Violência no Namoro Local Instalações da Junta de Freguesia de S.Nicolau morada: Rua Comércio Porto, nº 7, 4050-210 Porto Data início da oficina a partir de 17 Setembro 2011 (todos os Sábados) Última sessão 19 Novembro 2011 Responsáveis Patrícia Martins, Pedro Póvoa, Verónica Baptista, Rute Duarte Destinatários Rapazes e raparigas entre os 15 e 18 anos, que vivem na Ribeira ou que mantenham ligações familiares à zona ribeirinha. Nº de participantes Mínimo de 4 pessoas, máximo de 8 pessoas. Objectivos do projecto i) Informar sobre o tema violência no namoro, identificando factores de risco e protectores, prevalência e dinâmicas; ii) Explorar e desmistificar as crenças (sociais e culturais) e mitos associados às relações abusivas entre jovens; iii) Elucidar sobre o impacto dos comportamentos violentos nas relações amorosas; iv) Promover competências de gestão de conflitos; v) Informar sobre as entidades portuguesas responsáveis pelo apoio à vítima; vi) Fomentar competências como a coesão de grupo, comunicação, resolução de conflitos, expressão emocional e corporal; vii) Usar da técnica teatral para explorar os temas relacionados com a violência no namoro e construir soluções para os conflitos nas relações amorosas que não passem pela violência física, psicológico ou verbal.
  • 17. Descrição da Oficina Será realizada uma primeira sessão de apresentação do projecto que terá a seguinte ordem de trabalhos: apresentação da equipa, projecção de um vídeo que explica os objectivos e características da oficina, esclarecimento sobre questões relacionadas com horário, duração e contactos dos/as responsáveis. As três sessões a decorrer, a partir do primeiro Sábado seguinte à apresentação, serão constituídas por actividades que visam promover a coesão do grupo, desenvolver competências de comunicação e discussão, explorar situações típicas de relações abusivas discutindo à luz das experiências dos/as participantes. Pretende-se que neste primeiro bloco de sessões os/as participantes adquiram um conhecimento mais estruturado sobre a violência nas relações do namoro entre os jovens, os sinais de alerta, o impacto e as entidades responsáveis pelo apoio à vítima. Ainda, no final da terceira sessão, pretende-se que o grupo apresente uma decisão quanto às situações de violência no namoro a trabalhar com a técnica teatral a partir da quarta sessão. Nas cinco sessões seguintes serão trabalhados algumas técnicas à iniciação teatral baseadas em exercícios que permitam iniciar os/as participantes à construção de um/uma personagem, interagir em palco usando da improvisação, explorar as emoções e formas de estar em palco. Proceder-se-á também ao ensaio da peça a apresentar no final da oficina, constituída por várias situações típicas relativas à violência do namoro entre jovens. No desfecho será realizada uma apresentação final, em que os/as participantes poderão convidar as pessoas que preferirem para assistir à sua actuação. O derradeiro nome do projecto, bem como da peça final será da responsabilidade dos/as participantes, pois serão convidados pelos/pelas formadores/as a pensarem num título para o trabalho realizado. Contactos: teatronaribeira@gmail.com Patrícia Martins 91 470 60 94 Pedro Póvoa 91 642 34 54