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CREIO, SENHOR,
                                       MAS AUMENTA MINHA
                                            POBRE FÉ
                                                                     (cf. Mc 9,24)

                                     “Ressuscitou!”          no batismo (cf. Rom 6,4) […] e está concluída com a
                                     (Lc 24,6).              passagem através da morte para a vida eterna”(PF 1), é
                                    Esta é, meus queri-      necessário que em todo tempo e em toda circunstân-
                           dos irmãos e irmãs, a experiên-   cia da vida se faça verdade sobre nossa fé, a fim de que
                        cia dos que comeram e beberam        esta cresça dia a dia e possa “fazer brilhar, com evidên-
                      com Ele depois da sua ressurreição     cia sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do
                   (cf. Atos 10,41), e de todos os que       encontro com Cristo” (PF 2). Precisamos ter a coragem
                se sentem renascidos “para a esperan-        de perguntar-nos: sou pessoa de fé ou um simples ateu
             ça viva, para a herança incorruptível” (1Pe     praticante? Qual é o estado real de “saúde” da minha fé?
         1,3-4). “Ressuscitou!” Este é o fundamento da       Temos de ter também a lucidez necessária para dar uma
     nossa fé, a razão da nossa esperança e o motivo         resposta sincera e profunda a perguntas tão vitais como
da nossa caridade: “Se Cristo não ressuscitou, vazia         estas.
é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (1Cor             Penso de dizer a verdade ao afirmar que a crise de fé
15,14). Sem esta experiência, a cruz de Jesus e as nossas    vivida dentro da Igreja, como muitas vezes denunciou o
seriam uma tragédia e a vida cristã um absurdo. A par-       Papa, também é palpável entre nós. Ao afirmar isso não
tir dela, ao contrário, podemos cantar com a liturgia:       penso tanto numa fé teórica e conceitual, mas numa fé
“O Crux, ave, spes unica”, “Salve, ó cruz, nossa única       celebrada, vivida e confessada na vida quotidiana. Sem
esperança!”. O Crucificado “ressuscitou ao terceiro dia,     negar que a maior parte dos irmãos dão cotidianamente,
segundo as Escrituras” (1Cor 15,4). Eis aqui o núcleo        sem holofotes, sem aplausos e sem grandes discursos,
central da nossa fé e do kerigma primitivo: “Tanto eu        testemunho humilde de uma fé confessada, vivida e ce-
como eles, eis o que proclamamos” (1Cor 15,11). A res-       lebrada, permanecendo fiéis contra toda a esperança e
surreição é o grande “sim” de Deus Pai a seu Filho e,        fazendo de sua vida experiência do mistério pascal, tam-
nele, a nós, por isso é também o tema do anúncio e o         bém é verdade que o secularismo, entendido como um
fundamento da nossa fé.                                      conjunto de atitudes hostis à fé e que afeta vastos setores
                                                             da sociedade, pode ter entrado em nossas fraternidades
   Sim, verdadeiramente ressuscitou!                         e em nossas vidas; e que a queda do horizonte da eterni-
    Sempre me impressionou o fato que os cristãos orien-     dade e a redução do real à única dimensão terrena tem
tais neste período se saúdam com as seguintes palavras:      sobre a fé o efeito que tem a areia jogada sobre a chama:
“Cristo ressuscitou”, ao que se responde “Sim, verdadei-     a sufoca e acaba por apagá-la. Creio que seja necessário,
ramente ressuscitou!”. Sim, ressuscitou. Esta confissão      especialmente durante este Ano da fé, fazer uma parada,
de fé a fazemos no contexto do Ano da fé, querido por        moratorium, para avaliar a nossa fé. Quanto são atuais as
Bento XVI “para que a Igreja renove o entusiasmo de          palavras do então Cardeal Ratzinger quando, em 1989,
crer em Jesus Cristo, único Salvador do mundo, reavive       afirmava: “a apostasia da idade moderna se funda sobre
a alegria de caminhar pela via que nos tem indicado; e       a queda de uma verificação da fé na vida dos cristãos.”
testemunhe de modo concreto a força transformadora
da fé” (Bento XVI, Audiência 17/10/2012).                       Fé é vida.
                                                                O Papa na sua catequese sobre a fé, no dia 17 de outu-
   Crer, um caminho que dura tanto quanto a vida.            bro de 2012, afirma: “Ter fé no Senhor não é um fato que
    Talvez possa parecer estranho que dedique esta carta     interessa só à nossa inteligência, a área do saber intelec-
de Páscoa ao tema da fé. Alguns poderiam pensar que          tual, mas é uma mudança que envolve a vida, a totali-
a fé é um pressuposto óbvio na vida de um religioso e        dade de nós mesmos: sentimento, coração, inteligência,
franciscano. Eu não creio que seja assim. Realmente a        vontade, corporeidade, emoções, relações humanas.” E
fé nunca pode ser dada por descontada, particularmen-        nesta mesma ocasião o Papa Bento se pergunta: “A fé
te em nosso tempo em que “uma profunda crise de fé           é verdadeiramente a força transformadora em nossa
atingiu muitas pessoas” (PF 2). E dado que atravessar        vida, em minha vida? Ou é só um dos elementos que
a Porta da fé (cf. Atos 14,27) “implica embrenhar-se         fazem parte da existência, sem ser o determinante que
num caminho que dura a vida inteira”, que “tem início        a envolve totalmente?” É isto, meus queridos irmãos e
irmãs, o que temos de perguntar-nos, porque a fé, longe      condição de pessoas de fé. Este re-cordar, passar de novo
de ser algo separado da vida, é a sua alma: “A fé cris-      pelo coração, não se limita ao passado, mas faz com que
tã, operosa na caridade e forte na esperança, não limita,    a fé entre no presente, qualificando a própria vida, e se
mas humaniza a vida; mais ainda, a torna plenamente          abra ao futuro desenvolvendo-se, como cresce o grão de
humana” (Bento XVI, Audiência ...). Não podemos fa-          mostarda ( Mt 13,31). Assim o conteúdo do Credo, sín-
lar de fé sem fazer referência à vida, porque é esta que     tese de nossa fé, se faz história, se faz vida e se abre às
a torna compreensível e atraente (cf. Sant 2, 1ss). Fé e     mirabilia Dei, “obras admiráveis de Deus”, que o Senhor
vida se exigem reciprocamente, e uma sustenta a outra.       continua a operar em nós.
Por outro lado, sustentados pela fé, olhamos com con-            A fé é, pois, uma graça que devemos acolher com
fiança o nosso compromisso pela transformação das es-        verdadeira e profunda gratidão, e uma responsabilidade
truturas de pecado, esperando “novos céus e nova terra,      que nos leva a tomar consciência dela, “para reavivá-la,
onde habitará a justiça” (2P 3,13). Só unindo fé e vida,     para purificá-la, para confirmá-la e para confessá-la”
fé e compromisso em favor de uma sociedade mais em           (Paulo VI, Exortação Apostólica. Petrum et Paulum
sintonia com os valores do Evangelho, seremos “sinais        Apostolos, 1967). A fé, se queremos que não se apague,
vivos da presença do Ressuscitado no mundo” (PF 15).         perdendo assim a possibilidade de ser sal e luz em nosso
Com razão o Capítulo de 2006 nos dizia no documento          mundo (cf. Mt 5,13-16), deve ser redescoberta constan-
final: “A fé implica tudo o que somos, […] A vida na fé é    temente (cf. PF 4), e vivida com alegria, de tal modo que
a verdadeira fonte da nossa alegria e da nossa esperança,    possamos confessá-la, individual e comunitariamente,
do nosso seguimento a Jesus Cristo e do nosso testemu-       interior e exteriormente (cf. Petrum...) e celebrá-la na li-
nho para o mundo” (Sfc, 18). Fé e vida são inseparáveis.     turgia e em nossa vida cotidiana (cf. PF 8.9). A fé que me
    São Boaventura, no Prólogo do Breviloquium, define       foi dada, me foi também confiada para que a conserve e
a fé com três imagens que considero muito esclarecedo-       a faça crescer. Com o coração se crê, e com a boca se faz
ras em relação ao que estamos dizendo: “fundamentum          a profissão de fé (cf. Rom 10,10). Acolhida e responsabi-
stabiliens”, fundamento que dá estabilidade; “lucerna        lidade são inseparáveis.
dirigens”, lâmpada que dirige; “ianua introducens”, por-
ta que introduz. Enquanto fundamento, a fé é o que dá           A fé: adesão a Cristo e à Igreja.
estabilidade à nossa vida; enquanto lâmpada, a fé é a luz        Tentando sintetizar ao máximo, penso que a resposta
que consente ver e indica a direção justa; enquanto por-     à pergunta, o que é a fé?, seja adesão. Adesão cordial a
ta, a fé é a que permite ir mais além e que introduz na      uma pessoa, à pessoa de Cristo, e adesão gozosa aos con-
comunhão com o Santo dos santos. A fé é a luz que nos        teúdos, os que a Igreja nos propõe no Credo e através do
permite alcançar e poder abrir a porta que nos introduz      Magistério. A adesão à pessoa de Jesus Cristo, essencial
sem obstáculos no mundo de Deus, permitindo-nos ca-          na vida da pessoa crente, comporta um encontro pesso-
minhar segundo a Sua vontade.                                al com Jesus através de uma vida intensa de oração, de
                                                             uma rica vida sacramental e da Leitura orante da Pala-
   A fé: graça e responsabilidade.                           vra. Temos de ser muito conscientes de que no campo
    Crer supõe, acima de tudo, acolher um dom com o          da fé jogamos tudo no encontro com a pessoa de Jesus.
qual somos agraciados imerecidamente: o dom da fé.           Sem este encontro nossa adesão será a uma idéia ou ide-
“O Senhor lhe abrira o coração para que atendesse ao         ologia, nunca a uma pessoa ou a uma forma de vida. Por
que Paulo dizia”, afirmam os Atos ao referir-se à Lídia      outro lado, a adesão aos conteúdos da fé que nos apre-
(cf. Atos 16,14). Francisco assim o reconhece também         senta a Igreja comporta o conhecimento de tais conte-
em seu Testamento: “O Senhor me deu uma tão grande           údos e uma reflexão profunda sobre eles, assim como
fé […] O Senhor me deu e me dá tanta fé…” (cf. Test          uma visão de fé sobre a própria Igreja. Não se trata de
4.6). Para Francisco, e também para nós, tudo é graça        professar “a minha fé”, mas de fazer minha a fé da Igreja,
(cf. Test 1.2.4.6.14.25), também a fé. Por isso a fé visa    o que se traduz em obediência caritativa (cf. Adm 3,6)
sempre atuar e transformar a pessoa a partir de dentro,      e em consentimento “com a inteligência e a vontade ao
visa a conversão da mente e do coração.                      que propõe a Igreja” (PF 10; Dei Verbum 5; Dei Filius
    A fé, no entanto, é também compromisso pessoal           III). Faço meu o convite do último Sínodo para reani-
para conservá-la e fazê-la crescer. Por isso Bento XVI       mar o nosso entusiasmo de pertencer à Igreja (cf. Ins-
nos propõe que durante este Ano da fé façamos “memó-         trumentum Laboris 87). Somente com este entusiasmo
ria do dom precioso da fé” (PF 8). Já o santo Bispo de       poderemos “restaurá-la”, como fez Francisco.
Hipona numa de suas homilias sobre a Redditio Symboli,
a entrega do Credo, diz: “Vós o tendes recebido [o Cre-         A fé conforme Francisco.
do], porém deveis tê-lo sempre presente na mente e no           Enquanto Irmãos Menores ou seguidores de Francis-
coração, deveis repeti-lo nos vossos leitos, pensar nele     co, é importante deter-nos, ainda que brevemente, so-
nas praças e não o esquecer durante as refeições; e, mes-    bre o caminho da fé de Francisco e as suas expressões.
mo quando o corpo dorme, o vosso coração continue            Tendo presente os seus Escritos, é fácil descobrir que a
de vigília por ele” (S. Agostinho, Sermo 215, 1). A Igreja   fé do Assisense é, acima de tudo, uma fé teologal, com
primitiva pedia que se aprendesse de memória o Credo         clara estrutura trinitária e cristocêntrica (cf. Ad 1; RnB
(cf. PF 9), para conservar a fé e para recordar a própria    22,41-55; 23,11; LM 9,7). A sua experiência espiritual
se caracteriza por uma relação de familiaridade com a         em Santo Agostinho, para evitar o ver segundo a carne
Trindade. Além disso, algo que salta imediatamente à          e, como consequência, “não ver nem crer” (cf. Adm 1,8;
vista é que sua fé tem uma dimensão eclesial, superan-        C. Vaiani, Vedere e credere. L’esperienza cristiana di Fran-
do assim a visão meramente individualista. Francisco,         cesco, Milano 2000). Finalmente, temos de recordar que
como a própria Igreja, nos ensina a dizer “creio”, “cre-      para Francisco o mistério eucarístico está intimamente
mos” (cf. PF 9). No Testamento faz confissão da sua “fé       unido à Palavra, ao ponto de considerar esta segundo a
nas igrejas e nos sacerdotes” (cf. Test 4-7). Esta “fé nas    mesma lógica da Eucaristia, e para a Palavra pede “ve-
igrejas e nos sacerdotes” nos leva a compreender tam-         neração” (cf. Ord 34-37), porque nela se deve honrar “o
bém outro aspecto digno de nota: a importância exis-          Senhor” (cf. Ord 36). Atrás das palavras, Francisco “vê”
tencial da Igreja na vida da fé de Francisco; importância     a Palavra; nas palavras escuta a Palavra salvífica do Pai
que não se deve à perfeição de seus membros, particu-         no momento presente (cf. 2Fi 34).
larmente da hierarquia ou dos sacerdotes, mas ao fato             Como se pode ver, a fé de Francisco não é, em abso-
que nela se pode encontrar a Cristo. Deus fala a Fran-        luto, una fé abstrata. Hoje se nos apresenta como uma
cisco na Igreja e através dela, também quando esta “é         testemunha de fé: a confessou, a professou, a celebrou
ameaçada de ruína” (cf. 2Cel 10-11; LTC 13), porque           e a testemunhou com a sua vida, em um ambiente nada
nela, também naquele tempo, está Cristo. Francisco            fácil. O que nos está dizendo Francisco como confessor
nunca verá a Igreja, a Igreja Romana da qual fala, como       da fé? Que mudanças nos pede no que se refere à fé?
uma ameaça para viver o Evangelho, nem sequer quan-
do esta poderia ser uma igreja “ferida” e “pecadora”. “E         Conclusão
não quero considerar neles o pecado - dirá falando dos            Queridos irmãos e queridas irmãs: muitas vezes se
sacerdotes-, porque vejo neles o Filho de Deus, e eles são    diz que o problema da Igreja são os “afastados”. Pes-
meus senhores” (Test 9). Desde sua fé em Cristo, que se       soalmente penso que não só eles são o problema, mas
encontra na Igreja e que passa através da fé “nas igrejas     também os “de perto” podem ser um problema quando
e nos sacerdotes”, se compreende porque o Poverello te-       permanecem na soleira da “Porta da fé” sem nunca atra-
nha entregado a sua Forma de vida, revelada-lhe pelo          vessá-la.
Altíssimo (cf. Test 14), à aprovação da Igreja, e que na          O Ano que estamos vivendo é um convite urgente
Regra prometa “obediência e reverência ao senhor papa         para atravessar a Porta da fé, para considerar-nos pe-
Honório e a seus sucessores canonicamente eleitos e à         regrinos na noite, para colocar-nos em caminho para
Igreja Romana” (RB 1,2). Nessa mesma ótica, se entende        encontrar Aquele a quem nunca buscaríamos se não
muito bem que peça a seus Irmãos que vivam segundo            tivesse vindo antes a buscar-nos (cf. Santo Agostinho,
“a fé e a vida católica” e que isto seja uma condição para    Confissões, 13,1). Como afirmou o Cardeal Martini, a
permanecer na Fraternidade (cf. RnB 19,1-2). Também           fé é sempre “uma fé mendicante”, como aquela dos Ma-
é facilmente compreensível que a “fé católica” seja para      gos, nunca uma fé “pré-fabricada”, como a dos escribas
São Francisco um dos critérios fundamentais do discer-        (cf. Mt 2,1ss). Paulo pede a seu discípulo Timóteo de
nimento de um candidato (cf. RB 2,3), e a Igreja critério     “buscar a fé” (cf. 2Tm 2,22), com a mesma constância
para a verdadeira fé (cf. T. Matura, Francesco parla di       como quando era jovem (cf. 2Tm 3,15). Acolhamos este
Dio, Milano 1992).                                            convite como dirigido a cada um de nós e aproveitemos
                                                              este Ano de graça para “fazer memória do dom da fé”
   Uma penúltima anotação.                                    (PF 8).
    Em seu itinerário, “o mistério eucarístico constitui
para Francisco o coração da vida de fé” (P. Martinelli,          Cristo ressuscitou!
Dammi fede diritta, Porziuncula 2012), como aparece,             Sim, verdadeiramente ressuscitou!
entre outros muitos textos, na primeira Admoestação.              Meus queridos irmãos e minhas queridas irmãs: Fe-
Diante deste mistério é necessário ativar os olhos do espí-   liz Páscoa de Ressurreição! Feliz caminhada neste Ano
rito ou os olhos da fé, uma expressão que já encontramos      da Fé!




Roma, 19 de março de 2013,
festa de São José.
                                                                                         Vosso irmão, Ministro e servo




                                                                                      Fr. José Rodríguez Carballo, ofm
                                                                                                  Ministro Geral, OFM

Prot. 103514                              «Salvator Mundi», Melozzo de Forlì                               www.ofm.org

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  • 1.
  • 2. CREIO, SENHOR, MAS AUMENTA MINHA POBRE FÉ (cf. Mc 9,24) “Ressuscitou!” no batismo (cf. Rom 6,4) […] e está concluída com a (Lc 24,6). passagem através da morte para a vida eterna”(PF 1), é Esta é, meus queri- necessário que em todo tempo e em toda circunstân- dos irmãos e irmãs, a experiên- cia da vida se faça verdade sobre nossa fé, a fim de que cia dos que comeram e beberam esta cresça dia a dia e possa “fazer brilhar, com evidên- com Ele depois da sua ressurreição cia sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do (cf. Atos 10,41), e de todos os que encontro com Cristo” (PF 2). Precisamos ter a coragem se sentem renascidos “para a esperan- de perguntar-nos: sou pessoa de fé ou um simples ateu ça viva, para a herança incorruptível” (1Pe praticante? Qual é o estado real de “saúde” da minha fé? 1,3-4). “Ressuscitou!” Este é o fundamento da Temos de ter também a lucidez necessária para dar uma nossa fé, a razão da nossa esperança e o motivo resposta sincera e profunda a perguntas tão vitais como da nossa caridade: “Se Cristo não ressuscitou, vazia estas. é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (1Cor Penso de dizer a verdade ao afirmar que a crise de fé 15,14). Sem esta experiência, a cruz de Jesus e as nossas vivida dentro da Igreja, como muitas vezes denunciou o seriam uma tragédia e a vida cristã um absurdo. A par- Papa, também é palpável entre nós. Ao afirmar isso não tir dela, ao contrário, podemos cantar com a liturgia: penso tanto numa fé teórica e conceitual, mas numa fé “O Crux, ave, spes unica”, “Salve, ó cruz, nossa única celebrada, vivida e confessada na vida quotidiana. Sem esperança!”. O Crucificado “ressuscitou ao terceiro dia, negar que a maior parte dos irmãos dão cotidianamente, segundo as Escrituras” (1Cor 15,4). Eis aqui o núcleo sem holofotes, sem aplausos e sem grandes discursos, central da nossa fé e do kerigma primitivo: “Tanto eu testemunho humilde de uma fé confessada, vivida e ce- como eles, eis o que proclamamos” (1Cor 15,11). A res- lebrada, permanecendo fiéis contra toda a esperança e surreição é o grande “sim” de Deus Pai a seu Filho e, fazendo de sua vida experiência do mistério pascal, tam- nele, a nós, por isso é também o tema do anúncio e o bém é verdade que o secularismo, entendido como um fundamento da nossa fé. conjunto de atitudes hostis à fé e que afeta vastos setores da sociedade, pode ter entrado em nossas fraternidades Sim, verdadeiramente ressuscitou! e em nossas vidas; e que a queda do horizonte da eterni- Sempre me impressionou o fato que os cristãos orien- dade e a redução do real à única dimensão terrena tem tais neste período se saúdam com as seguintes palavras: sobre a fé o efeito que tem a areia jogada sobre a chama: “Cristo ressuscitou”, ao que se responde “Sim, verdadei- a sufoca e acaba por apagá-la. Creio que seja necessário, ramente ressuscitou!”. Sim, ressuscitou. Esta confissão especialmente durante este Ano da fé, fazer uma parada, de fé a fazemos no contexto do Ano da fé, querido por moratorium, para avaliar a nossa fé. Quanto são atuais as Bento XVI “para que a Igreja renove o entusiasmo de palavras do então Cardeal Ratzinger quando, em 1989, crer em Jesus Cristo, único Salvador do mundo, reavive afirmava: “a apostasia da idade moderna se funda sobre a alegria de caminhar pela via que nos tem indicado; e a queda de uma verificação da fé na vida dos cristãos.” testemunhe de modo concreto a força transformadora da fé” (Bento XVI, Audiência 17/10/2012). Fé é vida. O Papa na sua catequese sobre a fé, no dia 17 de outu- Crer, um caminho que dura tanto quanto a vida. bro de 2012, afirma: “Ter fé no Senhor não é um fato que Talvez possa parecer estranho que dedique esta carta interessa só à nossa inteligência, a área do saber intelec- de Páscoa ao tema da fé. Alguns poderiam pensar que tual, mas é uma mudança que envolve a vida, a totali- a fé é um pressuposto óbvio na vida de um religioso e dade de nós mesmos: sentimento, coração, inteligência, franciscano. Eu não creio que seja assim. Realmente a vontade, corporeidade, emoções, relações humanas.” E fé nunca pode ser dada por descontada, particularmen- nesta mesma ocasião o Papa Bento se pergunta: “A fé te em nosso tempo em que “uma profunda crise de fé é verdadeiramente a força transformadora em nossa atingiu muitas pessoas” (PF 2). E dado que atravessar vida, em minha vida? Ou é só um dos elementos que a Porta da fé (cf. Atos 14,27) “implica embrenhar-se fazem parte da existência, sem ser o determinante que num caminho que dura a vida inteira”, que “tem início a envolve totalmente?” É isto, meus queridos irmãos e
  • 3. irmãs, o que temos de perguntar-nos, porque a fé, longe condição de pessoas de fé. Este re-cordar, passar de novo de ser algo separado da vida, é a sua alma: “A fé cris- pelo coração, não se limita ao passado, mas faz com que tã, operosa na caridade e forte na esperança, não limita, a fé entre no presente, qualificando a própria vida, e se mas humaniza a vida; mais ainda, a torna plenamente abra ao futuro desenvolvendo-se, como cresce o grão de humana” (Bento XVI, Audiência ...). Não podemos fa- mostarda ( Mt 13,31). Assim o conteúdo do Credo, sín- lar de fé sem fazer referência à vida, porque é esta que tese de nossa fé, se faz história, se faz vida e se abre às a torna compreensível e atraente (cf. Sant 2, 1ss). Fé e mirabilia Dei, “obras admiráveis de Deus”, que o Senhor vida se exigem reciprocamente, e uma sustenta a outra. continua a operar em nós. Por outro lado, sustentados pela fé, olhamos com con- A fé é, pois, uma graça que devemos acolher com fiança o nosso compromisso pela transformação das es- verdadeira e profunda gratidão, e uma responsabilidade truturas de pecado, esperando “novos céus e nova terra, que nos leva a tomar consciência dela, “para reavivá-la, onde habitará a justiça” (2P 3,13). Só unindo fé e vida, para purificá-la, para confirmá-la e para confessá-la” fé e compromisso em favor de uma sociedade mais em (Paulo VI, Exortação Apostólica. Petrum et Paulum sintonia com os valores do Evangelho, seremos “sinais Apostolos, 1967). A fé, se queremos que não se apague, vivos da presença do Ressuscitado no mundo” (PF 15). perdendo assim a possibilidade de ser sal e luz em nosso Com razão o Capítulo de 2006 nos dizia no documento mundo (cf. Mt 5,13-16), deve ser redescoberta constan- final: “A fé implica tudo o que somos, […] A vida na fé é temente (cf. PF 4), e vivida com alegria, de tal modo que a verdadeira fonte da nossa alegria e da nossa esperança, possamos confessá-la, individual e comunitariamente, do nosso seguimento a Jesus Cristo e do nosso testemu- interior e exteriormente (cf. Petrum...) e celebrá-la na li- nho para o mundo” (Sfc, 18). Fé e vida são inseparáveis. turgia e em nossa vida cotidiana (cf. PF 8.9). A fé que me São Boaventura, no Prólogo do Breviloquium, define foi dada, me foi também confiada para que a conserve e a fé com três imagens que considero muito esclarecedo- a faça crescer. Com o coração se crê, e com a boca se faz ras em relação ao que estamos dizendo: “fundamentum a profissão de fé (cf. Rom 10,10). Acolhida e responsabi- stabiliens”, fundamento que dá estabilidade; “lucerna lidade são inseparáveis. dirigens”, lâmpada que dirige; “ianua introducens”, por- ta que introduz. Enquanto fundamento, a fé é o que dá A fé: adesão a Cristo e à Igreja. estabilidade à nossa vida; enquanto lâmpada, a fé é a luz Tentando sintetizar ao máximo, penso que a resposta que consente ver e indica a direção justa; enquanto por- à pergunta, o que é a fé?, seja adesão. Adesão cordial a ta, a fé é a que permite ir mais além e que introduz na uma pessoa, à pessoa de Cristo, e adesão gozosa aos con- comunhão com o Santo dos santos. A fé é a luz que nos teúdos, os que a Igreja nos propõe no Credo e através do permite alcançar e poder abrir a porta que nos introduz Magistério. A adesão à pessoa de Jesus Cristo, essencial sem obstáculos no mundo de Deus, permitindo-nos ca- na vida da pessoa crente, comporta um encontro pesso- minhar segundo a Sua vontade. al com Jesus através de uma vida intensa de oração, de uma rica vida sacramental e da Leitura orante da Pala- A fé: graça e responsabilidade. vra. Temos de ser muito conscientes de que no campo Crer supõe, acima de tudo, acolher um dom com o da fé jogamos tudo no encontro com a pessoa de Jesus. qual somos agraciados imerecidamente: o dom da fé. Sem este encontro nossa adesão será a uma idéia ou ide- “O Senhor lhe abrira o coração para que atendesse ao ologia, nunca a uma pessoa ou a uma forma de vida. Por que Paulo dizia”, afirmam os Atos ao referir-se à Lídia outro lado, a adesão aos conteúdos da fé que nos apre- (cf. Atos 16,14). Francisco assim o reconhece também senta a Igreja comporta o conhecimento de tais conte- em seu Testamento: “O Senhor me deu uma tão grande údos e uma reflexão profunda sobre eles, assim como fé […] O Senhor me deu e me dá tanta fé…” (cf. Test uma visão de fé sobre a própria Igreja. Não se trata de 4.6). Para Francisco, e também para nós, tudo é graça professar “a minha fé”, mas de fazer minha a fé da Igreja, (cf. Test 1.2.4.6.14.25), também a fé. Por isso a fé visa o que se traduz em obediência caritativa (cf. Adm 3,6) sempre atuar e transformar a pessoa a partir de dentro, e em consentimento “com a inteligência e a vontade ao visa a conversão da mente e do coração. que propõe a Igreja” (PF 10; Dei Verbum 5; Dei Filius A fé, no entanto, é também compromisso pessoal III). Faço meu o convite do último Sínodo para reani- para conservá-la e fazê-la crescer. Por isso Bento XVI mar o nosso entusiasmo de pertencer à Igreja (cf. Ins- nos propõe que durante este Ano da fé façamos “memó- trumentum Laboris 87). Somente com este entusiasmo ria do dom precioso da fé” (PF 8). Já o santo Bispo de poderemos “restaurá-la”, como fez Francisco. Hipona numa de suas homilias sobre a Redditio Symboli, a entrega do Credo, diz: “Vós o tendes recebido [o Cre- A fé conforme Francisco. do], porém deveis tê-lo sempre presente na mente e no Enquanto Irmãos Menores ou seguidores de Francis- coração, deveis repeti-lo nos vossos leitos, pensar nele co, é importante deter-nos, ainda que brevemente, so- nas praças e não o esquecer durante as refeições; e, mes- bre o caminho da fé de Francisco e as suas expressões. mo quando o corpo dorme, o vosso coração continue Tendo presente os seus Escritos, é fácil descobrir que a de vigília por ele” (S. Agostinho, Sermo 215, 1). A Igreja fé do Assisense é, acima de tudo, uma fé teologal, com primitiva pedia que se aprendesse de memória o Credo clara estrutura trinitária e cristocêntrica (cf. Ad 1; RnB (cf. PF 9), para conservar a fé e para recordar a própria 22,41-55; 23,11; LM 9,7). A sua experiência espiritual
  • 4. se caracteriza por uma relação de familiaridade com a em Santo Agostinho, para evitar o ver segundo a carne Trindade. Além disso, algo que salta imediatamente à e, como consequência, “não ver nem crer” (cf. Adm 1,8; vista é que sua fé tem uma dimensão eclesial, superan- C. Vaiani, Vedere e credere. L’esperienza cristiana di Fran- do assim a visão meramente individualista. Francisco, cesco, Milano 2000). Finalmente, temos de recordar que como a própria Igreja, nos ensina a dizer “creio”, “cre- para Francisco o mistério eucarístico está intimamente mos” (cf. PF 9). No Testamento faz confissão da sua “fé unido à Palavra, ao ponto de considerar esta segundo a nas igrejas e nos sacerdotes” (cf. Test 4-7). Esta “fé nas mesma lógica da Eucaristia, e para a Palavra pede “ve- igrejas e nos sacerdotes” nos leva a compreender tam- neração” (cf. Ord 34-37), porque nela se deve honrar “o bém outro aspecto digno de nota: a importância exis- Senhor” (cf. Ord 36). Atrás das palavras, Francisco “vê” tencial da Igreja na vida da fé de Francisco; importância a Palavra; nas palavras escuta a Palavra salvífica do Pai que não se deve à perfeição de seus membros, particu- no momento presente (cf. 2Fi 34). larmente da hierarquia ou dos sacerdotes, mas ao fato Como se pode ver, a fé de Francisco não é, em abso- que nela se pode encontrar a Cristo. Deus fala a Fran- luto, una fé abstrata. Hoje se nos apresenta como uma cisco na Igreja e através dela, também quando esta “é testemunha de fé: a confessou, a professou, a celebrou ameaçada de ruína” (cf. 2Cel 10-11; LTC 13), porque e a testemunhou com a sua vida, em um ambiente nada nela, também naquele tempo, está Cristo. Francisco fácil. O que nos está dizendo Francisco como confessor nunca verá a Igreja, a Igreja Romana da qual fala, como da fé? Que mudanças nos pede no que se refere à fé? uma ameaça para viver o Evangelho, nem sequer quan- do esta poderia ser uma igreja “ferida” e “pecadora”. “E Conclusão não quero considerar neles o pecado - dirá falando dos Queridos irmãos e queridas irmãs: muitas vezes se sacerdotes-, porque vejo neles o Filho de Deus, e eles são diz que o problema da Igreja são os “afastados”. Pes- meus senhores” (Test 9). Desde sua fé em Cristo, que se soalmente penso que não só eles são o problema, mas encontra na Igreja e que passa através da fé “nas igrejas também os “de perto” podem ser um problema quando e nos sacerdotes”, se compreende porque o Poverello te- permanecem na soleira da “Porta da fé” sem nunca atra- nha entregado a sua Forma de vida, revelada-lhe pelo vessá-la. Altíssimo (cf. Test 14), à aprovação da Igreja, e que na O Ano que estamos vivendo é um convite urgente Regra prometa “obediência e reverência ao senhor papa para atravessar a Porta da fé, para considerar-nos pe- Honório e a seus sucessores canonicamente eleitos e à regrinos na noite, para colocar-nos em caminho para Igreja Romana” (RB 1,2). Nessa mesma ótica, se entende encontrar Aquele a quem nunca buscaríamos se não muito bem que peça a seus Irmãos que vivam segundo tivesse vindo antes a buscar-nos (cf. Santo Agostinho, “a fé e a vida católica” e que isto seja uma condição para Confissões, 13,1). Como afirmou o Cardeal Martini, a permanecer na Fraternidade (cf. RnB 19,1-2). Também fé é sempre “uma fé mendicante”, como aquela dos Ma- é facilmente compreensível que a “fé católica” seja para gos, nunca uma fé “pré-fabricada”, como a dos escribas São Francisco um dos critérios fundamentais do discer- (cf. Mt 2,1ss). Paulo pede a seu discípulo Timóteo de nimento de um candidato (cf. RB 2,3), e a Igreja critério “buscar a fé” (cf. 2Tm 2,22), com a mesma constância para a verdadeira fé (cf. T. Matura, Francesco parla di como quando era jovem (cf. 2Tm 3,15). Acolhamos este Dio, Milano 1992). convite como dirigido a cada um de nós e aproveitemos este Ano de graça para “fazer memória do dom da fé” Uma penúltima anotação. (PF 8). Em seu itinerário, “o mistério eucarístico constitui para Francisco o coração da vida de fé” (P. Martinelli, Cristo ressuscitou! Dammi fede diritta, Porziuncula 2012), como aparece, Sim, verdadeiramente ressuscitou! entre outros muitos textos, na primeira Admoestação. Meus queridos irmãos e minhas queridas irmãs: Fe- Diante deste mistério é necessário ativar os olhos do espí- liz Páscoa de Ressurreição! Feliz caminhada neste Ano rito ou os olhos da fé, uma expressão que já encontramos da Fé! Roma, 19 de março de 2013, festa de São José. Vosso irmão, Ministro e servo Fr. José Rodríguez Carballo, ofm Ministro Geral, OFM Prot. 103514 «Salvator Mundi», Melozzo de Forlì www.ofm.org