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EMBRULHO DE LETRAS
CARLOS DE SENA




EMBRULHO DE LETRAS

           1ª edição




         Guanambi-Ba
     Carlos Freitas de Sena
             2011
FOTO DA CAPA: MARCO VALENÇA




             ESTE LIVRO É DEDICADO À MEMÓRIA


                        DE MEU PAI,


   CARLOS AUGUSTO GARCEZ DE SENA




                      HOMENAGENS A:


               ALDA FREITAS DE SENA
            AUGUSTO FREITAS DE SENA
      ALANE FERNANDES SANTANA DE SENA
       NATÃ FERNANDES SANTANA DE SENA
       IAGO FERNANDES SANTANA DE SENA
SUMÁRIO


EMBRULHO DE LETRAS, 09
O PORTO DA BARRA, 10
REFLEXO,11
O QUE,12
HÀ,13
PETER PAN,14
SOFRÊ,15
A CARA DO MURO,16
ACHO,17
CAMINHOS,18
LABIRINTO,19
AMOR,20
BARÍTONO,21
O PASSO ALÉM DO PASSO,22
ENIGMA,23
DESEXTENSÃO,24
PRIMAVERA,25
MINHA TERRA,26
MEU OUTRO,27
SANGUE DE MAR,28
O RIO DAS HORAS,29
MADRUGADA,30
FELICIDADE,31
DIAS DE TRISTEZA,32
ECO,33
NOITE DE SÃO JOÃO,34
MORTE DEIXADA,35
SOLIDÃO,36
SONHO OUTRO,37
VAMPIRO DE LETRAS,38
QUINTO ELEMENTO,39
SONHOS,40
SONETO DA VELA VIVA,41
ENCONTRO INCERTO,42
A FOTOGRAFIA,43
OBSESSÃO,44
EMBRULHO DE LETRAS


Busco a palavra exata
e não desata
esse nó morfológico.


Sei que no fundo do peito,
queda ansioso
o poema perfeito.


Quero seu conteúdo
substrato do todo.


Contudo confesso
ser um absurdo,
caber isso tudo
num embrulho de letras.
O PORTO DA BARRA


O Porto da Barra
é a farra da calma,
onde a alma da água
repousa e cala.


A brisa repara
o porto da barra.


O sol se recusa
a ter pressa
em se pôr...


O tempo sentado
na areia do porto,
perde sua hora,


demora e olha,
o balé preguiçoso
das águas da barra.
REFLEXO


vejo no espelho
que em mim
alguém se perdeu


meus os olhos são
o olhar não
minhas as marcas
pele
boca


dona da alma
pessoa outra


vejo no espelho
que o semblante
é casca


que ente arrasta
meu arcabouço?
O QUE


imatemáticas vezes
visitei navios naufragados,
singrei mares,
explorei céus,
frequentei planetas,
incansavelmente busquei,
espionei por cima do muro
e nem mesmo sei o que procuro.
HÁ


Há que chore a sorte
em ombros de estátuas


Há quem sussurre poemas
em ouvidos de espantalhos


Há quem busque aconchego
no colo de manequins


Há quem desfile sonhos
para olhos vitrificados


Há quem colha flores
para seres inanimados
PETER PAN


Num encontro estranho,
lá pras bandas do sonho,
vi assombra de Peter Pan.


Ela estava a esmo,
perdida mesmo,
julgava-se um fantasma.


Alfaiate da fantasia,
costurei aquela sombra na minha
e voei para a era do nunca.


nunca hei de retornar.


Serei um menino perdido,
brincando comigo,
no jogo de me achar.
Nesse encontro estranho,
nessa terra de sonho,
vi muita sombra vagar.


Espectros medonhos,
sem rumo, sem rota,
sem porta, sem chão.


Possuidor de duas sombras,
voei para a era do nunca.


Nunca hei de retornar.


Serei um menino que mimo,
a mim menino mimado,
no colo do meu achar.
SOFRÊ


Meu sofrê não tem ninho,
é passarinho que só voa.
Meu sofrê não pousa, nem ousa.
Vai com o vento, volta tormento.
Sem bando, nem canto,
nem foi ovo, nem será destino
e de novo vai com o vento,
volta lamento.
Pássaro que a duras penas,
plana sob nuvens de cinzas,
cinzas que não são de Fênix,
ave que não dorme,
não finda, nem principia,
vai com o dia, volta agonia.
                 (ao amigo e parceiro Marcos Soares)
A CARA DO MURO


A mancha no muro,
parece uma cara,
parece que fala,
tem olhos sofridos...


O rosto no muro
tem ar obscuro,
parece um fantasma.


É como se o mofo
retratos pintasse.
O moço grudado,
guardado no muro,
parece cansado.


Conheço alguém
que tem essa face,
ou usa um disfarce
que é a cara do muro.
Parece que olha
pedindo-me ajuda,
é só uma imagem
estática e muda.


Mas tem algo estranho
na forma do rosto,
parece desgosto.


Parece que o moço
que vem da mistura
do mofo e o vento,
padece sedento.


É só uma figura
na parede dura,
parece loucura
não ter sentimento.


A mancha no muro
não passa de puro
capricho do tempo.
ACHO


mas que diacho!
Eu não acho que é assim.
Outrossim,
não vigies meu achar.
Se misturas o que achas,
no tacho do meu achar,
há um risco do tempero azedar.
Só encaixo o que acho
no cacho do meu paladar.
O que acho só eu sei onde guardar.
CAMINHOS


minha vida
minhas esquinas
meus becos
minha dúvida
minha saída tão lógica
minhas sendas e prendas
o caminho oposto
o gosto do erro
o eterno berro
o trilho de ferro
a seta que aponta
o vento biruta
a bússola tonta
o rastro apagado
a vinda e a ida
minha vida
LABIRINTO


Poesia tem vontade própria,
escolhe o ser
que quer sorver aos poucos,
degusta cérebros
com molho de almas,
atrai sua presa
prometendo sínteses,
presenteia-o
com alguns delírios
e mergulhada em seu puro instinto,
arrasta-o para um labirinto.
AMOR


Amor é mar de pescador
ora tempestade
ora bonança
ora frutos ora lutos


Amor é mar imensidão
ora plenitude
ora solidão
BARÍTONO


Sou barítono,
não sei cantar.


Quero ser cupido,
sem ter que amar.


Poder descrever desejos
e num sopro desistir.


Poder afastar o medo
e no entanto sucumbir.


Direi que entendo a minha existência,
fantasio o tempo.


Direi que falsifico choros
e meu riso invento.
O PASSO ALÉM DO PASSO


A cada passo, apaga-se
o traço atrás do passo,
estrada destroçada
pela traça da passada,
fio que só existiu
antes do ato,
do movimento do sapato.
Tudo que o futuro guardou no escuro,
desintegra-se no passo passado,
no passo além do passo.
Toda volúpia da pisada,
da marcha desabalada,
embaraça-se na história que poderia,
que seria e será imaginação,
assim que o pé descolar do chão.
ENIGMA


Meu enigma a mim pertence
como ao mendigo, a pobreza.


Antes a Édipo coubesse,
a sina de decifrá-lo.


O preço de ser Esfinge,
é a condição de ser pedra.


Devora-me uma certeza,
é inevitável ser gente.
DEXESTENSÃO
                      (para Alane)


Tens a visão torta,
da porta que queres abrir?




Encontrarás neste cômodo,
incômodos segredos em mim.




Mas se desejas olhar
o mundo num caleidoscópio,




Só a você permito,
conhecer meu mito,
decifrar meus símbolos,
me desmontar.
Tua mão é minha mão,
nosso quebra-cabeças,
nossas cabeças xifópagas
entendem paixão.




Nossas matérias ocupam
o mesmo espaço,
têm a mesma porção.
PRIMAVERA


falta-me inspiração
e tantas flores no chão


falta-me regá-las
mas não tenho chuva


toda água no fundo do poço
mas não tenho lata


minha mão quebrada
não apanha a corda


minha boca seca
não apara a gota


pergunto ao céu
aonde esta a dúvida


e a garoa molha
meu jardim de dentro
MINHA TERRA


Minha terra
esta sob minhas unhas,
esta nos meus sonhos.
Me contaminou
com seu vírus,
seus vícios.
Minha terra me contém.
Mesmo navegante,
procuro tê-la ao alcance dos olhos.
Mastigo muitos temperos,
mas minha terra é que tem gosto.
Já vi muitas faces do mapa,
mas minha terra é que tem rosto.
Minha alma esta cheia de terra,
terra que trago nos bolsos,
terra que passo na cara,
maquiagem que exponho pros outros.
MEU OUTRO


Em um segundo
roubaram o mundo,
que MEU OUTRO vigiava.


Não se pode mesmo contar
com o oposto.


Êta sujeito sem rosto,
sem princípios.


Alguns indícios de felicidade,
e o besta se deleita...
Deita na cama dos sonhos.


Surdo, cego e mudo,
nem desconfia...
Quem com alma tão fria
e caráter imundo,
roubaria meu fabuloso mundo.
SANGUE DE MAR


Navegante há sete vidas,
sangue de mar,
olhos de areia,
sem porto de chegada,
nem Maria que espere.
Não há mais sinais de nortes,
nem vento que assovia.
Navegante há sete mortes?
Que sorte se fosse um corte
nesses desmedidos dias,
a derradeira morte
e seu corpo apareceria
na praia de maré vazia.
De que lhe servem tantas vidas,
desperdiçadas, compridas,
se conchas não cata mais,
se ondas não quebram em seus pés,
se o cheiro de maresia não vem da beira do cais.
                                (ao amigo poeta Marco Valença)
O RIO DAS HORAS


Milhares de horas passam
por baixo da ponte eterna,
levadas pela correnteza,
seguindo a certeza da água.


Muitos instantes ficam
presos aos galhos da margem,
transformando-se em árvores,
desgarradas do tempo.


Dia perene, contínuo,
carregas seu desafio,
desvendar onde mora,
a derradeira hora do rio.


Todos segundos navegam
para a foz do rio das horas,
despejam segredos cúbicos
nos oceanos afora.
Alguns momentos afundam
e nas águas profundas se afogam,
dormem na cama da calma,
jazem na alma da lama.


Dia perene, contínuo,
carregas seu desafio,
desvendar onde mora
a derradeira hora do rio.
MADRUGADA


Madrugada derramou-se no silêncio,
escorrendo pelo rosto da cidade,
evocando sentimentos naufragados,
fez-se dona do momento.


Uma sombra solitária colhe estrelas,
dança valsas de infância,
sopra folhas de outonos esquecidos,
faz de conta que é o vento.


O luar acanhado lhe corteja,
desvairada lambe gotas de orvalho,
encharcada de desejo, devaneia,
dorme nua ao relento.


Véu escuro cobre luz insinuada,
sobretudo em cores escondidas,
noite grávida bordando alvorada,
brilha o dia seu rebento.
FELICIDADE


Quem já foi feliz?
alguém que quis,
ou não tem jeito,
o perfeito não pertence ao sujeito.
DIAS DE TRISTEZA


Em dias de tristeza,
põe à mesa, um vinho barato.


Escolha como prato,
o de mais insosso paladar.


Deixe que o mofo
aromatize o ambiente,


tente simplesmente só chorar.


Não enfeite com lembranças,
o que pode ser só dor.


Deite em teu jardim, fique sozinho
e sem muito alardear,


Adormeça em tua cama de espinho.
             (dedicado ao amigo Daniel Pereira de Santana)
ECO


Tudo que tenho
Cabe num corpo
Tudo que tento
Cabe no lógico
Tudo que quero
Cabe num cofre
Tudo que sei
Morre no outro
Nada que digo
Cabe no ouvido
Sempre que planto
Brota encanto
Sempre que sopro
Vento assombro
Ouço deserto
Meu próprio eco
NOITE DE SÃO JOÃO


Hoje é noite de São João
e não tenho alegria.


Hoje é noite de prazer,
noite dionisíaca,
mas minha vontade tísica,
insiste em me entristecer.


Hoje é noite demorada...


Mas como tudo acaba:
Natal, carnaval, sexta-feira da paixão,
por que não acabaria a noite de São João.
MORTE DEIXADA


Tem um corpo esticado na estrada,
de quem é essa sombra deitada?


Carne no chão espalhada,
divorciada da alma,
de quem é essa dor rejeitada?


Sobra de gente esquecida,
rosto renegado,
de que é esse resto prostrado?


Depositado à margem,
velho, cansou da viagem?


Matéria num canto jogada,
de quem é essa morte deixada?
SOLIDÃO


Não trancaram minha porta,
mas não vou abri-la.


Não disseram para ficar,
mas não vou sair.


Aqui dentro tem de tudo,
que preciso e quero.


Quando cismo em ver loucura,
vou à fechadura.


Quando sinto solidão,
simplesmente dou-lhe a mão.


Quando perco a calma,
a porta é a serventia da alma.
SONHO OUTRO


É preciso perder o rumo,
frequentar mundos,
investigar pesadelos profundos.
É preciso permutar dores,
transplantar sentimentos,
comungar amores,
ou isolamento.
É preciso odiar o óbvio,
revisitar o ócio,
rejeitar o dócil.
É preciso azedar o gosto,
caricaturar o rosto,
desmistificar agosto.
É mister misturar temperos,
vê-los pilados,
heterogeneamente ligados.
É lógico esquecer um sonho,
estranho será sempre o outro,
o fruto do futuro é oco.
VAMPIRO DE LETRAS
          (ao poeta Paulo Garcez de Sena)


embriagou-se de metáfora
até a última gota de texto


alimentou-se de verbos
como um vampiro de letras


estilhaçou a palavra
em fragmentos diversos


arrumou cada pedaço
num quebra-cabeça de versos


de co        tru
   s    ns         in
       du–se
QUINTO ELEMENTO


Se as árvores me emprestassem sabedoria,
o céu doasse plenitude
e o mar perfeição,


saberia como entender,
os planos para mim traçados,
os destinos rogados,
a contramão.


Se eu brotasse da terra,
ser autotrófico que come luz,
não temeria o futuro,
seria apenas o que vim ser,
vegetal puro.


Parte integrada,
desintegrada,
transformada.


O quinto elemento.
SONHOS


Os sonhos
realizaram seus sonhos,
fugiram
um por um,
cada um
para um mundo imaginário,
cada um para seu castelo,
para dormirem eternamente.
SONETO DA VELA VIVA


Essa vida, vela acesa,
que o momento determina,
se o vento cessa o fogo,
ou a chama se ilumina.


Essa vida, vela acesa,
que a algum fim se destina,
desatina a desvelar-se
porquanto a chama rumina.


Chama que teme o sopro,
dança conforme a brisa,
áurea do fogo cintila.


Fogo que cumpre a sina,
quanto mais vela consome,
mais vida é consumida.
ENCONTRO INCERTO


marquei um encontro
sem hora
sem data


para ver se me mata
a dor da espera


dia perdido
tempo deserto


lugar bem perto
de espaço nenhum


esquina do nada
provável perigo


marquei comigo
um encontro incerto
A FOTOGRAFIA


Esta fotografia
não concede alforria
à saudade.


Cárcere de lembranças,
repousa no ontem
habitat.


Guardiã de infâncias,
vive de papel
e passado.


Observo o instante
capturado...


Sinto um cheiro triste,
da lenha que queima
e inexiste.
Lembro do gosto da fruta
que o nome perdeu-se
na gruta do longe.


Vejo um rosto que era meu
e dissolveu.
OBSESSÃO


Se algum dia eu sumir,
não me procurem em bares,
não investiguem lugares.


Não estarei na esquina,
não pousarei em castelos,
nem levarei meus chinelos.


Não voarei de avião,
nem pegarei a estrada,
não restará nenhum rastro,
do passo de minha escalada.


Se algum dia eu sumir,
esquecerei o meu mapa,
guarda-chuva e capa.


Esvaziarei os meus bolsos,
eliminarei qualquer pista,
qualquer vestígio que exista.
Não viajarei de navio,
nem entrarei na floresta,
incinerarei toda prova
desse tempo de vida.


Carregarei dores e amores,
trancafiados no cofre,
onde reside e sofre,
a obsessão da partida
BIOGRAFIA


Carlos Freitas de Sena é natural de Salvador-Ba e reside
atualmente na cidade de Guanambi-Ba. É servidor público,
poeta e letrista. Foi premiado nos concursos de poesias do
INSTITUTO INTERNACIONAL DE POESIA, em 1998 e
em 2005 no concurso de poesias “HELENA KOLODY”,
promovido pelo Governo do Estado do Paraná. Em 1985,
participou da coletânea POESIAS NATURAIS, que reuniu
poemas de um grupo de colegas do curso de Comunicação da
UFBa. Teve poemas publicados em jornais e revistas
culturais e tem parcerias musicais com os compositores
soteropolitanos, Marcos Soares e Eugênio Soares. Divulga
seus   trabalhos   também    pela   internet,   no   blog:
poemascarlosdesena.blogspot.com

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O embrulho de letras e outros poemas

  • 1.
  • 3. CARLOS DE SENA EMBRULHO DE LETRAS 1ª edição Guanambi-Ba Carlos Freitas de Sena 2011
  • 4. FOTO DA CAPA: MARCO VALENÇA ESTE LIVRO É DEDICADO À MEMÓRIA DE MEU PAI, CARLOS AUGUSTO GARCEZ DE SENA HOMENAGENS A: ALDA FREITAS DE SENA AUGUSTO FREITAS DE SENA ALANE FERNANDES SANTANA DE SENA NATÃ FERNANDES SANTANA DE SENA IAGO FERNANDES SANTANA DE SENA
  • 5. SUMÁRIO EMBRULHO DE LETRAS, 09 O PORTO DA BARRA, 10 REFLEXO,11 O QUE,12 HÀ,13 PETER PAN,14 SOFRÊ,15 A CARA DO MURO,16 ACHO,17 CAMINHOS,18 LABIRINTO,19 AMOR,20 BARÍTONO,21 O PASSO ALÉM DO PASSO,22 ENIGMA,23 DESEXTENSÃO,24 PRIMAVERA,25 MINHA TERRA,26 MEU OUTRO,27 SANGUE DE MAR,28 O RIO DAS HORAS,29 MADRUGADA,30 FELICIDADE,31 DIAS DE TRISTEZA,32 ECO,33 NOITE DE SÃO JOÃO,34 MORTE DEIXADA,35 SOLIDÃO,36 SONHO OUTRO,37
  • 6. VAMPIRO DE LETRAS,38 QUINTO ELEMENTO,39 SONHOS,40 SONETO DA VELA VIVA,41 ENCONTRO INCERTO,42 A FOTOGRAFIA,43 OBSESSÃO,44
  • 7. EMBRULHO DE LETRAS Busco a palavra exata e não desata esse nó morfológico. Sei que no fundo do peito, queda ansioso o poema perfeito. Quero seu conteúdo substrato do todo. Contudo confesso ser um absurdo, caber isso tudo num embrulho de letras.
  • 8. O PORTO DA BARRA O Porto da Barra é a farra da calma, onde a alma da água repousa e cala. A brisa repara o porto da barra. O sol se recusa a ter pressa em se pôr... O tempo sentado na areia do porto, perde sua hora, demora e olha, o balé preguiçoso das águas da barra.
  • 9. REFLEXO vejo no espelho que em mim alguém se perdeu meus os olhos são o olhar não minhas as marcas pele boca dona da alma pessoa outra vejo no espelho que o semblante é casca que ente arrasta meu arcabouço?
  • 10. O QUE imatemáticas vezes visitei navios naufragados, singrei mares, explorei céus, frequentei planetas, incansavelmente busquei, espionei por cima do muro e nem mesmo sei o que procuro.
  • 11. HÁ Há que chore a sorte em ombros de estátuas Há quem sussurre poemas em ouvidos de espantalhos Há quem busque aconchego no colo de manequins Há quem desfile sonhos para olhos vitrificados Há quem colha flores para seres inanimados
  • 12. PETER PAN Num encontro estranho, lá pras bandas do sonho, vi assombra de Peter Pan. Ela estava a esmo, perdida mesmo, julgava-se um fantasma. Alfaiate da fantasia, costurei aquela sombra na minha e voei para a era do nunca. nunca hei de retornar. Serei um menino perdido, brincando comigo, no jogo de me achar.
  • 13. Nesse encontro estranho, nessa terra de sonho, vi muita sombra vagar. Espectros medonhos, sem rumo, sem rota, sem porta, sem chão. Possuidor de duas sombras, voei para a era do nunca. Nunca hei de retornar. Serei um menino que mimo, a mim menino mimado, no colo do meu achar.
  • 14. SOFRÊ Meu sofrê não tem ninho, é passarinho que só voa. Meu sofrê não pousa, nem ousa. Vai com o vento, volta tormento. Sem bando, nem canto, nem foi ovo, nem será destino e de novo vai com o vento, volta lamento. Pássaro que a duras penas, plana sob nuvens de cinzas, cinzas que não são de Fênix, ave que não dorme, não finda, nem principia, vai com o dia, volta agonia. (ao amigo e parceiro Marcos Soares)
  • 15. A CARA DO MURO A mancha no muro, parece uma cara, parece que fala, tem olhos sofridos... O rosto no muro tem ar obscuro, parece um fantasma. É como se o mofo retratos pintasse. O moço grudado, guardado no muro, parece cansado. Conheço alguém que tem essa face, ou usa um disfarce que é a cara do muro.
  • 16. Parece que olha pedindo-me ajuda, é só uma imagem estática e muda. Mas tem algo estranho na forma do rosto, parece desgosto. Parece que o moço que vem da mistura do mofo e o vento, padece sedento. É só uma figura na parede dura, parece loucura não ter sentimento. A mancha no muro não passa de puro capricho do tempo.
  • 17. ACHO mas que diacho! Eu não acho que é assim. Outrossim, não vigies meu achar. Se misturas o que achas, no tacho do meu achar, há um risco do tempero azedar. Só encaixo o que acho no cacho do meu paladar. O que acho só eu sei onde guardar.
  • 18. CAMINHOS minha vida minhas esquinas meus becos minha dúvida minha saída tão lógica minhas sendas e prendas o caminho oposto o gosto do erro o eterno berro o trilho de ferro a seta que aponta o vento biruta a bússola tonta o rastro apagado a vinda e a ida minha vida
  • 19. LABIRINTO Poesia tem vontade própria, escolhe o ser que quer sorver aos poucos, degusta cérebros com molho de almas, atrai sua presa prometendo sínteses, presenteia-o com alguns delírios e mergulhada em seu puro instinto, arrasta-o para um labirinto.
  • 20. AMOR Amor é mar de pescador ora tempestade ora bonança ora frutos ora lutos Amor é mar imensidão ora plenitude ora solidão
  • 21. BARÍTONO Sou barítono, não sei cantar. Quero ser cupido, sem ter que amar. Poder descrever desejos e num sopro desistir. Poder afastar o medo e no entanto sucumbir. Direi que entendo a minha existência, fantasio o tempo. Direi que falsifico choros e meu riso invento.
  • 22. O PASSO ALÉM DO PASSO A cada passo, apaga-se o traço atrás do passo, estrada destroçada pela traça da passada, fio que só existiu antes do ato, do movimento do sapato. Tudo que o futuro guardou no escuro, desintegra-se no passo passado, no passo além do passo. Toda volúpia da pisada, da marcha desabalada, embaraça-se na história que poderia, que seria e será imaginação, assim que o pé descolar do chão.
  • 23. ENIGMA Meu enigma a mim pertence como ao mendigo, a pobreza. Antes a Édipo coubesse, a sina de decifrá-lo. O preço de ser Esfinge, é a condição de ser pedra. Devora-me uma certeza, é inevitável ser gente.
  • 24. DEXESTENSÃO (para Alane) Tens a visão torta, da porta que queres abrir? Encontrarás neste cômodo, incômodos segredos em mim. Mas se desejas olhar o mundo num caleidoscópio, Só a você permito, conhecer meu mito, decifrar meus símbolos, me desmontar.
  • 25. Tua mão é minha mão, nosso quebra-cabeças, nossas cabeças xifópagas entendem paixão. Nossas matérias ocupam o mesmo espaço, têm a mesma porção.
  • 26. PRIMAVERA falta-me inspiração e tantas flores no chão falta-me regá-las mas não tenho chuva toda água no fundo do poço mas não tenho lata minha mão quebrada não apanha a corda minha boca seca não apara a gota pergunto ao céu aonde esta a dúvida e a garoa molha meu jardim de dentro
  • 27. MINHA TERRA Minha terra esta sob minhas unhas, esta nos meus sonhos. Me contaminou com seu vírus, seus vícios. Minha terra me contém. Mesmo navegante, procuro tê-la ao alcance dos olhos. Mastigo muitos temperos, mas minha terra é que tem gosto. Já vi muitas faces do mapa, mas minha terra é que tem rosto. Minha alma esta cheia de terra, terra que trago nos bolsos, terra que passo na cara, maquiagem que exponho pros outros.
  • 28. MEU OUTRO Em um segundo roubaram o mundo, que MEU OUTRO vigiava. Não se pode mesmo contar com o oposto. Êta sujeito sem rosto, sem princípios. Alguns indícios de felicidade, e o besta se deleita... Deita na cama dos sonhos. Surdo, cego e mudo, nem desconfia... Quem com alma tão fria e caráter imundo, roubaria meu fabuloso mundo.
  • 29. SANGUE DE MAR Navegante há sete vidas, sangue de mar, olhos de areia, sem porto de chegada, nem Maria que espere. Não há mais sinais de nortes, nem vento que assovia. Navegante há sete mortes? Que sorte se fosse um corte nesses desmedidos dias, a derradeira morte e seu corpo apareceria na praia de maré vazia. De que lhe servem tantas vidas, desperdiçadas, compridas, se conchas não cata mais, se ondas não quebram em seus pés, se o cheiro de maresia não vem da beira do cais. (ao amigo poeta Marco Valença)
  • 30. O RIO DAS HORAS Milhares de horas passam por baixo da ponte eterna, levadas pela correnteza, seguindo a certeza da água. Muitos instantes ficam presos aos galhos da margem, transformando-se em árvores, desgarradas do tempo. Dia perene, contínuo, carregas seu desafio, desvendar onde mora, a derradeira hora do rio. Todos segundos navegam para a foz do rio das horas, despejam segredos cúbicos nos oceanos afora.
  • 31. Alguns momentos afundam e nas águas profundas se afogam, dormem na cama da calma, jazem na alma da lama. Dia perene, contínuo, carregas seu desafio, desvendar onde mora a derradeira hora do rio.
  • 32. MADRUGADA Madrugada derramou-se no silêncio, escorrendo pelo rosto da cidade, evocando sentimentos naufragados, fez-se dona do momento. Uma sombra solitária colhe estrelas, dança valsas de infância, sopra folhas de outonos esquecidos, faz de conta que é o vento. O luar acanhado lhe corteja, desvairada lambe gotas de orvalho, encharcada de desejo, devaneia, dorme nua ao relento. Véu escuro cobre luz insinuada, sobretudo em cores escondidas, noite grávida bordando alvorada, brilha o dia seu rebento.
  • 33. FELICIDADE Quem já foi feliz? alguém que quis, ou não tem jeito, o perfeito não pertence ao sujeito.
  • 34. DIAS DE TRISTEZA Em dias de tristeza, põe à mesa, um vinho barato. Escolha como prato, o de mais insosso paladar. Deixe que o mofo aromatize o ambiente, tente simplesmente só chorar. Não enfeite com lembranças, o que pode ser só dor. Deite em teu jardim, fique sozinho e sem muito alardear, Adormeça em tua cama de espinho. (dedicado ao amigo Daniel Pereira de Santana)
  • 35. ECO Tudo que tenho Cabe num corpo Tudo que tento Cabe no lógico Tudo que quero Cabe num cofre Tudo que sei Morre no outro Nada que digo Cabe no ouvido Sempre que planto Brota encanto Sempre que sopro Vento assombro Ouço deserto Meu próprio eco
  • 36. NOITE DE SÃO JOÃO Hoje é noite de São João e não tenho alegria. Hoje é noite de prazer, noite dionisíaca, mas minha vontade tísica, insiste em me entristecer. Hoje é noite demorada... Mas como tudo acaba: Natal, carnaval, sexta-feira da paixão, por que não acabaria a noite de São João.
  • 37. MORTE DEIXADA Tem um corpo esticado na estrada, de quem é essa sombra deitada? Carne no chão espalhada, divorciada da alma, de quem é essa dor rejeitada? Sobra de gente esquecida, rosto renegado, de que é esse resto prostrado? Depositado à margem, velho, cansou da viagem? Matéria num canto jogada, de quem é essa morte deixada?
  • 38. SOLIDÃO Não trancaram minha porta, mas não vou abri-la. Não disseram para ficar, mas não vou sair. Aqui dentro tem de tudo, que preciso e quero. Quando cismo em ver loucura, vou à fechadura. Quando sinto solidão, simplesmente dou-lhe a mão. Quando perco a calma, a porta é a serventia da alma.
  • 39. SONHO OUTRO É preciso perder o rumo, frequentar mundos, investigar pesadelos profundos. É preciso permutar dores, transplantar sentimentos, comungar amores, ou isolamento. É preciso odiar o óbvio, revisitar o ócio, rejeitar o dócil. É preciso azedar o gosto, caricaturar o rosto, desmistificar agosto. É mister misturar temperos, vê-los pilados, heterogeneamente ligados. É lógico esquecer um sonho, estranho será sempre o outro, o fruto do futuro é oco.
  • 40. VAMPIRO DE LETRAS (ao poeta Paulo Garcez de Sena) embriagou-se de metáfora até a última gota de texto alimentou-se de verbos como um vampiro de letras estilhaçou a palavra em fragmentos diversos arrumou cada pedaço num quebra-cabeça de versos de co tru s ns in du–se
  • 41. QUINTO ELEMENTO Se as árvores me emprestassem sabedoria, o céu doasse plenitude e o mar perfeição, saberia como entender, os planos para mim traçados, os destinos rogados, a contramão. Se eu brotasse da terra, ser autotrófico que come luz, não temeria o futuro, seria apenas o que vim ser, vegetal puro. Parte integrada, desintegrada, transformada. O quinto elemento.
  • 42. SONHOS Os sonhos realizaram seus sonhos, fugiram um por um, cada um para um mundo imaginário, cada um para seu castelo, para dormirem eternamente.
  • 43. SONETO DA VELA VIVA Essa vida, vela acesa, que o momento determina, se o vento cessa o fogo, ou a chama se ilumina. Essa vida, vela acesa, que a algum fim se destina, desatina a desvelar-se porquanto a chama rumina. Chama que teme o sopro, dança conforme a brisa, áurea do fogo cintila. Fogo que cumpre a sina, quanto mais vela consome, mais vida é consumida.
  • 44. ENCONTRO INCERTO marquei um encontro sem hora sem data para ver se me mata a dor da espera dia perdido tempo deserto lugar bem perto de espaço nenhum esquina do nada provável perigo marquei comigo um encontro incerto
  • 45. A FOTOGRAFIA Esta fotografia não concede alforria à saudade. Cárcere de lembranças, repousa no ontem habitat. Guardiã de infâncias, vive de papel e passado. Observo o instante capturado... Sinto um cheiro triste, da lenha que queima e inexiste.
  • 46. Lembro do gosto da fruta que o nome perdeu-se na gruta do longe. Vejo um rosto que era meu e dissolveu.
  • 47. OBSESSÃO Se algum dia eu sumir, não me procurem em bares, não investiguem lugares. Não estarei na esquina, não pousarei em castelos, nem levarei meus chinelos. Não voarei de avião, nem pegarei a estrada, não restará nenhum rastro, do passo de minha escalada. Se algum dia eu sumir, esquecerei o meu mapa, guarda-chuva e capa. Esvaziarei os meus bolsos, eliminarei qualquer pista, qualquer vestígio que exista.
  • 48. Não viajarei de navio, nem entrarei na floresta, incinerarei toda prova desse tempo de vida. Carregarei dores e amores, trancafiados no cofre, onde reside e sofre, a obsessão da partida
  • 49. BIOGRAFIA Carlos Freitas de Sena é natural de Salvador-Ba e reside atualmente na cidade de Guanambi-Ba. É servidor público, poeta e letrista. Foi premiado nos concursos de poesias do INSTITUTO INTERNACIONAL DE POESIA, em 1998 e em 2005 no concurso de poesias “HELENA KOLODY”, promovido pelo Governo do Estado do Paraná. Em 1985, participou da coletânea POESIAS NATURAIS, que reuniu poemas de um grupo de colegas do curso de Comunicação da UFBa. Teve poemas publicados em jornais e revistas culturais e tem parcerias musicais com os compositores soteropolitanos, Marcos Soares e Eugênio Soares. Divulga seus trabalhos também pela internet, no blog: poemascarlosdesena.blogspot.com