O documento fornece um resumo sobre o cinema português, desde seus primórdios no início do século XX até os anos 2010. Aborda os principais marcos e diretores do período, como Manoel de Oliveira, João César Monteiro e Miguel Gomes. Também destaca alguns filmes portugueses de sucesso na década de 2000, como "O Crime do Padre Amaro" e "Tabu".
2. INTRODUÇÃO
Cinema de Portugal, ou cinema português,
refere-se essencialmente a filmes realizados por
autores portugueses. São em princípio
considerados também portugueses alguns filmes
de autores estrangeiros com participação
financeira nacional.
O início do cinema português tem lugar com a
exibição das primeiras curtas-metragens
amadoras de um empresário da cidade do Porto,
Aurélio Paz dos Reis
3. A ficção cinematográfica portuguesa nasce em
1907, uns bons onze anos depois das primeiras
obras do género terem sido criadas por Georges
Méliès, em França. É uma curta-metragem
filmada pelo fotógrafo lisboeta João Freire
Correia e realizada por Lino Ferreira, O Rapto de
uma Actriz. Com este filme, tem início o primeiro
Ciclo de Lisboa.
4. OS ANOS ‘70
Diretores começou a fazer filmes no estilo do
cinema direto e aborda questões que não
puderam ser rastreados, até então, a câmera.
Manoel de Oliveira torna-se famoso com filmes de
pura ficção, por exemplo, O Passado e O
Presente, em 1971, o primeiro filme com o Centro
Português de Cinema. Antonio de Macedo é o
seguiente cineasta que traz renome internacional
com seu filme A Promessa, 1972, sendo o terceiro
filme português na competição seleccionada no
Festival de Cannes.
5. Manoel de Oliveira de nome completo Manoel
Cândido Pinto de Oliveira é um cineasta
português e, actualmente, o mais velho do mundo
em actividade.
Em 1963, O Acto da Primavera (segunda
docuficção portuguesa) marcou uma nova fase do
seu percurso. Com este filme, praticamente ao
mesmo tempo que António Campos, iniciou
Oliveira em Portugal a prática da antropologia
visual no cinema.
6. Manoel de Oliveira insiste em dizer que só cria
filmes pelo gozo de os fazer, independente da
reacção dos críticos. Apesar dos múltiplos
condecorações em alguns dos festivais mais
prestigiados do mundo, tais como o Festival de
Cannes, Festival de Veneza ou o Festival de
Montreal, leva uma vida retirada e longe das
luzes da ribalta.
7.
8. JOÃO CÉSAR MONTEIRO
João César Monteiro Santos (Figueira da Foz,
2 de Fevereiro de 1939 — Lisboa, 3 de Fevereiro
de 2003) foi um cineasta português. Integrou o
grupo de jovens realizadores que se lançaram no
movimento do Novo Cinema.
É dos poucos cineastas associados ao movimento
do novo cinema que não prossegue estudos
universitários. A propósito, o seu alter-ego, no
filme Fragmentos de um Filme Esmola (1973),
explica-se assim: «A escola é a retrete cultural do
opressor».
9. Século XXI
Anos 2000/10
Traços gerais
A primeira década do século é caracterizada por uma
primeira fase (2000 a 2005) em que predominam filmes de
autor, se acentuam tendências experimentais, se aposta em
motivos ousados, em que se desvela injustiças sociais,
filmes que revelam alguma inquietação pelo evoluir da
situação que afecta o país e as mentalidades.
A situação altera-se radicalmente com o aparecimento, a
partir de 2005, de filmes comerciais cujo público-alvo são as
audiências habituais das telenovelas, quem se habituou a
gostar de histórias cor-de-rosa, a seguir intrigas escabrosas
ou fait divers mediáticos, a assistir ao folhetim diário da
vida de figuras públicas que os jornais ou televisões. Em
suma: a televisão invade o cinema.
10. Prevalência dos autores: 2000 a 2005
a entrada no século
O século tem entrada animada. O início é marcado
por uma derradeira irreverência do João César
Monteiro, mal parado nos seus devaneios
autobiográficos, e pouco tempo depois pelo seu
desaparecimento (Fevereiro de 2003). A Branca de
Neve, que ele deixou sem imagem, ficaria a negro.
Pelos caminhos de um negro imaginário, mas com
imagem bem ao vivo, prosseguirá o cinema português
– sempre muito fechado em casa, agora um bocadinho
mais visto por fora – na tradição realista e no retrato
social. Retrato, no caso de José Álvaro Morais, de um
país «que agarra as pessoas com tanta força ao mesmo
tempo que lhes dá vontade de fugir» (Quaresma
(filme) - Festival de Cannes, Quinzena dos
Realizadores, 2003).
12. João Pedro Rodrigues, cineasta radical,
cruel no que exibe (O Fantasma - 2000),
provoca à sua maneira ao abordar a
obsessão e o fetiche na homossexualidade
masculina e o seu filme, em certos dos
nossos meios e nalgumas salas lá de fora,
torna-se objecto de culto. Influenciada por
Pedro Costa, a jovem Cláudia Tomaz,
explorando também o tema da
marginalidade e da toxicodependência,
obtém com a sua primeira longa-metragem
Noites (2000), «um filme só pele e osso», o
Prémio Melhor Filme da Semana da
Crítica no Festival de Veneza. O começo do
século é visto em film noir.
13. Na passagem de 2001 para 2002, a obra de Manoel de
Oliveira é tema para uma retrospectiva no Centro Georges
Pompidou, em Paris, com a presença do realizador, de
ilustres personalidades portuguesas, com particular pompa
e circunstância, só quebradas pelo sempre juvenil
atrevimento do velho Jean Rouch, cujos amores errantes
lhe deixaram na alma imagens fortes de Portugal. Nessa
errância, por amor também, dois anos volvidos, soltará ele
de vez a sua alma em África, terra de cinema, que O
Gotejar da Luz (Fernando Vendrell - 2001) levaria ao
Festival de Berlim (2002). No mesmo festival mas ano
seguinte, também Joaquim Sapinho marcaria a sua
presença com a sua aguardada segunda longa-metragem
Mulher Polícia (2003). Em 2003, Ricardo Costa, arriscando
por paragens menos urbanas, marca presença com uma
docuficção nos Novos Territórios do Festival de Veneza
(Brumas - 2003).
14. O grande público é agora mais escasso para o cinema
português, não é o mesmo de há vinte anos. O sonho
de distribuir filmes no Brasil esvai-se mal se percebe
que por lá não seriam melhor as coisas. A Selva
(2002) de Leonel Vieira não responde às expectativas.
O Delfim de Fernando Lopes fica abaixo do esperado.
Afoita-se outra vez Leonel Vieira e dá Um Tiro no
Escuro (2005). O Fascínio (2003) de José Fonseca e
Costa fica aquém do previsto. O mesmo sucederá em
idênticas tentativas. Tipificando pelo lado do teatro
como faz Oliveira, João Botelho tenta a comédia em
estilo de revista. Rodeada de personagens típicas da
nação, A Mulher que Acreditava ser Presidente dos
Estados Unidos – 2003) também lá não chega.
15. a encruzilhada
Misturam-se géneros e linguagens, o vídeo e a
televisão entram em força no reino do cinema. A
meio de uma década com o país em crise vê-se o
cinema português numa encruzilhada. Cria-se
novos modelos de financiamento para o salvar, a
par dos que são atribuídos pelo Ministério da
Cultura a fundo perdido e surge o controverso
FICA (Fundo de Investimento para o Cinema e
Audiovisual), em que são aplicados capitais geridos
por uma entidade bancária, com retorno em prazo
alargado.
16. Prevalência do comércio: 2005 a 2010
sinais de mudança
Na segunda fase da década, – no mesmo ano em que,
com Stanley Donen, Manoel de Oliveira, em
consagração coincidente com a proximidade do seu
centenário (2008), é homenageado com um "Leão de
Ouro" (o segundo) pela sua carreira, também no
Festival de Veneza (2004), onde no ano anterior fora
exibido Um Filme Falado – por cá, mas noutro
registo, dá que falar O Crime do Padre Amaro, de
Carlos Coelho da Silva, que se apresenta em estilo de
telenovela bem temperada, versão cinematográfica de
uma série da SIC.
17. Sucede algo de parecido com o Filme da Treta (2006), de
José Sacramento, no humor rasteiro de Luís de Carvalho e
Castro, montagem de sketches de uma série de televisão
adaptada a cinema. Ambos os filmes atingem recordes de
bilheteira, o primeiro quase alcança os quatrocentos mil
espectadores e o segundo fica perto dos trezentos mil.
Estamos perante os primeiros sinais de séria mudança.
Esta transbordante maré acabará por submergir vários dos
filmes de autor (e não só) que então se estreiam. Certos
escapam, graças aos temas que abordam : uma filha
perdida na cidade de Lisboa, (Alice - 2005), de Marco
Martins, primeira obra levada ao Festival de Cannes, a
morte dramática na mesma conturbada cidade de um
jovem de sexualidade ambígua e a falsa gravidez de uma
namorada traída (Odete, novo filme de João Pedro
Rodrigues, também com presença em Cannes).
18. Dez anos depois de ter
sido filmado, estreia o
documentário Diários da
Bósnia de Joaquim
Sapinho, filme que
ilustra um grave conflito
internacional da época.
Propenso ao folhetim e
sempre teatral na
paródia, ilustrando bem
a seu modo a força do
destino, João Botelho
volta às luzes da ribalta
no Festival de Veneza: O
Fatalista.
20. “Tabu”, a terceira e premiada longa-metragem do
realizador Miguel Gomes, é uma co-produção entre
Portugal, França, Alemanha e Brasil, uma saga a preto
e branco, sobre um amor passado em África, e conta no
elenco com Ana Moreira, Laura Soveral, Teresa
Madruga e Carlotto Cota, entre outros.
O filme foi distinguido em fevreiro, no festival de cinema
de Berlim, com o prémio Alfred Bauer para a
Inovação e com o prémio especial da crítica. Em
março, conquistou o prémio Lady Harimaguada de
Prata no Festival de Las Palmas, em Espanha.
Em «Tabu», Miguel Gomes trabalhou a ideia da
memória, «a memória de coisas extintas, a memória de
alguém que morre e de uma sociedade que também já se
extinguiu», (contou Miguel Gomes à Agência Lusa)
21. O filme conta a história de Aurora, em duas partes
marcadas por fortes contrastes (velhice/juventude,
monotonia/aventura, cidade/selva).
A primeira parte do filme, intitulada «Paraíso Perdido»,
é passada em Lisboa, relata uma vida banal de três
personagens - a idosa Aurora (Laura Soveral), a sua
empregada africana, Santa (Isabel Cardoso), e Pilar
(Teresa Madruga), uma vizinha empenhada em causas
sociais -, e termina com a morte de Aurora.
Na segunda parte, que dá pelo nome de «Paraíso»,
vemos então a jovem Aurora (Ana Moreira), filha de um
colono português em África, dona de uma fazenda,
mulher casada que trai o marido com o baterista de uma
banda, cometer um assassínio, no auge da tragédia
amorosa.
22. DURANTE ESTA SEGUNDA PARTE, OS ATORES NÃO FALAM, OUVINDO-SE
APENAS O NARRADOR E A BANDA SONORA, EM JEITO DE HOMENAGEM DE
MIGUEL GOMES AO CINEMA MUDO, PRINCIPALMENTE A UM DOS SEUS
GRANDES MESTRES, O ALEMÃO FRIEDRICH WILHELM MURNAU.
24. A curta-metragem “Rafa”, de João Salaviza venceu o Urso de Ouro,
no festival de Berlim. O realizador português também já conquistou
a Palma de Ouro, no festival de Cannes, com a curta-metragem
“Arena“.
25. A nova curta-metragem do jovem realizador
português, de 27 anos, conta a história de um
adolescente que se aventura do interior da sua
casa do subúrbio para visitar a mãe numa prisão
de Lisboa.
João Salaviza considera Rafa como o terceiro
capítulo de uma espécie de trilogia iniciada com
“Arena”, em 2009, e continuada com “Cerro
Negro”, no ano passado.
26. O ator John Malkovich interpreta em Portugal, o
último filme de cineasta Raul Ruiz
O que têm em comum os realizadores Raul Ruiz e
Manoel de Oliveira? O sentido de humor, uma visão
singular do mundo como John Malkovich, que esteve
hoje em Lisboa para falar do trabalho com os dois
cineastas.
27. O actor John Malkovich e o produtor Paulo Branco ontem, na Fnac do
Chiado, em Lisboa
29. Após o desaparecimento de franco- chileno
diretor no verão passado em Paris, Português
produtor de filme Paulo Branco anunciou planos
para realizar este filme sobre a invasão
napoleônica a Portugal. O projeto foi retomado no
ano passado, a viúva do cineasta, Valeria
Sarmiento.
30. "É difícil, mas deve fazer o filme
para ele", disse Valeria Sarmiento.
31. O ator não gosta de comparar a técnica de Ruiz com a
de Valeria Sarmiento, que assumiu a realização de "As Linhas de
Torres Vedras", mas encontrou em ambos a mesma "tranqulidade e
sentido de humor".
32. "Eu era capaz de trabalhar com ele [Raul Ruiz]
vezes e vezes sem conta. Os atores adoravam-no
porque ela gostava de atores. Porque há
realizadores que não gostam de atores. Ele tinha
muito bom gosto na representação", disse John
Malkovich, que recordou ter conhecido Raul Ruiz
em Paris, através de Paulo Branco.
33. Para Malkovich, Raul Ruiz foi "o pensador mais
independente" que conheceu no cinema e partilhava
com Manoel de Oliveira uma "visão única e singular"
sobre o mundo.
Também com o produtor Paulo Branco, John
Malkovich rodou alguns filmes com Manoel de
Oliveira, nomeadamente "O Convento" (1995) e "Um
Filme Falado" (2003).
"Se eu vivesse até aos 104 anos não ficaria
surpreendido que ele estivesse a filmar, porque há
qualquer coisa de estranho", brincou Malkovich, a
propósito da boa forma física e longevidade de Manoel
de Oliveira, recordando alguns episódios de rodagens.
34. O ator disse que o cinema ainda faz sentido:
"Realizadores como Oliveira e Ruiz ajudam-nos a
fingir que a vida é bela"
John Malkovich