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Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




                 DICIONÁRIOS BILÍNGÜES
      ESPANHOL/PORTUGUÊS – PORTUGUÊS/ ESPANHOL:
       UMA CONFRONTAÇÃO PARA O ENSINO DE LÍNGUAS



                                             Rosangela Aparecida Fregolente *



          ABSTRACT: The dictionary is a book associated to the language learning
          and teaching. In this way, it becomes an object of primary need to the
          language student because the lexic is an important item of the language
          learning process. Therefore, the objective of this paper is to analyse and
          comment about three bilingual student dictionaries Spanish/Portuguese
          – Portuguese/Spanish as pedagogical supporting tools for speakers of
          Portuguese in Spanish classes. First, a structural presentation of these
          dictionaries is given. Second, the word festejar and its variations are
          analysed in the dictionaries mentioned in terms of word presentation. Next,
          some commentaries about the importance of the use of the dictionaries in
          language teaching and learning are presented and finally some suggestions
          are given in order to present the most useful dictionary as well as ways
          students should use them in order to have a meaningful progress in the
          language leaning process.




Introdução

       O dicionário é uma obra que vejo relacionada ao ensino –
aprendizagem de línguas, desta forma tornou-se um objeto de con-
sumo de primeira necessidade ao aprendiz de língua estrangeira,
uma vez que o léxico é um importante segmento para o aprendizado.
       Diante dessas colocações, normalmente as pessoas que es-
tudam uma língua estrangeira (LE) procuram adquirir um dicionário
bilíngüe para melhor compreender a língua em questão e também



*
    Professora de Espanhol do CEL (Centro de Estudos de Línguas) – Bauru/SP.




                                                                                         197
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




para tentar se expressar. Vários estudantes pedem sugestões ao
professor para que lhes indique um bom dicionário, por isso o professor
que tenha um conhecimento diversificado dos tipos de dicionários
que há no mercado, muito contribuirá para essa resposta. Há o con-
ceito de que qualquer dicionário serve. Será? Por isso muito ajudaria
se o professor orientasse o aprendiz ao analisar um dicionário antes
de adquiri-lo. Também é fundamental que o professor oriente-o no
uso após a aquisição, pois muitos utilizam inadequadamente, traba-
lhando com as palavras individualmente e buscando uma correlação
unívoca entre a língua materna e a LE. Muitos dos aprendizes não
têm informações sobre os diferentes usos das palavras, expressões
idiomáticas, contextos mais comuns e possibilidades gramaticais e,
assim, acabam cometendo muitos erros ao consultar um dicionário.
       Por isso, este trabalho tem por finalidade tecer comentários
sobre três dicionários escolares bilíngües espanhol/português, portu-
guês/espanhol como material didático de apoio para a aprendizagem
da língua espanhola por falantes do português. Este estudo é direcio-
nado a professores que buscam refletir suas práticas pedagógicas e
a alunos que estão iniciando seus estudos em L2.
       Os três dicionários selecionados foram:

1. BALLESTERO ALVAREZ, Maria Esmeralda & SOTO BALBAS,
   Marcial. Dicionário espanhol / português, português / espanhol.
   São Paulo, ed. FTD.

2. ERES FERNÁNDEZ, Gretel & FLAVIAN, Eugenia. Minidicionário
   espanhol português, português / espanhol, 2º ed., São Paulo, ed.
   Ática, 1995.

3. MINIDICIONÁRIO Espanhol / Português, Português / Espanhol,
   São Paulo, ed. Saraiva, 2000.

       Inicialmente, faço um levantamento da apresentação estrutural
desses três dicionários; em seguida, mostro e analiso como o verbete
festejar e suas variantes aparecem nessas obras; em um terceiro
momento, faço alguns comentários sobre a importância do uso dos
dicionários no ensino de línguas; depois finalizo com um parecer sobre
qual é o dicionário mais útil e como o aprendiz pode usá-lo.




   198
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




1-Apresentação Estrutural

        Nesta primeira parte, faço um levantamento da apresentação
estrutural dos dicionários que me parecem viáveis nesse momento,
uma vez que no prefácio o autor expõe ao leitor informações que
julga necessárias para a sua obra. Segundo Horta Nunes (1998: 93-
94), o prefácio é um gênero importante na história da lexicografia,
pois ele constitui um lugar de reflexão metalingüística sobre o léxico,
fazendo com que o dicionário não consista apenas em um conjunto
de itens lexicais com definições, mas configure um discurso expli-
citado sobre a língua, pois é nos prefácios que os lexicógrafos se
posicionam diante de questões como: público visado, recorte histórico,
nomenclatura, sistema de remissões, citações, exemplos, entre
outras.
        Para mostrar o levantamento feito, inicialmente, cito o prefácio
desses dicionários na seguinte ordem: Eres Fernández & Flavian –
editora Ática, Minidicionário – editora Saraiva, Ballestero Alvarez &
Soto Balbás -editora FTD; em seguida, faço um levantamento sobre
essa apresentação estrutural.
        O dicionário de Gretel Eres Fernández e Eugenia Flavian,
publicado pela editora Ática, menciona o público alvo (estudantes bra-
sileiros de nível médio) e o nº de verbetes (cerca de 20 mil, sendo 10
mil com entrada em espanhol e outros 10 mil em português), diz
ainda que esses verbetes foram selecionados a partir de sua freqüên-
cia de uso, incluindo espanholismos, americanismos, regionalismos,
termos técnicos, jurídicos, científicos e coloquiais, expressões idio-
máticas e provérbios.
        Nas entradas do espanhol/português são citadas: divisão si-
lábica ex.: (de-sa-rro-llo), indicação de sílabas tônicas diferentes
das do português ex.: (de- mo-cra-cia), indicação de feminino ex.:
(a-lum-no/na, feminino irregular ex.: (ac-tor / ac-triz), indicação de
falso cognato ex.: (va-so).
        A entrada segue sua categoria gramatical em abreviaturas,
caso o verbete assuma categorias diversas, mas conserva o mesmo
significado, a classificação aparece após a entrada do verbete. Ex:
bien-ve-ni-do/a adj. 1. bem-vindo. s.f. 2. Boas-vindas. Também men-
ciona o campo de aplicação do termo, ex: chil-mo-le s.f. Mex. e Am.
C. molho picante. Os exemplos em itálico visam a destacar um signi-
ficado, que difere do português. Ex: her-vi-do/a adj. 1. fervido. .s.m.




                                                                                  199
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




2. prato cozido. Haré um hervido de cena. Farei alguma coisa cozida
no jantar.
        Já nas entradas do português/espanhol é mencionado que
essa parte do dicionário é mais simples e direta, pois a preocupação
fundamental foi a de dar versões para o espanhol, e as entradas não
incluem divisão silábica, nem feminino. Ex: gozação s. f. burla, broma,
mofa, escárnio. . Fazer gozação. Burlarse, mofarse.
        Esse dicionário também apresenta: sinais gráficos, alfabeto
(português/espanhol), regras da divisão silábica, quadro fonológico,
acentuação gráfica (português/espanhol), abreviaturas. No final do
dicionário, ainda há: vocábulos só com falsos amigos, modelos de
conjugação verbal, numerais cardinais e ordinais (português/espa-
nhol), adjetivos pátrios (português/espanhol), pronomes e formas de
tratamento (Brasil, América e Espanha) e bibliografia.
        O dicionário da editora Saraiva não traz o nome do(s) autor(es),
nas entradas do espanhol/português, menciona: marca alfabética
impressa nas laterais das páginas, nº de páginas em arábico e por
extenso (ordinal e cardinal), verbetes impressos com destaque colo-
rido e dividido em sílabas, indicação da sílaba tônica em todos os
vocábulos, transcrição fonética das palavras, abreviaturas de cate-
goria gramatical, regionalismo, sinônimos e antônimos, plural invariá-
vel, falso cognato, conjugação dos verbos irregulares disposta em
ordem alfabética, curiosidades e endereços de Internet.
        Nas entradas do português/espanhol os vocábulos são as-
sim apresentados:
        a.ba.fa.do/a adj. 1.Sofocado; asfixiante; falto de aire (ambien-
        te, clima). 2. fig. Oculto; disimulado; solopado.
        Esse dicionário também apresenta: abreviaturas, alfabeto
gráfico e fonético, lista de símbolos fonéticos utilizados, sinais de
pontuação, acentuação ortográfica, conjugação de verbos regulares
(um exemplo para cada conjugação: ar, er, ir). No final, ele traz: nu-
merais cardinais e ordinais, adjetivos pátrios (português/espanhol).
        O dicionário de Maria Esmeralda Ballestero Alvarez e Marcial
Soto Balbás, publicado pela editora FTD diz que essa obra é uma
contribuição da FTD ao estudante e ao profissional brasileiro frente à
integração do mercado sul-americano. Também cita o nº de verbetes
(15.000 vocábulos e expressões idiomáticas).
        As entradas do espanhol – português são apresentadas assim:
        Abaratar, v. 5, baratear, baixar o preço // Amér., baratear.




   200
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




(obs.: O nº 5 que aparece aí indica que será conjugado da mesma
forma do verbo 5, na conjugação de verbos no final do dicionário). E
os vocábulos com entradas do português / espanhol estão:
        Abandonar, v., abandonar, dejar, desamparar.
        O início do dicionário traz as abreviaturas e os símbolos, já no
fim ele apresenta dois apêndices: o primeiro com provérbios da língua
espanhola e seu significado ou equivalência em português, o segundo
com modelos de conjugações verbais.
        O quadro ilustra o conteúdo de cada dicionário, o nº 1 represen-
ta o dicionário de Eres Fernández & Flavian – Ática, o nº 2 o dicionário
editado pela Saraiva e o nº 3 o dicionário de Ballestero Alvarez & Soto
Balbás – FTD.

                                                DICIONÁRIOS
                                               1      2    3
       Público Alvo                            +      -    +
       Nº de verbetes                          +      -    +
       Divisão Silábica                        +      +    -
       Sílaba Tônica                           +      +    -
       Classe Gramatical                       +      +    +
       Sinais Gráficos                         +      +    +
       Alfabeto Gráfico                        +      +    -
       Alfabeto Fonético                       +      +    -
       Símbolos Fonéticos                      +      +    -
       Transcrição Fonética                    -      +    -
       Acentuação Gráfica                      +      +    -
       Abreviaturas                            +      +    +
       Falsos Amigos                           +      +    -
       Conjugação Verbal                       +      +    +
       Numerais                                +      +    -
       Adjetivos Práticos                      +      +    -
       Pronomes e Formas de Tratamento         +      -    -
       Provérbios                              -      -    +
       Bibliografia                            +      -    -




                                                                                  201
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




1.1 - Comentários sobre a apresentação

        Nesse momento, após observar a apresentação desses três
dicionários, comento alguns pontos que me parecem relevantes nes-
ses prefácios. Já de imediato, percebe-se que o dicionário de Eres
Fernández e Flavian – Ática e o da editora Saraiva fazem uma apre-
sentação bastante detalhada da obra, enquanto o dicionário de
Ballestero Alvarez e Soto Balbás – FTD não cita muitas informações
se comparado com os dois anteriores.
        Nota-se também que as entradas apresentam as palavras gra-
fadas com separação de sílabas nos dicionários editados pela Ática
e Saraiva. Segundo Horta Nunes (1998: 95), as entradas que apresen-
tam as palavras grafadas com separação de sílabas pressupõem
um leitor que pode não saber como separá-las; deste modo, esse
tipo de entrada vai em direção ao público-estudante, conformando a
imagem do dicionário enquanto instrumento didático relacionado com
a escrita. Esse tipo de dicionário ajuda o leitor-estudante em busca
do conhecimento e do uso correto da língua.
        Outro ponto que, em minhas considerações, parece-me bas-
tante pertinente é a atenção que os dois primeiros dicionários aqui
citados dão à sílaba tônica. O dicionário editado pela Saraiva destaca
a sílaba forte em todos os vocábulos, já o dicionário de Eres Fernandes
e Flavian – Ática coloca a sílaba em destaque somente das palavras
que diferem das do português, ex.: ni-vel. O fato desse dicionário
destacar a sílaba apenas quando há diferença entre a L1 e a L2 pare-
ce-me muito positivo, pois está em destaque para o usuário exata-
mente o ponto em que normalmente ocorre a confusão na oralidade
do léxico, pois a interferência fonológica da língua materna sobre a
língua 2 é maior, uma vez que a proximidade e a diferença entre o
português e o espanhol no ensino/aprendizagem dessas duas línguas
acarretam equívocos nem sempre percebidos e que precisam ser
assimilados pelo aprendiz. Por isso, as autoras foram muito felizes
com essa colocação, pois esse dicionário muito ajudará o usuário
consciente dessa interferência e que necessita de algum material
que seja prático e rápido para tirar esse tipo de dúvida.
        Quanto à apresentação oral, o dicionário de Ballestero – Alva-
rez e Soto Balbás – FTD nada aborda, o de Eres Fernández e Flavian
– Ática coloca um quadro fonológico do alfabeto com seus fonemas
e representação fonética, mas somente o dicionário editado pela Sa-
raiva traz a transcrição fonética dos termos. Esses dicionários tam-



   202
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




bém deveriam dar grande importância para a apresentação do oral,
uma vez que o estudante também é um leitor em busca do conheci-
mento do uso correto da oralidade.
       O último item que comento aqui é sobre a conjugação verbal
que o dicionário da editora Saraiva traz. Na apresentação, aparece
um modelo para cada terminação, em quase todos os tempos ver-
bais, assim pode-se encontrar a conjugação dos verbos irregulares
em ordem alfabética em seus respectivos tempos verbais. Porém
ele não traz a conjugação verbal do pretérito perfeito composto, tempo
bastante comum no contexto da Espanha e incomum no contexto
dos países falantes do Espanhol na América Latina.


2 - Análise dos verbetes

       Nesta segunda parte, mostro como o verbete festejar e suas
variantes lingüísticas são citados nos respectivos dicionários, em
seguida, faço uma análise que me parece relevante ao observar e
confrontar esses vocábulos.

        Eres Fernández & Flavian - Ática:
Fes-te-jar v.t. 1. Festejar, comemorar, celebrar. 2. Col. Aplaudir, apro-
var, fazer festa. Le festejan todas sus payasadas. Aplaudem todas
as suas palhaçadas. .v. i. 3. Cortejar, namorar. Festeja pero no se
casa. Namora mas não casa.
Fes-ti-val s.m. Festival, espetáculo artístico.
Fes-ti-vi-dad s.f. 1. Festividade. 2.Feriado. La festividad del Día de
la Independencia. O feriado do Dia da Independência.
Fes-ti-vo/a adj. 1. Festivo, próprio de festa. Día festivo. Dia festivo,
feriado. 2. Festivo, alegre. Una reunión festiva. Uma reunião alegre.

        Saraiva:
Fes.te.jar [festehar] vt 1. Festejar; comemorar. 2. Fam Aplaudir; sau-
dar. vi 3. Cortejar; namorar.
Fes.te.jo [festeho] sm 1. Festejo; festividade. Smpl 2. comemoração
pública.
Fes.ti.val [festibal] sm Festival. ~ de cine Festival de cinema.
Fes.ti.vi.dad [festividade] sf 1. festividade. 2. Feriado.
Fes.ti.vo/a [festibo/a] adj. 1. festivo. 2. Alegre; divertido. Día ~ Feriado.




                                                                                    203
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




       Ballestero Alvarez & Soto Balbás - FTD:
Festejar, v. 5, festejar, celebrar, comemorar, solenizar // cortejar,
namorar.
Festejo, s.m., festejo, festividade, festivo . s.m. pl., comemoração
pública.
Festín, s.m., banquete normalmente com música e baile.
Festival, s.m., festival.
Festividad, s.f., festividade.
Festivo/a, adj., feriado // festivo // jocoso, espirituoso // alegre.

        Nota-se que os vocábulos dos dois primeiros dicionários aqui
citados abordam seus significados no campo lexical com mais de-
talhes, já os léxicos do terceiro dicionário mencionado apresentam
uma definição mais breve.
        Os verbetes do dicionário de Eres Fernández & Flavian – Ática
aparecem com exemplos, cuja intenção é mostrar a palavra definida
em funcionamento, ou seja, apresentar provas do que se acaba de
afirmar, sendo assim, o exemplo assume um papel fundamental para
a compreensão do léxico, pois não é somente o significado, mas
também a informação sintática e semântica irter-relacionadas.
        Os verbetes do dicionário da editora Saraiva aparecem com a
transcrição fonética, isso não só facilita a consulta como também
oferece ao usuário informações sobre o uso oral da língua; tópico de
extrema importância quando defendemos que o dicionário é um ma-
terial didático que fornece ao aprendiz mais uma modalidade que o
ajudará em seu conhecimento lingüístico.
        Ao observar o campo semântico desses vocábulos, percebe-
se que o dicionário de Eres Fernández & Flavian – Ática traz quatro
vocábulos (festejar, festival, festividad, festivo/a); o da editora Saraiva
traz cinco, acrescentando o verbete festejo; já o de Ballestero Alvarez
& Soto Balbás – FTD traz seis; acrescenta: festejo e festín. Diante
do número de palavras-entrada contidas em cada dicionário, talvez
seja pertinente, nesse momento, ressaltar que os vocábulos presentes
ou ausentes diferem de acordo com o número de verbetes apresen-
tados em cada dicionário, já que os escolares constam mais ou menos
de definições dependendo da quantidade de entradas contidas na
obra, lembrando-se que o dicionário editado pela Ática contém cerca
de 10 mil verbetes com entradas em espanhol, o editado pela Saraiva
não cita o número de verbetes presentes e a publicação da FTD traz
15 mil. Vendo por esse aspecto, o dicionário de Ballestero Alvarez &



   204
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




Soto Balbás – FTD contém menos informações, mas, por outro lado,
o usuário encontrará mais verbetes desejados, levando em considera-
ção que o público-alvo-estudante consulta o dicionário principalmente
para ver significado e que o principal objetivo de um dicionário é o
léxico, esse dicionário está em vantagem comparado com os dois
anteriores.
        Todos os verbetes citam suas classes de palavras, indepen-
dente de sua sintaxe. Esses vocábulos têm implicações semânticas
que organizam o seu léxico, pois sua composição mostra as estru-
turas morfo-semânticas do vocábulo. Pergunto, nesse momento, se
é preciso conter essas informações morfológicas e sintáticas. Será
que o aluno consulta o dicionário para verificar se o vocábulo é verbo
transitivo ou intransitivo ou se é substantivo ou adjetivo, uma vez que
a maioria dos usuários busca informações somente para ver signifi-
cado e ortografia? Porém, pergunto aqui também: quem é esse usuá-
rio? Um consulente comum de nível médio talvez não tenha esse
objetivo, mas um outro, já com níveis de interesses diferenciados e
superiores, muito necessitaria dessas informações. Por isso é con-
siderável que um dicionário contenha o maior número possível de
informações, já que é um material didático para o ensino – aprendi-
zagem de línguas.
        Nesse momento questiono qual o melhor dicionário. Existe
uma crença que qualquer dicionário serve, independente de seu nível
de proficiência. Porém aquele dicionário, que além de conter o vocabu-
lário da língua, contenha também informações sintáticas, semânticas
e léxicas de modo a facilitar uma aprendizagem correta da língua em
questão, muito o ajudará, mesmo sendo um dicionário escolar
bilíngüe. Para Debyser (1981 p. 37), os melhores dicionários bilín-
gües são aqueles que são mais completos, mais exatos, mais claros
e mais práticos ao usuário que espera dispor de informações pre-
cisas, que espera saber as formas das palavras, seus sentidos e os
contextos nos quais elas aparecem.


3- Uso do Dicionário no Ensino de Línguas

       Nesta terceira parte, faço alguns comentários sobre a importân-
cia do uso dos dicionários no ensino de línguas, uma vez que esse
material didático muito ajudará o estudante em sua aprendizagem, e
um bilíngüe sempre é mais acessível ao bolso do aluno que um



                                                                                  205
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




monolíngüe em língua estrangeira, além do que ele é uma ferramenta
para o estudante, principalmente dos níveis iniciais, pois lhe traz segu-
rança mesmo que a tradução seja mais simplista.
        Rossner (1990 apud Tosque, 2002, p.107) atribui ao professor
o papel de editor do léxico de que seus alunos precisam para de-
sempenhar habilidades comunicativas. O professor pode auxiliar o
aluno a formular hipóteses, acrescentar ou alterar dados e utilizar as
palavras programaticamente, para que o estudante possa atestar a
correção e a exatidão de suas informações. Porém, é preciso lembrar
que o aprendizado de uma língua é uma tarefa de pesquisa que deve
ser realizada pelo aluno e é ele quem deve analisar os dados e chegar
as suas próprias conclusões.
        Para Summers (1988 apud Tosque, 2002, p. 109), professor
e aluno de LE têm no dicionário uma importante ferramenta a seu
dispor, nem sempre perfeita, mas muito útil, que pode levá-los a com-
preender melhor a abrangência de sentido e uso de uma nova palavra
e propicia uma produção mais correta e exata, principalmente na ha-
bilidade escrita. E que, mesmo assim, os dicionários ainda são pouco
explorados pelos professores, que não ensinam seus estudantes a
tirar o máximo de vantagens deles.
        Rey-Debove (1984 p. 45) diz que há duas maneiras de apren-
der uma língua: uma de forma natural, como se aprende a língua
materna, a outra artificial e metalingüística, consultando duas obras
descritivas: a gramática e o dicionário. Diz ainda que essas duas
maneiras de aprender uma língua não são exclusivas, uma vez que
a aprendizagem natural é acelerada e aperfeiçoada pelo uso da gra-
mática e do dicionário; e a aprendizagem artificial é, na maioria das
vezes, sustentada por verificações e experiências práticas da comuni-
cação. Acrescenta que esses dois caminhos da aprendizagem deve-
riam levar aos mesmos resultados e é por isso que os lingüistas
dizem que o objeto de um dicionário e de uma gramática é descrever
a competência natural do utilizador ideal de uma língua.
...ensinar a usar o dicionário deveria ser parte integral de qualquer
disciplina. (BAIRNS, 1995, p. 81).
...quanto mais se usa o dicionário, mais usos se acham para ele
(UNDERHILL, 1985, p. 5).
        Usar o dicionário e saber usá-lo deveria fazer parte da rotina
do aprendiz de línguas, de um modo geral, a maioria deles não tem
esse hábito na língua materna, conseqüentemente, também não é
comum na língua estrangeira.



   206
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




        Segundo Rey-Debore (1984, p. 63- 64), o dicionário é uma
obra de consulta e não um texto para ser lido do começo ao fim, as-
sim como é um dos objetos culturais mais usuais e mais mal conheci-
dos. Partindo-se dessa colocação e de minha experiência, pretendo
aqui levantar alguns tópicos relevantes que ocorrem no ensino de
línguas:
- nem todo aluno de LE tem dicionário;
- quando os alunos consultam o dicionário para elucidar um signifi-
   cado, normalmente só vêem a 1ª acepção;
- não é comum aparecer, nos planejamentos de curso, orientação
   sobre o uso de dicionários;
- a maioria só usa o dicionário para consultar significado e ortografia;
- falta a alunos e professores conhecimento de outros elementos
   estruturais que podem ser encontrados nos dicionários;
- muitos, quando buscam o verbo, procuram em sua conjugação e
   não no infinitivo;
- a maioria dos alunos não tem o hábito de verificar como é a apre-
   sentação de um dicionário (mesmo porque muitos nunca foram
   orientados sobre isso).
        Esses tópicos comprovam a deficiência do uso de dicionários
na vida escolar dos alunos, por isso é preciso orientá-los e incentivá-
los a usar os dicionários, uma vez que esse material didático é muito
mal utilizado, pois, muitas vezes, o aprendiz desconhece que nesse
livro podem ser encontrados transcrição fonética, classes gramaticais,
sílaba tônica, separação de sílabas, sinônimos e antônimos, gênero,
número, regionalismo, falsos amigos, conjugação verbal e outros.
        O usuário, por mais que domine a língua, jamais conhecerá
todo o léxico, uma vez que o vocabulário adquirido difere de pessoa
para pessoa, isto é, depende de sua região, de sua idade, de seu
meio social e profissional. Assim, o dicionário tem um papel funda-
mental para o ensino de línguas, pois seus usuários consultam-no,
na maioria das vezes, somente para obter informações a respeito do
significado e da ortografia do verbete. Segundo Coura Sobrinho (2000
p. 74), essa obra é uma ferramenta importante para o desenvolvi-
mento do aprendiz, pois aquele que fizer bom uso do dicionário estará
apto a continuar aprendendo também fora da sala de aula. Assim, a
consulta freqüente e cuidadosa poderá proporcionar melhor domínio
do idioma, tanto para o aumento de vocabulário como da compre-
ensão do texto.




                                                                                  207
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




        Diante dessas considerações, é de extrema importância ori-
entar o aprendiz sobre esses tópicos, pois, tendo essas informações
e sabendo utilizá-las, muito o dicionário o ajudará no processo de
aprendizagem de línguas. Segundo Schmitz (1989), é preciso incenti-
var o uso de dicionários nas escolas. Para isso, é preciso conscien-
tizar o professor e o aluno da importância dessas obras para o de-
senvolvimento cultural do indivíduo.
        A grande maioria dos usuários, sejam eles estudantes, profis-
sionais, trabalhadores, cidadãos comuns, quando consulta o dicionário
usa-o para encontrar estratégias lexicais, poucos são aqueles que
buscam as estratégias sintáticas e semânticas, justamente por falta
de conhecimento. Sendo assim, a orientação do professor de línguas
muito ajudará o estudante, independente de seu estágio de aprendiza-
gem: básico, intermediário ou avançado, já que esse aprendiz poderá
encontrar no dicionário a base lexical, a fonológica, a sintática e a
semântica e, assim, ele terá mais um instrumento de apoio para a
sua aprendizagem.
        Para Tosque (2002 p.113), é preciso introduzir a dimensão
dos direitos humanos na sala de aula, pois isso implica, dentre outras
coisas, considerar quais instrumentos estão sendo assegurados e
como estão sendo aplicados aos alunos. Destaca ainda que, como
usuários de dicionários bilíngües, os estudantes de LE têm direito
legítimo a ter acesso a dicionários adequados e a receber orientações
sobre como usá-los produtivamente. E, assim, como direitos e deve-
res caminham juntos, os estudantes de LE têm o dever de exigir
uma orientação sobre o uso de dicionários e aproveitar ao máximo
essa ferramenta de aprendizagem, devem também cuidar bem desse
material, preservando-o para que possa ser usado por muito tempo.


Considerações Finais

        Retomando os três dicionários bilíngües: espanhol/português,
português/espanhol, pergunto, nesse momento, qual deles é o mais
útil e como o aluno pode usá-lo?
        Responder essas perguntas é bastante relativo, pois depende
do objetivo do usuário ao consultar o dicionário. Se o consulente recor-
re a esse material apenas para obter informações a respeito do signi-
ficado lexical que ele desconhece, o dicionário nº 3, aqui mencionado,
está em vantagem, uma vez que contém um número de verbetes maior



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Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




que os outros dois. Por outro lado, se o seu grau de interesse é mais
amplo, se ele deseja informações sócio – culturais e lingüísticas, os
dicionários 1 e 2, aqui citados, fornecem mais esses dados.
        O aluno pode usar os dicionários usando-os; independente
do porquê está consultando-o, é preciso usá-lo e ter o hábito de usá-
lo; a expressão “pai dos burros”, usada popularmente para se referir
ao dicionário, também recebe outros comentários como: “um dicio-
nário deve ser vivo, uma súmula da vida, mais um instrumento de
aprendizagem que um objeto de luxo. O chamado “pai dos burros”
da expressão do povo tem de ser mesmo paternal, simples, dando-
nos o valor e o significado das coisas, sem pretensões, capaz da
mais franca intimidade, generoso, fácil.” (José Lins do Rego – Poe-
sia e Vida – Um Dicionário).
        “O dicionário é o pai dos inteligentes: os burros dispensam-
no”. (Mário da Silva Brito – O fastasma Sem Cabello).
        “O dicionário pode ser o pai dos burros, mas só pessoas inte-
ligentes o consultam.” (Julio Camargo – A Arte do Sofismo).
        “Diccionario, no eres tumba, sepulcro, féretro, túmulo,
mansoleo, sino preservación, fuego escondido, plantación de rubies,
perpetuidad viviente de la esencia, granero del idioma.” (Pablo Neruda
– Ode ao dicionário).


Nota

      Meus agradecimentos ao profº John Robert Schmitz (Unicamp)
pelo apoio e incentivo, às professoras Gretel Eres Fernández e
Eugenia Flavian pela leitura e comentários deste trabalho. Agradeço
também, à Regiani A. S. Zacarias pela troca de idéias.


Referências Bibliográficas

AMARAL, Vera Lúcia do. Acertos e Desacertos em Dicionários Bilín-
gües Português/ Espanhol – Espanhol/Português. São Paulo: Alfa,
1989, p. 115-128.
BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. O Dicionário Padrão da Língua.
São Paulo: Alfa, 28 (supl.), 1984, p. 27-43.
COURA SOBRINHO, Jerônimo. Uso do dicionário Configurando Es-
tratégia de Aprendizagem de Vocabulário. Pelotas: Educart, 2000.



                                                                                 209
Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004




HORTA NUNES, José. Resenha de Michaelis – Moderno Dicionário
da Língua Portuguesa. Línguas e Instrumentos Lingüísticos, Jul./ Dez.
nº 2, 1998, p. 93-103.
REY-DEBOVE, Josette. Léxico e Dicionário. São Paulo: Alfa/Unesp,
28 (supl.), 1984, p. 45-69.
SCHMITZ, John Robert. Os dicionários de Língua Portuguesa. D.O.
Leitura, São Paulo, 8 (90), Nov. 1989, p. 4-5.
___. Rumos e Tendências na Lexicologia Brasileira. SerieEncontros
(Corpo e Voz). ALMEIDA, G. M. de; SOTO, U.; BERLINCK, R. de.
Araraquara, SP: Unesp, 1997.
TOSQUE, Patrícia. O Dicionário Bilíngüe como Ferramenta de Ensi-
no/Aprendizagem de uma Língua Estrangeira. Trabalhos em Lingüís-
tica Aplicada, (40), Campinas, Jul./Dez. 2002, p. 101-114.




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TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...
 

L&l 2007-54

  • 1. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 DICIONÁRIOS BILÍNGÜES ESPANHOL/PORTUGUÊS – PORTUGUÊS/ ESPANHOL: UMA CONFRONTAÇÃO PARA O ENSINO DE LÍNGUAS Rosangela Aparecida Fregolente * ABSTRACT: The dictionary is a book associated to the language learning and teaching. In this way, it becomes an object of primary need to the language student because the lexic is an important item of the language learning process. Therefore, the objective of this paper is to analyse and comment about three bilingual student dictionaries Spanish/Portuguese – Portuguese/Spanish as pedagogical supporting tools for speakers of Portuguese in Spanish classes. First, a structural presentation of these dictionaries is given. Second, the word festejar and its variations are analysed in the dictionaries mentioned in terms of word presentation. Next, some commentaries about the importance of the use of the dictionaries in language teaching and learning are presented and finally some suggestions are given in order to present the most useful dictionary as well as ways students should use them in order to have a meaningful progress in the language leaning process. Introdução O dicionário é uma obra que vejo relacionada ao ensino – aprendizagem de línguas, desta forma tornou-se um objeto de con- sumo de primeira necessidade ao aprendiz de língua estrangeira, uma vez que o léxico é um importante segmento para o aprendizado. Diante dessas colocações, normalmente as pessoas que es- tudam uma língua estrangeira (LE) procuram adquirir um dicionário bilíngüe para melhor compreender a língua em questão e também * Professora de Espanhol do CEL (Centro de Estudos de Línguas) – Bauru/SP. 197
  • 2. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 para tentar se expressar. Vários estudantes pedem sugestões ao professor para que lhes indique um bom dicionário, por isso o professor que tenha um conhecimento diversificado dos tipos de dicionários que há no mercado, muito contribuirá para essa resposta. Há o con- ceito de que qualquer dicionário serve. Será? Por isso muito ajudaria se o professor orientasse o aprendiz ao analisar um dicionário antes de adquiri-lo. Também é fundamental que o professor oriente-o no uso após a aquisição, pois muitos utilizam inadequadamente, traba- lhando com as palavras individualmente e buscando uma correlação unívoca entre a língua materna e a LE. Muitos dos aprendizes não têm informações sobre os diferentes usos das palavras, expressões idiomáticas, contextos mais comuns e possibilidades gramaticais e, assim, acabam cometendo muitos erros ao consultar um dicionário. Por isso, este trabalho tem por finalidade tecer comentários sobre três dicionários escolares bilíngües espanhol/português, portu- guês/espanhol como material didático de apoio para a aprendizagem da língua espanhola por falantes do português. Este estudo é direcio- nado a professores que buscam refletir suas práticas pedagógicas e a alunos que estão iniciando seus estudos em L2. Os três dicionários selecionados foram: 1. BALLESTERO ALVAREZ, Maria Esmeralda & SOTO BALBAS, Marcial. Dicionário espanhol / português, português / espanhol. São Paulo, ed. FTD. 2. ERES FERNÁNDEZ, Gretel & FLAVIAN, Eugenia. Minidicionário espanhol português, português / espanhol, 2º ed., São Paulo, ed. Ática, 1995. 3. MINIDICIONÁRIO Espanhol / Português, Português / Espanhol, São Paulo, ed. Saraiva, 2000. Inicialmente, faço um levantamento da apresentação estrutural desses três dicionários; em seguida, mostro e analiso como o verbete festejar e suas variantes aparecem nessas obras; em um terceiro momento, faço alguns comentários sobre a importância do uso dos dicionários no ensino de línguas; depois finalizo com um parecer sobre qual é o dicionário mais útil e como o aprendiz pode usá-lo. 198
  • 3. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 1-Apresentação Estrutural Nesta primeira parte, faço um levantamento da apresentação estrutural dos dicionários que me parecem viáveis nesse momento, uma vez que no prefácio o autor expõe ao leitor informações que julga necessárias para a sua obra. Segundo Horta Nunes (1998: 93- 94), o prefácio é um gênero importante na história da lexicografia, pois ele constitui um lugar de reflexão metalingüística sobre o léxico, fazendo com que o dicionário não consista apenas em um conjunto de itens lexicais com definições, mas configure um discurso expli- citado sobre a língua, pois é nos prefácios que os lexicógrafos se posicionam diante de questões como: público visado, recorte histórico, nomenclatura, sistema de remissões, citações, exemplos, entre outras. Para mostrar o levantamento feito, inicialmente, cito o prefácio desses dicionários na seguinte ordem: Eres Fernández & Flavian – editora Ática, Minidicionário – editora Saraiva, Ballestero Alvarez & Soto Balbás -editora FTD; em seguida, faço um levantamento sobre essa apresentação estrutural. O dicionário de Gretel Eres Fernández e Eugenia Flavian, publicado pela editora Ática, menciona o público alvo (estudantes bra- sileiros de nível médio) e o nº de verbetes (cerca de 20 mil, sendo 10 mil com entrada em espanhol e outros 10 mil em português), diz ainda que esses verbetes foram selecionados a partir de sua freqüên- cia de uso, incluindo espanholismos, americanismos, regionalismos, termos técnicos, jurídicos, científicos e coloquiais, expressões idio- máticas e provérbios. Nas entradas do espanhol/português são citadas: divisão si- lábica ex.: (de-sa-rro-llo), indicação de sílabas tônicas diferentes das do português ex.: (de- mo-cra-cia), indicação de feminino ex.: (a-lum-no/na, feminino irregular ex.: (ac-tor / ac-triz), indicação de falso cognato ex.: (va-so). A entrada segue sua categoria gramatical em abreviaturas, caso o verbete assuma categorias diversas, mas conserva o mesmo significado, a classificação aparece após a entrada do verbete. Ex: bien-ve-ni-do/a adj. 1. bem-vindo. s.f. 2. Boas-vindas. Também men- ciona o campo de aplicação do termo, ex: chil-mo-le s.f. Mex. e Am. C. molho picante. Os exemplos em itálico visam a destacar um signi- ficado, que difere do português. Ex: her-vi-do/a adj. 1. fervido. .s.m. 199
  • 4. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 2. prato cozido. Haré um hervido de cena. Farei alguma coisa cozida no jantar. Já nas entradas do português/espanhol é mencionado que essa parte do dicionário é mais simples e direta, pois a preocupação fundamental foi a de dar versões para o espanhol, e as entradas não incluem divisão silábica, nem feminino. Ex: gozação s. f. burla, broma, mofa, escárnio. . Fazer gozação. Burlarse, mofarse. Esse dicionário também apresenta: sinais gráficos, alfabeto (português/espanhol), regras da divisão silábica, quadro fonológico, acentuação gráfica (português/espanhol), abreviaturas. No final do dicionário, ainda há: vocábulos só com falsos amigos, modelos de conjugação verbal, numerais cardinais e ordinais (português/espa- nhol), adjetivos pátrios (português/espanhol), pronomes e formas de tratamento (Brasil, América e Espanha) e bibliografia. O dicionário da editora Saraiva não traz o nome do(s) autor(es), nas entradas do espanhol/português, menciona: marca alfabética impressa nas laterais das páginas, nº de páginas em arábico e por extenso (ordinal e cardinal), verbetes impressos com destaque colo- rido e dividido em sílabas, indicação da sílaba tônica em todos os vocábulos, transcrição fonética das palavras, abreviaturas de cate- goria gramatical, regionalismo, sinônimos e antônimos, plural invariá- vel, falso cognato, conjugação dos verbos irregulares disposta em ordem alfabética, curiosidades e endereços de Internet. Nas entradas do português/espanhol os vocábulos são as- sim apresentados: a.ba.fa.do/a adj. 1.Sofocado; asfixiante; falto de aire (ambien- te, clima). 2. fig. Oculto; disimulado; solopado. Esse dicionário também apresenta: abreviaturas, alfabeto gráfico e fonético, lista de símbolos fonéticos utilizados, sinais de pontuação, acentuação ortográfica, conjugação de verbos regulares (um exemplo para cada conjugação: ar, er, ir). No final, ele traz: nu- merais cardinais e ordinais, adjetivos pátrios (português/espanhol). O dicionário de Maria Esmeralda Ballestero Alvarez e Marcial Soto Balbás, publicado pela editora FTD diz que essa obra é uma contribuição da FTD ao estudante e ao profissional brasileiro frente à integração do mercado sul-americano. Também cita o nº de verbetes (15.000 vocábulos e expressões idiomáticas). As entradas do espanhol – português são apresentadas assim: Abaratar, v. 5, baratear, baixar o preço // Amér., baratear. 200
  • 5. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 (obs.: O nº 5 que aparece aí indica que será conjugado da mesma forma do verbo 5, na conjugação de verbos no final do dicionário). E os vocábulos com entradas do português / espanhol estão: Abandonar, v., abandonar, dejar, desamparar. O início do dicionário traz as abreviaturas e os símbolos, já no fim ele apresenta dois apêndices: o primeiro com provérbios da língua espanhola e seu significado ou equivalência em português, o segundo com modelos de conjugações verbais. O quadro ilustra o conteúdo de cada dicionário, o nº 1 represen- ta o dicionário de Eres Fernández & Flavian – Ática, o nº 2 o dicionário editado pela Saraiva e o nº 3 o dicionário de Ballestero Alvarez & Soto Balbás – FTD. DICIONÁRIOS 1 2 3 Público Alvo + - + Nº de verbetes + - + Divisão Silábica + + - Sílaba Tônica + + - Classe Gramatical + + + Sinais Gráficos + + + Alfabeto Gráfico + + - Alfabeto Fonético + + - Símbolos Fonéticos + + - Transcrição Fonética - + - Acentuação Gráfica + + - Abreviaturas + + + Falsos Amigos + + - Conjugação Verbal + + + Numerais + + - Adjetivos Práticos + + - Pronomes e Formas de Tratamento + - - Provérbios - - + Bibliografia + - - 201
  • 6. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 1.1 - Comentários sobre a apresentação Nesse momento, após observar a apresentação desses três dicionários, comento alguns pontos que me parecem relevantes nes- ses prefácios. Já de imediato, percebe-se que o dicionário de Eres Fernández e Flavian – Ática e o da editora Saraiva fazem uma apre- sentação bastante detalhada da obra, enquanto o dicionário de Ballestero Alvarez e Soto Balbás – FTD não cita muitas informações se comparado com os dois anteriores. Nota-se também que as entradas apresentam as palavras gra- fadas com separação de sílabas nos dicionários editados pela Ática e Saraiva. Segundo Horta Nunes (1998: 95), as entradas que apresen- tam as palavras grafadas com separação de sílabas pressupõem um leitor que pode não saber como separá-las; deste modo, esse tipo de entrada vai em direção ao público-estudante, conformando a imagem do dicionário enquanto instrumento didático relacionado com a escrita. Esse tipo de dicionário ajuda o leitor-estudante em busca do conhecimento e do uso correto da língua. Outro ponto que, em minhas considerações, parece-me bas- tante pertinente é a atenção que os dois primeiros dicionários aqui citados dão à sílaba tônica. O dicionário editado pela Saraiva destaca a sílaba forte em todos os vocábulos, já o dicionário de Eres Fernandes e Flavian – Ática coloca a sílaba em destaque somente das palavras que diferem das do português, ex.: ni-vel. O fato desse dicionário destacar a sílaba apenas quando há diferença entre a L1 e a L2 pare- ce-me muito positivo, pois está em destaque para o usuário exata- mente o ponto em que normalmente ocorre a confusão na oralidade do léxico, pois a interferência fonológica da língua materna sobre a língua 2 é maior, uma vez que a proximidade e a diferença entre o português e o espanhol no ensino/aprendizagem dessas duas línguas acarretam equívocos nem sempre percebidos e que precisam ser assimilados pelo aprendiz. Por isso, as autoras foram muito felizes com essa colocação, pois esse dicionário muito ajudará o usuário consciente dessa interferência e que necessita de algum material que seja prático e rápido para tirar esse tipo de dúvida. Quanto à apresentação oral, o dicionário de Ballestero – Alva- rez e Soto Balbás – FTD nada aborda, o de Eres Fernández e Flavian – Ática coloca um quadro fonológico do alfabeto com seus fonemas e representação fonética, mas somente o dicionário editado pela Sa- raiva traz a transcrição fonética dos termos. Esses dicionários tam- 202
  • 7. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 bém deveriam dar grande importância para a apresentação do oral, uma vez que o estudante também é um leitor em busca do conheci- mento do uso correto da oralidade. O último item que comento aqui é sobre a conjugação verbal que o dicionário da editora Saraiva traz. Na apresentação, aparece um modelo para cada terminação, em quase todos os tempos ver- bais, assim pode-se encontrar a conjugação dos verbos irregulares em ordem alfabética em seus respectivos tempos verbais. Porém ele não traz a conjugação verbal do pretérito perfeito composto, tempo bastante comum no contexto da Espanha e incomum no contexto dos países falantes do Espanhol na América Latina. 2 - Análise dos verbetes Nesta segunda parte, mostro como o verbete festejar e suas variantes lingüísticas são citados nos respectivos dicionários, em seguida, faço uma análise que me parece relevante ao observar e confrontar esses vocábulos. Eres Fernández & Flavian - Ática: Fes-te-jar v.t. 1. Festejar, comemorar, celebrar. 2. Col. Aplaudir, apro- var, fazer festa. Le festejan todas sus payasadas. Aplaudem todas as suas palhaçadas. .v. i. 3. Cortejar, namorar. Festeja pero no se casa. Namora mas não casa. Fes-ti-val s.m. Festival, espetáculo artístico. Fes-ti-vi-dad s.f. 1. Festividade. 2.Feriado. La festividad del Día de la Independencia. O feriado do Dia da Independência. Fes-ti-vo/a adj. 1. Festivo, próprio de festa. Día festivo. Dia festivo, feriado. 2. Festivo, alegre. Una reunión festiva. Uma reunião alegre. Saraiva: Fes.te.jar [festehar] vt 1. Festejar; comemorar. 2. Fam Aplaudir; sau- dar. vi 3. Cortejar; namorar. Fes.te.jo [festeho] sm 1. Festejo; festividade. Smpl 2. comemoração pública. Fes.ti.val [festibal] sm Festival. ~ de cine Festival de cinema. Fes.ti.vi.dad [festividade] sf 1. festividade. 2. Feriado. Fes.ti.vo/a [festibo/a] adj. 1. festivo. 2. Alegre; divertido. Día ~ Feriado. 203
  • 8. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 Ballestero Alvarez & Soto Balbás - FTD: Festejar, v. 5, festejar, celebrar, comemorar, solenizar // cortejar, namorar. Festejo, s.m., festejo, festividade, festivo . s.m. pl., comemoração pública. Festín, s.m., banquete normalmente com música e baile. Festival, s.m., festival. Festividad, s.f., festividade. Festivo/a, adj., feriado // festivo // jocoso, espirituoso // alegre. Nota-se que os vocábulos dos dois primeiros dicionários aqui citados abordam seus significados no campo lexical com mais de- talhes, já os léxicos do terceiro dicionário mencionado apresentam uma definição mais breve. Os verbetes do dicionário de Eres Fernández & Flavian – Ática aparecem com exemplos, cuja intenção é mostrar a palavra definida em funcionamento, ou seja, apresentar provas do que se acaba de afirmar, sendo assim, o exemplo assume um papel fundamental para a compreensão do léxico, pois não é somente o significado, mas também a informação sintática e semântica irter-relacionadas. Os verbetes do dicionário da editora Saraiva aparecem com a transcrição fonética, isso não só facilita a consulta como também oferece ao usuário informações sobre o uso oral da língua; tópico de extrema importância quando defendemos que o dicionário é um ma- terial didático que fornece ao aprendiz mais uma modalidade que o ajudará em seu conhecimento lingüístico. Ao observar o campo semântico desses vocábulos, percebe- se que o dicionário de Eres Fernández & Flavian – Ática traz quatro vocábulos (festejar, festival, festividad, festivo/a); o da editora Saraiva traz cinco, acrescentando o verbete festejo; já o de Ballestero Alvarez & Soto Balbás – FTD traz seis; acrescenta: festejo e festín. Diante do número de palavras-entrada contidas em cada dicionário, talvez seja pertinente, nesse momento, ressaltar que os vocábulos presentes ou ausentes diferem de acordo com o número de verbetes apresen- tados em cada dicionário, já que os escolares constam mais ou menos de definições dependendo da quantidade de entradas contidas na obra, lembrando-se que o dicionário editado pela Ática contém cerca de 10 mil verbetes com entradas em espanhol, o editado pela Saraiva não cita o número de verbetes presentes e a publicação da FTD traz 15 mil. Vendo por esse aspecto, o dicionário de Ballestero Alvarez & 204
  • 9. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 Soto Balbás – FTD contém menos informações, mas, por outro lado, o usuário encontrará mais verbetes desejados, levando em considera- ção que o público-alvo-estudante consulta o dicionário principalmente para ver significado e que o principal objetivo de um dicionário é o léxico, esse dicionário está em vantagem comparado com os dois anteriores. Todos os verbetes citam suas classes de palavras, indepen- dente de sua sintaxe. Esses vocábulos têm implicações semânticas que organizam o seu léxico, pois sua composição mostra as estru- turas morfo-semânticas do vocábulo. Pergunto, nesse momento, se é preciso conter essas informações morfológicas e sintáticas. Será que o aluno consulta o dicionário para verificar se o vocábulo é verbo transitivo ou intransitivo ou se é substantivo ou adjetivo, uma vez que a maioria dos usuários busca informações somente para ver signifi- cado e ortografia? Porém, pergunto aqui também: quem é esse usuá- rio? Um consulente comum de nível médio talvez não tenha esse objetivo, mas um outro, já com níveis de interesses diferenciados e superiores, muito necessitaria dessas informações. Por isso é con- siderável que um dicionário contenha o maior número possível de informações, já que é um material didático para o ensino – aprendi- zagem de línguas. Nesse momento questiono qual o melhor dicionário. Existe uma crença que qualquer dicionário serve, independente de seu nível de proficiência. Porém aquele dicionário, que além de conter o vocabu- lário da língua, contenha também informações sintáticas, semânticas e léxicas de modo a facilitar uma aprendizagem correta da língua em questão, muito o ajudará, mesmo sendo um dicionário escolar bilíngüe. Para Debyser (1981 p. 37), os melhores dicionários bilín- gües são aqueles que são mais completos, mais exatos, mais claros e mais práticos ao usuário que espera dispor de informações pre- cisas, que espera saber as formas das palavras, seus sentidos e os contextos nos quais elas aparecem. 3- Uso do Dicionário no Ensino de Línguas Nesta terceira parte, faço alguns comentários sobre a importân- cia do uso dos dicionários no ensino de línguas, uma vez que esse material didático muito ajudará o estudante em sua aprendizagem, e um bilíngüe sempre é mais acessível ao bolso do aluno que um 205
  • 10. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 monolíngüe em língua estrangeira, além do que ele é uma ferramenta para o estudante, principalmente dos níveis iniciais, pois lhe traz segu- rança mesmo que a tradução seja mais simplista. Rossner (1990 apud Tosque, 2002, p.107) atribui ao professor o papel de editor do léxico de que seus alunos precisam para de- sempenhar habilidades comunicativas. O professor pode auxiliar o aluno a formular hipóteses, acrescentar ou alterar dados e utilizar as palavras programaticamente, para que o estudante possa atestar a correção e a exatidão de suas informações. Porém, é preciso lembrar que o aprendizado de uma língua é uma tarefa de pesquisa que deve ser realizada pelo aluno e é ele quem deve analisar os dados e chegar as suas próprias conclusões. Para Summers (1988 apud Tosque, 2002, p. 109), professor e aluno de LE têm no dicionário uma importante ferramenta a seu dispor, nem sempre perfeita, mas muito útil, que pode levá-los a com- preender melhor a abrangência de sentido e uso de uma nova palavra e propicia uma produção mais correta e exata, principalmente na ha- bilidade escrita. E que, mesmo assim, os dicionários ainda são pouco explorados pelos professores, que não ensinam seus estudantes a tirar o máximo de vantagens deles. Rey-Debove (1984 p. 45) diz que há duas maneiras de apren- der uma língua: uma de forma natural, como se aprende a língua materna, a outra artificial e metalingüística, consultando duas obras descritivas: a gramática e o dicionário. Diz ainda que essas duas maneiras de aprender uma língua não são exclusivas, uma vez que a aprendizagem natural é acelerada e aperfeiçoada pelo uso da gra- mática e do dicionário; e a aprendizagem artificial é, na maioria das vezes, sustentada por verificações e experiências práticas da comuni- cação. Acrescenta que esses dois caminhos da aprendizagem deve- riam levar aos mesmos resultados e é por isso que os lingüistas dizem que o objeto de um dicionário e de uma gramática é descrever a competência natural do utilizador ideal de uma língua. ...ensinar a usar o dicionário deveria ser parte integral de qualquer disciplina. (BAIRNS, 1995, p. 81). ...quanto mais se usa o dicionário, mais usos se acham para ele (UNDERHILL, 1985, p. 5). Usar o dicionário e saber usá-lo deveria fazer parte da rotina do aprendiz de línguas, de um modo geral, a maioria deles não tem esse hábito na língua materna, conseqüentemente, também não é comum na língua estrangeira. 206
  • 11. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 Segundo Rey-Debore (1984, p. 63- 64), o dicionário é uma obra de consulta e não um texto para ser lido do começo ao fim, as- sim como é um dos objetos culturais mais usuais e mais mal conheci- dos. Partindo-se dessa colocação e de minha experiência, pretendo aqui levantar alguns tópicos relevantes que ocorrem no ensino de línguas: - nem todo aluno de LE tem dicionário; - quando os alunos consultam o dicionário para elucidar um signifi- cado, normalmente só vêem a 1ª acepção; - não é comum aparecer, nos planejamentos de curso, orientação sobre o uso de dicionários; - a maioria só usa o dicionário para consultar significado e ortografia; - falta a alunos e professores conhecimento de outros elementos estruturais que podem ser encontrados nos dicionários; - muitos, quando buscam o verbo, procuram em sua conjugação e não no infinitivo; - a maioria dos alunos não tem o hábito de verificar como é a apre- sentação de um dicionário (mesmo porque muitos nunca foram orientados sobre isso). Esses tópicos comprovam a deficiência do uso de dicionários na vida escolar dos alunos, por isso é preciso orientá-los e incentivá- los a usar os dicionários, uma vez que esse material didático é muito mal utilizado, pois, muitas vezes, o aprendiz desconhece que nesse livro podem ser encontrados transcrição fonética, classes gramaticais, sílaba tônica, separação de sílabas, sinônimos e antônimos, gênero, número, regionalismo, falsos amigos, conjugação verbal e outros. O usuário, por mais que domine a língua, jamais conhecerá todo o léxico, uma vez que o vocabulário adquirido difere de pessoa para pessoa, isto é, depende de sua região, de sua idade, de seu meio social e profissional. Assim, o dicionário tem um papel funda- mental para o ensino de línguas, pois seus usuários consultam-no, na maioria das vezes, somente para obter informações a respeito do significado e da ortografia do verbete. Segundo Coura Sobrinho (2000 p. 74), essa obra é uma ferramenta importante para o desenvolvi- mento do aprendiz, pois aquele que fizer bom uso do dicionário estará apto a continuar aprendendo também fora da sala de aula. Assim, a consulta freqüente e cuidadosa poderá proporcionar melhor domínio do idioma, tanto para o aumento de vocabulário como da compre- ensão do texto. 207
  • 12. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 Diante dessas considerações, é de extrema importância ori- entar o aprendiz sobre esses tópicos, pois, tendo essas informações e sabendo utilizá-las, muito o dicionário o ajudará no processo de aprendizagem de línguas. Segundo Schmitz (1989), é preciso incenti- var o uso de dicionários nas escolas. Para isso, é preciso conscien- tizar o professor e o aluno da importância dessas obras para o de- senvolvimento cultural do indivíduo. A grande maioria dos usuários, sejam eles estudantes, profis- sionais, trabalhadores, cidadãos comuns, quando consulta o dicionário usa-o para encontrar estratégias lexicais, poucos são aqueles que buscam as estratégias sintáticas e semânticas, justamente por falta de conhecimento. Sendo assim, a orientação do professor de línguas muito ajudará o estudante, independente de seu estágio de aprendiza- gem: básico, intermediário ou avançado, já que esse aprendiz poderá encontrar no dicionário a base lexical, a fonológica, a sintática e a semântica e, assim, ele terá mais um instrumento de apoio para a sua aprendizagem. Para Tosque (2002 p.113), é preciso introduzir a dimensão dos direitos humanos na sala de aula, pois isso implica, dentre outras coisas, considerar quais instrumentos estão sendo assegurados e como estão sendo aplicados aos alunos. Destaca ainda que, como usuários de dicionários bilíngües, os estudantes de LE têm direito legítimo a ter acesso a dicionários adequados e a receber orientações sobre como usá-los produtivamente. E, assim, como direitos e deve- res caminham juntos, os estudantes de LE têm o dever de exigir uma orientação sobre o uso de dicionários e aproveitar ao máximo essa ferramenta de aprendizagem, devem também cuidar bem desse material, preservando-o para que possa ser usado por muito tempo. Considerações Finais Retomando os três dicionários bilíngües: espanhol/português, português/espanhol, pergunto, nesse momento, qual deles é o mais útil e como o aluno pode usá-lo? Responder essas perguntas é bastante relativo, pois depende do objetivo do usuário ao consultar o dicionário. Se o consulente recor- re a esse material apenas para obter informações a respeito do signi- ficado lexical que ele desconhece, o dicionário nº 3, aqui mencionado, está em vantagem, uma vez que contém um número de verbetes maior 208
  • 13. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 que os outros dois. Por outro lado, se o seu grau de interesse é mais amplo, se ele deseja informações sócio – culturais e lingüísticas, os dicionários 1 e 2, aqui citados, fornecem mais esses dados. O aluno pode usar os dicionários usando-os; independente do porquê está consultando-o, é preciso usá-lo e ter o hábito de usá- lo; a expressão “pai dos burros”, usada popularmente para se referir ao dicionário, também recebe outros comentários como: “um dicio- nário deve ser vivo, uma súmula da vida, mais um instrumento de aprendizagem que um objeto de luxo. O chamado “pai dos burros” da expressão do povo tem de ser mesmo paternal, simples, dando- nos o valor e o significado das coisas, sem pretensões, capaz da mais franca intimidade, generoso, fácil.” (José Lins do Rego – Poe- sia e Vida – Um Dicionário). “O dicionário é o pai dos inteligentes: os burros dispensam- no”. (Mário da Silva Brito – O fastasma Sem Cabello). “O dicionário pode ser o pai dos burros, mas só pessoas inte- ligentes o consultam.” (Julio Camargo – A Arte do Sofismo). “Diccionario, no eres tumba, sepulcro, féretro, túmulo, mansoleo, sino preservación, fuego escondido, plantación de rubies, perpetuidad viviente de la esencia, granero del idioma.” (Pablo Neruda – Ode ao dicionário). Nota Meus agradecimentos ao profº John Robert Schmitz (Unicamp) pelo apoio e incentivo, às professoras Gretel Eres Fernández e Eugenia Flavian pela leitura e comentários deste trabalho. Agradeço também, à Regiani A. S. Zacarias pela troca de idéias. Referências Bibliográficas AMARAL, Vera Lúcia do. Acertos e Desacertos em Dicionários Bilín- gües Português/ Espanhol – Espanhol/Português. São Paulo: Alfa, 1989, p. 115-128. BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. O Dicionário Padrão da Língua. São Paulo: Alfa, 28 (supl.), 1984, p. 27-43. COURA SOBRINHO, Jerônimo. Uso do dicionário Configurando Es- tratégia de Aprendizagem de Vocabulário. Pelotas: Educart, 2000. 209
  • 14. Letras & Letras, Uberlândia 20 (1) 197-210, jan./jun. 2004 HORTA NUNES, José. Resenha de Michaelis – Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Línguas e Instrumentos Lingüísticos, Jul./ Dez. nº 2, 1998, p. 93-103. REY-DEBOVE, Josette. Léxico e Dicionário. São Paulo: Alfa/Unesp, 28 (supl.), 1984, p. 45-69. SCHMITZ, John Robert. Os dicionários de Língua Portuguesa. D.O. Leitura, São Paulo, 8 (90), Nov. 1989, p. 4-5. ___. Rumos e Tendências na Lexicologia Brasileira. SerieEncontros (Corpo e Voz). ALMEIDA, G. M. de; SOTO, U.; BERLINCK, R. de. Araraquara, SP: Unesp, 1997. TOSQUE, Patrícia. O Dicionário Bilíngüe como Ferramenta de Ensi- no/Aprendizagem de uma Língua Estrangeira. Trabalhos em Lingüís- tica Aplicada, (40), Campinas, Jul./Dez. 2002, p. 101-114. 210