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PLANTAS DOENTES PELO
USO DE AGROTÓXICOS
Novas bases de uma prevenção contra
doenças e parasitas
– A teoria da trofobiose –
FRANCIS CHABOUSSOU
EDITORA
EXPRESSÃO POPULAR
PLANTAS DOENTES PELO
USO DE AGROTÓXICOS
Novas bases de uma prevenção contra
doenças e parasitas
– A teoria da trofobiose –
Copyright © 2006, by Editora Expressão Popular
Revisão: Geraldo Martins de Azevedo Filho
Projeto gráfico, capa e diagramação: ZAP Design
Impressão e acabamento: Cromosete
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada
ou reproduzida sem a autorização da editora.
1a
edição: janeiro de 2006
EDITORA EXPRESSÃO POPULAR
Rua Abolição, 266 - Bela Vista
CEP 01319-010 – São Paulo-SP
Fone/Fax: (11) 3112-0941
vendas@expressaopopular.com.br
www.expressaopopular.com.br
ISBN 85-87394-87-8
Prefácio: Paul Pesson
Revisão técnica e apresentação: Luiz Carlos Pinheiro Machado
Tradução: Maria José Guazzelli
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .............................................................................................9
PREFÁCIO ...................................................................................................... 11
À minha esposa, Jacqueline Thibault,
que, em sua vida e sempre ao longo de minha
carreira, não cessou de me apoiar e de me dar
o exemplo de coragem e de determinação.
Agradecimentos
À Editora L&PM, de Porto Alegre/RS,
pela concessão dos direitos de tradução;
À Patrícia Karina Ferraz da Rosa por
sua magnífica digitalização;
À Ariana Gomide Porro Ferrari pela
ajuda na revisão gráfica do texto.
Os agricultores, estudantes, técnicos, pesquisadores e professo-
res brasileiros têm, com esta obra, acesso a um texto fundamental e
pioneiro para se entender o verdadeiro e complexo processo de pro-
teção das plantas da ação deletéria dos agentes parasitários: insetos,
fungos, bactérias, vírus, ácaros, nematódeos, coccídeos.
Francis Chaboussou, ao enunciar, na década de 1970, a teoria da
trofobiose, lançou um dos pilares da agroecologia. Com o ciclo do gás
etileno no solo e com a teoria da transmutação dos elementos de
Kervran, a teoria da trofobiose forma a base em que se apóia a pro-
dução de alimentos limpos, sadios, dispensando o uso de agrotóxicos*
e de fertilizantes solúveis de síntese química.
APRESENTAÇÃO
*
A tradução literal do título deste livro em francês é As plantas doentes pelos
pesticidas (Les plantes malades des pestícides). Entretanto, no Brasil, a partir da
década de 1970, os pesticidas agrícolas passaram a ser chamados de agrotóxicos,
denominação, sem dúvida, mais apropriada e usada na tradução original, posição
seguida nesta revisão. (N. do R.)
10
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Ao longo desta obra, o leitor encontrará uma sólida argumenta-
ção científica apoiada em extensa e qualificada bibliografia, demons-
trando que os parasitas não atacam as plantas cujos sistemas
nutricionais estejam equilibrados. Isto porque, os parasitas têm uma
particularidade fisiológica: seu equipamento enzimático digestivo é
carente ou insuficiente em enzimas proteolíticas, isto é, enzimas que
desdobram as proteínas em substâncias mais simples, como os
aminoácidos, assimiláveis pelos organismos. Esse fato, simples, e até
mesmo primário, explica porque os fertilizantes solúveis e os
agrotóxicos atraem os parasitas, gerando, assim, um ciclo de depen-
dência. Logo, a questão fundamental na proteção das plantas à ação
dos parasitas é desenvolver um processo produtivo que permita à plan-
ta chegar a um ótimo de proteossíntese, ou seja, à formação de subs-
tâncias mais complexas, como as proteínas, que demandam a ação de
enzimas para serem desdobradas e utilizadas. Nós que nos preocu-
pávamos com a produção agrícola limpa – animal e vegetal – não
tínhamos, até Chaboussou, as formulação e sustentação teórica de
uma prática milenar, conhecida e difundida pelos verdadeiros
agroecologistas: as plantas cultivadas em solos ricos em matéria or-
gânica, proveniente de esterco, não são atacadas por pragas e doen-
ças: este fato é explicado pela teoria da trofobiose, pois a nutrição das
plantas com substâncias complexas gera uma predominância da
proteossíntese, circunstância fisiológica adversa aos parasitas.
Chaboussou, como Voisin, apresenta suas posições e os resultados
das pesquisas que deram embasamento à sua teoria e as suas conclusões
(e parece ser uma “técnica” francesa...) de forma repetitiva e aparente-
mente, “paciente”. Na verdade, é uma forma sutil de “ganhar” o lei-
tor para suas posições. Por outro lado, Chaboussou, não só apresenta
a sua teoria da trofobiose, como denuncia, comprovadamente, o apa-
recimento de novas doenças pelo efeito do emprego de agrotóxicos.
O estudo dos desequilíbrios biológicos produzidos pelos diferen-
tes tratamentos convencionais, antes de controlar os parasitas, como
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
11
demonstra Chaboussou, provoca uma perturbação na fisiologia das
plantas trazendo, em conseqüência, o agravamento do problema
inclusive, transformando em parasitas seres que, antes, mantinham
um convívio harmônico com a plantas. São, como chamou o autor,
as doenças iatrogênicas, isto é, doenças provocadas pelo uso de supos-
tos remédios.
Não é acidental e nem sem causa, que as poucas dezenas de pra-
gas e doenças vegetais registradas há pouco mais de meio século, hoje
chega à casa do milhar. Não é acidental, também, que os alertas de
Howard, Russell, Rusch, Voisin, Faulkner e tantos outros têm sido,
até mesmo menosprezados, pela ciência convencional: há, nessa área,
um poderoso jogo de interesses, cuja conta os produtores agrícolas –
pequenos, médios e grandes, todos – estão pagando, com o uso cres-
cente dos agrotóxicos e fertilizantes. É bem recente o fracasso da
“revolução verde” para confirmar o que está dito e dispensar maiores
comentários sobre o assunto, da mesma forma do que está acontecen-
do com o “agronegócio”, apresentado como panacéia e, hoje, sobre-
vivendo em crise sobre crise.
Chaboussou identificou as causas do problema. Propõe como
solução, essencialmente, a correção das carências de elementos mine-
rais no solo, especialmente dos microelementos. Nesse ponto, o ci-
entista expôs ao mundo e de maneira inequíosca, que a causa das
infestações parasitárias é, principalmente, os desequilíbrios
nutricionais: é a predominância na fisiologia da planta, da proteólise
sobre a proteossíntese. Este cientista, ainda preso a uma conduta
convencional que ele próprio “destrói”, propõe uma solução basea-
da na correção em elementos minerais do solo, com ênfase nos
microelementos, isto é, um caminho convencional.
Ora, o equilíbrio da composição mineral do solo é condição sine
qua non para a sua fertilidade. Não é esta a questão em discussão. O
problema é como alcançar esse equilíbrio. O caminho proposto por
Chaboussou – da correção mecânica das deficiências do solo com a
12
F R A N C I S C H A B O U S S O U
simples incorporação dos elementos que a análise química registra
como carentes – este caminho entra em contradição com sua própria
teoria: se o balanço proteossíntese – proteólise, processo fisiológico
interno da planta, é a base da proteção vegetal contra os parasitas
quando esse balanço é favorável à proteossíntese, as plantas estão
protegidas. Entretanto, o mecanismo de proteção é pouco conheci-
do mas, seguramente, é desencadeado a partir de fatores bióticos, nos
quais os microrganismos do solo desempenham papel preponderante.
E, seguramente, é através desse mecanismo que o solo se desintoxica,
se equilibra e passa a ser um integrante ativo no processo. Na propo-
sição da simples correção das eventuais carências, o solo é apenas um
receptáculo passivo.
Em diversas oportunidades, especialmente nos últimos capítu-
los, Chaboussou recomenda a aplicação de fertilizantes, com a fina-
lidade de corrigir os desequilíbrios do solo, especialmente de
microelementos. Trata-se de uma contradição com sua própria teo-
ria da trofobiose. É que, o solo desintoxicado e manejado corretamen-
te dispensa o uso de adubos como, aliás, estabelece a nossa lei de
fertilidade crescente (A fertilidade do solo, quando manejado sem agres-
são – aração e procedimentos similares – e com técnicas que estimulem a
biocenose é crescente, indo a limites ainda não identificados).
Portanto, a partir da teoria da trofobiose, que é a linha mestra do
processo, devemos pesquisar os meios bióticos de correção dos solos
que têm sido agredidos por decênios pela agricultura predatória. É
a partir do equilíbrio biocenótico da fertilidade do solo que se abre
o caminho para a produção de alimentos limpos, com a dispensa de
agrotóxicos e fertilizantes solúveis. Se o processo for conduzido
dialeticamente a partir da participação do animal na desintoxicação
do solo e na manutenção e melhoria de sua fertilidade, poder-se-á
dispensar o uso de quaisquer produtos químicos externos ao solo,
porque, com manejo correto, desencadeiam-se o ciclo etileno e a
transmutação dos elementos com baixa energia, os quais, com a
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
13
trofobiose, conformam o tripé sobre o qual se ergue a produção
agroecológica. Isto, naturalmente, com a sustentação energética da
eficiente e gratuita energia solar.
Este livro deixa numerosos ensinamentos e aguça a curiosidade
para uma série de questões. Talvez, porém, a questão mais significa-
tiva diga respeito à atividade dos pesquisadores – fitopatólogos e
entomólogos. Modo geral, nossos cientistas debruçam-se sobre o
estudo de determinada praga ou doença, pesquisando profundamen-
te aspectos específicos e fazendo um controle com o objetivo da eli-
minação do parasita. Talvez fosse aconselhável uma análise mais
ampla, holística, a começar pelo equilíbrio metabólico e pelas neces-
sidades nutricionais da planta.
Dou um exemplo. No início do projeto Alegria, em Taquara, Rio
Grande do Sul, em 1964, a infestação de saúva era extremamente
intensa. Com o decorrer do tempo, graças ao manejo do Pastoreio
Racional Voisin, com a desintoxicação do solo e ausência completa
de agrotóxicos e fertilizantes, as saúvas desapareceram, mas as áreas
vizinhas continuaram infestadas. Por quê? A ciência convencional não
tem explicação para este fato e, diante do fato, fica-se com o fato e
desprezam-se as teorias ainda que esposadas por grandes nomes, como
diria Claude Bernard.
O desaparecimento natural das saúvas deve ser pesquisado sob
uma ótica inspirada na análise dos fatores externos que, certamente,
interferem nas questões internas do inseto. Em outras palavras, através
de uma análise holística, em que os fatores bióticos e abióticos em
suas interrelações e contradições levam às causas dos problemas e sobre
elas recaí a ação humana. Trabalhar sempre sobre as causas e não sobre
os efeitos, no caso, as pragas e doenças.
Todos devem ler e meditar sobre este texto: os produtores, para
questionarem seus técnicos quando esses recomendam agrotóxicos e
ou adubos solúveis; os estudantes, para indagarem a seus professores
sobre as posições de Chaboussou; os técnicos, para se capacitarem a
14
F R A N C I S C H A B O U S S O U
uma conduta de produção sem veneno: o professor para levar aos seus
alunos uma posição contrária à agronomia convencional e, finalmente,
àqueles pesquisadores, que se distanciaram da realidade que desçam
de seu frágil pedestal e venham para a planície onde está a vida e,
portanto, a verdade.
Quanto às pesquisas fitopatológicas e entomológicas cabe uma
reflexão: a quase totalidade dessas pesquisas concentra-se em elimi-
nar (se possível) o parasita. A partir das informações deste texto, seria
desejável que se conhecesse o contexto ambiental – manejo e fertili-
dade do solo, clima, vegetação espontânea, uso de agrotóxicos e fer-
tilizantes solúveis – e relacionar o aparecimento dos parasitas com
esses fatores, como Chaboussou analisa a partir do quarto capítulo.
Chaboussou, por sua formação e por seu campo de pesquisa,
dedicou-se ao controle de parasitas das plantas. Como pesquisador
eclético, porém, não esqueceu os animais. Para isso, dedicou, sob o
título de “A agricultura biológica e a saúde dos vertebrados”, parte do
oitavo capítulo às repercussões dos desequilíbrios nutricionais à saúde
animal e seus produtos.
A aplicação da teoria da trofobiose – ao dispensar o uso dos
agrotóxicos e adubos solúveis – reveste-se de importância singular na
proteção ambiental. Essa é, por outro lado, questão transcendental
para a própria sobrevivência da espécie humana. As conseqüências da
dilapidação ambiental são noticiadas cada vez com maior freqüência:
recentemente, a redução do tamanho das ostras cultivadas na baía de
Florianópolis motivada pela elevação da temperatura da água do mar,
é um exemplo.
A biocenose viabiliza o desencadeamento de importantes proces-
sos em solos ricos em matéria orgânica, porosos e com limitada
compactação, pois se ativa a “nutrição das plantas, via compostos
orgânicos mais complexos, que seriam absorvidos diretamente pelas
raízes e serviriam de base à construção, pela planta, de seus consti-
tuintes, especialmente das proteínas”. Essa teoria, alicerçada em
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
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substantivos resultados experimentais compõem, com a teoria da
trofobiose de Chaboussou, a base de um novo e instigante paradigma,
este livre das perniciosas dependências econômicas, recuperando o
sentido dialético e, por isso mesmo verdadeiro, da desgastada expres-
são “trabalhar com a natureza”. Aí está para os cientistas sem precon-
ceitos e para os agricultores pesquisadores, a porta aberta para a
construção de uma doutrina que ofereça aos produtores a tecnologia
da vida, na qual se alcançaria a maravilhosa harmonia da natureza com
“sua própria consciência, o humano”. Esta construção estará conclu-
ída quando a ciência puder desenvolver um modelo de produção
capaz de alimentar a humanidade, sem dilapidação dos recursos não
renováveis, através do maravilhoso trabalho da vida do solo, em har-
monia com a máxima captação da energia solar pela fotossíntese.
A Editora Expressão Popular a reeditar e a Editora L&PM, a ceder
os direitos de tradução para a republicação em português, da obra de
Chaboussou – a quem os leitores devem agradecer – põem à dispo-
sição dos agricultores, estudantes, técnicos, pesquisadores e profes-
sores, um corpo de doutrina inédito na literatura científica
agronômica nacional, que constitui o primeiro pilar para a produção
limpa, sem venenos, dispensando agrotóxicos e fertilizantes solúveis
de síntese química. É a partir da compreensão da indispensabilidade
do emprego de insumos energéticos de origem solar e da dinâmica
da vida do solo, que se constrói a agricultura limpa, rentável e sus-
tentável, isto é, que se põe, em prática, a verdadeira agroecologia,
caminho seguro para perpetuar a produção de alimentos limpos,
como a própria sobrevivência da humanidade está a exigir.
Porto Alegre, RS, Verão de 2006.
Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado
Presidente do Instituto André Voisin
prvpinheiro@terra.com.br
lcpm@cca.ufsc.br
Durante minhas aulas de entomologia e de ecologia, no Institut
National Agronomique ou no curso superior de especialização do
DEA*
de entomologia, na Universidade de Paris-VI, freqüentemente
tive a ocasião de apresentar a meus alunos os trabalhos de meu cole-
ga Francis Chaboussou e sua teoria da trofobiose. É um prazer para
mim, hoje, apresentar sua obra ao grande público.
Ao fazê-lo, desejaria me esforçar para fazer o leitor compreender a
extrema importância desta obra, que propõe aos pesquisadores agrôno-
mos, e aos agricultores, um conceito original e novos caminhos, que
resultam de uma reflexão madura baseada tanto nas pesquisas pesso-
ais do autor, como nos múltiplos dados experimentais de origem in-
ternacional, oriundos dos laboratórios ou das condições de campo.
PREFÁCIO
*
Diplôme d’Etudes Approfondies (Diploma de Estudos Aprofundados). (N. da T.)
18
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Que me seja permitido, antes de mais nada, apresentar o autor
a seus leitores, apesar de ser bem conhecido nos meios da pesquisa
agronômica, na França e no exterior.
Biólogo de formação, diplomou-se na Universidade de Bordeaux.
Ali beneficiou-se dos ensinamentos de entomologia do prof. Feytaud,
e de zoologia e biologia dos professores Avel e Bounhiol. Em 1933,
entra, como jovem pesquisador, no Institut National de la Recherche
Agronomique. Nomeado para a Estação de Zoologia do Centro de
Pesquisas Agronômicas de Bordeaux, na região de La Grande Ferrade,
em Pont-de-la-Maye, aí desenvolverá toda sua carreira, encerrando-
a em 1976, como Diretor de Pesquisa e Diretor da Estação de Zo-
ologia desse Centro.
Nesta função, ele teve, inicialmente, a oportunidade de abordar
problemas entomológicos da época, como a reprodução de um
carabídeo, predador de um coleóptero do gênero Leptinotarsa,*
ele-
mento potencial de controle dessa praga, de importação recente ou,
ainda, a invasão imprevista de gafanhotos migradores em Landes,
seguida de incêndios florestais. Após, se veria confrontado com pro-
blemas mais complexos e de grande importância econômica, envol-
vendo as culturas frutíferas de Agenais, as culturas de milho de Landes
e, obviamente, as pragas dos vinhedos da região de Bordeaux. Ele
formou, nessa época, alunos excelentes e colaboradores que assegu-
raram sua sucessão e mantêm, hoje, a reputação do Centro de Pesqui-
sas de Zoologia Agrícola do Sudoeste.
A diversidade de problemas entomológicos que apareceram e a
necessidade de propor soluções práticas de controle não haviam,
então, permitido a Francis Chaboussou aprofundar-se no estudo de
um assunto especificamente. Em 1960, entretanto, dois novos pro-
blemas se lhe apresentaram e, sobre os quais, enfim, ele espera poder
*
Doryphore no original. Corresponde ao “Colorado potato beetle”. (N. Da T.)
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
19
empreender uma tese de doutorado em ciências: por um lado, o
estudo dos atrativos sexuais elaborados por fêmeas virgens de
lepidópteros (feromônios) e sua aplicação no controle de urna lagarta
da videira,*
por outro, a análise das causas do aparecimento e proli-
feração de novas pragas em videiras, os ácaros fitófagos. Após ter bem
encaminhado os estudos sobre a lagarta, ele confiou seu prossegui-
mento a seus colaboradores e, a partir de então, consagrou-se de 1960
a 1969 ao estudo de ácaros da videira. É no curso dessas pesquisas que
se elabora o conceito da “trofobiose”, resultando na sua defesa de tese,
em 1969, em Paris.
A substituição dos arsenicais pelo DDT e por outros inseticidas
orgânicos sintéticos, particularmente nos tratamentos dos pomares
e vinhedos, teve como conseqüência a aparição, nos Estados Unidos
e Europa, de uma nova calamidade, os ácaros fitófagos, até então
relativamente pouco danosos; estes microscópicos picadores e suga-
dores de folhas provocam, por sua proliferação, prejuízos importan-
tes aos vinhedos e pomares. A primeira explicação geral proposta foi
de que o DDT e outros inseticidas polivalentes de contato elimina-
vam os predadores ou parasitas naturais desses ácaros fitófagos. Mas,
esses predadores são, essencialmente, outros ácaros, de diversos gê-
neros, e a hipótese não pôde ser confirmada.
Para a videira, o problema apresentava-se sob um aspecto muito
complexo, que Francis Chaboussou soube perfeitamente analisar. Três
espécies de ácaros intervêm, cada uma podendo proliferar em perí-
odos diferentes da estação e em função das datas de aplicação e da
natureza dos diversos tratamentos inseticidas ou fitossanitários apli-
cados à videira. Foi dissecando experimentalmente estes fenômenos
que o autor conseguiu mostrar que a ação dos agrotóxicos utilizados*
*
Po1ycrosis botrana. (N. da T.)
*
No original não existe a palavra agrotóxico. É usada a palavra pesticida. É,
entretanto, correto o uso da palavra agrotóxico, criada por A. Paschoal em 1975.
(N. do R).
20
F R A N C I S C H A B O U S S O U
(particularmente inseticidas, contra larvas do cacho da uva;*
ou
mesmo fungicidas) repercutia sobre os ácaros, por intermédio da
planta. Estes produtos provocam modificações no metabolismo da
planta, resultando num enriquecimento dos líquidos celulares ou
circulantes em açúcares solúveis e aminoácidos livres. Os ácaros
fitófagos picadores e sugadores dos tecidos vegetais encontram-se,
assim, favorecidos na sua alimentação. Isto se traduz, conforme as
espécies, por um aumento de sua fecundidade e de sua fertilidade,
da velocidade do desenvolvimento e do número de gerações e mes-
mo da longevidade. É, portanto, um fator trófico que está na origem
das proliferações dos ácaros fitófagos da videira. A esta dependência
estreita entre as qualidades nutricionais da planta e seu parasita,
Francis Chaboussou batizou de “trofobiose”. O termo já havia sido
utilizado pelos biologistas para designar as relações tróficas de algu-
mas formigas com pulgões, aos quais elas dedicam cuidados particu-
lares, mas o novo sentido dado pelo autor reveste-se de um grande
interesse: é o próprio objeto do livro que ele nos apresenta hoje.
Na realidade, lendo o livro de Francis Chaboussou, podemos nos
surpreender por encontrarmos apenas citações breves de suas próprias
pesquisas. Por isso, me parece justo sublinhar, aqui, sua importância
na origem do conceito de trofobiose, conceito que pesquisadores
posteriores confirmaram e ampliaram. Foi dessa forma que o autor
pôde mostrar a ação de fatores edáficos (relação K/Ca) sobre as pro-
liferações de certas cochonilhas de citros, no Marrocos; a incidência
da natureza do porta-enxerto sobre as reações de um mesmo enxer-
to aos tratamentos fitossanitários (proliferações de ácaros fitófagos);
e os efeitos favoráveis não-intencionais de certos acaricidas. Ocorre
uma desordem ou desequilíbrio metabólico da planta, que se revela
favorável aos parasitas sempre que os açúcares solúveis e os aminoá-
cidos livres dos tecidos vegetais estão em excesso, não estando normal-
*
Polychrosis botrama S. e Clysia ambiguella Hb. (N. da T.)
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21
mente incorporados na proteossíntese: desordem ou desequilíbrio
metabólico da planta, que se revela favorável aos parasitos.
As experiências se acumulam pelas pesquisas pessoais, bem como
pela revisão bibliográfica. Esta hipótese é confirmada por novas de-
monstrações e o autor procura aplicá-la às causas tróficas das doen-
ças fúngicas e até de doenças viróticas.
Os fungos parasitas são organismos osmotróficos que se nutrem,
como os insetos e os ácaros sugadores de seiva, de açúcares e
aminoácidos livres dos tecidos vegetais. Nada de surpreendente,
portanto, no fato de que todo o enriquecimento dos tecidos com
substâncias solúveis favoreça o desenvolvimento das micoses. Os
numerosos exemplos citados e analisados pelo autor, neste livro, são
provas deste fato.
Buscando analisar, segundo os princípios de sua teoria da
trofobiose, todos os casos “inexplicados” de proliferação de parasitas,
de eclosão de micoses, de aparição de viroses, da ineficiência de cer-
tos tratamentos; buscando explicar os efeitos indiretos ou inespera-
dos de diversos tipos de agrotóxicos (herbicidas, fungicidas,
inseticidas, acaricidas), Francis Chaboussou chama a atenção que se
chega, sempre, à existência de desequilíbrio entre dois processos
fundamentais da fisiologia vegetal: proteossíntese e proteólise.
O autor tem consciência clara que esses dois processos são eminen-
temente complexos e que os mecanismos e fatores em jogo são múltiplos.
Da mesma maneira, ele põe em evidência os desequilíbrios do meio
interior da planta (teor em açúcares solúveis e em aminoácidos livres),
revelando ou suspeitando de causas distantes indiretas, insidiosas: exces-
sos de adubações nitrogenadas solúveis, desequilíbrios de correções de K,
Ca, Mg; carência ou excesso em determinados oligoelementos,*
muitos
dos quais são fornecidos à planta pelos agrotóxicos.
*
O termo oligoelemento é usado nesta obra como sinônimo de microelemento,
forma mais empregada no Brasil. Foi respeitada a forma original. (N. do R.)
22
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Em suma, o autor, preocupado com a proteção das culturas con-
tra seus parasitas ou suas doenças, volta-se mais para a planta doente
que para o parasita ou agente infeccioso. Admite-se, de muito bom
grado, que o homem “que nada lhe falta” sofre, hoje, diversas afecções,
que têm origem num excesso de bem-estar (excesso de carne, gordu-
ras, açúcar, excesso de álcool, de fumo e, mesmo, excesso de medica-
mentos), mas também num excesso de estresse ou de estímulos (excesso
de barulho ou de agitação, excesso de automóvel ou de TV). As plan-
tas cultivadas, em particular aquelas culturas industriais, são postas em
competição permanente, para um crescimento mais rápido, uma pro-
dução mais abundante, uma qualidade mais atraente.Nesses jogos
olímpicos da agricultura industrial, as plantas cultivadas são
superalimentadas, sofrendo algumas vezes até um empanturramento
de nitrogênio; elas são bem tratadas, como os campeões antes da pro-
va (a colheita!), pulverizadas, banhadas freqüentemente com misturas
fungicidas, inseticidas, acaricidas, a título preventivo; suas condições
de vida são artificializadas ao extremo (ciclos biogeoquímicos acelera-
dos, húmus reduzido, herbicidas, chuva artificial, sob cultura imper-
meável ou em estufas). Mas, às vezes, o campeão quebra antes da prova:
acamamento dos cereais, secamento do pecíolo do cacho de uva,
abortamento de frutos; aparentemente saudável, ele contrai, apesar de
todas as medidas preventivas, doenças súbitas e desastrosas (micoses,
viroses), ele sofre ataques maciços de parasitos(ácaros, pulgões).
Então, se chama à cabeceira destas plantas-campeãs os especialis-
tas mais renomados: fitopatologista, virologista, entomologista,
imunologista, cada um em sua área, dando seu diagnóstico e sua re-
ceita fitofarmacêutica. O próprio agrônomo, que deveria ser o médico
generalista de sua cultura, consulta o edafólogo, o climatogista, o
geneticista. Como salienta Francis Chaboussou, se estuda muito a
doença e não tanto o doente. Ele, médico dos vinhedos de Bordeaux,
assusta-se com este excesso de terapêutica e com esta insuficiência de
higiene da planta e de seu meio. Nossas culturas industriais, diz ele,
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
23
sofrem de doenças cujas causas têm sua origem num excesso de cuida-
dos fitossanitários; ele fala, então, de doenças “iatrogênicas”.
Certamente, não se poderia negar os imensos progressos da agri-
cultura industrial, graças, em particular, à seleção, às correções e aos
tratamentos fitossanitários! Nós temos, na França, belas culturas e
belas colheitas! Mas, voltando a uma comparação, talvez abusiva,
porém não desprovida de sentido, podemos também dizer que o
homem moderno vive certamente melhor e mais longamente que
aquele da Idade Média, eliminaram-se ou controlaram-se muitas das
grandes doenças epidêmicas: varíola, tuberculose, peste, malária...
Mas ele está, hoje em dia, sujeito a novas e múltiplas doenças orgâ-
nicas ou infecciosas (arteriosclerose, câncer, gripe). Do mesmo modo,
se é certo que as plantas cultivadas pagaram um pesado tributo a
certas calamidades epidêmicas ou certas pragas, bem antes do desen-
volvimento do controle químico moderno (requeima da batata que
arruinou a Irlanda, Phylloxera que arrasou os vinhedos europeus,
bicudo do algodão e cochonilhas dos citros nos Estados Unidos), só
se pode constatar a repetição incessante de afecções ou ataques que
sofrem as culturas industriais, o que acarreta, como para o homem,
um aumento crítico das despesas fitofarmacêuticas.
Tão logo desenvolveram-se os tratamentos fitossanitários na Fran-
ça, com a aparição de numerosos inseticidas, fungicidas ou herbicidas
sintéticos, nasceram duas palavras novas: “fitofarmárcia” e “fitiatria”,
a fitofarmácia teve um grande desenvolvimento, conduzindo ao nas-
cimento da indústria de agrotóxicos, mas, pode-se dizer que a fitiatria,
ou medicina das plantas, manteve-se superficial, aparentemente li-
mitada ao universo especializado da parasitologia: estudo de micoses,
bacterioses, viroses (fitopatologia) e dos parasitas animais das cultu-
ras (especialmente entomologia e nematologia).
Certamente os agrônomos, no campo da pesquisa agronômica de
fisiologia vegetal, preocuparam-se em melhorar o crescimento, a pro-
dução, a resistência das plantas cultivadas, e interessaram-se por tudo
24
F R A N C I S C H A B O U S S O U
o que diz respeito à nutrição mineral da planta, seus desequilíbrios, suas
carências. Mas falta, incontestavelmente, uma ligação estreita entre a
fitofarmárcia e a fisiologia vegetal. O estudo das repercussões dos
agrotóxicos, de todos os tipos e sob todas as suas formas de aplicação
sobre a fisiologia da planta, somente foi abordado de forma superfici-
al: efeitos tóxicos diretos, mais comuns. Os efeitos indiretos, a longo
e curto prazos, tais como Francis Chaboussou apresenta em numero-
sos exemplos, foram negligenciados.
Já que o agrônomo se tornou o “generalista” para o estudo das
plantas cu1tivadas, não é de se surpreender que tenham sido os agrô-
nomos práticos, isto é, os produtores, os primeiros a notar e a tentar
corrigir, empiricamente, os efeitos dos excessos de cuidados tróficos
e fitossanitários dispensados às plantas cultivadas de forma industrial.
Estes produtores quiseram, de alguma forma, desenvolver o que eu
chamaria, de bom grado, uma agroproteção das culturas, com a
substituição dos métodos de proteção da agricultura de tipo indus-
trial, os quais abusam, em particular, dos tratamentos fitossanitários,
seja a título curativo ou mesmo preventivo.
Assim, nasceu o que se chamou de agricultura biológica. O ter-
mo, sem dúvida, se prestaria a discussões, mas o uso generalizou-se
graças à imprensa e à mídia. Graças, sobretudo, a um grande públi-
co apaixonado pela ecologia e obcecado pelos problemas de poluição.
Por razões que não nos cabe analisar agora aqui, razões múltiplas
e, às vezes, imponderáveis, é lamentável que uma espécie de divórcio
se tenha estabelecido entre os agrônomos promissores do que chamei,
aqui, a agroproteção das culturas, e a maioria dos agrônomos pesqui-
sadores ou dos próprios quadros da pesquisa oficial.
Uma crítica freqüentemente dirigida às teorias desses pioneiros
é dizer-se “que não há nada de novo nisto, pois não passa de uma
generalização abusiva de alguns dados insuficientes”, ou ainda “estes
métodos não podem satisfazer as necessidades de uma produção
industrial, isto é, competitiva e cobrindo as necessidades”.
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
25
O autor desta obra não contradiria o fato de que, desde há muito,
agrônomos, e dos mais renomados, têm chamado a atenção para a
importância do estado fisiológico da planta, como elemento de sua
resistência às doenças infecciosas e parasitárias ou, ainda, alertando
contra os riscos potenciais do abandono da adubação orgânica, do uso
abusivo dos adubos nitrogenados solúveis, da redução da atividade
biológica dos solos, citando os nomes de A. Demolon, G. Bertrand,
J. Dufrénoy, P. Chouard e muitos outros. Sem contar que os traba-
lhos de numerosos pesquisadores ou biólogos do INRA*
são citados
trazendo um apoio direto ou indireto à teoria da trofobiose ou aos
princípios ecológicos da agroproteção das culturas.
Quanto a tratar as pesquisas de Francis Chaboussou uma gene-
ralização abusiva, considero, pessoalmente, um julgamento caduco.
Este livro, precisamente, aporta muitos fatos em apoio à posição de
Chaboussou, se tomamos da literatura científica internacional, que
urge, a meu ver, não deixar de testar mais adiante, esse conceito da
trofobiose.
Sem qualquer dúvida, as condições tróficas oferecidas pela planta
a seus parasitas, por mais importantes que sejam, não representam os
únicos fatores em jogo nas explosões populacionais de insetos ou de
ácaros fitófagos, ou na aparição e expansão de moléstias criptogâmicas,
bacterianas ou viróticas. O autor, sem dúvida, em alguns trechos, se
deixa levar na direção de algumas afirmações ou hipóteses, nas quais
nem todos os leitores o seguirão.
No entanto, quando ele se apóia nas belas pesquisas de nosso
colega C. Vago, da pesquisa agronômica, sobre os processos de
desencadeamento e interligação das doenças infecciosas nos insetos,
para tentar explicar (ao menos parcialmente) as eclosões e multipli-
cação das afecções viróticas nos cultivos industriais, só se pode, no-
*
Institut National de Recherches Agronomiques (Instituto Nacional de Pesquisas
Agronômicas). (N. da T.)
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F R A N C I S C H A B O U S S O U
vamente, desejar que a pesquisa se debruce, com atenção, sobre es-
sas hipóteses emanadas da teoria da trofobiose.
Igualmente, quando ele examina as incidências secundárias de
uma desordem da proteossíntese nas plantas cultivadas (conseqüên-
cias eventuais de desequilíbrios nutricionais ou de tratamentos
fitossanitários) sobre a alimentação animal ou humana, mesmo que
aí esteja, apenas um aspecto muito parcial do problema, a hipótese
não é gratuita e merece ser levada em consideração.
Sem dúvida, os diversos problemas suscitados foram abordados
por um ou outro dos setores da pesquisa agronômica oficial, mas a
leitura do livro de Francis Chaboussou, de bom grado, leva a pen-
sar que sua idéia diretriz, expressa na sua teoria da trofobiose, po-
deria ser, para os diversos pesquisadores, uma linha comum de
direção bastante útil.
Quanto à afirmação de que os métodos culturais preconizados no
contexto da agroproteção das culturas não seriam aplicáveis às culturas
industriais, é conveniente sublinhar que o autor , antes de mais nada,
deseja que a metodologia geral proposta não seja condenada apenas
sobre este critério, mas que seja, antes, testada, verificada ou
desmentida. Ele tem consciência que o sugerido, em particular as
aplicações foliares de oligoelementos, aproxima-se necessariamente,
no plano técnico e agronômico, dos métodos de controle químico da
agricultura industrial. Ë evidente que os métodos preconizados de-
vem ser testados quanto a seus efeitos eventuais a longo prazo, pois,
como em todas as coisas, o abuso pode ser a origem de novos
desequilíbrios.
O mérito de Francis Chaboussou neste livro é, partindo de uma
idéia simples, demasiadamente simples, já que foi negligenciada por
muito tempo por numerosos pesquisadores muito especializados,
mostrar que sua teoria da trofobiose pode fornecer uma aproximação,
e mesmo uma interpretação de uma quantidade de fatos que perma-
nece inexplicados no campo da proteção de culturas.
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
27
O Institut National de la Recherche Agronomique recentemente
definiu suas novas orientações no sentido de uma agricultura “mais
econômica e mais autônoma” (J. Poly), sem reduzir, no entanto, a
produtividade e sua qualidade. Para mim, não há dúvidas de que uma
pesquisa destinada a melhor definir os fatores de agroproteção das
culturas, em função das espécies vegetais cultivadas e das condições
de meio, pode efetivamente ajudar a atingir estes objetivos.
Paris, 18 de setembro de 1980.
Paul PESSON
Professor honorário
Institut National Agronomique
Paris-Grignon
Uma eminente especialista em ácaros pôde observar: “Até 1945
os ácaros fitófagos eram tidos como inimigos menores da agricultura. Por
outro lado, há quinze anos o desenvolvimento destas espécies predatórias
atinge uma elevada significação econômica, ao mesmo tempo que sua lista
não pára de aumentar” (ATHIAS-HENRIOT, 1959).
Ora, uma tal ascensão dos ácaros à condição de inimigos maio-
res da agricultura, proliferando tanto sobre plantas de grande culti-
vo, como o algodão, quanto em videira ou árvores frutíferas, é,
concomitante, com o emprego agrícola de um dos primeiros inseti-
cidas de síntese e que deu o que falar: nos referimos ao DDT, ou
zidane. Efetivamente, as primeiras multiplicações do que, impropri-
amente, chamou-se de “aranhas vermelhas” ocorreram em macieiras,
em seguida dos tratamentos à base de DDT e dirigidos contra a larva
de Carpocapsa sp., ou “bicho das frutas”.
PRÓLOGO
30
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Mais tarde, por outro lado, o DDT seria, de certa forma, subs-
tituído em tais processos “pró-ácaros” por toda uma série de outros
agrotóxicos sintéticos, como a maior parte de diferentes ésteres
fosfóricos, Parathion à frente, os carbamatos como o Carbaryl , os
ftalimidas, como Captan etc.
Assim, devido ao emprego de numerosos inseticidas sintéticos,
que haviam destronado os produtos minerais, assistiu-se ao nascimen-
to de uma nova indústria: a dos acaricidas.
Isto é, impuseram, ao mesmo tempo, aos agricultores novas e
pesadas coerções. Sobretudo, como teremos a oportunidade de men-
cionar neste trabalho, será demonstrado que numerosos acaricidas,
em princípio, destinados a exterminar os ácaros, os faziam, parado-
xalmente, proliferar, de acordo com o mesmo processo, pouco enten-
dido, e cujo estudo será objeto da primeira parte desta obra.
Entretanto, dois diferentes fatos, pelo menos, mereceriam aten-
ção. Por um lado, estes “desequilíbrios biológicos”, com.o foram chama-
dos, não diziam respeito somente às multiplicações de ácaros, mas
também de pulgões aleirodídeos, lepidópteros e até mesmos de
nematóides. Por outro lado, a utilização de certos agrotóxicos, como
os ditiocarbamatos (Maneb, Zineb, Mezineb), acarretam, também, o
desenvolvimento não só de pragas, mas de moléstias criptogâmicas
como Oidium e Botrytis. Certos observadores registravam até a expan-
são consecutiva de doenças viróticas. Trata-se de um grave fenôme-
no que parece estar bem confirmado, como demonstraremos.
Sem dúvida, seria suficiente apenas expor a diversidade destes
“desequilíbrios” que dizem respeito tanto a vírus, quanto a fungos
patógenos ou a ácaros, para perceber que o determinismo deste pro-
cesso não poderia residir, unicamente, na eventual destruição dos
inimigos naturais, que habitualmente é colocada como primeiro
argumento. Como pensamos mostrar na primeira parte desta obra
tudo se passa como se, por sua ação nefasta sobre o metabolismo da plan-
ta, os agrotóxicos rompessem a sua resistência natural.
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
31
Em outras palavras: é necessário, daqui para frente, se ter consciên-
cia de um fato que, em princípio, não é de, outro modo,surpreendente
saber que, o agrotóxico – mesmo não provocando queimaduras ou fenôme-
nos de fitotoxicidade aparentes – pode mostrar-se tóxico para a planta, com
todas as conseqüências que isto pode causar sobre a resistência a seus agressores,
sejam eles fungos, bactérias, insetos ou mesmo vírus.
Assim, esta obra é destinada a todos aqueles que, de perto ou de
longe, estão implicados na utilização e recomendação dos agrotóxicos,
como técnicos e pesquisadores, mas também aos burocratas, especi-
almente os encarregados do registro e da colocação destes produtos
nas mãos dos usuários.
Nos mais de vinte anos que dedicamos a trabalhos sobre este
tema, não faltou oportunidade aos diversos responsáveis para toma-
rem conhecimento de nossas pesquisas e de nossas advertências.
Contudo, pode ser que assim reunidas numa mesma obra de sínte-
se, nossas concepções venham a ser acolhidas de outra forma, além do
sacudir de ombros ou da conspiração do silêncio.
Compreender-se-á, na sua leitura, que este livro é também um
grito de alarma, um grito destinado, em primeiro lugar, a ajudar os
agricultores a se liberarem da alienação na qual se encontram e que
reside numa absurda e arruinadora cadeia de intervenções com
agrotóxicos, resultante, ela mesma, de uma cadeia de doenças artifici-
almente provocadas.
Todavia, temos, cada vez mais, confiança no bom senso e na ló-
gica dos agricultores. Já são numerosos os que sentem, confusos, que
com o emprego quase desenfreado de agrotóxicos estão na direção
errada. Com efeito, os problemas de parasitismo das plantas não
cessam de se multiplicar e, é evidente, que não poderia ser de ou-
tra forma no contexto atual dos métodos de controle químico.
Assim, esperamos confiantes que, ao dar aos agricultores, causas
dessas dificuldades e desventuras, nosso trabalho os ajudará a
mudar de direção.
32
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Duas tarefas nos pareceram mais urgentes: primeiro, dar a expli-
cação dos perigos que corre a saúde da planta com os agrotóxicos e, espe-
cialmente, pelos herbicidas, à fertilidade do solo. Esta responsabilidade
é dividida com os adubos solúveis, como pensamos demonstrar.
Fm segundo lugar, destacar a natureza das relações que unem a
planta ao parasita. Assim, seremos conduzidos à segunda parte des-
ta obra, consagrada à outra face do problema, ou seja, os meios de
estimular a resistência da planta em relação a seus diferentes
agressores. Tendo como princípio básico o estímulo da proteossíntese por
correção de carências, serão consideradas as repercussões benéficas de
uma adubação equilibrada e o emprego de oligoelementos.
Enfim, julgamos lógico e indispensável expor, num último capí-
tulo, aquilo que, atualmente, podemos concluir das conseqüências de
diversas técnicas culturais em relação à uma questão que interessa a
todos: a saúde do rebanho e do homem chamados a consumir as
colheitas assim obtidas.
Não saberíamos concluir este “prólogo” sem expressar toda nossa
gratidão ao INRA (Institut National de la Recherche Agronomique),
ao qual tivemos a honra de pertencer durante mais de quarenta anos,
e ao qual ficamos, obviamente, profundamente ligados. Não tanto
porque nossos superiores e a maior parte de nossos colegas tenham
testemunhado um grande entusiasmo em relação a nossas concepções
um pouco revolucionárias, mas porque tivemos a vantagem de poder
trabalhar com toda a independência de espírito. Nunca seremos capa-
zes de apreciar suficientemente o preço desta liberdade e, até, desta
compreensão dada a um desditoso pesquisador, desgarrado num lamen-
tável não-conformismo pela chamada lógica de seus trabalhos.
Balizac, 29 de julho de 1980.
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
33
PRIMEIRA PARTE
PLANTAS DOENTES PELA QUÍMICA
1. DEFINIÇÃO
Da mesma forma que em patologia humana ou animal, enten-
demos por “doença iatrogênica”, toda a afecção desencadeada pelo uso
– seja moderado ou abusivo – de um medicamento qualquer. Em pa-
tologia vegetal trata-se, portanto, do uso de agrotóxicos. Por outro
lado, fala-se mais freqüentemente de “desequilíbrio biológico” quando
se faz referência a uma proliferação brusca de uma ou outra praga, que
ocorre em seguida a um tratamento fitossanitário. É, por exemplo,
o caso – do qual voltaremos a falar – das proliferações de ácaros, em
seguida a numerosos tratamentos, tanto com fungicidas quanto com
inseticidas.
Assim, se falamos em “desequilíbrio”, foi porque, segundo a teo-
ria clássica, implicitamente se imputava tais proliferações apenas à
CAPÍTULO I
AS DOENÇAS IATROGÊNICAS NAS PLANTAS
“Devemos ser curiosos para ver se o que vemos é o que sentimos ver. Devemos
analisá-lo, abri-lo, virá-lo, olha-lo por baixo e olhar atrás. O conformista,
simplesmente, não está programado para isso”.
James G. HORSFALL (The story of a nonconformist, 1975.)
É realmente uma coisa maravilhosa esta faculdade que têm os insetos de
distinguir uma árvore que não está mais em suas condições normais”.
Edouard PERRIS (Histoire des insectes du pin maritime.)
36
F R A N C I S C H A B O U S S O U
destruição dos inimigos naturais da nova praga. O freio estando
suprimido, o fitófago podia proliferar sem obstáculos.
Entretanto, essa teoria defronta-se com certas dificuldades. As-
sim, ela não saberia explicar:
– Como um certo número de agrotóxicos, perfeitamente inofen-
sivos para os inimigos naturais, podem, entretanto, acarretar multi-
plicação de diversos fitófagos – pulgões, por exemplo?
– Por que razão, um agrotóxico não acarretando nenhuma reper-
cussão deste gênero, em uma época determinada do ciclo da planta
em questão pode, entretanto, desencadear graves proliferações da
mesma praga em outro momento?
– Como pode ocorrer, que um inseticida aplicado em tratamento
do solo possa provocar proliferações de ácaros do gênero Tetranychus
sobre as folhas da batata cultivada a seguir?
– Enfim, no campo da patologia vegetal propriamente dita, é
evidente que o desenvolvimento de diversas moléstias, tanto viróticas
quanto criptogâmicas, não poderia ser atribuído a uma eventual
destruição de inimigos naturais, e isto pela simples razão de que esses
últimos são praticamente inexistentes!
É a razão pela qual, num primeiro momento, julgamos indispen-
sável revisar um certo número de casos de “desequilíbrios biológicos”,
provocados pelo uso de agrotóxicos.
2. DESEQUILÍBRIOS BIOLÓGICOS SEGUIDOS DOS
TRATAMENTOS DAS FOLHAS COM AGROTÓXICOS
A) Proliferações de pragas
Ácaros: é o caso por nós estudado, sobre videiras, seguido aos tra-
tamentos da folhagem com agrotóxicos (CHABOUSSOU, 1969). Foi
possível mostrar que diversos inseticidas como DDT, Carbaryl e nu-
merosos fosforados acarretam proliferações tanto de ácaros vermelhos
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
37
(Panonychus ulmi, Koch), como de ácaros amarelos (Eotetranychus
carpini vitis, Dosse) (fig.1).
Atualmente, por outro lado, as proliferações de ácaros fitófagos
em árvores frutíferas, plantas de grandes cultivos ou videiras, e con-
secutivas à utilização de produtos fosforados ou clorados, aí incluí-
dos – paradoxalmente – os próprios acaricidas (CHABOUSSOU,
1970), são por demais conhecidos para que continuemos insistindo
neste assunto.
Entretanto, devemos também chamar a atenção que tais prolife-
rações ocorrem não somente com a utilização de inseticidas, isto é,
de produtos com princípios tóxicos em relação aos inimigos naturais
dos ácaros (e ainda que o DDT, por exemplo, seja inofensivo para
ácaros do gênero Typhlodromus, principais predadores), mas também
com os produtos fungicidas, como o Captan, não tóxicos para os para-
sitas ou os predadores dos ácaros.
Pulgões: diversos produtos podem, igualmente, provocar prolife-
rações de pulgões (fig. 2). Por enquanto nos contentaremos em dar
dois exemplos.
MICHEL (1966) demonstrou experimentalmente através de
criações que, sobre o fumo, os tratamentos à base de um fosforado,
o Mevinphos, desencadeavam em Myzus persicae aumentos de
fecundidade e redução do ciclo evolutivo. Como resultado, produ-
zia-se, no curso da temporada, o aparecimento de uma geração su-
plementar (fig. 2).
Da mesma forma, estudando a reprodução de Aphis fabae sobre
o eixo floral da beterraba, SMIRNOVA (1965) constata um efeito
positivo do tratamento com DDT sobre a fecundidade do pulgão. O
pico máximo deste aumento da reprodução ocorre entre oito e quinze
dias após a intervenção inseticida. Veremos, adiante, que pode ocorrer
o mesmo com os herbicidas, ao estudar-se o determinismo destas
proliferações (MAXWELL e HARWOOD, 1961, e ADAMS e
DREW, 1969).
38
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Outros insetos: essas multiplicações “anormais”, após tratamentos
das folhas com agrotóxicos, não envolvem somente ácaros e pulgões,
mas também os aleirodídeos (van der LANN, 1961) sob influência
do DDT; as cochonilhas (KOZLOVA e KURDYUKOV, 1964)
pelos fosforados, e também os lepidópteros, seja por um produto
clorado, o Dieldrin, no tratamento do solo (LUCKMANN, 1960),
seja por um fosforado, como o Demeton (SAVESCO e IACOL,
1958).
Enfim, tais “doenças iatrogênicas” envolvem igualmente os
nematódeos, cujos níveis de populações são evidentemente muito mais
difíceis de controlar. Entretanto, certos fungicidas, como o Thiram
ou TMTD, acarretam, sobre cebola, crescimento de populações de
Ditylenchus dipsaci (BRESKI e MACIAS, 1967).
Da mesma forma, WEBSTER (1967) demonstrou experimental-
mente que, tanto em aveia resistente quanto suscetível, os tratamentos
herbicidas à base de 2,4-D acarretavam, em comparação às testemunhas,
um maior número do mesmo nematóide, Ditylenchus dipsaci. Saliente-
se que este tratamento com 2,4-D provoca na aveia hipertrofia das cé-
lulas, fenômeno provavelmente relacionado com o da proliferação.
Como já se pode suspeitar, tais proliferações de pragas que ocorrem
pela intermediação da planta, envolvem numerosos outros organismos
parasitas, inclusive os vírus, como pensamos mostrar mais adiante.. Se,
relativamente, há longo tempo, esses fenômenos foram constatados
envolvendo ácaros, pulgões e cochonilhas, é porque estes insetos picadores
mantêm-se sobre a planta durante toda a duração de seu ciclo evolutivo
e, conseqüentemente, sua multiplicação não poderia passar desaperce-
bida. O mesmo não ocorre com certas ordens de insetos como os
lepidópteros, por exemplo, submetidos a metamorfoses que exigem o
abandono do vegetal. Também é importante, como veremos a propósi-
to do tratamento do solo, registrar – graças a observadores perspicazes –
proliferações de lagartas endófitas do milho, como Ostrinia nubilalis Hb,
após certas desinfecções do solo.
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
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B) Desenvolvimento de doenças fúngicas
Sobre este assunto, os trabalhos de JOHNSON (1946), que já ci-
tamos (CHABOUSSOU, 1972), parecem-nos exemplares. Desde aquela
época o autor chamava a atenção que “a reação da planta hospedeira ao
DDT podia abrir um novo rumo no que diz respeito ao estudo da resistência
do trigo à ferrugem”. Como a seqüência desta obra demonstrará abundan-
temente, pelo menos esperamos, não é somente a ação do DDT em
relação à ferrugem, mas também a de diferentes agrotóxicos quanto a suas
incidências positivas sobre o desenvolvimento de várias doenças nos le-
varão a elucidar o determinismo da resistência da planta a seus agressores.
JOHNSON (op. cit.) experimentou diversas variedades de trigo,
as quais inoculou com esporos de diversas raças de ferrugem (Puccinia
graminis tritici). As plantas foram, a seguir, tratadas com DDT, de-
pois de ter sido previamente estabelecido que este inseticida não
acarretava nenhum efeito direto sobre a virulência do fungo. Como
conseqüência dessas contaminações artificiais, JOHNSON constatou
que na variedade de trigo Khapli, todas as ferrugens tinham produ-
zido lesões, consideravelmente, mais extensas sobre as plantas trata-
das com DDT do que sobre os trigos testemunhas.
Por outro lado, nesta variedade mais sensível à ferrugem,
JOHNSON observou uma relação marcante entre a clorose e a exten-
são da doença. Parece, assim, bem demonstrado que a exacerbação da
suscetibilidade do trigo à ferrugem provocada pelo tratamento com DDT
é conseqüência direta das repercussões deste produto clorado sobre a fisi-
ologia da planta.
Os trabalhos de JOHNSON explicam determinadas dificuldades
de controle de diversas doenças, como daremos exemplos mais adiante,
quando as plantas tenham sido tratadas – isto é, “fisiologicamente
condicionadas” – por meio de certos agrotóxicos. É, particularmen-
te, o caso do oídio (Uncinula necator, Schw). Efetivamente, pudemos
mostrar sobre videira, durante dois anos consecutivos que, em com-
paração às testemunhas tratadas com água pura, diversos carbamatos
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F R A N C I S C H A B O U S S O U
(ditiocarbamatos, como Maneb, Zineb e Propineb) tinham provo-
cado um desenvolvimento altamente significativo de oídio (CHA-
BOUSSOU et alii, 1966) (fig. 3).
Da mesma forma, pode-se questionar a responsabilidade destes
ditiocarbamatos no recrudescimento dos ataques de mofo cinzento
(Botrytis cinerea) constatado há uma quinzena de anos – isto é, des-
de o emprego destes fungicidas sintéticos – na maior parte dos vinhe-
dos do mundo inteiro. Demonstramos isto no desenvolvimento de
nossos experimentos sobre videiras.
Tais resultados, alias, só confirmam os já obtidos sobre tomate,
onde o Maneb, usado contra o míldio, provocou um aumento na
gravidade dos ataques de Botrytis (COX e HAYSLIP, 1956). Pesqui-
sas análogas, conduzidas sobre morangueiros, também mostraram que
as parcelas tratadas com zinco ou com Nabam + sulfato de zinco,
estavam significativamente mais atacadas por Botrytis (COX e
WINFREE, 1957). Veremos, no próximo capítulo, como as análi-
ses das folhas realizadas por estes autores permitirão compreender o
determinismo desta suscetibilidade.
C) “Dificuldades de controle”, “fracassos de tratamentos” ou, às
vezes, “ineficácia dos produtos”não significam, muitas vezes, se não
uma sensibilização da planta a ser protegida da doença a combater,
esta produzida pelo próprio agrotóxico.
1 – Fracassos dos ditiocarbamatos contra o míldio da videira, no final
da temporada
A partir da utilização dos novos fungicidas sintéticos, numero-
sas decepções e fracassos foram registrados no controle das doenças
da videira. Assim, em 1963, AMPHOUX denunciava as insuficiên-
cias do Captan, do Phaltan (2 ftalimidas) e do Zineb (2 formulações),
no controle do míldio.
Parece-nos útil citar: “A utilização de novos fungicidas (ou seja,
as quatro formulações supracitadas) não pode ser concebida sem o
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
41
risco de se ver desenvolver, intensamente, o míldio, durante o perío-
do de crescimento muito lento da videira: em agosto, setembro e outubro,
caso não se tenha o recurso de uma sólida cobertura cúprica, por ocasião
dos últimos tratamentos da estação”.
AMPHOUX acrescentava esta observação, que nos parece mui-
to importante: “Contudo, continua difícil precisar qual deva ser esta
“sólida cobertura indispensável”, já que, em certos casos, no fim da
safra, três tratamentos com calda bordalesa a 2% em videiras tratadas com
Orthocide 50 (Captan) mostraram-se insuficientes”. Voltaremos mais
adiante, sobre as repercussões, tanto dos produtos dessa síntese, como do
cobre, que nos esclarecerão sobre a causa desses fenômenos. No momento,
daremos um exemplo, dentre outros: Em 1966, DIETRICH e
BRECHBUHLER observaram: “em Riesling, o míldio do fim de
temporada instalou-se, principalmente, sobre as parcelas tratadas
com Euparen (Dichlofuanid) e com F 263-2*
(um produto experi-
mental) e, em menor grau, sobre aquelas de Phaltan”.
Observemos, por enquanto, que nestes dois casos se trata de
dificuldades de fim de temporada. No caso que estudaremos agora,
veremos a evolução, na eficácia de um mesmo produto no decorrer da
temporada, o que nos permitirá, precisamente, explicar a razão dessa
“disparidade sazonal” na ação do produto, que também é encontrada nos
inseticidas.
2 – Evolução da eficácia de diversos fungicidas no decorrer da tem-
porada, em relação ao míldio da videira
Após os resultados dos ensaios do Instituto Técnico do Vinho
(ITV) contra o míldio, LE NAIL (1965) observou a disparidade da
eficácia dos diversos fungicidas testados em relação à doença, em fun-
ção da época dos levantamentos. Retomando a questão (CHA-
BOUSSOU, 1967), evocávamos, em Videiras e vinhos estas repercussões
*
Basfungin. (N. da T.)
42
F R A N C I S C H A B O U S S O U
apressadamente qualificadas de “secundárias”. Assim, observávamos:
“Ora, todos estes fenômenos só se esclarecerão, a partir do momento
em que conhecermos a natureza profunda das repercussões dos
agrotóxicos sobre a planta e que pudermos confrontá-las com as respec-
tivas necessidades dos fungos patogênicos e das pragas”. É chegado o
momento.
No decorrer destes ensaios, sete intervenções antimíldio foram
realizadas, em: 25 de maio; 1º, 8, 13, 22 de junho; 1º, 10, 20 de
julho e 12 de agosto. Constata-se, no curso dos diferentes levanta-
mentos efetuados nos dias 17 de julho, 25 e 26 de agosto, 25 e 26
de setembro, 16, 17 e 26 de outubro(este último, levantamento
envolvendo o peso das folhas), uma grande disparidade na ordem de
eficácia dos produtos.
Veremos, aqui, apenas as disparidades mais salientes encontradas
com os produtos utilizados puros, ou seja: Propineb e calda bordalesa,
em duas concentrações: 0,5% e 2%.
Ora, em 17 de julho, época do primeiro levantamento após as sete
primeiras intervenções, terminadas em 10 de julho, o Propineb (tam-
bém chamado Mezineb) – um ditiocarbamato de zinco, é o primei-
ro em eficácia. Na mesma época, a calda bordalesa a 2% está em
quarto lugar, e a 0,5% em ultimo (fig. 4).
Dois outros tratamentos ocorrem nos dias 29 de julho e 12 de
agosto. Os levantamentos de 25 e26 de agosto indicam que o
Mezineb recua ao 8º lugar, e que descerá para o 10º e último lugar,
no decorrer das observações de 23 e 24 de setembro e, l6 e l9 de
outubro.
Exatamente ao contrário, a calda bordalesa a 5% não cessa de
progredir na ordem de eficácia, à medida que se avança na tempora-
da. Do 8º lugar em 13 e 14 de setembro, passa a 3° nos dias 16 a 19
de outubro. Definitivamente, ela coloca-se à frente dos produtos
organocúpricos como cupro-Zineb, cupro-Carbatene, e dos produ-
tos orgânicos puros como Difolatan, Maneb e Propineb.
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
43
Face à mediocridade desses resultados, dos produtos orgânicos
utilizados, seja associados ao cobre seja empregados puros, não fal-
tou invocar-se uma eventual ausência de sua persistência, se compa-
rada à da calda bordalesa. Contudo, as análises dos produtos que
persistem na superfície das folhas, absolutamente não confirmaram
esta hipótese. E mais, com certos produtos “ineficazes” registra-se,
entre os levantamentos de 17 de julho e 26 de agosto, 25 a 30 vezes
mais manchas de míldio. As parcelas tratadas com Mezineb não
apresentaram mais que 7,3% de folhas sãs em 23 e 24 de setembro.
É evidente que, neste caso, absolutamente, não se trata de uma
simples ineficácia dos produtos orgânicos, mas – exatamente como
para oídio e Botrytis – de uma estimulação do potencial biótico do míldio
provocada, indiretamente, pelas repercussões dos tratamentos repetidos com
esses “fungicidas” sobre a fisiologia da planta, assunto que estudaremos ao
longo do próximo capítulo.
3 – Disparidade da eficácia de Oxicarboxin e de Triforine em rela-
ção à ferrugem branca do crisântemo (Puccinia horiana, P. HENN)
Trata-se de trabalhos realizados por GROVET e HALLAIRE
(1973) sobre plantas em casa de vegetação. Os produtos foram uti-
lizados em pulverização sobre a folhagem ou por irrigação do solo, à
razão de 10 litros/m2
. Os autores consideraram um eventual efeito
fungicida por ação sistêmica.
Resultados dos tratamentos por pulverização. No momento da
pulverização, os pés de crisântemo possuíam 8 a 10 folhas, e tinham
de 14 a 18 na época da inoculação da doença. De modo geral, o
Oxicarboxin apresenta um efeito persistente: um só tratamento,
aplicado durante o período de incubação, impede o desenvolvimento
da ferrugem e protege as plantas durante vários dias, uma contami-
nação ulterior.
Entretanto, de maneira bastante excepcional, os autores avalia-
ram a gravidade da doença não somente em função dos produtos
44
F R A N C I S C H A B O U S S O U
utilizados mas, também, segundo a idade das folhas. Assim, puderam
constatar, especialmente sobre as testemunhas, uma resistência à
doença nas folhas recém-formadas, semelhante à das senescentes. Ao
contrário, as folhas de meia-idade (maduras) mostraram-se muito
mais sensíveis à doença. Precisemos que tal fenômeno é de ordem
geral, especialmente na videira, tanto para o míldio como para o
oídio. Isto demonstra bem, se ainda houvesse necessidade, a impor-
tância do estado fisiológico do órgão ou da planta inteira na sensibi-
lidade ao que se pode chamar de seus “parasitas” (fig. 5).
Por outro lado, no que diz respeito ao determinismo do modo de
ação dos produtos, nota-se um fenômeno particularmente interessan-
te: a eficácia dos dois fungicidas testados revela-se muito diferente,
segundo a altura de inserção da folha, isto é, segundo sua idade. O
gráfico da fig. 6, montado com base nos dados da fig. 5, mostra que
a eficácia da Triforine está inversamente relacionada à idade da folha,
a ponto de se tornar estimulação da doença para os níveis 12 e 13, que
são as últimas folhas formadas.
Estes resultados, absolutamente, não são isolados: num segun-
do ensaio, três tratamentos foram aplicados em 26 de julho e, 5 e 16
de agosto. Ora, vinte e seis dias após o último tratamento, o núme-
ro de manchas formadas, em função da idade da folha, dá um gráfi-
co sensivelmente análogo ao do experimento precedente.
Assim, a aplicação de três tratamentos ao invés de um só, à base
de Informe, a 30 g/hl, permitiu a proteção da planta até uma altura
mais elevada (10 folhas). A curva relativa aos ataques sobre as teste-
munhas evidencia a total resistência à ferrugem dos seis níveis mais
baixos das folhas.
Quando comparadas às testemunhas, as repercussões dos
fungicidas mostram uma modificação na doença que envolve, ao
mesmo tempo, sua gravidade e a altura das folhas. Se, como para o
experimento precedente, se estabelece, uma comparação à testemu-
nha, se a eficácia ocasionada pelos tratamentos produz curvas perfei-
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
45
tamente contínuas e que mostram bem o decréscimo da eficácia dos
produtos em função da juventude crescente dos tecidos foliares (fig. 6).
Como no caso precedente, parece que o processo teria por efeito
estimular a suscetibilidade das últimas folhas formadas na planta. Parece
bem demonstrado que esta estimulação da doença – e isto tanto com
Oxicarboxin como com Triforine – não seria explicável senão pelo efeito
destes “fungicidas” sobre a fisiologia do crisântemo.
Nessas condições, a ação anticriptogâmica destes produtos con-
tra a ferrugem nas outras folhas não seria resultado de um eventual
efeito tóxico em relação ao fungo parasita. Necessariamente, seria
interferência das repercussões destes agrotóxicos sobre o estado
bioquímico das folhas. Em princípio, tratar-se-ia de uma ação inversa
à do DDT sobre o trigo, que estudamos anteriormente. Antecipan-
do o próximo capítulo, pode-se presumir que estes produtos ajam
estimulando a proteossíntese e, portanto, provocando a regressão das
substâncias solúveis nos tecidos. Essas substâncias soluveis favorecem
não apenas o desenvolvimento da ferrugem, mas também o de uma
série de outras doenças (DUFRÉNOY, 1936).
Ora, fenômenos semelhantes são encontrados constantemente,
por menor que seja o cuidado na condução das observações. Vamos
dar um último exemplo, que diz respeito ao controle do míldio do
tomate.
4 – Resultados do Prothiocarb contra o míldio do tomate
BEYRIES e MOLOT (1977) concluem, dos seus experimentos
com Prothiocarb contra o míldio do tomate, que, nas fortes doses
utilizadas, entre 1% e 2% as folhas superiores são resistentes, enquanto
que as da base são sensíveis. Segundo os autores, isto significa que ou
no ápice da planta há maior concentração do produto, admitindo-
se que ele seja verdadeiramente fungicida ou, neste nível, “as modi-
ficações dos processos naturais de defesa da planta são bem mais
intensos que em outras áreas”.
46
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Estes autores parecem admitir, implicitamente, que o agrotóxico
pode ter modificado, favoravelmente, neste caso, a resistência da
planta à doença, quando esta regride. Ou num sentido desfavorável,
em caso contrário. BEYRIES e MOLOT (op. cit.) observam igual-
mente que: “A aplicação, no solo, do Prothiocarb aumenta a sensibi-
lidade das folhas da base – que são as primeiras atacadas – em razão
da forte umidade relativa existente neste nível”.
Falaremos novamente dos fracassos propriamente ditos dos tra-
tamentos e do desenvolvimento de moléstias fúngicas, bacterianas e
viróticas relacionadas ao uso dos agrotóxicos. Poderemos tratar me-
lhor destas questões após havermos estudado as repercussões dos
agrotóxicos sobre a fisiologia da planta e, através da teoria da trofobiose,
as relações que unem a planta e seus predadores.
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
47
Número de F. Livres hibernantes
De E. carpini vitis Boisd., em 800 cm
em lenho de 2 anos
Fig 1. Multiplicação do ácaro amarelo da videira, Eotetranychus
carpini vitis Boisd por Carbaryl e Parathion (Carbaryl = Sévin)
(CHABOUSSOU, 1969.)
48
F R A N C I S C H A B O U S S O U
População do pulgão preto
Fig. 2. Multiplicação do pulgão preto da beterraba, Aphis fabae
Scop., consecutiva a diversos tratamentos com agrotóxicos (Dados do
Serviço da Proteção de Vegetais/experimentos de homologação de
1964.) Ordenadas logarítmicas.)
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
49
Coeficiente de ataque
em 400 cachos
Fig. 3. Coeficientes de ataque de oídio sobre cachos de uva, em
função dos diferentes fungicidas utilizados contra o míldio. (Cepa
Cabernet-Sauvignon, método de blocos, 4 repetições. Ensaios 1966,
em Latresne [INRA].)
50
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Cepa
peso das folhas
em gramas
Fig. 4. Resultados dos experimentos de controle de míldio, con-
duzidos em 1964 pelo Institut Technique du Vin (ITV). Este esque-
ma dá, em diversas datas, a ordem de eficácia dos produtos testados,
por ordem decrescente da esquerda para a direita.
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
51
Número médio de manchas por folhas
Fig. 5. Repercussões de dois fungicidas, Triforine e Oxicarboxin, em
relação à ferrugem branca do crisântemo (Puccinia horiana), em fun-
ção da idade da folha. (Segundo dados de GROUET e HALLAIRE,
1973.) – Número médio de manchas por folha, em função da sua idade
e dos tratamentos aplicados em uma unica pulverização. (observação
15 dias após tratamento).
52
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Percentual de Eficácia, em comparação às testemunhas
Fig. 6. Eficácia de Oxicarboxin e de Triforine contra a ferrugem
branca do crisântemo (Puccinia horiana), e em função da idade da
folha, comparada às testemunhas. (Segundo dados de GROUET e
HALLAIRE, 1973.)
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
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P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
55
INTRODUÇÃO
Acreditamos ter mostrado que a proliferação de pragas e, com mais
forte razão, o desenvolvimento de doenças, desencadeadas pelo uso de
agrotóxicos, não poderiam ser explicados somente pela destruição dos
eventuais inimigos naturais. No quarto capítulo, nos propomos a ex-
por suas causas tão profundamente quanto possível. Já sabemos que se
trata de fenômenos indiretos, que se atêm à modificação da fisiologia
da planta sob a ação dos produtos fitossanitários; quer se tratem de
inseticidas, de fungicidas e, com mais forte razão, dos herbicidas. Assim,
coloca-se em questão o problema das relações entre a planta e o que
podemos justamente chamar; seus “parasitas”. Estudando-o através de
um caso particular compreenderemos melhor toda a importância das
repercussões dos agrotóxicos sobre a saúde e a resistência do vegetal
assim tratado... E, freqüentemente, maltratado!
CAPÍTULO II
FISIOLOGIA E RESISTÊNCIA DA PLANTA
“O grande erro da terapêutica moderna foi estudar a doença sem se preocupar
com o terreno onde ela evolui”
Dr. Albert LEPRINCE (La médicine électronique, 1962).
“Este trabalho (seleção de linhagens resistentes dentro das populações) é, aliás,
delicado, porque a imunidade, a tolerância e a hipersensibilidade são funções
das condições do meio”.
P. LIMASSET e E.A. CAIRASCHI (La lutte contre les maladies à vírus des
plantes. Monografia INRA, 1941.)
56
F R A N C I S C H A B O U S S O U
1. AS DUAS CONCEPÇÕES DO DETERMINISMO DA
RESISTÊNCIA
Pelo termo “resistência” não entendemos a capacidade da planta
de suportar, sem muitos danos, o ataque deste ou daquele predador,
e, pelo termo “tolerância”, a não receptividade ou imunidade (parcial
ou total).
Atualmente, há concordância em se reconhecer neste fenômeno
uma causa sobretudo, bioquímica, e não mecânica. Contudo, duas
concepções estão presentes para explicar este processo.
Segundo a teoria clássica, a resistência da planta procederia da
presença de substâncias antagônicas nos seus tecidos, tóxicas ou
apenas repulsivas ao “parasita” em questão.
Ao contrário, para nós que destacamos toda a importância da
nutrição sobre o potencial biótico dos organismos vivos, a imunida-
de estaria, antes de mais nada, relacionada com a ausência dos ele-
mentos nutritivos necessários ao crescimento e ao desenvolvimento
do parasita – seja vegetal ou animal. É a nossa teoria da trofobiose, que
desenvolveremos no decorrer do próximo capítulo.
É possível perguntar-se em que medida essas duas teorias não pode-
riam concordar entre si, já que, na presença de substâncias reputadas
como tóxicas ou antagônicas nos tecidos, encontrar-se-iam, na realidade,
correlacionadas à ausência de fatores nutricionais. Se isto fosse demons-
trado, seria o único critério a ser considerado para a resistência da
planta. Veremos em que medida justifica-se tal posição, pelo estudo
de um exemplo, o da resistência do milho à helmintosporiose.
2. CONDICIONAMENTO FISIOLÓGICO DO MILHO E
RESISTÊNCIA À HELMINTOSPORIOSE
A) Pesquisa de fatores antagônicos
O estudo de um determinado condicionamento da planta como
fator de resistência à helmintosporiose foi ilustrado pelos trabalhos
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
57
de MOLOT (1969) – já vimos que em suas pesquisas sobre a eficá-
cia de um fungicida, o Prothiocarb questionava o seu modo de ação.
Quanto à resistência do milho ao fungo Helminthosporium turcicum,
diversos fatores foram revisados: densidade de plantio, emasculação da
espiga e duração da luminosidade. O determinismo bioquímico da
resistência foi pesquisado pela análise de folhas, que envolveu açúcares
e fenóis, elementos provavelmente relacionados ao processo.
Na França, frisa MOLOT, esta doença só afeta, raramente, as
culturas de Landes e dos Pirineus-Atlânticos.
Em condições naturais, a doença jamais é observada sobre
plântulas. As primeiras manchas só aparecem em torno do estágio da
7ª e 8ª folha, e continuam a se desenvolver após a floração. As folhas
atacadas podem se dessecar prematuramente provocando, às vezes,
importantes quedas nos rendimentos.
Por outro lado, as condições de luminosidade (ou seja, o fotoperíodo),
como se sabe, efetivamente, podem modificar a resistência da planta
às doenças fúngicas e influem sobre a suscetibilidade do milho à
helmintosporiose. Assim, as plantas cultivadas sob fotoperíodos curtos são
muito mais sensíveis à moléstia. Teremos ocasião de retomar este fenôme-
no, que não é específico nem do milho, nem da helmintosporiose.
Após ter exposto estes primeiros dados, MOLOT conclui: “Pa-
rece ser a composição química da planta que exerce uma influência pre-
dominante nos fenômenos de resistência”. Portanto, não se trata de
qualquer barreira mecânica no processo de resistência.
Por outro lado, refere-se a diversos trabalhos, que estabelecem:
a) existe um gradiente de teores em glicídios ao longo do colmo;
b) essa concentração de açúcares condiciona a resistência do
milho em relação a um outro fungo patógeno, Diplodia zeae.
MOLOT orientou seus trabalhos sobre a pesquisa das eventuais
relações entre o teor em glicídios dos colmos e a resistência a outras
doenças, as fusarioses. É necessário resumir os resultados desses es-
tudos, ainda que saiamos do caso da helmintosporiose.
58
F R A N C I S C H A B O U S S O U
MOLOT (op. cit.) chega à conclusão que “quanto mais elevada for
a concentração em glicídios dos colmos em fim de período vegetativo,
mais baixa será a percentagem de quebra na maturidade”. (Estas con-
clusões resultam de observações sobre 17 linhagens, em que os teores
de glicídios foram avaliados em 15 de setembro, enquanto a avaliação
da quebra – que se admite estar em estreita relação com a doença – foi
feita em meados de outubro, ou seja, um mês mais tarde.)
Entretanto, tal conclusão não existe sem levantar certas dificul-
dades que não escaparam a seu autor. MOLOT completa: “Ora, os
glicídios, compostos importantes da nutrição carbonada dos fungos,
favorecem o crescimento miceliano. Portanto, pelo menos nas con-
centrações em que eles existem, não é possível atribuir-lhes um pa-
pel fungistático. Ao contrário, é permitido pensar que eles variam
correlativamente com outros fatores bioquímicos capazes de inibir o
crescimento miceliano”.
Temos que subscrever esta conclusão, mas devemos confirmar,
enfaticamente, que é sob um outro ângulo, bem diferente da ação de
eventuais substâncias antagônicas ou tóxicas, que divisamos os pro-
blemas do determinismo da resistência. E, os resultados relatados
adiante podem, aliás, conduzir-nos, como no estudo que vamos
abordar,aos fatores de resistência do milho à helmintosporiose.
B) O “fator A”, de BECK, e a resistência do milho à lagarta e à
helmintosporiose
O “fator A”, posto em evidência por BECK, no milho, determi-
naria a resistência à lagarta (Ostrinia nubilalis Hb). Trata-se de um
produto quimicamente identificado como 6-metoxibenzoxazolinona
e que teria também correlação negativa com o grau de sensibilidade
à helmintosporiose. (Estimativa pelo método das médias das concen-
trações logarítmicas).
MOLOT (op. cit.) observa: “Do ponto de vista biológico, isto
significa que o comportamento do milho está na dependência da
P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S
59
concentração do fator A nos tecidos. Notemos, entretanto, que teores
muito elevados desta substância, principalmente na linhagem B 49 não
tornam a planta imune. Além disto, uma linhagem ainda mais resistente
que a B 49, contém muito pouco de 6-metoxibenzoxazolinona. Conclui-
se que, se o fator A pode ser considerado como um fator de resistên-
cia à helmintosporiose, ele não intervém sozinho no mecanismo de
defesa da planta”.
Parece que com tais observações – cuja honestidade científica deve
ser louvada – chegamos ao âmago do problema. Isto implica que a
existência de uma resistência elevada do milho, mesmo com um fra-
co teor nos tecidos do fator A, não poderia ser considerada como uma
exceção, que, em gramática, pareceria confirmar a regra.. Se elevados
teores do fator A não produziriam resistência, e se em outras linha-
gens a resistência manifesta-se, a despeito de um baixo teor de 6-
metoxibenzoxazolinona (cuidadosamente identificada), é porque este
produto não provoca nenhuma toxicidade em relação ao fungo
patógeno.
Voltamos, obrigatoriamente, à nossa concepção de resistência
relacionada com a ausência ou, pelo menos, a carência dos elemen-
tos nutritivos necessários ao desenvolvimento do parasita.
Em relação ao processo de resistência do milho a Ostrinia,
SCOTT e GUTHRIE (1966) parecem tê-lo demonstrado perfeita-
mente. Suplementados com uma dieta artificial adequada, os milhos
resistentes foram perfeitamente aceitos pelas lagartas de Ostrinia nubilalis.
Este regime alimentar permitiu-lhes completar um ciclo perfeito,
absolutamente comparável ao que poderia ter-se desenvolvido às
expensas de uma linhagem suscetível.
Portanto, aí está a demonstração de que, se um inseto não ataca as
linhagens de milho ditas “resistentes”, é porque ele não encontra nos
tecidos dessas plantas (N. do R.) os elementos nutritivos necessários
para seu desenvolvimento e sua reprodução. E isto, sem que estejam
presentes, obrigatoriamente, eventuais produtos tóxicos nos tecidos.
60
F R A N C I S C H A B O U S S O U
Aliás, o próprio BECK parece ter-se dado conta da insuficiência de sua
teoria da imunidade da planta pela existência de substâncias antagô-
nicas; ele reconhece que “pesquisas deveriam ser empreendidas envolven-
do um melhor conhecimento das relações entre a nutrição do inseto, o estado
fenológico da planta e o comportamento do animal”.
Bem entendido, é o mesmo processo que deve ser posto em ação
no que diz respeito ao estudo das relações entre o fungo patógeno e
a planta. Em outros termos, o problema consiste em determinar
como o fator A pode inibir o desenvolvimento da helmintosporiose
se ele não é, realmente, um fungicida (os fitopatologistas têm prefe-
rido empregar os termos anticriptogâmico ou fungistático, o que nos
parece significativo).
Em outras palavras – e toda a questão está aí, em relação a uma
planta ou uma linhagem resistente, no caso, o milho – o fungo para-
sita morre envenenado ou perece de inanição? A resposta a esta questão
parece estar na terceira parte do trabalho de MOLOT, que envolve
o que ele denomina: “o modo de ação dos compostos fenólicos”.
Revisando os trabalhos anteriores referentes à resistência do milho
à helmintosporiose, MOLOT lembra que: “O crescimento miceliano
em presença de compostos fenólicos depende da cultura (KIRKHAM,
1957) e da presença ou ausência de nitrogênio no meio (KIRKHAM,
1954). Assim, um aumento da relação N/fenóis diminui a toxicidade
dos compostos fenólicos em relação ao gênero Venturia. Um aporte de
nitrogênio afeta, não somente a toxicidade dos fenóis, mas também sua
concentração na planta”.
Eis aí sobre o que refletir, quanto ao mecanismo da resistência
de compostos fenólicos. Se realmente agem como tóxicos, é neces-
sário então, explicar como a adição de certos produtos nitrogenados
pode ter a função de contraveneno? Sabe-se – como observa o pró-
prio MOLOT – que certos fungos, especialmente os que atacam a
madeira, usam os fenóis e seus derivados como substâncias nutri-
tivas...
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61
Entretanto, a toxicidade dos fenóis em relação ao fungo, absolu-
tamente não nos parece demonstrada e, o papel nutricional do nitro-
gênio nos parece, ao contrário, evidente no desenvolvimento e na
virulência de Helminthosporium. Os fatos nos parecem muito fáceis
de explicar se os consideramos sob o ângulo do crescimento e da
reprodução do agente patógeno. É isto que nos propomos a estudar
agora, analisando os resultados obtidos pelo tipo de fertilização so-
bre a resistência da planta à helmintosporiose.
C) Fertilização e resistência da planta à helmintosporiose.
Analisaremos antes o trabalho aprofundado de SHIGEYASU
Akai (1962), relativo à influência das repercussões potássicas sobre
a helmintosporiose do arroz. Anteriormente, ele observa que, certos
autores,como ONO e OKAMOTO, já haviam mostrado que a apli-
cação de potássio provoca uma diminuição do número de manchas
de Helminthosporium sobre as folhas.
Os experimentos de SHIGEYASU (op. cit.) foram desenvolvidos
a partir do arroz cultivado em solução nutritiva e tratado de manei-
ra a ser submetido a excessos ou carências de N ou de K. Ora, a menor
percentagem de manchas de grandes dimensões foi constatada com
o tratamento “excesso de K”, enquanto a mais elevada foi encontra-
da nos tratamentos para “carência de K” ou “carência de N”.
Por outro lado, a natureza da fertilização afeta igualmente a
taxa de germinação dos conídeos. De 37,7% nas testemunhas,
passa a 25,3% para o “excesso de K”, a 51,0% para a “carência de
K”, a 74,3% para “o excesso de N” e, enfim, a 90,4% para
a”carência de N”.
Estes dados destacam a importância do condicionamento da
planta pela fertilização, em relação à resistência à doença. Neste caso,
evidenciam a influência primordial do nível de potássio sobre a re-
sistência, por intermédio – como veremos agora – de suas repercus-
sões no teor dos elementos nitrogenados solúveis nos tecidos.
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F R A N C I S C H A B O U S S O U
SHIGEYASU (op. cit.) realizou com efeito, análises de folhas
(sadias e doentes); um a cinco dias após a inoculação da doença. Essas
análises foram conduzidas, simultaneamente, sobre o teor de K e de
diversos aminoácidos livres como glutamina, asparagina e alanina.
Ora, de maneira geral, verifica-se que as folhas atingidas contêm
nitidamente menos aminoácidos que as folhas sadias. Presume-se que
esta deficiência resulta de seu consumo pelo fungo parasita. O autor
observa que:
“A taxa de germinação dos conídeos é proporcional à quantida-
de de aminoácidos livres contidos nas folhas e, quanto mais elevado
for o teor de aminoácidos livres, mais alta será a taxa de germinação”
(dos conídeos, N. do R.).
Quanto ao teor de potássio nas folhas, parece ter pouca impor-
tância, ao menos a partir de um certo nível. Isto confirmaria o fato
de que este elemento não agiria, por si próprio, sobre a resistência,
mas por intermédio de suas repercussões sobre o metabolismo da
planta.
Por outro lado, registra-se “uma correlação positiva entre o teor
de aminoácidos dibásicos das folhas do arroz e o crescimento das
manchas de helmintosporiose”. O autor acrescenta: “Neste experi-
mento, o teor de aminoácidos dibásicos era baixo. Ao contrário, as
folhas de arroz das parcelas com carência de potássio e de nitrogênio
apresentavam quantidades importantes de aminoácidos dibásicos e
um número elevado de manchas de Helminthosporium, de pequenas
dimensões”.
Após ter observado que as folhas da parcela com excesso de nitro-
gênio apresentavam os teores mais elevados de alanina, SHIGEYASU
(op. cit.) conclui: “Se a atividade de síntese das proteínas, a partir de
aminoácidos livres, decresce nas plantas deficientes em potássio – como
já foi demonstrado por diversos autores em várias plantas – este fenô-
meno pode favorecer o desenvolvimento de manchas sobre as folhas de
arroz das parcelas com carência de potássio”.
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Observemos rapidamente este processo que une a sensibilidade da
planta a uma deficiência na proteossíntese. Em resumo e com efeito,
devido ao papel fundamental que desempenha no metabolismo da plan-
ta e especialmente nos metabolismos glicídico e fosfatado e devido ao
paralelismo entre o teor de potássio e a intensidade da fotossíntese, o
potássio encontra-se na base de um metabolismo ligado à resistência da
planta, pelo favorecimento da síntese de proteínas e, conseqüentemen-
te, pela regressão das substâncias solúveis que acarreta. Encontra-se, pois,
na base de um metabolismo ligado à resistência da planta.
Torna-se necessário precisar que o potássio não age só, mas sim
segundo seu equilíbrio com os outros elementos, especialmente
catiônicos (CHABOUSSOU, 1973). Assim, SHIGEYASU (op. cit.)
observa, no arroz, a importância do antagonismo K/Mg. Da mesma
forma deve-se considerar a influência do Mg e do P nas parcelas onde
a relação K/N está desequilibrada por um excesso de N.
Enfim, o autor também procedeu a ensaios de fertilização com
oligoelementos. Os primeiros resultados evidenciaram que: “A sen-
sibilidade à helmintosporiose diminui pela aplicação de iodo, zinco e
manganês. Além disso, estes tratamentos parecem ter efeito favorável so-
bre o desenvolvimento vegetativo”.
Um comentário impõe-se imediatamente: não é por acaso que
esta terapia com oligoelementos age positivamente sobre o crescimen-
to, isto é, sobre a proteossíntese. É este último processo que acarreta
a resistência da planta à moléstia, por regressão das substâncias so-
lúveis nos tecidos. Voltaremos a este ponto fundamental ao longo
deste livro, especialmente no próximo capítulo.
Prosseguindo sua análise, SHIGEYASU (op. cit.) precisa que o
excesso de fósforo, a adição de cobalto e a carência de magnésio au-
mentam a sensibilidade do arroz ao Helminthosporium. Este fato leva-
o a concluir que é absolutamente impossível discutir sobre a
sensibilidade do arroz em relação a este parasita, apenas sob o ângu-
lo da fertilização potássica.
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F R A N C I S C H A B O U S S O U
Este ponto de vista – a priori bastante evidente – encontra-se
confirmado pelos trabalhos de BOGYO (1955), que tratam da in-
fluência dos aportes de potássio e cálcio sobre a aparição e a gravida-
de de Helminthosporium turcicum em milho. De maneira geral,
enquanto o potássio aumenta a resistência, o cálcio agrava a sensibi-
lidade. Este fenômeno parece ter relação com o equilíbrio K/Ca na
planta, do que falaremos mais adiante. Um ponto importante subli-
nhado pelo autor: “uma vez que a planta disponha de quantidades
suficientes de potássio assimilável, a cal aplicada em doses crescentes
não provoca aumento da doença”.
Quer dizer, esta é toda a importância dos fenômenos de troca e
assimilação no metabolismo e resistência da planta.
Em resumo, dois anos de experimentos permitem a BOGYO con-
cluir: “A adubação potássica bem como o uso de esterco permitem uma dimi-
nuiçãosignificativadagravidadedosataquesdeHelminthosporiumturcicum”.
Retenhamos, por enquanto, este efeito benéfico da fertilização
orgânica sobre a resistência da planta em relação à doença: a isto,
igualmente, voltaremos ao longo desta obra.
Definitivamente, os resultados de BOGYO e SHIGEYASU en-
contram-se para confirmar a ação benéfica da fertilização potássica,
quando esta é feita num contexto nutricional da planta, caracterizado por
um ótimo de proteossíntese. Ou seja, correlativamente, com a existên-
cia nos tecidos de, um mínimo de substâncias solúveis sensibilizadoras.
Esta concepção de determinismo bioquímico da resistência será
confirmada, a seguir, pelo estudo das relações entre determinados fato-
res ambientais ou culturais e a resistência do milho à helmintosporiose.
D) Determinismo bioquímico das repercussões de diversos fatores
sobre a resistência do milho à helmintosporiose
1 – Idade da planta
Como assinalado anteriormente, as plantas jovens de milho ja-
mais são atacadas: as primeiras manchas, com efeito, só se desenvol-
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vem ao nível da 7ª e 8ª folhas, continuando a se estender após a
floração.
Ora, sabe-se que em todas as folhas jovens a síntese protéica é
predominante, daí ter-se um mínimo de substâncias solúveis nos te-
cidos. Aqui, ainda, a resistência também está ligada a um fenômeno de
carência em elementos nutricionais em relação às necessidades do fungo
parasita. Propomo-nos a mostrar neste trabalho que se trata de um
fenômeno de ordem geral. Quanto ao processo inverso, ‘da suscetibili-
dade aos ataques de parasitas de diversas ordens, parece que se explica
pela existência de um estado bioquímico caracterizado, ao contrário,
qualquer que seja o fator em jogo, por uma proteólise dominante e pela
abundância de substâncias solúveis nos tecidos.
Assim se explica, notadamente, como veremos adiante, a carac-
terística sensibilidade na época da floração, tanto nos cereais como nas
árvores frutíferas.
Inversamente, a resistência das folhas maduras a doenças e insetos
sugadores, como os pulgões, parece ligada ao fato de, nestes órgãos
maduros, a maior parte do nitrogênio estar concentrada em proteí-
nas e, conseqüente-mente, o teor em compostos solúveis ser relativa-
mente baixo.
2 – Influência da luminosidade
A energia luminosa apresenta uma influência positiva sobre as
sínteses. Ao contrário, com luminosidade alterada e em penúria de
água estas são reduzidas. Neste caso, a abundância de aminoácidos
e ácidos orgânicos é que sensibiliza nutricionalmente a planta em
relação aos organismos patogênicos. A influência da luminosidade é
confirmada pelo do fotoperíodo e, portanto, em condições iguais, à da
latitude. MOLOT lembra que se YOUNG et. alii. (1959) assinalam
um crescimento de sensibilidade do milho à Diplodia zeae quando se
desloca um mesmo híbrido de um estado do norte dos Estados
Unidos, como Minnesota, para um estado mais meridional, como o
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Missouri ou Oklahoma, é porque a latitude diminui e, com ela, o
comprimento do dia.
Parece se tratar de um fenômeno de ordem geral. Assim,
UMAERUS 1959) assinala que a variedade de batata “Sebago”, con-
siderada como altamente resistente em dias longos, no Maine, mos-
tra-se, ao contrário, uma das variedades mais suscetíveis à requeima
(Phytophthora infestans) em dias curtos, na Flórida.
3 – Influência da emasculação da espiga
Esta operação, segundo MOLOT (op. cit.), tem por objetivo
aumentar a sensibilidade do milho em 25% em relação à helmintos-
poriose. Ora, o corte deste órgão reprodutor tem por resultado au-
mentar o teor de glicídios das folhas, porque sua migração para os
órgãos reprodutores não ocorre mais. Todavia, os glicídios não são os
únicos a não mais migrarem; ocorre o mesmo com os compostos
nitrogenados solúveis. Como chegamos à conclusão de que, sozinho,o
teor de glicídios nos tecidos não afetaria a resistência, somos induzi-
dos a pensar que ela possa estar inversamente relacionada ao teor em
compostos nitrogenados solúveis. A operação de emasculação acarreta,
provavelmente, uma regressão dessas substâncias.
4 – Influência da região de cultivo
Com a mudança de região, é evidente que certas condições de
cultivo encontram-se simultaneamente modificadas. Isto ocorre com
a latitude, sendo a energia recebida pela planta diferente. Não é
impossível que esta influência possa interferir na França, apesar das
diferenças de latitude estarem longe de alcançar a mesma escala que
nos Estados Unidos (oito (8) paralelos, em vez de 17 nos Estados
Unidos). Todavia, os departamentos de Landes e Pirineus-Atlânticos,
regiões assinaladas por MOLOT como as mais atacadas pela
helmintosporiose, são também as mais meridionais. Este fenômeno
concordaria, portanto, com o fato de uma grande sensibilidade des-
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te mesmo milho em relação a Diplodia ou da batata à requeima, nos
estados do sul dos Estados Unidos.
Vimos, estudando as repercussões da fertilização potássica ou
nitrogenada, que a nutrição da planta pode estar igualmente em
discussão. Vimos também, a importância dos oligoelementos. Em
Landes, onde a helmintosporiose ataca com maior intensidade, os
solos – silicosos – são particularmente deficientes em cobre,. carência
esta que tem por resultado aumentar o teor dos tecidos em produ-
tos nitrogenados solúveis e, portanto, em elementos nutricionais
suscetíveis de sensibilizar o milho em relação a diversas moléstias e
especialmente à helmintosporiose.
Confirmaremos estas considerações, pelas conseqüências benéficas
resultantes das correções do solo e de pulverizações cúpricas ou à base
de complexos de oligoelementos, em relação àquilo que se pode
chamar “estado geral” da planta e sua resistência contra toda uma
gama de doenças ou pragas.
3. DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES REFERENTES ÀS
RELAÇÕES ENTRE O MILHO E A HELMINTOSPORIOSE
A respeito da podridão do colmo, provocada pelos ataques das
fusarioses, MOLOT (op. cit.) evidenciou uma correlação altamente
significativa entre o teor em glicídios dos colmos em 15 de setembro
e as percentagens de quebra em meados de outubro, isto é, corres-
pondente aos danos de Fusarium.
Entretanto, MOLOT, muito justamente, observa que, como os
glicídios são elementos importantes da nutrição carbonada dos fun-
gos, não seria possível lhes atribuir qualquer papel fungistático. Ao
contrário, diz ele, e sempre com a mesma preocupação de explicar a
resistência pela presença de um produto tóxico ao patógeno nos te-
cidos (fitoalexina), acrescenta: “Pode-se pensar que eles (os glicídios)
variam correlativamente com outros fatores bioquímicos capazes de
inibir o crescimento miceliano”.
A teoria da trofobiose e a proteção natural das plantas
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A teoria da trofobiose e a proteção natural das plantas

  • 1. PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra doenças e parasitas – A teoria da trofobiose –
  • 2.
  • 3. FRANCIS CHABOUSSOU EDITORA EXPRESSÃO POPULAR PLANTAS DOENTES PELO USO DE AGROTÓXICOS Novas bases de uma prevenção contra doenças e parasitas – A teoria da trofobiose –
  • 4. Copyright © 2006, by Editora Expressão Popular Revisão: Geraldo Martins de Azevedo Filho Projeto gráfico, capa e diagramação: ZAP Design Impressão e acabamento: Cromosete Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização da editora. 1a edição: janeiro de 2006 EDITORA EXPRESSÃO POPULAR Rua Abolição, 266 - Bela Vista CEP 01319-010 – São Paulo-SP Fone/Fax: (11) 3112-0941 vendas@expressaopopular.com.br www.expressaopopular.com.br ISBN 85-87394-87-8 Prefácio: Paul Pesson Revisão técnica e apresentação: Luiz Carlos Pinheiro Machado Tradução: Maria José Guazzelli
  • 6.
  • 7. À minha esposa, Jacqueline Thibault, que, em sua vida e sempre ao longo de minha carreira, não cessou de me apoiar e de me dar o exemplo de coragem e de determinação. Agradecimentos À Editora L&PM, de Porto Alegre/RS, pela concessão dos direitos de tradução; À Patrícia Karina Ferraz da Rosa por sua magnífica digitalização; À Ariana Gomide Porro Ferrari pela ajuda na revisão gráfica do texto.
  • 8.
  • 9. Os agricultores, estudantes, técnicos, pesquisadores e professo- res brasileiros têm, com esta obra, acesso a um texto fundamental e pioneiro para se entender o verdadeiro e complexo processo de pro- teção das plantas da ação deletéria dos agentes parasitários: insetos, fungos, bactérias, vírus, ácaros, nematódeos, coccídeos. Francis Chaboussou, ao enunciar, na década de 1970, a teoria da trofobiose, lançou um dos pilares da agroecologia. Com o ciclo do gás etileno no solo e com a teoria da transmutação dos elementos de Kervran, a teoria da trofobiose forma a base em que se apóia a pro- dução de alimentos limpos, sadios, dispensando o uso de agrotóxicos* e de fertilizantes solúveis de síntese química. APRESENTAÇÃO * A tradução literal do título deste livro em francês é As plantas doentes pelos pesticidas (Les plantes malades des pestícides). Entretanto, no Brasil, a partir da década de 1970, os pesticidas agrícolas passaram a ser chamados de agrotóxicos, denominação, sem dúvida, mais apropriada e usada na tradução original, posição seguida nesta revisão. (N. do R.)
  • 10. 10 F R A N C I S C H A B O U S S O U Ao longo desta obra, o leitor encontrará uma sólida argumenta- ção científica apoiada em extensa e qualificada bibliografia, demons- trando que os parasitas não atacam as plantas cujos sistemas nutricionais estejam equilibrados. Isto porque, os parasitas têm uma particularidade fisiológica: seu equipamento enzimático digestivo é carente ou insuficiente em enzimas proteolíticas, isto é, enzimas que desdobram as proteínas em substâncias mais simples, como os aminoácidos, assimiláveis pelos organismos. Esse fato, simples, e até mesmo primário, explica porque os fertilizantes solúveis e os agrotóxicos atraem os parasitas, gerando, assim, um ciclo de depen- dência. Logo, a questão fundamental na proteção das plantas à ação dos parasitas é desenvolver um processo produtivo que permita à plan- ta chegar a um ótimo de proteossíntese, ou seja, à formação de subs- tâncias mais complexas, como as proteínas, que demandam a ação de enzimas para serem desdobradas e utilizadas. Nós que nos preocu- pávamos com a produção agrícola limpa – animal e vegetal – não tínhamos, até Chaboussou, as formulação e sustentação teórica de uma prática milenar, conhecida e difundida pelos verdadeiros agroecologistas: as plantas cultivadas em solos ricos em matéria or- gânica, proveniente de esterco, não são atacadas por pragas e doen- ças: este fato é explicado pela teoria da trofobiose, pois a nutrição das plantas com substâncias complexas gera uma predominância da proteossíntese, circunstância fisiológica adversa aos parasitas. Chaboussou, como Voisin, apresenta suas posições e os resultados das pesquisas que deram embasamento à sua teoria e as suas conclusões (e parece ser uma “técnica” francesa...) de forma repetitiva e aparente- mente, “paciente”. Na verdade, é uma forma sutil de “ganhar” o lei- tor para suas posições. Por outro lado, Chaboussou, não só apresenta a sua teoria da trofobiose, como denuncia, comprovadamente, o apa- recimento de novas doenças pelo efeito do emprego de agrotóxicos. O estudo dos desequilíbrios biológicos produzidos pelos diferen- tes tratamentos convencionais, antes de controlar os parasitas, como
  • 11. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 11 demonstra Chaboussou, provoca uma perturbação na fisiologia das plantas trazendo, em conseqüência, o agravamento do problema inclusive, transformando em parasitas seres que, antes, mantinham um convívio harmônico com a plantas. São, como chamou o autor, as doenças iatrogênicas, isto é, doenças provocadas pelo uso de supos- tos remédios. Não é acidental e nem sem causa, que as poucas dezenas de pra- gas e doenças vegetais registradas há pouco mais de meio século, hoje chega à casa do milhar. Não é acidental, também, que os alertas de Howard, Russell, Rusch, Voisin, Faulkner e tantos outros têm sido, até mesmo menosprezados, pela ciência convencional: há, nessa área, um poderoso jogo de interesses, cuja conta os produtores agrícolas – pequenos, médios e grandes, todos – estão pagando, com o uso cres- cente dos agrotóxicos e fertilizantes. É bem recente o fracasso da “revolução verde” para confirmar o que está dito e dispensar maiores comentários sobre o assunto, da mesma forma do que está acontecen- do com o “agronegócio”, apresentado como panacéia e, hoje, sobre- vivendo em crise sobre crise. Chaboussou identificou as causas do problema. Propõe como solução, essencialmente, a correção das carências de elementos mine- rais no solo, especialmente dos microelementos. Nesse ponto, o ci- entista expôs ao mundo e de maneira inequíosca, que a causa das infestações parasitárias é, principalmente, os desequilíbrios nutricionais: é a predominância na fisiologia da planta, da proteólise sobre a proteossíntese. Este cientista, ainda preso a uma conduta convencional que ele próprio “destrói”, propõe uma solução basea- da na correção em elementos minerais do solo, com ênfase nos microelementos, isto é, um caminho convencional. Ora, o equilíbrio da composição mineral do solo é condição sine qua non para a sua fertilidade. Não é esta a questão em discussão. O problema é como alcançar esse equilíbrio. O caminho proposto por Chaboussou – da correção mecânica das deficiências do solo com a
  • 12. 12 F R A N C I S C H A B O U S S O U simples incorporação dos elementos que a análise química registra como carentes – este caminho entra em contradição com sua própria teoria: se o balanço proteossíntese – proteólise, processo fisiológico interno da planta, é a base da proteção vegetal contra os parasitas quando esse balanço é favorável à proteossíntese, as plantas estão protegidas. Entretanto, o mecanismo de proteção é pouco conheci- do mas, seguramente, é desencadeado a partir de fatores bióticos, nos quais os microrganismos do solo desempenham papel preponderante. E, seguramente, é através desse mecanismo que o solo se desintoxica, se equilibra e passa a ser um integrante ativo no processo. Na propo- sição da simples correção das eventuais carências, o solo é apenas um receptáculo passivo. Em diversas oportunidades, especialmente nos últimos capítu- los, Chaboussou recomenda a aplicação de fertilizantes, com a fina- lidade de corrigir os desequilíbrios do solo, especialmente de microelementos. Trata-se de uma contradição com sua própria teo- ria da trofobiose. É que, o solo desintoxicado e manejado corretamen- te dispensa o uso de adubos como, aliás, estabelece a nossa lei de fertilidade crescente (A fertilidade do solo, quando manejado sem agres- são – aração e procedimentos similares – e com técnicas que estimulem a biocenose é crescente, indo a limites ainda não identificados). Portanto, a partir da teoria da trofobiose, que é a linha mestra do processo, devemos pesquisar os meios bióticos de correção dos solos que têm sido agredidos por decênios pela agricultura predatória. É a partir do equilíbrio biocenótico da fertilidade do solo que se abre o caminho para a produção de alimentos limpos, com a dispensa de agrotóxicos e fertilizantes solúveis. Se o processo for conduzido dialeticamente a partir da participação do animal na desintoxicação do solo e na manutenção e melhoria de sua fertilidade, poder-se-á dispensar o uso de quaisquer produtos químicos externos ao solo, porque, com manejo correto, desencadeiam-se o ciclo etileno e a transmutação dos elementos com baixa energia, os quais, com a
  • 13. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 13 trofobiose, conformam o tripé sobre o qual se ergue a produção agroecológica. Isto, naturalmente, com a sustentação energética da eficiente e gratuita energia solar. Este livro deixa numerosos ensinamentos e aguça a curiosidade para uma série de questões. Talvez, porém, a questão mais significa- tiva diga respeito à atividade dos pesquisadores – fitopatólogos e entomólogos. Modo geral, nossos cientistas debruçam-se sobre o estudo de determinada praga ou doença, pesquisando profundamen- te aspectos específicos e fazendo um controle com o objetivo da eli- minação do parasita. Talvez fosse aconselhável uma análise mais ampla, holística, a começar pelo equilíbrio metabólico e pelas neces- sidades nutricionais da planta. Dou um exemplo. No início do projeto Alegria, em Taquara, Rio Grande do Sul, em 1964, a infestação de saúva era extremamente intensa. Com o decorrer do tempo, graças ao manejo do Pastoreio Racional Voisin, com a desintoxicação do solo e ausência completa de agrotóxicos e fertilizantes, as saúvas desapareceram, mas as áreas vizinhas continuaram infestadas. Por quê? A ciência convencional não tem explicação para este fato e, diante do fato, fica-se com o fato e desprezam-se as teorias ainda que esposadas por grandes nomes, como diria Claude Bernard. O desaparecimento natural das saúvas deve ser pesquisado sob uma ótica inspirada na análise dos fatores externos que, certamente, interferem nas questões internas do inseto. Em outras palavras, através de uma análise holística, em que os fatores bióticos e abióticos em suas interrelações e contradições levam às causas dos problemas e sobre elas recaí a ação humana. Trabalhar sempre sobre as causas e não sobre os efeitos, no caso, as pragas e doenças. Todos devem ler e meditar sobre este texto: os produtores, para questionarem seus técnicos quando esses recomendam agrotóxicos e ou adubos solúveis; os estudantes, para indagarem a seus professores sobre as posições de Chaboussou; os técnicos, para se capacitarem a
  • 14. 14 F R A N C I S C H A B O U S S O U uma conduta de produção sem veneno: o professor para levar aos seus alunos uma posição contrária à agronomia convencional e, finalmente, àqueles pesquisadores, que se distanciaram da realidade que desçam de seu frágil pedestal e venham para a planície onde está a vida e, portanto, a verdade. Quanto às pesquisas fitopatológicas e entomológicas cabe uma reflexão: a quase totalidade dessas pesquisas concentra-se em elimi- nar (se possível) o parasita. A partir das informações deste texto, seria desejável que se conhecesse o contexto ambiental – manejo e fertili- dade do solo, clima, vegetação espontânea, uso de agrotóxicos e fer- tilizantes solúveis – e relacionar o aparecimento dos parasitas com esses fatores, como Chaboussou analisa a partir do quarto capítulo. Chaboussou, por sua formação e por seu campo de pesquisa, dedicou-se ao controle de parasitas das plantas. Como pesquisador eclético, porém, não esqueceu os animais. Para isso, dedicou, sob o título de “A agricultura biológica e a saúde dos vertebrados”, parte do oitavo capítulo às repercussões dos desequilíbrios nutricionais à saúde animal e seus produtos. A aplicação da teoria da trofobiose – ao dispensar o uso dos agrotóxicos e adubos solúveis – reveste-se de importância singular na proteção ambiental. Essa é, por outro lado, questão transcendental para a própria sobrevivência da espécie humana. As conseqüências da dilapidação ambiental são noticiadas cada vez com maior freqüência: recentemente, a redução do tamanho das ostras cultivadas na baía de Florianópolis motivada pela elevação da temperatura da água do mar, é um exemplo. A biocenose viabiliza o desencadeamento de importantes proces- sos em solos ricos em matéria orgânica, porosos e com limitada compactação, pois se ativa a “nutrição das plantas, via compostos orgânicos mais complexos, que seriam absorvidos diretamente pelas raízes e serviriam de base à construção, pela planta, de seus consti- tuintes, especialmente das proteínas”. Essa teoria, alicerçada em
  • 15. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 15 substantivos resultados experimentais compõem, com a teoria da trofobiose de Chaboussou, a base de um novo e instigante paradigma, este livre das perniciosas dependências econômicas, recuperando o sentido dialético e, por isso mesmo verdadeiro, da desgastada expres- são “trabalhar com a natureza”. Aí está para os cientistas sem precon- ceitos e para os agricultores pesquisadores, a porta aberta para a construção de uma doutrina que ofereça aos produtores a tecnologia da vida, na qual se alcançaria a maravilhosa harmonia da natureza com “sua própria consciência, o humano”. Esta construção estará conclu- ída quando a ciência puder desenvolver um modelo de produção capaz de alimentar a humanidade, sem dilapidação dos recursos não renováveis, através do maravilhoso trabalho da vida do solo, em har- monia com a máxima captação da energia solar pela fotossíntese. A Editora Expressão Popular a reeditar e a Editora L&PM, a ceder os direitos de tradução para a republicação em português, da obra de Chaboussou – a quem os leitores devem agradecer – põem à dispo- sição dos agricultores, estudantes, técnicos, pesquisadores e profes- sores, um corpo de doutrina inédito na literatura científica agronômica nacional, que constitui o primeiro pilar para a produção limpa, sem venenos, dispensando agrotóxicos e fertilizantes solúveis de síntese química. É a partir da compreensão da indispensabilidade do emprego de insumos energéticos de origem solar e da dinâmica da vida do solo, que se constrói a agricultura limpa, rentável e sus- tentável, isto é, que se põe, em prática, a verdadeira agroecologia, caminho seguro para perpetuar a produção de alimentos limpos, como a própria sobrevivência da humanidade está a exigir. Porto Alegre, RS, Verão de 2006. Prof. Dr. Luiz Carlos Pinheiro Machado Presidente do Instituto André Voisin prvpinheiro@terra.com.br lcpm@cca.ufsc.br
  • 16.
  • 17. Durante minhas aulas de entomologia e de ecologia, no Institut National Agronomique ou no curso superior de especialização do DEA* de entomologia, na Universidade de Paris-VI, freqüentemente tive a ocasião de apresentar a meus alunos os trabalhos de meu cole- ga Francis Chaboussou e sua teoria da trofobiose. É um prazer para mim, hoje, apresentar sua obra ao grande público. Ao fazê-lo, desejaria me esforçar para fazer o leitor compreender a extrema importância desta obra, que propõe aos pesquisadores agrôno- mos, e aos agricultores, um conceito original e novos caminhos, que resultam de uma reflexão madura baseada tanto nas pesquisas pesso- ais do autor, como nos múltiplos dados experimentais de origem in- ternacional, oriundos dos laboratórios ou das condições de campo. PREFÁCIO * Diplôme d’Etudes Approfondies (Diploma de Estudos Aprofundados). (N. da T.)
  • 18. 18 F R A N C I S C H A B O U S S O U Que me seja permitido, antes de mais nada, apresentar o autor a seus leitores, apesar de ser bem conhecido nos meios da pesquisa agronômica, na França e no exterior. Biólogo de formação, diplomou-se na Universidade de Bordeaux. Ali beneficiou-se dos ensinamentos de entomologia do prof. Feytaud, e de zoologia e biologia dos professores Avel e Bounhiol. Em 1933, entra, como jovem pesquisador, no Institut National de la Recherche Agronomique. Nomeado para a Estação de Zoologia do Centro de Pesquisas Agronômicas de Bordeaux, na região de La Grande Ferrade, em Pont-de-la-Maye, aí desenvolverá toda sua carreira, encerrando- a em 1976, como Diretor de Pesquisa e Diretor da Estação de Zo- ologia desse Centro. Nesta função, ele teve, inicialmente, a oportunidade de abordar problemas entomológicos da época, como a reprodução de um carabídeo, predador de um coleóptero do gênero Leptinotarsa,* ele- mento potencial de controle dessa praga, de importação recente ou, ainda, a invasão imprevista de gafanhotos migradores em Landes, seguida de incêndios florestais. Após, se veria confrontado com pro- blemas mais complexos e de grande importância econômica, envol- vendo as culturas frutíferas de Agenais, as culturas de milho de Landes e, obviamente, as pragas dos vinhedos da região de Bordeaux. Ele formou, nessa época, alunos excelentes e colaboradores que assegu- raram sua sucessão e mantêm, hoje, a reputação do Centro de Pesqui- sas de Zoologia Agrícola do Sudoeste. A diversidade de problemas entomológicos que apareceram e a necessidade de propor soluções práticas de controle não haviam, então, permitido a Francis Chaboussou aprofundar-se no estudo de um assunto especificamente. Em 1960, entretanto, dois novos pro- blemas se lhe apresentaram e, sobre os quais, enfim, ele espera poder * Doryphore no original. Corresponde ao “Colorado potato beetle”. (N. Da T.)
  • 19. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 19 empreender uma tese de doutorado em ciências: por um lado, o estudo dos atrativos sexuais elaborados por fêmeas virgens de lepidópteros (feromônios) e sua aplicação no controle de urna lagarta da videira,* por outro, a análise das causas do aparecimento e proli- feração de novas pragas em videiras, os ácaros fitófagos. Após ter bem encaminhado os estudos sobre a lagarta, ele confiou seu prossegui- mento a seus colaboradores e, a partir de então, consagrou-se de 1960 a 1969 ao estudo de ácaros da videira. É no curso dessas pesquisas que se elabora o conceito da “trofobiose”, resultando na sua defesa de tese, em 1969, em Paris. A substituição dos arsenicais pelo DDT e por outros inseticidas orgânicos sintéticos, particularmente nos tratamentos dos pomares e vinhedos, teve como conseqüência a aparição, nos Estados Unidos e Europa, de uma nova calamidade, os ácaros fitófagos, até então relativamente pouco danosos; estes microscópicos picadores e suga- dores de folhas provocam, por sua proliferação, prejuízos importan- tes aos vinhedos e pomares. A primeira explicação geral proposta foi de que o DDT e outros inseticidas polivalentes de contato elimina- vam os predadores ou parasitas naturais desses ácaros fitófagos. Mas, esses predadores são, essencialmente, outros ácaros, de diversos gê- neros, e a hipótese não pôde ser confirmada. Para a videira, o problema apresentava-se sob um aspecto muito complexo, que Francis Chaboussou soube perfeitamente analisar. Três espécies de ácaros intervêm, cada uma podendo proliferar em perí- odos diferentes da estação e em função das datas de aplicação e da natureza dos diversos tratamentos inseticidas ou fitossanitários apli- cados à videira. Foi dissecando experimentalmente estes fenômenos que o autor conseguiu mostrar que a ação dos agrotóxicos utilizados* * Po1ycrosis botrana. (N. da T.) * No original não existe a palavra agrotóxico. É usada a palavra pesticida. É, entretanto, correto o uso da palavra agrotóxico, criada por A. Paschoal em 1975. (N. do R).
  • 20. 20 F R A N C I S C H A B O U S S O U (particularmente inseticidas, contra larvas do cacho da uva;* ou mesmo fungicidas) repercutia sobre os ácaros, por intermédio da planta. Estes produtos provocam modificações no metabolismo da planta, resultando num enriquecimento dos líquidos celulares ou circulantes em açúcares solúveis e aminoácidos livres. Os ácaros fitófagos picadores e sugadores dos tecidos vegetais encontram-se, assim, favorecidos na sua alimentação. Isto se traduz, conforme as espécies, por um aumento de sua fecundidade e de sua fertilidade, da velocidade do desenvolvimento e do número de gerações e mes- mo da longevidade. É, portanto, um fator trófico que está na origem das proliferações dos ácaros fitófagos da videira. A esta dependência estreita entre as qualidades nutricionais da planta e seu parasita, Francis Chaboussou batizou de “trofobiose”. O termo já havia sido utilizado pelos biologistas para designar as relações tróficas de algu- mas formigas com pulgões, aos quais elas dedicam cuidados particu- lares, mas o novo sentido dado pelo autor reveste-se de um grande interesse: é o próprio objeto do livro que ele nos apresenta hoje. Na realidade, lendo o livro de Francis Chaboussou, podemos nos surpreender por encontrarmos apenas citações breves de suas próprias pesquisas. Por isso, me parece justo sublinhar, aqui, sua importância na origem do conceito de trofobiose, conceito que pesquisadores posteriores confirmaram e ampliaram. Foi dessa forma que o autor pôde mostrar a ação de fatores edáficos (relação K/Ca) sobre as pro- liferações de certas cochonilhas de citros, no Marrocos; a incidência da natureza do porta-enxerto sobre as reações de um mesmo enxer- to aos tratamentos fitossanitários (proliferações de ácaros fitófagos); e os efeitos favoráveis não-intencionais de certos acaricidas. Ocorre uma desordem ou desequilíbrio metabólico da planta, que se revela favorável aos parasitas sempre que os açúcares solúveis e os aminoá- cidos livres dos tecidos vegetais estão em excesso, não estando normal- * Polychrosis botrama S. e Clysia ambiguella Hb. (N. da T.)
  • 21. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 21 mente incorporados na proteossíntese: desordem ou desequilíbrio metabólico da planta, que se revela favorável aos parasitos. As experiências se acumulam pelas pesquisas pessoais, bem como pela revisão bibliográfica. Esta hipótese é confirmada por novas de- monstrações e o autor procura aplicá-la às causas tróficas das doen- ças fúngicas e até de doenças viróticas. Os fungos parasitas são organismos osmotróficos que se nutrem, como os insetos e os ácaros sugadores de seiva, de açúcares e aminoácidos livres dos tecidos vegetais. Nada de surpreendente, portanto, no fato de que todo o enriquecimento dos tecidos com substâncias solúveis favoreça o desenvolvimento das micoses. Os numerosos exemplos citados e analisados pelo autor, neste livro, são provas deste fato. Buscando analisar, segundo os princípios de sua teoria da trofobiose, todos os casos “inexplicados” de proliferação de parasitas, de eclosão de micoses, de aparição de viroses, da ineficiência de cer- tos tratamentos; buscando explicar os efeitos indiretos ou inespera- dos de diversos tipos de agrotóxicos (herbicidas, fungicidas, inseticidas, acaricidas), Francis Chaboussou chama a atenção que se chega, sempre, à existência de desequilíbrio entre dois processos fundamentais da fisiologia vegetal: proteossíntese e proteólise. O autor tem consciência clara que esses dois processos são eminen- temente complexos e que os mecanismos e fatores em jogo são múltiplos. Da mesma maneira, ele põe em evidência os desequilíbrios do meio interior da planta (teor em açúcares solúveis e em aminoácidos livres), revelando ou suspeitando de causas distantes indiretas, insidiosas: exces- sos de adubações nitrogenadas solúveis, desequilíbrios de correções de K, Ca, Mg; carência ou excesso em determinados oligoelementos,* muitos dos quais são fornecidos à planta pelos agrotóxicos. * O termo oligoelemento é usado nesta obra como sinônimo de microelemento, forma mais empregada no Brasil. Foi respeitada a forma original. (N. do R.)
  • 22. 22 F R A N C I S C H A B O U S S O U Em suma, o autor, preocupado com a proteção das culturas con- tra seus parasitas ou suas doenças, volta-se mais para a planta doente que para o parasita ou agente infeccioso. Admite-se, de muito bom grado, que o homem “que nada lhe falta” sofre, hoje, diversas afecções, que têm origem num excesso de bem-estar (excesso de carne, gordu- ras, açúcar, excesso de álcool, de fumo e, mesmo, excesso de medica- mentos), mas também num excesso de estresse ou de estímulos (excesso de barulho ou de agitação, excesso de automóvel ou de TV). As plan- tas cultivadas, em particular aquelas culturas industriais, são postas em competição permanente, para um crescimento mais rápido, uma pro- dução mais abundante, uma qualidade mais atraente.Nesses jogos olímpicos da agricultura industrial, as plantas cultivadas são superalimentadas, sofrendo algumas vezes até um empanturramento de nitrogênio; elas são bem tratadas, como os campeões antes da pro- va (a colheita!), pulverizadas, banhadas freqüentemente com misturas fungicidas, inseticidas, acaricidas, a título preventivo; suas condições de vida são artificializadas ao extremo (ciclos biogeoquímicos acelera- dos, húmus reduzido, herbicidas, chuva artificial, sob cultura imper- meável ou em estufas). Mas, às vezes, o campeão quebra antes da prova: acamamento dos cereais, secamento do pecíolo do cacho de uva, abortamento de frutos; aparentemente saudável, ele contrai, apesar de todas as medidas preventivas, doenças súbitas e desastrosas (micoses, viroses), ele sofre ataques maciços de parasitos(ácaros, pulgões). Então, se chama à cabeceira destas plantas-campeãs os especialis- tas mais renomados: fitopatologista, virologista, entomologista, imunologista, cada um em sua área, dando seu diagnóstico e sua re- ceita fitofarmacêutica. O próprio agrônomo, que deveria ser o médico generalista de sua cultura, consulta o edafólogo, o climatogista, o geneticista. Como salienta Francis Chaboussou, se estuda muito a doença e não tanto o doente. Ele, médico dos vinhedos de Bordeaux, assusta-se com este excesso de terapêutica e com esta insuficiência de higiene da planta e de seu meio. Nossas culturas industriais, diz ele,
  • 23. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 23 sofrem de doenças cujas causas têm sua origem num excesso de cuida- dos fitossanitários; ele fala, então, de doenças “iatrogênicas”. Certamente, não se poderia negar os imensos progressos da agri- cultura industrial, graças, em particular, à seleção, às correções e aos tratamentos fitossanitários! Nós temos, na França, belas culturas e belas colheitas! Mas, voltando a uma comparação, talvez abusiva, porém não desprovida de sentido, podemos também dizer que o homem moderno vive certamente melhor e mais longamente que aquele da Idade Média, eliminaram-se ou controlaram-se muitas das grandes doenças epidêmicas: varíola, tuberculose, peste, malária... Mas ele está, hoje em dia, sujeito a novas e múltiplas doenças orgâ- nicas ou infecciosas (arteriosclerose, câncer, gripe). Do mesmo modo, se é certo que as plantas cultivadas pagaram um pesado tributo a certas calamidades epidêmicas ou certas pragas, bem antes do desen- volvimento do controle químico moderno (requeima da batata que arruinou a Irlanda, Phylloxera que arrasou os vinhedos europeus, bicudo do algodão e cochonilhas dos citros nos Estados Unidos), só se pode constatar a repetição incessante de afecções ou ataques que sofrem as culturas industriais, o que acarreta, como para o homem, um aumento crítico das despesas fitofarmacêuticas. Tão logo desenvolveram-se os tratamentos fitossanitários na Fran- ça, com a aparição de numerosos inseticidas, fungicidas ou herbicidas sintéticos, nasceram duas palavras novas: “fitofarmárcia” e “fitiatria”, a fitofarmácia teve um grande desenvolvimento, conduzindo ao nas- cimento da indústria de agrotóxicos, mas, pode-se dizer que a fitiatria, ou medicina das plantas, manteve-se superficial, aparentemente li- mitada ao universo especializado da parasitologia: estudo de micoses, bacterioses, viroses (fitopatologia) e dos parasitas animais das cultu- ras (especialmente entomologia e nematologia). Certamente os agrônomos, no campo da pesquisa agronômica de fisiologia vegetal, preocuparam-se em melhorar o crescimento, a pro- dução, a resistência das plantas cultivadas, e interessaram-se por tudo
  • 24. 24 F R A N C I S C H A B O U S S O U o que diz respeito à nutrição mineral da planta, seus desequilíbrios, suas carências. Mas falta, incontestavelmente, uma ligação estreita entre a fitofarmárcia e a fisiologia vegetal. O estudo das repercussões dos agrotóxicos, de todos os tipos e sob todas as suas formas de aplicação sobre a fisiologia da planta, somente foi abordado de forma superfici- al: efeitos tóxicos diretos, mais comuns. Os efeitos indiretos, a longo e curto prazos, tais como Francis Chaboussou apresenta em numero- sos exemplos, foram negligenciados. Já que o agrônomo se tornou o “generalista” para o estudo das plantas cu1tivadas, não é de se surpreender que tenham sido os agrô- nomos práticos, isto é, os produtores, os primeiros a notar e a tentar corrigir, empiricamente, os efeitos dos excessos de cuidados tróficos e fitossanitários dispensados às plantas cultivadas de forma industrial. Estes produtores quiseram, de alguma forma, desenvolver o que eu chamaria, de bom grado, uma agroproteção das culturas, com a substituição dos métodos de proteção da agricultura de tipo indus- trial, os quais abusam, em particular, dos tratamentos fitossanitários, seja a título curativo ou mesmo preventivo. Assim, nasceu o que se chamou de agricultura biológica. O ter- mo, sem dúvida, se prestaria a discussões, mas o uso generalizou-se graças à imprensa e à mídia. Graças, sobretudo, a um grande públi- co apaixonado pela ecologia e obcecado pelos problemas de poluição. Por razões que não nos cabe analisar agora aqui, razões múltiplas e, às vezes, imponderáveis, é lamentável que uma espécie de divórcio se tenha estabelecido entre os agrônomos promissores do que chamei, aqui, a agroproteção das culturas, e a maioria dos agrônomos pesqui- sadores ou dos próprios quadros da pesquisa oficial. Uma crítica freqüentemente dirigida às teorias desses pioneiros é dizer-se “que não há nada de novo nisto, pois não passa de uma generalização abusiva de alguns dados insuficientes”, ou ainda “estes métodos não podem satisfazer as necessidades de uma produção industrial, isto é, competitiva e cobrindo as necessidades”.
  • 25. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 25 O autor desta obra não contradiria o fato de que, desde há muito, agrônomos, e dos mais renomados, têm chamado a atenção para a importância do estado fisiológico da planta, como elemento de sua resistência às doenças infecciosas e parasitárias ou, ainda, alertando contra os riscos potenciais do abandono da adubação orgânica, do uso abusivo dos adubos nitrogenados solúveis, da redução da atividade biológica dos solos, citando os nomes de A. Demolon, G. Bertrand, J. Dufrénoy, P. Chouard e muitos outros. Sem contar que os traba- lhos de numerosos pesquisadores ou biólogos do INRA* são citados trazendo um apoio direto ou indireto à teoria da trofobiose ou aos princípios ecológicos da agroproteção das culturas. Quanto a tratar as pesquisas de Francis Chaboussou uma gene- ralização abusiva, considero, pessoalmente, um julgamento caduco. Este livro, precisamente, aporta muitos fatos em apoio à posição de Chaboussou, se tomamos da literatura científica internacional, que urge, a meu ver, não deixar de testar mais adiante, esse conceito da trofobiose. Sem qualquer dúvida, as condições tróficas oferecidas pela planta a seus parasitas, por mais importantes que sejam, não representam os únicos fatores em jogo nas explosões populacionais de insetos ou de ácaros fitófagos, ou na aparição e expansão de moléstias criptogâmicas, bacterianas ou viróticas. O autor, sem dúvida, em alguns trechos, se deixa levar na direção de algumas afirmações ou hipóteses, nas quais nem todos os leitores o seguirão. No entanto, quando ele se apóia nas belas pesquisas de nosso colega C. Vago, da pesquisa agronômica, sobre os processos de desencadeamento e interligação das doenças infecciosas nos insetos, para tentar explicar (ao menos parcialmente) as eclosões e multipli- cação das afecções viróticas nos cultivos industriais, só se pode, no- * Institut National de Recherches Agronomiques (Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas). (N. da T.)
  • 26. 26 F R A N C I S C H A B O U S S O U vamente, desejar que a pesquisa se debruce, com atenção, sobre es- sas hipóteses emanadas da teoria da trofobiose. Igualmente, quando ele examina as incidências secundárias de uma desordem da proteossíntese nas plantas cultivadas (conseqüên- cias eventuais de desequilíbrios nutricionais ou de tratamentos fitossanitários) sobre a alimentação animal ou humana, mesmo que aí esteja, apenas um aspecto muito parcial do problema, a hipótese não é gratuita e merece ser levada em consideração. Sem dúvida, os diversos problemas suscitados foram abordados por um ou outro dos setores da pesquisa agronômica oficial, mas a leitura do livro de Francis Chaboussou, de bom grado, leva a pen- sar que sua idéia diretriz, expressa na sua teoria da trofobiose, po- deria ser, para os diversos pesquisadores, uma linha comum de direção bastante útil. Quanto à afirmação de que os métodos culturais preconizados no contexto da agroproteção das culturas não seriam aplicáveis às culturas industriais, é conveniente sublinhar que o autor , antes de mais nada, deseja que a metodologia geral proposta não seja condenada apenas sobre este critério, mas que seja, antes, testada, verificada ou desmentida. Ele tem consciência que o sugerido, em particular as aplicações foliares de oligoelementos, aproxima-se necessariamente, no plano técnico e agronômico, dos métodos de controle químico da agricultura industrial. Ë evidente que os métodos preconizados de- vem ser testados quanto a seus efeitos eventuais a longo prazo, pois, como em todas as coisas, o abuso pode ser a origem de novos desequilíbrios. O mérito de Francis Chaboussou neste livro é, partindo de uma idéia simples, demasiadamente simples, já que foi negligenciada por muito tempo por numerosos pesquisadores muito especializados, mostrar que sua teoria da trofobiose pode fornecer uma aproximação, e mesmo uma interpretação de uma quantidade de fatos que perma- nece inexplicados no campo da proteção de culturas.
  • 27. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 27 O Institut National de la Recherche Agronomique recentemente definiu suas novas orientações no sentido de uma agricultura “mais econômica e mais autônoma” (J. Poly), sem reduzir, no entanto, a produtividade e sua qualidade. Para mim, não há dúvidas de que uma pesquisa destinada a melhor definir os fatores de agroproteção das culturas, em função das espécies vegetais cultivadas e das condições de meio, pode efetivamente ajudar a atingir estes objetivos. Paris, 18 de setembro de 1980. Paul PESSON Professor honorário Institut National Agronomique Paris-Grignon
  • 28.
  • 29. Uma eminente especialista em ácaros pôde observar: “Até 1945 os ácaros fitófagos eram tidos como inimigos menores da agricultura. Por outro lado, há quinze anos o desenvolvimento destas espécies predatórias atinge uma elevada significação econômica, ao mesmo tempo que sua lista não pára de aumentar” (ATHIAS-HENRIOT, 1959). Ora, uma tal ascensão dos ácaros à condição de inimigos maio- res da agricultura, proliferando tanto sobre plantas de grande culti- vo, como o algodão, quanto em videira ou árvores frutíferas, é, concomitante, com o emprego agrícola de um dos primeiros inseti- cidas de síntese e que deu o que falar: nos referimos ao DDT, ou zidane. Efetivamente, as primeiras multiplicações do que, impropri- amente, chamou-se de “aranhas vermelhas” ocorreram em macieiras, em seguida dos tratamentos à base de DDT e dirigidos contra a larva de Carpocapsa sp., ou “bicho das frutas”. PRÓLOGO
  • 30. 30 F R A N C I S C H A B O U S S O U Mais tarde, por outro lado, o DDT seria, de certa forma, subs- tituído em tais processos “pró-ácaros” por toda uma série de outros agrotóxicos sintéticos, como a maior parte de diferentes ésteres fosfóricos, Parathion à frente, os carbamatos como o Carbaryl , os ftalimidas, como Captan etc. Assim, devido ao emprego de numerosos inseticidas sintéticos, que haviam destronado os produtos minerais, assistiu-se ao nascimen- to de uma nova indústria: a dos acaricidas. Isto é, impuseram, ao mesmo tempo, aos agricultores novas e pesadas coerções. Sobretudo, como teremos a oportunidade de men- cionar neste trabalho, será demonstrado que numerosos acaricidas, em princípio, destinados a exterminar os ácaros, os faziam, parado- xalmente, proliferar, de acordo com o mesmo processo, pouco enten- dido, e cujo estudo será objeto da primeira parte desta obra. Entretanto, dois diferentes fatos, pelo menos, mereceriam aten- ção. Por um lado, estes “desequilíbrios biológicos”, com.o foram chama- dos, não diziam respeito somente às multiplicações de ácaros, mas também de pulgões aleirodídeos, lepidópteros e até mesmos de nematóides. Por outro lado, a utilização de certos agrotóxicos, como os ditiocarbamatos (Maneb, Zineb, Mezineb), acarretam, também, o desenvolvimento não só de pragas, mas de moléstias criptogâmicas como Oidium e Botrytis. Certos observadores registravam até a expan- são consecutiva de doenças viróticas. Trata-se de um grave fenôme- no que parece estar bem confirmado, como demonstraremos. Sem dúvida, seria suficiente apenas expor a diversidade destes “desequilíbrios” que dizem respeito tanto a vírus, quanto a fungos patógenos ou a ácaros, para perceber que o determinismo deste pro- cesso não poderia residir, unicamente, na eventual destruição dos inimigos naturais, que habitualmente é colocada como primeiro argumento. Como pensamos mostrar na primeira parte desta obra tudo se passa como se, por sua ação nefasta sobre o metabolismo da plan- ta, os agrotóxicos rompessem a sua resistência natural.
  • 31. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 31 Em outras palavras: é necessário, daqui para frente, se ter consciên- cia de um fato que, em princípio, não é de, outro modo,surpreendente saber que, o agrotóxico – mesmo não provocando queimaduras ou fenôme- nos de fitotoxicidade aparentes – pode mostrar-se tóxico para a planta, com todas as conseqüências que isto pode causar sobre a resistência a seus agressores, sejam eles fungos, bactérias, insetos ou mesmo vírus. Assim, esta obra é destinada a todos aqueles que, de perto ou de longe, estão implicados na utilização e recomendação dos agrotóxicos, como técnicos e pesquisadores, mas também aos burocratas, especi- almente os encarregados do registro e da colocação destes produtos nas mãos dos usuários. Nos mais de vinte anos que dedicamos a trabalhos sobre este tema, não faltou oportunidade aos diversos responsáveis para toma- rem conhecimento de nossas pesquisas e de nossas advertências. Contudo, pode ser que assim reunidas numa mesma obra de sínte- se, nossas concepções venham a ser acolhidas de outra forma, além do sacudir de ombros ou da conspiração do silêncio. Compreender-se-á, na sua leitura, que este livro é também um grito de alarma, um grito destinado, em primeiro lugar, a ajudar os agricultores a se liberarem da alienação na qual se encontram e que reside numa absurda e arruinadora cadeia de intervenções com agrotóxicos, resultante, ela mesma, de uma cadeia de doenças artifici- almente provocadas. Todavia, temos, cada vez mais, confiança no bom senso e na ló- gica dos agricultores. Já são numerosos os que sentem, confusos, que com o emprego quase desenfreado de agrotóxicos estão na direção errada. Com efeito, os problemas de parasitismo das plantas não cessam de se multiplicar e, é evidente, que não poderia ser de ou- tra forma no contexto atual dos métodos de controle químico. Assim, esperamos confiantes que, ao dar aos agricultores, causas dessas dificuldades e desventuras, nosso trabalho os ajudará a mudar de direção.
  • 32. 32 F R A N C I S C H A B O U S S O U Duas tarefas nos pareceram mais urgentes: primeiro, dar a expli- cação dos perigos que corre a saúde da planta com os agrotóxicos e, espe- cialmente, pelos herbicidas, à fertilidade do solo. Esta responsabilidade é dividida com os adubos solúveis, como pensamos demonstrar. Fm segundo lugar, destacar a natureza das relações que unem a planta ao parasita. Assim, seremos conduzidos à segunda parte des- ta obra, consagrada à outra face do problema, ou seja, os meios de estimular a resistência da planta em relação a seus diferentes agressores. Tendo como princípio básico o estímulo da proteossíntese por correção de carências, serão consideradas as repercussões benéficas de uma adubação equilibrada e o emprego de oligoelementos. Enfim, julgamos lógico e indispensável expor, num último capí- tulo, aquilo que, atualmente, podemos concluir das conseqüências de diversas técnicas culturais em relação à uma questão que interessa a todos: a saúde do rebanho e do homem chamados a consumir as colheitas assim obtidas. Não saberíamos concluir este “prólogo” sem expressar toda nossa gratidão ao INRA (Institut National de la Recherche Agronomique), ao qual tivemos a honra de pertencer durante mais de quarenta anos, e ao qual ficamos, obviamente, profundamente ligados. Não tanto porque nossos superiores e a maior parte de nossos colegas tenham testemunhado um grande entusiasmo em relação a nossas concepções um pouco revolucionárias, mas porque tivemos a vantagem de poder trabalhar com toda a independência de espírito. Nunca seremos capa- zes de apreciar suficientemente o preço desta liberdade e, até, desta compreensão dada a um desditoso pesquisador, desgarrado num lamen- tável não-conformismo pela chamada lógica de seus trabalhos. Balizac, 29 de julho de 1980.
  • 33. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 33 PRIMEIRA PARTE PLANTAS DOENTES PELA QUÍMICA
  • 34.
  • 35. 1. DEFINIÇÃO Da mesma forma que em patologia humana ou animal, enten- demos por “doença iatrogênica”, toda a afecção desencadeada pelo uso – seja moderado ou abusivo – de um medicamento qualquer. Em pa- tologia vegetal trata-se, portanto, do uso de agrotóxicos. Por outro lado, fala-se mais freqüentemente de “desequilíbrio biológico” quando se faz referência a uma proliferação brusca de uma ou outra praga, que ocorre em seguida a um tratamento fitossanitário. É, por exemplo, o caso – do qual voltaremos a falar – das proliferações de ácaros, em seguida a numerosos tratamentos, tanto com fungicidas quanto com inseticidas. Assim, se falamos em “desequilíbrio”, foi porque, segundo a teo- ria clássica, implicitamente se imputava tais proliferações apenas à CAPÍTULO I AS DOENÇAS IATROGÊNICAS NAS PLANTAS “Devemos ser curiosos para ver se o que vemos é o que sentimos ver. Devemos analisá-lo, abri-lo, virá-lo, olha-lo por baixo e olhar atrás. O conformista, simplesmente, não está programado para isso”. James G. HORSFALL (The story of a nonconformist, 1975.) É realmente uma coisa maravilhosa esta faculdade que têm os insetos de distinguir uma árvore que não está mais em suas condições normais”. Edouard PERRIS (Histoire des insectes du pin maritime.)
  • 36. 36 F R A N C I S C H A B O U S S O U destruição dos inimigos naturais da nova praga. O freio estando suprimido, o fitófago podia proliferar sem obstáculos. Entretanto, essa teoria defronta-se com certas dificuldades. As- sim, ela não saberia explicar: – Como um certo número de agrotóxicos, perfeitamente inofen- sivos para os inimigos naturais, podem, entretanto, acarretar multi- plicação de diversos fitófagos – pulgões, por exemplo? – Por que razão, um agrotóxico não acarretando nenhuma reper- cussão deste gênero, em uma época determinada do ciclo da planta em questão pode, entretanto, desencadear graves proliferações da mesma praga em outro momento? – Como pode ocorrer, que um inseticida aplicado em tratamento do solo possa provocar proliferações de ácaros do gênero Tetranychus sobre as folhas da batata cultivada a seguir? – Enfim, no campo da patologia vegetal propriamente dita, é evidente que o desenvolvimento de diversas moléstias, tanto viróticas quanto criptogâmicas, não poderia ser atribuído a uma eventual destruição de inimigos naturais, e isto pela simples razão de que esses últimos são praticamente inexistentes! É a razão pela qual, num primeiro momento, julgamos indispen- sável revisar um certo número de casos de “desequilíbrios biológicos”, provocados pelo uso de agrotóxicos. 2. DESEQUILÍBRIOS BIOLÓGICOS SEGUIDOS DOS TRATAMENTOS DAS FOLHAS COM AGROTÓXICOS A) Proliferações de pragas Ácaros: é o caso por nós estudado, sobre videiras, seguido aos tra- tamentos da folhagem com agrotóxicos (CHABOUSSOU, 1969). Foi possível mostrar que diversos inseticidas como DDT, Carbaryl e nu- merosos fosforados acarretam proliferações tanto de ácaros vermelhos
  • 37. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 37 (Panonychus ulmi, Koch), como de ácaros amarelos (Eotetranychus carpini vitis, Dosse) (fig.1). Atualmente, por outro lado, as proliferações de ácaros fitófagos em árvores frutíferas, plantas de grandes cultivos ou videiras, e con- secutivas à utilização de produtos fosforados ou clorados, aí incluí- dos – paradoxalmente – os próprios acaricidas (CHABOUSSOU, 1970), são por demais conhecidos para que continuemos insistindo neste assunto. Entretanto, devemos também chamar a atenção que tais prolife- rações ocorrem não somente com a utilização de inseticidas, isto é, de produtos com princípios tóxicos em relação aos inimigos naturais dos ácaros (e ainda que o DDT, por exemplo, seja inofensivo para ácaros do gênero Typhlodromus, principais predadores), mas também com os produtos fungicidas, como o Captan, não tóxicos para os para- sitas ou os predadores dos ácaros. Pulgões: diversos produtos podem, igualmente, provocar prolife- rações de pulgões (fig. 2). Por enquanto nos contentaremos em dar dois exemplos. MICHEL (1966) demonstrou experimentalmente através de criações que, sobre o fumo, os tratamentos à base de um fosforado, o Mevinphos, desencadeavam em Myzus persicae aumentos de fecundidade e redução do ciclo evolutivo. Como resultado, produ- zia-se, no curso da temporada, o aparecimento de uma geração su- plementar (fig. 2). Da mesma forma, estudando a reprodução de Aphis fabae sobre o eixo floral da beterraba, SMIRNOVA (1965) constata um efeito positivo do tratamento com DDT sobre a fecundidade do pulgão. O pico máximo deste aumento da reprodução ocorre entre oito e quinze dias após a intervenção inseticida. Veremos, adiante, que pode ocorrer o mesmo com os herbicidas, ao estudar-se o determinismo destas proliferações (MAXWELL e HARWOOD, 1961, e ADAMS e DREW, 1969).
  • 38. 38 F R A N C I S C H A B O U S S O U Outros insetos: essas multiplicações “anormais”, após tratamentos das folhas com agrotóxicos, não envolvem somente ácaros e pulgões, mas também os aleirodídeos (van der LANN, 1961) sob influência do DDT; as cochonilhas (KOZLOVA e KURDYUKOV, 1964) pelos fosforados, e também os lepidópteros, seja por um produto clorado, o Dieldrin, no tratamento do solo (LUCKMANN, 1960), seja por um fosforado, como o Demeton (SAVESCO e IACOL, 1958). Enfim, tais “doenças iatrogênicas” envolvem igualmente os nematódeos, cujos níveis de populações são evidentemente muito mais difíceis de controlar. Entretanto, certos fungicidas, como o Thiram ou TMTD, acarretam, sobre cebola, crescimento de populações de Ditylenchus dipsaci (BRESKI e MACIAS, 1967). Da mesma forma, WEBSTER (1967) demonstrou experimental- mente que, tanto em aveia resistente quanto suscetível, os tratamentos herbicidas à base de 2,4-D acarretavam, em comparação às testemunhas, um maior número do mesmo nematóide, Ditylenchus dipsaci. Saliente- se que este tratamento com 2,4-D provoca na aveia hipertrofia das cé- lulas, fenômeno provavelmente relacionado com o da proliferação. Como já se pode suspeitar, tais proliferações de pragas que ocorrem pela intermediação da planta, envolvem numerosos outros organismos parasitas, inclusive os vírus, como pensamos mostrar mais adiante.. Se, relativamente, há longo tempo, esses fenômenos foram constatados envolvendo ácaros, pulgões e cochonilhas, é porque estes insetos picadores mantêm-se sobre a planta durante toda a duração de seu ciclo evolutivo e, conseqüentemente, sua multiplicação não poderia passar desaperce- bida. O mesmo não ocorre com certas ordens de insetos como os lepidópteros, por exemplo, submetidos a metamorfoses que exigem o abandono do vegetal. Também é importante, como veremos a propósi- to do tratamento do solo, registrar – graças a observadores perspicazes – proliferações de lagartas endófitas do milho, como Ostrinia nubilalis Hb, após certas desinfecções do solo.
  • 39. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 39 B) Desenvolvimento de doenças fúngicas Sobre este assunto, os trabalhos de JOHNSON (1946), que já ci- tamos (CHABOUSSOU, 1972), parecem-nos exemplares. Desde aquela época o autor chamava a atenção que “a reação da planta hospedeira ao DDT podia abrir um novo rumo no que diz respeito ao estudo da resistência do trigo à ferrugem”. Como a seqüência desta obra demonstrará abundan- temente, pelo menos esperamos, não é somente a ação do DDT em relação à ferrugem, mas também a de diferentes agrotóxicos quanto a suas incidências positivas sobre o desenvolvimento de várias doenças nos le- varão a elucidar o determinismo da resistência da planta a seus agressores. JOHNSON (op. cit.) experimentou diversas variedades de trigo, as quais inoculou com esporos de diversas raças de ferrugem (Puccinia graminis tritici). As plantas foram, a seguir, tratadas com DDT, de- pois de ter sido previamente estabelecido que este inseticida não acarretava nenhum efeito direto sobre a virulência do fungo. Como conseqüência dessas contaminações artificiais, JOHNSON constatou que na variedade de trigo Khapli, todas as ferrugens tinham produ- zido lesões, consideravelmente, mais extensas sobre as plantas trata- das com DDT do que sobre os trigos testemunhas. Por outro lado, nesta variedade mais sensível à ferrugem, JOHNSON observou uma relação marcante entre a clorose e a exten- são da doença. Parece, assim, bem demonstrado que a exacerbação da suscetibilidade do trigo à ferrugem provocada pelo tratamento com DDT é conseqüência direta das repercussões deste produto clorado sobre a fisi- ologia da planta. Os trabalhos de JOHNSON explicam determinadas dificuldades de controle de diversas doenças, como daremos exemplos mais adiante, quando as plantas tenham sido tratadas – isto é, “fisiologicamente condicionadas” – por meio de certos agrotóxicos. É, particularmen- te, o caso do oídio (Uncinula necator, Schw). Efetivamente, pudemos mostrar sobre videira, durante dois anos consecutivos que, em com- paração às testemunhas tratadas com água pura, diversos carbamatos
  • 40. 40 F R A N C I S C H A B O U S S O U (ditiocarbamatos, como Maneb, Zineb e Propineb) tinham provo- cado um desenvolvimento altamente significativo de oídio (CHA- BOUSSOU et alii, 1966) (fig. 3). Da mesma forma, pode-se questionar a responsabilidade destes ditiocarbamatos no recrudescimento dos ataques de mofo cinzento (Botrytis cinerea) constatado há uma quinzena de anos – isto é, des- de o emprego destes fungicidas sintéticos – na maior parte dos vinhe- dos do mundo inteiro. Demonstramos isto no desenvolvimento de nossos experimentos sobre videiras. Tais resultados, alias, só confirmam os já obtidos sobre tomate, onde o Maneb, usado contra o míldio, provocou um aumento na gravidade dos ataques de Botrytis (COX e HAYSLIP, 1956). Pesqui- sas análogas, conduzidas sobre morangueiros, também mostraram que as parcelas tratadas com zinco ou com Nabam + sulfato de zinco, estavam significativamente mais atacadas por Botrytis (COX e WINFREE, 1957). Veremos, no próximo capítulo, como as análi- ses das folhas realizadas por estes autores permitirão compreender o determinismo desta suscetibilidade. C) “Dificuldades de controle”, “fracassos de tratamentos” ou, às vezes, “ineficácia dos produtos”não significam, muitas vezes, se não uma sensibilização da planta a ser protegida da doença a combater, esta produzida pelo próprio agrotóxico. 1 – Fracassos dos ditiocarbamatos contra o míldio da videira, no final da temporada A partir da utilização dos novos fungicidas sintéticos, numero- sas decepções e fracassos foram registrados no controle das doenças da videira. Assim, em 1963, AMPHOUX denunciava as insuficiên- cias do Captan, do Phaltan (2 ftalimidas) e do Zineb (2 formulações), no controle do míldio. Parece-nos útil citar: “A utilização de novos fungicidas (ou seja, as quatro formulações supracitadas) não pode ser concebida sem o
  • 41. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 41 risco de se ver desenvolver, intensamente, o míldio, durante o perío- do de crescimento muito lento da videira: em agosto, setembro e outubro, caso não se tenha o recurso de uma sólida cobertura cúprica, por ocasião dos últimos tratamentos da estação”. AMPHOUX acrescentava esta observação, que nos parece mui- to importante: “Contudo, continua difícil precisar qual deva ser esta “sólida cobertura indispensável”, já que, em certos casos, no fim da safra, três tratamentos com calda bordalesa a 2% em videiras tratadas com Orthocide 50 (Captan) mostraram-se insuficientes”. Voltaremos mais adiante, sobre as repercussões, tanto dos produtos dessa síntese, como do cobre, que nos esclarecerão sobre a causa desses fenômenos. No momento, daremos um exemplo, dentre outros: Em 1966, DIETRICH e BRECHBUHLER observaram: “em Riesling, o míldio do fim de temporada instalou-se, principalmente, sobre as parcelas tratadas com Euparen (Dichlofuanid) e com F 263-2* (um produto experi- mental) e, em menor grau, sobre aquelas de Phaltan”. Observemos, por enquanto, que nestes dois casos se trata de dificuldades de fim de temporada. No caso que estudaremos agora, veremos a evolução, na eficácia de um mesmo produto no decorrer da temporada, o que nos permitirá, precisamente, explicar a razão dessa “disparidade sazonal” na ação do produto, que também é encontrada nos inseticidas. 2 – Evolução da eficácia de diversos fungicidas no decorrer da tem- porada, em relação ao míldio da videira Após os resultados dos ensaios do Instituto Técnico do Vinho (ITV) contra o míldio, LE NAIL (1965) observou a disparidade da eficácia dos diversos fungicidas testados em relação à doença, em fun- ção da época dos levantamentos. Retomando a questão (CHA- BOUSSOU, 1967), evocávamos, em Videiras e vinhos estas repercussões * Basfungin. (N. da T.)
  • 42. 42 F R A N C I S C H A B O U S S O U apressadamente qualificadas de “secundárias”. Assim, observávamos: “Ora, todos estes fenômenos só se esclarecerão, a partir do momento em que conhecermos a natureza profunda das repercussões dos agrotóxicos sobre a planta e que pudermos confrontá-las com as respec- tivas necessidades dos fungos patogênicos e das pragas”. É chegado o momento. No decorrer destes ensaios, sete intervenções antimíldio foram realizadas, em: 25 de maio; 1º, 8, 13, 22 de junho; 1º, 10, 20 de julho e 12 de agosto. Constata-se, no curso dos diferentes levanta- mentos efetuados nos dias 17 de julho, 25 e 26 de agosto, 25 e 26 de setembro, 16, 17 e 26 de outubro(este último, levantamento envolvendo o peso das folhas), uma grande disparidade na ordem de eficácia dos produtos. Veremos, aqui, apenas as disparidades mais salientes encontradas com os produtos utilizados puros, ou seja: Propineb e calda bordalesa, em duas concentrações: 0,5% e 2%. Ora, em 17 de julho, época do primeiro levantamento após as sete primeiras intervenções, terminadas em 10 de julho, o Propineb (tam- bém chamado Mezineb) – um ditiocarbamato de zinco, é o primei- ro em eficácia. Na mesma época, a calda bordalesa a 2% está em quarto lugar, e a 0,5% em ultimo (fig. 4). Dois outros tratamentos ocorrem nos dias 29 de julho e 12 de agosto. Os levantamentos de 25 e26 de agosto indicam que o Mezineb recua ao 8º lugar, e que descerá para o 10º e último lugar, no decorrer das observações de 23 e 24 de setembro e, l6 e l9 de outubro. Exatamente ao contrário, a calda bordalesa a 5% não cessa de progredir na ordem de eficácia, à medida que se avança na tempora- da. Do 8º lugar em 13 e 14 de setembro, passa a 3° nos dias 16 a 19 de outubro. Definitivamente, ela coloca-se à frente dos produtos organocúpricos como cupro-Zineb, cupro-Carbatene, e dos produ- tos orgânicos puros como Difolatan, Maneb e Propineb.
  • 43. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 43 Face à mediocridade desses resultados, dos produtos orgânicos utilizados, seja associados ao cobre seja empregados puros, não fal- tou invocar-se uma eventual ausência de sua persistência, se compa- rada à da calda bordalesa. Contudo, as análises dos produtos que persistem na superfície das folhas, absolutamente não confirmaram esta hipótese. E mais, com certos produtos “ineficazes” registra-se, entre os levantamentos de 17 de julho e 26 de agosto, 25 a 30 vezes mais manchas de míldio. As parcelas tratadas com Mezineb não apresentaram mais que 7,3% de folhas sãs em 23 e 24 de setembro. É evidente que, neste caso, absolutamente, não se trata de uma simples ineficácia dos produtos orgânicos, mas – exatamente como para oídio e Botrytis – de uma estimulação do potencial biótico do míldio provocada, indiretamente, pelas repercussões dos tratamentos repetidos com esses “fungicidas” sobre a fisiologia da planta, assunto que estudaremos ao longo do próximo capítulo. 3 – Disparidade da eficácia de Oxicarboxin e de Triforine em rela- ção à ferrugem branca do crisântemo (Puccinia horiana, P. HENN) Trata-se de trabalhos realizados por GROVET e HALLAIRE (1973) sobre plantas em casa de vegetação. Os produtos foram uti- lizados em pulverização sobre a folhagem ou por irrigação do solo, à razão de 10 litros/m2 . Os autores consideraram um eventual efeito fungicida por ação sistêmica. Resultados dos tratamentos por pulverização. No momento da pulverização, os pés de crisântemo possuíam 8 a 10 folhas, e tinham de 14 a 18 na época da inoculação da doença. De modo geral, o Oxicarboxin apresenta um efeito persistente: um só tratamento, aplicado durante o período de incubação, impede o desenvolvimento da ferrugem e protege as plantas durante vários dias, uma contami- nação ulterior. Entretanto, de maneira bastante excepcional, os autores avalia- ram a gravidade da doença não somente em função dos produtos
  • 44. 44 F R A N C I S C H A B O U S S O U utilizados mas, também, segundo a idade das folhas. Assim, puderam constatar, especialmente sobre as testemunhas, uma resistência à doença nas folhas recém-formadas, semelhante à das senescentes. Ao contrário, as folhas de meia-idade (maduras) mostraram-se muito mais sensíveis à doença. Precisemos que tal fenômeno é de ordem geral, especialmente na videira, tanto para o míldio como para o oídio. Isto demonstra bem, se ainda houvesse necessidade, a impor- tância do estado fisiológico do órgão ou da planta inteira na sensibi- lidade ao que se pode chamar de seus “parasitas” (fig. 5). Por outro lado, no que diz respeito ao determinismo do modo de ação dos produtos, nota-se um fenômeno particularmente interessan- te: a eficácia dos dois fungicidas testados revela-se muito diferente, segundo a altura de inserção da folha, isto é, segundo sua idade. O gráfico da fig. 6, montado com base nos dados da fig. 5, mostra que a eficácia da Triforine está inversamente relacionada à idade da folha, a ponto de se tornar estimulação da doença para os níveis 12 e 13, que são as últimas folhas formadas. Estes resultados, absolutamente, não são isolados: num segun- do ensaio, três tratamentos foram aplicados em 26 de julho e, 5 e 16 de agosto. Ora, vinte e seis dias após o último tratamento, o núme- ro de manchas formadas, em função da idade da folha, dá um gráfi- co sensivelmente análogo ao do experimento precedente. Assim, a aplicação de três tratamentos ao invés de um só, à base de Informe, a 30 g/hl, permitiu a proteção da planta até uma altura mais elevada (10 folhas). A curva relativa aos ataques sobre as teste- munhas evidencia a total resistência à ferrugem dos seis níveis mais baixos das folhas. Quando comparadas às testemunhas, as repercussões dos fungicidas mostram uma modificação na doença que envolve, ao mesmo tempo, sua gravidade e a altura das folhas. Se, como para o experimento precedente, se estabelece, uma comparação à testemu- nha, se a eficácia ocasionada pelos tratamentos produz curvas perfei-
  • 45. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 45 tamente contínuas e que mostram bem o decréscimo da eficácia dos produtos em função da juventude crescente dos tecidos foliares (fig. 6). Como no caso precedente, parece que o processo teria por efeito estimular a suscetibilidade das últimas folhas formadas na planta. Parece bem demonstrado que esta estimulação da doença – e isto tanto com Oxicarboxin como com Triforine – não seria explicável senão pelo efeito destes “fungicidas” sobre a fisiologia do crisântemo. Nessas condições, a ação anticriptogâmica destes produtos con- tra a ferrugem nas outras folhas não seria resultado de um eventual efeito tóxico em relação ao fungo parasita. Necessariamente, seria interferência das repercussões destes agrotóxicos sobre o estado bioquímico das folhas. Em princípio, tratar-se-ia de uma ação inversa à do DDT sobre o trigo, que estudamos anteriormente. Antecipan- do o próximo capítulo, pode-se presumir que estes produtos ajam estimulando a proteossíntese e, portanto, provocando a regressão das substâncias solúveis nos tecidos. Essas substâncias soluveis favorecem não apenas o desenvolvimento da ferrugem, mas também o de uma série de outras doenças (DUFRÉNOY, 1936). Ora, fenômenos semelhantes são encontrados constantemente, por menor que seja o cuidado na condução das observações. Vamos dar um último exemplo, que diz respeito ao controle do míldio do tomate. 4 – Resultados do Prothiocarb contra o míldio do tomate BEYRIES e MOLOT (1977) concluem, dos seus experimentos com Prothiocarb contra o míldio do tomate, que, nas fortes doses utilizadas, entre 1% e 2% as folhas superiores são resistentes, enquanto que as da base são sensíveis. Segundo os autores, isto significa que ou no ápice da planta há maior concentração do produto, admitindo- se que ele seja verdadeiramente fungicida ou, neste nível, “as modi- ficações dos processos naturais de defesa da planta são bem mais intensos que em outras áreas”.
  • 46. 46 F R A N C I S C H A B O U S S O U Estes autores parecem admitir, implicitamente, que o agrotóxico pode ter modificado, favoravelmente, neste caso, a resistência da planta à doença, quando esta regride. Ou num sentido desfavorável, em caso contrário. BEYRIES e MOLOT (op. cit.) observam igual- mente que: “A aplicação, no solo, do Prothiocarb aumenta a sensibi- lidade das folhas da base – que são as primeiras atacadas – em razão da forte umidade relativa existente neste nível”. Falaremos novamente dos fracassos propriamente ditos dos tra- tamentos e do desenvolvimento de moléstias fúngicas, bacterianas e viróticas relacionadas ao uso dos agrotóxicos. Poderemos tratar me- lhor destas questões após havermos estudado as repercussões dos agrotóxicos sobre a fisiologia da planta e, através da teoria da trofobiose, as relações que unem a planta e seus predadores.
  • 47. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 47 Número de F. Livres hibernantes De E. carpini vitis Boisd., em 800 cm em lenho de 2 anos Fig 1. Multiplicação do ácaro amarelo da videira, Eotetranychus carpini vitis Boisd por Carbaryl e Parathion (Carbaryl = Sévin) (CHABOUSSOU, 1969.)
  • 48. 48 F R A N C I S C H A B O U S S O U População do pulgão preto Fig. 2. Multiplicação do pulgão preto da beterraba, Aphis fabae Scop., consecutiva a diversos tratamentos com agrotóxicos (Dados do Serviço da Proteção de Vegetais/experimentos de homologação de 1964.) Ordenadas logarítmicas.)
  • 49. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 49 Coeficiente de ataque em 400 cachos Fig. 3. Coeficientes de ataque de oídio sobre cachos de uva, em função dos diferentes fungicidas utilizados contra o míldio. (Cepa Cabernet-Sauvignon, método de blocos, 4 repetições. Ensaios 1966, em Latresne [INRA].)
  • 50. 50 F R A N C I S C H A B O U S S O U Cepa peso das folhas em gramas Fig. 4. Resultados dos experimentos de controle de míldio, con- duzidos em 1964 pelo Institut Technique du Vin (ITV). Este esque- ma dá, em diversas datas, a ordem de eficácia dos produtos testados, por ordem decrescente da esquerda para a direita.
  • 51. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 51 Número médio de manchas por folhas Fig. 5. Repercussões de dois fungicidas, Triforine e Oxicarboxin, em relação à ferrugem branca do crisântemo (Puccinia horiana), em fun- ção da idade da folha. (Segundo dados de GROUET e HALLAIRE, 1973.) – Número médio de manchas por folha, em função da sua idade e dos tratamentos aplicados em uma unica pulverização. (observação 15 dias após tratamento).
  • 52. 52 F R A N C I S C H A B O U S S O U Percentual de Eficácia, em comparação às testemunhas Fig. 6. Eficácia de Oxicarboxin e de Triforine contra a ferrugem branca do crisântemo (Puccinia horiana), e em função da idade da folha, comparada às testemunhas. (Segundo dados de GROUET e HALLAIRE, 1973.)
  • 53. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 53 BIBLIOGRAFIA ADAMS J.B. et DREW M.E. 1969. Grain aphids in New Brunswick. IV. Effects of malathion and 2-4 D amine on aphid populations and on yields of oats and barley. “Cand j. Zool.”, 47, p. 3. AMPHOUX M. 1963. Le Mildiou de laVigne. Publication I.T.V. BEYRIESA.etMOLOTP.M.1976. Relationentrelasystémieduprothiocarbetson efficacitévis-à-visduPhytophthorainfestansdelaTomate(partraitementdusol). “Phytiatrie-Phytopharfie” 25, pp. 235-249. BREZESKIM. W. et MACIAS W. 1967. The increased attack of Ditylenchus dipsaci on onion caused by fungicides. “Nematologia”, 13, p. 322. CHABOUSSOUF.1966. Nouveauxaspectsdelaphitiatrieetdelaphytopharmacie. Lephénomènedelatrophobiose.“Proc.F.A.O.Symposiumofintegratedcontrol”, 1, pp. 36-62. CHABOUSSOU F. 1967. Etude des répercussions de divers ordres entrainées par certains fongicides utilisés en traitement de laVigne contre le mildiou. “Vignes et Vins”, no 160 e no 164, 22 p. CHABOUSSOU F., MOUTOUS G. et LAFON R. 1968. Répercussions sur l’Oidium de divers produits utilisés en traitement fongicide contre te mildiou de la Vigne. “Rev. Zool. Appl.”, pp. 237-249. CHABOUSSOU F. 1969. Recherches sur les facteurs de pullulation des Acariens phytophagesdelaVigneàlasuitedestraitementspesticidesdufeuillage.“ThèseFac. Se”., Paris, 138 p. CHABOUSSOU F. 1970. Sur le processus de multiplication des Acariens par les acaricides phosphorés. “Rev. Zool. Agric. Path. Veg.”, pp. 33-44. CHABOUSSOU F. 1972. LaTrophobiose et la protection de la Plante. “Revue des Questions scientifiques”, Bruxelas, t. 143, pp. 27-47 e 175-208. COX R.S. etHAYSLIPN.C.1958. Progress in the control of grey mold and leaf spot and on the chemical composition of strawberry plant tissues. “Plant disease reporter”, 40, p. 718. COX R.S. et WINFREE J.F. 1957. Observations on the effect of fungicides on grey mould and leaf spot and on the chemical composition of strawberry plant tissues. “Plant disease reporter”, 41, pp. 755-759. DIETRICHetBRECHBUHLER1966. RapportsurlesessaisconduitssurlaVigne
  • 54. 54 F R A N C I S C H A B O U S S O U en 1966. “Institut du Vin et lnstitut Viticole Oberlin”, Colmar. DUFRENOY J. 1936. Le traitement du sol, désinfection, amendements, fumure, en vuedecontrôlerchezlesPlantesagricolesdegrandeculturelesaffectionsparasitaires et les maladies de carence. “Ann. Gron. Suisse”, pp. 680-728. GROUETD. etHALLAIREL.1973.Efficacité de l’oxycarboxine et de la triflorine contre la Rouille blanche du Chrysanthème (“Puccinia Horiana”, P. Hevin). “Phytiatrie Phytopharmacie”, 22, pp. 177-188. JOHNSONT.1946.TheeffectofD.D.T.onthestemrust.ReactionofKhapliwheat. “Canad. J. Res.”, pp. 24-28. KOZLOVA E.N. et KURDYNKOV. 1964. The effect of organophosphorus insecticides on the developpement on Comstock’s mealybug. “Trudy vsee Inst. zahsch”. 20 pt., pp. 2l-24, Leningrado. (In “Rev. Appl. Ent.”, 1966, p.320) LE NAIL F. 1965. Efficacité comparée de divers fongicides à l’égard du mildiou de la Vigne. “La Défense des Végétaux”, no 113, pp. 4-5. LUCKMANNW.H.1960.IncreaseofEuropeancomborerfollowingsoilapplication of large amounts of dieldrin. “J. Econ. Ent.”, t.59, 4, pp. 582-584. MAXWELLR.C.etHARWOODR.P.1960.Increasereproductionofpea-aphidin broad beans treated with 2-4D.“Ann.Ent.Soc.Amer.”,53, no 2,pp.199-205. MICHELE.1966.ProliférationanormaleduPuceronMyzuspersicaeélevésurTabac traité à la phosdrine. “Rev. Zool. Agric.”, 14,6, pp. 53-62. SAVESCU A. et IACOL N. 1958. Do systemic insecticides stimulate infestations of Plusia orichalcea Fabr. in potatoes? (“Comm. Acad. Republ. roumaine”, 8, nº 6, pp. 593-9.) SMIRNOVAI.M.1965.Therelationofthebeanaphid(AphispomiSe.)tothecontent ofsugarsandnitrogenussubstancesinbeetplantstreatedwithD.D.T.“Trudyvses nonkew. isseld; Inst. Zasheh. Rast.”, Leningrado, 34, pp. 124-129. VanderLAANP.A.1961.StimulationseffectsofD.D.T.treatmentoncottononwhite files(BenisiaTabaciGenn.Aleurodidae)intheSudanGezira.“Ent.exp.appl.”, 4, pp. 47-55. WEBSTER J.M. 1967.Some effects of 2-4 dichlorophenoxyacetate acid herbicide on nematode-infestedcereals:Ditylenchusdipsaci, “PlantPathol.”,16,1,pp.23-26.
  • 55. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 55 INTRODUÇÃO Acreditamos ter mostrado que a proliferação de pragas e, com mais forte razão, o desenvolvimento de doenças, desencadeadas pelo uso de agrotóxicos, não poderiam ser explicados somente pela destruição dos eventuais inimigos naturais. No quarto capítulo, nos propomos a ex- por suas causas tão profundamente quanto possível. Já sabemos que se trata de fenômenos indiretos, que se atêm à modificação da fisiologia da planta sob a ação dos produtos fitossanitários; quer se tratem de inseticidas, de fungicidas e, com mais forte razão, dos herbicidas. Assim, coloca-se em questão o problema das relações entre a planta e o que podemos justamente chamar; seus “parasitas”. Estudando-o através de um caso particular compreenderemos melhor toda a importância das repercussões dos agrotóxicos sobre a saúde e a resistência do vegetal assim tratado... E, freqüentemente, maltratado! CAPÍTULO II FISIOLOGIA E RESISTÊNCIA DA PLANTA “O grande erro da terapêutica moderna foi estudar a doença sem se preocupar com o terreno onde ela evolui” Dr. Albert LEPRINCE (La médicine électronique, 1962). “Este trabalho (seleção de linhagens resistentes dentro das populações) é, aliás, delicado, porque a imunidade, a tolerância e a hipersensibilidade são funções das condições do meio”. P. LIMASSET e E.A. CAIRASCHI (La lutte contre les maladies à vírus des plantes. Monografia INRA, 1941.)
  • 56. 56 F R A N C I S C H A B O U S S O U 1. AS DUAS CONCEPÇÕES DO DETERMINISMO DA RESISTÊNCIA Pelo termo “resistência” não entendemos a capacidade da planta de suportar, sem muitos danos, o ataque deste ou daquele predador, e, pelo termo “tolerância”, a não receptividade ou imunidade (parcial ou total). Atualmente, há concordância em se reconhecer neste fenômeno uma causa sobretudo, bioquímica, e não mecânica. Contudo, duas concepções estão presentes para explicar este processo. Segundo a teoria clássica, a resistência da planta procederia da presença de substâncias antagônicas nos seus tecidos, tóxicas ou apenas repulsivas ao “parasita” em questão. Ao contrário, para nós que destacamos toda a importância da nutrição sobre o potencial biótico dos organismos vivos, a imunida- de estaria, antes de mais nada, relacionada com a ausência dos ele- mentos nutritivos necessários ao crescimento e ao desenvolvimento do parasita – seja vegetal ou animal. É a nossa teoria da trofobiose, que desenvolveremos no decorrer do próximo capítulo. É possível perguntar-se em que medida essas duas teorias não pode- riam concordar entre si, já que, na presença de substâncias reputadas como tóxicas ou antagônicas nos tecidos, encontrar-se-iam, na realidade, correlacionadas à ausência de fatores nutricionais. Se isto fosse demons- trado, seria o único critério a ser considerado para a resistência da planta. Veremos em que medida justifica-se tal posição, pelo estudo de um exemplo, o da resistência do milho à helmintosporiose. 2. CONDICIONAMENTO FISIOLÓGICO DO MILHO E RESISTÊNCIA À HELMINTOSPORIOSE A) Pesquisa de fatores antagônicos O estudo de um determinado condicionamento da planta como fator de resistência à helmintosporiose foi ilustrado pelos trabalhos
  • 57. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 57 de MOLOT (1969) – já vimos que em suas pesquisas sobre a eficá- cia de um fungicida, o Prothiocarb questionava o seu modo de ação. Quanto à resistência do milho ao fungo Helminthosporium turcicum, diversos fatores foram revisados: densidade de plantio, emasculação da espiga e duração da luminosidade. O determinismo bioquímico da resistência foi pesquisado pela análise de folhas, que envolveu açúcares e fenóis, elementos provavelmente relacionados ao processo. Na França, frisa MOLOT, esta doença só afeta, raramente, as culturas de Landes e dos Pirineus-Atlânticos. Em condições naturais, a doença jamais é observada sobre plântulas. As primeiras manchas só aparecem em torno do estágio da 7ª e 8ª folha, e continuam a se desenvolver após a floração. As folhas atacadas podem se dessecar prematuramente provocando, às vezes, importantes quedas nos rendimentos. Por outro lado, as condições de luminosidade (ou seja, o fotoperíodo), como se sabe, efetivamente, podem modificar a resistência da planta às doenças fúngicas e influem sobre a suscetibilidade do milho à helmintosporiose. Assim, as plantas cultivadas sob fotoperíodos curtos são muito mais sensíveis à moléstia. Teremos ocasião de retomar este fenôme- no, que não é específico nem do milho, nem da helmintosporiose. Após ter exposto estes primeiros dados, MOLOT conclui: “Pa- rece ser a composição química da planta que exerce uma influência pre- dominante nos fenômenos de resistência”. Portanto, não se trata de qualquer barreira mecânica no processo de resistência. Por outro lado, refere-se a diversos trabalhos, que estabelecem: a) existe um gradiente de teores em glicídios ao longo do colmo; b) essa concentração de açúcares condiciona a resistência do milho em relação a um outro fungo patógeno, Diplodia zeae. MOLOT orientou seus trabalhos sobre a pesquisa das eventuais relações entre o teor em glicídios dos colmos e a resistência a outras doenças, as fusarioses. É necessário resumir os resultados desses es- tudos, ainda que saiamos do caso da helmintosporiose.
  • 58. 58 F R A N C I S C H A B O U S S O U MOLOT (op. cit.) chega à conclusão que “quanto mais elevada for a concentração em glicídios dos colmos em fim de período vegetativo, mais baixa será a percentagem de quebra na maturidade”. (Estas con- clusões resultam de observações sobre 17 linhagens, em que os teores de glicídios foram avaliados em 15 de setembro, enquanto a avaliação da quebra – que se admite estar em estreita relação com a doença – foi feita em meados de outubro, ou seja, um mês mais tarde.) Entretanto, tal conclusão não existe sem levantar certas dificul- dades que não escaparam a seu autor. MOLOT completa: “Ora, os glicídios, compostos importantes da nutrição carbonada dos fungos, favorecem o crescimento miceliano. Portanto, pelo menos nas con- centrações em que eles existem, não é possível atribuir-lhes um pa- pel fungistático. Ao contrário, é permitido pensar que eles variam correlativamente com outros fatores bioquímicos capazes de inibir o crescimento miceliano”. Temos que subscrever esta conclusão, mas devemos confirmar, enfaticamente, que é sob um outro ângulo, bem diferente da ação de eventuais substâncias antagônicas ou tóxicas, que divisamos os pro- blemas do determinismo da resistência. E, os resultados relatados adiante podem, aliás, conduzir-nos, como no estudo que vamos abordar,aos fatores de resistência do milho à helmintosporiose. B) O “fator A”, de BECK, e a resistência do milho à lagarta e à helmintosporiose O “fator A”, posto em evidência por BECK, no milho, determi- naria a resistência à lagarta (Ostrinia nubilalis Hb). Trata-se de um produto quimicamente identificado como 6-metoxibenzoxazolinona e que teria também correlação negativa com o grau de sensibilidade à helmintosporiose. (Estimativa pelo método das médias das concen- trações logarítmicas). MOLOT (op. cit.) observa: “Do ponto de vista biológico, isto significa que o comportamento do milho está na dependência da
  • 59. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 59 concentração do fator A nos tecidos. Notemos, entretanto, que teores muito elevados desta substância, principalmente na linhagem B 49 não tornam a planta imune. Além disto, uma linhagem ainda mais resistente que a B 49, contém muito pouco de 6-metoxibenzoxazolinona. Conclui- se que, se o fator A pode ser considerado como um fator de resistên- cia à helmintosporiose, ele não intervém sozinho no mecanismo de defesa da planta”. Parece que com tais observações – cuja honestidade científica deve ser louvada – chegamos ao âmago do problema. Isto implica que a existência de uma resistência elevada do milho, mesmo com um fra- co teor nos tecidos do fator A, não poderia ser considerada como uma exceção, que, em gramática, pareceria confirmar a regra.. Se elevados teores do fator A não produziriam resistência, e se em outras linha- gens a resistência manifesta-se, a despeito de um baixo teor de 6- metoxibenzoxazolinona (cuidadosamente identificada), é porque este produto não provoca nenhuma toxicidade em relação ao fungo patógeno. Voltamos, obrigatoriamente, à nossa concepção de resistência relacionada com a ausência ou, pelo menos, a carência dos elemen- tos nutritivos necessários ao desenvolvimento do parasita. Em relação ao processo de resistência do milho a Ostrinia, SCOTT e GUTHRIE (1966) parecem tê-lo demonstrado perfeita- mente. Suplementados com uma dieta artificial adequada, os milhos resistentes foram perfeitamente aceitos pelas lagartas de Ostrinia nubilalis. Este regime alimentar permitiu-lhes completar um ciclo perfeito, absolutamente comparável ao que poderia ter-se desenvolvido às expensas de uma linhagem suscetível. Portanto, aí está a demonstração de que, se um inseto não ataca as linhagens de milho ditas “resistentes”, é porque ele não encontra nos tecidos dessas plantas (N. do R.) os elementos nutritivos necessários para seu desenvolvimento e sua reprodução. E isto, sem que estejam presentes, obrigatoriamente, eventuais produtos tóxicos nos tecidos.
  • 60. 60 F R A N C I S C H A B O U S S O U Aliás, o próprio BECK parece ter-se dado conta da insuficiência de sua teoria da imunidade da planta pela existência de substâncias antagô- nicas; ele reconhece que “pesquisas deveriam ser empreendidas envolven- do um melhor conhecimento das relações entre a nutrição do inseto, o estado fenológico da planta e o comportamento do animal”. Bem entendido, é o mesmo processo que deve ser posto em ação no que diz respeito ao estudo das relações entre o fungo patógeno e a planta. Em outros termos, o problema consiste em determinar como o fator A pode inibir o desenvolvimento da helmintosporiose se ele não é, realmente, um fungicida (os fitopatologistas têm prefe- rido empregar os termos anticriptogâmico ou fungistático, o que nos parece significativo). Em outras palavras – e toda a questão está aí, em relação a uma planta ou uma linhagem resistente, no caso, o milho – o fungo para- sita morre envenenado ou perece de inanição? A resposta a esta questão parece estar na terceira parte do trabalho de MOLOT, que envolve o que ele denomina: “o modo de ação dos compostos fenólicos”. Revisando os trabalhos anteriores referentes à resistência do milho à helmintosporiose, MOLOT lembra que: “O crescimento miceliano em presença de compostos fenólicos depende da cultura (KIRKHAM, 1957) e da presença ou ausência de nitrogênio no meio (KIRKHAM, 1954). Assim, um aumento da relação N/fenóis diminui a toxicidade dos compostos fenólicos em relação ao gênero Venturia. Um aporte de nitrogênio afeta, não somente a toxicidade dos fenóis, mas também sua concentração na planta”. Eis aí sobre o que refletir, quanto ao mecanismo da resistência de compostos fenólicos. Se realmente agem como tóxicos, é neces- sário então, explicar como a adição de certos produtos nitrogenados pode ter a função de contraveneno? Sabe-se – como observa o pró- prio MOLOT – que certos fungos, especialmente os que atacam a madeira, usam os fenóis e seus derivados como substâncias nutri- tivas...
  • 61. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 61 Entretanto, a toxicidade dos fenóis em relação ao fungo, absolu- tamente não nos parece demonstrada e, o papel nutricional do nitro- gênio nos parece, ao contrário, evidente no desenvolvimento e na virulência de Helminthosporium. Os fatos nos parecem muito fáceis de explicar se os consideramos sob o ângulo do crescimento e da reprodução do agente patógeno. É isto que nos propomos a estudar agora, analisando os resultados obtidos pelo tipo de fertilização so- bre a resistência da planta à helmintosporiose. C) Fertilização e resistência da planta à helmintosporiose. Analisaremos antes o trabalho aprofundado de SHIGEYASU Akai (1962), relativo à influência das repercussões potássicas sobre a helmintosporiose do arroz. Anteriormente, ele observa que, certos autores,como ONO e OKAMOTO, já haviam mostrado que a apli- cação de potássio provoca uma diminuição do número de manchas de Helminthosporium sobre as folhas. Os experimentos de SHIGEYASU (op. cit.) foram desenvolvidos a partir do arroz cultivado em solução nutritiva e tratado de manei- ra a ser submetido a excessos ou carências de N ou de K. Ora, a menor percentagem de manchas de grandes dimensões foi constatada com o tratamento “excesso de K”, enquanto a mais elevada foi encontra- da nos tratamentos para “carência de K” ou “carência de N”. Por outro lado, a natureza da fertilização afeta igualmente a taxa de germinação dos conídeos. De 37,7% nas testemunhas, passa a 25,3% para o “excesso de K”, a 51,0% para a “carência de K”, a 74,3% para “o excesso de N” e, enfim, a 90,4% para a”carência de N”. Estes dados destacam a importância do condicionamento da planta pela fertilização, em relação à resistência à doença. Neste caso, evidenciam a influência primordial do nível de potássio sobre a re- sistência, por intermédio – como veremos agora – de suas repercus- sões no teor dos elementos nitrogenados solúveis nos tecidos.
  • 62. 62 F R A N C I S C H A B O U S S O U SHIGEYASU (op. cit.) realizou com efeito, análises de folhas (sadias e doentes); um a cinco dias após a inoculação da doença. Essas análises foram conduzidas, simultaneamente, sobre o teor de K e de diversos aminoácidos livres como glutamina, asparagina e alanina. Ora, de maneira geral, verifica-se que as folhas atingidas contêm nitidamente menos aminoácidos que as folhas sadias. Presume-se que esta deficiência resulta de seu consumo pelo fungo parasita. O autor observa que: “A taxa de germinação dos conídeos é proporcional à quantida- de de aminoácidos livres contidos nas folhas e, quanto mais elevado for o teor de aminoácidos livres, mais alta será a taxa de germinação” (dos conídeos, N. do R.). Quanto ao teor de potássio nas folhas, parece ter pouca impor- tância, ao menos a partir de um certo nível. Isto confirmaria o fato de que este elemento não agiria, por si próprio, sobre a resistência, mas por intermédio de suas repercussões sobre o metabolismo da planta. Por outro lado, registra-se “uma correlação positiva entre o teor de aminoácidos dibásicos das folhas do arroz e o crescimento das manchas de helmintosporiose”. O autor acrescenta: “Neste experi- mento, o teor de aminoácidos dibásicos era baixo. Ao contrário, as folhas de arroz das parcelas com carência de potássio e de nitrogênio apresentavam quantidades importantes de aminoácidos dibásicos e um número elevado de manchas de Helminthosporium, de pequenas dimensões”. Após ter observado que as folhas da parcela com excesso de nitro- gênio apresentavam os teores mais elevados de alanina, SHIGEYASU (op. cit.) conclui: “Se a atividade de síntese das proteínas, a partir de aminoácidos livres, decresce nas plantas deficientes em potássio – como já foi demonstrado por diversos autores em várias plantas – este fenô- meno pode favorecer o desenvolvimento de manchas sobre as folhas de arroz das parcelas com carência de potássio”.
  • 63. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 63 Observemos rapidamente este processo que une a sensibilidade da planta a uma deficiência na proteossíntese. Em resumo e com efeito, devido ao papel fundamental que desempenha no metabolismo da plan- ta e especialmente nos metabolismos glicídico e fosfatado e devido ao paralelismo entre o teor de potássio e a intensidade da fotossíntese, o potássio encontra-se na base de um metabolismo ligado à resistência da planta, pelo favorecimento da síntese de proteínas e, conseqüentemen- te, pela regressão das substâncias solúveis que acarreta. Encontra-se, pois, na base de um metabolismo ligado à resistência da planta. Torna-se necessário precisar que o potássio não age só, mas sim segundo seu equilíbrio com os outros elementos, especialmente catiônicos (CHABOUSSOU, 1973). Assim, SHIGEYASU (op. cit.) observa, no arroz, a importância do antagonismo K/Mg. Da mesma forma deve-se considerar a influência do Mg e do P nas parcelas onde a relação K/N está desequilibrada por um excesso de N. Enfim, o autor também procedeu a ensaios de fertilização com oligoelementos. Os primeiros resultados evidenciaram que: “A sen- sibilidade à helmintosporiose diminui pela aplicação de iodo, zinco e manganês. Além disso, estes tratamentos parecem ter efeito favorável so- bre o desenvolvimento vegetativo”. Um comentário impõe-se imediatamente: não é por acaso que esta terapia com oligoelementos age positivamente sobre o crescimen- to, isto é, sobre a proteossíntese. É este último processo que acarreta a resistência da planta à moléstia, por regressão das substâncias so- lúveis nos tecidos. Voltaremos a este ponto fundamental ao longo deste livro, especialmente no próximo capítulo. Prosseguindo sua análise, SHIGEYASU (op. cit.) precisa que o excesso de fósforo, a adição de cobalto e a carência de magnésio au- mentam a sensibilidade do arroz ao Helminthosporium. Este fato leva- o a concluir que é absolutamente impossível discutir sobre a sensibilidade do arroz em relação a este parasita, apenas sob o ângu- lo da fertilização potássica.
  • 64. 64 F R A N C I S C H A B O U S S O U Este ponto de vista – a priori bastante evidente – encontra-se confirmado pelos trabalhos de BOGYO (1955), que tratam da in- fluência dos aportes de potássio e cálcio sobre a aparição e a gravida- de de Helminthosporium turcicum em milho. De maneira geral, enquanto o potássio aumenta a resistência, o cálcio agrava a sensibi- lidade. Este fenômeno parece ter relação com o equilíbrio K/Ca na planta, do que falaremos mais adiante. Um ponto importante subli- nhado pelo autor: “uma vez que a planta disponha de quantidades suficientes de potássio assimilável, a cal aplicada em doses crescentes não provoca aumento da doença”. Quer dizer, esta é toda a importância dos fenômenos de troca e assimilação no metabolismo e resistência da planta. Em resumo, dois anos de experimentos permitem a BOGYO con- cluir: “A adubação potássica bem como o uso de esterco permitem uma dimi- nuiçãosignificativadagravidadedosataquesdeHelminthosporiumturcicum”. Retenhamos, por enquanto, este efeito benéfico da fertilização orgânica sobre a resistência da planta em relação à doença: a isto, igualmente, voltaremos ao longo desta obra. Definitivamente, os resultados de BOGYO e SHIGEYASU en- contram-se para confirmar a ação benéfica da fertilização potássica, quando esta é feita num contexto nutricional da planta, caracterizado por um ótimo de proteossíntese. Ou seja, correlativamente, com a existên- cia nos tecidos de, um mínimo de substâncias solúveis sensibilizadoras. Esta concepção de determinismo bioquímico da resistência será confirmada, a seguir, pelo estudo das relações entre determinados fato- res ambientais ou culturais e a resistência do milho à helmintosporiose. D) Determinismo bioquímico das repercussões de diversos fatores sobre a resistência do milho à helmintosporiose 1 – Idade da planta Como assinalado anteriormente, as plantas jovens de milho ja- mais são atacadas: as primeiras manchas, com efeito, só se desenvol-
  • 65. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 65 vem ao nível da 7ª e 8ª folhas, continuando a se estender após a floração. Ora, sabe-se que em todas as folhas jovens a síntese protéica é predominante, daí ter-se um mínimo de substâncias solúveis nos te- cidos. Aqui, ainda, a resistência também está ligada a um fenômeno de carência em elementos nutricionais em relação às necessidades do fungo parasita. Propomo-nos a mostrar neste trabalho que se trata de um fenômeno de ordem geral. Quanto ao processo inverso, ‘da suscetibili- dade aos ataques de parasitas de diversas ordens, parece que se explica pela existência de um estado bioquímico caracterizado, ao contrário, qualquer que seja o fator em jogo, por uma proteólise dominante e pela abundância de substâncias solúveis nos tecidos. Assim se explica, notadamente, como veremos adiante, a carac- terística sensibilidade na época da floração, tanto nos cereais como nas árvores frutíferas. Inversamente, a resistência das folhas maduras a doenças e insetos sugadores, como os pulgões, parece ligada ao fato de, nestes órgãos maduros, a maior parte do nitrogênio estar concentrada em proteí- nas e, conseqüente-mente, o teor em compostos solúveis ser relativa- mente baixo. 2 – Influência da luminosidade A energia luminosa apresenta uma influência positiva sobre as sínteses. Ao contrário, com luminosidade alterada e em penúria de água estas são reduzidas. Neste caso, a abundância de aminoácidos e ácidos orgânicos é que sensibiliza nutricionalmente a planta em relação aos organismos patogênicos. A influência da luminosidade é confirmada pelo do fotoperíodo e, portanto, em condições iguais, à da latitude. MOLOT lembra que se YOUNG et. alii. (1959) assinalam um crescimento de sensibilidade do milho à Diplodia zeae quando se desloca um mesmo híbrido de um estado do norte dos Estados Unidos, como Minnesota, para um estado mais meridional, como o
  • 66. 66 F R A N C I S C H A B O U S S O U Missouri ou Oklahoma, é porque a latitude diminui e, com ela, o comprimento do dia. Parece se tratar de um fenômeno de ordem geral. Assim, UMAERUS 1959) assinala que a variedade de batata “Sebago”, con- siderada como altamente resistente em dias longos, no Maine, mos- tra-se, ao contrário, uma das variedades mais suscetíveis à requeima (Phytophthora infestans) em dias curtos, na Flórida. 3 – Influência da emasculação da espiga Esta operação, segundo MOLOT (op. cit.), tem por objetivo aumentar a sensibilidade do milho em 25% em relação à helmintos- poriose. Ora, o corte deste órgão reprodutor tem por resultado au- mentar o teor de glicídios das folhas, porque sua migração para os órgãos reprodutores não ocorre mais. Todavia, os glicídios não são os únicos a não mais migrarem; ocorre o mesmo com os compostos nitrogenados solúveis. Como chegamos à conclusão de que, sozinho,o teor de glicídios nos tecidos não afetaria a resistência, somos induzi- dos a pensar que ela possa estar inversamente relacionada ao teor em compostos nitrogenados solúveis. A operação de emasculação acarreta, provavelmente, uma regressão dessas substâncias. 4 – Influência da região de cultivo Com a mudança de região, é evidente que certas condições de cultivo encontram-se simultaneamente modificadas. Isto ocorre com a latitude, sendo a energia recebida pela planta diferente. Não é impossível que esta influência possa interferir na França, apesar das diferenças de latitude estarem longe de alcançar a mesma escala que nos Estados Unidos (oito (8) paralelos, em vez de 17 nos Estados Unidos). Todavia, os departamentos de Landes e Pirineus-Atlânticos, regiões assinaladas por MOLOT como as mais atacadas pela helmintosporiose, são também as mais meridionais. Este fenômeno concordaria, portanto, com o fato de uma grande sensibilidade des-
  • 67. P L A N T A S D O E N T E S P E L O U S O D E A G R O T Ó X I C O S 67 te mesmo milho em relação a Diplodia ou da batata à requeima, nos estados do sul dos Estados Unidos. Vimos, estudando as repercussões da fertilização potássica ou nitrogenada, que a nutrição da planta pode estar igualmente em discussão. Vimos também, a importância dos oligoelementos. Em Landes, onde a helmintosporiose ataca com maior intensidade, os solos – silicosos – são particularmente deficientes em cobre,. carência esta que tem por resultado aumentar o teor dos tecidos em produ- tos nitrogenados solúveis e, portanto, em elementos nutricionais suscetíveis de sensibilizar o milho em relação a diversas moléstias e especialmente à helmintosporiose. Confirmaremos estas considerações, pelas conseqüências benéficas resultantes das correções do solo e de pulverizações cúpricas ou à base de complexos de oligoelementos, em relação àquilo que se pode chamar “estado geral” da planta e sua resistência contra toda uma gama de doenças ou pragas. 3. DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES REFERENTES ÀS RELAÇÕES ENTRE O MILHO E A HELMINTOSPORIOSE A respeito da podridão do colmo, provocada pelos ataques das fusarioses, MOLOT (op. cit.) evidenciou uma correlação altamente significativa entre o teor em glicídios dos colmos em 15 de setembro e as percentagens de quebra em meados de outubro, isto é, corres- pondente aos danos de Fusarium. Entretanto, MOLOT, muito justamente, observa que, como os glicídios são elementos importantes da nutrição carbonada dos fun- gos, não seria possível lhes atribuir qualquer papel fungistático. Ao contrário, diz ele, e sempre com a mesma preocupação de explicar a resistência pela presença de um produto tóxico ao patógeno nos te- cidos (fitoalexina), acrescenta: “Pode-se pensar que eles (os glicídios) variam correlativamente com outros fatores bioquímicos capazes de inibir o crescimento miceliano”.