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Traduzido dos originais em Inglês
The Sermons of the Rev. Robert Murray M'Cheyne
Minister of St. Peter's Church, Dundee.
&
A Basket of Fragments
By R. M. M'Cheyne
Tradução e Revisão por William Teixeira e Camila Almeida
Capa por William Teixeira
1ª Edição: Janeiro de 2015
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, sob a licença Creative
Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,
desde que informe o autor, a fonte original e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo
nem o utilize para quaisquer fins comerciais.
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Sumário
Prefácio.................................................................................................................................4
Reformação Pessoal e Na Oração Secreta...............................................................................5
Sermão 1 — A Voz do Meu Amado........................................................................................15
Sermão 2 — O Constrangedor Amor de Cristo.......................................................................25
Sermão 3 — Pai, Eu Quero...................................................................................................35
Sermão 4 — Olhe Para Cristo Traspassado ...........................................................................49
Sermão 5 — Cristo, o Único Refúgio......................................................................................56
Sermão 6 — Pode Uma Mulher Esquecer? ............................................................................65
Sermão 7 — Gloriando-se na Cruz de Cristo ..........................................................................71
Sermão 8 — Feliz És Tu, Ó Israel..........................................................................................78
Sermão 9 — Cristo, A Porta Para A Igreja..............................................................................87
Sermão 10 — Motivos Para Agarrar-se a Jesus......................................................................91
Referências dos sermões que compõem este volume:..............................................................94
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Prefácio
Nosso coração transborda de gratidão e nossa boca de riso, pois alegre e reverentemente
reconhecemos: “Senhor, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas
obras. E seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus, e confirma sobre nós a obra das
nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos” (Isaías 26:12; Salmos 90:17).
Este é o segundo volume da série “10 Sermões, por Robert Murray M'Cheyne. Os primeiros 10
sermões têm sido abençoadores, o nosso forte anseio é que estes sejam tanto quanto ou mais
do que aqueles, e prosperem naquilo que a Deus aprouver.
Estes sermões são muito preciosos aos nossos olhos, cada um deles nos traz doces lembran-
ças e excelentes meditações. A pena do mui amado Sr. M’Cheyne é como que cheia da luz do
conhecimento de Deus e do calor da piedade bíblica. Aqui há a doutrina que é segundo a
verdadeira piedade.
Muito anelamos que mais e mais almas possam se beneficiar desses sermões simples, mui
bíblicos e por isso belos, confortadores, edificantes. Aqui há amor e um coração fervendo com
palavras boas ao Noivo de nossas almas. Acredito que a maior necessidade de nossos dias é
de homens que amem a Cristo mais do que tudo, e sejam constrangidos por este amor a ponto
de O seguirem em todo o tempo, com espadas de dois fios nas mãos e com os altos louvores
nas gargantas, com vestes alvas e óleo puro sobre suas cabeças. Onde estão os homens que
amam a Jesus Cristo mais do que tudo? Deus o sabe.
O desejo de nosso coração é que a trombeta que soou por Dundee, na Escócia, há quase
duzentos anos atrás com toque suave e impetuoso, toque outra vez, mas agora no Brasil, que
a suavidade console os santos; e o estrugir impetuoso desperte os mortos de seu sono terrível,
e os descuidados de Sião sejam alertados pelo som certo, solene e urgente do Evangelho de
nosso Senhor Jesus Cristo.
Que o Senhor lhe conceda Sua livre a soberana graça, para que te lembres destas palavras na
glória e bem-aventurança eterna, no Céu, ao lado de nosso mui Amado Senhor e Salvador
Jesus Cristo; e não no inferno na companhia de Satanás e seus demônios, e não em tormen-
tos eternos. Nas palavras do piedoso pregador escocês: “Pode ser verdadeiramente dito para
todo pecador que lerá estas palavras, que você foi agora chamado, advertido, convidado a
escapar da ira vindoura, e para lançar-se a Cristo, que está posto diante de você. Se você não
obteve o suficiente para salvar-se, você obteve o suficiente para condenar-te”.
William Teixeira.
10 de maio de 2014.
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Reformação Pessoal e Na Oração Secreta
[Trecho de “A Biografia de Robert Murray M'Cheyne”, por Andrew A. Bonar • Editado]
O Sr. M'Cheyne intitula o exame de seu coração e vida de “Reforma” e este começa assim:
É dever dos ministros neste dia, que comecem a reforma da Religião e de suas vidas, famí-
lias e etc., com confissão de pecados passados, fervente oração por direção, graça e pleno
propósito de coração. “Ele purificará os filhos de Levi” (Malaquias 3:3). Os ministros são
colocados à parte, por um tempo para esta finalidade.
I. Reforma Pessoal.
Estou convencido de que obterei a maior quantidade de felicidade presente, farei mais para
a glória de Deus e o bem do homem, e terei a plena recompensa na eternidade, através da
manutenção de uma consciência sempre lavada no sangue de Cristo, por ser cheio do
Espírito Santo em todos os momentos e por obter mais de toda a semelhança com Cristo
em mente, vontade e coração, que seja possível para um pecador redimido alcançar neste
mundo.
Estou convencido de que, sempre que algo exteriormente, ou o meu coração interiormente,
a qualquer momento, ou em qualquer circunstância, contradiz isto — se alguém deve insi-
nuar que não é para a minha felicidade presente e eterna, e para a glória de Deus e minha
utilidade, a manutenção de uma consciência lavada pelo sangue, o ser completamente
cheio do Espírito e ser totalmente conforme à imagem de Cristo em todas as coisas — é a
voz do Diabo, o inimigo de Deus, o inimigo da minha alma e de todo o bem, a mais tola,
ímpia e miserável de todas as criaturas. Veja Provérbios 9:17: “As águas roubadas são
doces”.
1. Para manter uma consciência livre de ofensa, estou convencido de que eu devo confes-
sar mais os meus pecados. Eu penso que eu devo confessar o pecado no momento em
que eu perceba que isto seja pecado. Se eu estiver no trabalho, ou em estudo, ou mesmo
na pregação, a alma deve lançar um olhar de aversão ao pecado. Se eu continuar com o
serviço, deixando o pecado não confessado, eu prossigo com a consciência sobrecarre-
gada, e acrescento pecado a pecado. Eu penso que devo, em certos momentos do dia, em
meu melhor momento, digo, depois do almoço e depois do chá, confessar solenemente os
pecados das horas anteriores, e buscar a sua remissão completa.
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Encontro que o Diabo frequentemente faz uso da confissão de pecado para incitar nova-
mente à pratica do mesmo pecado confessado, de modo que eu tenho temo confiar na
confissão. Devo solicitar Cristãos experientes sobre isso. No momento, eu acho que devo
me esforçar contra este terrível abuso da confissão, em que o Diabo tenta me assustar ao
confessar. Eu devo obter todos os métodos para perceber a vileza dos meus pecados. Eu
devo me considerar como um descendente condenado de Adão, como participante de uma
natureza oposta a Deusdesde o ventre materno (Salmos 51), como tendo umcoração cheio
de toda a maldade, que contamina cada pensamento, palavra e ação, durante toda a minha
vida, desde o nascimento até a morte.
Eu devo confessar muitas vezes os pecados da minha mocidade, como Davi e Paulo, meus
pecados antes da conversão, os meus pecados desde a conversão, pecados contra a luz
e conhecimento, contra o amor e a graça, contra cada pessoa da Divindade.
Eu devo olhar para os meus pecados à luz da santa Lei, à luz da face de Deus, à luz da
cruz, à luz do trono de julgamento, à luz do inferno, à luz da eternidade.
Eu devo examinar os meus sonhos, meus pensamentos vagueantes, minhas predileções,
minhas ações recorrentes, meus hábitos de pensamento, sentimento, palavra e ação; as
calúnias de meus inimigos e as reprovações e até gracejos dos meus amigos, para des-
cobrir os traços de meu pecado predominante, como assunto para a confissão.
Eu devo ter um dia estabelecido de confissão, com jejum, digamos, uma vez por mês.
Eu devo ter um número de escritos assinalados, para trazer o pecado à lembrança.
Eu devo fazer uso de todas as aflições do corpo, do julgamento interior, das carrancas da
providência sobre mim mesmo, da casa, da paróquia, da igreja, ou do país, como apelos
de Deus para a confissão de pecado. Os pecados e aflições dos outros homens devem me
chamar para o mesmo.
Eu devo, nas noites de Sabath, e nas noites de Comunhão de Sabath, ter um cuidado espe-
cial para confessar os pecados de coisas sagradas.
Eu devo confessar os pecados de minhas confissões, suas imperfeições, objetivos pecami-
nosos, tendência hipócrita e etc., e olhar para Cristo como tendo confessado meus pecados
perfeitamente sobre Seu próprio sacrifício. Eu devo ir a Cristo para o perdão de cada
pecado. Ao lavar o meu corpo, eu devo lavar cada parte. Devo ser menos cuidadoso ao
lavar a minha alma?
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Eu devo ver o golpe que foi feito nas costas de Jesus por cada um dos meus pecados. Eu
devo ver a infinita pontada impressa através da alma de Jesus como uma eternidade de
meu inferno por meus pecados, e por todos eles. Eu devo ver que naquele derramamento
de sangue de Cristo há um infinito pagamento excessivo por todos os meus pecados. Em-
bora Cristo não tenha sofrido mais do que a justiça infinita exigiu, contudo Ele não poderia
sofrer de modo algum, sem, antes, estabelecer um resgate infinito.
Quanto eu peco, sinto uma relutância imediata para ir a Cristo. Tenho vergonha de ir. Sinto
como se não fizesse nenhum bem em ir, como se estivesse fazendo de Cristo um ministro
do pecado, indo direto do cocho do suíno para a melhor veste, e mil outras desculpas; mas
estou certo de que essas são todas mentiras vindas direto do inferno. João argumenta o
caminho oposto: “ se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai” [1 João 2:1];
Jeremias 3:1 e mil outras Escrituras são contra isso. Estou certo de que não há nem paz
nemsegurança provinda do mais profundo pecado, mas em ir diretamente ao Senhor Jesus
Cristo. Este é o caminho de Deus, da paz e da santidade. É tolice para o mundo e para o
coração obscurecido, mas este é o caminho.
Eu jamais devo considerar umpecado pequeno demais a ponto de não necessitar da aplica-
ção imediata do sangue de Cristo. Se eu lançar fora uma boa consciência, eu farei naufrágio
na fé. Nunca devo pensar que os meus pecados são tão grandes, tão graves, tão presun-
çosos como quando feitos de joelhos, ou na pregação, ou em um leito de morte, ou durante
uma doença perigosa, para me impedir de fugir para Cristo. O peso dos meus pecados
deve agir como o peso de um relógio: quanto mais pesado ele é, mais rápido ele o faz ir.
Eu não devo apenas me lavar no sangue de Cristo, mas vestir-me da obediência de Cristo.
Para cada pecado de omissão em mim, que eu possa encontrar uma obediência Divina-
mente perfeita e pronta para mim em Cristo. Para cada pecado de comissão em mim, que
eu não apenas possa encontrar um golpe ou uma ferida em Cristo, mas também uma
perfeita prestação de obediência em meu lugar, para que a Lei seja magnificada, a sua
maldição mais do que cumprida, sua demanda mais do atendida.
Muitas vezes a Doutrina de Cristo parece-me comum, bem conhecida, não tendo nada de
novo nela. E sou tentado a passar por ela e ir para alguma Escritura mais atrativa. Isto é o
Diabo de novo; uma mentira como uma brasa viva. Cristo é para nós sempre novo, sempre
glorioso. “Riquezas incompreensíveis de Cristo” [Efésios 3:8]; um objeto infinito e o único
para uma alma culpada. Eu devo ter certas Escrituras disponíveis, que conduzam a minha
alma cega diretamente para Cristo, tal como Isaías 45 e Romanos 3.
2. Para ser cheio do Espírito Santo, estou certo de que eu devo estudar mais a minha pró-
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pria fraqueza. Que eu devo ter um número de Escrituras prontas para serem meditadas tais
como Romanos 7 e João 15, para convencerem-me de que eu sou umverme desamparado.
Sinto-me tentado a pensar que eu sou agora um Cristão confirmado, que eu venci este ou
aquele desejo há muito tempo, que eu adquiri o hábito da graça oposta, de modo que não
há temor; que eu posso aventurar-me muito perto da tentação, mais perto do que os outros
homens. Isto é uma mentira de Satanás. A pólvora não pode adquirir por hábito, um poder
de resistir ao fogo, de modo a não produzir a faísca. Enquanto o pó está molhado, ele re-
siste à faísca, mas quando ele se torna seco, está pronto a explodir ao primeiro toque. En-
quanto o Espírito habita em meu coração, Ele me amortece para o pecado, de modo que,
se legalmente chamado a passar pela tentação, eu posso confiar que Deus me conduz.
Mas quando o Espírito me deixa, eu sou como pólvora seca. Oh, uma percepção disso!
Sinto-me tentado a pensar que há alguns pecados pelos quais não tenho gosto natural,
como a bebida forte, linguagem profana e etc., de forma que eu não preciso temer a tenta-
ção por tais pecados. Isto é uma mentira, uma mentira orgulhosa, presunçosa. As sementes
de todos os pecados estão em meu coração, e talvez de todas as mais perigosas são as
que eu não vejo.
Eu deveria orar e trabalhar pela mais profunda sensibilidade de minha fraqueza e impo-
tência do que jamais um pecador foi levado a sentir. Estou desamparado em relação a cada
concupiscência que sempre esteve, ou sempre estará no coração humano. Sou um verme,
um animal diante de Deus. Muitas vezes eu tremo ao pensar que isso é verdade. Eu sinto
como se não fosse seguro a mim, renunciar a toda força que habita interiormente, como se
fosse perigoso que eu sinta (o que é verdade) que não há nada em mim guardando-me do
pecado mais grosseiro e mais vil. Esta é uma ilusão do Diabo.
Minha única segurança é saber, sentir e confessar minha impotência, para que eu possa
pendurar-me no braço da Onipotência. Eu diariamente desejo que o pecado seja erradica-
do do meu coração. Eu digo: “por que Deus permite a raiz de lascívia, orgulho, raiva e etc.
no meu peito? Ele odeia o pecado, e eu o odeio também; por que Ele não o purifica?”. Eu
conheço muitas respostas a isto que satisfazem completamente o meu julgamento, mas
ainda assim, não me sinto satisfeito. Isso é errado. É correto estar cansado de estar pecan-
do, mas não é correto contender com meu presente “bom combate da fé”.
As quedas em pecado de professos me fazem tremer. Eu tenho sido afastado da oração, e
sobrecarregado de uma forma temerosa por ouvir ou ver o seu pecado. Isso é errado. É
correto tremer, e fazer de cada pecado de todo professo uma lição da minha própria impo-
tência, mas isso deveria levar-me mais para Cristo. Se eu estivesse mais profundamente
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convencido de meu completo desamparo, penso que não ficaria tão alarmado quando ouço
das quedas de outros homens.
Eu devo estudar aqueles pecados em que sou mais impotente, em que a paixão se torna
como um furacão e eu como uma palha. Nenhuma figura de linguagem pode representar a
minha absoluta falta de poder para resistir à torrente de pecado. Eu devo estudar mais a
onipotência de Cristo: Hebreus 7:25, 1 Tessalonicenses 5:23, Romanos 6:14; 5:9; cap. 10
e Escrituras semelhantes deveriam estar sempre diante de mim.
O espinho de Paulo (2 Coríntios 12), é a experiência da maior parte da minha vida. Isso
deve estar sempre diante de mim. Existem muitos métodos auxiliares de buscar a liberta-
ção dos pecados, que não devem ser negligenciados, como: casamento (1 Coríntios 7:2);
fuga (1 Timóteo 6:11, 1 Coríntios6:18); vigiar e orar (Mateus 26:41); a Palavra, “está escrito,
está escrito”, assim, Cristo Se defendeu em Mateus 4. Mas a defesa principal é lançar-me
nos braços de Cristo como uma criança indefesa, e suplicar-Lhe que me encha com o
Espírito Santo. “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. João 5:4-5 é uma passa-
gem maravilhosa.
Eu devo estudar mais sobre Cristo como um Salvador, como um Pastor, carregando a ove-
lha que Ele encontra; como um Rei, reinando nas e sobre as almas que Ele redimiu; como
um Capitão, lutando contra aqueles que lutam comigo (Salmos 35); como Aquele que se
comprometeu a conduzir-me através de todas as tentações e provações, mesmo impossí-
veis para a carne e sangue.
Muitas vezes sou tentado a dizer: “Como pode este Homem nos salvar? Como Cristo no
céu pode livra-me das paixões furiosas que sinto em mim, e das redes que sinto prendendo-
me?” Isto é o pai da mentira novamente! “Ele pode salvar perfeitamente” [Hebreus 7:5].
Eu devo estudar sobre Cristo como um Intercessor. Ele orou mais por Pedro, que era o
mais tentado. Eu estou em Seu peitoral. Se eu pudesse ouvir Cristo orando por mim na sala
ao lado, eu não temeria um milhão de inimigos. Contudo, a distância não faz diferença; Ele
está orando por mim.
Eu devo estudar mais sobre o Consolador, Sua Divindade, Seu amor, Sua onipotência.
Tenho encontrado por experiência que nada me santifica tanto quanto meditar sobre o
Consolador (João 14:16). E ainda assim, como é raro que eu faça isso! Satanás me afasta
disso. Muitas vezes sou como aqueles homens que disseram que não sabiam que havia
algum Espírito Santo. Eu nunca devo esquecer que meu corpo é habitado pela terceira
pessoa da Trindade. Somente pensar nisso, deve fazer-me tremer a pecar (1 Coríntios 6).
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Eu nunca devo esquecer que o pecado entristece o Espírito Santo, irrita e extingue-O. Se
eu quero ser cheio do Espírito Santo, sinto que devo ler mais a Bíblia, orar mais e vigiar
mais.
3. Para obter plena semelhança com Cristo, eu devo ter uma alta estima da bem-aventu-
rança disso. Estou persuadido de que a alegria de Deus está inseparavelmente ligada à
Sua santidade. Santidade e alegria são como luz e calor. Deus nunca provou dos prazeres
do pecado.
Cristo teve um corpo como o que eu tenho, mas Ele nunca provou um dos prazeres do
pecado, e por toda a eternidade, ele nunca provará um dos prazeres do pecado. Ainda
assim, a sua felicidade é completa. Seria minha maior felicidade ser desde já inteiramente
como Ele. Cada pecado é algo que me distancia do meu maior prazer. O Diabo se esforça
dia e noite para me fazer esquecer disso ou não acreditar nisso. Ele diz: Por que você não
desfruta deste prazer, tanto quanto Salomão ou Davi? Você pode ir para o céu também.
Estou convencido de que isso é uma mentira. Que a minha verdadeira felicidade seja
prosseguir e não mais pecar.
Eu não devo adiar o abandono de pecados. Agora é o tempo de Deus. “Apressei-me, e não
me detive” [Salmos 119:60]. Eu não deveria poupar os pecados, porque eu tenho há muito
tempo consentido com eles como enfermidades, e outros achariam estranho se eu devesse
mudar tudo de uma vez. Que ilusão miserável de Satanás isto é!
Tudo o que eu percebo ser pecado, eu devo, a partir desta hora, colocar toda a minha alma
contra ele, usando todos os métodos bíblicos para mortificá-lo, como as Escrituras, oração
especial pelo Espírito, jejum e vigilância.
Eu deveria observar rigorosamente as ocasiões em que eu caí, e evitar a ocasião, tanto
quanto o próprio pecado.
Satanás muitas vezes me tenta a ir tão perto quanto possível das tentações, sem cometer
o pecado. Isto é temeroso, pois isso tenta a Deus e entristece o Espírito Santo. É uma trama
profunda colocada por Satanás.
Eu devo fugir de toda a tentação, de acordo com Provérbios 4:15: “Evita-o; não passes por
ele; desvia-te dele e passa de largo”. Eu devo, constantemente, derramar o meu coração a
Deus, orando por inteira conformidade com Cristo, para que toda a lei seja escrita no meu
coração. Eu devo resoluta e solenemente entregar meu coração a Deus, entregar o meu
tudo em Seus braços eternos, de acordo com a oração de Salmos 31: “Nas tuas mãos
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entrego o meu espírito”, suplicando-Lhe para não deixar que qualquer iniquidade, secreta
ou presunçosa, tenha domínio sobre mim e me encha de toda graça que está em Cristo no
mais elevado nível que for possível para um pecador redimido recebê-la, e em todos os
momentos, até a morte.
Eu devo meditar muitas vezes no Céu como um mundo de santidade, onde todos são san-
tos, onde a alegria é uma alegria santa, a obra uma obra santa; de modo que, sem a san-
tidade pessoal, eu nunca posso estar ali. Eu devo evitar a aparência do mal. Deus me
ordena, e eu encontro que Satanás tem uma arte singular em associar a aparência e a
realidade, confundindo-as.
Eu encontro que falar de alguns pecados contamina a minha mente e me leva à tentação,
e encontro que Deus proíbe até mesmo os santos de falarem das coisas que são feitas por
eles em oculto. Eu deveria evitar isso.
Eva, Acã, Davi, todos caíram através da concupiscência dos olhos. Eu devo fazer uma
aliança comigo, e orar: “Desvia os meus olhos de contemplar a vaidade”. Satanás torna os
homens não-convertidos como a víbora surda, ao som do Evangelho. Eu devo orar para
ser feito surdo pelo Espírito Santo a todos que querem me seduzir ao pecado.
Um de meus momentos mais frequentes de ser levado à tentação é esse: Eu digo que é
necessário para o meu ofício que eu escute isso, ou olhe para isso, ou fale disso. Até agora,
isto é verdadeiro; ainda assim, tenho certeza que Satanás tem sua parte nesse argumento.
Eu devo procurar a direção Divina para resolver o quanto isso será benéfico para o meu
ministério, e quão maligno para a minha alma, para que eu possa evitar este último.
Estou convencido de que nada está prosperando na minha alma a menos que isso esteja
acontecendo: “Crescei na graça”, e “Senhor: Acrescenta-nos a fé”, e “Esquecendo-me das
coisas que atrás ficam”. Estou convencido de que eu deveria estar perguntando a Deus e
ao homem que graça eu necessito, e como eu posso tornar-me mais semelhante a Cristo.
Eu devo lutar por mais pureza, humildade, mansidão, paciência sob o sofrimento e amor.
“Faça-me semelhante a Cristo em todas as coisas” deve ser a minha constante oração.
“Enche-me com o Espírito Santo”.
II. Reforma na Oração Secreta.
Eu não devo omitir qualquer uma das partes da oração: confissão, adoração, ação de
graças, petição e intercessão.
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Há uma temerosa tendência de omitir a confissão, proveniente dos baixos pontos de vista
sobre Deus e Sua lei, débeis visões de meu coração e pecados passados de minha vida.
Isso deve ser resistido. Há uma tendência constante para omitir a adoração, quando eu
esqueço com Quem eu estou falando, quando eu corro descuidadamente da presença do
Senhor, sem lembrar-me de Seu nome e caráter temíveis, quando eu tenho pequena visão
de Sua glória, e pouca admiração por Suas maravilhas. “Onde está o sábio?”. Tenho a
tendência natural do coração para omitir a ação de graças. Ainda assim isto é especial-
mente ordenado em Filipenses 4:6. Muitas vezes, quando o coração está egoísta, insen-
sível para a salvação dos outros, eu omito a intercessão. Embora, este é especialmente o
espírito do grande Advogado, que tem o nome de Israel sempre em Seu coração.
Talvez nem toda oração precise ter todas estas, mas com certeza, um dia não deveria pas-
sar sem algum tempo fosse dedicado a cada uma.
Eu deveria orar antes de ver qualquer pessoa. Muitas vezes, quando eu durmo muito, ou
encontro-me com outros logo cedo, e depois, tenho a oração familiar, e café da manhã, e
pessoas que me procuram pela manhã, frequentemente são onze horas ou meio-dia, antes
que eu comece a oração secreta. Isto é um sistema miserável. Isto é antibíblico. Cristo
ressuscitou antes do amanhecer, e foi para umlugar solitário. Davi diz: “Pela manhã ouvirás
a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e vigiarei” [Salmos
5:3]. Maria Madalena foi ao sepulcro, sendo ainda escuro. A oração familiar perde muito de
sua força e doçura; e eu não posso fazer nada de bom por aqueles que vêm me procurar.
A consciência sente-se culpada, a alma em jejum, a lâmpada não avivada. Então, quando
a oração secreta vem, a alma está muitas vezes fora de sintonia. Eu sinto que é muito
melhor começar com Deus, ver Seu rosto primeiro, aproximar a minha alma dEle, antes
que eu me aproxime de outrem. “Quando acordo ainda estou Contigo” [Salmos 139:18].
Se eu dormi por muito tempo, ou viajar cedo, ou se o meu tempo é de qualquer forma abre-
viado, é melhor vestir-me apressadamente, e ter alguns minutos a sós com Deus do que
dar isto por perdido.
Mas, em geral, é melhor ter pelo menos uma hora a sós com Deus, antes de se envolver
em qualquer outra coisa. Ao mesmo tempo, tenho que ter cuidado para não contar a comu-
nhão com Deus por minutos ou horas, ou pela solidão. Tenho me debruçado sobre a minha
Bíblia e de joelhos por horas, com pouca ou nenhuma comunhão, e meus momentos de
solidão têm sido, muitas vezes, os de maior tentação.
Quanto à intercessão, eu devo interceder diariamente pela minha própria família, conheci-
dos, parentes e amigos; também pelo meu rebanho: os crentes, os despertados, os descui-
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dados, os doentes, os enlutados, os pobres, os ricos, meus anciãos, os professores da
Escola Dominical, professores da escola diária, crianças e distribuidores de sermões; para
que todos os meios sejam abençoados: a pregação e ensino de Sabath, a visita aos
doentes, a visita de casa em casa; providências e sacramentos.
Eu devo diariamente interceder brevemente por toda a cidade, pela Igreja da Escócia, por
todos os ministros fiéis, pelas congregações, pelos estudantes de teologia e etc., pelos que-
ridos irmãos nominalmente, por missionários enviados aos judeus e Gentios, e para este
fim, eu preciso compreender a inteligência missionária regularmente, e familiarizar-me com
tudo o que estão fazendo em todo o mundo. Isso deveria me estimular a orar com um mapa
diante de mim. Tenho que ter um esquema de oração, também os nomes dos missionários
marcados no mapa. Eu devo interceder, em geral, mais na manhã e noite de Sabath, das
sete às oito.
Talvez eu também possa tomar diferentes partes em diferentes dias; eu apenas devo plei-
tear diariamente por minha família e rebanho. Eu devo orar sobre tudo. “Não estejaisinquie-
tos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus
pela oração e súplica, com ação de graças” [Filipenses 4:6]. Muitas vezes eu recebo uma
carta me solicitando para pregar, ou algum pedido semelhante. Encontro-me respondendo
antes de ter pedido conselho a Deus. Ainda mais frequentemente uma pessoa me chama
e me pede alguma coisa, e eu não solicito direção. Muitas vezes eu saio para visitar uma
pessoa doente com pressa, sem pedir Sua bênção, o que por si só pode fazer a visita de
alguma utilidade. Estou convencido de que eu nunca devo fazer nada sem oração, e, se for
possível, especial oração secreta.
Ao ler a história da Igreja da Escócia, eu vejo o quanto seus problemas e tribulações têm
sido relacionados com a salvação das almas e a glória de Cristo. Eu devo orar muito mais
por nossa igreja, por nossos principais ministros nominalmente, e pela minha própria clara
orientação no caminho correto, para que eu não seja levado a desviar-me, ou me conduza
de modo a desviar-me de seguir a Cristo. Muitas questões difíceis podem ser forçadas
sobre nós para as quais eu não estou totalmente preparado, como a legalidade das alian-
ças. Eu deveria orar muito mais emdias de paz, para que eu possa ser guiado corretamente
quando os dias de tribulações vierem.
Eu devo passar as melhores horas do dia em comunhão com Deus. Este é a minha mais
nobre e mais frutífera ocupação, e isto não deve ser empurrado para qualquer canto. As
primeiras horas da manhã, de seis às oito, são as mais ininterruptas, e, portanto, devem
ser assim empregadas, se eu puder evitar a sonolência. Um pouco de tempo após o almoço
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pode ser dedicado à intercessão. Após o chá é o meu melhor horário, e este deve ser
solenemente dedicado a Deus, se possível.
Eu não devo abandonar o velho e bom hábito de orar antes de ir para a cama; mas a vigi-
lância deve ser mantida contra o sono; planejar as coisas que devo pedir é o melhor remé-
dio. Quando eu despertar no meio da noite, eu devo levantar-me e orar, como Davi e como
John Welsh fizeram.
Eu devo ler três capítulos da Bíblia, em segredo, todos os dias, no mínimo.
Eu devo, no Sabath, pela manhã, olhar todos os capítulos lidos durante a semana, e especi-
almente os versículos marcados. Eu devo ler em três diferentes lugares, e devo também ler
de acordo com os temas, biografias e etc.
Ele, evidentemente, deixou isso inacabado, e agora ele O conhece como também é conhe-
cido.
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1
A Voz do Meu Amado
“Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes,
pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do
veado; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando
pelas grades. O meu amado fala e me diz: Levanta-te, meu amor, formosa minha, e
vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores
na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra.
A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma;
levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Pomba minha, que andas pelas fendas
das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz,
porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa. Apanhai-nos as raposas, as
raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor. O
meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios.
Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante
ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter.” (Cânticos 2:8-17)
Não há nenhum livro da Bíblia que proporcione um melhor teste da profundidade do Cristia-
nismo de um homem do que o Cântico dos Cânticos. (1) Se a religião de um homem estiver
toda em sua cabeça, uma estrutura bem definida de doutrinas, construída como trabalho
de pedreiro, pedra sobre pedra, mas não exercer nenhuma influência sobre o seu coração,
este livro não pode deixar de ofendê-lo; pois, nele não há declarações rígidas de doutrina
sobre as quais a sua religião sem coração possa ser construída. (2) Ou, se a religião de um
homem for toda em sua imaginação; se, como Flexível em O Peregrino, ele seja levado
pela beleza exterior do Cristianismo; se, como a semente lançada sobre o solo rochoso, a
sua religião é estabelecida apenas nas faculdades superficiais da mente, enquanto o
coração permanece rochoso e impassível; embora ele desfrute deste Livro, mais do que o
primeiro homem, ainda assim, há um ar misterioso de íntima comoção nele, em que não
pode senão fazê-lo tropeçar e ofender-se. (3) Mas se a religião de um homem for a religião
do coração; se ele não tem não apenas doutrinas em sua cabeça, mas o amor de Jesus
em seu coração; se ele não tem somente ouvido e lido do Senhor Jesus, mas tem sentido
a sua necessidade dEle, e foi levado a apegar-se a Ele, como o primeiro entre dez mil, e
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totalmente desejável, então este livro será inestimavelmente precioso para sua alma; pois
contém os mais ternos suspiros do coração do crente pelo Salvador, e os mais ternos
desejos do coração do Salvador em direção ao crente.
“O seu assunto é totalmente sublime, espiritual e místico; e as formas de sua composi-
ção, universalmente alegóricas” — John Owen.
Há uma concordância entre os melhores intérpretes deste Livro — (1) Que ele consiste não
de um cântico, mas de muitas canções; (2) que esses cânticos estão em uma forma
dramática; e (3) que, como as parábolas de Cristo, elas contêm um significado espiritual,
sob a veste e ornamentos de alguns episódios poéticos.
A passagem que eu li compõe um destes cânticos dramáticos, e o tema deste é uma visita
repentina que uma noiva oriental recebe de seu senhor ausente. A noiva é representada
para nós como sentada sozinha e desolada em um quiosque, ou bosque oriental — um
lugar seguro e de retraimento nos jardins do Oriente — descrito por viajantes modernos
como “um bosque cercado por um muro verde, coberto por videiras e jasmins, com janelas
de gelosias”.
Os montes de Beter (ou, como estão no limiar, os montes da divisão), os montes que a
separam de seu amado, parecem quase intransponíveis. Eles parecem tão íngremes e
escarpados, que ela teme que ele nunca mais consiga vir por sobre eles para visitá-la. Seu
jardim não possui nenhuma beleza que a atraia a seguir adiante. Toda a natureza parece
participar de sua tristeza; o inverno reina por fora e por dentro; nenhuma flor aparece na
terra; todos os pássaros canoros parecem estar tristes e silenciosos sobre as árvores; e a
voz de amor da rola não é ouvida na terra.
É enquanto ela está sentada, assim, solitária e desolada que a voz de seu amado alcança
o seu ouvido. O amor é rápido em ouvir a voz que é amada; e, portanto, ela ouve mais rápi-
do do que todas as suas donzelas, e o cântico inicia com a sua exclamação impetuosa:
“Esta é a voz do meu amado!”. Quando ela sentou-se em sua solidão, as montanhas entre
ela e seu senhor pareciam quase intransponíveis, elas eram tão elevadas e íngremes; mas
agora ela vê com que rapidez e facilidade ele salta estes montes, de forma que ela pode
compará-lo a nada além de um gamo, ou ao jovem cervo, as criaturas mais formosas e
mais rápidas das montanhas. “O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do veado”.
Sim, enquanto ela está falando, ele já chegou ao muro do jardim; e agora, eis que “ele olha
pelas janelas, espreitando pelas grades”. A noiva, a seguir, nos relata o convite suave, que
parece ter sido o cântico de seu amado vindo tão rapidamente sobre os montes. Enquanto
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ela se sentava solitária, toda a natureza parecia morta, o inverno reinava; mas agora ele diz
a ela que ele trouxe o tempo da primavera, juntamente consigo. “Levanta-te, meu amor, for-
mosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem
as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A
figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu
amor, formosa minha, e vem”.
Movida por este convite premente, ela sai de seu lugar de retraimento para a presença de
seu senhor, e se apega a ele como uma temerosa pomba das fendas das rochas; e, em se-
guida, ele se dirige a ela com estas palavras da mais terna e delicada afeição: “Pomba mi-
nha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face,
faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa”. Alegremente
concordando em ir adiante com seu senhor, ela ainda lembra que esta é a época de maior
perigo para as vinhas, devido as raposas que mordiscam a casca das vinhas; e, portanto,
ela não sairá sem deixar o comando de cautela para as suas donzelas: “Apanhai-nos as
raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”.
Ela, então, renova a aliança de seu casamento com o seu amado, com estas palavras de
pertinente afeição: “O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre
os lírios”. E por fim, por ela saber que esta temporada de comunhão íntima não durará, já
que o seu amado deve sair novamente sobre os montes, ela não suportará que ele vá, sem
rogar-lhe que frequentemente renove estas visitas de amor, até que amanheça aquele dia
feliz em que eles não mais precisaram estar separados: “Até que refresque o dia, e fujam
as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre
os montes de Beter”.
Podemos muito bem desafiar o mundo inteiro de gênios para produzirem em qualquer
idioma um poema como este — tão pequeno, tão abrangente, tão delicadamente bonito.
Porém, o que é muito mais para o nosso atual propósito, não há nenhuma parte da Bíblia
que desvele mais lindamente um pouco da experiência mais íntima do coração do crente.
Olhemos, então, agora para a parábola como uma descrição de uma dessas visitas que o
Salvador muitas vezes faz às almas crentes, quando Ele manifesta-se a eles de forma
diferente do que o faz ao mundo.
I. QUANDO O CRENTE ESTÁ SOZINHO.
Quando Cristo está longe da alma do crente, ele se sente solitário.
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Nós vimos na parábola, que quando o seu senhor foi embora, a noiva estava sentada
sozinha e desolada. Ela não se importou com a juventude e alegria para animarem as suas
horas solitárias. Ela não solicitou a harpa do menestrel para acalmá-la em sua solidão. Não
havia flauta, nem adufe, nem vinho em suas festas. Não, ela sentou-se sozinha. Os montes
pareciam quase intransponíveis. Toda a natureza participou de sua tristeza. Se ela não
podia estar feliz sem à luz da face do seu senhor, ela estava decidida a não alegrar-se com
mais nada. Ela sentou-se solitária e desolada. Exatamente assimé como verdadeiro crente
em Jesus. Quaisquer que sejam os montes de Beter que estejam entre a sua alma e Cristo,
se ele foi seduzido por velhos pecados, de forma que as suas iniquidades fazem separação
entre ele e o seu Deus; e os seus pecados encobrem o Seu rosto dele, para que não lhe
ouça [Isaías 59:2]; ou se o Salvador retirou por um momento, a luz consoladora de Sua
presença para a simples prova da fé de Seu servo, para ver, se ele, quando anda emtrevas,
e não tem luz nenhuma, confia no nome do Senhor, e firma-se sobre o seu Deus [Isaías
50:10].
Quaisquer que sejam os montes de separação, é a evidência segura de um crente que ele
se assentará desolado e sozinho. Ele não consegue rir, longe de seus intensos cuidados,
como os homens mundanos podem fazer. Ele não consegue mergulhar-se na taça da
intemperança, como os miseráveis homens cegos podem fazer. Mesmo o inocente vínculo
da amizade humana não traz nenhum bálsamo para a sua ferida, ou melhor, até mesmo a
comunhão com os filhos de Deus agora é desagradável para a sua alma. Ele não consegue
apreciar o que ele gostava antes, quando aqueles que temiam ao Senhor falavam um com
o outro. Os montes entre ele e o Salvador parecem tão vastos e intransponíveis, que teme
que Ele nunca mais o visitará. Toda a natureza participa de sua tristeza, o inverno reina por
fora e por dentro. Ele senta-se sozinho, e fica desolado. Estando aflito, ele ora; e o peso de
sua oração é o mesmo daquele de um velho crente: “Senhor, se eu não posso me contentar
com a luz de Tua face, que me concedas não ser feliz com nada mais; pois a alegria sem
Ti é morte”.
Ah! meus amigos, vocês conhecem algo sobre esse sofrimento? Vocês sabem que é, as-
sim, sentar-se sozinho e estar desolado, porque Jesus está fora da vista? Se vocês o sa-
bem, então se alegrem, se é possível, mesmo em meio a vossa tristeza! Pois, essa mes-
ma tristeza é uma das marcas que vocês são crentes, de forma que vocês encontram toda
a vossa paz e toda a vossa alegria na união com o Salvador.
Mas ah, quão oposto é o caminho da maioria de vocês! Vocês não conhecem nada dessa
tristeza. Sim, talvez vocês zombem disso. Vocês conseguem estar felizes e contentes com
o mundo, mas vocês nunca tiveram uma visão de Jesus. Vocês podem estar felizes com
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seus companheiros, embora o sangue de Jesus nunca tenha sussurrado paz à tua alma.
Ah, quão evidente é que vocês estão se apressando para o lugar onde “não há paz para os
ímpios, diz o meu Deus” [Isaías 57:21].
II. A VINDA DE CRISTO ATÉ O CRENTE.
A vinda de Cristo até o crente desolado é, muitas vezes, súbita e maravilhosa.
Nós vimos na parábola, que foi quando a noiva estava sentada sozinha e desolada que ela
ouviu, de repente, a voz do seu senhor. O amor é rápido em ouvir, e ela exclama: “A voz
do meu amado!”. Antes, achava as montanhas quase intransponíveis; mas agora ela pode
comparar a rapidez dele a nada, a não ser ao gamo, ou ao filho do veado. Sim, enquanto
ela fala, ele está na parede, na janela, mostrando-se através da grade. Muitas vezes, exata-
mente assim ocorre com o crente. Enquanto ele se senta sozinho e desolado, os montes
da separação parecem uma barreira vasta e intransponível para o Salvador, e ele teme que
Cristo nunca volte. Os montes de provocações de um crente são frequentemente mui gran-
des. “Que eu tenha pecado novamente, eu que fui lavado no lavado no sangue de Jesus.
É pouco que os outros homens pequem contra Ele; eles nunca O conheceram, nunca O
amaram como eu amei. Certamente eu sou o maior dos pecadores, e pequei demais, meu
Salvador. Os montes de minhas provocaçõescresceramaté o céu, e Ele nunca mais poderá
voltar para mim”. Assim é que o crente escreve coisas amargas contra si mesmo; e nessa
ocasião, é que muitas vezes ele ouve a voz de seu Amado. Algum texto da Palavra, ou
alguma palavra de um amigo Cristão, ou alguma parte de um sermão, mais uma vez revela
Jesus em toda a Sua plenitude, o Salvador dos pecadores, até mesmo do principal. Ou pode
ser que Ele se dá a conhecer à alma desconsolada no partir do pão, e quando Ele fala as
palavras gentis: “Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós... Tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que
beberdes, em memória de mim” [1 Coríntios 11:24-25]; então, ele exclama: “A voz do meu
amado! Eis que vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros”.
Ah! meus amigos, vocês conhecem alguma coisa desta alegre surpresa? Se conhecem,
por que vocês sempre sentam-se em desespero, como se a mão do Senhor estivesse
encolhida de forma que Ele não possa salvar, ou como se Seus ouvidos estivessem
agravados de forma que Ele não possa ouvir? Na hora mais tenebrosa digam: “Por que
estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois
ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” [Salmos 42:11]. Venham
com expectativa à Palavra. Não venham com essa indiferença apática, como se nada que
um verme companheiro possa dizer seja digno de sua audição. Esta não é a palavra do
homem, mas a Palavra do Deus vivo. Venham com grandes esperanças, e então vocês
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encontrarão a promessa verdadeira, que Ele enche os famintos com coisas boas, embora
Ele despeça os ricos de mãos vazias.
III. A VINDA DE CRISTO MUDA TODAS AS COISAS.
A vinda de Cristo muda todas as coisas para o crente, e Seu amor é mais suave do que
nunca.
Nós vimos na parábola que, quando a noiva estava desolada e sozinha, toda a natureza
estava mergulhada em tristeza. Seu jardim não possuía encantos para levá-la adiante, pois
o inverno reinava dentro e fora. Mas quando o seu senhor veio tão rapidamente sobre os
montes, ele trouxe a primavera junto com ele. Toda a natureza é alterada enquanto ele
avança, e seu convite é: “Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Porque eis que
passou o inverno”. Exatamente assim é com o crente, quando Cristo está ausente: tudo é
inverno na alma. Mas, quando Ele vem novamente sobre os montes da provação; Ele traz
uma temporada de feliz primavera junto consigo. Quando esse sol da justiça surge de novo
na alma, não apenas os Seus raios alegrantes caem sobre a alma do crente, mas toda a
natureza se alegra com a sua alegria. As montanhas e colinas irrompem em cânticos diante
dEle, e todas as árvores do campo batem palmas. É como uma mudança de estação para
a alma. É como que a súbita mudança das chuvas torrenciais de inverno sombrio para a
plena primavera colorida, que é tão peculiar aos climas do sol.
O mundo natural é totalmente modificado. Em lugar do espinheiro surge a faia, e em lugar
da sarça surge a murta. Cada árvore e campo possuem uma beleza nova para a alma feliz.
O mundo da graça é totalmente transformado. Antes a Bíblia estava completamente seca
e sem sentido; agora, que inundação de luz é derramada sobre as suas páginas! Quão
plena, quão revigorante, quão rica em significado, como suas frases mais simples tocam o
coração! Antes a casa de oração estava completamente triste e melancólica antes, os seus
serviços eram áridos e insatisfatórios; mas agora, quando o crente vê o Salvador, como ele
O viu no interior do santo lugar, seu clamor é: “Quão amáveis são os teus tabernáculos,
SENHOR dos Exércitos! Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil” [Salmos 84:1,
10]. Antes o jardim do Senhor estava todo triste e desanimado; agora a ternura em direção
aos não-convertidos brota revigorada, e o amor ao povo de Deus arde no peito, aqueles
que temem ao Senhor falam-se frequentemente. O tempo de cantar os louvores de Jesus
chega, e a voz amorosa da rola a Jesus é mais uma vez ouvida na terra; a videira do Senhor
frutifica, e a romã floresce, e a voz de Cristo para a alma é: “Levanta-te, meu amor, formosa
minha, e vem”.
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Como a pomba temerosa perseguida pela águia, e quase feita uma presa, com asa vibrante
e ansiosa, esconde-se mais profundamente do que nunca nas fendas das rochas, e nos
lugares secretos do precipício, assim o crente caído, a quem Satanás desejou capturar,
para que pudesse peneirá-lo como trigo, quando ele é restaurado mais uma vez com a pre-
sença toda-graciosa do seu Salvador, apega-se a Ele comfé vibrante, desejosa, e esconde-
se mais profundamente do que nunca nas feridas de seu Salvador. Foi assim com Pedro
ao cair, quando ele tão gravemente negou o seu Senhor, ainda assim, quando trazido nova-
mente à visão de seu Salvador, de pé sobre a terra, foi o único dos discípulos que se cingiu
com sua capa de pescador, e lançou-se ao mar para nadar até Jesus; e assim como aquele
apóstolo caído, quando mais uma vez ele se escondeu na Rocha Eterna, descobriu que o
amor de Jesus era mais terno em relação a ele do que nunca, quando ele começou aquela
conversa, que, mais do que todas as outras na Bíblia, combina a mais amável das
reprovações com o mais amável dos incentivos: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do
que estes?” [João 21:15]. Exatamente assim cada crente caído encontra que quando
novamente ele está escondido nas feridas recém-abertas do seu Senhor, a fonte de Seu
amor começa a fluir renovada, e o ribeiro de bondade e afeição é mais pleno e transbor-
dante do que nunca, porque a Sua palavra é: “Pomba minha, que andas pelas fendas das
penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua
voz é doce, e a tua face graciosa”.
Ah, meus amigos, vocês conhecemalguma coisa disto? Vocês já experimentaram essa vin-
da de Jesus sobre o monte de vossas provocações, enquanto fez uma mudança de estação
em vossa alma? E você, crente caído, encontrado, quando se escondeu nova e mais pro-
fundamente do que nunca nas fendas das rochas — como Pedro cingindo sua capa de
pescador, e lançando-se ao mar — você encontrou o Seu amor mais terno do que nunca
em sua alma? Então, isto não deveria ensinar-lhe o arrependimento rápido quando você
cai? Por que manter-se por um momento sequer longe do Salvador? Você está esperando
até que você mesmo limpe as manchas de sua veste? Ai! o que a purificará, senão o sangue
que você está desprezando? Você está esperando até que torne a si mesmo digno da graça
do Salvador? Ai! Embora você espere por toda a eternidade, você nunca poderá tornar-se
mais digno. O seu pecado e miséria são sua única súplica. Venha, e você encontrará com
que ternura Ele curará as suas rebeliões, e o amará voluntariamente, e dirá: “Pomba minha”
e etc.
IV. CRISTO DESPERTA TEMOR, AMOR E ESPERANÇA.
Eu observo a tríplice disposição de temor, amor e esperança, que esta visita do Salvador
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desperta no seio do crente. Estes três formam, por assim dizer, um cordão no coração do
crente restaurado, e um cordão de três dobras não se quebra facilmente.
1. Temor Filial.
Em primeiro lugar, há temor. Como a noiva na parábola não sairia para desfrutar a comu-
nhão com seu senhor, sem deixar a ordem para que suas donzelas apanhassem as rapo-
sas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, assim cada crente sabe e sente que o tempo
da íntima comunhão é tambémo momento de maior perigo. Quando o Salvador foi batizado,
e o Espírito Santo, como uma pomba, desceu sobre Ele, e uma voz, disse: “Este é o meu
Filho amado, em quem me comprazo” [Mateus 3:17], foi, então, que Ele foi conduzido ao
deserto, para ser tentado pelo Diabo; e exatamente assim é quando a alma está recebendo
seus maiores privilégios e consolos, que Satanás e seus ministros estão mais próximos,
estes são as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas.
(1) O orgulho espiritual está próximo. Quando a alma está se escondendo nas feridas do
Salvador, e recebe grandes sinais de Seu amor, então o coração começa a dizer: Certa-
mente eu sou alguém, o quão acima eu estou da média crentes! Esta é uma das raposi-
nhas que comem a vida da piedade vital.
(2) Aqui há um valer-se de Cristo pelos seus consolos — olhando para seus consolos, e
não para Cristo — inclinando-se sobre eles, e não sobre o seu amado. Esta é outra das
raposinhas.
(3) Existe a falsa noção de que agora certamente você deve estar livre do pecado, e aci-
ma do poder da tentação, agora você pode resistir a todos os inimigos. Este é o orgulho
que vem antes da queda e é outra das raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas.
Nunca esqueçam, eu vos suplico, que o temor é uma evidência da segurança de um crente.
Mesmo quando vocês sentirem que é Deus quem opera em vocês, ainda assim, a Palavra
diz: “operai a vossa salvação comtemor e tremor” [Filipenses 2:12]. Mesmo quando a vossa
alegria for transbordante lembrem-se do que está escrito: “alegrai-vos com tremor” [Salmos
2:11], e lembrem-se também do cuidado da noiva, e digam: “Apanhai-nos as raposas, as
raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”.
2. Apropriando-se do Amor.
Mas se o temor cauteloso é uma marca de um crente em tal período, ainda mais é o apro-
priar-se do amor. Quando Cristo vem novamente dos montes da provação, e revela-Se à
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alma livre e plenamente como sempre, de uma forma diferente do que o faz ao mundo,
então, a alma pode dizer: “O meu amado é meu, e eu sou dele”. Eu não digo que o crente
pode usar essas palavras em todas as estações. Em tempos de escuridão e em tempos de
pecado a realidade da fé de um crente deve ser medida antes por sua tristeza do que por
sua confiança. Mas eu digo, que nas temporadas em que Cristo revela-Se de novo à alma,
brilhando como o sol atrás de uma nuvem, com os raios do amor soberano, imerecido,
então nenhuma outra palavra satisfará o verdadeiro crente, senão estas: “O meu amado é
meu, e eu sou dele”. A alma vê Jesus como um Salvador tão gratuito, que tanto anseia que
todos venham a Ele e tenham vida, estendendo Suas mãos o dia todo, não tendo nenhum
prazer na morte do ímpio, clamando a os homens: “Convertei-vos, convertei-vos, por que
morrereis?”.
A alma vê Jesus como um Salvador tão apropriado, a própria cobertura que a alma neces-
sita. Quando ela primeiramente escondeu-se em Jesus, O encontrou adequado para todas
as suas necessidades, a sombra de uma grande rocha em terra sedenta. Mas, agora, ele
descobre uma nova adequação no Salvador, como Pedro, quando ele se cingiu com sua
capa de pescador, e lançou-se ao mar. Ela encontra que Ele é um Salvador adequado para
umcrente caído; que Seu sangue pode apagar até mesmo as manchas daquele que, depois
de ter comido pão com Ele, ainda levantou o calcanhar contra Ele.
A alma vê Jesus como um Salvador pleno, concedendo ao pecador não apenas perdão,
mas transbordando perdões imensuráveis, concedendo não somente a justiça, porém a
justiça que é mais do que mortal, pois ela é totalmente Divina; concedendo não somente o
Espírito, mas derramando água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca. A alma vê tudo
isso em Jesus, e não pode deixar de escolhê-lO e deleitar-se nEle com amor renovado e
apropriado, dizendo: “O meu amado é meu”. E, se alguémperguntar, Como podes tu, verme
pecaminoso, chamar tal Divino Salvador de teu? A resposta está aqui: Porque eu sou dEle.
Ele me escolheu desde a eternidade, senão eu nunca O teria escolhido. Ele derramou Seu
sangue por mim, senão eu nunca teria derramado uma lágrima por Ele. Ele chorou por mim,
mas eu nunca teria suspirado por Ele. Ele procurou por mim, mais eu nunca O teria pro-
curado. Ele me amou, portanto, eu O amo. Ele me escolheu, por isso eu sempre O escolho.
“O meu amado é meu, e eu sou dele”.
3. Esperança Orante.
Mas, por fim, se o amor é uma marca do verdadeiro crente emtal temporada, assimtambém
é esperança em oração. Foi a palavra de um verdadeiro crente, em uma hora de comunhão
elevada e maravilhosa com Jesus: “Senhor, bom é estarmos aqui” [Mateus 17:4].
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Meu amigo, você não é crente se Jesus nunca Se manifestou à sua alma emsuas devoções
secretas, na casa de oração ou no partir do pão, em forma tão doce e avassaladora, que
você clamou: “Senhor, é bompara mimestar aqui!”. Contudo, embora isso seja bome muito
agradável, como a luz solar para os olhos, ainda assim, o Senhor vê que não é mais sábio
e melhor sempre estar ali. Pedro temque descer novamente do monte da glória, e combater
o bom combate da fé em meio à vergonha e afronta de um mundo frio e desdenhoso.
E assim é com cada filho de Deus. Nós ainda não estamos no céu, o lugar da visão plena
e gozo eterno. Esta é a terra, o lugar da fé, da paciência e da esperança para o céu indicado.
Uma grande razão pela qual o júbilo próximo e íntimo do Salvador não pode ser constante-
mente efetuado no seio do crente é para dar espaço para a esperança, a terceira corda que
forma o cordão de três dobras. Até mesmo os crentes mais esclarecidos estão andando
aqui em uma noite tenebrosa, ou crepúsculo, no máximo. E as visitas de Jesus para a alma
apenas servem para fazer a escuridão ao redor mais visível. Mas a noite é passada, e o dia
é chegado. O dia da eternidade está rompendo no oriente. O sol da justiça está apressando-
se a subir sobre o nosso mundo, e as sombras estão se preparando para fugir. Até então,
o coração de cada crente verdadeiro, que conhece a preciosidade da estreita comunhão
com o Salvador, suspira em fervorosa oração, que Jesus frequentemente venha de novo,
assim, orvalhante e subitamente o ilumine em sua sombria peregrinação.
Ah! sim, meus amigos, que todo aquele que ama ao Senhor Jesus com sinceridade, junte-
se agora à bendita oração da noiva: “Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta,
amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter”.
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“A Voz do Meu Amado” é extraído de Memórias e Lembranças do Reverendo Robert Murray
M´Cheyne, por Andrew Bonar. Primeiramente publicado em 1844, (reimpresso, Edimburg:
Oliphant, Anderson, & Ferrier), p. 431-440. Este Sermão foi pregado por M´Cheyne em 14
de Agosto de 1836, em St. Peter, Dundee. Ele, nesta época, era candidato ao ministério, e
posteriormente tornou-se ministro de St. Peter.
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2
O Constrangedor Amor de Cristo
“Porque o amor de Cristo nos constrange.” (2 Coríntios 5:14)
De todas as características do caráter de São Paulo, a sua atividade incansável foi a mais
marcante. Desde o início da história de Paulo, nos é dito de seus esforços pessoais em
perseguir a Igreja nascente, quando ele era um “blasfemo, e perseguidor, e injurioso” [2
Timóteo 3:2], é bastante óbvio que esta era a característica proeminente de sua mente
natural. Mas, quando aprouve ao Senhor Jesus Cristo manifestar nele toda a longanimidade
e torná-lo um padrão para aqueles que se haviam crer nEle, é bonito e muito instrutivo ver
como os recursos naturais deste homem ousadamente mau tornaram-se não apenas
santificados, mas revigorados e ampliados; assim é verdade que os que estão em Cristo
são uma nova criação: “As coisas velhas passam, e tudo se fez novo” [2 Coríntios 5:17];
“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Per-
seguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” [2 Coríntios 4:8-9]; este
era um retrato fiel da vida de Paulo quando convertido. Conhecendo os terrores do Senhor,
e a situação temerosa de todos os que estavam ainda em seus pecados, ele deixou o
negócio de sua vida para persuadir os homens; esforçando-se, para que por qualquer meio,
pudesse recomendar à verdade às suas consciências. “Porque, se enlouquecemos, é para
Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós” (v. 13).
Se o mundo pensa que nós somos sábios ou loucos, por causa de Deus e das almas huma-
nas serem a causa em que investimos todas as energias do nosso ser, quem, então, não
está pronto para investigar a fonte secreta de todos estes trabalhos sobrenaturais? Quem
não desejaria ter ouvido da boca de Paulo, o poderoso princípio de que o impeliu a tantas
labutas e perigos? Que poder tinha tomado posse desta poderosa mente, ou que invisível
influência planetária, com poder incessante, ele baseou-se para atravessar todos os desâ-
nimos, indiferente tanto ao pavor do riso do mundo quanto ao medo do homem; despreo-
cupado tanto em relação ao desprezo do ateniense cético quanto à carranca do promíscuo
coríntio e da raiva do tacanho judeu? O que o apóstolo diz de si mesmo? Temos a sua pró-
pria explicação do mistério nas palavras que estão diante de nós: “O amor de Cristo nos
constrange”.
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I. O Constrangedor Amor de Cristo.
Isto se refere ao amor de Cristo pelo homem, e não o nosso amor pelo Salvador. Isso é
bastante óbvio, a partir da explicação que se segue, onde a Sua morte por todos é apon-
tada como o exemplo do Seu amor. Foi a admirável visão de que a compaixão do Salvador
— levando-O a morrer por e em lugar de Seus inimigos, suportando os pecados deles e
provando a morte por todos — impulsionou Paulo a cada trabalho, e fez com que todos os
seus sofrimentos se tornassem leves para ele, que os mandamentos não fossem penosos
e ele “correu com paciência a carreira que lhe foi proposta”. Por quê? Porque ele olhou para
Jesus, e viveu como um homem “crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele”.
Usando que meios? Olhando para a cruz de Cristo.
Assim como o sol natural nos céus exerce uma poderosa energia atrativa e incessante
sobre os planetas que giram ao redor dele, assim fez o Sol da justiça, que havia, de fato,
raiado sobre Paulo com um brilho superior ao do sol do meio-dia, e exercia em sua mente
uma energia contínua e onipotente, constrangendo-o a viver a partir de agora não mais
para si, mas para Aquele que por ele morreu e ressuscitou. E, observe, que não era uma
energia temporária e irregular que foi exercida sobre o seu coração e vida, mas uma atração
permanente e contínua; pois ele não diz que o amor de Cristo uma vez o constrangeu; ou
que o amor de Cristo ainda o constrangeria; ou que, em tempos de grande ânimo, nos
períodos de oração ou devoção peculiar, o amor de Cristo o havia constrangido. Ele disse
simplesmente que o amor de Cristo o constrange. Este é o poder sempre presente, perma-
nente e ativo que constitui a mola mestra de todos os seus trabalhos; de modo que se isso
fosse tirado suas energias se esgotariam, e Paulo se tornaria fraco como os outros homens.
Não há ninguém lendo isto cujo coração é desejoso de possuir apenas um princípio impul-
sionador como este? Não há ninguém que tenha chegado a essa mais interessante de
todas as etapas de conversão emque você está suspirando por umpoder para lhe renovar?
Você entrou pela porta estreita da crença. Você viu que não há paz para o não-justificado;
e, portanto, se revestiu de Cristo para a sua justiça; e já sente um pouco da alegria e da
paz da crença. Você pode olhar para trás em sua vida passada, vivida sem Deus, sem
Cristo e sem o Espírito no mundo; você pôde ver-se um pária condenado, e você disse:
“Ainda que eu pudesse lavar as mãos em água de neve, ainda assim as minhas próprias
vestes me abominam”. Você pode fazer tudo isso, com vergonha e autocensura, é verdade,
mas ainda sem desânimo e sem desespero; pois o seu olho olhou com fé para Aquele que
foi feito pecado por nós, e está convencido de que, como aprouve a Deus imputar todas as
vossas iniquidades no Salvador, Ele está pronto, e sempre foi disposto, para imputar toda
a justiça do Salvador a você. Sem desespero, eu disse? Ou melhor, com alegria e canto;
porque, se, de fato, você creu de todo o seu coração, então você se tornou o homem bem-
aventurado a quem Deus imputa a justiça sem as obras; ao qual Davi descreve, dizendo:
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“Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-
aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade” [Salmos 32:1-2].
Esta é a paz do homem justificado. Mas essa paz é um estado de bem-aventurança per-
feita? Não há nada deixado a desejar? Faço um apelo para aqueles de vocês que sabem
o que é ser crente. O que é que ainda obscurece o semblante, que reprime a exultação do
espírito? Por que não juntar-se sempre na canção de ação de graças: “Bem-dize, ó minha
alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o que perdoa
todas as tuas iniquidades” [Salmos 103:2-3]! Se nós recebemos em dobro por todos os
nossos pecados, assimnunca deveria ser necessário para nós arguir como o faz o salmista:
“Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?” [Salmos
42:11a]. Meus amigos, não há um homem entre vós que realmente crê, que não tenha
sentido o pensamento inquietante do qual eu estou falando agora. Pode haver alguns de
vocês que se sentirão tão dolorosamente, como que tendo sido obscurecidos com uma
nuvem pesada, a doce luz da paz evangélica, o brilho do rosto reconciliado sobre a alma.
O pensamento é este: “Eu sou um homem justificado; mas, ai de mim! eu não sou um
homem santificado. Eu posso olhar para a minha vida passada, sem desespero; mas como
eu posso olhar para a frente, para o que está por vir?”.
Não há uma paisagem moral mais pitoresca no universo do que a alma de um desses pre-
sentes. Tendo todas as suas ofensas passadas perdoadas, o olho contempla o interior, com
uma clareza e uma imparcialidade desconhecidas anteriormente, e lá ele olha para suas
afeições há muito estimuladas ao pecado, e que, como os rios antigos, tem usado um canal
profundo para o coração. Suas declarações periódicas de paixão, até então irresis-tível e
avassaladora, como as marés do oceano; suas perversidades de temperamento e de hábi-
tos tortos e inflexíveis como os galhos retorcidos de um carvalho atrofiado. Que cena está
aqui; que antecipação do futuro! Que pressentimentos de uma luta vã contra a tirania da
luxúria! contra velhas maneiras de agir, e de falar, e de pensar! Se a esperança da glória
de Deus não fosse um dos direitos adquiridos do homem justificado, ele ficaria surpreso se
essa visão de terror fizesse um homem voltar trás, como um cão ao seu vômito, ou como a
porca lavada volta a chafurdar na lama?
Agora assimé como homem precisamente nesta situação, clamando pela manhã e à tarde:
“Como poderei ser feito de novo?”. Que bem deverá o perdão dos meus pecados passados
fazer a mim, se eu não for liberto do amor ao pecado? Assim é com o homem que nós ire-
mos agora, com toda a seriedade e afeição, apontar o exemplo de Paulo, e o poder secreto
que operou nele. “O amor de Cristo”, diz Paulo, “nos constrange”. Nós também somos ho-
mens, de natureza semelhante a vocês; essa mesma visão que você vê com desânimo
dentro de você, foi de igual modo revelada em nós em todo o seu poder desanimador. De
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quando em quando a mesma visão horrenda dos nossos próprios corações é revelada a
nós. Mas nós temos um encorajamento que nunca falha. O amor do Salvador sangrante
nos constrange. O Espírito é dado para os que creem, e este agente todo-poderoso tem
um argumento que nos move continuamente: o amor de Cristo.
Meu presente objetivo é mostrar como esse argumento, na mão do Espírito, move o crente
a viver para Deus; como tão simples verdade do amor de Cristo ao homem, continuamente
apresentada à mente pelo Espírito Santo, deve capacitar qualquer homem a viver uma vida
de santidade evangélica. Se há um homem entre vós, cuja a grande dúvida é: “Como serei
salvo do pecado, como andarei como um filho de Deus?”. Este é o homem dentre todos os
outros, cujo ouvido e o coração eu estou ansioso para alcançar.
II. Seu Amor Remove Nosso Ódio.
O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa, pois essa verdade
tira todo o seu medo e ódio de Deus.
Quando Adão ainda não havia caído, Deus era tudo para sua alma; e tudo era bom e dese-
jável para ele, somente na medida em que tinha a ver com Deus. Cada veia do seu corpo,
de modo que foi assombrosa e maravilhosamente formado, cada folha que farfalhava nos
caramanchões do Paraíso, a cada novo sol que se erguia, regozijando-se como um herói,
a correr a sua corrida, levou-o todos os dias novos temas de pensamentos piedosos e de
admiráveis louvores; e foi só por isso que ele podia se encantar a olhar para eles. As flores
que apareceram sobre a terra, o canto dos pássaros e a voz da rola ouvida em toda a terra
feliz, a figueira produzindo seus figos verdes, e as vinhas com as uvas dando um cheiro
bom, tudo isso combinado trazia a ele por todos os poros uma grande e variada sensação
de felicidade. E por quê? Só porque elestraziampara a alma comunicações ricas e variadas
da multiforme graça de Jeová. Pois, assim como você pode ter visto uma criança na terra
dedicada a seu pai terreno, satisfeita com tudo quando ele está presente, e valorizando
cada dom da mesma forma que serve para demonstrar ainda mais a ternura do coração de
seu pai, assim também era com essa genuína criança de Deus. Em Deus, ele viveu, e
moveu-se, e existiu; e não mais certo seria que a extinção do sol nos céus tirasse essa luz
que é tão agradável aos olhos, do que seria a ocultação da face de Deus ter-lhe tirado a luz
de sua alma, e deixado a natureza em um deserto escuro e desolado.
Mas, quando Adão caiu, o ouro fino tornou-se opaco, o seu processamento mental e gostos
foram invertidos. Em vez de desfrutar de Deus em tudo, e tudo em Deus, tudo agora parecia
odioso e desagradável para ele, justamente na medida em que tinha a ver com Deus.
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Quando o homem pecou, passou a temer, e odiar Aquele a quem temia; e fugiu para todo
o pecado apenas para fugir dAquele a quem ele odiava. De modo que, assim como você
pode ter visto uma criança que penosamente transgrediu contra um pai amoroso fazendo
todo o possível para esconder-se da vista de seu pai, fugindo de sua presença e mergu-
lhando em outros pensamentos e ocupações só para livrar-se do pensamento de seu pai
justamente ofendido; na mesma forma, quando Adão caiu ouviu a voz do Senhor Deus, que
passeava no jardim pela viração do dia, aquela voz que antes de pecar era música celestial
em seus ouvidos, então “esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus,
entre as árvores do jardim” [Gênesis 3:8]. E da mesma maneira todo homem natural foge
da voz e da presença do Senhor, não para esconder-se sob as folhas grossas do Paraíso,
mas para enterrar-se em cuidados, e negócios, e prazeres, e farras. Qualquer retiro é agra-
dável, desde que Deus não esteja lá; qualquer ocupação é tolerável, desde que Deus não
esteja nos pensamentos.
Agora, tenho a certeza que muitos de vocês podem ouvir essa acusação contra o homem
natural com uma indiferença incrédula, ou até mesmo com indignação. Você não sente que
você odeia a Deus, ou teme a Sua presença; e, portanto, você diz que isso não pode ser
verdade. Mas quando Deus diz a respeito de seu coração que é “desesperadamente
corrupto” [Jeremias 17:9], quando Deus reivindica para si o privilégio de conhecer e esqua-
drinhar o coração; não é presunçoso, em tais seres ignorantes como nós que devamos
dizer que não é verdade em relação a nossos corações o que Deus afirma ser verdade,
simplesmente porque não estamos conscientes disso?
Deus diz que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” [Romanos 8:7], que a própria
semente e substância de uma mente não-convertida é o ódio contra Deus, umódio absoluto
e implacável contra Aquele em quem vivemos, nos movemos e existimos. É bem verdade
que não sentimos esse ódio dentro de nós; mas isso é apenas um agravamento do nosso
pecado e do nosso perigo. Temos assim bloqueado as vias de autoexame, há tantas voltas
e voltas antes que possamos chegar aos verdadeiros motivos de nossas ações, que o
nosso medo e ódio de Deus, que levam o homem a pecar, e que são as grandes forças
impulsoras quais os aguilhões de Satanás sobre os filhos da desobediência; os verdadeiros
motivos de nossas ações estão totalmente escondidos de nossa vista, e você não pode
convencer um homem natural que eles estão realmente ali. Mas, a Bíblia testemunha que
destas duas raízes mortais, do temor e do ódio de Deus, cresce a densa floresta de pecados
com que a terra está enegrecida e coberta. E se há alguém entre vós, que foi despertado
por Deus para saber o que está em seu coração, eu tomo esse homem hoje para teste-
munhar que seu clamor amargo, tendo visto todos os seus pecados, tem sido: “Contra ti,
contra ti somente pequei” [Salmos 51:4].
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Se, então, o temor e o ódio de Deus, são a causa de todos os nossos pecados, como deve-
mos ser curados do amor ao pecado, senão por tirarmos a causa? Como você mais
efetivamente mata a erva daninha? Não é atacando a raiz? No amor de Cristo ao homem,
então — neste admirável e inefável dom de Deus, quando Ele deu a Sua vida por Seus
inimigos, quando morreu o justo pelos injustos para levar-nos a Deus —, você não vê um
objeto que, se realmente crido pelo pecador, tira todo o seu medo e todo o seu ódio de
Deus? A raiz do pecado é separada do seu tronco, deste duplo fundamento de todos os
nossos pecados, vemos a maldição levada, vemos Deus reconciliado. Por que devemos
temer? Não tema, por que devemos odiar a Deus ainda? Não odeie Deus, o que mais de
desejável podemos ver no pecado? Descanse sobre a justiça de Cristo, estamos nova-
mente no lugar onde Adão esteve, com Deus como nosso amigo. Nós não temos nenhum
motivo para pecar; e, portanto, nós não nos importamos com o pecado.
No sexto capítulo de Romanos, Paulo parece falar do crente pecando, como se a própria
proposição fosse absurda. “Nós, que estamos mortos para o pecado”, isto é, nós que já
fomos punidos em Cristo, “como viveremos ainda nele?” [v. 2]. E novamente ele diz muito
corajosamente: “O pecado não terá domínio sobre vós”, é impossível na natureza das
coisas, “pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” [v. 14]; você não está mais
sob a maldição de uma Lei violada, temendo e odiando a Deus; você está debaixo da graça;
sob um sistema de paz e amizade com Deus.
Mas há alguém pronto para objetar-me que se essas coisas são assim, se nada mais do
que isso é necessário para trazer um homem à paz com Deus e à uma vida e conversação
santa, como os crentes ainda cometem pecado? Eu respondo, é de fato muito verdadeiro
que os crentes pecam; mas é igualmente verdade que a incredulidade é a causa de seu
pecado. Se você e eu estivéssemos vivendo com o olho tão próximo em Cristo suportando
tanto por todos os nossos pecados, oferecendo gratuitamente a todos uma justiça emdobro
por todos os nossos pecados; e se esta visão do amor de Cristo fosse constantemente
mantida dentro de nós, como certamente seria se olhássemos com um olho simples, a paz
de Deus que excede todo o entendimento — a paz que não repousa em nenhum de nós,
mas inteiramente sobre Cristo —, então eu digo que, frágeis e indefesos como somos, nós
nunca pecaríamos nemteríamos a menor motivação para pecar. Todavia não é desta forma
conosco. Quantas vezes durante o dia o amor de Cristo é completamente esquecido!
Quantas vezes está obscurecido para nós! Às vezes se oculta de nós pelo próprio Deus,
para nos ensinar o que somos. Quantas vezes somos deixados sem o sentido do que é a
completude da Sua oferta, a perfeição de Sua justiça, e ficamos sem vontade ou sem
confiança para afirmar nosso interesse nEle! Quem maravilha-se, então, que onde há tanta
incredulidade, medo e ódio por Deus haverá mais e mais deformação, e o pecado irá muitas
vezes exibir sua cabeça venenosa?
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A questão é muito simples, se apenas nós tivéssemos olhos espirituais para vê-la. Se vivês-
semos uma vida de fé no Filho de Deus, então iríamos certamente viver uma vida de santi-
dade. Eu não digo que devemos fazê-lo; mas eu digo, deveremos, como uma questão de
consequência necessária. Mas na medida em que não vivemos uma vida de fé, viveremos
uma vida de impiedade. É por meio da fé que Deus purifica o coração; e não há outra ma-
neira.
Existe algum de vocês, então, desejoso de ser feito novo, de ser liberto da escravidão de
hábitos e afeições pecaminosas? Não podemos apontar-lhe nenhum outro remédio, senão
o amor de Cristo. Vede como Ele o amou! Veja o que Ele suportou por você; coloque o
dedo, por assim dizer, nas marcas dos cravos, e coloque a mão no seu lado; e não sejas
incrédulo, mas crente. Sob um senso de seu pecado, fuja para o Salvador dos pecadores.
Como a pomba temerosa voa para esconder-se nas fendas das rochas, assim fuja para se
esconder nas feridas de Seu Salvador; e depois de tê-lO encontrado como a sombra de
uma grande rocha em terra sedenta; quando você se sentar sob Sua sombra, com grande
prazer; você vai achar que Ele matou toda ainimizade, que Ele findou todas astuas guerras.
Deus agora é por você. Plantado juntamente com Cristo na semelhança da Sua morte, você
será também na semelhança da Sua ressurreição. Morto para o pecado, você deverá estar
vivo para Deus.
III. Seu Amor Desperta O Nosso Amor
O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa; porque esta
verdade não somente remove o medo e o ódio, mas desperta o nosso amor.
Quando somos levados a ver a face do Deus reconciliado em paz, este é um grande privi-
légio. Mas como podemos olhar para Aquela face, reconciliando e reconciliado, e não amar
Aquele que assim nos amou? Amor gera amor. Dificilmente podemos deixar de estimar
aqueles no mundo que realmente nos amam, embora eles possam não servir a nossos
interesses. Mas quando estamos convencidos de que Deus nos ama, e convencidos de tal
forma pelo dom de Seu Filho por todos nós, como iremos, senão amar Aquele em quem
estão todas as excelências, tudo aquilo que evoca o amor?
Eu já mostrei que o Evangelho é um esquema de restauração; ele nos traz de volta para o
mesmo estado de amizade com Deus que Adão desfrutava, e, assim, tira o desejo do peca-
do. Mas agora eu irei mostrar a você, que o Evangelho faz muito mais do que nos restaurar
ao estado do qual caímos. Se correta e consistentemente apreendido por nós, ele nos
coloca em um estado muito melhor do que Adão. Ele nos constrange por um motivo muito
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mais poderoso. Adão não tinha esse forte amor de Deus ao homem, derramado em seu
coração; e, portanto, ele não tinha esse poder constrangedor para fazê-lo viver para Deus.
Mas os nossos olhos viram esta grande visão. Diante de nós Cristo foi demonstrado crucifi-
cado. Se realmente acreditamos que, Seu amor trouxe-nos à paz, por meio do perdão; e
porque estamos perdoados e em paz com Deus, o Espírito Santo nos é dado. Para quê?
Ora, exatamente para derramar esta verdade sobre os nossos corações, para nos mostrar
mais e mais desse amor de Deus por nós, para que possamos ser atraídos a adorar Aquele
que nos amou, viver para Aquele que morreu e ressuscitou por nós.
É realmente admirável ver como a forma bíblica de nos fazer santos é adequada à nossa
natureza. Se Deus tivesse proposto nos atemorizar para vivermos uma vida santa, quão
inútil teria sido essa tentativa! Os homens têm sempre uma ideia, que se alguém vivesse
dos mortos para nos contar sobre a realidade das regiões onde os espíritos dos condena-
dos habitam em tristeza e miséria sem fim; que isso iria constrangê-los a viver uma vida
santa; mas que ignorância isso mostra da nossa natureza misteriosa!
Suponha que Deus nesta hora desvendasse diante dos nossos olhos os segredos dessas
moradas terríveis aonde há esperança inexiste; suponha, se fosse possível, que você foi
realmente levado a sentir por algum tempo as dores reais do lago de fogo e experimentado
a agonia, e o verme que nunca morre; e depois que você foi trazido de volta à terra, e
colocado emsua velha situação, entre seus velhosamigos e companheiros; você realmente
acha que haveria qualquer chance de você caminhar com Deus como um criança? Eu não
duvido que você iria ter um termo correto de seus pecados; e nem a taça do prazer sem
Deus cairia de sua mão; nem você estremeceria com a blasfêmia, nem você tremeria diante
uma mentira, simplesmente pelo fato de você ter visto e sentido algo do tormento que
aguarda o bêbado, o blasfemador e o mentiroso, no mundo além-túmulo. Você realmente
acha que você iria viver para Deus mais do que você vive, que você iria servi-lo melhor do
que antes? É bem verdade que você pode ser levado a ser mais caridoso; sim, a dar todos
os seus bens para sustento dos pobres, e seu corpo para ser queimado; que você pode
viver com rigor e seriedade, a com o maior medo de quebrar um dos mandamentos por to-
do o resto de seus dias, mas isso não seria viver para Deus, você não iria amá-lo um pou-
quinho mais. Infelizmente vocês estão cegos para os vossos corações, se você não sabe
que o amor não pode ser forçado; nenhum homem jamais chegou a amar por ter sido ate-
morizado, e, portanto, nenhum homem jamais poderá se tornar santo por causa do temor.
Mas, três vezes bendito seja Deus, pois Ele inventou uma maneira mais poderosa do que
o inferno e todos os seus terrores; um argumento mais forte do que os espíritos dos conde-
nados e do que até mesmo a visão daqueles tormentos. Ele inventou uma maneira de nos
atrair para a santidade; ao mostrar-nos o amor de Seu Filho, Ele suscita nosso amor. Ele
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conhecia a nossa estrutura; lembrou-se de que somos pó. Ele conhecia todas as peculiari-
dades do nosso coração traiçoeiro; e, portanto, Ele adequou Sua maneira de santificar a
criatura que deveria ser santificada. Assim, o Espírito não faz uso do terror para nos
santificar, mas do amor: “O amor de Cristo nos constrange”. Ele nos atrai com “com cordas
humanas, com laços de amor” [Oséias 11:4]. O que o pai faz para conhecer a verdadeira
forma de ganhar a obediência de um filho, não é ganhar o afeto da criança? E você acha
que Deus, que nos deu essa sabedoria, Ele mesmo não sabe disso? Você acha que Ele
iria determinar obter a obediência de seus filhos, sem antes de tudo ganhar sua afeição?
Para obter nossas afeições, que por natureza perambulam pela face do mundo e em nada
repousa, senão nEle; Deus enviou o Seu Filho ao mundo para suportar a maldição de
nossos pecados. “Sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza
enriquecêsseis” [2 Coríntios 8:9].
Se há apenas um de vocês que irá neste dia, sob um senso de aniquilação, fugir para o
refúgio, para o Salvador, para encontrar nEle o perdão de todos os pecados passados, eu
sei muito bem que a partir de hoje em diante você vai ser como aquela pobre mulher, que
era uma pecadora, que estava aos pés de Cristo, atrás dele, chorando e começou a lavar
os Seus pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e beijava os Seus
pés e os ungia com unguento. Quando você for muito perdoado, muito amará; amando
muito, você vai viver para o serviço dAquele a quem você ama. Este é o grande princípio
do qual falamos; esta é a fonte secreta de toda a santidade dos santos.
A vida de santidade não é o que o mundo falsamente representa, uma vida de rigidez e de
fadiga, na qual um homem se priva da toda afeição de sua natureza. Não existe tal coisa
como a abnegação no sentido papista desta palavra na Religião da Bíblia. O sistema de
restrições e autoflagelação é o próprio sistema que Satanás criou como uma falsificação do
caminho da santificação de Deus. É assim que Satanás atemoriza milhares contra a paz e
a santidade propostas no Evangelho; como se para ser um homem santificado o homem
devesse ser privado de todos os desejos do seu ser, e devesse fazer que fosse desagra-
dável e desconfortável para ele. Meus amigos, o nosso texto nos mostra claramente que
não é assim. Somos constrangidos à santidade pelo amor de Cristo; o amor dAquele que
nos amou, é a única corda pela qual estamos vinculados ao serviço de Deus. O flagelo dos
nossos afetos é o único flagelo que nos leva ao novo dever. Doces laços e gentis flagelos!
Quem não gostaria de estar sob o Seu poder?
IV. O Perseverante Amor de Cristo.
Finalmente, se o amor de Cristo por nós é o objeto que o Espírito Santo faz uso, no início,
para nos atrair para o serviço de Cristo, é por meio deste mesmo objeto que Ele nos chama
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a perseverar até o fim. Assim, que se você é visitado com temporadas de frieza e indiferen-
ça; se você começar a se cansar, ou ficar para trás no serviço de Deus. Eis, aqui está o re-
médio: Olhe novamente para o Salvador sangrante. Este Sol da justiça é o grande centro
de atração, em torno do qual todos os Seus santos se movem rapidamente, e em conjunto
harmonioso e suave, “não sem música”. Enquanto o olho crente se fixar sobre o Seu amor,
o caminho do crente é fácil e desimpedido; pois este amor sempre constrange. Mas, desvie
o olho, crente, e o caminho se torna impraticável e a vida de santidade um cansaço.
Quem, então, deseja viver uma vida de perseverança na santidade, mantenha o olhar fixo
no Salvador. Enquanto Pedro olhou apenas para o Salvador, ele caminhou sobre o mar em
segurança, para ir a Jesus; mas quando ele olhou ao redor e sentiu o vento forte, teve me-
do, e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”, justamente assim será com você.
Enquanto você olhar com fé para o Salvador, que te amou, e entregou a Si mesmo por
você, desde então você poderá pisar nas águas do mar agitado da vida, e as solas dos pés
não serão molhadas. Entretanto, se porventura você olhar ao redor para os ventos e as
ondas que o ameaçam em cada lado, e, como Pedro, você começar a afundar, clame: “Se-
nhor, salva-me!”. Quão justamente, então, podemos dirigir a você a repreensão do Salvador
a Pedro: “Ó, homem de pouca fé, por que duvidaste?”. Olhe novamente para o amor do
Salvador, e contemple o amor que constrange a viver não mais para si, mas por Aquele
que morreu por você e ressuscitou.
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3
Pai, Eu Quero
I
SERMÃO
“Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver,
também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste;
porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” (João 17:24)
I. A FORMA DESTA ORAÇÃO
“Pai, eu quero”.
Esta é a mais maravilhosa oração que alguma vez elevou-se da terra para o trono de Deus,
e esta petição é a mais maravilhosa da oração. Nenhuns lábios humanos jamais oraram
assim antes: “Pai, eu quero”. Abraão era amigo de Deus, e ficou muito perto de Deus em
oração; mas ele orou como pó e cinzas. “E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me
atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza” [Gênesis 18:27]. Jacó lutou com Deus e
prevaleceu, mas a sua palavra mais ousada foi: “Não te deixarei ir, se não me abençoares”
[Gênesis 32:26]. Daniel foi umhomem muito amado, e teve respostasimediatas àsorações,
e ainda assim ele clamou a Deus como um pecador: “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó
Senhor, atende-nos e age” [Daniel 9:19]. Paulo foi um homem que esteve muito perto de
Deus, e ainda assim ele diz: “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo” [Efésios 3:14]. Porém quando Cristo orou, clamou: “Pai, eu quero”.
Por que Ele ora assim?
Ele era companheiro de Deus: “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o
homem que é o meu companheiro” [Zacarias 13:7]. Apesar disso, Ele não usurpou o ser
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igual a Deus. Foi Ele quem disse: “Haja luz, e houve luz”. Portanto, agora Ele diz: “Pai, eu
quero”.
A Sua vontade e a vontade do Pai era uma: “Eu e o Pai somos um” [João 10:30]. Um só
Deus, um só coração e vontade. É verdade, Ele tinha uma santa alma humana, e, portan-
to, uma vontade humana; mas Sua vontade humana era uma com a Sua vontade Divina. A
corda humana em seu coração estava sintonizada na mesma corda da Sua vontade Divina.
Queridos filhos de Deus, aprendam quão seguramente esta oração será respondida. É im-
possível que esta oração fique sem resposta. É a vontade do Pai e do Filho. Se Cristo quer,
e se o Pai quer, vocês podem ter certeza de que nada pode impedir isso. Se a ovelha está
na mão de Cristo, e na mão do Pai, ela jamais perecerá.
II. POR QUEM ELE ORA.
“Aqueles que me deste”.
Seis vezes neste capítulo Cristo chama o seu povo por este nome: “Aqueles que me deste”.
Esta parece ter sido uma expressão favorita de Cristo, especialmente quando os conduzia
sobre Seu coração diante do Pai. A razão parece significar que Ele lembra ao Pai que eles
são tanto do Pai como eles são Seus próprios; que o Pai tem o mesmo interesse que Ele
por eles, tendo-lhes dado a Ele antes que o mundo existisse. E assim Ele o repete no
versículo 10: “E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas”. Antes que
o mundo existisse, o Pai escolheu umpovo deste mundo. Ele os entregou na mão de Cristo,
ordenando-Lhe que não perdesse nenhum, e que Ele suportaria os seus pecados em Seu
próprio corpo no madeiro, e os ressuscitasse no último Dia. E, consequentemente, Ele diz:
“Dos que me deste nenhum deles perdi” [João 18:9].
Há algum sinal daqueles que são dados a Cristo? Eles não são melhores do que os outros,
pelo contrário, às vezes Ele escolhe os piores, mas há uma outra resposta: “Todo o que o
Pai me dá virá a mim [João 6:37]. Uma das marcas seguras de todos os que foram dados
a Cristo é que eles vêma Jesus. Todos eles vêm “a Jesus, o Mediador de uma nova aliança,
e ao sangue da aspersão” [Hebreus 12:24]. Você veio a Cristo? O seu coração foi aberto
para receber a Cristo? Cristo tornou-se precioso para você? Então você pode ter a certeza
que você foi dado a Cristo antes da fundação do mundo. Seu nome está no Livro da Vida
do Cordeiro, e seu nome está no peitoral de Cristo. É por você que Ele ora: “Pai, eu quero
que esta alma esteja comigo”. Cristo nunca perderá você. O Pai, que deu você a Ele é
maior do que todos, e ninguém pode arrebatar você da mão do Pai.
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III. O ARGUMENTO.
“Porque tu me amaste”. Cristo lembra o Pai de Seu amor por Ele, antes que o mundo
existisse. Quando não havia terra, nem sol, nem lua, nem anjo, quando Ele estava ao lado
dEle.
Então, “tu me amaste”. Quempode compreender esse amor, o amor de umDeus não criado
ao Seu Filho não criado? O amor de Jônatas por Davi era muito grande, ultrapassando o
amor das mulheres. O amor de um crente a Cristo é muito grande, porque ele vê que Cristo
é totalmente desejável. O amor de um santo anjo por Deus é muito ardente, porque eles
são como labaredas de fogo. Mas estes todos são amores da criatura; Estes são apenas
córregos; mas o amor de Deus por Seu Filho é um oceano de amor. Há de tudo em Cristo
para atrair o amor do Pai. Agora discirnam Seu argumento: Se Tu me amas, faça isso pelo
Meu povo.
Assim como Ele disse a Paulo: “Por que me persegues?”. Sentindo-se Um com Seus
membros aflitos sobre a Terra. Deste modo Ele dirá no último dia: “Em verdade vos digo
que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” [Mateus
25:40]. Ele reconhece os crentes como parte de Si mesmo; aquilo que é feito a eles é feito
a Cristo. Então, aqui, quando Ele os conduz ao Seu Pai, este é todo o Seu argumento: “Tu
me amas”. Se Tu me amas, os ama, pois eles são parte de Mim. Veja, amado, quão
seguramente a oração de Cristo por você será respondida. Ele não alega que você é bom
e santo; Ele não alega que você é digno; Ele só pleiteia a Sua própria amabilidade aos
olhos do Pai. Não olhe para eles, diz Ele, mas olhe para mim. Tu me amaste, antes da
fundação do mundo. Aprendam a usar o mesmo argumento com Deus, queridos crentes,
isto é, pedir emnome de Cristo, por amor do Senhor. Esta é a oração que nunca é recusada.
Cuidem para que vocês não venham em seu próprio nome, senão vocês serão rejeitados.
Venham assim, para a Sua mesa. Diga ao Pai: me aceite, pois Tu O amas, desde a funda-
ção do mundo.
IV. A ORAÇÃO EM SI.
Duas partes.
1. Que eles estejam comigo.
(1) O que Cristo quer dizer. Ele não quer dizer que devemos estar atualmente retirados
deste mundo. Alguns de vocês que têm vindo a Cristo podem, neste dia, ser favorecidos
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com tanto de Sua presença e do amor do Pai, tanto da alegria do céu, e um tal pavor de
voltar a trair Cristo estado no mundo, que vocês podem estar desejando que esta casa fos-
se realmente aquele portão do céu; vocês podem desejar serem transportados da mesa de
baixo para a mesa de cima. “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de
partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” [Filipenses 1:23]. Cristo ainda
não deseja isto. “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” [João 17:15].
“Para onde eu vou não podes agora seguir-me” [João 13:36]. (Como aquela mulher no
Diário de David Brainerd: “Ó bendito Senhor! Leve-me; permita-me morrer e ir com Jesus
Cristo. Tenho medo de que, se eu viver, eu pecarei novamente”).
(2) O que Ele quer dizer. Ele quer dizer que, quando a jornada acabar, estaremos com Ele.
Todo aquele que vem a Cristo tem uma jornada para realizar neste mundo. Alguns têm uma
jornada longa, e alguns têmuma jornada curta. Esta jornada é atravésde umdeserto. Cristo
ainda ora para que, no final, você possa estar com Ele. Todo aquele que vem a Cristo tem
suas doze horas para trabalhar para Cristo. “Convém que eu faça as obras daquele que me
enviou, enquanto é dia” [João 9:4]. Mas quando isso é feito, Cristo ora para que você esteja
com Ele. Ele quer dizer que você deve vir para a casa de Seu Pai, com Ele. “Na casa de
meu Pai há muitas moradas” [João 14:2]. Você deve morar na mesma casa com Cristo.
Você nunca é muito íntimo de uma pessoa até que você a veja em sua própria casa, até
que você a conheça em casa. Isto é o que Cristo quer de nós, que estejamos com Ele em
Sua própria casa. Ele quer que estejamos no seio do mesmo Pai com Ele. “Eu subo para
meu Pai e vosso Pai” [João 20:17]. Ele quer que estejamos no mesmo sorriso com Ele, que
sentemos no mesmo trono com Ele, que nademos no mesmo oceano de amor com Ele.
Aprenda quão seguro você estará, em breve, quando estiver com Cristo. Esta é a vontade
do Pai, esta é a vontade do Filho. É a oração de Cristo. Se você realmente foi levado a
Cristo, você nunca perecerá. Você pode ter muitos inimigos opondo-se a você em seu
caminho para a glória. Satanás deseja ter você para peneirar como trigo. Seus amigos do
mundo farão todo o possível para impedi-lo. Ainda assim você estará com Cristo. Veremos
o seu rosto na mesa da glória. Você tem um coração duro incrédulo e enganoso acima de
todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Muitas vezes você acha que o seu coração
levará você a trair Cristo. Ainda assim você estará com Cristo. Se você está em Cristo hoje,
você estará para sempre com o Senhor. Você tem vivido uma vida má. Você tem pecados
terríveis sobre os quais olhar. Ainda assim, se você veio a Jesus, esta é a Sua palavra para
ti: “Tu estarás comigo no paraíso”. Na verdade, Cristo não pode perder você. Você é a Sua
joia, a Sua coroa. O Céu não seria Céu para Ele, se você não estivesse ali. Isso pode lhe
dar coragem ao vir para a mesa do Senhor. Alguns de vocês têm medo de vir a esta mesa,
porque, se vocês se unirem a Cristo hoje, têm medo que possam traí-lO amanhã. Mas
vocês não precisam ter medo. “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até
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ao dia de Jesus Cristo” [Filipenses 1:6]. Vocês devem sentar-se à mesa de cima, onde
Cristo estará na cabeceira. Vocês não precisam ter medo de vir a esta mesa.
2. Para que vejam a minha glória que me deste.
Há três estágios na glória de Cristo. Esta será a ocupação do céu: a contemplação de todas
elas.
Primeiro. A glória original de Cristo. Esta é a Sua glória não derivada, não criada, como
igual ao Pai. Ela é mencionada em Provérbios 8:30: “Então eu estava com ele, e era seu
arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo”. E,
novamente, nesta oração: “aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (v.
5). Dessa glória nenhum homem pode falar, nenhum anjo, nem arcanjo. Somente de uma
coisa sabemos, que devemos honrar o Filho, bem como devemos honrar o Pai. Ele
compartilha com o Pai em ser o Único todo-perfeito, quando não havia nada para admirar,
ninguém para adorar, nem anjos com harpas de ouro, nem serafins a cantar Seu louvor,
nem querubins a clamar: “Santo, santo, santo”. Antes que todas as criaturas existissem, Ele
era Um com o Deus infinitamente perfeito, bom e glorioso. Ele era, então, tudo o que Ele
mais tarde evidenciou ser. A criação e redenção não O mudaram. Elas apenassó revelaram
o que Ele era anteriormente. Elas apenas forneceram os objetos para que aqueles raios de
glória repousassem, de forma que brilhavam tão plenamente como antes, desde toda a
eternidade. A eternidade será tomada com o louvor a Deus, à medida que Ele revelou a Si
mesmo absolutamente; assim mesmo Ele sairá do retraimento de Sua amável e bem-
aventurada eternidade.
Segundo. Quando Ele se tornou carne. “O Verbo se fez carne” [João 1:14]. Cristo não
obteve mais glória, tornando-se homem, mas Ele manifestou a Sua glória de uma nova
maneira. Ele não ganhou uma perfeição maior, tornando-se homem; Ele tinha todas as
perfeições de Deus anteriormente. Mas agora essas perfeições eram derramadas através
de um coração humano. A onipotência de Deus agora movia-se em um braço humano. O
amor infinito de Deus agora bateia em um coração humano. A compaixão de Deus pelos
pecadores agora brilhava em um olho humano. Deus era amor antes, mas Cristo foi o amor
coberto com carne. Assim como quando você vê o sol brilhando através de uma janela
colorida, e contudo a mesma luz do sol, ainda que brilha com um brilho agradável, de modo
semelhante em Cristo habita toda a plenitude da Divindade. A perfeição da Divindade
brilhou por todos os poros, por meio de toda a ação, palavra e olhar, as mesmas perfeições,
somente estavam brilhando com um brilho ameno. O véu do templo era um tipo de sua
carne, porque ele cobria a luz brilhante do santo dos santos. Mas, assim como a luz
brilhante da Shekiná muitas vezes brilhou através véu, assim ocorreu, pois à Divindade do
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10 sermões vol. ii, por robert murray m'cheyne

  • 1.
  • 2.
  • 3. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Traduzido dos originais em Inglês The Sermons of the Rev. Robert Murray M'Cheyne Minister of St. Peter's Church, Dundee. & A Basket of Fragments By R. M. M'Cheyne Tradução e Revisão por William Teixeira e Camila Almeida Capa por William Teixeira 1ª Edição: Janeiro de 2015 Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License. Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, a fonte original e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo nem o utilize para quaisquer fins comerciais.
  • 4. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Sumário Prefácio.................................................................................................................................4 Reformação Pessoal e Na Oração Secreta...............................................................................5 Sermão 1 — A Voz do Meu Amado........................................................................................15 Sermão 2 — O Constrangedor Amor de Cristo.......................................................................25 Sermão 3 — Pai, Eu Quero...................................................................................................35 Sermão 4 — Olhe Para Cristo Traspassado ...........................................................................49 Sermão 5 — Cristo, o Único Refúgio......................................................................................56 Sermão 6 — Pode Uma Mulher Esquecer? ............................................................................65 Sermão 7 — Gloriando-se na Cruz de Cristo ..........................................................................71 Sermão 8 — Feliz És Tu, Ó Israel..........................................................................................78 Sermão 9 — Cristo, A Porta Para A Igreja..............................................................................87 Sermão 10 — Motivos Para Agarrar-se a Jesus......................................................................91 Referências dos sermões que compõem este volume:..............................................................94
  • 5. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Prefácio Nosso coração transborda de gratidão e nossa boca de riso, pois alegre e reverentemente reconhecemos: “Senhor, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras. E seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus, e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos” (Isaías 26:12; Salmos 90:17). Este é o segundo volume da série “10 Sermões, por Robert Murray M'Cheyne. Os primeiros 10 sermões têm sido abençoadores, o nosso forte anseio é que estes sejam tanto quanto ou mais do que aqueles, e prosperem naquilo que a Deus aprouver. Estes sermões são muito preciosos aos nossos olhos, cada um deles nos traz doces lembran- ças e excelentes meditações. A pena do mui amado Sr. M’Cheyne é como que cheia da luz do conhecimento de Deus e do calor da piedade bíblica. Aqui há a doutrina que é segundo a verdadeira piedade. Muito anelamos que mais e mais almas possam se beneficiar desses sermões simples, mui bíblicos e por isso belos, confortadores, edificantes. Aqui há amor e um coração fervendo com palavras boas ao Noivo de nossas almas. Acredito que a maior necessidade de nossos dias é de homens que amem a Cristo mais do que tudo, e sejam constrangidos por este amor a ponto de O seguirem em todo o tempo, com espadas de dois fios nas mãos e com os altos louvores nas gargantas, com vestes alvas e óleo puro sobre suas cabeças. Onde estão os homens que amam a Jesus Cristo mais do que tudo? Deus o sabe. O desejo de nosso coração é que a trombeta que soou por Dundee, na Escócia, há quase duzentos anos atrás com toque suave e impetuoso, toque outra vez, mas agora no Brasil, que a suavidade console os santos; e o estrugir impetuoso desperte os mortos de seu sono terrível, e os descuidados de Sião sejam alertados pelo som certo, solene e urgente do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Que o Senhor lhe conceda Sua livre a soberana graça, para que te lembres destas palavras na glória e bem-aventurança eterna, no Céu, ao lado de nosso mui Amado Senhor e Salvador Jesus Cristo; e não no inferno na companhia de Satanás e seus demônios, e não em tormen- tos eternos. Nas palavras do piedoso pregador escocês: “Pode ser verdadeiramente dito para todo pecador que lerá estas palavras, que você foi agora chamado, advertido, convidado a escapar da ira vindoura, e para lançar-se a Cristo, que está posto diante de você. Se você não obteve o suficiente para salvar-se, você obteve o suficiente para condenar-te”. William Teixeira. 10 de maio de 2014.
  • 6. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Reformação Pessoal e Na Oração Secreta [Trecho de “A Biografia de Robert Murray M'Cheyne”, por Andrew A. Bonar • Editado] O Sr. M'Cheyne intitula o exame de seu coração e vida de “Reforma” e este começa assim: É dever dos ministros neste dia, que comecem a reforma da Religião e de suas vidas, famí- lias e etc., com confissão de pecados passados, fervente oração por direção, graça e pleno propósito de coração. “Ele purificará os filhos de Levi” (Malaquias 3:3). Os ministros são colocados à parte, por um tempo para esta finalidade. I. Reforma Pessoal. Estou convencido de que obterei a maior quantidade de felicidade presente, farei mais para a glória de Deus e o bem do homem, e terei a plena recompensa na eternidade, através da manutenção de uma consciência sempre lavada no sangue de Cristo, por ser cheio do Espírito Santo em todos os momentos e por obter mais de toda a semelhança com Cristo em mente, vontade e coração, que seja possível para um pecador redimido alcançar neste mundo. Estou convencido de que, sempre que algo exteriormente, ou o meu coração interiormente, a qualquer momento, ou em qualquer circunstância, contradiz isto — se alguém deve insi- nuar que não é para a minha felicidade presente e eterna, e para a glória de Deus e minha utilidade, a manutenção de uma consciência lavada pelo sangue, o ser completamente cheio do Espírito e ser totalmente conforme à imagem de Cristo em todas as coisas — é a voz do Diabo, o inimigo de Deus, o inimigo da minha alma e de todo o bem, a mais tola, ímpia e miserável de todas as criaturas. Veja Provérbios 9:17: “As águas roubadas são doces”. 1. Para manter uma consciência livre de ofensa, estou convencido de que eu devo confes- sar mais os meus pecados. Eu penso que eu devo confessar o pecado no momento em que eu perceba que isto seja pecado. Se eu estiver no trabalho, ou em estudo, ou mesmo na pregação, a alma deve lançar um olhar de aversão ao pecado. Se eu continuar com o serviço, deixando o pecado não confessado, eu prossigo com a consciência sobrecarre- gada, e acrescento pecado a pecado. Eu penso que devo, em certos momentos do dia, em meu melhor momento, digo, depois do almoço e depois do chá, confessar solenemente os pecados das horas anteriores, e buscar a sua remissão completa.
  • 7. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Encontro que o Diabo frequentemente faz uso da confissão de pecado para incitar nova- mente à pratica do mesmo pecado confessado, de modo que eu tenho temo confiar na confissão. Devo solicitar Cristãos experientes sobre isso. No momento, eu acho que devo me esforçar contra este terrível abuso da confissão, em que o Diabo tenta me assustar ao confessar. Eu devo obter todos os métodos para perceber a vileza dos meus pecados. Eu devo me considerar como um descendente condenado de Adão, como participante de uma natureza oposta a Deusdesde o ventre materno (Salmos 51), como tendo umcoração cheio de toda a maldade, que contamina cada pensamento, palavra e ação, durante toda a minha vida, desde o nascimento até a morte. Eu devo confessar muitas vezes os pecados da minha mocidade, como Davi e Paulo, meus pecados antes da conversão, os meus pecados desde a conversão, pecados contra a luz e conhecimento, contra o amor e a graça, contra cada pessoa da Divindade. Eu devo olhar para os meus pecados à luz da santa Lei, à luz da face de Deus, à luz da cruz, à luz do trono de julgamento, à luz do inferno, à luz da eternidade. Eu devo examinar os meus sonhos, meus pensamentos vagueantes, minhas predileções, minhas ações recorrentes, meus hábitos de pensamento, sentimento, palavra e ação; as calúnias de meus inimigos e as reprovações e até gracejos dos meus amigos, para des- cobrir os traços de meu pecado predominante, como assunto para a confissão. Eu devo ter um dia estabelecido de confissão, com jejum, digamos, uma vez por mês. Eu devo ter um número de escritos assinalados, para trazer o pecado à lembrança. Eu devo fazer uso de todas as aflições do corpo, do julgamento interior, das carrancas da providência sobre mim mesmo, da casa, da paróquia, da igreja, ou do país, como apelos de Deus para a confissão de pecado. Os pecados e aflições dos outros homens devem me chamar para o mesmo. Eu devo, nas noites de Sabath, e nas noites de Comunhão de Sabath, ter um cuidado espe- cial para confessar os pecados de coisas sagradas. Eu devo confessar os pecados de minhas confissões, suas imperfeições, objetivos pecami- nosos, tendência hipócrita e etc., e olhar para Cristo como tendo confessado meus pecados perfeitamente sobre Seu próprio sacrifício. Eu devo ir a Cristo para o perdão de cada pecado. Ao lavar o meu corpo, eu devo lavar cada parte. Devo ser menos cuidadoso ao lavar a minha alma?
  • 8. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Eu devo ver o golpe que foi feito nas costas de Jesus por cada um dos meus pecados. Eu devo ver a infinita pontada impressa através da alma de Jesus como uma eternidade de meu inferno por meus pecados, e por todos eles. Eu devo ver que naquele derramamento de sangue de Cristo há um infinito pagamento excessivo por todos os meus pecados. Em- bora Cristo não tenha sofrido mais do que a justiça infinita exigiu, contudo Ele não poderia sofrer de modo algum, sem, antes, estabelecer um resgate infinito. Quanto eu peco, sinto uma relutância imediata para ir a Cristo. Tenho vergonha de ir. Sinto como se não fizesse nenhum bem em ir, como se estivesse fazendo de Cristo um ministro do pecado, indo direto do cocho do suíno para a melhor veste, e mil outras desculpas; mas estou certo de que essas são todas mentiras vindas direto do inferno. João argumenta o caminho oposto: “ se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai” [1 João 2:1]; Jeremias 3:1 e mil outras Escrituras são contra isso. Estou certo de que não há nem paz nemsegurança provinda do mais profundo pecado, mas em ir diretamente ao Senhor Jesus Cristo. Este é o caminho de Deus, da paz e da santidade. É tolice para o mundo e para o coração obscurecido, mas este é o caminho. Eu jamais devo considerar umpecado pequeno demais a ponto de não necessitar da aplica- ção imediata do sangue de Cristo. Se eu lançar fora uma boa consciência, eu farei naufrágio na fé. Nunca devo pensar que os meus pecados são tão grandes, tão graves, tão presun- çosos como quando feitos de joelhos, ou na pregação, ou em um leito de morte, ou durante uma doença perigosa, para me impedir de fugir para Cristo. O peso dos meus pecados deve agir como o peso de um relógio: quanto mais pesado ele é, mais rápido ele o faz ir. Eu não devo apenas me lavar no sangue de Cristo, mas vestir-me da obediência de Cristo. Para cada pecado de omissão em mim, que eu possa encontrar uma obediência Divina- mente perfeita e pronta para mim em Cristo. Para cada pecado de comissão em mim, que eu não apenas possa encontrar um golpe ou uma ferida em Cristo, mas também uma perfeita prestação de obediência em meu lugar, para que a Lei seja magnificada, a sua maldição mais do que cumprida, sua demanda mais do atendida. Muitas vezes a Doutrina de Cristo parece-me comum, bem conhecida, não tendo nada de novo nela. E sou tentado a passar por ela e ir para alguma Escritura mais atrativa. Isto é o Diabo de novo; uma mentira como uma brasa viva. Cristo é para nós sempre novo, sempre glorioso. “Riquezas incompreensíveis de Cristo” [Efésios 3:8]; um objeto infinito e o único para uma alma culpada. Eu devo ter certas Escrituras disponíveis, que conduzam a minha alma cega diretamente para Cristo, tal como Isaías 45 e Romanos 3. 2. Para ser cheio do Espírito Santo, estou certo de que eu devo estudar mais a minha pró-
  • 9. Issuu.com/oEstandarteDeCristo pria fraqueza. Que eu devo ter um número de Escrituras prontas para serem meditadas tais como Romanos 7 e João 15, para convencerem-me de que eu sou umverme desamparado. Sinto-me tentado a pensar que eu sou agora um Cristão confirmado, que eu venci este ou aquele desejo há muito tempo, que eu adquiri o hábito da graça oposta, de modo que não há temor; que eu posso aventurar-me muito perto da tentação, mais perto do que os outros homens. Isto é uma mentira de Satanás. A pólvora não pode adquirir por hábito, um poder de resistir ao fogo, de modo a não produzir a faísca. Enquanto o pó está molhado, ele re- siste à faísca, mas quando ele se torna seco, está pronto a explodir ao primeiro toque. En- quanto o Espírito habita em meu coração, Ele me amortece para o pecado, de modo que, se legalmente chamado a passar pela tentação, eu posso confiar que Deus me conduz. Mas quando o Espírito me deixa, eu sou como pólvora seca. Oh, uma percepção disso! Sinto-me tentado a pensar que há alguns pecados pelos quais não tenho gosto natural, como a bebida forte, linguagem profana e etc., de forma que eu não preciso temer a tenta- ção por tais pecados. Isto é uma mentira, uma mentira orgulhosa, presunçosa. As sementes de todos os pecados estão em meu coração, e talvez de todas as mais perigosas são as que eu não vejo. Eu deveria orar e trabalhar pela mais profunda sensibilidade de minha fraqueza e impo- tência do que jamais um pecador foi levado a sentir. Estou desamparado em relação a cada concupiscência que sempre esteve, ou sempre estará no coração humano. Sou um verme, um animal diante de Deus. Muitas vezes eu tremo ao pensar que isso é verdade. Eu sinto como se não fosse seguro a mim, renunciar a toda força que habita interiormente, como se fosse perigoso que eu sinta (o que é verdade) que não há nada em mim guardando-me do pecado mais grosseiro e mais vil. Esta é uma ilusão do Diabo. Minha única segurança é saber, sentir e confessar minha impotência, para que eu possa pendurar-me no braço da Onipotência. Eu diariamente desejo que o pecado seja erradica- do do meu coração. Eu digo: “por que Deus permite a raiz de lascívia, orgulho, raiva e etc. no meu peito? Ele odeia o pecado, e eu o odeio também; por que Ele não o purifica?”. Eu conheço muitas respostas a isto que satisfazem completamente o meu julgamento, mas ainda assim, não me sinto satisfeito. Isso é errado. É correto estar cansado de estar pecan- do, mas não é correto contender com meu presente “bom combate da fé”. As quedas em pecado de professos me fazem tremer. Eu tenho sido afastado da oração, e sobrecarregado de uma forma temerosa por ouvir ou ver o seu pecado. Isso é errado. É correto tremer, e fazer de cada pecado de todo professo uma lição da minha própria impo- tência, mas isso deveria levar-me mais para Cristo. Se eu estivesse mais profundamente
  • 10. Issuu.com/oEstandarteDeCristo convencido de meu completo desamparo, penso que não ficaria tão alarmado quando ouço das quedas de outros homens. Eu devo estudar aqueles pecados em que sou mais impotente, em que a paixão se torna como um furacão e eu como uma palha. Nenhuma figura de linguagem pode representar a minha absoluta falta de poder para resistir à torrente de pecado. Eu devo estudar mais a onipotência de Cristo: Hebreus 7:25, 1 Tessalonicenses 5:23, Romanos 6:14; 5:9; cap. 10 e Escrituras semelhantes deveriam estar sempre diante de mim. O espinho de Paulo (2 Coríntios 12), é a experiência da maior parte da minha vida. Isso deve estar sempre diante de mim. Existem muitos métodos auxiliares de buscar a liberta- ção dos pecados, que não devem ser negligenciados, como: casamento (1 Coríntios 7:2); fuga (1 Timóteo 6:11, 1 Coríntios6:18); vigiar e orar (Mateus 26:41); a Palavra, “está escrito, está escrito”, assim, Cristo Se defendeu em Mateus 4. Mas a defesa principal é lançar-me nos braços de Cristo como uma criança indefesa, e suplicar-Lhe que me encha com o Espírito Santo. “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. João 5:4-5 é uma passa- gem maravilhosa. Eu devo estudar mais sobre Cristo como um Salvador, como um Pastor, carregando a ove- lha que Ele encontra; como um Rei, reinando nas e sobre as almas que Ele redimiu; como um Capitão, lutando contra aqueles que lutam comigo (Salmos 35); como Aquele que se comprometeu a conduzir-me através de todas as tentações e provações, mesmo impossí- veis para a carne e sangue. Muitas vezes sou tentado a dizer: “Como pode este Homem nos salvar? Como Cristo no céu pode livra-me das paixões furiosas que sinto em mim, e das redes que sinto prendendo- me?” Isto é o pai da mentira novamente! “Ele pode salvar perfeitamente” [Hebreus 7:5]. Eu devo estudar sobre Cristo como um Intercessor. Ele orou mais por Pedro, que era o mais tentado. Eu estou em Seu peitoral. Se eu pudesse ouvir Cristo orando por mim na sala ao lado, eu não temeria um milhão de inimigos. Contudo, a distância não faz diferença; Ele está orando por mim. Eu devo estudar mais sobre o Consolador, Sua Divindade, Seu amor, Sua onipotência. Tenho encontrado por experiência que nada me santifica tanto quanto meditar sobre o Consolador (João 14:16). E ainda assim, como é raro que eu faça isso! Satanás me afasta disso. Muitas vezes sou como aqueles homens que disseram que não sabiam que havia algum Espírito Santo. Eu nunca devo esquecer que meu corpo é habitado pela terceira pessoa da Trindade. Somente pensar nisso, deve fazer-me tremer a pecar (1 Coríntios 6).
  • 11. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Eu nunca devo esquecer que o pecado entristece o Espírito Santo, irrita e extingue-O. Se eu quero ser cheio do Espírito Santo, sinto que devo ler mais a Bíblia, orar mais e vigiar mais. 3. Para obter plena semelhança com Cristo, eu devo ter uma alta estima da bem-aventu- rança disso. Estou persuadido de que a alegria de Deus está inseparavelmente ligada à Sua santidade. Santidade e alegria são como luz e calor. Deus nunca provou dos prazeres do pecado. Cristo teve um corpo como o que eu tenho, mas Ele nunca provou um dos prazeres do pecado, e por toda a eternidade, ele nunca provará um dos prazeres do pecado. Ainda assim, a sua felicidade é completa. Seria minha maior felicidade ser desde já inteiramente como Ele. Cada pecado é algo que me distancia do meu maior prazer. O Diabo se esforça dia e noite para me fazer esquecer disso ou não acreditar nisso. Ele diz: Por que você não desfruta deste prazer, tanto quanto Salomão ou Davi? Você pode ir para o céu também. Estou convencido de que isso é uma mentira. Que a minha verdadeira felicidade seja prosseguir e não mais pecar. Eu não devo adiar o abandono de pecados. Agora é o tempo de Deus. “Apressei-me, e não me detive” [Salmos 119:60]. Eu não deveria poupar os pecados, porque eu tenho há muito tempo consentido com eles como enfermidades, e outros achariam estranho se eu devesse mudar tudo de uma vez. Que ilusão miserável de Satanás isto é! Tudo o que eu percebo ser pecado, eu devo, a partir desta hora, colocar toda a minha alma contra ele, usando todos os métodos bíblicos para mortificá-lo, como as Escrituras, oração especial pelo Espírito, jejum e vigilância. Eu deveria observar rigorosamente as ocasiões em que eu caí, e evitar a ocasião, tanto quanto o próprio pecado. Satanás muitas vezes me tenta a ir tão perto quanto possível das tentações, sem cometer o pecado. Isto é temeroso, pois isso tenta a Deus e entristece o Espírito Santo. É uma trama profunda colocada por Satanás. Eu devo fugir de toda a tentação, de acordo com Provérbios 4:15: “Evita-o; não passes por ele; desvia-te dele e passa de largo”. Eu devo, constantemente, derramar o meu coração a Deus, orando por inteira conformidade com Cristo, para que toda a lei seja escrita no meu coração. Eu devo resoluta e solenemente entregar meu coração a Deus, entregar o meu tudo em Seus braços eternos, de acordo com a oração de Salmos 31: “Nas tuas mãos
  • 12. Issuu.com/oEstandarteDeCristo entrego o meu espírito”, suplicando-Lhe para não deixar que qualquer iniquidade, secreta ou presunçosa, tenha domínio sobre mim e me encha de toda graça que está em Cristo no mais elevado nível que for possível para um pecador redimido recebê-la, e em todos os momentos, até a morte. Eu devo meditar muitas vezes no Céu como um mundo de santidade, onde todos são san- tos, onde a alegria é uma alegria santa, a obra uma obra santa; de modo que, sem a san- tidade pessoal, eu nunca posso estar ali. Eu devo evitar a aparência do mal. Deus me ordena, e eu encontro que Satanás tem uma arte singular em associar a aparência e a realidade, confundindo-as. Eu encontro que falar de alguns pecados contamina a minha mente e me leva à tentação, e encontro que Deus proíbe até mesmo os santos de falarem das coisas que são feitas por eles em oculto. Eu deveria evitar isso. Eva, Acã, Davi, todos caíram através da concupiscência dos olhos. Eu devo fazer uma aliança comigo, e orar: “Desvia os meus olhos de contemplar a vaidade”. Satanás torna os homens não-convertidos como a víbora surda, ao som do Evangelho. Eu devo orar para ser feito surdo pelo Espírito Santo a todos que querem me seduzir ao pecado. Um de meus momentos mais frequentes de ser levado à tentação é esse: Eu digo que é necessário para o meu ofício que eu escute isso, ou olhe para isso, ou fale disso. Até agora, isto é verdadeiro; ainda assim, tenho certeza que Satanás tem sua parte nesse argumento. Eu devo procurar a direção Divina para resolver o quanto isso será benéfico para o meu ministério, e quão maligno para a minha alma, para que eu possa evitar este último. Estou convencido de que nada está prosperando na minha alma a menos que isso esteja acontecendo: “Crescei na graça”, e “Senhor: Acrescenta-nos a fé”, e “Esquecendo-me das coisas que atrás ficam”. Estou convencido de que eu deveria estar perguntando a Deus e ao homem que graça eu necessito, e como eu posso tornar-me mais semelhante a Cristo. Eu devo lutar por mais pureza, humildade, mansidão, paciência sob o sofrimento e amor. “Faça-me semelhante a Cristo em todas as coisas” deve ser a minha constante oração. “Enche-me com o Espírito Santo”. II. Reforma na Oração Secreta. Eu não devo omitir qualquer uma das partes da oração: confissão, adoração, ação de graças, petição e intercessão.
  • 13. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Há uma temerosa tendência de omitir a confissão, proveniente dos baixos pontos de vista sobre Deus e Sua lei, débeis visões de meu coração e pecados passados de minha vida. Isso deve ser resistido. Há uma tendência constante para omitir a adoração, quando eu esqueço com Quem eu estou falando, quando eu corro descuidadamente da presença do Senhor, sem lembrar-me de Seu nome e caráter temíveis, quando eu tenho pequena visão de Sua glória, e pouca admiração por Suas maravilhas. “Onde está o sábio?”. Tenho a tendência natural do coração para omitir a ação de graças. Ainda assim isto é especial- mente ordenado em Filipenses 4:6. Muitas vezes, quando o coração está egoísta, insen- sível para a salvação dos outros, eu omito a intercessão. Embora, este é especialmente o espírito do grande Advogado, que tem o nome de Israel sempre em Seu coração. Talvez nem toda oração precise ter todas estas, mas com certeza, um dia não deveria pas- sar sem algum tempo fosse dedicado a cada uma. Eu deveria orar antes de ver qualquer pessoa. Muitas vezes, quando eu durmo muito, ou encontro-me com outros logo cedo, e depois, tenho a oração familiar, e café da manhã, e pessoas que me procuram pela manhã, frequentemente são onze horas ou meio-dia, antes que eu comece a oração secreta. Isto é um sistema miserável. Isto é antibíblico. Cristo ressuscitou antes do amanhecer, e foi para umlugar solitário. Davi diz: “Pela manhã ouvirás a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e vigiarei” [Salmos 5:3]. Maria Madalena foi ao sepulcro, sendo ainda escuro. A oração familiar perde muito de sua força e doçura; e eu não posso fazer nada de bom por aqueles que vêm me procurar. A consciência sente-se culpada, a alma em jejum, a lâmpada não avivada. Então, quando a oração secreta vem, a alma está muitas vezes fora de sintonia. Eu sinto que é muito melhor começar com Deus, ver Seu rosto primeiro, aproximar a minha alma dEle, antes que eu me aproxime de outrem. “Quando acordo ainda estou Contigo” [Salmos 139:18]. Se eu dormi por muito tempo, ou viajar cedo, ou se o meu tempo é de qualquer forma abre- viado, é melhor vestir-me apressadamente, e ter alguns minutos a sós com Deus do que dar isto por perdido. Mas, em geral, é melhor ter pelo menos uma hora a sós com Deus, antes de se envolver em qualquer outra coisa. Ao mesmo tempo, tenho que ter cuidado para não contar a comu- nhão com Deus por minutos ou horas, ou pela solidão. Tenho me debruçado sobre a minha Bíblia e de joelhos por horas, com pouca ou nenhuma comunhão, e meus momentos de solidão têm sido, muitas vezes, os de maior tentação. Quanto à intercessão, eu devo interceder diariamente pela minha própria família, conheci- dos, parentes e amigos; também pelo meu rebanho: os crentes, os despertados, os descui-
  • 14. Issuu.com/oEstandarteDeCristo dados, os doentes, os enlutados, os pobres, os ricos, meus anciãos, os professores da Escola Dominical, professores da escola diária, crianças e distribuidores de sermões; para que todos os meios sejam abençoados: a pregação e ensino de Sabath, a visita aos doentes, a visita de casa em casa; providências e sacramentos. Eu devo diariamente interceder brevemente por toda a cidade, pela Igreja da Escócia, por todos os ministros fiéis, pelas congregações, pelos estudantes de teologia e etc., pelos que- ridos irmãos nominalmente, por missionários enviados aos judeus e Gentios, e para este fim, eu preciso compreender a inteligência missionária regularmente, e familiarizar-me com tudo o que estão fazendo em todo o mundo. Isso deveria me estimular a orar com um mapa diante de mim. Tenho que ter um esquema de oração, também os nomes dos missionários marcados no mapa. Eu devo interceder, em geral, mais na manhã e noite de Sabath, das sete às oito. Talvez eu também possa tomar diferentes partes em diferentes dias; eu apenas devo plei- tear diariamente por minha família e rebanho. Eu devo orar sobre tudo. “Não estejaisinquie- tos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças” [Filipenses 4:6]. Muitas vezes eu recebo uma carta me solicitando para pregar, ou algum pedido semelhante. Encontro-me respondendo antes de ter pedido conselho a Deus. Ainda mais frequentemente uma pessoa me chama e me pede alguma coisa, e eu não solicito direção. Muitas vezes eu saio para visitar uma pessoa doente com pressa, sem pedir Sua bênção, o que por si só pode fazer a visita de alguma utilidade. Estou convencido de que eu nunca devo fazer nada sem oração, e, se for possível, especial oração secreta. Ao ler a história da Igreja da Escócia, eu vejo o quanto seus problemas e tribulações têm sido relacionados com a salvação das almas e a glória de Cristo. Eu devo orar muito mais por nossa igreja, por nossos principais ministros nominalmente, e pela minha própria clara orientação no caminho correto, para que eu não seja levado a desviar-me, ou me conduza de modo a desviar-me de seguir a Cristo. Muitas questões difíceis podem ser forçadas sobre nós para as quais eu não estou totalmente preparado, como a legalidade das alian- ças. Eu deveria orar muito mais emdias de paz, para que eu possa ser guiado corretamente quando os dias de tribulações vierem. Eu devo passar as melhores horas do dia em comunhão com Deus. Este é a minha mais nobre e mais frutífera ocupação, e isto não deve ser empurrado para qualquer canto. As primeiras horas da manhã, de seis às oito, são as mais ininterruptas, e, portanto, devem ser assim empregadas, se eu puder evitar a sonolência. Um pouco de tempo após o almoço
  • 15. Issuu.com/oEstandarteDeCristo pode ser dedicado à intercessão. Após o chá é o meu melhor horário, e este deve ser solenemente dedicado a Deus, se possível. Eu não devo abandonar o velho e bom hábito de orar antes de ir para a cama; mas a vigi- lância deve ser mantida contra o sono; planejar as coisas que devo pedir é o melhor remé- dio. Quando eu despertar no meio da noite, eu devo levantar-me e orar, como Davi e como John Welsh fizeram. Eu devo ler três capítulos da Bíblia, em segredo, todos os dias, no mínimo. Eu devo, no Sabath, pela manhã, olhar todos os capítulos lidos durante a semana, e especi- almente os versículos marcados. Eu devo ler em três diferentes lugares, e devo também ler de acordo com os temas, biografias e etc. Ele, evidentemente, deixou isso inacabado, e agora ele O conhece como também é conhe- cido.
  • 16. Issuu.com/oEstandarteDeCristo 1 A Voz do Meu Amado “Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do veado; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades. O meu amado fala e me diz: Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa. Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor. O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter.” (Cânticos 2:8-17) Não há nenhum livro da Bíblia que proporcione um melhor teste da profundidade do Cristia- nismo de um homem do que o Cântico dos Cânticos. (1) Se a religião de um homem estiver toda em sua cabeça, uma estrutura bem definida de doutrinas, construída como trabalho de pedreiro, pedra sobre pedra, mas não exercer nenhuma influência sobre o seu coração, este livro não pode deixar de ofendê-lo; pois, nele não há declarações rígidas de doutrina sobre as quais a sua religião sem coração possa ser construída. (2) Ou, se a religião de um homem for toda em sua imaginação; se, como Flexível em O Peregrino, ele seja levado pela beleza exterior do Cristianismo; se, como a semente lançada sobre o solo rochoso, a sua religião é estabelecida apenas nas faculdades superficiais da mente, enquanto o coração permanece rochoso e impassível; embora ele desfrute deste Livro, mais do que o primeiro homem, ainda assim, há um ar misterioso de íntima comoção nele, em que não pode senão fazê-lo tropeçar e ofender-se. (3) Mas se a religião de um homem for a religião do coração; se ele não tem não apenas doutrinas em sua cabeça, mas o amor de Jesus em seu coração; se ele não tem somente ouvido e lido do Senhor Jesus, mas tem sentido a sua necessidade dEle, e foi levado a apegar-se a Ele, como o primeiro entre dez mil, e
  • 17. Issuu.com/oEstandarteDeCristo totalmente desejável, então este livro será inestimavelmente precioso para sua alma; pois contém os mais ternos suspiros do coração do crente pelo Salvador, e os mais ternos desejos do coração do Salvador em direção ao crente. “O seu assunto é totalmente sublime, espiritual e místico; e as formas de sua composi- ção, universalmente alegóricas” — John Owen. Há uma concordância entre os melhores intérpretes deste Livro — (1) Que ele consiste não de um cântico, mas de muitas canções; (2) que esses cânticos estão em uma forma dramática; e (3) que, como as parábolas de Cristo, elas contêm um significado espiritual, sob a veste e ornamentos de alguns episódios poéticos. A passagem que eu li compõe um destes cânticos dramáticos, e o tema deste é uma visita repentina que uma noiva oriental recebe de seu senhor ausente. A noiva é representada para nós como sentada sozinha e desolada em um quiosque, ou bosque oriental — um lugar seguro e de retraimento nos jardins do Oriente — descrito por viajantes modernos como “um bosque cercado por um muro verde, coberto por videiras e jasmins, com janelas de gelosias”. Os montes de Beter (ou, como estão no limiar, os montes da divisão), os montes que a separam de seu amado, parecem quase intransponíveis. Eles parecem tão íngremes e escarpados, que ela teme que ele nunca mais consiga vir por sobre eles para visitá-la. Seu jardim não possui nenhuma beleza que a atraia a seguir adiante. Toda a natureza parece participar de sua tristeza; o inverno reina por fora e por dentro; nenhuma flor aparece na terra; todos os pássaros canoros parecem estar tristes e silenciosos sobre as árvores; e a voz de amor da rola não é ouvida na terra. É enquanto ela está sentada, assim, solitária e desolada que a voz de seu amado alcança o seu ouvido. O amor é rápido em ouvir a voz que é amada; e, portanto, ela ouve mais rápi- do do que todas as suas donzelas, e o cântico inicia com a sua exclamação impetuosa: “Esta é a voz do meu amado!”. Quando ela sentou-se em sua solidão, as montanhas entre ela e seu senhor pareciam quase intransponíveis, elas eram tão elevadas e íngremes; mas agora ela vê com que rapidez e facilidade ele salta estes montes, de forma que ela pode compará-lo a nada além de um gamo, ou ao jovem cervo, as criaturas mais formosas e mais rápidas das montanhas. “O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do veado”. Sim, enquanto ela está falando, ele já chegou ao muro do jardim; e agora, eis que “ele olha pelas janelas, espreitando pelas grades”. A noiva, a seguir, nos relata o convite suave, que parece ter sido o cântico de seu amado vindo tão rapidamente sobre os montes. Enquanto
  • 18. Issuu.com/oEstandarteDeCristo ela se sentava solitária, toda a natureza parecia morta, o inverno reinava; mas agora ele diz a ela que ele trouxe o tempo da primavera, juntamente consigo. “Levanta-te, meu amor, for- mosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem”. Movida por este convite premente, ela sai de seu lugar de retraimento para a presença de seu senhor, e se apega a ele como uma temerosa pomba das fendas das rochas; e, em se- guida, ele se dirige a ela com estas palavras da mais terna e delicada afeição: “Pomba mi- nha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa”. Alegremente concordando em ir adiante com seu senhor, ela ainda lembra que esta é a época de maior perigo para as vinhas, devido as raposas que mordiscam a casca das vinhas; e, portanto, ela não sairá sem deixar o comando de cautela para as suas donzelas: “Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”. Ela, então, renova a aliança de seu casamento com o seu amado, com estas palavras de pertinente afeição: “O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios”. E por fim, por ela saber que esta temporada de comunhão íntima não durará, já que o seu amado deve sair novamente sobre os montes, ela não suportará que ele vá, sem rogar-lhe que frequentemente renove estas visitas de amor, até que amanheça aquele dia feliz em que eles não mais precisaram estar separados: “Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter”. Podemos muito bem desafiar o mundo inteiro de gênios para produzirem em qualquer idioma um poema como este — tão pequeno, tão abrangente, tão delicadamente bonito. Porém, o que é muito mais para o nosso atual propósito, não há nenhuma parte da Bíblia que desvele mais lindamente um pouco da experiência mais íntima do coração do crente. Olhemos, então, agora para a parábola como uma descrição de uma dessas visitas que o Salvador muitas vezes faz às almas crentes, quando Ele manifesta-se a eles de forma diferente do que o faz ao mundo. I. QUANDO O CRENTE ESTÁ SOZINHO. Quando Cristo está longe da alma do crente, ele se sente solitário.
  • 19. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Nós vimos na parábola, que quando o seu senhor foi embora, a noiva estava sentada sozinha e desolada. Ela não se importou com a juventude e alegria para animarem as suas horas solitárias. Ela não solicitou a harpa do menestrel para acalmá-la em sua solidão. Não havia flauta, nem adufe, nem vinho em suas festas. Não, ela sentou-se sozinha. Os montes pareciam quase intransponíveis. Toda a natureza participou de sua tristeza. Se ela não podia estar feliz sem à luz da face do seu senhor, ela estava decidida a não alegrar-se com mais nada. Ela sentou-se solitária e desolada. Exatamente assimé como verdadeiro crente em Jesus. Quaisquer que sejam os montes de Beter que estejam entre a sua alma e Cristo, se ele foi seduzido por velhos pecados, de forma que as suas iniquidades fazem separação entre ele e o seu Deus; e os seus pecados encobrem o Seu rosto dele, para que não lhe ouça [Isaías 59:2]; ou se o Salvador retirou por um momento, a luz consoladora de Sua presença para a simples prova da fé de Seu servo, para ver, se ele, quando anda emtrevas, e não tem luz nenhuma, confia no nome do Senhor, e firma-se sobre o seu Deus [Isaías 50:10]. Quaisquer que sejam os montes de separação, é a evidência segura de um crente que ele se assentará desolado e sozinho. Ele não consegue rir, longe de seus intensos cuidados, como os homens mundanos podem fazer. Ele não consegue mergulhar-se na taça da intemperança, como os miseráveis homens cegos podem fazer. Mesmo o inocente vínculo da amizade humana não traz nenhum bálsamo para a sua ferida, ou melhor, até mesmo a comunhão com os filhos de Deus agora é desagradável para a sua alma. Ele não consegue apreciar o que ele gostava antes, quando aqueles que temiam ao Senhor falavam um com o outro. Os montes entre ele e o Salvador parecem tão vastos e intransponíveis, que teme que Ele nunca mais o visitará. Toda a natureza participa de sua tristeza, o inverno reina por fora e por dentro. Ele senta-se sozinho, e fica desolado. Estando aflito, ele ora; e o peso de sua oração é o mesmo daquele de um velho crente: “Senhor, se eu não posso me contentar com a luz de Tua face, que me concedas não ser feliz com nada mais; pois a alegria sem Ti é morte”. Ah! meus amigos, vocês conhecem algo sobre esse sofrimento? Vocês sabem que é, as- sim, sentar-se sozinho e estar desolado, porque Jesus está fora da vista? Se vocês o sa- bem, então se alegrem, se é possível, mesmo em meio a vossa tristeza! Pois, essa mes- ma tristeza é uma das marcas que vocês são crentes, de forma que vocês encontram toda a vossa paz e toda a vossa alegria na união com o Salvador. Mas ah, quão oposto é o caminho da maioria de vocês! Vocês não conhecem nada dessa tristeza. Sim, talvez vocês zombem disso. Vocês conseguem estar felizes e contentes com o mundo, mas vocês nunca tiveram uma visão de Jesus. Vocês podem estar felizes com
  • 20. Issuu.com/oEstandarteDeCristo seus companheiros, embora o sangue de Jesus nunca tenha sussurrado paz à tua alma. Ah, quão evidente é que vocês estão se apressando para o lugar onde “não há paz para os ímpios, diz o meu Deus” [Isaías 57:21]. II. A VINDA DE CRISTO ATÉ O CRENTE. A vinda de Cristo até o crente desolado é, muitas vezes, súbita e maravilhosa. Nós vimos na parábola, que foi quando a noiva estava sentada sozinha e desolada que ela ouviu, de repente, a voz do seu senhor. O amor é rápido em ouvir, e ela exclama: “A voz do meu amado!”. Antes, achava as montanhas quase intransponíveis; mas agora ela pode comparar a rapidez dele a nada, a não ser ao gamo, ou ao filho do veado. Sim, enquanto ela fala, ele está na parede, na janela, mostrando-se através da grade. Muitas vezes, exata- mente assim ocorre com o crente. Enquanto ele se senta sozinho e desolado, os montes da separação parecem uma barreira vasta e intransponível para o Salvador, e ele teme que Cristo nunca volte. Os montes de provocações de um crente são frequentemente mui gran- des. “Que eu tenha pecado novamente, eu que fui lavado no lavado no sangue de Jesus. É pouco que os outros homens pequem contra Ele; eles nunca O conheceram, nunca O amaram como eu amei. Certamente eu sou o maior dos pecadores, e pequei demais, meu Salvador. Os montes de minhas provocaçõescresceramaté o céu, e Ele nunca mais poderá voltar para mim”. Assim é que o crente escreve coisas amargas contra si mesmo; e nessa ocasião, é que muitas vezes ele ouve a voz de seu Amado. Algum texto da Palavra, ou alguma palavra de um amigo Cristão, ou alguma parte de um sermão, mais uma vez revela Jesus em toda a Sua plenitude, o Salvador dos pecadores, até mesmo do principal. Ou pode ser que Ele se dá a conhecer à alma desconsolada no partir do pão, e quando Ele fala as palavras gentis: “Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós... Tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim” [1 Coríntios 11:24-25]; então, ele exclama: “A voz do meu amado! Eis que vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros”. Ah! meus amigos, vocês conhecem alguma coisa desta alegre surpresa? Se conhecem, por que vocês sempre sentam-se em desespero, como se a mão do Senhor estivesse encolhida de forma que Ele não possa salvar, ou como se Seus ouvidos estivessem agravados de forma que Ele não possa ouvir? Na hora mais tenebrosa digam: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” [Salmos 42:11]. Venham com expectativa à Palavra. Não venham com essa indiferença apática, como se nada que um verme companheiro possa dizer seja digno de sua audição. Esta não é a palavra do homem, mas a Palavra do Deus vivo. Venham com grandes esperanças, e então vocês
  • 21. Issuu.com/oEstandarteDeCristo encontrarão a promessa verdadeira, que Ele enche os famintos com coisas boas, embora Ele despeça os ricos de mãos vazias. III. A VINDA DE CRISTO MUDA TODAS AS COISAS. A vinda de Cristo muda todas as coisas para o crente, e Seu amor é mais suave do que nunca. Nós vimos na parábola que, quando a noiva estava desolada e sozinha, toda a natureza estava mergulhada em tristeza. Seu jardim não possuía encantos para levá-la adiante, pois o inverno reinava dentro e fora. Mas quando o seu senhor veio tão rapidamente sobre os montes, ele trouxe a primavera junto com ele. Toda a natureza é alterada enquanto ele avança, e seu convite é: “Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno”. Exatamente assim é com o crente, quando Cristo está ausente: tudo é inverno na alma. Mas, quando Ele vem novamente sobre os montes da provação; Ele traz uma temporada de feliz primavera junto consigo. Quando esse sol da justiça surge de novo na alma, não apenas os Seus raios alegrantes caem sobre a alma do crente, mas toda a natureza se alegra com a sua alegria. As montanhas e colinas irrompem em cânticos diante dEle, e todas as árvores do campo batem palmas. É como uma mudança de estação para a alma. É como que a súbita mudança das chuvas torrenciais de inverno sombrio para a plena primavera colorida, que é tão peculiar aos climas do sol. O mundo natural é totalmente modificado. Em lugar do espinheiro surge a faia, e em lugar da sarça surge a murta. Cada árvore e campo possuem uma beleza nova para a alma feliz. O mundo da graça é totalmente transformado. Antes a Bíblia estava completamente seca e sem sentido; agora, que inundação de luz é derramada sobre as suas páginas! Quão plena, quão revigorante, quão rica em significado, como suas frases mais simples tocam o coração! Antes a casa de oração estava completamente triste e melancólica antes, os seus serviços eram áridos e insatisfatórios; mas agora, quando o crente vê o Salvador, como ele O viu no interior do santo lugar, seu clamor é: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos! Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil” [Salmos 84:1, 10]. Antes o jardim do Senhor estava todo triste e desanimado; agora a ternura em direção aos não-convertidos brota revigorada, e o amor ao povo de Deus arde no peito, aqueles que temem ao Senhor falam-se frequentemente. O tempo de cantar os louvores de Jesus chega, e a voz amorosa da rola a Jesus é mais uma vez ouvida na terra; a videira do Senhor frutifica, e a romã floresce, e a voz de Cristo para a alma é: “Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem”.
  • 22. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Como a pomba temerosa perseguida pela águia, e quase feita uma presa, com asa vibrante e ansiosa, esconde-se mais profundamente do que nunca nas fendas das rochas, e nos lugares secretos do precipício, assim o crente caído, a quem Satanás desejou capturar, para que pudesse peneirá-lo como trigo, quando ele é restaurado mais uma vez com a pre- sença toda-graciosa do seu Salvador, apega-se a Ele comfé vibrante, desejosa, e esconde- se mais profundamente do que nunca nas feridas de seu Salvador. Foi assim com Pedro ao cair, quando ele tão gravemente negou o seu Senhor, ainda assim, quando trazido nova- mente à visão de seu Salvador, de pé sobre a terra, foi o único dos discípulos que se cingiu com sua capa de pescador, e lançou-se ao mar para nadar até Jesus; e assim como aquele apóstolo caído, quando mais uma vez ele se escondeu na Rocha Eterna, descobriu que o amor de Jesus era mais terno em relação a ele do que nunca, quando ele começou aquela conversa, que, mais do que todas as outras na Bíblia, combina a mais amável das reprovações com o mais amável dos incentivos: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes?” [João 21:15]. Exatamente assim cada crente caído encontra que quando novamente ele está escondido nas feridas recém-abertas do seu Senhor, a fonte de Seu amor começa a fluir renovada, e o ribeiro de bondade e afeição é mais pleno e transbor- dante do que nunca, porque a Sua palavra é: “Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa”. Ah, meus amigos, vocês conhecemalguma coisa disto? Vocês já experimentaram essa vin- da de Jesus sobre o monte de vossas provocações, enquanto fez uma mudança de estação em vossa alma? E você, crente caído, encontrado, quando se escondeu nova e mais pro- fundamente do que nunca nas fendas das rochas — como Pedro cingindo sua capa de pescador, e lançando-se ao mar — você encontrou o Seu amor mais terno do que nunca em sua alma? Então, isto não deveria ensinar-lhe o arrependimento rápido quando você cai? Por que manter-se por um momento sequer longe do Salvador? Você está esperando até que você mesmo limpe as manchas de sua veste? Ai! o que a purificará, senão o sangue que você está desprezando? Você está esperando até que torne a si mesmo digno da graça do Salvador? Ai! Embora você espere por toda a eternidade, você nunca poderá tornar-se mais digno. O seu pecado e miséria são sua única súplica. Venha, e você encontrará com que ternura Ele curará as suas rebeliões, e o amará voluntariamente, e dirá: “Pomba minha” e etc. IV. CRISTO DESPERTA TEMOR, AMOR E ESPERANÇA. Eu observo a tríplice disposição de temor, amor e esperança, que esta visita do Salvador
  • 23. Issuu.com/oEstandarteDeCristo desperta no seio do crente. Estes três formam, por assim dizer, um cordão no coração do crente restaurado, e um cordão de três dobras não se quebra facilmente. 1. Temor Filial. Em primeiro lugar, há temor. Como a noiva na parábola não sairia para desfrutar a comu- nhão com seu senhor, sem deixar a ordem para que suas donzelas apanhassem as rapo- sas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, assim cada crente sabe e sente que o tempo da íntima comunhão é tambémo momento de maior perigo. Quando o Salvador foi batizado, e o Espírito Santo, como uma pomba, desceu sobre Ele, e uma voz, disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” [Mateus 3:17], foi, então, que Ele foi conduzido ao deserto, para ser tentado pelo Diabo; e exatamente assim é quando a alma está recebendo seus maiores privilégios e consolos, que Satanás e seus ministros estão mais próximos, estes são as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas. (1) O orgulho espiritual está próximo. Quando a alma está se escondendo nas feridas do Salvador, e recebe grandes sinais de Seu amor, então o coração começa a dizer: Certa- mente eu sou alguém, o quão acima eu estou da média crentes! Esta é uma das raposi- nhas que comem a vida da piedade vital. (2) Aqui há um valer-se de Cristo pelos seus consolos — olhando para seus consolos, e não para Cristo — inclinando-se sobre eles, e não sobre o seu amado. Esta é outra das raposinhas. (3) Existe a falsa noção de que agora certamente você deve estar livre do pecado, e aci- ma do poder da tentação, agora você pode resistir a todos os inimigos. Este é o orgulho que vem antes da queda e é outra das raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas. Nunca esqueçam, eu vos suplico, que o temor é uma evidência da segurança de um crente. Mesmo quando vocês sentirem que é Deus quem opera em vocês, ainda assim, a Palavra diz: “operai a vossa salvação comtemor e tremor” [Filipenses 2:12]. Mesmo quando a vossa alegria for transbordante lembrem-se do que está escrito: “alegrai-vos com tremor” [Salmos 2:11], e lembrem-se também do cuidado da noiva, e digam: “Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”. 2. Apropriando-se do Amor. Mas se o temor cauteloso é uma marca de um crente em tal período, ainda mais é o apro- priar-se do amor. Quando Cristo vem novamente dos montes da provação, e revela-Se à
  • 24. Issuu.com/oEstandarteDeCristo alma livre e plenamente como sempre, de uma forma diferente do que o faz ao mundo, então, a alma pode dizer: “O meu amado é meu, e eu sou dele”. Eu não digo que o crente pode usar essas palavras em todas as estações. Em tempos de escuridão e em tempos de pecado a realidade da fé de um crente deve ser medida antes por sua tristeza do que por sua confiança. Mas eu digo, que nas temporadas em que Cristo revela-Se de novo à alma, brilhando como o sol atrás de uma nuvem, com os raios do amor soberano, imerecido, então nenhuma outra palavra satisfará o verdadeiro crente, senão estas: “O meu amado é meu, e eu sou dele”. A alma vê Jesus como um Salvador tão gratuito, que tanto anseia que todos venham a Ele e tenham vida, estendendo Suas mãos o dia todo, não tendo nenhum prazer na morte do ímpio, clamando a os homens: “Convertei-vos, convertei-vos, por que morrereis?”. A alma vê Jesus como um Salvador tão apropriado, a própria cobertura que a alma neces- sita. Quando ela primeiramente escondeu-se em Jesus, O encontrou adequado para todas as suas necessidades, a sombra de uma grande rocha em terra sedenta. Mas, agora, ele descobre uma nova adequação no Salvador, como Pedro, quando ele se cingiu com sua capa de pescador, e lançou-se ao mar. Ela encontra que Ele é um Salvador adequado para umcrente caído; que Seu sangue pode apagar até mesmo as manchas daquele que, depois de ter comido pão com Ele, ainda levantou o calcanhar contra Ele. A alma vê Jesus como um Salvador pleno, concedendo ao pecador não apenas perdão, mas transbordando perdões imensuráveis, concedendo não somente a justiça, porém a justiça que é mais do que mortal, pois ela é totalmente Divina; concedendo não somente o Espírito, mas derramando água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca. A alma vê tudo isso em Jesus, e não pode deixar de escolhê-lO e deleitar-se nEle com amor renovado e apropriado, dizendo: “O meu amado é meu”. E, se alguémperguntar, Como podes tu, verme pecaminoso, chamar tal Divino Salvador de teu? A resposta está aqui: Porque eu sou dEle. Ele me escolheu desde a eternidade, senão eu nunca O teria escolhido. Ele derramou Seu sangue por mim, senão eu nunca teria derramado uma lágrima por Ele. Ele chorou por mim, mas eu nunca teria suspirado por Ele. Ele procurou por mim, mais eu nunca O teria pro- curado. Ele me amou, portanto, eu O amo. Ele me escolheu, por isso eu sempre O escolho. “O meu amado é meu, e eu sou dele”. 3. Esperança Orante. Mas, por fim, se o amor é uma marca do verdadeiro crente emtal temporada, assimtambém é esperança em oração. Foi a palavra de um verdadeiro crente, em uma hora de comunhão elevada e maravilhosa com Jesus: “Senhor, bom é estarmos aqui” [Mateus 17:4].
  • 25. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Meu amigo, você não é crente se Jesus nunca Se manifestou à sua alma emsuas devoções secretas, na casa de oração ou no partir do pão, em forma tão doce e avassaladora, que você clamou: “Senhor, é bompara mimestar aqui!”. Contudo, embora isso seja bome muito agradável, como a luz solar para os olhos, ainda assim, o Senhor vê que não é mais sábio e melhor sempre estar ali. Pedro temque descer novamente do monte da glória, e combater o bom combate da fé em meio à vergonha e afronta de um mundo frio e desdenhoso. E assim é com cada filho de Deus. Nós ainda não estamos no céu, o lugar da visão plena e gozo eterno. Esta é a terra, o lugar da fé, da paciência e da esperança para o céu indicado. Uma grande razão pela qual o júbilo próximo e íntimo do Salvador não pode ser constante- mente efetuado no seio do crente é para dar espaço para a esperança, a terceira corda que forma o cordão de três dobras. Até mesmo os crentes mais esclarecidos estão andando aqui em uma noite tenebrosa, ou crepúsculo, no máximo. E as visitas de Jesus para a alma apenas servem para fazer a escuridão ao redor mais visível. Mas a noite é passada, e o dia é chegado. O dia da eternidade está rompendo no oriente. O sol da justiça está apressando- se a subir sobre o nosso mundo, e as sombras estão se preparando para fugir. Até então, o coração de cada crente verdadeiro, que conhece a preciosidade da estreita comunhão com o Salvador, suspira em fervorosa oração, que Jesus frequentemente venha de novo, assim, orvalhante e subitamente o ilumine em sua sombria peregrinação. Ah! sim, meus amigos, que todo aquele que ama ao Senhor Jesus com sinceridade, junte- se agora à bendita oração da noiva: “Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter”. ................................................................................................................................................ “A Voz do Meu Amado” é extraído de Memórias e Lembranças do Reverendo Robert Murray M´Cheyne, por Andrew Bonar. Primeiramente publicado em 1844, (reimpresso, Edimburg: Oliphant, Anderson, & Ferrier), p. 431-440. Este Sermão foi pregado por M´Cheyne em 14 de Agosto de 1836, em St. Peter, Dundee. Ele, nesta época, era candidato ao ministério, e posteriormente tornou-se ministro de St. Peter. ................................................................................................................................................
  • 26. Issuu.com/oEstandarteDeCristo 2 O Constrangedor Amor de Cristo “Porque o amor de Cristo nos constrange.” (2 Coríntios 5:14) De todas as características do caráter de São Paulo, a sua atividade incansável foi a mais marcante. Desde o início da história de Paulo, nos é dito de seus esforços pessoais em perseguir a Igreja nascente, quando ele era um “blasfemo, e perseguidor, e injurioso” [2 Timóteo 3:2], é bastante óbvio que esta era a característica proeminente de sua mente natural. Mas, quando aprouve ao Senhor Jesus Cristo manifestar nele toda a longanimidade e torná-lo um padrão para aqueles que se haviam crer nEle, é bonito e muito instrutivo ver como os recursos naturais deste homem ousadamente mau tornaram-se não apenas santificados, mas revigorados e ampliados; assim é verdade que os que estão em Cristo são uma nova criação: “As coisas velhas passam, e tudo se fez novo” [2 Coríntios 5:17]; “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Per- seguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” [2 Coríntios 4:8-9]; este era um retrato fiel da vida de Paulo quando convertido. Conhecendo os terrores do Senhor, e a situação temerosa de todos os que estavam ainda em seus pecados, ele deixou o negócio de sua vida para persuadir os homens; esforçando-se, para que por qualquer meio, pudesse recomendar à verdade às suas consciências. “Porque, se enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós” (v. 13). Se o mundo pensa que nós somos sábios ou loucos, por causa de Deus e das almas huma- nas serem a causa em que investimos todas as energias do nosso ser, quem, então, não está pronto para investigar a fonte secreta de todos estes trabalhos sobrenaturais? Quem não desejaria ter ouvido da boca de Paulo, o poderoso princípio de que o impeliu a tantas labutas e perigos? Que poder tinha tomado posse desta poderosa mente, ou que invisível influência planetária, com poder incessante, ele baseou-se para atravessar todos os desâ- nimos, indiferente tanto ao pavor do riso do mundo quanto ao medo do homem; despreo- cupado tanto em relação ao desprezo do ateniense cético quanto à carranca do promíscuo coríntio e da raiva do tacanho judeu? O que o apóstolo diz de si mesmo? Temos a sua pró- pria explicação do mistério nas palavras que estão diante de nós: “O amor de Cristo nos constrange”.
  • 27. Issuu.com/oEstandarteDeCristo I. O Constrangedor Amor de Cristo. Isto se refere ao amor de Cristo pelo homem, e não o nosso amor pelo Salvador. Isso é bastante óbvio, a partir da explicação que se segue, onde a Sua morte por todos é apon- tada como o exemplo do Seu amor. Foi a admirável visão de que a compaixão do Salvador — levando-O a morrer por e em lugar de Seus inimigos, suportando os pecados deles e provando a morte por todos — impulsionou Paulo a cada trabalho, e fez com que todos os seus sofrimentos se tornassem leves para ele, que os mandamentos não fossem penosos e ele “correu com paciência a carreira que lhe foi proposta”. Por quê? Porque ele olhou para Jesus, e viveu como um homem “crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele”. Usando que meios? Olhando para a cruz de Cristo. Assim como o sol natural nos céus exerce uma poderosa energia atrativa e incessante sobre os planetas que giram ao redor dele, assim fez o Sol da justiça, que havia, de fato, raiado sobre Paulo com um brilho superior ao do sol do meio-dia, e exercia em sua mente uma energia contínua e onipotente, constrangendo-o a viver a partir de agora não mais para si, mas para Aquele que por ele morreu e ressuscitou. E, observe, que não era uma energia temporária e irregular que foi exercida sobre o seu coração e vida, mas uma atração permanente e contínua; pois ele não diz que o amor de Cristo uma vez o constrangeu; ou que o amor de Cristo ainda o constrangeria; ou que, em tempos de grande ânimo, nos períodos de oração ou devoção peculiar, o amor de Cristo o havia constrangido. Ele disse simplesmente que o amor de Cristo o constrange. Este é o poder sempre presente, perma- nente e ativo que constitui a mola mestra de todos os seus trabalhos; de modo que se isso fosse tirado suas energias se esgotariam, e Paulo se tornaria fraco como os outros homens. Não há ninguém lendo isto cujo coração é desejoso de possuir apenas um princípio impul- sionador como este? Não há ninguém que tenha chegado a essa mais interessante de todas as etapas de conversão emque você está suspirando por umpoder para lhe renovar? Você entrou pela porta estreita da crença. Você viu que não há paz para o não-justificado; e, portanto, se revestiu de Cristo para a sua justiça; e já sente um pouco da alegria e da paz da crença. Você pode olhar para trás em sua vida passada, vivida sem Deus, sem Cristo e sem o Espírito no mundo; você pôde ver-se um pária condenado, e você disse: “Ainda que eu pudesse lavar as mãos em água de neve, ainda assim as minhas próprias vestes me abominam”. Você pode fazer tudo isso, com vergonha e autocensura, é verdade, mas ainda sem desânimo e sem desespero; pois o seu olho olhou com fé para Aquele que foi feito pecado por nós, e está convencido de que, como aprouve a Deus imputar todas as vossas iniquidades no Salvador, Ele está pronto, e sempre foi disposto, para imputar toda a justiça do Salvador a você. Sem desespero, eu disse? Ou melhor, com alegria e canto; porque, se, de fato, você creu de todo o seu coração, então você se tornou o homem bem- aventurado a quem Deus imputa a justiça sem as obras; ao qual Davi descreve, dizendo:
  • 28. Issuu.com/oEstandarteDeCristo “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem- aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade” [Salmos 32:1-2]. Esta é a paz do homem justificado. Mas essa paz é um estado de bem-aventurança per- feita? Não há nada deixado a desejar? Faço um apelo para aqueles de vocês que sabem o que é ser crente. O que é que ainda obscurece o semblante, que reprime a exultação do espírito? Por que não juntar-se sempre na canção de ação de graças: “Bem-dize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o que perdoa todas as tuas iniquidades” [Salmos 103:2-3]! Se nós recebemos em dobro por todos os nossos pecados, assimnunca deveria ser necessário para nós arguir como o faz o salmista: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?” [Salmos 42:11a]. Meus amigos, não há um homem entre vós que realmente crê, que não tenha sentido o pensamento inquietante do qual eu estou falando agora. Pode haver alguns de vocês que se sentirão tão dolorosamente, como que tendo sido obscurecidos com uma nuvem pesada, a doce luz da paz evangélica, o brilho do rosto reconciliado sobre a alma. O pensamento é este: “Eu sou um homem justificado; mas, ai de mim! eu não sou um homem santificado. Eu posso olhar para a minha vida passada, sem desespero; mas como eu posso olhar para a frente, para o que está por vir?”. Não há uma paisagem moral mais pitoresca no universo do que a alma de um desses pre- sentes. Tendo todas as suas ofensas passadas perdoadas, o olho contempla o interior, com uma clareza e uma imparcialidade desconhecidas anteriormente, e lá ele olha para suas afeições há muito estimuladas ao pecado, e que, como os rios antigos, tem usado um canal profundo para o coração. Suas declarações periódicas de paixão, até então irresis-tível e avassaladora, como as marés do oceano; suas perversidades de temperamento e de hábi- tos tortos e inflexíveis como os galhos retorcidos de um carvalho atrofiado. Que cena está aqui; que antecipação do futuro! Que pressentimentos de uma luta vã contra a tirania da luxúria! contra velhas maneiras de agir, e de falar, e de pensar! Se a esperança da glória de Deus não fosse um dos direitos adquiridos do homem justificado, ele ficaria surpreso se essa visão de terror fizesse um homem voltar trás, como um cão ao seu vômito, ou como a porca lavada volta a chafurdar na lama? Agora assimé como homem precisamente nesta situação, clamando pela manhã e à tarde: “Como poderei ser feito de novo?”. Que bem deverá o perdão dos meus pecados passados fazer a mim, se eu não for liberto do amor ao pecado? Assim é com o homem que nós ire- mos agora, com toda a seriedade e afeição, apontar o exemplo de Paulo, e o poder secreto que operou nele. “O amor de Cristo”, diz Paulo, “nos constrange”. Nós também somos ho- mens, de natureza semelhante a vocês; essa mesma visão que você vê com desânimo dentro de você, foi de igual modo revelada em nós em todo o seu poder desanimador. De
  • 29. Issuu.com/oEstandarteDeCristo quando em quando a mesma visão horrenda dos nossos próprios corações é revelada a nós. Mas nós temos um encorajamento que nunca falha. O amor do Salvador sangrante nos constrange. O Espírito é dado para os que creem, e este agente todo-poderoso tem um argumento que nos move continuamente: o amor de Cristo. Meu presente objetivo é mostrar como esse argumento, na mão do Espírito, move o crente a viver para Deus; como tão simples verdade do amor de Cristo ao homem, continuamente apresentada à mente pelo Espírito Santo, deve capacitar qualquer homem a viver uma vida de santidade evangélica. Se há um homem entre vós, cuja a grande dúvida é: “Como serei salvo do pecado, como andarei como um filho de Deus?”. Este é o homem dentre todos os outros, cujo ouvido e o coração eu estou ansioso para alcançar. II. Seu Amor Remove Nosso Ódio. O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa, pois essa verdade tira todo o seu medo e ódio de Deus. Quando Adão ainda não havia caído, Deus era tudo para sua alma; e tudo era bom e dese- jável para ele, somente na medida em que tinha a ver com Deus. Cada veia do seu corpo, de modo que foi assombrosa e maravilhosamente formado, cada folha que farfalhava nos caramanchões do Paraíso, a cada novo sol que se erguia, regozijando-se como um herói, a correr a sua corrida, levou-o todos os dias novos temas de pensamentos piedosos e de admiráveis louvores; e foi só por isso que ele podia se encantar a olhar para eles. As flores que apareceram sobre a terra, o canto dos pássaros e a voz da rola ouvida em toda a terra feliz, a figueira produzindo seus figos verdes, e as vinhas com as uvas dando um cheiro bom, tudo isso combinado trazia a ele por todos os poros uma grande e variada sensação de felicidade. E por quê? Só porque elestraziampara a alma comunicações ricas e variadas da multiforme graça de Jeová. Pois, assim como você pode ter visto uma criança na terra dedicada a seu pai terreno, satisfeita com tudo quando ele está presente, e valorizando cada dom da mesma forma que serve para demonstrar ainda mais a ternura do coração de seu pai, assim também era com essa genuína criança de Deus. Em Deus, ele viveu, e moveu-se, e existiu; e não mais certo seria que a extinção do sol nos céus tirasse essa luz que é tão agradável aos olhos, do que seria a ocultação da face de Deus ter-lhe tirado a luz de sua alma, e deixado a natureza em um deserto escuro e desolado. Mas, quando Adão caiu, o ouro fino tornou-se opaco, o seu processamento mental e gostos foram invertidos. Em vez de desfrutar de Deus em tudo, e tudo em Deus, tudo agora parecia odioso e desagradável para ele, justamente na medida em que tinha a ver com Deus.
  • 30. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Quando o homem pecou, passou a temer, e odiar Aquele a quem temia; e fugiu para todo o pecado apenas para fugir dAquele a quem ele odiava. De modo que, assim como você pode ter visto uma criança que penosamente transgrediu contra um pai amoroso fazendo todo o possível para esconder-se da vista de seu pai, fugindo de sua presença e mergu- lhando em outros pensamentos e ocupações só para livrar-se do pensamento de seu pai justamente ofendido; na mesma forma, quando Adão caiu ouviu a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia, aquela voz que antes de pecar era música celestial em seus ouvidos, então “esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” [Gênesis 3:8]. E da mesma maneira todo homem natural foge da voz e da presença do Senhor, não para esconder-se sob as folhas grossas do Paraíso, mas para enterrar-se em cuidados, e negócios, e prazeres, e farras. Qualquer retiro é agra- dável, desde que Deus não esteja lá; qualquer ocupação é tolerável, desde que Deus não esteja nos pensamentos. Agora, tenho a certeza que muitos de vocês podem ouvir essa acusação contra o homem natural com uma indiferença incrédula, ou até mesmo com indignação. Você não sente que você odeia a Deus, ou teme a Sua presença; e, portanto, você diz que isso não pode ser verdade. Mas quando Deus diz a respeito de seu coração que é “desesperadamente corrupto” [Jeremias 17:9], quando Deus reivindica para si o privilégio de conhecer e esqua- drinhar o coração; não é presunçoso, em tais seres ignorantes como nós que devamos dizer que não é verdade em relação a nossos corações o que Deus afirma ser verdade, simplesmente porque não estamos conscientes disso? Deus diz que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” [Romanos 8:7], que a própria semente e substância de uma mente não-convertida é o ódio contra Deus, umódio absoluto e implacável contra Aquele em quem vivemos, nos movemos e existimos. É bem verdade que não sentimos esse ódio dentro de nós; mas isso é apenas um agravamento do nosso pecado e do nosso perigo. Temos assim bloqueado as vias de autoexame, há tantas voltas e voltas antes que possamos chegar aos verdadeiros motivos de nossas ações, que o nosso medo e ódio de Deus, que levam o homem a pecar, e que são as grandes forças impulsoras quais os aguilhões de Satanás sobre os filhos da desobediência; os verdadeiros motivos de nossas ações estão totalmente escondidos de nossa vista, e você não pode convencer um homem natural que eles estão realmente ali. Mas, a Bíblia testemunha que destas duas raízes mortais, do temor e do ódio de Deus, cresce a densa floresta de pecados com que a terra está enegrecida e coberta. E se há alguém entre vós, que foi despertado por Deus para saber o que está em seu coração, eu tomo esse homem hoje para teste- munhar que seu clamor amargo, tendo visto todos os seus pecados, tem sido: “Contra ti, contra ti somente pequei” [Salmos 51:4].
  • 31. Issuu.com/oEstandarteDeCristo Se, então, o temor e o ódio de Deus, são a causa de todos os nossos pecados, como deve- mos ser curados do amor ao pecado, senão por tirarmos a causa? Como você mais efetivamente mata a erva daninha? Não é atacando a raiz? No amor de Cristo ao homem, então — neste admirável e inefável dom de Deus, quando Ele deu a Sua vida por Seus inimigos, quando morreu o justo pelos injustos para levar-nos a Deus —, você não vê um objeto que, se realmente crido pelo pecador, tira todo o seu medo e todo o seu ódio de Deus? A raiz do pecado é separada do seu tronco, deste duplo fundamento de todos os nossos pecados, vemos a maldição levada, vemos Deus reconciliado. Por que devemos temer? Não tema, por que devemos odiar a Deus ainda? Não odeie Deus, o que mais de desejável podemos ver no pecado? Descanse sobre a justiça de Cristo, estamos nova- mente no lugar onde Adão esteve, com Deus como nosso amigo. Nós não temos nenhum motivo para pecar; e, portanto, nós não nos importamos com o pecado. No sexto capítulo de Romanos, Paulo parece falar do crente pecando, como se a própria proposição fosse absurda. “Nós, que estamos mortos para o pecado”, isto é, nós que já fomos punidos em Cristo, “como viveremos ainda nele?” [v. 2]. E novamente ele diz muito corajosamente: “O pecado não terá domínio sobre vós”, é impossível na natureza das coisas, “pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” [v. 14]; você não está mais sob a maldição de uma Lei violada, temendo e odiando a Deus; você está debaixo da graça; sob um sistema de paz e amizade com Deus. Mas há alguém pronto para objetar-me que se essas coisas são assim, se nada mais do que isso é necessário para trazer um homem à paz com Deus e à uma vida e conversação santa, como os crentes ainda cometem pecado? Eu respondo, é de fato muito verdadeiro que os crentes pecam; mas é igualmente verdade que a incredulidade é a causa de seu pecado. Se você e eu estivéssemos vivendo com o olho tão próximo em Cristo suportando tanto por todos os nossos pecados, oferecendo gratuitamente a todos uma justiça emdobro por todos os nossos pecados; e se esta visão do amor de Cristo fosse constantemente mantida dentro de nós, como certamente seria se olhássemos com um olho simples, a paz de Deus que excede todo o entendimento — a paz que não repousa em nenhum de nós, mas inteiramente sobre Cristo —, então eu digo que, frágeis e indefesos como somos, nós nunca pecaríamos nemteríamos a menor motivação para pecar. Todavia não é desta forma conosco. Quantas vezes durante o dia o amor de Cristo é completamente esquecido! Quantas vezes está obscurecido para nós! Às vezes se oculta de nós pelo próprio Deus, para nos ensinar o que somos. Quantas vezes somos deixados sem o sentido do que é a completude da Sua oferta, a perfeição de Sua justiça, e ficamos sem vontade ou sem confiança para afirmar nosso interesse nEle! Quem maravilha-se, então, que onde há tanta incredulidade, medo e ódio por Deus haverá mais e mais deformação, e o pecado irá muitas vezes exibir sua cabeça venenosa?
  • 32. Issuu.com/oEstandarteDeCristo A questão é muito simples, se apenas nós tivéssemos olhos espirituais para vê-la. Se vivês- semos uma vida de fé no Filho de Deus, então iríamos certamente viver uma vida de santi- dade. Eu não digo que devemos fazê-lo; mas eu digo, deveremos, como uma questão de consequência necessária. Mas na medida em que não vivemos uma vida de fé, viveremos uma vida de impiedade. É por meio da fé que Deus purifica o coração; e não há outra ma- neira. Existe algum de vocês, então, desejoso de ser feito novo, de ser liberto da escravidão de hábitos e afeições pecaminosas? Não podemos apontar-lhe nenhum outro remédio, senão o amor de Cristo. Vede como Ele o amou! Veja o que Ele suportou por você; coloque o dedo, por assim dizer, nas marcas dos cravos, e coloque a mão no seu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. Sob um senso de seu pecado, fuja para o Salvador dos pecadores. Como a pomba temerosa voa para esconder-se nas fendas das rochas, assim fuja para se esconder nas feridas de Seu Salvador; e depois de tê-lO encontrado como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta; quando você se sentar sob Sua sombra, com grande prazer; você vai achar que Ele matou toda ainimizade, que Ele findou todas astuas guerras. Deus agora é por você. Plantado juntamente com Cristo na semelhança da Sua morte, você será também na semelhança da Sua ressurreição. Morto para o pecado, você deverá estar vivo para Deus. III. Seu Amor Desperta O Nosso Amor O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa; porque esta verdade não somente remove o medo e o ódio, mas desperta o nosso amor. Quando somos levados a ver a face do Deus reconciliado em paz, este é um grande privi- légio. Mas como podemos olhar para Aquela face, reconciliando e reconciliado, e não amar Aquele que assim nos amou? Amor gera amor. Dificilmente podemos deixar de estimar aqueles no mundo que realmente nos amam, embora eles possam não servir a nossos interesses. Mas quando estamos convencidos de que Deus nos ama, e convencidos de tal forma pelo dom de Seu Filho por todos nós, como iremos, senão amar Aquele em quem estão todas as excelências, tudo aquilo que evoca o amor? Eu já mostrei que o Evangelho é um esquema de restauração; ele nos traz de volta para o mesmo estado de amizade com Deus que Adão desfrutava, e, assim, tira o desejo do peca- do. Mas agora eu irei mostrar a você, que o Evangelho faz muito mais do que nos restaurar ao estado do qual caímos. Se correta e consistentemente apreendido por nós, ele nos coloca em um estado muito melhor do que Adão. Ele nos constrange por um motivo muito
  • 33. Issuu.com/oEstandarteDeCristo mais poderoso. Adão não tinha esse forte amor de Deus ao homem, derramado em seu coração; e, portanto, ele não tinha esse poder constrangedor para fazê-lo viver para Deus. Mas os nossos olhos viram esta grande visão. Diante de nós Cristo foi demonstrado crucifi- cado. Se realmente acreditamos que, Seu amor trouxe-nos à paz, por meio do perdão; e porque estamos perdoados e em paz com Deus, o Espírito Santo nos é dado. Para quê? Ora, exatamente para derramar esta verdade sobre os nossos corações, para nos mostrar mais e mais desse amor de Deus por nós, para que possamos ser atraídos a adorar Aquele que nos amou, viver para Aquele que morreu e ressuscitou por nós. É realmente admirável ver como a forma bíblica de nos fazer santos é adequada à nossa natureza. Se Deus tivesse proposto nos atemorizar para vivermos uma vida santa, quão inútil teria sido essa tentativa! Os homens têm sempre uma ideia, que se alguém vivesse dos mortos para nos contar sobre a realidade das regiões onde os espíritos dos condena- dos habitam em tristeza e miséria sem fim; que isso iria constrangê-los a viver uma vida santa; mas que ignorância isso mostra da nossa natureza misteriosa! Suponha que Deus nesta hora desvendasse diante dos nossos olhos os segredos dessas moradas terríveis aonde há esperança inexiste; suponha, se fosse possível, que você foi realmente levado a sentir por algum tempo as dores reais do lago de fogo e experimentado a agonia, e o verme que nunca morre; e depois que você foi trazido de volta à terra, e colocado emsua velha situação, entre seus velhosamigos e companheiros; você realmente acha que haveria qualquer chance de você caminhar com Deus como um criança? Eu não duvido que você iria ter um termo correto de seus pecados; e nem a taça do prazer sem Deus cairia de sua mão; nem você estremeceria com a blasfêmia, nem você tremeria diante uma mentira, simplesmente pelo fato de você ter visto e sentido algo do tormento que aguarda o bêbado, o blasfemador e o mentiroso, no mundo além-túmulo. Você realmente acha que você iria viver para Deus mais do que você vive, que você iria servi-lo melhor do que antes? É bem verdade que você pode ser levado a ser mais caridoso; sim, a dar todos os seus bens para sustento dos pobres, e seu corpo para ser queimado; que você pode viver com rigor e seriedade, a com o maior medo de quebrar um dos mandamentos por to- do o resto de seus dias, mas isso não seria viver para Deus, você não iria amá-lo um pou- quinho mais. Infelizmente vocês estão cegos para os vossos corações, se você não sabe que o amor não pode ser forçado; nenhum homem jamais chegou a amar por ter sido ate- morizado, e, portanto, nenhum homem jamais poderá se tornar santo por causa do temor. Mas, três vezes bendito seja Deus, pois Ele inventou uma maneira mais poderosa do que o inferno e todos os seus terrores; um argumento mais forte do que os espíritos dos conde- nados e do que até mesmo a visão daqueles tormentos. Ele inventou uma maneira de nos atrair para a santidade; ao mostrar-nos o amor de Seu Filho, Ele suscita nosso amor. Ele
  • 34. Issuu.com/oEstandarteDeCristo conhecia a nossa estrutura; lembrou-se de que somos pó. Ele conhecia todas as peculiari- dades do nosso coração traiçoeiro; e, portanto, Ele adequou Sua maneira de santificar a criatura que deveria ser santificada. Assim, o Espírito não faz uso do terror para nos santificar, mas do amor: “O amor de Cristo nos constrange”. Ele nos atrai com “com cordas humanas, com laços de amor” [Oséias 11:4]. O que o pai faz para conhecer a verdadeira forma de ganhar a obediência de um filho, não é ganhar o afeto da criança? E você acha que Deus, que nos deu essa sabedoria, Ele mesmo não sabe disso? Você acha que Ele iria determinar obter a obediência de seus filhos, sem antes de tudo ganhar sua afeição? Para obter nossas afeições, que por natureza perambulam pela face do mundo e em nada repousa, senão nEle; Deus enviou o Seu Filho ao mundo para suportar a maldição de nossos pecados. “Sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis” [2 Coríntios 8:9]. Se há apenas um de vocês que irá neste dia, sob um senso de aniquilação, fugir para o refúgio, para o Salvador, para encontrar nEle o perdão de todos os pecados passados, eu sei muito bem que a partir de hoje em diante você vai ser como aquela pobre mulher, que era uma pecadora, que estava aos pés de Cristo, atrás dele, chorando e começou a lavar os Seus pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e beijava os Seus pés e os ungia com unguento. Quando você for muito perdoado, muito amará; amando muito, você vai viver para o serviço dAquele a quem você ama. Este é o grande princípio do qual falamos; esta é a fonte secreta de toda a santidade dos santos. A vida de santidade não é o que o mundo falsamente representa, uma vida de rigidez e de fadiga, na qual um homem se priva da toda afeição de sua natureza. Não existe tal coisa como a abnegação no sentido papista desta palavra na Religião da Bíblia. O sistema de restrições e autoflagelação é o próprio sistema que Satanás criou como uma falsificação do caminho da santificação de Deus. É assim que Satanás atemoriza milhares contra a paz e a santidade propostas no Evangelho; como se para ser um homem santificado o homem devesse ser privado de todos os desejos do seu ser, e devesse fazer que fosse desagra- dável e desconfortável para ele. Meus amigos, o nosso texto nos mostra claramente que não é assim. Somos constrangidos à santidade pelo amor de Cristo; o amor dAquele que nos amou, é a única corda pela qual estamos vinculados ao serviço de Deus. O flagelo dos nossos afetos é o único flagelo que nos leva ao novo dever. Doces laços e gentis flagelos! Quem não gostaria de estar sob o Seu poder? IV. O Perseverante Amor de Cristo. Finalmente, se o amor de Cristo por nós é o objeto que o Espírito Santo faz uso, no início, para nos atrair para o serviço de Cristo, é por meio deste mesmo objeto que Ele nos chama
  • 35. Issuu.com/oEstandarteDeCristo a perseverar até o fim. Assim, que se você é visitado com temporadas de frieza e indiferen- ça; se você começar a se cansar, ou ficar para trás no serviço de Deus. Eis, aqui está o re- médio: Olhe novamente para o Salvador sangrante. Este Sol da justiça é o grande centro de atração, em torno do qual todos os Seus santos se movem rapidamente, e em conjunto harmonioso e suave, “não sem música”. Enquanto o olho crente se fixar sobre o Seu amor, o caminho do crente é fácil e desimpedido; pois este amor sempre constrange. Mas, desvie o olho, crente, e o caminho se torna impraticável e a vida de santidade um cansaço. Quem, então, deseja viver uma vida de perseverança na santidade, mantenha o olhar fixo no Salvador. Enquanto Pedro olhou apenas para o Salvador, ele caminhou sobre o mar em segurança, para ir a Jesus; mas quando ele olhou ao redor e sentiu o vento forte, teve me- do, e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”, justamente assim será com você. Enquanto você olhar com fé para o Salvador, que te amou, e entregou a Si mesmo por você, desde então você poderá pisar nas águas do mar agitado da vida, e as solas dos pés não serão molhadas. Entretanto, se porventura você olhar ao redor para os ventos e as ondas que o ameaçam em cada lado, e, como Pedro, você começar a afundar, clame: “Se- nhor, salva-me!”. Quão justamente, então, podemos dirigir a você a repreensão do Salvador a Pedro: “Ó, homem de pouca fé, por que duvidaste?”. Olhe novamente para o amor do Salvador, e contemple o amor que constrange a viver não mais para si, mas por Aquele que morreu por você e ressuscitou.
  • 36. Issuu.com/oEstandarteDeCristo 3 Pai, Eu Quero I SERMÃO “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” (João 17:24) I. A FORMA DESTA ORAÇÃO “Pai, eu quero”. Esta é a mais maravilhosa oração que alguma vez elevou-se da terra para o trono de Deus, e esta petição é a mais maravilhosa da oração. Nenhuns lábios humanos jamais oraram assim antes: “Pai, eu quero”. Abraão era amigo de Deus, e ficou muito perto de Deus em oração; mas ele orou como pó e cinzas. “E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza” [Gênesis 18:27]. Jacó lutou com Deus e prevaleceu, mas a sua palavra mais ousada foi: “Não te deixarei ir, se não me abençoares” [Gênesis 32:26]. Daniel foi umhomem muito amado, e teve respostasimediatas àsorações, e ainda assim ele clamou a Deus como um pecador: “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age” [Daniel 9:19]. Paulo foi um homem que esteve muito perto de Deus, e ainda assim ele diz: “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” [Efésios 3:14]. Porém quando Cristo orou, clamou: “Pai, eu quero”. Por que Ele ora assim? Ele era companheiro de Deus: “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o homem que é o meu companheiro” [Zacarias 13:7]. Apesar disso, Ele não usurpou o ser
  • 37. Issuu.com/oEstandarteDeCristo igual a Deus. Foi Ele quem disse: “Haja luz, e houve luz”. Portanto, agora Ele diz: “Pai, eu quero”. A Sua vontade e a vontade do Pai era uma: “Eu e o Pai somos um” [João 10:30]. Um só Deus, um só coração e vontade. É verdade, Ele tinha uma santa alma humana, e, portan- to, uma vontade humana; mas Sua vontade humana era uma com a Sua vontade Divina. A corda humana em seu coração estava sintonizada na mesma corda da Sua vontade Divina. Queridos filhos de Deus, aprendam quão seguramente esta oração será respondida. É im- possível que esta oração fique sem resposta. É a vontade do Pai e do Filho. Se Cristo quer, e se o Pai quer, vocês podem ter certeza de que nada pode impedir isso. Se a ovelha está na mão de Cristo, e na mão do Pai, ela jamais perecerá. II. POR QUEM ELE ORA. “Aqueles que me deste”. Seis vezes neste capítulo Cristo chama o seu povo por este nome: “Aqueles que me deste”. Esta parece ter sido uma expressão favorita de Cristo, especialmente quando os conduzia sobre Seu coração diante do Pai. A razão parece significar que Ele lembra ao Pai que eles são tanto do Pai como eles são Seus próprios; que o Pai tem o mesmo interesse que Ele por eles, tendo-lhes dado a Ele antes que o mundo existisse. E assim Ele o repete no versículo 10: “E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas”. Antes que o mundo existisse, o Pai escolheu umpovo deste mundo. Ele os entregou na mão de Cristo, ordenando-Lhe que não perdesse nenhum, e que Ele suportaria os seus pecados em Seu próprio corpo no madeiro, e os ressuscitasse no último Dia. E, consequentemente, Ele diz: “Dos que me deste nenhum deles perdi” [João 18:9]. Há algum sinal daqueles que são dados a Cristo? Eles não são melhores do que os outros, pelo contrário, às vezes Ele escolhe os piores, mas há uma outra resposta: “Todo o que o Pai me dá virá a mim [João 6:37]. Uma das marcas seguras de todos os que foram dados a Cristo é que eles vêma Jesus. Todos eles vêm “a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão” [Hebreus 12:24]. Você veio a Cristo? O seu coração foi aberto para receber a Cristo? Cristo tornou-se precioso para você? Então você pode ter a certeza que você foi dado a Cristo antes da fundação do mundo. Seu nome está no Livro da Vida do Cordeiro, e seu nome está no peitoral de Cristo. É por você que Ele ora: “Pai, eu quero que esta alma esteja comigo”. Cristo nunca perderá você. O Pai, que deu você a Ele é maior do que todos, e ninguém pode arrebatar você da mão do Pai.
  • 38. Issuu.com/oEstandarteDeCristo III. O ARGUMENTO. “Porque tu me amaste”. Cristo lembra o Pai de Seu amor por Ele, antes que o mundo existisse. Quando não havia terra, nem sol, nem lua, nem anjo, quando Ele estava ao lado dEle. Então, “tu me amaste”. Quempode compreender esse amor, o amor de umDeus não criado ao Seu Filho não criado? O amor de Jônatas por Davi era muito grande, ultrapassando o amor das mulheres. O amor de um crente a Cristo é muito grande, porque ele vê que Cristo é totalmente desejável. O amor de um santo anjo por Deus é muito ardente, porque eles são como labaredas de fogo. Mas estes todos são amores da criatura; Estes são apenas córregos; mas o amor de Deus por Seu Filho é um oceano de amor. Há de tudo em Cristo para atrair o amor do Pai. Agora discirnam Seu argumento: Se Tu me amas, faça isso pelo Meu povo. Assim como Ele disse a Paulo: “Por que me persegues?”. Sentindo-se Um com Seus membros aflitos sobre a Terra. Deste modo Ele dirá no último dia: “Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” [Mateus 25:40]. Ele reconhece os crentes como parte de Si mesmo; aquilo que é feito a eles é feito a Cristo. Então, aqui, quando Ele os conduz ao Seu Pai, este é todo o Seu argumento: “Tu me amas”. Se Tu me amas, os ama, pois eles são parte de Mim. Veja, amado, quão seguramente a oração de Cristo por você será respondida. Ele não alega que você é bom e santo; Ele não alega que você é digno; Ele só pleiteia a Sua própria amabilidade aos olhos do Pai. Não olhe para eles, diz Ele, mas olhe para mim. Tu me amaste, antes da fundação do mundo. Aprendam a usar o mesmo argumento com Deus, queridos crentes, isto é, pedir emnome de Cristo, por amor do Senhor. Esta é a oração que nunca é recusada. Cuidem para que vocês não venham em seu próprio nome, senão vocês serão rejeitados. Venham assim, para a Sua mesa. Diga ao Pai: me aceite, pois Tu O amas, desde a funda- ção do mundo. IV. A ORAÇÃO EM SI. Duas partes. 1. Que eles estejam comigo. (1) O que Cristo quer dizer. Ele não quer dizer que devemos estar atualmente retirados deste mundo. Alguns de vocês que têm vindo a Cristo podem, neste dia, ser favorecidos
  • 39. Issuu.com/oEstandarteDeCristo com tanto de Sua presença e do amor do Pai, tanto da alegria do céu, e um tal pavor de voltar a trair Cristo estado no mundo, que vocês podem estar desejando que esta casa fos- se realmente aquele portão do céu; vocês podem desejar serem transportados da mesa de baixo para a mesa de cima. “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” [Filipenses 1:23]. Cristo ainda não deseja isto. “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” [João 17:15]. “Para onde eu vou não podes agora seguir-me” [João 13:36]. (Como aquela mulher no Diário de David Brainerd: “Ó bendito Senhor! Leve-me; permita-me morrer e ir com Jesus Cristo. Tenho medo de que, se eu viver, eu pecarei novamente”). (2) O que Ele quer dizer. Ele quer dizer que, quando a jornada acabar, estaremos com Ele. Todo aquele que vem a Cristo tem uma jornada para realizar neste mundo. Alguns têm uma jornada longa, e alguns têmuma jornada curta. Esta jornada é atravésde umdeserto. Cristo ainda ora para que, no final, você possa estar com Ele. Todo aquele que vem a Cristo tem suas doze horas para trabalhar para Cristo. “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia” [João 9:4]. Mas quando isso é feito, Cristo ora para que você esteja com Ele. Ele quer dizer que você deve vir para a casa de Seu Pai, com Ele. “Na casa de meu Pai há muitas moradas” [João 14:2]. Você deve morar na mesma casa com Cristo. Você nunca é muito íntimo de uma pessoa até que você a veja em sua própria casa, até que você a conheça em casa. Isto é o que Cristo quer de nós, que estejamos com Ele em Sua própria casa. Ele quer que estejamos no seio do mesmo Pai com Ele. “Eu subo para meu Pai e vosso Pai” [João 20:17]. Ele quer que estejamos no mesmo sorriso com Ele, que sentemos no mesmo trono com Ele, que nademos no mesmo oceano de amor com Ele. Aprenda quão seguro você estará, em breve, quando estiver com Cristo. Esta é a vontade do Pai, esta é a vontade do Filho. É a oração de Cristo. Se você realmente foi levado a Cristo, você nunca perecerá. Você pode ter muitos inimigos opondo-se a você em seu caminho para a glória. Satanás deseja ter você para peneirar como trigo. Seus amigos do mundo farão todo o possível para impedi-lo. Ainda assim você estará com Cristo. Veremos o seu rosto na mesa da glória. Você tem um coração duro incrédulo e enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Muitas vezes você acha que o seu coração levará você a trair Cristo. Ainda assim você estará com Cristo. Se você está em Cristo hoje, você estará para sempre com o Senhor. Você tem vivido uma vida má. Você tem pecados terríveis sobre os quais olhar. Ainda assim, se você veio a Jesus, esta é a Sua palavra para ti: “Tu estarás comigo no paraíso”. Na verdade, Cristo não pode perder você. Você é a Sua joia, a Sua coroa. O Céu não seria Céu para Ele, se você não estivesse ali. Isso pode lhe dar coragem ao vir para a mesa do Senhor. Alguns de vocês têm medo de vir a esta mesa, porque, se vocês se unirem a Cristo hoje, têm medo que possam traí-lO amanhã. Mas vocês não precisam ter medo. “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até
  • 40. Issuu.com/oEstandarteDeCristo ao dia de Jesus Cristo” [Filipenses 1:6]. Vocês devem sentar-se à mesa de cima, onde Cristo estará na cabeceira. Vocês não precisam ter medo de vir a esta mesa. 2. Para que vejam a minha glória que me deste. Há três estágios na glória de Cristo. Esta será a ocupação do céu: a contemplação de todas elas. Primeiro. A glória original de Cristo. Esta é a Sua glória não derivada, não criada, como igual ao Pai. Ela é mencionada em Provérbios 8:30: “Então eu estava com ele, e era seu arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo”. E, novamente, nesta oração: “aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (v. 5). Dessa glória nenhum homem pode falar, nenhum anjo, nem arcanjo. Somente de uma coisa sabemos, que devemos honrar o Filho, bem como devemos honrar o Pai. Ele compartilha com o Pai em ser o Único todo-perfeito, quando não havia nada para admirar, ninguém para adorar, nem anjos com harpas de ouro, nem serafins a cantar Seu louvor, nem querubins a clamar: “Santo, santo, santo”. Antes que todas as criaturas existissem, Ele era Um com o Deus infinitamente perfeito, bom e glorioso. Ele era, então, tudo o que Ele mais tarde evidenciou ser. A criação e redenção não O mudaram. Elas apenassó revelaram o que Ele era anteriormente. Elas apenas forneceram os objetos para que aqueles raios de glória repousassem, de forma que brilhavam tão plenamente como antes, desde toda a eternidade. A eternidade será tomada com o louvor a Deus, à medida que Ele revelou a Si mesmo absolutamente; assim mesmo Ele sairá do retraimento de Sua amável e bem- aventurada eternidade. Segundo. Quando Ele se tornou carne. “O Verbo se fez carne” [João 1:14]. Cristo não obteve mais glória, tornando-se homem, mas Ele manifestou a Sua glória de uma nova maneira. Ele não ganhou uma perfeição maior, tornando-se homem; Ele tinha todas as perfeições de Deus anteriormente. Mas agora essas perfeições eram derramadas através de um coração humano. A onipotência de Deus agora movia-se em um braço humano. O amor infinito de Deus agora bateia em um coração humano. A compaixão de Deus pelos pecadores agora brilhava em um olho humano. Deus era amor antes, mas Cristo foi o amor coberto com carne. Assim como quando você vê o sol brilhando através de uma janela colorida, e contudo a mesma luz do sol, ainda que brilha com um brilho agradável, de modo semelhante em Cristo habita toda a plenitude da Divindade. A perfeição da Divindade brilhou por todos os poros, por meio de toda a ação, palavra e olhar, as mesmas perfeições, somente estavam brilhando com um brilho ameno. O véu do templo era um tipo de sua carne, porque ele cobria a luz brilhante do santo dos santos. Mas, assim como a luz brilhante da Shekiná muitas vezes brilhou através véu, assim ocorreu, pois à Divindade do