O documento discute como os preparativos para os Jogos Paralímpicos Rio 2016 podem mudar a imagem e identidade das pessoas com deficiência no Brasil. Ele enfatiza a importância de definir esta identidade por si mesmos, recusando estereótipos e preconceitos, e traçar estratégias para deixar um legado positivo após os jogos.
2. 74 por Scott Rains
O Brasil se prepara para
ser o palco do mundo !!!
V
ocê deixaria qualquer pessoa na rua escolher
sua roupa, seu carro ou seu namorado(a) ?
No mínimo pensaria duas vezes antes de
permitir isso, certo ? Tudo porque essas
escolhas são pessoais e contribuem para
definir sua imagem e sua identidade pública.
Vivemos um momento importante no Brasil, com
os preparativos para os Jogos Paralímpicos que serão
realizados no Rio de Janeiro, em 2016. Por isso, vale
lembrar que durante os preparativos, estarão se falan-
do sobre as pessoas com deficiência com uma força
e intensidade, e interesse, nunca visto neste país.
Como equilibrar o lema: “Nada sobre nós, sem nós”,
com isso ?
Os preparativos para os Jogos Paralímpicos Rio 2016
vão mudar sua imagem e identidade como brasileiro(a)
com deficiência. Essa será uma época única, com tan-
tas possibilidades e sonhos reunidos, que podem ser Substituir uma identidade alternativa
realizados no campo da deficiência. Substituir uma identidade alternativa que se manifesta como
Será utopia depois dos jogos ? Não ! Mas vai ser um lado positivo da deficiência e respeita quem você é como indi-
tempo de grande propaganda sobre o que é ser uma viduo... Alguns afirmam que nossa perspectiva da periferia da
pessoa com deficiência. Todo o mundo espera uma voz sociedade, agora antes de se conquistar a inclusão, fertiliza a
forte que represente o Brasil nesse diálogo. Sediar os nossa criatividade. Viver sua vida, será como dar aulas de como
Jogos Paralímpicos Rio 2016 é um convite para todos é ser um brasileiro(a) com deficiência hoje em dia. Adote mo-
as pessoas com deficiências brasileiras, sejam atletas das, equipamentos e redes sociais que aumentam seu orgulho
ou espectadores. O mundo quer saber como o Brasil, em ser quem é, e ser parte da comunidade de pessoas com
o país do samba e do futebol, e os brasileiros como deficiências. É o principio de uma imagem própria, norteada de
indivíduos, vão contribuir com o desenvolvimento cul- escolhas próprias.
tural em relação à inclusão. Você vai se sentir vencedor
na medida em que resolver gerenciar as mudanças Reforçar atitude com competência
até o Rio 2016. A atitude é o que motiva e inspira você e as outras pessoas,
E por onde começar ? Comece com as pessoas. enquanto te alimenta. Abrir espaço para você agir de forma in-
Continue até a politica. dependente e com dignidade, desencoraja atitudes de “bullying”.
Pois atitude sem competência não disfarça a ignorância. Dá
Recusar o preconceito e o estereótipo fraqueza ao nosso movimento pela justiça. A sua educação é
O preconceito desmonta sua imagem e o estereótipo é essencial e não apenas para si mesmo. Desenvolver a consci-
um roubo da sua identidade. Aceitar isso, seja em público ência de que você tem pontos fortes naturais, mas aprimora
ou na sua vida particular, é permitir que roubem a sua ainda mais acentuadamente para beneficiar outras pessoas com
capacidade de viver com independência. Experimentar deficiência. É o princípio de ganhar o respeito dos outros que se
com independência durante esta época única, quando dedicaram a se tornar competentes e estender esse respeito
a sociedade brasileira estará disposta a aprender sobre para a nossa comunidade através de seu exemplo.
quem é a pessoa com deficiência, e essa pessoa é você.
Viver como se seu futuro fosse inevitável, começar a Aprender ler o mundo e seus antecedentes
recuperar o controle sobre sua imagem e identidade. É O objetivo da inclusão social é a eficiência. Progresso para
o princípio da sua voz que será único ! a inclusão exige uma consciência flexível pessoal e um conhe-
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a Revista New Mobility, assim que voltei para os EUA.
Quando viajamos, por exemplo, representamos mais que nós
mesmos, porque somos parte de uma comunidade. Ser uma
pessoa com deficiência que viaja, quer dizer que carregamos
duas coisas de valor, especialmente juntas. Ambas tendem a
surpreender aqueles que se encontram viajando. São o dinheiro e
o orgulho. No caso do orgulho, me refiro à auto-determinação de
saber e criar quem você é, além de medidas econômicas de valor.
O próprio fato de você viajar sugere algo sobre você. Ele
indica que você tem crédito, poupança, educação, talvez uma
cimento de como a nossa comunidade tem sido moldada por profissão que exige viagens. O mais importante é que diz que
forças que nunca eram permitidas controlar. Assim, lendo o você tem a capacidade de tomar decisões sobre o rumo da sua
mundo, chegamos a escrever um narrativo novo, feito da nossa vida para si mesmo. Essa combinação de meios e dignidade é
experiência escondida na periferia. um catalisador poderoso para a transformação social.
“O ato de ler e escrever deve começar a partir da compre- Viver no Brasil durante os próximos anos, com a chegada
ensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisas que da Copa 2014 e do Rio 2016, vai fazer você se sentir como
os seres humanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo um anfitrião, e ao mesmo tempo, como hóspede, turista... e
historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo, depois da festa, como alguém que dormiu e acordou numa
depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras...” terra desconhecida.
Paulo Freire. Essa troca pode, como disse o especialista em turismo inclusi-
Aprenda a ler onde fica o poder sobre a sua vida. É o princípio vo no Brasil, Ricardo Shimosakai: “Trazer muitas ideias para serem
de controlar e mudar isso, seja por si só ou em conjunto com aplicadas em nosso país, adaptando para as ofertas turísticas
toda a comunidade de pessoas com deficiência. que possuímos. Seria algo como pegar um instrumento musical
importado de alta qualidade para tocar lindas músicas brasileiras.”
Traçar estratégias para definir o ano de 2016 e o Enfim, a questão é o que vai ser deixado por esses grandes
legado que ele deixará eventos, o legado para nós, como comunidade de pessoas com
Depois de saber quem você é, de aceitar que ser diferente é deficiências ?
normal e valorizável, depois de localizar o poder que afeta a sua Nos próximos artigos, nas próximas edições da Revista Reação,
vida, vem a hora de agir. A estratégia eficiente da inclusão social vamos explorar os assuntos abordados acima, porém de forma
segue um processo transparente e inclusivo. Ele foi codificada que nos aproximemos dos próximos anos, com conscientização
como a diretriz de desenho universal que se empenha para de seu potencial. Serão discussões sobre arquitetura e aces-
incluir o maior número de pessoas sob a mais ampla gama de sibilidade ou de filmes, e de inclusão no seu contexto... será
condições para criar uma solução em benefício de todos - e sempre essa transição histórica única. Vamos perguntar: “Como
não apenas das pessoas com deficiências. É o princípio de uma aproveitaremos esse momento, enquanto o Brasil muda e dei-
politica sustentável, onde nós nos beneficiamos juntos. xa de ser somente o nosso próprio país e passa a ser o palco
principal do mundo para a evolução da inclusão de pessoas
Relato pessoal com deficiência ?”.
Em 1975, apenas 3 anos depois de me tornar um cadeirante, Até a próxima edição... Bye !
estive no Brasil como estudante, na cidade histórica de Ouro
Preto/MG. Sim, aquela cidade barroca, construída em cima de Scott Rains é cadeirante,
morros vestidos de pedraria portuguesa – desafio arquitetônico americano, escritor e palestrante,
na obra do mestre Alejadinho. mora na Califórnia, e é um dos
Um belo dia, um amigo que morava na cidade me disse: “Não maiores consultores mundiais sobre
vire a cabeça, não olhe agora, porque por detrás dessa janela acessibilidade, uma verdadeira
que estamos passando agora, mora um jovem cadeirante. A referência. Foi o fundador do
Fórum Global em Turismo Acessível
família nunca leva ele para fora da casa... Seguimos mais umas
e escreve artigos para várias
casas adiante e ele disse: “E no segundo andar daquela casa ali, publicações em diversos países
também mora uma mulher com deficiência. E ela tem vergonha falando sobre o tema da pessoa
de sair”... Então, ele me olhou e disse: “Você passando desse com deficiência. E a partir de agora,
jeito pelas ruas, como se fosse normal, está criando uma nova passa a colaborar com a Revista
lenda aqui na cidade”... Reação.
Lembrei deste momento quando escrevi estas palavras para E-mail: srains@oco.net