Primeiro Estudo Brasileiro sobre Turismo e Deficiência
1.
2. 88 turismo
Brasil publica estudo sobre o
perfil dos turistas com deficiência
N
o mês de dezembro de
2013, o Brasil entrou
em um clube de elite de
apenas quatro nações:
Alemanha, Austrália, Es-
tados Unidos e... agora o Brasil. São os
únicos países que fizeram pesquisas
nacionais em viagens e deficiência. E
agora ?
Segundo os dados preliminares do
último Censo do IBGE, em 2010, as
pessoas com deficiência, de vários tipos
e níveis, já somavam 23,9% no mundo
todo – mais de 45 milhões de cida-
dãos só no Brasil. Para atender a essa
demanda durante as viagens, foi feito
um estudo do perfil dos turistas com
deficiência ou mobilidade reduzida para,
assim, promover um turismo acessível.
O objetivo é identificar as caracterís-
ticas, comportamentos de consumo e
as necessidades dos turistas – pessoas
com deficiência – averiguando suas per-
cepções de infraestrutura, atendimento,
barreiras e empecilhos na viagem, além
de ter acesso ao relato de suas experi-
ências positivas e negativas.
A pesquisa foi feita em 5 cidades
brasileiras: Belo Horizonte, São Paulo,
Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba,
entre maio e junho de 2013. Há, ainda,
grupos localizados no interior, no Norte
e no Nordeste do País, que participaram
da análise.
Os pesquisadores escolheram, em
várias regiões, integrantes de cada uma
das quatro categorias de deficiência
(motora, visual, auditiva e intelectual) e
os separaram em duas equipes: “turistas
reais” e “turistas potenciais”. Turistas re-
ais são aqueles que viajaram a lazer para
alguma localidade brasileira nos últimos
12 meses – estes foram entrevistados
coletivamente por intermédio de mo-
derador treinado com seu roteiro, na
modalidade de “Grupo de Discussão” ou
“Grupo Focal”. Já os turistas potenciais
são aqueles que não realizaram viagens
no último ano, mas pretendem embarcar
para um destino turístico do Brasil nos
próximos 12 meses – essas pessoas
conversaram individualmente com en-
trevistador treinado, também com acom-
panhamento de roteiro, na modalidade
de “Entrevista em Profundidade”.
Vamos vislumbrar primeiro uma das
respostas dos 68 participantes e, se-
paradamente, o comentário dos pes-
quisadores. As devolutivas nos dizem
coisas que as pessoas com deficiência
já sabem, mas ao fazê-lo em um docu-
mento oficial, publicado pelo governo,
elas falam no lugar de todos nós com
um alto - falante. Alguns dos comentá-
rios a seguir são sobre o planejamento
de viagem: “Apesar de o pessoal ter
falado de planejamento pensando mui-
to em preço, acho que ele serve para
ter mais qualidade – no geral – em
sua viagem. Você precisa saber se os
lugares são acessíveis, se não, gasta seu
tempo e seu dinheiro, além de cansar
de sair procurando tentando a sorte
de encontrá-los. Você pode fazer um
plano B.”, menciona o Grupo Focal, em
São Paulo/SP.
Lembram-nos mais uma vez o porquê
o primeiro levantamento profissional do
mundo em grande escala de viajantes
com deficiência, realizado pelo Dr. Si-
mon Darcy, em 1998, foi intitulado de:
“De Ansiedade para a Acessibilidade”.
Quando questionado no estudo sobre
as fontes de informações disponíveis
sobre a viagem, a ansiedade continua:
“As informações não são suficientes.
Quando se chega lá, você pensa que é
uma coisa, mas não é. O transporte não
é aquilo, o local não é todo adaptado,
mas apenas uma pequena área... Não é
como previsto, como eu precisaria que
fosse”, opina turista potencial na cate-
goria de deficiência motora, em Belo
Horizonte/MG.
por Scott Rains
3. Scott Rains é cadeirante,
americano, escritor e palestrante,
mora na Califórnia, e é um dos
maiores consultores mundiais sobre
acessibilidade, uma verdadeira
referência. Foi o fundador do
Fórum Global em Turismo Acessível
e escreve artigos para várias
publicações em diversos países
falando sobre o tema da pessoa
com deficiência.
E-mail: srains@oco.net
turismo
A ansiedade ainda é alta no Brasil com a falta de
acesso, treinamento de pessoal do setor turístico e infor-
mações relevantes para os viajantes com deficiência. Isso
faz com que a criação de um site confiável seja essencial.
Por exemplo, antes da Copa de 2014, cada Cidade Sede
deve ter um site com todas as informações necessárias
para os viajantes com deficiência para planejar viagens.
Isso, é claro, se estas cidades esperam se beneficiar com
os participantes dos eventos e se querem deixar um le-
gado que justifique o dinheiro que não foi investido em
educação e em hospitais. “Tenho que colocar na balança
os pontos positivos e negativos daquele lugar para saber,
se no saldo final, pelo menos, o positivo será igual ao
negativo, ou um pouquinho melhor. Se não, não vale
a pena sair de casa, gastar dinheiro e chegar naquela
cidade e ficar no hotel. (...) Pois é, passar raiva, gastar
dinheiro e fazer as mesmas coisas que eu faria estando
em casa”, diz turista potencial na categoria de deficiência
motora, no Rio de Janeiro/RJ.
Enfim, o estudo quer contribuir com os debates:
• Qual é a atual situação de acessibilidade na atividade
turística ?
• Quais políticas públicas, planos e projetos de acessi-
bilidade e direitos humanos podem ser desenvolvidos ?
Somos nós que sabemos “a atual situação de acessibi-
lidade da atividade turística”. Em relação à qualidade das
informações que proporcionamos, as políticas públicas,
planos e projetos poderão ser melhores, especialmente,
se o processo de desenvolvimento for aberto a nós. É
papel do governo proteger os direitos humanos dos
cidadãos – neste caso, o direito ao lazer e as viagens –
protegidos no artigo 30 da Convenção sobre os Direitos
Humanos do ONU que tem a força de uma emenda
constitucional no Brasil. A parceria do Ministério do Tu-
rismo com a Secretaria de Direitos Humanos ajunta
competências complementares. Em parceria, podem
educar – como sugere os respondentes do estudo – as
empresas. Podem tambem as incentivar. Podem projetar
um levantamento de autoavaliação no setor turístico que
Conheça a publicação do estudo do Governo
na íntegra:
http://www.turismo.gov.br/turismo/o_ministerio/publi-
cacoes/downloads_publicacoes/Estudo_de_dem_turistas_
pessoas_com_def_DocCompleto_12.2013.pdf
estabelece uma referência sobre a capacidade atual, as
atitudes e os planos para o consumidor com deficiên-
cia. Isso já provado por Darcy, na Austrália, em 2005,
com uma série de sessões regionais descritas no artigo:
“Setting a Research Agenda for Accessible Tourism”
Esse estudo pode ser resumido com bom humor.
Basta emprestar o título do artigo de Júnie Fátima
Borges Soares de Sá: “cegos não vão ao teatro para
usar o banheiro” e com sua reflexão: “as pessoas e
as instituições precisam se envolver na construção de
novo caminho que levará, ainda que em longo prazo,
a um resultado concreto de acessibilidade à saúde,
à vida social, à prática profissional, ao lazer, aos bens
culturais e ao conhecimento. Fica nosso convite para
que valorize esse desafio: o corpo é frágil e a vida
é bela” !
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