SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  4
Télécharger pour lire hors ligne
NEWS FEATURE                                                                                                                                   1


                                                                                                  NEUROBIOLOGIA DA FALA                A partir da
                                                                                                  identificação dos primeiros genes associados à
                                                                                                  gagueira, os cientistas estão tendo a possibili-
                                                                                                  dade inédita de compreender os fundamentos
                                                                                                  bioquímicos do distúrbio e de descobrir grupos
                                                                                                  de neurônios especialmente sensíveis ao defeito
                                                                                                  metabólico causado pelas mutações.


                                                                                                  Identificar estes neurônios e detalhar sua
                                                                                                  função é agora o próximo passo da pesquisa,
                                                                                                  que pode fornecer novos insights sobre a
                                                                                                  gagueira e também sobre a produção de fala
                                                                                                  no cérebro.

                                                                                                  “Nenhum respeito”
                                                                                                  Apesar de fornecer uma janela única para a
                                                                                                  compreensão detalhada de uma das funções
                                                                                                  mais complexas realizadas pelo cérebro hu-
                                                                                                  mano, a gagueira tem sido por muito tempo
                                                                                                  um assunto cientificamente menosprezado.
                                                                                                  “Infelizmente, como distúrbio, a gagueira
                                                                                                  não tem nenhum respeito”, diz Dennis
                                                                                                  Drayna, pesquisador chefe do estudo e gene-
                                                                                                  ticista do Instituto Nacional de Distúrbios de
                                                                                                  Comunicação, em Bethesda, Maryland (EU-
                                                                                                  A). “Acho que o resultado da nossa pesquisa




Não é emocional
                                                                                                  deve mudar isso e finalmente convencer os
                                                                                                  céticos de que a gagueira é de fato um trans-
                                                                                                  torno biológico.”
                                                                                                     O estudo, publicado no The New England
                                                                                                  Journal of Medicine1, a mais prestigiada revis-
                                                                                                  ta médica do mundo, baseou-se em um traba-
Discretas mutações em genes que regulam um                                                        lho anterior, de 20052, no qual Drayna identi-
processo celular básico estão por trás de mais de                                                 ficou no cromossomo 12 uma região de inte-
                                                                                                  resse que parecia abrigar um gene relaciona-
3 milhões de casos de gagueira em todo o mundo                                                    do ao fenótipo da gagueira. No novo estudo,
                                                                                                  que analisou cerca de 400 pessoas com ga-
Por Cassandra Willyard, Janet Fang, Julia Strait, Nathan Seppa e Robin Latham
                                                                                                  gueira, ele e seus parceiros de pesquisa escru-
                                                                                                  tinaram a região de interesse e identificaram
          uitas vezes tratada com desdém e      1%, o que representa um total de aproxima-        mutações específicas em um gene no braço

M         vista como um mero problema de
          fundo emocional, a gagueira na
verdade pode ser resultado de mutações
                                                damente dois milhões de pessoas no Brasil,
                                                três milhões nos EUA e 70 milhões de pes-
                                                soas em todo o mundo.
                                                                                                  longo do cromossomo 12 (GNPTAB) que
                                                                                                  ocorriam em pessoas com gagueira – mas
                                                                                                  quase nunca em pessoas fluentes do grupo
genéticas afetando genes envolvidos em um          Estudos com gêmeos e crianças adotadas         controle. A partir desta primeira descoberta,
processo metabólico fundamental da célula,      mostraram que existem subtipos do distúr-         foi possível encontrar mais mutações em
mostrou um estudo realizado por cientistas      bio altamente hereditários, e este novo es-       outros dois genes relacionados ao primeiro
do Instituto Nacional de Distúrbios da Co-      tudo do NIH encontrou 10 mutações dife-           (GNPTG e NAGPA), localizados no braço
municação dos EUA, órgão vinculado ao           rentes que podem estar envolvidas na ori-         curto do cromossomo 16, e que integram a
NIH (National Institute of Health).             gem de muitos casos. Essas mutações estão         mesma via metabólica do GNPTAB.
   A Organização Mundial de Saúde (OMS)         localizadas em genes responsáveis por fazer          Nem todas as pessoas com gagueira podem
define a gagueira, ou tartamudez, como um       o direcionamento de enzimas para o interior       atribuir a origem do distúrbio a essas muta-
distúrbio da fluência da fala em que a pessoa   dos lisossomos, organelas que atuam na            ções, dizem os pesquisadores. Embora estu-
sabe exatamente o que quer dizer, mas sofre     digestão e na reciclagem de componentes           dos com gêmeos demonstrem que a contri-
repetições e prolongamentos involuntários       desgastados das células do corpo. Os cientis-     buição genética na origem da gagueira seja
de sons, além de bloqueios frequentes no        tas supõem que existam células no cérebro,        tão grande quanto 80%, as dez mutações
fluxo normal da fala. Trata-se de um distúr-    exclusivamente dedicadas à produção de            encontradas até agora explicam apenas 5%
bio relativamente comum – sua prevalência       fala, que são especialmente sensíveis ao de-      dos casos, o que claramente sugere a existên-
estimada na população adulta é de cerca de      feito metabólico causado pelas mutações.          cia de outros subtipos genéticos3. “As mu-


            Como distúrbio, a gagueira não tem nenhum respeito. Nossa pesquisa deve mudar isso
               e finalmente convencer os céticos de que ela é de fato um transtorno biológico.
                                            — Dennis Drayna, geneticista, Ph.D., pesquisador do NIH
NEWS FEATURE                                                                                                                                                   2




Representação esquemática da via metabólica afetada pelas primeiras mutações genéticas associadas à gagueira. O erro ocasionado pelas mutações com-
promete levemente a eficiência do processo de marcação e transporte de enzimas para o interior dos lisossomos. Na primeira etapa desse processo, a enzima GNPT
(GlcNAc-fosfatotransferase), cujas subunidades alfa, beta e gama são codificadas pela dupla de genes GNPTAB e GNPTG, catalisa a ligação covalente entre o resíduo
GlcNAc-1-fosfato remanescente de sua cauda UDP-GlcNAc e o resíduo terminal de manose (em azul) ligado à enzima que está sendo processada (em laranja) para
ser encaminhada ao lisossomo. Na segunda etapa do processo, a enzima NAGPA (N-acetilglicosamina-1-fosfodiéster alfa-N acetilglicosaminidase), também conheci-
da como enzima de “descobertura”, remove o grupo GlcNAc, expondo o sinalizador manose-6-fosfato (M6P), que atua como uma espécie de etiqueta de transporte
para a enzima. Enzimas com este marcador são, então, encaminhadas através do aparelho de Golgi para o interior do lisossomo. Pequenas alterações nas proteínas
que atuam nessa via metabólica reduzem a quantidade de enzimas transportadas para dentro do lisossomo e, consequentemente, diminuem a capacidade da célula
em digerir componentes desgastados de sua estrutura que precisam ser degradados pelas enzimas lisossômicas para posterior reciclagem. A forma como perdas
discretas de eficiência nessa via metabólica provocam alterações muito sutis na estrutura do cérebro, tornando uma pessoa vulnerável a desenvolver gagueira persis-
tente, está sendo agora objeto de estudo dos pesquisadores1, 5, 6, 7.


                 Esta descoberta inicial revelou uma face totalmente desconhecida da gagueira. Uma
               falha metabólica hereditária nunca tinha sido proposta antes como causa do distúrbio.
                                                   — Dennis Drayna, geneticista, Ph.D., pesquisador do NIH

tações que descobrimos são responsáveis por            distúrbio ainda tão pouco estudado e tão                com esse processo, enviando as enzimas
apenas uma fração modesta de casos”, diz               pouco conhecido. “Quanto mais identificar-              lisossômicas para um local diferente do dese-
Drayna, “mas dentro do universo de 70 mi-              mos genes específicos relacionados ao dis-              jado e deixando o lisossomo impossibilitado
lhões de pessoas com gagueira em todo o                túrbio e o que eles codificam, melhores con-            de degradar adequadamente o lixo celular5.
mundo, isso já é muita gente”.                         dições teremos de entender por que a ga-                   Se o processo de reciclagem nos lisossomos
   “Dada a total falta de conhecimento que             gueira tem sido um mistério por tanto tem-              sofrer um colapso em grande escala, o resul-
tínhamos sobre as causas subjacentes à ga-             po”, diz Nan Ratner, especialista em distúr-            tado pode ser fatal: uma cascata de apoptose
gueira até pouco tempo atrás, nosso objetivo           bios da fala e professora de fonoaudiologia             celular, dano tecidual, falência de órgãos e
inicial era identificar pelo menos uma causa           na Universidade de Maryland.                            morte. Nas mucolipidoses, doenças também
precisa do distúrbio”, diz Drayna. “Agora, já                                                                  causadas por mutações nos genes GNPTAB e
identificamos três diferentes genes envolvi-           Problemas de reciclagem                                 GNPTG, é assim. Poucos portadores conse-
dos, e esta descoberta inicial revelou uma             Os três genes associados à gagueira (GNP-               guem chegar à idade adulta. No entanto, ne-
face totalmente desconhecida da gagueira.              TAB, GNPTG e NAGPA) dividem uma tarefa                  nhuma das pessoas com gagueira que testa-
Uma falha metabólica hereditária nunca                 comum na célula: as enzimas codificadas por             ram positivo para as mutações apresentou
tinha sido proposta anteriormente como                 eles ajudam a direcionar outras enzimas (hi-            sinais de qualquer doença letal. Segundo os
causa do distúrbio. Agora temos um grande              drolases) que vão atuar no interior de orga-            pesquisadores, isso se deve a duas razões
número de novos caminhos de pesquisa                   nelas intracelulares chamadas lisossomos,               principais: primeiro, porque as mucolipido-
abertos para explorar”, afirma o pesquisador.          cuja função é continuamente digerir partes              ses são doenças recessivas e são necessárias
   Muitos especialistas concordam que o tra-           desgastadas da célula e enviá-las para recicla-         duas cópias do mesmo gene mutante para
balho é um passo importante para o enten-              gem. Qualquer uma das 10 mutações identi-               haver a manifestação da condição (nas pes-
dimento da contribuição genética em um                 ficadas pela equipe Drayna pode interferir              soas com gagueira, só havia uma cópia mu-


                   Quem imaginou que algum dia chegaríamos a fazer a enzimologia da fala?
                A possibilidade de estudar bioquimicamente a fala humana é muito surpreendente.
                                                   — Dennis Drayna, geneticista, Ph.D., pesquisador do NIH
NEWS FEATURE                                                                                                                                                3


tante desses genes); segundo, e mais impor-
tante: as mutações identificadas na gagueira
são do tipo missense, o tipo mais sutil, e não                                      cromossomo 12
mutações de deleção ou translocação como
as que são observadas nas mucolipidoses e
que têm um efeito mais grave sobre a função                     braço curto (p)                          braço longo (q)
da proteína. Nenhuma das mutações missen-
se observadas nos genes GNPTAB e GNPTG
em pessoas com gagueira são encontradas
em pessoas com mucolipidose.
                                                                                                                          gene GNPTAB (12q23.2)
Enzimologia da fala
                                                                                                        (também implicado nas mucolipidoses tipo II e III)
Os pesquisadores ainda não entendem por
                                                                           cromossomo 16
que essas mutações missense levariam à ga-
gueira, mas Drayna intui que há neurônios
específicos envolvidos no processamento da
                                                                  braço curto (p)                 braço longo (q)
fala no cérebro que são especialmente vulne-
ráveis a essas anormalidades. A identificação
desses neurônios passa pela determinação
das regiões do cérebro que apresentam mai-
or expressão gênica e, portanto, maior de-
                                                                         gene NAGPA (16p13.3) (a gagueira é o único efeito conhecido em humanos)
pendência das enzimas codificadas pela tría-
de GNPTAB, GNPTG e NAGPA. “Quem ima-                                     gene GNPTG (16p13.3) (também implicado na mucolipidose tipo III)
ginou que algum dia chegaríamos a fazer a
enzimologia da fala?”, pergunta Drayna. “A
                                                  Dois cromossomos abrigam os três primeiros genes associados à gagueira. A primeira mutação associ-
possibilidade de estudar bioquimicamente a
                                                  ada à gagueira foi encontrada no gene GNPTAB*, situado no locus 12q23.2 do cromossomo 12. Esse gene é
fala humana é muito surpreendente.”               um velho conhecido dos geneticistas, por seu papel na origem das mucolipidoses II e III – doenças metabó-
   “Uma característica notável deste estudo é     licas letais da primeira infância. Inicialmente, os pesquisadores duvidaram da associação e acreditaram não
a natureza da via biológica implicada – um        ser plausível que um gene para uma doença metabólica letal pudesse ter alguma coisa a ver com a gagueira,
processo bioquímico até então muito pouco         até se depararem com algo intrigante: crianças com formas moderadas de mucolipidose, que conseguiam
provável para explicar a gagueira”, diz o neu-    sobreviver à primeira infância, tinham alterações graves no desenvolvimento da fala. Como os pesquisadores
                                                  sabiam que o GNPTAB trabalha em conjunto com outros dois genes – GNPTG e NAGPA (ambos localizados
rocientista Simon Fisher, do Wellcome Trust       no cromossomo 16) – eles os sequenciaram e encontraram mais mutações presentes em pessoas com ga-
Centre para Genética Humana da Universi-          gueira e em suas famílias, mas não em pessoas do grupo controle. Mutações no GNPTG também já haviam
dade de Oxford, Inglaterra, autor do editorial    sido associadas anteriormente à mucolipidose tipo III, mas mutações no NAGPA nunca tinham sido relacio-
que acompanhou a publicação da descoberta         nadas a qualquer desordem humana. Seu único efeito conhecido até agora é a gagueira1, 5, 6, 7.
no The New England Journal of Medicine8. “As      *Um refinamento posterior mostrou que esta é uma mutação fundadora. Ela surgiu há 572 gerações, aparecendo
mutações descobertas podem reduzir apenas         pela 1a vez por volta de 14.300 anos atrás em um antepassado comum a todos aqueles que hoje a possuem.4
parcialmente a atividade das enzimas”, ele
resume. “Mais pesquisas sobre a atividade         Legitimando a gagueira                                desistir de suas carreiras”, diz ele. Dada a
bioquímica dessas enzimas defeituosas po-         O resultado do estudo sugere que a terapia            importância da comunicação no dia a dia,
dem esclarecer o quadro e, finalmente, expli-     de reposição enzimática pode algum dia ser            não é difícil imaginar o quanto a gagueira
car por que as mutações parecem afetar de         usada no tratamento da gagueira. Enzimas              pode prejudicar o nível de realização do indi-
forma tão seletiva apenas os circuitos neurais    não mutacionadas, produzidas em laborató-             víduo em vários aspectos da vida, sobretudo
relacionados à fluência da fala”, diz ele.        rio, poderiam ser injetadas na corrente san-          na idade adulta. Ainda que nem todas as
   Syuichi Ooki, médico da Universidade Ishi-     guínea de uma pessoa com gagueira, de mo-             crianças com gagueira transformem-se em
kawa, no Japão, não ficou surpreso com o          do que as células afetadas de seu tecido ce-          adultos gagos, para cerca de 20% delas o
fato de que as mutações associadas à gaguei-      rebral pudessem capturá-las e utilizá-las nor-        distúrbio é permanente.
ra estejam em genes envolvidos em um pro-         malmente, substituindo assim as enzimas                  Com a identificação de genes específicos
cesso tão fundamental do metabolismo celu-        defeituosas.                                          implicados na origem da gagueira, espera-se
lar. “Genes mutantes podem induzir mudan-            Drayna espera que sua pesquisa não só              que os cientistas possam finalmente com-
ças biológicas em muitos outros processos         transforme a gagueira em um assunto de                preender de que forma o cérebro é afetado e
hierarquicamente dependentes, produzindo          interesse médico e científico – trazendo-a            como essas alterações produzem a forma
um efeito cascata”, diz Ooki. “Portanto, a        para a área da biomedicina clínica –, mas que         persistente do distúrbio. “Agora, estamos
mutação de genes envolvidos em um proces-         também ajude a legitimar definitivamente o            aptos a rastrear o distúrbio no nível dos
so metabólico básico pode inesperadamente         distúrbio. “Muitas pessoas que têm gagueira           neurônios individuais e descobrir exatamen-
afetar aspectos muito específicos do com-         dizem que esse distúrbio teve um impacto              te que partes do cérebro são mais sensíveis a
portamento humano.”                               enorme em suas vidas e levou-as inclusive a           essas mutações”, conclui Drayna.


             Uma característica notável deste estudo é a natureza da via biológica implicada – um
               processo bioquímico até então muito pouco provável para explicar a gagueira.
                                  — Simon Fisher, neurocientista, diretor do Instituto Max Planck de Psicolinguística
NEWS FEATURE                                                                                                                               4




REFERÊNCIAS CITADAS

1. Kang, C.; Drayna, D. et al. Mutations in      3q13.33. Human Genetics, Vol. 128,            6. Drayna, D. e Kang, C. Genetic approaches
   the lysosomal enzyme-targeting pathway        Number 4, Pages 461-463, 2010.                   to understanding the causes of stutter-
   and persistent stuttering. The New Eng-                                                        ing. Journal of Biological Chemistry. Nov.
   land Journal of Medicine, Feb 25, 362(8),   4. Fedyna A.; Drayna D.; Kang C. Characte-         18, 2011.
   677-85, 2010.                                  rization of a mutation commonly asso-
                                                  ciated with persistent stuttering: evi-      7. Drayna, D. e Kang, C. A role for inherited
2. Riaz, N. et al. Genomewide significant         dence for a founder mutation. J Hum             metabolic deficits in persistent develop-
   linkage to stuttering on chromosome 12.        Genet. Jan;56(1):80-2, 2011.                    mental stuttering. Mol Genet Metab. Jul
   American Journal of Human Genetics,                                                            28, 2012.
   76, 647-651, 2005.                          5. Lee WS, Kang C, Drayna D, Kornfeld S.
                                                  Analysis of mannose 6-phosphate unco-        8. Fisher, S. E. Genetic susceptibility to stut-
3. Raza, M. H.; Riazuddin, S.; Drayna, D.         vering enzyme mutations associated with         tering [Editorial]. The New England Jour-
   Identification of an autosomal recessive       persistent stuttering. Journal of Biologi-      nal of Medicine, Feb 25, 362(8), 750-752,
   stuttering locus on chromosome 3q13.2–         cal Chemistry. Nov. 18, 2011.                   2010.



REPORTAGENS CONSULTADAS

STRAIT, Julia Evangelou. Surprising path-        King’s Speech. NIH Record. 18 Mar.               g/templates/story/story.php?storyId=12
  way implicated in stuttering. Washington       2011. Online. Disponível em http://nih           3575369. Acesso em 15 out. 2012.
  University School of Medicine. 22 Nov.         record.od.nih.gov/ newsletters/2011/03_
  2011. Online. Disponível em http://new         18_2011/story3.htm. Acesso em 15 out.         LATHAM, Robin. The Long Road to Discov-
  s.wustl.edu/news/Pages/23026.aspx. A-          2012.                                           ery: Stuttering Genes Turn Up in the
  cesso em 15 out. 2012.                                                                         Most Unexpected Places. Inside NIDCD
                                               SEPPA, Nathan. Mutations may underlie             Newsletter. Abr. 2010. Online. Disponí-
FANG, Janet. Genetic basis for stuttering        some stuttering. Science News Magazine.         vel em http://www.nidcd.nih.gov/health/
  identified. Nature Magazine. 10 Fev.           13 Mar. 2010; Vol.177 #6 (p. 17). Online.       inside/spr10/pages/pg1.aspx. Acesso em:
  2010. Online. Disponível em http://www.        Disponível em http://www.sciencenews.o          15 out. 2012.
  nature.com / news/2010/100210/full/ne          rg/view/generic/id/56232/title/Mutation
  ws.2010.61.html. Acesso em: 15 out.            s_may_underlie_some_stuttering. Acesso        NIDCD Press. Questions and Answers about
  2012.                                          em: 15 out. 2012.                               NIDCD Stuttering Research. 22 Fev.
                                                                                                 2010. Online. Disponível em http://www.
WILLYARD, Cassandra. Ancient Mutation          SMITH, Stephanie. Unlocking a medical my-         nidcd.nih.gov/about/video/pages/Intervi
  to Blame for Stuttering. Science Maga-         stery: Stuttering. CNN. 10 Fev. 2010. On-       ewDraynaNews.aspx. Acesso em 15 out.
  zine. 21 Fev. 2011. Online. Disponível         line. Disponível em http://edition.cnn.co       2012.
  em http://news.sciencemag.org / science        m/2010/HEALTH/02/10/stuttering.gene
  now /2011/02/ancient-mutation-to-blam          s.cell/index.html Acesso em 15 out. 2012.     NIH Clinical research Trials and You. Re-
  e-for.html. Acesso em 15 out. 2012.                                                            searcher Story: Stuttering. Jan. 2011. On-
                                               KNOX, Richard. Study: Stuttering Is Often         line. Disponível em http://www.nih.gov/
LATHAM, Robin. Genetic Discoveries Chal-         In The Genes. NPR Radio. 11 Fev. 2011.          health/clinicaltrials/stories/stuttering.
  lenge Theories About Stuttering and The        Online. Disponível em http://www.npr.or         htm. Acesso em 15 out. 2012.

Contenu connexe

Similaire à Mutaciones genéticas revelan origen biológico de la tartamudez

Gagueira, genética e lisossomos
Gagueira, genética e lisossomosGagueira, genética e lisossomos
Gagueira, genética e lisossomosStuttering Media
 
Zoonews Edição 2
Zoonews Edição 2Zoonews Edição 2
Zoonews Edição 2msebastiao
 
A longa estrada da descoberta dos genes da gagueira
A longa estrada da descoberta dos genes da gagueiraA longa estrada da descoberta dos genes da gagueira
A longa estrada da descoberta dos genes da gagueiraStuttering Media
 
Neurônios Espelho
Neurônios EspelhoNeurônios Espelho
Neurônios Espelhomayarafn
 

Similaire à Mutaciones genéticas revelan origen biológico de la tartamudez (7)

Gagueira, genética e lisossomos
Gagueira, genética e lisossomosGagueira, genética e lisossomos
Gagueira, genética e lisossomos
 
Zoonews Edição 2
Zoonews Edição 2Zoonews Edição 2
Zoonews Edição 2
 
A longa estrada da descoberta dos genes da gagueira
A longa estrada da descoberta dos genes da gagueiraA longa estrada da descoberta dos genes da gagueira
A longa estrada da descoberta dos genes da gagueira
 
Neuroplasticidade
NeuroplasticidadeNeuroplasticidade
Neuroplasticidade
 
Neuroplasticidade
NeuroplasticidadeNeuroplasticidade
Neuroplasticidade
 
Neurônios espelhos
Neurônios espelhosNeurônios espelhos
Neurônios espelhos
 
Neurônios Espelho
Neurônios EspelhoNeurônios Espelho
Neurônios Espelho
 

Plus de Stuttering Media

Mucolipidoses Tipo II e III e Gagueira Não-Sindrômica são condições genéticas...
Mucolipidoses Tipo II e III e Gagueira Não-Sindrômica são condições genéticas...Mucolipidoses Tipo II e III e Gagueira Não-Sindrômica são condições genéticas...
Mucolipidoses Tipo II e III e Gagueira Não-Sindrômica são condições genéticas...Stuttering Media
 
Passarinhos também gaguejam
Passarinhos também gaguejamPassarinhos também gaguejam
Passarinhos também gaguejamStuttering Media
 
Genética da gagueira - Via metabólica afetada pelas primeiras mutações associ...
Genética da gagueira - Via metabólica afetada pelas primeiras mutações associ...Genética da gagueira - Via metabólica afetada pelas primeiras mutações associ...
Genética da gagueira - Via metabólica afetada pelas primeiras mutações associ...Stuttering Media
 
Gagueira induzida por teofilina - Relato de caso pioneiro (1981)
Gagueira induzida por teofilina - Relato de caso pioneiro (1981)Gagueira induzida por teofilina - Relato de caso pioneiro (1981)
Gagueira induzida por teofilina - Relato de caso pioneiro (1981)Stuttering Media
 
Palilalia induzida por clozapina
Palilalia induzida por clozapinaPalilalia induzida por clozapina
Palilalia induzida por clozapinaStuttering Media
 
Gagueira dose-dependente induzida neuroquimicamente por clozapina
Gagueira dose-dependente induzida neuroquimicamente por clozapinaGagueira dose-dependente induzida neuroquimicamente por clozapina
Gagueira dose-dependente induzida neuroquimicamente por clozapinaStuttering Media
 
Cientistas buscam raízes genéticas do mal de Alzheimer
Cientistas buscam raízes genéticas do mal de AlzheimerCientistas buscam raízes genéticas do mal de Alzheimer
Cientistas buscam raízes genéticas do mal de AlzheimerStuttering Media
 
A gagueira que foi curada com antibióticos
A gagueira que foi curada com antibióticosA gagueira que foi curada com antibióticos
A gagueira que foi curada com antibióticosStuttering Media
 
Exame avalia risco genético de persistência da gagueira
Exame avalia risco genético de persistência da gagueiraExame avalia risco genético de persistência da gagueira
Exame avalia risco genético de persistência da gagueiraStuttering Media
 
Gagueira, música e cérebro. O papel dos núcleos da base na origem dos sintoma...
Gagueira, música e cérebro. O papel dos núcleos da base na origem dos sintoma...Gagueira, música e cérebro. O papel dos núcleos da base na origem dos sintoma...
Gagueira, música e cérebro. O papel dos núcleos da base na origem dos sintoma...Stuttering Media
 
Estadão - Crianças com gagueira são prejudicadas nas escolas
Estadão - Crianças com gagueira são prejudicadas nas escolasEstadão - Crianças com gagueira são prejudicadas nas escolas
Estadão - Crianças com gagueira são prejudicadas nas escolasStuttering Media
 
Dissociação da inervação facial após derrame
Dissociação da inervação facial após derrameDissociação da inervação facial após derrame
Dissociação da inervação facial após derrameStuttering Media
 
José Saramago - Depoimento sobre gagueira
José Saramago - Depoimento sobre gagueiraJosé Saramago - Depoimento sobre gagueira
José Saramago - Depoimento sobre gagueiraStuttering Media
 
Gagueira - Como surgem os mitos
Gagueira - Como surgem os mitosGagueira - Como surgem os mitos
Gagueira - Como surgem os mitosStuttering Media
 
Dr. Gerald Maguire - Rompendo o silêncio da medicina em torno da gagueira
Dr. Gerald Maguire - Rompendo o silêncio da medicina em torno da gagueiraDr. Gerald Maguire - Rompendo o silêncio da medicina em torno da gagueira
Dr. Gerald Maguire - Rompendo o silêncio da medicina em torno da gagueiraStuttering Media
 
Gagueira - O dossiê do "Estudo Monstro"
Gagueira - O dossiê do "Estudo Monstro"Gagueira - O dossiê do "Estudo Monstro"
Gagueira - O dossiê do "Estudo Monstro"Stuttering Media
 
A gagueira é neurobiológica. E agora?
A gagueira é neurobiológica. E agora?A gagueira é neurobiológica. E agora?
A gagueira é neurobiológica. E agora?Stuttering Media
 

Plus de Stuttering Media (17)

Mucolipidoses Tipo II e III e Gagueira Não-Sindrômica são condições genéticas...
Mucolipidoses Tipo II e III e Gagueira Não-Sindrômica são condições genéticas...Mucolipidoses Tipo II e III e Gagueira Não-Sindrômica são condições genéticas...
Mucolipidoses Tipo II e III e Gagueira Não-Sindrômica são condições genéticas...
 
Passarinhos também gaguejam
Passarinhos também gaguejamPassarinhos também gaguejam
Passarinhos também gaguejam
 
Genética da gagueira - Via metabólica afetada pelas primeiras mutações associ...
Genética da gagueira - Via metabólica afetada pelas primeiras mutações associ...Genética da gagueira - Via metabólica afetada pelas primeiras mutações associ...
Genética da gagueira - Via metabólica afetada pelas primeiras mutações associ...
 
Gagueira induzida por teofilina - Relato de caso pioneiro (1981)
Gagueira induzida por teofilina - Relato de caso pioneiro (1981)Gagueira induzida por teofilina - Relato de caso pioneiro (1981)
Gagueira induzida por teofilina - Relato de caso pioneiro (1981)
 
Palilalia induzida por clozapina
Palilalia induzida por clozapinaPalilalia induzida por clozapina
Palilalia induzida por clozapina
 
Gagueira dose-dependente induzida neuroquimicamente por clozapina
Gagueira dose-dependente induzida neuroquimicamente por clozapinaGagueira dose-dependente induzida neuroquimicamente por clozapina
Gagueira dose-dependente induzida neuroquimicamente por clozapina
 
Cientistas buscam raízes genéticas do mal de Alzheimer
Cientistas buscam raízes genéticas do mal de AlzheimerCientistas buscam raízes genéticas do mal de Alzheimer
Cientistas buscam raízes genéticas do mal de Alzheimer
 
A gagueira que foi curada com antibióticos
A gagueira que foi curada com antibióticosA gagueira que foi curada com antibióticos
A gagueira que foi curada com antibióticos
 
Exame avalia risco genético de persistência da gagueira
Exame avalia risco genético de persistência da gagueiraExame avalia risco genético de persistência da gagueira
Exame avalia risco genético de persistência da gagueira
 
Gagueira, música e cérebro. O papel dos núcleos da base na origem dos sintoma...
Gagueira, música e cérebro. O papel dos núcleos da base na origem dos sintoma...Gagueira, música e cérebro. O papel dos núcleos da base na origem dos sintoma...
Gagueira, música e cérebro. O papel dos núcleos da base na origem dos sintoma...
 
Estadão - Crianças com gagueira são prejudicadas nas escolas
Estadão - Crianças com gagueira são prejudicadas nas escolasEstadão - Crianças com gagueira são prejudicadas nas escolas
Estadão - Crianças com gagueira são prejudicadas nas escolas
 
Dissociação da inervação facial após derrame
Dissociação da inervação facial após derrameDissociação da inervação facial após derrame
Dissociação da inervação facial após derrame
 
José Saramago - Depoimento sobre gagueira
José Saramago - Depoimento sobre gagueiraJosé Saramago - Depoimento sobre gagueira
José Saramago - Depoimento sobre gagueira
 
Gagueira - Como surgem os mitos
Gagueira - Como surgem os mitosGagueira - Como surgem os mitos
Gagueira - Como surgem os mitos
 
Dr. Gerald Maguire - Rompendo o silêncio da medicina em torno da gagueira
Dr. Gerald Maguire - Rompendo o silêncio da medicina em torno da gagueiraDr. Gerald Maguire - Rompendo o silêncio da medicina em torno da gagueira
Dr. Gerald Maguire - Rompendo o silêncio da medicina em torno da gagueira
 
Gagueira - O dossiê do "Estudo Monstro"
Gagueira - O dossiê do "Estudo Monstro"Gagueira - O dossiê do "Estudo Monstro"
Gagueira - O dossiê do "Estudo Monstro"
 
A gagueira é neurobiológica. E agora?
A gagueira é neurobiológica. E agora?A gagueira é neurobiológica. E agora?
A gagueira é neurobiológica. E agora?
 

Dernier

O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfO mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfNelmo Pinto
 
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxINTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxssuser4ba5b7
 
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASAULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASArtthurPereira2
 
FUNDAMENTOS E TEORAS DA ENFERMAGEM PARA ALUNOS DE CURSO TÉCNICO
FUNDAMENTOS E TEORAS DA ENFERMAGEM PARA ALUNOS DE CURSO TÉCNICOFUNDAMENTOS E TEORAS DA ENFERMAGEM PARA ALUNOS DE CURSO TÉCNICO
FUNDAMENTOS E TEORAS DA ENFERMAGEM PARA ALUNOS DE CURSO TÉCNICOJessicaAngelo5
 
TRABALHO SOBRE A ERISIPELA BOLHOSA.pptx.
TRABALHO SOBRE A ERISIPELA BOLHOSA.pptx.TRABALHO SOBRE A ERISIPELA BOLHOSA.pptx.
TRABALHO SOBRE A ERISIPELA BOLHOSA.pptx.ColorNet
 
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfSistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfGustavoWallaceAlvesd
 

Dernier (7)

O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfO mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
 
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxINTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
 
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASAULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
 
FUNDAMENTOS E TEORAS DA ENFERMAGEM PARA ALUNOS DE CURSO TÉCNICO
FUNDAMENTOS E TEORAS DA ENFERMAGEM PARA ALUNOS DE CURSO TÉCNICOFUNDAMENTOS E TEORAS DA ENFERMAGEM PARA ALUNOS DE CURSO TÉCNICO
FUNDAMENTOS E TEORAS DA ENFERMAGEM PARA ALUNOS DE CURSO TÉCNICO
 
TRABALHO SOBRE A ERISIPELA BOLHOSA.pptx.
TRABALHO SOBRE A ERISIPELA BOLHOSA.pptx.TRABALHO SOBRE A ERISIPELA BOLHOSA.pptx.
TRABALHO SOBRE A ERISIPELA BOLHOSA.pptx.
 
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãosAplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
 
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfSistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
 

Mutaciones genéticas revelan origen biológico de la tartamudez

  • 1. NEWS FEATURE 1 NEUROBIOLOGIA DA FALA A partir da identificação dos primeiros genes associados à gagueira, os cientistas estão tendo a possibili- dade inédita de compreender os fundamentos bioquímicos do distúrbio e de descobrir grupos de neurônios especialmente sensíveis ao defeito metabólico causado pelas mutações. Identificar estes neurônios e detalhar sua função é agora o próximo passo da pesquisa, que pode fornecer novos insights sobre a gagueira e também sobre a produção de fala no cérebro. “Nenhum respeito” Apesar de fornecer uma janela única para a compreensão detalhada de uma das funções mais complexas realizadas pelo cérebro hu- mano, a gagueira tem sido por muito tempo um assunto cientificamente menosprezado. “Infelizmente, como distúrbio, a gagueira não tem nenhum respeito”, diz Dennis Drayna, pesquisador chefe do estudo e gene- ticista do Instituto Nacional de Distúrbios de Comunicação, em Bethesda, Maryland (EU- A). “Acho que o resultado da nossa pesquisa Não é emocional deve mudar isso e finalmente convencer os céticos de que a gagueira é de fato um trans- torno biológico.” O estudo, publicado no The New England Journal of Medicine1, a mais prestigiada revis- ta médica do mundo, baseou-se em um traba- Discretas mutações em genes que regulam um lho anterior, de 20052, no qual Drayna identi- processo celular básico estão por trás de mais de ficou no cromossomo 12 uma região de inte- resse que parecia abrigar um gene relaciona- 3 milhões de casos de gagueira em todo o mundo do ao fenótipo da gagueira. No novo estudo, que analisou cerca de 400 pessoas com ga- Por Cassandra Willyard, Janet Fang, Julia Strait, Nathan Seppa e Robin Latham gueira, ele e seus parceiros de pesquisa escru- tinaram a região de interesse e identificaram uitas vezes tratada com desdém e 1%, o que representa um total de aproxima- mutações específicas em um gene no braço M vista como um mero problema de fundo emocional, a gagueira na verdade pode ser resultado de mutações damente dois milhões de pessoas no Brasil, três milhões nos EUA e 70 milhões de pes- soas em todo o mundo. longo do cromossomo 12 (GNPTAB) que ocorriam em pessoas com gagueira – mas quase nunca em pessoas fluentes do grupo genéticas afetando genes envolvidos em um Estudos com gêmeos e crianças adotadas controle. A partir desta primeira descoberta, processo metabólico fundamental da célula, mostraram que existem subtipos do distúr- foi possível encontrar mais mutações em mostrou um estudo realizado por cientistas bio altamente hereditários, e este novo es- outros dois genes relacionados ao primeiro do Instituto Nacional de Distúrbios da Co- tudo do NIH encontrou 10 mutações dife- (GNPTG e NAGPA), localizados no braço municação dos EUA, órgão vinculado ao rentes que podem estar envolvidas na ori- curto do cromossomo 16, e que integram a NIH (National Institute of Health). gem de muitos casos. Essas mutações estão mesma via metabólica do GNPTAB. A Organização Mundial de Saúde (OMS) localizadas em genes responsáveis por fazer Nem todas as pessoas com gagueira podem define a gagueira, ou tartamudez, como um o direcionamento de enzimas para o interior atribuir a origem do distúrbio a essas muta- distúrbio da fluência da fala em que a pessoa dos lisossomos, organelas que atuam na ções, dizem os pesquisadores. Embora estu- sabe exatamente o que quer dizer, mas sofre digestão e na reciclagem de componentes dos com gêmeos demonstrem que a contri- repetições e prolongamentos involuntários desgastados das células do corpo. Os cientis- buição genética na origem da gagueira seja de sons, além de bloqueios frequentes no tas supõem que existam células no cérebro, tão grande quanto 80%, as dez mutações fluxo normal da fala. Trata-se de um distúr- exclusivamente dedicadas à produção de encontradas até agora explicam apenas 5% bio relativamente comum – sua prevalência fala, que são especialmente sensíveis ao de- dos casos, o que claramente sugere a existên- estimada na população adulta é de cerca de feito metabólico causado pelas mutações. cia de outros subtipos genéticos3. “As mu- Como distúrbio, a gagueira não tem nenhum respeito. Nossa pesquisa deve mudar isso e finalmente convencer os céticos de que ela é de fato um transtorno biológico. — Dennis Drayna, geneticista, Ph.D., pesquisador do NIH
  • 2. NEWS FEATURE 2 Representação esquemática da via metabólica afetada pelas primeiras mutações genéticas associadas à gagueira. O erro ocasionado pelas mutações com- promete levemente a eficiência do processo de marcação e transporte de enzimas para o interior dos lisossomos. Na primeira etapa desse processo, a enzima GNPT (GlcNAc-fosfatotransferase), cujas subunidades alfa, beta e gama são codificadas pela dupla de genes GNPTAB e GNPTG, catalisa a ligação covalente entre o resíduo GlcNAc-1-fosfato remanescente de sua cauda UDP-GlcNAc e o resíduo terminal de manose (em azul) ligado à enzima que está sendo processada (em laranja) para ser encaminhada ao lisossomo. Na segunda etapa do processo, a enzima NAGPA (N-acetilglicosamina-1-fosfodiéster alfa-N acetilglicosaminidase), também conheci- da como enzima de “descobertura”, remove o grupo GlcNAc, expondo o sinalizador manose-6-fosfato (M6P), que atua como uma espécie de etiqueta de transporte para a enzima. Enzimas com este marcador são, então, encaminhadas através do aparelho de Golgi para o interior do lisossomo. Pequenas alterações nas proteínas que atuam nessa via metabólica reduzem a quantidade de enzimas transportadas para dentro do lisossomo e, consequentemente, diminuem a capacidade da célula em digerir componentes desgastados de sua estrutura que precisam ser degradados pelas enzimas lisossômicas para posterior reciclagem. A forma como perdas discretas de eficiência nessa via metabólica provocam alterações muito sutis na estrutura do cérebro, tornando uma pessoa vulnerável a desenvolver gagueira persis- tente, está sendo agora objeto de estudo dos pesquisadores1, 5, 6, 7. Esta descoberta inicial revelou uma face totalmente desconhecida da gagueira. Uma falha metabólica hereditária nunca tinha sido proposta antes como causa do distúrbio. — Dennis Drayna, geneticista, Ph.D., pesquisador do NIH tações que descobrimos são responsáveis por distúrbio ainda tão pouco estudado e tão com esse processo, enviando as enzimas apenas uma fração modesta de casos”, diz pouco conhecido. “Quanto mais identificar- lisossômicas para um local diferente do dese- Drayna, “mas dentro do universo de 70 mi- mos genes específicos relacionados ao dis- jado e deixando o lisossomo impossibilitado lhões de pessoas com gagueira em todo o túrbio e o que eles codificam, melhores con- de degradar adequadamente o lixo celular5. mundo, isso já é muita gente”. dições teremos de entender por que a ga- Se o processo de reciclagem nos lisossomos “Dada a total falta de conhecimento que gueira tem sido um mistério por tanto tem- sofrer um colapso em grande escala, o resul- tínhamos sobre as causas subjacentes à ga- po”, diz Nan Ratner, especialista em distúr- tado pode ser fatal: uma cascata de apoptose gueira até pouco tempo atrás, nosso objetivo bios da fala e professora de fonoaudiologia celular, dano tecidual, falência de órgãos e inicial era identificar pelo menos uma causa na Universidade de Maryland. morte. Nas mucolipidoses, doenças também precisa do distúrbio”, diz Drayna. “Agora, já causadas por mutações nos genes GNPTAB e identificamos três diferentes genes envolvi- Problemas de reciclagem GNPTG, é assim. Poucos portadores conse- dos, e esta descoberta inicial revelou uma Os três genes associados à gagueira (GNP- guem chegar à idade adulta. No entanto, ne- face totalmente desconhecida da gagueira. TAB, GNPTG e NAGPA) dividem uma tarefa nhuma das pessoas com gagueira que testa- Uma falha metabólica hereditária nunca comum na célula: as enzimas codificadas por ram positivo para as mutações apresentou tinha sido proposta anteriormente como eles ajudam a direcionar outras enzimas (hi- sinais de qualquer doença letal. Segundo os causa do distúrbio. Agora temos um grande drolases) que vão atuar no interior de orga- pesquisadores, isso se deve a duas razões número de novos caminhos de pesquisa nelas intracelulares chamadas lisossomos, principais: primeiro, porque as mucolipido- abertos para explorar”, afirma o pesquisador. cuja função é continuamente digerir partes ses são doenças recessivas e são necessárias Muitos especialistas concordam que o tra- desgastadas da célula e enviá-las para recicla- duas cópias do mesmo gene mutante para balho é um passo importante para o enten- gem. Qualquer uma das 10 mutações identi- haver a manifestação da condição (nas pes- dimento da contribuição genética em um ficadas pela equipe Drayna pode interferir soas com gagueira, só havia uma cópia mu- Quem imaginou que algum dia chegaríamos a fazer a enzimologia da fala? A possibilidade de estudar bioquimicamente a fala humana é muito surpreendente. — Dennis Drayna, geneticista, Ph.D., pesquisador do NIH
  • 3. NEWS FEATURE 3 tante desses genes); segundo, e mais impor- tante: as mutações identificadas na gagueira são do tipo missense, o tipo mais sutil, e não cromossomo 12 mutações de deleção ou translocação como as que são observadas nas mucolipidoses e que têm um efeito mais grave sobre a função braço curto (p) braço longo (q) da proteína. Nenhuma das mutações missen- se observadas nos genes GNPTAB e GNPTG em pessoas com gagueira são encontradas em pessoas com mucolipidose. gene GNPTAB (12q23.2) Enzimologia da fala (também implicado nas mucolipidoses tipo II e III) Os pesquisadores ainda não entendem por cromossomo 16 que essas mutações missense levariam à ga- gueira, mas Drayna intui que há neurônios específicos envolvidos no processamento da braço curto (p) braço longo (q) fala no cérebro que são especialmente vulne- ráveis a essas anormalidades. A identificação desses neurônios passa pela determinação das regiões do cérebro que apresentam mai- or expressão gênica e, portanto, maior de- gene NAGPA (16p13.3) (a gagueira é o único efeito conhecido em humanos) pendência das enzimas codificadas pela tría- de GNPTAB, GNPTG e NAGPA. “Quem ima- gene GNPTG (16p13.3) (também implicado na mucolipidose tipo III) ginou que algum dia chegaríamos a fazer a enzimologia da fala?”, pergunta Drayna. “A Dois cromossomos abrigam os três primeiros genes associados à gagueira. A primeira mutação associ- possibilidade de estudar bioquimicamente a ada à gagueira foi encontrada no gene GNPTAB*, situado no locus 12q23.2 do cromossomo 12. Esse gene é fala humana é muito surpreendente.” um velho conhecido dos geneticistas, por seu papel na origem das mucolipidoses II e III – doenças metabó- “Uma característica notável deste estudo é licas letais da primeira infância. Inicialmente, os pesquisadores duvidaram da associação e acreditaram não a natureza da via biológica implicada – um ser plausível que um gene para uma doença metabólica letal pudesse ter alguma coisa a ver com a gagueira, processo bioquímico até então muito pouco até se depararem com algo intrigante: crianças com formas moderadas de mucolipidose, que conseguiam provável para explicar a gagueira”, diz o neu- sobreviver à primeira infância, tinham alterações graves no desenvolvimento da fala. Como os pesquisadores sabiam que o GNPTAB trabalha em conjunto com outros dois genes – GNPTG e NAGPA (ambos localizados rocientista Simon Fisher, do Wellcome Trust no cromossomo 16) – eles os sequenciaram e encontraram mais mutações presentes em pessoas com ga- Centre para Genética Humana da Universi- gueira e em suas famílias, mas não em pessoas do grupo controle. Mutações no GNPTG também já haviam dade de Oxford, Inglaterra, autor do editorial sido associadas anteriormente à mucolipidose tipo III, mas mutações no NAGPA nunca tinham sido relacio- que acompanhou a publicação da descoberta nadas a qualquer desordem humana. Seu único efeito conhecido até agora é a gagueira1, 5, 6, 7. no The New England Journal of Medicine8. “As *Um refinamento posterior mostrou que esta é uma mutação fundadora. Ela surgiu há 572 gerações, aparecendo mutações descobertas podem reduzir apenas pela 1a vez por volta de 14.300 anos atrás em um antepassado comum a todos aqueles que hoje a possuem.4 parcialmente a atividade das enzimas”, ele resume. “Mais pesquisas sobre a atividade Legitimando a gagueira desistir de suas carreiras”, diz ele. Dada a bioquímica dessas enzimas defeituosas po- O resultado do estudo sugere que a terapia importância da comunicação no dia a dia, dem esclarecer o quadro e, finalmente, expli- de reposição enzimática pode algum dia ser não é difícil imaginar o quanto a gagueira car por que as mutações parecem afetar de usada no tratamento da gagueira. Enzimas pode prejudicar o nível de realização do indi- forma tão seletiva apenas os circuitos neurais não mutacionadas, produzidas em laborató- víduo em vários aspectos da vida, sobretudo relacionados à fluência da fala”, diz ele. rio, poderiam ser injetadas na corrente san- na idade adulta. Ainda que nem todas as Syuichi Ooki, médico da Universidade Ishi- guínea de uma pessoa com gagueira, de mo- crianças com gagueira transformem-se em kawa, no Japão, não ficou surpreso com o do que as células afetadas de seu tecido ce- adultos gagos, para cerca de 20% delas o fato de que as mutações associadas à gaguei- rebral pudessem capturá-las e utilizá-las nor- distúrbio é permanente. ra estejam em genes envolvidos em um pro- malmente, substituindo assim as enzimas Com a identificação de genes específicos cesso tão fundamental do metabolismo celu- defeituosas. implicados na origem da gagueira, espera-se lar. “Genes mutantes podem induzir mudan- Drayna espera que sua pesquisa não só que os cientistas possam finalmente com- ças biológicas em muitos outros processos transforme a gagueira em um assunto de preender de que forma o cérebro é afetado e hierarquicamente dependentes, produzindo interesse médico e científico – trazendo-a como essas alterações produzem a forma um efeito cascata”, diz Ooki. “Portanto, a para a área da biomedicina clínica –, mas que persistente do distúrbio. “Agora, estamos mutação de genes envolvidos em um proces- também ajude a legitimar definitivamente o aptos a rastrear o distúrbio no nível dos so metabólico básico pode inesperadamente distúrbio. “Muitas pessoas que têm gagueira neurônios individuais e descobrir exatamen- afetar aspectos muito específicos do com- dizem que esse distúrbio teve um impacto te que partes do cérebro são mais sensíveis a portamento humano.” enorme em suas vidas e levou-as inclusive a essas mutações”, conclui Drayna. Uma característica notável deste estudo é a natureza da via biológica implicada – um processo bioquímico até então muito pouco provável para explicar a gagueira. — Simon Fisher, neurocientista, diretor do Instituto Max Planck de Psicolinguística
  • 4. NEWS FEATURE 4 REFERÊNCIAS CITADAS 1. Kang, C.; Drayna, D. et al. Mutations in 3q13.33. Human Genetics, Vol. 128, 6. Drayna, D. e Kang, C. Genetic approaches the lysosomal enzyme-targeting pathway Number 4, Pages 461-463, 2010. to understanding the causes of stutter- and persistent stuttering. The New Eng- ing. Journal of Biological Chemistry. Nov. land Journal of Medicine, Feb 25, 362(8), 4. Fedyna A.; Drayna D.; Kang C. Characte- 18, 2011. 677-85, 2010. rization of a mutation commonly asso- ciated with persistent stuttering: evi- 7. Drayna, D. e Kang, C. A role for inherited 2. Riaz, N. et al. Genomewide significant dence for a founder mutation. J Hum metabolic deficits in persistent develop- linkage to stuttering on chromosome 12. Genet. Jan;56(1):80-2, 2011. mental stuttering. Mol Genet Metab. Jul American Journal of Human Genetics, 28, 2012. 76, 647-651, 2005. 5. Lee WS, Kang C, Drayna D, Kornfeld S. Analysis of mannose 6-phosphate unco- 8. Fisher, S. E. Genetic susceptibility to stut- 3. Raza, M. H.; Riazuddin, S.; Drayna, D. vering enzyme mutations associated with tering [Editorial]. The New England Jour- Identification of an autosomal recessive persistent stuttering. Journal of Biologi- nal of Medicine, Feb 25, 362(8), 750-752, stuttering locus on chromosome 3q13.2– cal Chemistry. Nov. 18, 2011. 2010. REPORTAGENS CONSULTADAS STRAIT, Julia Evangelou. Surprising path- King’s Speech. NIH Record. 18 Mar. g/templates/story/story.php?storyId=12 way implicated in stuttering. Washington 2011. Online. Disponível em http://nih 3575369. Acesso em 15 out. 2012. University School of Medicine. 22 Nov. record.od.nih.gov/ newsletters/2011/03_ 2011. Online. Disponível em http://new 18_2011/story3.htm. Acesso em 15 out. LATHAM, Robin. The Long Road to Discov- s.wustl.edu/news/Pages/23026.aspx. A- 2012. ery: Stuttering Genes Turn Up in the cesso em 15 out. 2012. Most Unexpected Places. Inside NIDCD SEPPA, Nathan. Mutations may underlie Newsletter. Abr. 2010. Online. Disponí- FANG, Janet. Genetic basis for stuttering some stuttering. Science News Magazine. vel em http://www.nidcd.nih.gov/health/ identified. Nature Magazine. 10 Fev. 13 Mar. 2010; Vol.177 #6 (p. 17). Online. inside/spr10/pages/pg1.aspx. Acesso em: 2010. Online. Disponível em http://www. Disponível em http://www.sciencenews.o 15 out. 2012. nature.com / news/2010/100210/full/ne rg/view/generic/id/56232/title/Mutation ws.2010.61.html. Acesso em: 15 out. s_may_underlie_some_stuttering. Acesso NIDCD Press. Questions and Answers about 2012. em: 15 out. 2012. NIDCD Stuttering Research. 22 Fev. 2010. Online. Disponível em http://www. WILLYARD, Cassandra. Ancient Mutation SMITH, Stephanie. Unlocking a medical my- nidcd.nih.gov/about/video/pages/Intervi to Blame for Stuttering. Science Maga- stery: Stuttering. CNN. 10 Fev. 2010. On- ewDraynaNews.aspx. Acesso em 15 out. zine. 21 Fev. 2011. Online. Disponível line. Disponível em http://edition.cnn.co 2012. em http://news.sciencemag.org / science m/2010/HEALTH/02/10/stuttering.gene now /2011/02/ancient-mutation-to-blam s.cell/index.html Acesso em 15 out. 2012. NIH Clinical research Trials and You. Re- e-for.html. Acesso em 15 out. 2012. searcher Story: Stuttering. Jan. 2011. On- KNOX, Richard. Study: Stuttering Is Often line. Disponível em http://www.nih.gov/ LATHAM, Robin. Genetic Discoveries Chal- In The Genes. NPR Radio. 11 Fev. 2011. health/clinicaltrials/stories/stuttering. lenge Theories About Stuttering and The Online. Disponível em http://www.npr.or htm. Acesso em 15 out. 2012.