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Foi quando se escutou da donzela um grito que dilacerou o coração dos dois homens. O coronel aproximou-se da jovem dama, convicto de que teria sido atingida por uma seta daquelas criaturas selvagens! «O que foi, menina?» «Uma aranha! Uma aranha na sua roupa, coronel! Ai, uma aranha!» «O Velho do Lobito», António Carvalhal Duarte
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Retenho o olhar na base da figura. O líquido vem dali.  Surge continuamente, em pequenas golfadas, espaçadas entre si  como o pulsar de um coração . «A Ilha»
Não estava a ser afectado pelo Inferno porque já fazia parte dele antes. Já fazia  mesmo parte dele  desde que eu saíra de Lisboa. «Pena de Papagaio»
O Ford faz marcha-atrás e tenta evadir-se por uma lateral, queimando borracha. A coisa terá de acabar em cinco minutos, no máximo, de uma maneira ou de outra. Depois a rua permanecerá deserta.  São essas as regras . «A Expedição dos Mortos»
Foi tarde de mais que olhou para cima, apenas a tempo de ver um vulto enorme saltar do topo de um camião para cima dele.  Ouviu uma campainha aguda retinir dentro do seu crânio, e  depois tudo se apagou à sua volta . «O Segundo Sol»
Para evitar que o aparato militarizado chamasse as atenções, utilizaram estradas secundárias. E em pouco tempo, estavam já embrenhados numa labiríntica rede de caminhos onde aparentemente só  os elefantes teriam tracção suficiente para avançar . «A Expedição dos Mortos»
Uma das fotos mostrava uma zona da Lua com diferenças sonantes em relação às outras. Cabala fez um esforço para apurar do que se tratava mas não conseguia perceber.  Foi só ao pôr a vista em cima da última foto que o  mistério se esclareceu . «O Segundo Sol»
Quando se retraem, é possível ver o corpo espalmado do operacional empalado em aguilhões de ferro. E quando estes se ocultam dentro da rocha, a papa desliza para o chão. Alves reprime um vómito com a mão. - Bem,  não sei se foi lá muito boa ideia  – diz Phillip. «A Expedição dos Mortos»
Um estalo no pescoço despachou o assunto. Este merecia a morte mas não o terror, porque pedira a forca para mim e recebia, por isso, a sua recompensa dado que  não sou um ingrato . «Pena de Papagaio»
O leão satisfeito é o mais perigoso de todos.  É aquele que não se preocupa em ter fome, pois a  caça não dá luta «Os Pigmeus do Tanganica»
O sapato derrapa na terra e ele sai disparado selva adentro. Corre. Tem de correr e nunca mais parar. Sair dali. Ouve Fiona atrás dele e um insulto chega-lhe aos ouvidos.  Não interessa.  Vai fugir ou morrer na tentativa. «A Expedição dos Mortos»
A figura estava agachada sobre um galho grosso, segurando-se por  patas traseiras que exibiam garras longas e afiadas como navalhas . As patas dianteiras, compostas de três garras igualmente afiadas, estavam sobre o colo; suas costelas e o esterno apareciam sob a pele acinzentada e completamente desprovida de pêlos. «Horror em Sangre de Cristo»
–  Dunkelhertz tem de ter um laboratório, algures perto da Vila. Se alguém na PVDE lhe está a providenciar apoio, é provável que tenha incluído o laboratório na lista de localizações que a PVDE exclui da jurisdição da Polícia de Investigação Criminal. –  Se essa lista existisse. –  Se essa lista existisse, o Sr. Inspector poderia tentar descobrir se dela consta algum lugar nas imediações. «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
Com um movimento do joelho, endireita o volume. Era a sua tese de Doutoramento. Necronomicon. - Não estou a perceber. - Encontrámo-lo. - A minha tese de Doutoramento? - Não, o  Necronomicon . «A Expedição dos Mortos»
Era um cobarde, o Zarolho. Só os mais baixos, só os mais novos, só os mais fracos. Mas estava com medo agora. Olhava para o escuro e no escuro estava eu e ele não me via e  só via o medo . «Pena de Papagaio»
Numa noite quente, em meados de Setembro de 1944, um homem de estatura baixa, trajado como é costume entre as gentes do Baixo Alentejo, observava com um par de binóculos uma base militar alemã, plantada em pleno solo lusitano. O nome do homem era  Jaguar Cabala . «O Segundo Sol»
Fiona vê as estalactites soltarem-se e caírem como frutos maduros. Parte do solo cede para dentro do fosso. Depois as lajes debaixo dos seus pés partem-se e levantam-se. Fiona grita. - Atirem com os indianos para a frente! «A Expedição dos Mortos»
Bato em portas fechadas, porque as campainhas parecem não responder, entro em casas que têm portas escancaradas, sempre sem que depare com vivalma.  Absolutamente ninguém . «A Ilha»
Não chorava, embora sobre ele chovesse e ribombassem os trovões. Nem tão-pouco pestanejava sob a grossa bátega e o som estrídulo e rasgado do austero firmamento. Via, como se se alimentasse.  Os olhos sempre abertos . «O Inconsciente»
À nossa esquerda,  uma imagem do homem sem face e tentáculos no lugar de dedos , encontra-se assente sobre um pequeno altar. Olhamo-lo com reverência. «A Ilha»
Um em cada mão, e cada mão confrangendo uma cintura.  Um deles tinha já a cara sobremodo dentada, e cuincava; o Inconsciente gania a acompanhar, de boca cheia, o busto nu vermelho de  sangue . «O Inconsciente»
Uma mão tomou-lhe o pulso.  Sentiu uma picada no braço. –  Herr Schweinsteiger, traga o velho para baixo! – ouviu o médico gritar, mas a voz parecia-lhe agora vir de muito longe.  Sentiu-se afundar e caiu num sono sem sonhos. «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
Fiquei aturdido antes de entranhar-se em mim uma revelação: estava vivo e sobrevivera. Porque o Paraíso não nos deve fazer sentir a pele escaldada e o Inferno nunca será tão belo. –  Não peço misericórdia  – pensei. Nem agora nem nunca. «Pena de Papagaio»
Num momento de terror absoluto, entorpecente, avistou as pegadas do vulto impressas na areia: eram disformes, inumanas, oriundas de um qualquer  pesadelo alienígena que a mente humana não pode comportar ! «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
As próximas medidas podem ser tomadas.  Estão-me a ouvir, demónios dos infernos, que me observam nas vossas poças de lama e sangue? Rel-Tih, príncipe da blasfémia, Ecud, duque do orgulho e Bahamonde, duque da traição. «A Noite do Sexo Fraco»
Duarte não precisou mais do que um instante para atravessar  em toda a extensão o fio da sua lâmina  na goela do malfeitor e fazê-lo cair desamparado no chão. «Pirata por um Dia»
Descíamos num daqueles ascensores chiques do hotel, retornando triunfantes da festa de caridade anual da cidade.  Aquele salão transbordava de ricos e poderosos, mas de  nobre tinha pouco . «Valente»
«Conheces as lendas dos pescadores:  sereias meias-mulher meias-peixe ; canções sussurradas na praia, pelo vento que vem do mar; rapazes seduzidos por sereias; moças assaltadas por tritões...» «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
Viu uma sombra surgir na periferia da visão. Um instante depois foi violentamente esmurrado.  Cego, grogue, deixou cair a arma e tacteou o ar. Recebeu um fortíssimo pontapé na cara. Caiu ao chão, inconsciente. –  E vai um  – disse o Sentinela, olhando o oponente tombado a seu lado. «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
Metzger apertou o Winchester com mais força. No estábulo, os cavalos agitavam-se. E então  uma lufada de vento atingiu as costas do rancheiro e ele sentiu que seus pés não mais tocavam o solo.   Algo o agarrava pelo tronco, elevando-o com rapidez na direção do céu noturno. «Horror em Sangre de Cristo»
Cyrus e Bludhart olharam ao redor e viram diversos objetos encostados numa das paredes: chicotes, correntes, algemas e todo tipo de instrumento para tortura.  Várias manchas vermelhas cobriam o chão pedregoso, mostrando que  aquele lugar fora o destino final de vários inocentes . «Horror em Sangre de Cristo»
O corpo do monge estava a ser comprimido, pelo que lhe pôde ouvir a espremedura carnal e a trituração óssea, que por momentos lhe trouxe à memória o som que as ratazanas faziam quando  as esmagava nas mãos .  Achou graça e riu mais. «O Inconsciente»
Ao seu rosto sólido subjazia a  mágoa , sob máscara de terror e ódio e expressões dilaceradas.  O tempo era agora seu, como que houvesse parado em redor. «O Inconsciente»
Um homem de fraque e luvas desceu acrobaticamente do tecto.  As luzes do ascensor faiscaram, revelando o  brilho metálico demasiado familiar de um revólver . «Valente»
Mas foi uma desilusão. Nunca Cristelos será Sodorra. Tão certo como eu me chamar Raz-Alas, Senhor do Passado Corrupto, do Presente Morto e do Futuro Incerto. «A Noite do Sexo Fraco»
O sangue bombava nas veias do arcano com invulgar velocidade.  Nunca fora atacado daquela forma.  A sua força e agilidade talvez fossem  insuficientes para aquela  força animal . «Amaldiçoado de Ish-Tar»
Deveras, minha pequena e exaltada menina? Para teu infortúnio, sou indiferente ao que a visão do teu corpo promete. Se fosses um mancebo assustado e perdido, talvez o que resta de humanidade em mim se apiedasse. Mas não contigo. Por isso, podes chamar pelas meretrizes a quem chamas de deusas, pois só elas te poderão acudir. «A Noite do Sexo Fraco»
–  Querem que seja vosso amigo? – titubeei confuso. –  Amigo de nós. Dar à gente. Dar à gente – crocitou aquilo. –  Mas dar o quê? – murmurei. –  Dar um olho. Dar um rim . «Noites Brancas»
Os sinos da Sé começaram a tocar, Vaz atingiu o orgasmo e as portas da alcova abriram-se, num estrondo, de par em par. O conde,  marido da senhora que estava descomposta por baixo de Duarte , e vários soldados tinham arrombado a entrada «Pirata por um Dia»
Um pirata de estatura pequena, mas com os olhos, as feições do rosto, enfim,  todos os traços do seu corpo a mostrarem uma ferocidade que a sua altura não faria supor , apressava-se na direcção de Duarte. «Pirata por um Dia»
Na realidade, apenas faziam um compasso de espera para  ganharem coragem para seguirem pelo trilho , que se lhes apresentava logo na orla da selva. «Pirata por um Dia»
Empurrados por três ou quatro homens, os canhões foram colocados em posição na amurada. Duos transportavam as caixas com as munições para junto das armas.  Outros acendiam tochas que  dali a pouco deveriam incendiar os rastilhos . «Pirata por um Dia»
A cliente não tinha dinheiro e era perseguida pela polícia por um homicídio em que não havia mais suspeitos.  Ela não tinha álibi, foi apanhada com a arma do crime na mão e, pior que tudo, tinha  o par de olhos verdes mais triste  que eu já vira. «Valente»
Aqueles lábios carnudos dela tremiam e não parava de olhar para mim.  Eu a tentar pensar em  futebol , no  Peyroteo , nos  impostos , na  renda por pagar , na  arca frigorífica da minha ex-mulher , qualquer coisa que me distraísse dos  pensamentos ruins  que ela provocava em mim. «Valente»
Desenhado a tinta negra, e já um pouco apagado, via-se um homem enorme com cabeça de touro.  –  Chamam-no de minotauro ou Amaldiçoado de Ish-tar. Muitos acreditam ser apenas uma lenda, mas eu creio que  existe realmente . «Amaldiçoado de Ish-Tar»
A minha velhinha Remington 51, ridiculamente pequena, ridiculamente obsoleta e que a esta distância ia fazer um buraco ridiculamente grande na cara do homem.  Assumindo que não  encravava , claro... «Valente»
Valerian Beowulf havia sido preso duas semanas atrás nas ruas de Coppesh. O motivo tinha sido uma briga numa das tabernas do porto, que havia resultado em muitos ossos partidos e consideráveis danos materiais.  Como parte da pena, havia-lhe sido ordenado que ajudasse a tratar dos  dragões do palácio «Amaldiçoado de Ish-Tar»
Pois um Fiel Companheiro serve para isto mesmo.  Para estar  presente ao lado de um Herói e servi-lo na altura certa, sempre que seja necessário .  De  coração puro e um sorriso nos lábios .  Um Fiel Companheiro não chora, não se lamenta, não sua, não tirita, não se pode queixar de fome ou sede... Um  Fiel Companheiro ... «Mais do Mesmo!»
Jimmy aponta a boca do explosor para o chão. Na vertical absoluta do lugar. Para a zona livre entre as duas pernas. E no preciso momento em que lá ao fundo, na curva do desfi ladeiro, surge enfim uma  boca sequiosa e fosforescente , cheia de  olhos e anéis de dentes a rodopiar , Jimmy  dispara . «Mais do Mesmo!»
–  Bem, tu é que sabes, miúda. –  Não me chames miúda,  albino dos infernos . Fica sabendo que já nasci com um punhal nas mãos. –  Com um punhal nas mãos? – repetiu Valerian com um sorriso alegre. – Ena, isso deve ter sido doloroso para a tua mãe! «Amaldiçoado de Ish-Tar»
Os dragões que Dragoslav providenciara para a viagem até Ovi eram os mais usuais.  À excepção do de Valerian, negro como a noite, eram todos cinzentos, com dez metros de comprimento e sela individual.  Belos exemplares de uma espécie muito ágil e rápida,  ideais para voos longos e combates sobre terreno montanhoso . «Amaldiçoado de Ish-Tar»
Julguei que este sujeito era um pobre coitado. Um Quasímodo romeno,  como tantos há pelo mundo e que são ostracizados por terem nascido tão feios e incapacitados .  Mas o seu olhar obsceno e sorriso trémulo pareciam-se demasiado com os de um desequilibrado «Noites Brancas»
E foi continuamente que se deu algo que me congelou o sangue.  Que me fez gritar tão alto que a reverberação desse grito ainda hoje me aparece em pesadelos .  A manifestação dos terrores mais primários do ser humano. «Noites Brancas»
Faminto por esta nova droga caída dos céus, o Glork abandonou por completo o túnel protector, cerrou todos os  respiráculos , estendeu as  unhas nas extremidades dos membros locomotores , abriu o  orifício anal , acendeu a  tocha de hidrogénio  e, assim  movido a jacto , embrenhou-se através do cavado do desfi ladeiro apontado à  vítima incauta . «Mais do Mesmo!»
Sob a viseira polarizada, dois olhos azuis brilham a preceito, num fulgor maldoso, quiçá infl amados pela raiva de haver falhado um golpe.  Quanto a Júpiter, que ora espreita sobre a curvatura de um horizonte demasiado próximo, esse desperta reflexos ocres nas  placas cromadas blindadas dos dois escafandros . «Mais do Mesmo!»
O domo que protege a cidade da radiação de Júpiter e das ocasionais chuvas de meteoróides  brilha, baço, sob a claridade distante do sol .  «Mais do Mesmo!»
O velho cede enfim ao peso das flores, dos cravos amargos que lhe tapam a goela e impedem a respiração, cede ao torpor daquele perfume colectivo - e cai, cai, cai no frio chão, no infindo abismo, no eterno sono sem regresso. Eterno? Um sorriso desenha-se antes do suspiro final. E sem regresso? É o que pensam? Como se não os conhecesse: à sua pequenez, ao seu pavor dos papões do mundo, sempre a clamar por um pai. Aos seus portugueses . «O Cadeirão da Meia Noite»
Mas a verdade é que a literatura nunca esteve tão  viva  como naquele preciso instante. Nunca teve tanta relevância, nunca andou tanto na boca do mundo. Não é este o  sonho de qualquer literatura marginal ? Foi o culminar dos Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa
 

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Apresentação da antologia PULP FICTION PORTUGUESA no Fórum Fantástico 2011

  • 1.  
  • 2. Foi quando se escutou da donzela um grito que dilacerou o coração dos dois homens. O coronel aproximou-se da jovem dama, convicto de que teria sido atingida por uma seta daquelas criaturas selvagens! «O que foi, menina?» «Uma aranha! Uma aranha na sua roupa, coronel! Ai, uma aranha!» «O Velho do Lobito», António Carvalhal Duarte
  • 3.
  • 4. Retenho o olhar na base da figura. O líquido vem dali. Surge continuamente, em pequenas golfadas, espaçadas entre si como o pulsar de um coração . «A Ilha»
  • 5. Não estava a ser afectado pelo Inferno porque já fazia parte dele antes. Já fazia mesmo parte dele desde que eu saíra de Lisboa. «Pena de Papagaio»
  • 6. O Ford faz marcha-atrás e tenta evadir-se por uma lateral, queimando borracha. A coisa terá de acabar em cinco minutos, no máximo, de uma maneira ou de outra. Depois a rua permanecerá deserta. São essas as regras . «A Expedição dos Mortos»
  • 7. Foi tarde de mais que olhou para cima, apenas a tempo de ver um vulto enorme saltar do topo de um camião para cima dele. Ouviu uma campainha aguda retinir dentro do seu crânio, e depois tudo se apagou à sua volta . «O Segundo Sol»
  • 8. Para evitar que o aparato militarizado chamasse as atenções, utilizaram estradas secundárias. E em pouco tempo, estavam já embrenhados numa labiríntica rede de caminhos onde aparentemente só os elefantes teriam tracção suficiente para avançar . «A Expedição dos Mortos»
  • 9. Uma das fotos mostrava uma zona da Lua com diferenças sonantes em relação às outras. Cabala fez um esforço para apurar do que se tratava mas não conseguia perceber. Foi só ao pôr a vista em cima da última foto que o mistério se esclareceu . «O Segundo Sol»
  • 10. Quando se retraem, é possível ver o corpo espalmado do operacional empalado em aguilhões de ferro. E quando estes se ocultam dentro da rocha, a papa desliza para o chão. Alves reprime um vómito com a mão. - Bem, não sei se foi lá muito boa ideia – diz Phillip. «A Expedição dos Mortos»
  • 11. Um estalo no pescoço despachou o assunto. Este merecia a morte mas não o terror, porque pedira a forca para mim e recebia, por isso, a sua recompensa dado que não sou um ingrato . «Pena de Papagaio»
  • 12. O leão satisfeito é o mais perigoso de todos. É aquele que não se preocupa em ter fome, pois a caça não dá luta «Os Pigmeus do Tanganica»
  • 13. O sapato derrapa na terra e ele sai disparado selva adentro. Corre. Tem de correr e nunca mais parar. Sair dali. Ouve Fiona atrás dele e um insulto chega-lhe aos ouvidos. Não interessa. Vai fugir ou morrer na tentativa. «A Expedição dos Mortos»
  • 14. A figura estava agachada sobre um galho grosso, segurando-se por patas traseiras que exibiam garras longas e afiadas como navalhas . As patas dianteiras, compostas de três garras igualmente afiadas, estavam sobre o colo; suas costelas e o esterno apareciam sob a pele acinzentada e completamente desprovida de pêlos. «Horror em Sangre de Cristo»
  • 15. – Dunkelhertz tem de ter um laboratório, algures perto da Vila. Se alguém na PVDE lhe está a providenciar apoio, é provável que tenha incluído o laboratório na lista de localizações que a PVDE exclui da jurisdição da Polícia de Investigação Criminal. – Se essa lista existisse. – Se essa lista existisse, o Sr. Inspector poderia tentar descobrir se dela consta algum lugar nas imediações. «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
  • 16. Com um movimento do joelho, endireita o volume. Era a sua tese de Doutoramento. Necronomicon. - Não estou a perceber. - Encontrámo-lo. - A minha tese de Doutoramento? - Não, o Necronomicon . «A Expedição dos Mortos»
  • 17. Era um cobarde, o Zarolho. Só os mais baixos, só os mais novos, só os mais fracos. Mas estava com medo agora. Olhava para o escuro e no escuro estava eu e ele não me via e só via o medo . «Pena de Papagaio»
  • 18. Numa noite quente, em meados de Setembro de 1944, um homem de estatura baixa, trajado como é costume entre as gentes do Baixo Alentejo, observava com um par de binóculos uma base militar alemã, plantada em pleno solo lusitano. O nome do homem era Jaguar Cabala . «O Segundo Sol»
  • 19. Fiona vê as estalactites soltarem-se e caírem como frutos maduros. Parte do solo cede para dentro do fosso. Depois as lajes debaixo dos seus pés partem-se e levantam-se. Fiona grita. - Atirem com os indianos para a frente! «A Expedição dos Mortos»
  • 20. Bato em portas fechadas, porque as campainhas parecem não responder, entro em casas que têm portas escancaradas, sempre sem que depare com vivalma. Absolutamente ninguém . «A Ilha»
  • 21. Não chorava, embora sobre ele chovesse e ribombassem os trovões. Nem tão-pouco pestanejava sob a grossa bátega e o som estrídulo e rasgado do austero firmamento. Via, como se se alimentasse. Os olhos sempre abertos . «O Inconsciente»
  • 22. À nossa esquerda, uma imagem do homem sem face e tentáculos no lugar de dedos , encontra-se assente sobre um pequeno altar. Olhamo-lo com reverência. «A Ilha»
  • 23. Um em cada mão, e cada mão confrangendo uma cintura. Um deles tinha já a cara sobremodo dentada, e cuincava; o Inconsciente gania a acompanhar, de boca cheia, o busto nu vermelho de sangue . «O Inconsciente»
  • 24. Uma mão tomou-lhe o pulso. Sentiu uma picada no braço. – Herr Schweinsteiger, traga o velho para baixo! – ouviu o médico gritar, mas a voz parecia-lhe agora vir de muito longe. Sentiu-se afundar e caiu num sono sem sonhos. «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
  • 25. Fiquei aturdido antes de entranhar-se em mim uma revelação: estava vivo e sobrevivera. Porque o Paraíso não nos deve fazer sentir a pele escaldada e o Inferno nunca será tão belo. – Não peço misericórdia – pensei. Nem agora nem nunca. «Pena de Papagaio»
  • 26. Num momento de terror absoluto, entorpecente, avistou as pegadas do vulto impressas na areia: eram disformes, inumanas, oriundas de um qualquer pesadelo alienígena que a mente humana não pode comportar ! «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
  • 27. As próximas medidas podem ser tomadas. Estão-me a ouvir, demónios dos infernos, que me observam nas vossas poças de lama e sangue? Rel-Tih, príncipe da blasfémia, Ecud, duque do orgulho e Bahamonde, duque da traição. «A Noite do Sexo Fraco»
  • 28. Duarte não precisou mais do que um instante para atravessar em toda a extensão o fio da sua lâmina na goela do malfeitor e fazê-lo cair desamparado no chão. «Pirata por um Dia»
  • 29. Descíamos num daqueles ascensores chiques do hotel, retornando triunfantes da festa de caridade anual da cidade. Aquele salão transbordava de ricos e poderosos, mas de nobre tinha pouco . «Valente»
  • 30. «Conheces as lendas dos pescadores: sereias meias-mulher meias-peixe ; canções sussurradas na praia, pelo vento que vem do mar; rapazes seduzidos por sereias; moças assaltadas por tritões...» «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
  • 31. Viu uma sombra surgir na periferia da visão. Um instante depois foi violentamente esmurrado. Cego, grogue, deixou cair a arma e tacteou o ar. Recebeu um fortíssimo pontapé na cara. Caiu ao chão, inconsciente. – E vai um – disse o Sentinela, olhando o oponente tombado a seu lado. «O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores»
  • 32. Metzger apertou o Winchester com mais força. No estábulo, os cavalos agitavam-se. E então uma lufada de vento atingiu as costas do rancheiro e ele sentiu que seus pés não mais tocavam o solo. Algo o agarrava pelo tronco, elevando-o com rapidez na direção do céu noturno. «Horror em Sangre de Cristo»
  • 33. Cyrus e Bludhart olharam ao redor e viram diversos objetos encostados numa das paredes: chicotes, correntes, algemas e todo tipo de instrumento para tortura. Várias manchas vermelhas cobriam o chão pedregoso, mostrando que aquele lugar fora o destino final de vários inocentes . «Horror em Sangre de Cristo»
  • 34. O corpo do monge estava a ser comprimido, pelo que lhe pôde ouvir a espremedura carnal e a trituração óssea, que por momentos lhe trouxe à memória o som que as ratazanas faziam quando as esmagava nas mãos . Achou graça e riu mais. «O Inconsciente»
  • 35. Ao seu rosto sólido subjazia a mágoa , sob máscara de terror e ódio e expressões dilaceradas. O tempo era agora seu, como que houvesse parado em redor. «O Inconsciente»
  • 36. Um homem de fraque e luvas desceu acrobaticamente do tecto. As luzes do ascensor faiscaram, revelando o brilho metálico demasiado familiar de um revólver . «Valente»
  • 37. Mas foi uma desilusão. Nunca Cristelos será Sodorra. Tão certo como eu me chamar Raz-Alas, Senhor do Passado Corrupto, do Presente Morto e do Futuro Incerto. «A Noite do Sexo Fraco»
  • 38. O sangue bombava nas veias do arcano com invulgar velocidade. Nunca fora atacado daquela forma. A sua força e agilidade talvez fossem insuficientes para aquela força animal . «Amaldiçoado de Ish-Tar»
  • 39. Deveras, minha pequena e exaltada menina? Para teu infortúnio, sou indiferente ao que a visão do teu corpo promete. Se fosses um mancebo assustado e perdido, talvez o que resta de humanidade em mim se apiedasse. Mas não contigo. Por isso, podes chamar pelas meretrizes a quem chamas de deusas, pois só elas te poderão acudir. «A Noite do Sexo Fraco»
  • 40. – Querem que seja vosso amigo? – titubeei confuso. – Amigo de nós. Dar à gente. Dar à gente – crocitou aquilo. – Mas dar o quê? – murmurei. – Dar um olho. Dar um rim . «Noites Brancas»
  • 41. Os sinos da Sé começaram a tocar, Vaz atingiu o orgasmo e as portas da alcova abriram-se, num estrondo, de par em par. O conde, marido da senhora que estava descomposta por baixo de Duarte , e vários soldados tinham arrombado a entrada «Pirata por um Dia»
  • 42. Um pirata de estatura pequena, mas com os olhos, as feições do rosto, enfim, todos os traços do seu corpo a mostrarem uma ferocidade que a sua altura não faria supor , apressava-se na direcção de Duarte. «Pirata por um Dia»
  • 43. Na realidade, apenas faziam um compasso de espera para ganharem coragem para seguirem pelo trilho , que se lhes apresentava logo na orla da selva. «Pirata por um Dia»
  • 44. Empurrados por três ou quatro homens, os canhões foram colocados em posição na amurada. Duos transportavam as caixas com as munições para junto das armas. Outros acendiam tochas que dali a pouco deveriam incendiar os rastilhos . «Pirata por um Dia»
  • 45. A cliente não tinha dinheiro e era perseguida pela polícia por um homicídio em que não havia mais suspeitos. Ela não tinha álibi, foi apanhada com a arma do crime na mão e, pior que tudo, tinha o par de olhos verdes mais triste que eu já vira. «Valente»
  • 46. Aqueles lábios carnudos dela tremiam e não parava de olhar para mim. Eu a tentar pensar em futebol , no Peyroteo , nos impostos , na renda por pagar , na arca frigorífica da minha ex-mulher , qualquer coisa que me distraísse dos pensamentos ruins que ela provocava em mim. «Valente»
  • 47. Desenhado a tinta negra, e já um pouco apagado, via-se um homem enorme com cabeça de touro. – Chamam-no de minotauro ou Amaldiçoado de Ish-tar. Muitos acreditam ser apenas uma lenda, mas eu creio que existe realmente . «Amaldiçoado de Ish-Tar»
  • 48. A minha velhinha Remington 51, ridiculamente pequena, ridiculamente obsoleta e que a esta distância ia fazer um buraco ridiculamente grande na cara do homem. Assumindo que não encravava , claro... «Valente»
  • 49. Valerian Beowulf havia sido preso duas semanas atrás nas ruas de Coppesh. O motivo tinha sido uma briga numa das tabernas do porto, que havia resultado em muitos ossos partidos e consideráveis danos materiais. Como parte da pena, havia-lhe sido ordenado que ajudasse a tratar dos dragões do palácio «Amaldiçoado de Ish-Tar»
  • 50. Pois um Fiel Companheiro serve para isto mesmo. Para estar presente ao lado de um Herói e servi-lo na altura certa, sempre que seja necessário . De coração puro e um sorriso nos lábios . Um Fiel Companheiro não chora, não se lamenta, não sua, não tirita, não se pode queixar de fome ou sede... Um Fiel Companheiro ... «Mais do Mesmo!»
  • 51. Jimmy aponta a boca do explosor para o chão. Na vertical absoluta do lugar. Para a zona livre entre as duas pernas. E no preciso momento em que lá ao fundo, na curva do desfi ladeiro, surge enfim uma boca sequiosa e fosforescente , cheia de olhos e anéis de dentes a rodopiar , Jimmy dispara . «Mais do Mesmo!»
  • 52. – Bem, tu é que sabes, miúda. – Não me chames miúda, albino dos infernos . Fica sabendo que já nasci com um punhal nas mãos. – Com um punhal nas mãos? – repetiu Valerian com um sorriso alegre. – Ena, isso deve ter sido doloroso para a tua mãe! «Amaldiçoado de Ish-Tar»
  • 53. Os dragões que Dragoslav providenciara para a viagem até Ovi eram os mais usuais. À excepção do de Valerian, negro como a noite, eram todos cinzentos, com dez metros de comprimento e sela individual. Belos exemplares de uma espécie muito ágil e rápida, ideais para voos longos e combates sobre terreno montanhoso . «Amaldiçoado de Ish-Tar»
  • 54. Julguei que este sujeito era um pobre coitado. Um Quasímodo romeno, como tantos há pelo mundo e que são ostracizados por terem nascido tão feios e incapacitados . Mas o seu olhar obsceno e sorriso trémulo pareciam-se demasiado com os de um desequilibrado «Noites Brancas»
  • 55. E foi continuamente que se deu algo que me congelou o sangue. Que me fez gritar tão alto que a reverberação desse grito ainda hoje me aparece em pesadelos . A manifestação dos terrores mais primários do ser humano. «Noites Brancas»
  • 56. Faminto por esta nova droga caída dos céus, o Glork abandonou por completo o túnel protector, cerrou todos os respiráculos , estendeu as unhas nas extremidades dos membros locomotores , abriu o orifício anal , acendeu a tocha de hidrogénio e, assim movido a jacto , embrenhou-se através do cavado do desfi ladeiro apontado à vítima incauta . «Mais do Mesmo!»
  • 57. Sob a viseira polarizada, dois olhos azuis brilham a preceito, num fulgor maldoso, quiçá infl amados pela raiva de haver falhado um golpe. Quanto a Júpiter, que ora espreita sobre a curvatura de um horizonte demasiado próximo, esse desperta reflexos ocres nas placas cromadas blindadas dos dois escafandros . «Mais do Mesmo!»
  • 58. O domo que protege a cidade da radiação de Júpiter e das ocasionais chuvas de meteoróides brilha, baço, sob a claridade distante do sol . «Mais do Mesmo!»
  • 59. O velho cede enfim ao peso das flores, dos cravos amargos que lhe tapam a goela e impedem a respiração, cede ao torpor daquele perfume colectivo - e cai, cai, cai no frio chão, no infindo abismo, no eterno sono sem regresso. Eterno? Um sorriso desenha-se antes do suspiro final. E sem regresso? É o que pensam? Como se não os conhecesse: à sua pequenez, ao seu pavor dos papões do mundo, sempre a clamar por um pai. Aos seus portugueses . «O Cadeirão da Meia Noite»
  • 60. Mas a verdade é que a literatura nunca esteve tão viva como naquele preciso instante. Nunca teve tanta relevância, nunca andou tanto na boca do mundo. Não é este o sonho de qualquer literatura marginal ? Foi o culminar dos Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa
  • 61.